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Discente: Nícolas Neves Amancio - 20190042877 Data: 11 de março de 2021 Disciplina: Ética e Prática Profissional em Arquitetura e Urbanismo Professor: Luciano de Abreu Trabalho: Fichamento Referência: DROIT, Roger-Pol. Ética: uma primeira conversa. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012. Introdução: A ética hoje em dia está presente na boca de muitas pessoas, porém, grande parte não sabe exatamente do que se trata, de forma que seu significado não seja claro. Na forma de uma conversa, este texto possui o intuito de explicar o que é a Ética. Desde o seu princípio, por assim dizer, decifrando seu significado com base em princípios antigos advindos de discussões filosóficas, suas confusões, dúvidas e fazendo sua aplicação em situações atuais do nosso cotidiano, especificamente na medicina. O texto é dividido em Seis capítulos, os quais serão abordados nesse fichamento em tópicos. 1 - As aventuras de uma palavra: Inicialmente, é necessário explicar a palavra Ètica, de onde ela vem e explicar sua relação com a moral. Ética vem de Éthos, mais especificamente de Ethiké. Resumidamente, são comportamentos, costumes, a maneira como vivem os humanos, os costumes que observam, os tipos de regras que seguem, as leis sob as quais vivem, em um determinado momento, levando em consideração que tais coisas podem mudar ao longo do tempo. Há duas formas de considerar os comportamentos de um indivíduo. A primeira, descrever de forma detalhada as atitudes de um indivíduo, sem julgamento de bem ou mal. E a segunda, vem a questão dos juízos normativos, quando com base nessas atitudes, fazemos julgamentos morais buscando saber o que é bom, valores positivos, e o que deve ser evitado, o imoral, o mau comportamento. E com o imoral, levanta-se a questão de a Ética ter relações com a Moral, o que é explicado pelo autor. Para os gregos, ética refere-se aos comportamentos de uma coletividade ou de um indivíduo, reativos aos costumes bons ou maus em um determinado momento. Para os romanos, relativo à ethiké, Cícero utiliza mores, ou seja, modos. E o mesmo modelo de Ética para os gregos, o que exprime os costumes é moralia, que quer dizer “danos morais”. De forma que, “moral” é uma tradução de “Ética” para o Latim, possuindo mesma preocupação com valores bons e maus. Porém, há uma diferença entre os dois conceitos. Moral diz respeito à normas e valores herdados do passado, tradições “fixados” no tempo que são transmitidos de pai para filho como um código comportamental de regras. A Ética é uma construção de normas com base em reflexão. É o trabalho de elaboração ou de ajuste necessário em face das mudanças em curso. Apesar de serem parecidas, atualmente a Ética tomou o nome da Moral, pois na sociedade em que vivemos, é impossível uma moral dominante reger todas as situações com uma verdade imposta, sendo necessário uma aplicação de princípios de forma mais especifica utilizando a reflexão, pois há várias maneiras de encarar as questões morais. A Ética se encarrega de organizar esta pluralidade de morais. 2 – Um domínio sem fronteiras: No primeiro capítulo, DROIT explica o que significa o conceito de Ética, mas até onde ela vai e como se comporta? Este capítulo se encarrega desta função. Ele diz que a Ética está aplicada em todos os nossos atos e que há muitas maneiras de examiná-los. Sempre estamos buscando agir da melhor maneira. A Ética é, antes de tudo, reflexões ligadas à “O que devo fazer? Como devo me comportar? ”. E queremos fazer algo bem, mesmo que este algo seja algo mau. Como dia no texto, “aos olhos de Sócrates, não existe, portanto, vontade inteiramente negativa: não podemos querer o mal pelo mal” (DROIT, Roger-Pol, 2012, p. 27). Em todas decisões, existe uma reflexão necessária, que mesmo não perceptíveis, nos ajudam a saber como devemos agir em determinada situação. E não agimos pensando simplesmente no bem ou no mau, mas sim em nome do que tomar a decisão, a que valores se refere e quais os critérios de escolha (2012, p. 29). De forma que a Ética não se torna uma prática motora que nos diz o que fazer como um robô. É uma reflexão constante sobre o que fundamenta nossos atos, as regras que seguimos, nosso ponto de partida. Podemos então tomar uma decisão sem pensar? Não, pois toda decisão é fruto de uma reflexão prévia, com base no que achamos ser o certo a fazer e que serve de modelo para outras decisões