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1 Disciplina: Metodologia para a apropriação do sistema de escrita alfabética (SEA) Autores: D.ra Rita de Cássia Moser Alcaraz Revisão de Conteúdos: Murillo Hochuli Castex Revisão Ortográfica: Juliano de Paula Neitzki Ano: 2018 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Rita de Cássia Moser Alcaraz Metodologia para a apropriação do sistema de escrita alfabética (SEA) 1ª Edição 2018 Curitiba, PR Editora São Braz 3 FICHA CATALOGRÁFICA ALCARAZ, Rita de Cassia Moser. Metodologia para apropriação do sistema de escrita alfabética (SEA) / Rita de Cassia Moser Alcaraz. – Curitiba, 2018. 50 p. Revisão de Conteúdos: Murillo Hochuli Castex. Revisão Ortográfica: Juliano de Paula Neitzki. Material didático da disciplina de Metodologia para apropriação do sistema de escrita alfabética (SEA) – Faculdade São Braz (FSB), 2018. ISBN: 978-85-5475-241-5 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Apresentação da disciplina [...] o sentido de um texto não é jamais interrompido, já que ele se produz nas situações dialógicas ilimitadas que constituem suas leituras possíveis. (Jaqueline Authier-Revuz) Esta disciplina tem por finalidade refletir sobre alfabetização e letramento, considerando a aquisição da língua materna e da linguagem escrita. Ao se pensar o trabalho contextualizado de práticas discursivas no Ensino Fundamental nos anos iniciais de escolarização, de maneira geral, é preciso reavaliar as práticas escolares presentes na escola e em permanente construção – já que o processo de aprendizagem é contínuo e os atores envolvidos estão em constante debate para depurar os processos de ensino e aprendizagem. Para tanto, é necessário considerar algumas discussões atuais na área de letramento e alfabetização. Assim, o projeto curricular contemplará principalmente os aspectos de práticas de escrita e estratégias de leitura como: os diversos discursos em constante modificação e adaptação na construção da a aprendizagem dos alunos e dos professores, levando em consideração as discussões atuais sobre Letramento; a função social dos gêneros textuais e os tipos de texto, conforme as orientações das Diretrizes e do ensino da alfabetização, orientando o trabalho docente na escolha de conteúdos, procedimentos e formas de avaliar esse processo; bem como a constante transformação social e as teorias críticas presentes nas representações discursivas que englobam as discussões sobre o Multiculturalismo existente nas representações linguísticas no hibridismo cultural. Por fim, serão contempladas a sociolinguística e as suas considerações sobre as variações linguísticas atreladas ao contexto, ao regionalismo, à internet, aos modismos, estrangeirismos e gírias – que acabam reestruturando a fala e reorganizando as práticas discursivas sociais e escolares, apesar da perspectiva da sociolinguística no Brasil para estudar a alfabetização ainda se encontrar em construção. 6 Aula 1 - A linguagem escrita como objeto de ensino e de aprendizagem Apresentação da aula 1 A linguagem é definida como importante na interação verbal. Esse sistema parte de concepções contextualizadas historicamente entre os sujeitos e as concepções de linguagem na valorização dos diferentes usos e funções sociais em diferentes estilos. Sob essa perspectiva, o trabalho em sala de aula pode ser organizado para que seja um ambiente de reflexão, segundo uma perspectiva contrária à tradição de ensino apenas transmissiva, baseada em reproduções mecânicas e em automatismos. 1. Hipóteses sobre o letramento Entendemos que a leitura não é apenas um ato de decifração dos sentidos que o autor do texto pretendeu imprimir, tampouco uma mera atividade de atribuição de significações ao texto; mas um constante processo de diálogo entre leitor-texto-autor. Desse modo, a leitura é uma atividade em que o leitor tem a oportunidade de dialogar com o texto, relacioná-lo a outros textos e contextos, reconhecer nele o discurso do autor e, com isso, pode tornar-se “dono da própria vontade, entregar-se a essa leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra não prevista” (LAJOLO, 1982, p. 59). Segundo a fortuna crítica, diferentes estudos apontam para o caráter histórico no uso da escrita na sustentação dos valores, dos saberes sociais de uma dada comunidade (Street, 1984; Kleiman,1993; Tfouni, 1995, entre outros). Brian V. STREET (1984) afirma que, em torno de duas décadas atrás, os modelos de Letramentos propostos eram únicos, universais e neutros. O texto não era considerado como objeto social, mas sim como um objeto linguístico para análise, independente dos usos sociais. Tal pressuposto era enunciado para a alfabetização, entendida naquele modelo como prática autônoma, desconsiderando contextos de interação social no uso da linguagem e limitando a comunicação a um espaço específico, a sala de aula. As diversas estratégias e metodologias de aprendizagem da língua escrita e os direcionamentos dados 7 às atividades escritas em sala para a apreensão do código linguístico eram destituídas dos contextos sociais. O modelo autônomo não se preocupava com os padrões históricos, culturais, sociais mais amplos referentes às interações do cidadão com as práticas de letramento comuns, como utilizar um documento como referência na solicitação de algo a um órgão governamental. Segundo Street (1984), muitas hipóteses sobre os Letramentos estão atreladas à escola, principalmente a de que o processo cognitivo está ligado ao domínio do código linguístico. Street (1984) reflete que o processo cognitivo não está associado apenas ao uso da escrita; ele existe no desenvolvimento oral em diversas comunidades e nas diferentes relações sociais contidas nelas, tomando-as como experiências anteriores importantes sobre a apropriação do código escrito. Com base nessas reflexões e conceitos, iniciaremos nossas aulas refletindo sobre os conceitos históricos pertinentes à apropriação do Sistema de Escrita Alfabética e que impactam o momento atual. Sistema de Escrita Alfabética Fonte:https://ichef.bbci.co.uk/news/660/cpsprodpb/114CD/production/_83916807_think stockphotos-stk108673cor.jpg Durante muito tempo, o ensino da língua escrita em uma perspectiva autônoma foi relacionado com o conceito de alfabetização, com o sistema de escrita centradona escrita e na leitura, enquanto capacidade para decodificar os sinais gráficos, transformando-os em “sons”, e, na escrita, transformando-os em sinais gráficos. Entretanto, alguns teóricos observaram, por meio das relações 8 sociais, o desenvolvimento de práticas de leitura e escrita em contextos sociais a ocorrer de maneira relacional e assim passaram a refletir sobre os usos da fala, da escuta e da escrita em diferentes contextos sociais, anteriores à aprendizagem escolar e com impacto nela. Ao se considerar a interação em sala de aula, reflete-se junto aos educadores a constante reprodução das estruturas sociais e históricas do ato de ensinar, tomando como base a decodificação. Questão debatida continuamente em todas as aulas deste curso e que fundamentalmente também respondiam as questões postas em diferentes épocas sobre a aprendizagem e embasaram a metodologia na aquisição da escrita. Foi a partir dos anos de 1980 que o conceito de alfabetização foi ampliado por meio da psicogênese com os trabalhos de Emília Ferreira e Ana Teberoski. Os estudos foram um marco e ampliaram a concepção de aprendizagem quando se referiam ao sistema de escrita. As crianças, ao serem observadas em diferentes ambientes, sistematizavam hipóteses de escrita, assim a decodificação e codificação não se minimizariam apenas à correspondência de grafemas e fonemas. O processo era mais complexo e ampliado. As experiências das crianças com a escrita e o registro de suas hipóteses sobre o sistema de representação da língua modificam a concepção de ensino-aprendizagem dos sistemas de escrita alfabética. Tal teoria impacta a concepção dos educadores sobre o processo de aquisição da língua materna escrita e, no Brasil, desdobra-se na teoria construtivista. Pesquise A teoria construtivista encontra-se