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Composição e Modelagem da Forma Arquitetônica II Nícolas Neves Amancio Atividade 7 – Fichamento TEXTOS: Arquitetura Sensorial: A ARTE DE PROJETAR PARA TODOS OS SENTIDOS (Neves, Juliana, 2017, Cap.1) & Percepção Ambiental e Comportamento (Okamoto, Jun, 2002, Cap. 3) Toffler afirma que a constante transitoriedade vivida pela sociedade contemporânea é a maior responsável pela rápida mudança de valores e pela sensação de que nada é permanente. Isso faria com que tudo fosse descartável: de produtos, roupas e estruturas a amizades e relacionamentos. Os relacionamentos do homem com as coisas estariam, inclusive, tornando-se cada vez mais temporários, efêmeros; há algumas gerações, ele explica, os valores – os princípios morais – das pessoas vêm se modificando, e nossas atitudes para com as coisas refletem julgamentos básicos de valor. (Neves, Juliana, 2017, p.21). A grande produção de bens materiais gerou um grande consumo e grande troca no meio das pessoas. A criatividade na criação de produtos é tão grande que faz os consumidores optar sempre por algo que ainda não tem. No meio de tantas mudanças, o sentimento de prazer na estabilidade é substituído pelo da troca, como uma ansiedade por ter o que eu ainda não tenho. É necessário então focar em algo que faça as pessoas aproveitarem o que elas têm em mãos e fazer com este fique marcado na lembrança delas. Nesse sentido, a nova geração de meninas troca suas Barbies facilmente por um modelo novo da boneca, mais moderno, ao passo que suas avós de prendiam nostálgica e amorosamente às bonecas de pano, até que estas se desintegrassem de tão velhas. Toffler também afirma que os comportamentos atuais refletem uma nova sociedade, baseada na transitoriedade, e que as experiências vividas por uma pessoa são um dos poucos bens que são podem ser descartados: “Pode ser que as experiências sejam os únicos produtos que, uma vez adquiridos pelo consumidor, não possam mais ser tomados dele, não possam ser utilizados como se fossem garrafas de soda ou lâminas de barbear”. Toffler acrescenta ainda que nossos laços com o espaço físico também modificaram, sendo hoje menos duráveis. (Neves, Juliana, 2017, p.22). A arquitetura que convivo diariamente não tem como base experiência, mas a necessidade. As experiências que temos, sensações e etc. são resultantes de outros objetivos. Ainda que as cores, luzes, texturas, cheiros e sons que minha casa possui possam me trazer a sensação de lar, o local onde moro não foi projetado com base nisso. Outros locais, na minha vizinhança, também não foram projetados pensando nas sensações, mas nos objetivos. Me faz refletir sobre os laços que as pessoas estão tendo com a cidade e que uma cidade cinza está gerando cidadãos cinzas. Por sua vez, Pine II e Gilmore comentam que hoje em dia adquirir um produto ou serviço não é mais tão importante do ponto de vista simbólico e afetivo quanto viver uma experiência. Em relação à emergente “economia da experiência”, afirmam que as empresas devem atentar para o fato de que produzem memórias, não bens; criam o palco capaz de gerar maior valor econômico, não entregam serviços. Seria então hora de arrumar a casa, já que bens e serviços não seriam mais suficientes: o que os clientes querem são experiências. (Neves, Juliana, 2017, p.22). Novamente, faço uma relação com a arquitetura da minha cidade. “Empresas não produzem bens mas memorias”. Se a cidade que vejo fosse projetada pensando nas memórias, as relações que os cidadãos possuem com ela seriam melhores e trariam mais sentimentos bons diariamente. Projetos mal feitos geram experiências ruins e conexões ruins. O designer Jorge Frascara defende que devemos mudar o foco do design de objetos para o do design de situações capazes de proporcionar experiências significativas, tais como as focadas em socialização, bem- estar e solidariedade. Mais uma vez, esse pensamento vai ao encontro da ideia de que o design diz respeito ao impacto que os objetos exercem nas pessoas. (Neves, Juliana, 2017, p.23). A melhor forma de projetar algo para alguém não é partir do “algo” mas partir do “alguém”. O design é mais do que um conjunto de ornamentos para deixar “bonitinho”, desde um simples produto até um edifício. As escolhas que tomamos afetam pessoas e se projetamos para pessoas, devemos escolher pensando nelas. Uma vez ouvi que um designer egoísta não serve para ser designer, pois o design é para o próximo e não para o artista. Em 1998, a revista de arte, arquitetura e design Daidalos publicou um número especial intitulado Constructed Atmospheres [Atmosferas construídas]. A edição reúnde uma série de artigos e ensaios sobre a criação de atmosferas, como “The Architecture of Atmospheres” [A arquitetura de atmosferas], de Mark Wigley. Professor e diretor da