de terceiros. DROIT cita no texto o pensamento de Sartre, 1980, que resumidamente diz “Escolhendo-me (ou seja, tomando decisões que parecem dizer respeito somente a meu caso particular, à minha experiência pessoal), estou escolhendo o homem (na realidade estou decidindo, no limite, pela humanidade inteira) ”. Ou seja, qualquer decisão, mesmo as imorais e mesmo as que não refletimos profundamente antes de fazer, são modelos para terceiros. Com base nisso, podemos afirmar que heróis e vilões são analisados com base em suas atitudes, não só em suas palavras. Mesmo que ambos tomem atitudes com base no que eles julgam ser o correto. A ética indaga segundo que regras refletimos para tomar estas decisões. E então chegamos à reflexão do que é certo ou errado. Com base em que dizemos isso, tais critérios são inventados ou transmitidos? O bem e o mal podem variar de acordo com a sociedade em questão. Porém, existe um bem compartilhado, assim como um mal. O senso de humanidade, de ver alguém passando por uma desgraça para ser compartilhado entre nações. Ninguém gosta de ver alguém sofrer, porém, este sofrimento pode não ser sofrimento para alguns. Um pai matar um filho para muitos é sinônimo de horror e tristeza, porém, e quando tal ato faz parte de uma tradição? Seria essa uma tradição má? E se está tradição for sinal de orgulho para a sociedade portadora? Com base nisso, podemos afirmar que existem muitas regras éticas. O ético aqui nem sempre é ético em outro lugar. “As normas e regras dependem unicamente do lugar e da época em que vive” (DROIT, Roger-Pol, 2012, p. 36). Podemos afirmar isso com base na reflexão do primeiro capitulo, a respeito dos códigos comportamentais referentes à Moral e a distinção que isso faz com a Ética, sendo esta uma aplicação mais especifica de situação em situação. Mas, DROIT afirma que, num consenso geral, “a ética é, antes de tudo, a preocupação com o outro. Porque a existência dos outros, as múltiplas relações entre eles e eu constituem o ponto de partida mais universal de todas as formas de ética” (p. 37) Por definição, cada caso é um caso, portanto, a ética se diferencia em Ética Geral e Ética Aplicada. A primeira, se refere ao conjunto de normas e valores, sem detalhes de situações. A segunda está sob medida. Está em constante mudança, sempre sendo analisada, como o exemplo de julgamentos em tribunais, onde as leis são gerais e preexistentes, porém aplicadas de forma particular para cada situação apresentada. Aristóteles, afirma que, “como um arquiteto, um juiz deve adaptar o julgamento ao caso específico que lhe é submetido” (2012, p. 41), e deve ser feita com base na reflexão e da discussão, pois nunca existe uma solução pronta e definitiva. 3 – Entre religiões e filosofias: Num geral, a ética sempre busca tornar o mundo um lugar melhor, julgando bem e mal com base nos atos. Porém existem duas éticas. A religiosa (moral da religião) e a filosófica (moral leiga) que apesar de parecidas, são distintas. E julgam a origem da Ética. Existem três formas de responder sua origem: A primeira, a ética não vem dos humanos, não é criada por homens. Ela é eterna, passa de geração em geração e é apenas uma base para nossas reflexões, pois é apresentada por Deus, na moral religiosa, e, na moral filosófica com o exemplo de Platão, está presente no mundo das ideias. Porém, para alguns, ela não está presente num mundo paralelo ao nosso. Para Jean-Jacques Rousseau, no séculoXVIII, a ética vem da natureza de forma espontânea, sendo desnecessário uma reflexão profunda para tomar decisões de bem ou mal, pois ela é impulsiva. A situação acontece nós agimos naturalmente. De qualquer forma, em ambos o homem não é criador. Porém uma terceira ideia acredita que cada sociedade, com culturas e tradições diferentes, cria suas próprias regras e seus valores para um mundo insensato e desprovido de valor, para que consigam sobreviver em conjunto tranquilamente. 