fundamentada na obra de Jean Piaget (1896-1930), biólogo suíço reconhecido por dedicar-se ao entendimento dos processos de aquisição do conhecimento humano. Dentre seus principais estudos, destacam-se os mecanismos de funcionamento da inteligência e a constituição/construção do sujeito a partir de sua interação com meio. Fonte: https://www.infoescola.com/educacao/construtivismo/ Dentre as hipóteses elaboradas acerca da aprendizagem na infância, destaca-se a interação com os pares, em que promove-se uma postura 9 mediadora do educador(a) na aquisição do sistema de escrita e na representação social da linguagem escrita. Tal consideração é relevante, pois os índices de pessoas escreventes e não-escreventes compõem grupos de alfabetizados e não-alfabetizados no ranking de desenvolvimento do país frente aos mercados político e econômico mundiais. Tal proposição por décadas influencia alguns mitos ligados à aprendizagem da escrita. David Olson, citado por Street (1984), enumera os mitos da alfabetização relacionados à aprendizagem da escrita conforme os enunciados abaixo: A escrita é a transcrição do discurso; A superioridade da escrita à fala; A superioridade tecnológica do sistema de escrita alfabética; A alfabetização como o órgão do progresso social; A alfabetização como um instrumento de desenvolvimento cultural e científico; A alfabetização como um instrumento de desenvolvimento cognitivo. Tais mitos se relacionam ao modelo autônomo apresentado por Steet (1984) e ligado ao automatismo da aprendizagem, a modelos mais tradicionais de aprendizagem e ainda funcionam como reguladores para organizar provas nacionais de desempenho e avaliação escolar. No Brasil, o terror de uma alfabetização funcional passa por formações e reformas com o ideal de incorporar habilidades na aprendizagem da linguagem escrita e de estratégias de leitura associadas a situações sociais. Os teóricos acabam por incorporar o termo literacy, do inglês, letramentos e surgem distinções entre os termos letramento e alfabetização. O termo alfabetização passa a ser compreendido como restrito, designando o aprendizado inicial da leitura e da escrita, bem como o funcionamento do sistema de escrita. Enquanto o termo letramento, por sua vez, passou a ser compreendido conforme as práticas sociais contextualizadas aos usos da escrita, demonstrando-se plural. Dessa forma, ambos os termos possuem distinções em verbetes e 10 nomenclaturas utilizadas como: “aprendizado do sistema de escrita” para o alfabetismo, e “aprendizado da linguagem escrita”, ao se referir aos letramentos. Há quase meio século, as pesquisas acadêmicas sobre o ensino de língua portuguesa/língua materna (LP/LM) dedicam boa parte de suas produções a analisar processos, concepções e estratégias de leitura que ocorrem no ambiente escolar. Pautadas, por vezes, em discussões sobre leitura e o fracasso no desempenho escolar, muitas dessas discussões, em cada momento histórico, apontam diferentes motivos para a “crise na leitura”. No início da segunda metade do século passado, esta “crise” poderia ser analisada a partir da problemática da democratização do ensino, que não contou com uma verdadeira e séria reorganização da escola para acolher alunos oriundos de diferentes classes sociais. Nesse contexto, o acesso aos meios de comunicação, principalmente à televisão, colaborou para o afastamento do texto verbal escrito e com baixo desempenho dos leitores, especialmente no contexto escolar. Tais questões são consideradas para a reflexão histórica e conceitual na tentativa de diferentes estudiosos refletirem sobre a importância de metodologias adequadas no processo de escrita e leitura postos socialmente na circulação de materiais escritos, os quais acessamos em diferentes veículos no dia a dia. 1.1 Letramentos O debate sobre letramentos ganha folego em meados da década 1980. No Brasil, a palavra letramentos ganha distinção, baseada em estudos antropológicos de usos da linguagem como prática de interação e com função social, guardando em seu significado contextos identitários e culturais no uso das práticas discursivas – escritas ou faladas. Os estudos referidos buscaram, inicialmente, ampliar o conceito de alfabetização para práticas contextualizadas e locais no uso dos discursos escritos e em práticas de leituras dispostas em contextos variados, utilizando como exemplos as diferentes esferas sociais. Assim, a leitura de um bilhete, desde que inserida como prática social e cultural é tão significativa quanto a leitura de um romance, pois os discursos são materializados em gêneros específicos que servem a uma função social em um contexto com valores culturais, políticos e de afirmação de identidade 11 intrínsecos. Por isso, o termo ganha uma pluralidade de significados, designados como letramentos, conforme enunciamos anteriormente. Brian Street (1984), um dos estudiosos referenciados na área, ainda alerta para a dicotomia entre a oralidade e a escrita acentuadas na escola em diferentes atividades, por isso o uso contextualizado em diferentes práticas de ensino demonstra-se relevante para os estudantes. Vocabula rio Dicotomia refere-se à divisão de um determinado conceito em duas partes geralmente opostas. Entretanto, para os educadores, fica o desafio entre um modelo autônomo e um modelo ideológico. O modelo autônomo não apresenta relações e referenciais com as práticas discursivas sociais, categorizando, por vezes, as pessoas em alfabetizadas e não alfabetizadas – incluindo-as ou excluindo-as socialmente, ideologicamente e politicamente, em uma perspectiva que considera a aquisição da linguagem escrita como um método de aquisição técnico, autônomo, e como um processo à parte das práticas sociais (GEE, citado por STREET, 1984). O modelo ideológico, por sua vez, é indicado como pressuposto, apontando o texto como um objeto social, conforme os objetivos aos quais se destinam a escrita na sociedade, transpostasas práticas escolares. Com esse ideal, o aluno estabelece hipóteses e atribui sentido à leitura: O texto não existe isoladamente; ele é parte integrante das interações sociais em contextos discursivos experienciados pelos estudantes antes de ingressarem no ambiente escolar. Alguns dos impasses, considerando as afirmações do teórico, consistem em refletir sobre: a mitificação da aquisição da escrita relacionada aos códigos 12 fonéticos; ao desenvolvimento cognitivo ligado à ascensão profissional, pois parece que o termo alfabetização carrega consigo a formulação técnica e autônoma da aquisição da escrita; e a oralidade entendida como um processo inferior. Portanto, a partir do debate de Brian V. Street (1984), contestamos a hierarquização grafocêntrica, quando exclui a brincadeira e o jogo em contextos de letramentos e rejeita a oralidade. Vocabula rio A palavra grafocêntrica refere-se àquilo que está centrado na imagem gráfica ou escrita e tende a privilegiar a imagem em detrimento do som. Desta maneira, a compreensão dos estudos de escrita atrelados aos letramentos nos leva em direção ao sentido de atividades de leitura e escrita dos indivíduos em diferentes suportes, normas e instituições, sem descaracterizar a releitura e importância de processos técnicos de decodificação próprios da alfabetização no sistema de apropriação da escrita. Compreendemos que as práticas discursivas variam no espaço e no tempo, pois se relacionam aos contextos históricos, sociais, de gênero e idade de quem escreve o texto, pois, dadas essas condições, os estudantes participam e acessam as estruturas ideológicas sociais e de tradições culturais distintas de outras pessoas por vezes em outro local e tempo. Os teóricos, ainda, afirmam que a escrita possui um contexto de multiplicidade, oferecendo um sentido amplo e contínuo que varia de acordo com os contextos da comunidade e tradições culturais, cumprindo funções sociais por meio de diferentes gêneros. Importante A escrita aqui compreendida não é um processo autônomo e automatizado, mas está associada a uma dimensão processual; com uma definição temporal específica aprendida na dinâmica das interações sociais que ultrapassam as escolares nos dispositivos de leitura e escrita. 