Pós- graduação em Arquitetura das universidades de Princeton e Columbia, Wigley observa a relação entre a arquitetura e o espaço projetado, comparando a construção de um edifício à construção de uma atmosfera: “é esse clima de efeitos efêmeros que envelopa o habitante, não o edifício. Entrar em um projeto é entrar em uma atmosfera. O que é experiência é a atmosfera, não o objeto como tal. ” (Neves, Juliana, 2017, p.24) De fato, a relação externa que uma pessoa tem com um edifício pode ser extremamente diferente da interna. O lado de fora pode ser incrivelmente diferente do de dentro e não digo em relação à aparência, mas às sensações. Particularmente, eu amo lugares claros. E quanto mais relação com o exterior, melhor para mim. Quando estou num lugar aberto, na natureza, me sinto bem. Mas quando entro em um local fechado, escuro, com pouca iluminação natural, me sinto preso, sufocado. O lado de fora continua sendo o mesmo pois o que mudou foi a atmosfera que eu entrei. Outra sensação é entrar em uma casa velha. O cheiro de madeira, de móveis velhos traz uma sensação de antiguidade. É uma atmosfera extremamente forte e perceptível, talvez mais do que a aparência da casa em si. As atmosferas podem ser muito sutis, voláteis e efêmeras. Wigley explica que a arquitetura se encontra na suave relação entre elas, no jogo entre os diferentes microclimas projetados. Ele afirma, ainda, que o encontro de atmosferas aparentemente efêmeras pode ser tão sólido quanto um edifício. “Atmosferas são etéreas, um tipo de fluido ou fás; não são suscetíveis à apreensão. Corpos e coisas estão imersos e algumas vezes permeados por elas. Uma atmosfera pode ser sentida sem ser percebida. Notavelmente, ninguém sensível a elas a todo momento ou do mesmo jeito”. (Neves, Juliana, 2017, p.24) A relação que cada indivíduo tem com um ambiente pode ser diferente. E a percepção pode ser mais aguçada em alguns. Arquitetos são feitos para perceber, mas outras pessoas podem se sentir bem ou não em um ambiente e nem saber a razão disso. De fato, não é algo palpável. Embora não seja possível projetas como se darão a vivência da experiência e o envolvimento as pessoas com o meio projeto, é possível projetas atmosferas. Assim, intangíveis, imensuráveis, etéreas, efêmeras, sutis, voláteis, incontroláveis, porém projetáveis e impactantes, as atmosferas criadas em espaços físicos proporcionam experiências marcantes e variadas aos seus visitantes”. (Neves, Juliana, 2017, p.25) Cada pessoa possui uma história, uma opinião, um sentimento que juntado ao ambiente gera uma diferente experiência. Não é possível projetar personalidades (ou é?), mas podemos deixa-las confortáveis em um ambiente e marcar algo na memória delas sem conhecê-las particularmente. Produzida pela forma física, a atmosfera de um edifício seria um tipo de emissão sensorial de som, luz, calor, cheiro e umidade; “um clima serpenteado de efeitos intangíveis gerados por um objeto imóvel”. Assim, uma construção sólida, tangível e mensurável teria capacidade de produziralgo tão sutil e intangível quanto uma atmosfera, composta de elementos que envolvem nossos sentidos. (Neves, Juliana, 2017, p.25) Como dito anteriormente, a experiência que temos no exterior pode ser incrivelmente diferente da do interior, justamente pelas barreiras que a atmosfera cria no espaço. E ainda assim, um campo vazio pode ter uma atmosfera diferente quando colocamos um edifício no centro dele. O professor e renomado arquiteto suíço Peter Zumthor apresenta em Atmospheres: Architectural Environments Surrounding Objects [Atmosferas: ambientes arquitetônicos em torno de objetos] – livro editado a partir da transcrição de uma palestra ministrada na Alemanha sobre a construção de atmosferas na arquitetura – o que considera os nove principais conceitos para se projetar uma atmosfera. Cinco deles estão diretamente relacionados aos nossos sentidos: “corpo da arquitetura”, “compatibilidade material”, “som do espaço”, “temperatura do espaço” e “luz nas coisas”. Os outros quatro – relacionados a questões isoladas de projeto que não os sentidos – Zumthor nomeia como “objetos ao redor”, “entre compostura e sedução”, “tensões entre interior e exterior”, e “níveis de intimidade”. (Neves, Juliana, 2017, p.28) É de chamar a atenção os nomes que Zumthor dá aos conceitos e tratar o projeto como um corpo, como algo vivo. Projetar um edifício como um ser que será frequentado por outros seres é incrível e atrativo. É como estudar anatomia de uma construção partindo dos sentidos. A escolha dos materiais, a posição deles, a luz que seja projetada neles, o som que o espaço possui e o fato de estar interligado com outros conceitos, que o torna único, a temperatura que pode aguçar a imaginação do frequentador, até a luz que esvazia a escuridão. Estudando o Tadao Ando, vejo