4 – Virtudes, deveres ou consequências: Muito se reflete ao longo do tempo a respeito da ética. Levando em consideração que a análise comportamento, as reflexões de como agir, etc, nunca são em vão. Mas sempre buscando algo: viver feliz. Porém para alcançar essa felicidade, diferentes correntes filosóficas ditam o que devemos fazer. E dentre todas, o tema principal é que a virtude traz felicidade. Desde Sócrates, Platão e Aristóteles. Para os estoicos, por exemplo, viver de acordo com a natureza e o controle próprio. Pelo contrário, Espicuro diz que a felicidade está no prazer do corpo. Para cínicos, viver “descivilizados” como animais, de forma natural, é felicidade. Já os céticos, acreditam que é impossível atingi-la por completo. Mesmo distintas, em todas estas, viver de forma justa é uma virtude e nos traz felicidade, deixando de cometer atos imorais. A virtude é o contrário desses atos, ela é “uma disposição interior única que permite que se tenham todas essas qualidades”, ou seja, franqueza, solidariedade, fidelidade, por exemplo (2012, p. 57), e o amor, para a religião. Amar ao próximo, no cristianismo é uma virtude antiga pela qual vivemos bem em conjunto, sem atos de traição para com os outros. Esse amor e inspirado por Deus e substitui toda forma de lei, diferente do judaísmo, que se baseia nos Dez Mandamentos transmitidos a Moisés no Antigo Testamento. Nisso, diferenciamos o bem e o mal. Todos os filósofos, inclusive os religiosos, tem uma ideia de mal, que pode ser ou não responsabilidade humana. Para o cristianismo, o mal é fruto do pecado. Ou seja, o homem, sem o pecado, não possuía inclinação a fazer o mal, e a partir de um ato de responsabilidade própria, o mal se tornou um comportamento natural, que pode ser combatido com o amor puro inspirado por Deus, não o amor dos homens, que é repleto de egoísmo, etc. Porém, DROIT vai dizer que “do meu ponto de vista, o mal existe de verdade, ao contrário do que dizem esses filósofos [...]. É a inumanidade dos seres humanos uns para com os outros que é a sua causa: e a inclinação à destruição, o ódio, o prazer ao provocar sofrimento [...]”. Nesse resumo, sem detalhes necessários, vemos que o mal, mesmo com os diferentes conceitos de atos morais e imorais nas diversas culturas, ele é algo inumano. O homem busca viver bem em conjunto. É impossível assim ver uma sociedade que a natureza é matar um ao outro. Eles podem matar OUTROS, mas com aqueles que pertencem ao grupo, eles estão em harmonia. E talvez a morte desses outros não seja por pura maldade, mas por proteção, por exemplo. De qualquer forma, é uma longa discussão. Mas o mal pode ser uma responsabilidade do homem. Para kant, respeitar as leis morais (nossos deveres para com a sociedade em que vivemos) é uma responsabilidade nossa. Nossos deveres são escritos em nossa mente ao longo de nossa vida e nos fazem refletir sobre como devemos agir. Saber nosso dever e agir ao contrário, é imoral. Agir com respeito à lei moral, é o virtuoso. Porém, nem sempre isso traz felicidade. Pois é como um ato programado por outro que pode ir em desencontro à nossa vontade. E então chegamos ao ponto dos dilemas éticos. A lei moral nos diz que devemos agir de forma ética para com todos, pois todos são iguais e devem ser tratados igualmente. No campo da medicina, encontramos diversos dilemas a respeito do cuidado com enfermos. As vezes a vida de uma pessoa é salva com um custo que poderia salvar milhares de outras. Isso seria antiético? Mas ambos não são humanos? Eis a questão. Encontrar uma bolsa de dinheiro no chão e pegar para mim sem ser meu é antiético? Pode ser, é roubo. Mas e se alguém precisa desse dinheiro para ser tratado de alguma doença? Salvar uma vida é menos ético que devolver algo encontrado? O utilitarismo diz o contrário. Não existem dúvidas e a “melhor” solução é a correta. Salvar milhares de outras pessoas é o certo a se fazer. 5 – As dificuldades das aplicações: Como foi descrito nos tópicos anteriores, a ética é fruto de uma reflexão longa que deve ser feita de forma particular com o ato em questão. Resumir em duas linhas um ato extremamente difícil no dia a dia é simples. Nos nossos atuais, o avanço da humanidade em busca do desenvolvimento tem gerado diversos atos imorais em prol da “bondade”. Guerras por ideologias, por conta riqueza e guerras para instaurar um estado de paz (?). Como bem sabemos, guerras causam mortes. E mortes nunca são ignoradas (ou são?). Por conta disso, o papel da ética vem crescendo bastante no nosso meio, como forma de controlar todos esses atos que, de certa forma, parecem ser mais descontrolados conforme o homem avança em seu desenvolvimento, seja mundialmente, em movimentos ideológicos e guerras, ou seja no mais simples ato do seu dia, como em decisões profissionais. Sendo assim, vemos a ética em tudo, como foi dito no início, inclusive no meio das profissões, levantando pontos de honestidade, transparência, fidelidade