13 1.2 A Língua como fonte de aprendizagem O ensino da língua é estruturado socialmente a partir dos contextos e usos sociais em práticas próprias de interação social, cultural e política entre os falantes. Nesse sentido, a escola é uma das principais instituições no ensino da escrita. Entretanto, as condições básicas na apropriação da escrita envolvem aprendizagens especificas para a apropriação do sistema alfabético e o sistema fonológico da língua e suas inter-relações. Por exemplo, tais relações entre o sistema alfabético e as regras utilizadas na produção escrita não são as mesmas ao considerar os diferentes textos que circulam socialmente. Isso significa que se devem observar as polarizações e reduções sobre as práticas de alfabetização. O estágio atual dos questionamentos e dilemas no campo da educação impõe a necessidade de firmar posições consistentes, evitando polarizações e reducionismos nas práticas de alfabetização. Algumas questões relacionadas aos métodos de alfabetização podem tornar mais acessíveis essas ponderações. A opção pelos princípios do método silábico, por exemplo, contempla alguns aspectos importantes para a apropriação do código escrito, mas supõe uma progressão de conhecimentos específicos que não deveriam desconsiderar as funções sociais da escrita. Os métodos de base fônica, aqueles relacionados ao fonema e ao grafema quando valorizam a relação codificação e decodificação pela decomposição de elementos que se centram em fonemas e sinais gráficos podem ser contextualizados. Os métodos analíticos pressupõem a aprendizagem por meio de palavras, sentenças e textos para a decomposição por sílabas em direção às unidades menores e podem considerar os contextos e gêneros textuais em circulação na sociedade. Os aspectos psicomotores e grafomotores possuem um impacto inicial de alfabetização e por vezes estão desarticulados das importantes relações dos usos sociais da escrita, por isso podemos evitar os reducionismos, quando desarticulam tais propostas. 14 O construtivismo neste cenário é importante ao se pensar nas relações de mediação e interação, pois favoreceram ao longo do processo a interação e a mediação. Contudo, a apropriação da escrita depende da mediação e do conhecimento dos estudantes para criar bases no desenvolvimento de hipóteses e podem se considerar os interesses das crianças sem reducionismos. A dissociação equivocada entre letramentos e alfabetismo gerou a errônea ideia de substituição de um pelo outro. Por isso, consideramos na apropriação do sistema escrito em práticas de alfabetismos, de maneira plural, a apropriação do sistema escrito e de letramentos na participação e inserção das práticas de participação na cultura escrita dos estudantes. Pesquise O texto Letramento e suas Implicações para o Ensino de Língua Materna, de Magda Soares, apresenta reflexões sobre o letramento voltadas para a produção de textos com alunos do ensino fundamental e médio. A autora discorre sobre as organizações curriculares em conteúdos linguísticos-enunciativos-discursivos e contribui com o debate na área. Disponível em: https://online.unisc.br/seer/in dex.php/signo/article/view/242/196 Ví deo O filme Escritores da Liberdade (2007) de Richard Gravenesse, conta a história de uma dedicada professora em meio a um contexto socioeconômico problemático, buscando inspirar os alunos por meio de estratégias criativas. Resumo da aula 1 Conforme explicitado, a produção de textos indica a produção de sentidos e assim indicamos para a modalidade da escrita uma prática constante para os alunos internalizarem e perceberem gradualmente a forma de composição dos gêneros textuais. Como refletido nesta aula, na segunda metade da década de https://online.unisc.br/seer/in 15 1970 e nas décadas a seguir, de 80 e 90, as concepções de língua/linguagem e as concepções e estratégias de leitura desenvolvidas pela escola foram atacadas e acusadas de não permitir com que os estudantes desenvolvessem adequadamente um diálogo significativo com o texto lido. Mais recentemente, as preocupações estão voltadas para as análises e à proposição de materiais didáticos que contemplem atividades de leitura que permitam a interação entre leitor-texto-autor, levando em consideração o contexto de produção do texto na construção de significados e sentidos para o que é lido. Os estudantes, ao refletirem sobre os objetivos e os modos de produção em determinadas situações contextuais, conseguem inferir a função social exposta da escrita. Redigir é um processo de formação contínua em todas as línguas e por isso exige tempo, investimento e constância. Também é necessário ressaltar a importância das práticas na produção de textos escritos e atividades orais no ambiente escolar da observação dos interesses dos estudantes, bem como do processo de inserção de diferentes textos, retirados de vários contextos em diferentes suportes. Por meio do acompanhamento das produções escritas e orais indicamos exercícios com intervenção dos professores que possibilitem comparações entre as versões, para o processo ser significativo aos estudantes. Neste processo de rescrita, os alunos podem incorporar novos elementos em suas produções e também tomarem conhecimento de possíveis limitações a serem trabalhadas para a superação e ampliação das técnicas na produção de texto. A leitura deve ser considerada como um trabalho complexo, plural, que exija o engajamento do leitor e a formação continuada dos profissionais envolvidos, em constante debate e reflexão,para que o saber nas práticas escolares faça sentido também fora dela. Com isso, para as atividades de produção escrita vamos enfatizar: Planejamento do texto; Escrita do Texto; Correção; Rescrita. 16 O planejamento das atividades pode considerar, além do que já foi enunciado sobre as práticas textuais, os temas sociais de relevância em relação aos estudantes elencados nas aulas com base na história da comunidade, na experiência individual e coletiva, promovendo o diálogo com o educador em um sentido complexo e amplo de buscar sempre (re)significar o ato de aprendizagem, de leitura e de escrita na aprendizagem do sistema de escrita alfabética. A aula observou aspectos teóricos e conceituais para a reflexão sobre a escrita e a leitura. Nesse ponto, enfatiza-se o letramento e a alfabetização como essenciais para se pensar as práticas de aprendizagem da aquisição do código escrito em LM/LP. Atividade de Aprendizagem A partir de suas experiências em sala de aula, organize um diário de bordo e insira nele registros de atividades realizadas em classe. Tais anotações poderão servir como base para reflexões acerca do planejamento escolar. Aula 2 – Estudo dos processos de desenvolvimento, construção e apropriação da língua escrita Apresentação da aula 2 Com base na primeira aula, podemos considerar como argumento inicial que não se trata de uma escolha entre dois processos: o letramento ou a alfabetização enquanto sequenciais, ou concorrentes. Os desafios para os primeiros anos da Educação Fundamental referem-se a conciliar os processos para que os alunos tenham condições indispensáveis para a apropriação do sistema alfabético e no uso de práticas sociais discursivas presentes na cultura na qual está inserido. Tal ação pode refletir em hipóteses sobre o funcionamento e usos da linguagem. Assim, compreende-se a importância da ação pedagógica articulada entre alfabetização e letramentos. 17 Algumas pesquisas acadêmicas, há algum tempo, buscam analisar e contestar os encaminhamentos da produção de texto em sala de aula de Língua Portuguesa, voltadas a propostas tradicionais e descontextualizadas do uso da linguagem. Por outro lado, a formulação de atividades em materiais didáticos para o trabalho em sala de aula com alunos e em formações distintas exige que as concepções teóricas que o embasem e as estratégias possam encaminhar as atividades de produção de texto com diferentes estratégias na aquisição da linguagem. Por isso, nesta aula vamos analisar algumas propostas de produção de texto, com base nos argumentos de Pietri (2007) e outros autores na análise de materiais de escrita e produção de texto. Vamos explicitar as concepções de leitura e escrita de textos. 