como é infinito o modo como podemos trabalha-la. Todas essas coisas ativam nossos sentidos. E um projeto que trabalha com todos eles, é um projeto rico. Para que a arquitetura articule a experiência de se estar no mundo e reforce o sentido de realidade e pertencimento, ela deve envolver todos os sentidos. Como afirma Juhani Pallasmaa, “é evidente que uma arquitetura que enriquece a vida tem que ser dirigida a todos os sentidos simultaneamente”. (Neves, Juliana, 2017, p.33) Um edifício nunca foi projetado para “ninguém”. Ainda que não possamos adentra-lo, podemos ter uma relação com ele, quando passamos na rua e o enxergamos de longe. E isso se dá ao fato de que estamos inseridos no mundo. Logo, a arquitetura não foi criada simplesmente para SER mas para ser EXPLORADA. Assim como o design, é para o próximo. E baseada no próximo. Uma arquitetura que envolve sentidos, abraça o indivíduo e faz com que este se sinta pertencente àquele lugar. Sinto que uma arquitetura que conversa com homem permite que uma formiga (nós) seja do mesmo tamanho de um gigante (arquitetura) fazendo uma conexão. Esse professor e arquiteto finlandês afirma, ainda, que o homem contemporâneo está perdendo sua “sensorialidade” e por isso nos convida a “ressensorializar” a arquitetura, orientando-nos a dar crescente atenção aos sentimentos que os materiais geram em nós, principalmente no que diz respeito ao toque, à textura, ao peso, à densidade do espaço e à luz: “Cada experiência arquitetônica é multissensorial; qualidades do espaço, matéria e escala são medidas igualmente por olhos, ouvidos, nariz, pele, língua, esqueleto e músculos. A arquitetura reforça a experiência existencial, a sensação de estar no mundo”. (Neves, Juliana, 2017, p.33) A arquitetura tem o poder de fazer o homem se conectar e existir no mundo, que cresce a cada dia. Nela conseguimos construir objetos no espaço físico e emoções num espaço imaginário. Uma arquitetura que se preocupa além da aparência é capaz de criar o bem-estar. Dentre os sentidos, a visão sempre é a mais buscada. Mas um mundo que trabalha com todos os sentidos é ainda mais rico. A realidade não é percebida tão somente pela objetividade das características exteriores, mas também pela subjetividade. Conforme inicialmente exposto, só temos a ideia da realidade se a influência dos sentimentos e das emoções formar o princípio das ações humanas. (Okamoto, Jun, 2002, p.68) Os comportamentos humanos devem ser levados em consideração na relação do homem com o ambiente. Suas emoções são alvos que não são notados facilmente mas podem ser buscados e aguçados com base em pesquisas. Dessa maneira, confirmou-se que a subjetividade é um fator importante no processo de projeto, pois trata-se de elemento básico e fundamental da origem do comportamento. Como é por meio do elemento subjetivo que se percebe a realidade, esse dado deve ser também considerado no momento da criação. (Okamoto, Jun, 2002, p.69) É de fácil percepção elementos técnicos que são visíveis do projeto, e que talvez sejam até palpáveis. Mas para um projeto completo e rico, deve ser levado em consideração também a subjetividade que são os sentidos do corpo humano por si só. Construímos o meio ambiente utilizando valores objetivos como forma, função, cor, textura, aeração, temperatura ambiental, iluminação, sonoridade, significante e simbologia. Cada um desses valores objetivos resulta no espaço dimensionado, funcional, sonoro, colorido, significante e a soma deles, no espaço da comunicação e da arquitetura. (Okamoto, Jun, 2002, p.71) São utilizados fatores objetivos técnicos para aguçar uma arquitetura sensível e de comunicação com o ser humano. Essas características do projeto geram estímulos ao homem que sente o ambiente e isso gera uma experiência marcante. Após a percepção, temos a consciência, quando o Eu (desejo, anseio, vontade ou necessidade a ser atendida) participa na tomada de decisão sobre o comportamento. Essa interpretação provém dos conceitos da antroposofia de Rudolf Steiner, (obtidos nos escritos do psicólogo Josef David Yaari, 1991), que identificou 12 sentidos interpretados além do sentido restrito da fisiologia, para formar um conjunto com a consciência do EU, no comportamento do homem. Ou seja, todos os sentidos são utilizados em relação ao Eu, em relação a nós mesmos, ao nosso redor e ao redor do mundo, no processo de sentir querer e pensar. (Okamoto, Jun, 2002, p.73) É impressionante como a lista de sentidos que o corpo humano tem só aumenta cada vez mais que estudamos a capacidade que temos para perceber um espaço e as emoções que ele traz. E de fato, conseguimos trabalhar muito além do simples sentir mas conseguimos criar pensamentos e também desejos ao indivíduo trabalhando com tais elementos subjetivos.
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