para com os clientes, etc. Ela não muda, mas precisa ser relembrada todos os dias. Porém, de forma ainda maior no meio da medicina. Com a presença de novas tecnologias, como “pegar o coração de uma pessoa que a acabou de morrer e enxerta-lo no peito de outra pessoa. Congelar esperma e utiliza-lo para fecundar um óvulo depois de vários anos. Congelar embriões antes de implantá-los no ventre de uma mulher,[...]”, etc, o profissional deve refletir sobre quais atos devem ser feitos, quais devem ser ignorados, combatidos na situação em questão, até que ponto esse poder sobre a vida deve ir. Isso me lembra uma situação que ocorreu alguns dias atrás como uma parente próxima, que precisava realizar uma cirurgia, porém era necessário um equipamento que estava em fase de testes. O médico não realizou a cirurgia (naquele momento) pois era provável que ela fosse morta por conta de um erro técnico. Dizer sim poderia diminuir a porcentagem de chance de a cirurgia ser feita com sucesso. Ou seja, é necessário para um médico se pôr em uma posição ética para preservar uma vida, ainda que seja num ato de dizer não em prol de salva-la. 6 – Exemplos de bioética: Entramos aqui num campo da Ética aplicada que diz respeito não mais a bem e mal, mas a um dilema ético que lida com duas ideias éticas diferentes que se cruzam. Ou seja, em determinada situação, é necessário refletir profundamente sobre a decisão a ser tomada levando em consideração os indivíduos envolvidos de maneira que a ética se adapte a eles. Porém, é extremamente difícil. O desenvolvimento da medicina é um exemplo dessa dificuldade e desse conflito entre ideias éticas. São técnicas não devem se resumir aos profissionais, mas a todos pois está presente no dia a dia. “A ética aplicada não divide unicamente a sociedade, com comunidades que têm cada uma seus valores e suas maneiras de ver. Ela divide também os próprios indivíduos[...]” (2012, p. 84). DROIT levanta a questão das especificações de cada situação e da formação de cada indivíduo, de maneira que podemos crescer juntos na mesma sociedade, porém termos formações de opinião ou sentimentos diferentes, o que me faz pensar que algo que é ético para você, para mim não é. Dentro da bioética isso é bastante presente, levando em consideração a grande divergência entre atos inovadores, como clonagem, que atingem ideais religiosos, por exemplo, questão de valorização pelavida humana ou então em evitar riscos de algo dar errado e acarretar em uma série de pontos que afetem a humanidade futuramente. Por outro lado, a evolução é buscada por muitos, levando em consideração que mais avanço permite uma vida melhor mais muitos. De qualquer forma, são dois polos que se encontram em tensão. Um é levado a defender princípios e manter normas mantendo limites às intervenções humanas na matéria viva, e o outro, pelo contrário, deseja fazer evoluir e permitir novas possibilidades. (2012, p 90). São satisfações individuais que não devem ser ignoradas em prol do outro polo. É um debate sem fim, que devem ser pensados em conjunto, pois é necessário delimitar avanços e ao mesmo tempo avançar. Conclusão: Com base em tudo o que foi dito e analisado, desde o princípio da ética, vemos claramente um debate e reflexão a respeito da melhor forma de viver em conjunto. Como devemos agir, o que devemos fazer, o que não fazer, pelo o que devemos fazer... a ética está sempre pensando no próximo. Refletindo nos atos que irão atingir a vida alheia. Esses valores devem estar presentes no nosso dia a dia, como profissionais, dando um exemplo claro de como devemos agir de forma que não haja corrupções em nosso meio. Vimos claramente que um ato imoral serve de modelo para o outro, logo, o desrespeito a um ato de segurança, por exemplo, por gerar outros atos de desrespeito, acarretando num campo profissional perigoso para as pessoas, ou então que desvalorize a profissão de outra, sendo o caso de orçamentos mal-intencionados. É necessário a honestidade. Mas isso nem sempre ocorre de maneira clara, pois essa reflexão gera conflitos entre decisões a serem tomadas de forma que pensemos se respeitar regras vale mais do que valorizar vidas postas em risco. Ou seja, a ética se adapta sempre e está constante mudança de acordo com a sociedade. Sempre buscando uma harmonia e felicidade naquele momento. Nunca busca um conflito negativo para todos.
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