2. Reflexão sobre os linguagem e escrita Entre a década de 1970 e meados dos anos 80, as pesquisas iniciaram investigações para responder o porquê de a escola e os professores não conseguirem preparar os alunos para o uso efetivo da linguagem na escrita. As conclusões dos trabalhos foram que: “a escola não leva o aluno a se colocar criticamente, mas lhe oferece modelos e estratégias de preenchimento a fim de cumprir a tarefa e produzir redação” (DE PIETRI, 2007, p. 293). Aquisição da linguagem escrita Fonte: https://www.familyeducation.com/sites/default/files/styles/scale800/public/2018- 03/5%20Year%20Old%20Writes%20Backward.jpg?itok=gLWDfRKf 18 Dessa forma, em meados da década de 80, as pesquisas eclodiram com a discussão sobre o ensino da linguagem e da escrita. Destacamos, nesse cenário, a obra O texto em sala de aula – leitura e produção (1984), de João Wanderley Geraldi, como um marco nesta história de mudanças. A proposta é o trabalho de ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa (LP), a partir de uma concepção sociointeracionista da linguagem. A leitura passa a ser compreendida como um processo dialógico e interativo de construção de significados: “a leitura é um processo de interlocução entre leitor/autor mediado pelo texto. É um encontro com o autor, ausente, que se dá pela sua palavra escrita. (...) O leitor, nesse processo, não é passivo, mas agente que busca significações” (GERALDI, 2002, p.91). Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Em sua coletânea O Texto na Sala de Aula, o linguista João Wanderley Geraldi apresenta e analisa diversos aspectos pedagógicos e sociais do ensino da língua portuguesa, enfatizando o ponto de vista daqueles que estão inseridos no cotidiano da sala de aula. Desse modo, especialistas de diversas universidades brasileiras assinam 12 artigos, em que debatem os fundamentos do ensino da língua, da literatura, da leitura e da produção de textos. Quando o leitor inicia a leitura, ele aciona uma série de recursos e estratégias com o objetivo de compreender o texto. Nessa relação estão envolvidos aspectos cognitivos. Com isso, o ensino é reorientado com base no estudo do texto: [...] leitura e escrita de textos como práticas sociais significativas e integradas, e na análise dos problemas encontrados na produção textual como mote para a prática de AL [análise lingüística], em vez, dos exercícios estruturais de gramáticas (MENDONÇA, 2006, p. 200). 19 As análises de Geraldi (1984) indicam a importância da escola em preparar os alunos para a compreensão do texto como um produto sócio, histórico e discursivo. A leitura pode ser considerada um trabalho complexo, que exige o engajamento do leitor e a formação continuada dos profissionais envolvidos em constante debate e reflexão para que o saber uniformizado nas práticas escolares faça sentido também fora dela. A relação linguagem, ensino e aprendizagem problematiza há alguns anos as práticas de ensino conservadoras com enfoque mais tradicional. Para a expressão tradicional, compreende-se a produção de leitura e escrita baseada em mera decodificação de um texto. Os primeiros trabalhos que investigaram a produção escrita datam da década de 70, segundo De Pietri (2007), alguns deles investigavam as redações produzidas em contextos de vestibular: “não havia no país, até então, pesquisas que tivessem como objeto de estudo o texto escrito produzido em contexto escolar” (DE PIETRI, 2007, p. 285). As bases teóricas na época sobre a produção de texto eram constituídas a partir de teorias estrangeiras. De forma efetiva, a atenção das análises era de base estruturalista, com foco na organização gramatical dos textos estudados, especificamente sobre o tema “a diferença entre a fala e a escrita”. O autor destaca que, a partir dos últimos anos da década de 70, inicia-se uma mudança nas pesquisas sobre a escrita – elas começam a enfatizar as questões sobre conteúdo. Dessa forma, observa-se uma concentração em teorias linguísticas que reformularam a produção escrita. Uma delas segundo Kleiman (1993), a concepção interacionista, segundo a qual, para compreender o ato da leitura, é preciso considerar o papel do leitor, suas expectativas e conhecimentos prévios, e o papel do texto, sua forma e conteúdo. Ou seja, torna- se evidente que o leitor faz uso do processamento ascendente (bottom-up) e do descendente (top-down) simultaneamente, um complementando o outro. Nessa mesma direção de pensamento, Solé (1998, p. 23) afirma que no ato de leitura entra em jogo o manejo das habilidades de decodificação, bem como nossos objetivos, ideias e experiências prévias e assim nos envolvemos em um processo de: 20 […] previsão e inferência contínua, que se apóia na informação proporcionada pelo texto e na nossa própria bagagem, e em um processo que permita encontrar evidência ou rejeitar as previsões e inferências antes mencionadas. Neste sentido, o leitor apoia-se nas informações visuais (conhecimentos veiculados pelo texto) e não-visuais (conhecimentos prévios do leitor):parece haver, portanto, uma espécie de harmonização entre o que já faz parte do repertório do leitor e as informações advindas do texto. Em outras palavras, a concepção interacionista de leitura aponta para o diálogo do leitor com o texto, uma vez que exige o levantamento de pistas linguísticas e o confronto dessas com os conhecimentos prévios do leitor. 2.1 Construção e apropriação: os sentidos da leitura Quando o leitor realiza a leitura, ele aciona uma série de recursos e estratégias para a compreensão do texto; os aspectos cognitivos são acionados quando se lê. Angela Kleiman (2000) observa que a leitura de um texto tem como base a elaboração e verificação de hipóteses pelo leitor. Nesse sentido, o leitor aciona os conhecimentos prévios linguísticos, textuais e assim constrói o sentido do texto. Dessa forma, na concepção cognitiva da leitura, um leitor proficiente consegue utilizar estratégias na solução de problemas e possui objetivos de leitura. O leitor proficiente é aquele que consegue prever quais os obstáculos que o texto lhe apresentará, para superá-los com mais facilidade; o leitor proficiente é também aquele que, diante de um obstáculo não transposto, procura no próprio texto, ou em outra fonte de informação – que podem ser outros textos-, auxílio para compreender a passagem de mais difícil solução para a leitura (PIETRI, 2007, p.23). Sob tal perspectiva, a leitura é considerada como prática cultural, construída socialmente, culturalmente e historicamente. Para Refletir Pensar sobre o ensino da produção de texto e da escrita escolar é conceber que o aluno compreenda em situação de produção: quem escreve, o que, para quem, para que, por que, quando, onde e como se escreve. 21 O texto, nessa concepção, deve ser considerado em sua base material, suporte na compreensão e construção de significados. A produção de texto é uma atividade comunicativa, interativa e implica uma cooperação entre dois ou mais sujeitos, a princípio autor e leitor. Essas ideias estão de acordo com a teoria de Bakhtin (1993, p. 279), quando o autor afirma que “a utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos), (...) que emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da atividade humana” e que esses enunciados partem de alguém e se dirigem a um interlocutor, sem o qual o enunciado não se constitui enquanto efeito de linguagem; é em função desse coautor que o autor do texto seleciona os recursos e as estruturas linguísticas a serem empregadas para a interação. Segundo Costa Val (2003, p. 126): “essas escolhas, (...), não são completamente livres nem aleatórias, porque são balizadas por parâmetros sociais”. O trabalho linguístico dos sujeitos, nas diferentes esferas da convivência humana, vai, no decorrer da história, sedimentando “tipos relativamente estáveis de discurso”, que se constituem para cumprir determinadas finalidades em determinadas circunstâncias. São os “gêneros discursivos”, nascidos da práxis comunicativa: o círculo de interlocutores define hierarquias e padrões de relacionamento; atividades, necessidades, objetivos e expectativas recorrentes definem modos comuns de uso da linguagem. Saiba Mais Mikhail Bakhtin (1895 – 1975) foi um filósofo russo que refletiu, em sua obra, sobre noções, conceitos e categorias de análise da linguagem. Considerado um dos maiores estudiosos da linguagem humana, suas obras influenciaram uma infinidade de pensadores de diversas áreas como: crítica da religião, estruturalismo e semiótica. Entre suas principais obras, encontram-se: Marxismo e Filosofia da Linguagem, Cultura Popular na Idade Média: o contexto de François Rabelais e Estética da Criação Verbal. 22 Ao considerar essa perspectiva, o trabalho com a produção de texto e com a escrita prioriza uma metodologia com ênfase discurso-enunciativa e rompe com a concepção de ensino mais normativo e tradicional. O desenvolvimento das capacidades linguísticas de ler e falar são iniciadas em ambientes familiares. No ambiente escolar, a sistematização da escrita e a interação com os textos são iniciadas e envolvem processos organizados de maneira distinta no domínio dos campos da leitura e da produção de textos e escritos. Nesse sentido, aspectos como a sequência dos textos (em frente e verso); as margens; as linhas; os parágrafos; a numeração; o espaçamento das partes e do todo; a escrita da direita para a esquerda; a disposição para identificar quem escreveu o livro quem o ilustrou; são etapas a serem consideradas como estratégias e sequenciação do texto. Como pode ser observado pela figura abaixo: Fonte: Adaptado pela a autora de FRAGATA, MATSUSHITA, Alfabeto escalafobético, 2018. 23 Fonte: Adaptado pela a autora de FRAGATA, MATSUSHITA, Alfabeto escalafobético, 2018. Sob essa perspectiva, é importante considerar que a escrita é para ser lida por alguém, por isso os textos possuem uma organização complexa, uma função social. Nesse processo, os estudantes precisam de orientação para segurar o lápis, para escrever da direita para a esquerda até o fim da linha. Ainda, se faz necessário indicar as diferenças entre o desenho, a escrita, os símbolos os números, todas essas relações são adquiridas em tempos pelos alunos e são progressivas e contínuas. A leitura e a escrita são etapas que se relacionam e são construídas também no ambiente escolar, com a orientação e a mediação dos professores. 2.3 A metodologia A metodologia de trabalho é o caminho a ser percorrido para adotar estratégias de ação. O ensino-aprendizagem de língua/linguagem no uso e o funcionamento dos discursos contextualizados e sócio-historicamente determinados, baseada no sociointeracionismo, compreende que o leitor no 24 momento da leitura não está fisicamente presente, nem no momento da produção de quem escreve um texto. Contudo, as decisões sobre o quê e como dizer são tomadas observando a possível interação do leitor com o texto. Nesse sentido, a escrita se atrela a diferentes usos relacionados às práticas sociais determinadas e, assim, cumprem funções sociais variadas, em diferentes gêneros. Uma característica da escrita é que no momento da produção ela pode ser compreendida como prática social para cumprir funções variadas conforme o contexto. Diversos autores problematizam como a leitura e a escrita ocorrem nas práticas escolares, inclusive questionam as dimensões interativas no processo de leitura e escrita presentes em várias práticas. No ambiente escolar, a leitura e a escrita não são atividades espontâneas, elas ocorrem ancoradas em bases intencionais de aprendizagem e apontam alguns aspectos essenciais na aprendizagem efetiva. O processo de simulação de leitura e de usos da língua pode ser um processo cristalizado de maneira automatizada e sem interação com os estudantes, e por isso deve-se ter muito cuidado desde a seleção da obra a ser escolhida no trabalho de produção escrita. Geraldi alerta: Na escola não se escrevem textos, produzem-se reações. E nestas nada mais são do que simulações do uso da língua escrita. Na escola não se leem textos, fazem-se exercícios de interpretação e análises de textos. E isso nada mais é do que simular leituras (GERALDI, 2002, p.90). Diante disso, recorrem-se no ambiente escolar a procedimentos como a adoção de livros manuais que “assumem o estatuto de autoridade, pois a sua programação é seguida fielmente (TARDELLI, 2002, p.37)”. Por isso, indica-se os cuidados com os recortes de textos, pois podem superficializar a interpretação. A perspectiva no ensino da produção de textos, tomando como base a concepção sociointeracionista de língua/linguagem, inaugura a comunicação como sendo o processo social de interação, no qual os significados são construídos. Assim, o estudante passa a ser consideradocomo produtor de textos, que pode ser entendido pelo que produz, enquanto que o resultado dessa produção (o texto) é o indício do diálogo entre interlocutores (BRASIL, 1999). Ou 25 seja, os conteúdos são textuais ou enunciativos e envolvem aspectos como a historicidade, contexto de produção dos enunciados e suas implicações na organização dos textos/discursos e, também, no processo de significação. Produzir linguagem significa produzir discursos: dizer alguma coisa a alguém, de uma determinada forma, em um determinado contexto histórico e em determinadas circunstâncias de interlocução. Isso significa que as escolhas feitas ao produzir um discurso não são aleatórias – ainda que possam ser inconscientes -, mas decorrentes das condições em que o discurso é realizado (BRASIL, 1998, p. 7, ênfases adicionadas). A interação entre o leitor e o texto é fundamental como princípio dialógico na compreensão de significados. A interação do leitor com o texto é potencializada quando na escrita o autor provoca no leitor. Segundo Pietri (2007), cabe ao professor selecionar textos e planejar as atividades de ensino e práticas que irá realizar em sala de aula, tomando-os como possibilidades de leitura que, a partir da produção de texto, levarão o aluno a assumir a autoria de seu trabalho, realizando “o papel principal na mediação entre leitor e o texto” (PIETRI, 2007, p.56). As práticas textuais de produção de texto e de escrita podem ter como eixos a comunicação e a interação, sem terem como fundamento a imposição artificial da produção sem sentido de leitura e correção. Importante É necessário repensar as práticas escolares presentes na escola e em permanente construção, já que o processo de aprendizagem é contínuo e os atores envolvidos nesse processo estão em constante debate para depurar os processos de ensino e aprendizagem. Para tanto, é necessário considerar algumas discussões atuais na área da linguística aplicada como propostas na produção de texto. A seguir, observe algumas: Ressignificação de sentidos por meio da interação entre os discursos do professor e do aluno, e do aluno com o professor, considerando as práticas discursivas propostas, sejam elas nos 26 exercícios que envolvem a prática de escrita ou nas estratégias de leitura; Reflexão sobre a linguagem e o processo de leitura mediante a análise do texto; Inferir a posição do autor, considerando a polifonia textual na intenção do enunciador desse texto, por meio do léxico por ele usado; Discutir estratégias pedagógicas sobre o ensino e prática de alfabetismos, considerando o letramento social e discursivo na representação social e cultural do aluno em situações cotidianas; Organizar projetos na área, com enfoque na temática da aprendizagem da variação escrita. Assim, o projeto curricular de uma obra didática pode abordar principalmente os aspectos de práticas de escrita e estratégias de leitura como: os diversos discursos em constante modificação e adaptação na construção da aprendizagem dos alunos, dos professores, levando em consideração as discussões atuais sobre Letramento, a função social dos gêneros textuais e os tipos de texto, conforme as orientações das Diretrizes e Bases e a constante transformação social e as teorias pós-modernas presentes nas representações discursivas que englobam as discussões sobre o Multiculturalismo existentes nas representações linguísticas e no hibridismo cultural transpostos também na organização dos discursos. Há de se contemplar nessa proposta, também, a sociolinguística e as suas considerações sobre as variações linguísticas atreladas ao contexto, ao regionalismo, à internet, aos modismos, estrangeirismos, gírias e que acabam reestruturando a fala e reorganizam as práticas discursivas, sociais e escolares. 2.4 O sistema de escrita Um sistema de escrita é uma forma estruturada que representa os sons da língua, no sistema de escrita denominado alfabético ou alfabético-ortográfico, em que cada letra corresponde a um som. Nos três primeiros anos da Educação fundamental tem-se uma base linguística importante no percurso dos alunos 27 durante o processo de escolarização. Isso significa que o currículo e os conteúdos escolhidos na orientação do planejamento dos docentes são importantes como abordagem na ênfase do trabalho pedagógico. Com base nele, fica mais fluido organizar e introduzir conteúdos contextualizados aos alunos com base no conhecimento e reconhecimento de situações que dialoguem com as experiências deles e retomar sempre que possível os conceitos já dominados pelos estudantes, a fim de ampliar outros e consolidar os processos de aprendizagem iniciados. Para tanto, se faz necessária a clareza para diagnosticar conhecimentos e inconsistências, para serem retomados na superação dos analfabetismos, compreendidos como a não aquisição do sistema do código escrito, seja parcialmente e que poderá prejudicá-lo socialmente na produção de diferentes textos escritos ou falados em contextos e esferas sociais. Ví deo Assista ao vídeo A Origem da Linguagem, disponível em https:// www.youtube.com/watch?v=STPiJ1ntN-I, a fim de refletir a respeito das práticas de oralidade e escrita. As habilidades são dispostas em torno de eixos mais relevantes para a apropriação da língua escrita: Compreensão e reflexão sobre a cultura escrita; Apropriação do sistema de escrita; Leitura; Produção de textos escritos; Desenvolvimento da oralidade. A consolidação de tais eixos é realizada ao longo de um processo contínuo e não-excludente, em direção ao respeito das histórias e experiências dos estudantes em relação às aprendizagens da escola. http://www.youtube.com/watch?v=STPiJ1ntN-I 28 Resumo da aula 2 Chamamos a atenção para a aprendizagem do texto e da escrita de maneira significativa, como uma prática social, na qual as condições de produção podem ser observadas. Os aspectos da textualidade são responsáveis pelo sentido do texto e ultrapassam os aspectos lógicos, semânticos e cognitivos quando os interlocutores estão em interação. Assim, o discurso é dito coerente quando em processo de comunicação na produção textual, em uma configuração compreensível por quem lê e pelo conhecimento de mundo próprio da interação. O texto acaba existindo na interação pela construção conceitual de quem o produz e de quem o lê, quando se acionam os recursos pragmáticos para a sua compreensão. Nessa interação, como assinala Costa Val (2003), nem todos os elementos estão configurados de forma explícita por quem acessa a informação; existem elementos como a inferência e a pressuposição que são partes integrantes para a interação necessária para a compreensão de um texto. O saber da escola vai para além da sala de aula; ele ocorre também aos pares em como aprendem na hora das brincadeiras, no recreio, nas experiências fora da escola, com a comunidade e com os familiares. Os diferentes contextos sociais dialogam com a aprendizagem da língua escrita, seja como exemplo de abordagem didática com apresentação e observação contínuas e na exploração de textos em diferentes semioses e suportes. Atividade de Aprendizagem Elabore uma reflexão sobre a importância da alfabetização e do letramento no atual panorama educacional brasileiro. 29 Aula 3 – O SEA: métodos verbais, intuitivos, ativos Apresentação da aula 3 Os métodos ativos de aprendizagem dizem respeito a critérios piagetianos em relação à execução das atividades. Entretanto, não se trata de envolver o aluno em tarefas ou procedimentos técnicos como processo do desenvolvimento mental. A obra de Piaget que referencia o método ativo e o desenvolvimento de indicativos é a Psicologia e Pedagogia, que ganhou destaque logo após a sua publicaçãono Brasil (1970), com ênfase para os anos de 1980. Tais métodos exigem do docente uma sólida formação teórica, psicológica e pedagógica. A construção ativa de conhecimentos pressupõe essa relação com os professores, fundamentada em conteúdos a serem ensinados. Raths (1977) propõe dois significados diferentes para as atividades baseadas nessa metodologia: “a experiência, compreendida como participação ativa, e a relacionada aos aspectos mecânicos e automatizados da vida escolar como as tarefas (p. 359)”. Nesse sentido, a ação prescinde da experiência e a aprendizagem é relacional e contextual; isso significa dizer que existem aspectos emocionais, sociais, culturais, bem como diferentes gradações de autoconfiança, e outros fatores que influenciam tais experiências. O educador disposto a utilizar os métodos ativos de ensino estará atento ao desenvolvimento mental dos alunos com a finalidade de integrar o agir e o pensar do aluno. Piaget (1970), ao definir a metodologia ativa, chama a atenção para as atividades de ensino programado, que servem como auxiliares e de apoio, mas que não estimulam a reflexão, as abstrações como essenciais para a aprendizagem. Dito isso, considera-se que o desenvolvimento dos métodos ativos de ensino está centrado na postura do docente na interação com os alunos em ações integradoras. Converse Com Seus Colegas Para você, como se daria uma postura docente centrada na interação com os alunos e em ações integradoras? 30 Raths, ao comentar as aptidões necessárias para um professor ensinar a pensar, afirma: "Quando os professores valorizam processos de pensamento, quando são equilibrados, ponderados, pacientes, estimulantes, cuidadosos, quando dão muitas oportunidades, [...] as classes se tomam locais onde se pensa" (1977, p. 329). O pensamento original e criativo é oposto a sistemas tradicionais que impõem o automatismo na aprendizagem como expressão única. Dessa forma, o ensino faz parte de um processo ativo dos alunos, e não de um processo passivo. O aluno possui autonomia e emancipação para refletir, organizar e escolher um determinado repertório para informar-se por meio da mediação dos professores. O foco da análise psicológica da alfabetização volta- se para o quadro da Psicologia Genética de Piaget. Apesar de o autor não ter realizado pesquisas e reflexões sobre a aprendizagem da leitura e da escrita, os pesquisadores destacam os processos de conhecimento evidenciados. Uma das teorias importantes com esta perspectiva é a de Emília Ferreiro (1986), sobre os estágios de conceitualização da escrita pelas crianças. Nesses estudos, de maneira especifica, a natureza simbólica da escrita se relaciona com a compreensão da natureza simbólica pela criança. Tais estudos consideram a maturidade linguística da criança para a escrita e a leitura e as relações dessas com a memória e a quantidade de informações apreendidas, aproximando-se dos estudos psicolinguísticos, mas no Brasil são poucas as pesquisas nessa área específica. 3. A construção da representação da escrita e da linguagem Emília Ferreiro e Ana Teberoski (1986), com base nas teorias de Piaget, organizam os níveis sucessivos de conhecimento, considerando a passagem de um modo para outro dentro de uma perspectiva teórica conceitual. Assim, com base nas tentativas de escrita das crianças na aprendizagem, elas podem representar o sistema de escrita inicialmente com símbolos, desenhos, números, com o ideal de representar as coisas por meio de palavras. Esses sentidos de representação icônicos são tentativas de simbolizar as partes constitutivas da escrita por meio das palavras; com isso, as crianças consideram os textos escritos segundo diferentes perspectivas. Elas também podem 31 procurar responder a questões da escrita por meio de hipóteses. Com essas observações, as pesquisadoras refletiram sobre as combinações e hipóteses silábicas organizadas por elas; foram escolhidas algumas dessas representações para ilustrar a organização do sistema de escrita observada por meio das pesquisas: Pré-silábico Fonte: <http://danielajanssen.com.br/hipotese-da-escrita-nivel-pre-silabico/>, 2018. Emília Ferreiro (2017) concebe o sistema de escrita como um processo de socialização contextualizado para a criança e que, na relação com o desenvolvimento da alfabetização, as informações não são recebidas de maneira passiva. As crianças transformam o sistema do conteúdo recebido quando registram por meio da escrita e assimilam por meio das hipóteses e relações conflitantes para interpretar o texto. As hipóteses interpretativas com base em como as crianças buscam interpretar e ressignificar o mundo letrado são contextuais e com base nas relações sociais. No exemplo acima, existem períodos de conflitos, nos quais a criança começa a identificar letras e números, com a tentativa de representar sílabas e usando critérios de seleção e interpretação. Ela ainda não estabelece um vínculo entre a fala e a escrita, apesar de escrever utilizando como recurso letras e números conhecidos, apresentando uma leitura global, individual e instável do que escreve. Observe que, na tentativa da escrita de formiga, a criança escolhe 32 menos letras; supondo que a formiga é pequena, assim também deve ser representada graficamente; com menos letras. Silábica sem valor sonoro Fonte: http://danielajanssen.com.br/hipotese-da-escrita-nivel-pre-silabico Na hipótese elaborada pela criança na tentativa de representar pessoas e animais, as suposições de escrita utilizam as sílabas, na compreensão de uma relação entre a pronúncia e a escrita, mas sem os vínculos com números ou desenhos, por vezes busca quantificar com uma variedade de caracteres a escrita com a sonorização percebida da palavra. Entretanto, as letras (grafemas) não têm relação com o som (fonema). Silábico com valor sonoro Fonte: http://danielajanssen.com.br/hipotese-da-escrita-nivel-silabico http://danielajanssen.com.br/hipotese-da-escrita-nivel-silabico 33 Silábico alfabético Fonte: <http://danielajanssen.com.br/hipotese-da-escrita-nivel-silabico A aquisição dos sistemas de escrita formulou diferentes reconsiderações relacionadas ao processo de leitura e das atividades do leitor; assim, a antecipação da leitura e dos significados possíveis, como a interpretação e a produção de textos realizados no ambiente escolar são importantes. Desse modo, no sistema silábico alfabético, se reconhece o som das letras, atribui-se o valor dos fonemas em algumas letras e compreende-se a escrita como representação. Os dados apresentados pelas pesquisadoras evidenciam uma pluralidade na representação, que correspondem à grafia das crianças e às hipóteses delas em relação à escrita. O construtivismo ligado à teoria psicológica na compreensão de percursos em relação a como a criança compreende a escrita foi apresentado então por Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1986). Aqui, o pensamento não se constituía em pensar métodos, mas em refletir acerca dos processos de aprendizagem na reconstrução do sistema alfabético. 3.1 Método intuitivo O método intuitivo vincula-se ao declínio do ensino escolástico. No final do século XVIII, alguns teóricos preconizaram os métodos, entre eles Locke, Condilac, Rousseau, Froebel, e outros estudiosos de diferentes países. Tal ensino influencia a escola moderna trazendo duas características: uma forma de aprender alegremente, com brincadeiras, nas quais as crianças poderiam se divertir e o caráter de um ensino prático. A crítica recai ao ensino por meio de 34 livros, já criticado por Montaigne, Rabelais com o ideal de Rousseau de que a educação se faz pelos sentidos. As conferências proferidas por Buisson (1897) foram bem importantes e indicavam inclusive uma mudança na postura do professor, quenão se limitaria apenas às habilidades de leitura, escrita, cálculos, mas de uma sensibilidade ligada à inteligência e ao coração. Dessa forma, a integração dos conteúdos, desde o canto até a aprendizagem da geografia, por exemplo, teria como resposta a aprendizagem de maneira fluida. O ideal de educação, assim, nesse método indica uma aprendizagem de forma agradável, considerando os conteúdos a serem estudados com o anseio de uma aprendizagem sem esforço, ligada à percepção dos alunos em relação aos objetos, por meio de uma agudez inteligente. Tal método demonstra-se importante ao considerar a sua influência na educação de 2 a 6 anos. No século XIX, Marie Pape-Carpantier foi importante para a criação de matérias didáticos, orientação de mobílias para as escolas e na proposta pedagógica de asilos, creches e jardins de infância. O sentido prático-experimental prenuncia a escola ativa. Segundo ela, as crianças eram retratadas como: Trabalhador ainda verde, um futuro aprendiz de uma profissão ainda desconhecida, mas que reclama atitudes, habilidades. Estas atitudes deverão ser adquiridas na infância, pois é neste período que os órgãos se formam. [...] A exatidão e o alcance da vista, a delicadeza e a firmeza da mão, a fineza e a correta audição, dão ao trabalhador uma rapidez e uma perfeição à atividade que lhe assegura um futuro. (PAPE-CARPANTIER, 1878, p. 545). Pape-Carpantier como pesquisadora e estudiosa do método natural indicava os tempos das crianças, apesar de a educação na sua época ainda ter um caráter assistencialista. Quando pensada de maneira popular, ela já indicava a necessidade de se modificar o termo asilo, para escolas maternais, com a ideia de partir primeiro da intuição, do conhecimento do aluno para depois a definir. As suas obras indicavam a leitura, a moral e a aprendizagem como instruções necessárias às inspetoras. Tais concepções dentro de contextos específicos político-sociais são fontes históricas importantes, pois a leitura e a escrita sempre foram preocupações junto à maneira de se aprender e em como as crianças aprendem. Para além disso, a democratização da escola, por meio da Constituição Federal 35 de 1988 e os aportes legais como as Diretrizes Curriculares Nacionais, indica que nas etapas da Educação Infantil (EI), compreendidas na creche de 0 até 3 anos e na pré-escola de 4 a 5, variando o corte etário de município para município, não é uma fase de ensino de aprendizagem de leitura e escrita, porém, as crianças participam de eventos de letramento em ambientes não- escolares contextualizados, como a leitura de uma receita para a feitura de um bolo. A alfabetização como um processo metodológico e sistemático vai ocorrer nos anos iniciais, geralmente em ambiente escolar, em um momento no qual os estudantes começam a sistematizar suas hipóteses e tentativas de escrita. As análises até aqui expostas apresentaram as bases linguísticas e da psicolinguística. Saiba Mais Marie Pape-Carpantier (1815 – 1878) foi uma pedagoga francesa. Em sua obra, notabilizou-se por combater a pobreza e a injustiça social, lutando pela educação das meninas e militando pela causa das mulheres. Pioneira na educação pré- primária na França, escreveu artigos importantes no semanário L'Economiste Francais. Pesquise Para refletir mais sobre os processos de alfabetização, leia o texto: Letramento: um Conceito em (Des)construção e suas Implicações/Repercussões na Ação Docente em Língua Materna, de Mary Elizabeth Cerutti-Rizzatti, disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/forum/article/view/1984- 8412.2009v6n2p1/12614 3.2 Alfabetização e os contextos atuais Atualmente, a resposta de que ensinar a alfabetizar é simplesmente ensinar a decodificar letras e sons tornou-se reduzida para definirmos a 36 concepção de alfabetização. Pode-se pensar no uso da escrita em diferentes contextos sociais, entretanto, tais conceitos foram ampliados em uma análise de interferências dos movimentos sociais e pesquisas que influenciaram muito a perspectiva de alfabetizar e letrar. Consideram-se importantes as pesquisas de Emília Ferreiro e de Ana Teberosky para ampliar a ideia de que a escrita é reconhecida apenas na escola e possui funções sociais das quais as crianças participam antes de estar no ambiente escolar. As funções no campo da linguagem são processos complexos e abrangem o espaçamento e a direção da escrita, o reconhecimento do alfabeto, as combinações possíveis de letras, os segmentos das palavras e a escrita alfabética. As diferentes discussões sobre a linguagem escrita também nos ajudaram a perceber que mesmo a aprendizagem da decifração ou decodificação só tem sentido se utilizada para cumprir diferentes funções sociais e quando é vivenciada em contexto de uso, ou seja, em eventos de letramento. Além disso, a escrita se realiza na forma de textos, pertencentes a diversos gêneros, e é inscrita em diferentes suportes, como livros, cadernos, cartazes, murais, etc. Enfim, a alfabetização não ocorre descolada do uso real da escrita, mas no âmbito da cultura escrita. Com tudo isso, sabe-se que um tipo de conteúdo da alfabetização continua estável: trata-se de ensinar as relações entre letras e unidades da cadeia sonora da fala. Mas sabemos também que, ao planejar atividades de alfabetização, devemos incluir no planejamento atividades situadas em diferentes contextos de uso da escrita, em contextos de letramento diversificados, pois eles estão presentes antes, durante e depois da alfabetização. No momento atual, várias condutas metodológicas chamadas de “tradicionais”, principalmente aquelas ligadas somente à aplicação de métodos rígidos, têm sido questionadas por vários motivos: por não atenderem aos processos de construção de conhecimento dos aprendizes, por não contemplarem os diferentes usos da escrita, por tornarem artificiais e enfadonhas as atividades de ensino e, além disso, por pretenderem um controle modos de fazer de professores Métodos e didáticas de alfabetização: história, características excessivo do processo, como se a escola fosse a única instituição a apresentar a escrita para as crianças. No entanto, a compreensão dos processos de pensamento do aluno e a busca de situações de ensino que ocorram em contextos de uso social da escrita não podem eliminar a meta fundamental das ações de alfabetização: fazer os alunos alcançarem as capacidades necessárias para dominar os aspectos técnicos da escrita, que envolvem tanto a dimensão convencional (alinhamento, direcionalidade, espaçamento entre palavras) quanto o cerne do sistema, que são as relações entre fonemas e grafemas (cap_3_isabel_prof.qxd 18/8/2005, p. 46 47). Ao considerar tais questões e pensar em métodos foi preciso encontrar aspectos didáticos para tratar da alfabetização em diferentes etapas, 37 considerando as funções sociais da escrita em diferentes gêneros discursivos e suportes e que devem considerar os contextos dos alunos e professores, respeitando as habilidades que envolvem a complexidade de tais processos. Resumo da aula 3 A compreensão das diferenças entre escrita e outras formas gráficas com outros sistemas de representações são conhecimentos básicos para a compreensão da natureza escrita. Esse pode ser trabalhado sistematicamente e consolidado desde o período inicial de alfabetização. Tal conhecimento pode ser organizado com base na exploração de leituras de projetos de pesquisa em diferentes estruturas, nas quais o texto escrito e o desenho sejam representações distintas para serem abordados e proporem aos alunos possíveis hipóteses sobre a presença de símbolos, letras e números em contextos que sejam significativos em relação à experiência dos estudantes. A busca da qualidade em alfabetização nos leva a percorrer alguns caminhos históricos ligados aos métodos ativos,indutivos que marcaram a concepção de alfabetização com viés psicológico. A questão pertinente de reflexão considera como a alfabetização foi sendo, por vezes, questionada para se pensar em métodos reflexivos na aprendizagem da escrita. Desse mergulho histórico pode-se concluir que, além de ampliarmos as possibilidades do termo alfabetização, precisamos considerar os contextos e eventos de letramento dos quais ela participa. Importante Consideramos desde a primeira aula a importância da integração entre os saberes contextualizados dos estudantes, a formação dos professores, os contextos sociais, culturais e políticos das comunidades e a pluralidade na aprendizagem ao considerar os estudantes e a aprendizagem escrita inicial da escrita. Nesse percurso, considerou-se como importante refletir sobre as questões da Língua Portuguesa e escolarização das camadas populares, pois, para se pensar em práticas discursivas, além de se olhar para a história da 38 alfabetização e para os marcos como a psicogênese da linguagem, há que se olhar para a cultura linguística das camadas populares. Nesse sentido, por vezes, a escola acaba por privilegiar em seus currículos os saberes dominantes. Observa-se, assim, a necessidade de considerar a perspectiva política que fundamenta e orienta o currículo em sala de aula e dos quais incidem avaliações nacionais como fontes de análise e reflexão que controlam conteúdos, currículos e formação dos profissionais. Com isso, refletir sobre a SEA também é pensar em como se ensinava a Língua Portuguesa na escola e as tradições e teorias do século XVIII e o avanço das políticas em 1960 pela popularização da educação. Esse foi um avanço que propiciou, em meados de 1980, a quebra de paradigmas metodológicos sobre a aprendizagem da escrita (disfunções de aprendizagem, hierarquização inadequada, treinamento, memorização, erros construtivos para a reconstrução de conhecimentos da língua escrita). O estudante passa a ser sujeito social e político, apresentando autonomia e condições interativas dialógicas fundamentais para a interação com a língua e com a sua materialidade em diferentes gêneros discursivos na sociedade. Atividade de Aprendizagem Discorra a respeito da importância do trabalho de diferentes gêneros discursivos em sala de aula para a formação do aluno. Aula 4 – Estratégias didático-metodológicas para a apropriação do SEA Apresentação da aula 4 Nesta aula serão contempladas as teorias linguísticas, tomando como base os estudos realizados anteriormente e a produção da coleção dos cadernos do Centro de Estudos e Alfabetização e Letramento da UFMG. As políticas de alfabetização e a discussão dos métodos serviram, até aqui, para na compreensão das práticas situar esse locus do método como um conjunto em transformação na área de alfabetização. O método de alfabetização deu lugar 39 aos conceitos nas últimas duas décadas do século XX, o que gerou uma série de questionamentos para se pensar em uma cultura escrita na sociedade e considerar também as teorias linguísticas: A prática de alfabetização é composta de modos de fazer assumidos por quem alfabetiza e também pelas teorias que vão se consolidando a cada época e, seja com o nome de técnicas, de métodos, de metodologia ou de didáticas de alfabetização, o fato é que os professores sempre precisaram/precisam conhecer e criar caminhos e realizar da melhor forma o seu trabalho. Assim, como todo o desenvolvimento das ciências da linguagem e de teorias sobre como as pessoas aprendem, uma questão concreta que sempre aparece é a seguinte: transformar essas teorias em formas de ensinar que melhor favoreçam o desempenho dos alunos? (FRADE, 2005, p. 44). Esse diálogo entre as práticas anteriores e as atuais são avanços a considerar que os processos de alfabetização são plurais e contextuais e, por mais que se tenha um panorama específico, também se apresentam os desafios e as lacunas de cada época ao tratar a alfabetização. A busca de métodos para se pensar a escrita e a leitura foi anterior à escola, desde ambientes formais, espaços domésticos e outros espaços privados e posteriormente nos sistemas públicos de ensino. Os diálogos foram sendo ampliados na medida em que áreas como a linguística, a psicolinguística, a pedagogia e a sociolinguística questionaram como eram avaliadas as dificuldades e a complexidades do conteúdo. Assim, a codificação da leitura e da escrita não são suficientes para explicar as especificidades da alfabetização no uso da escrita em situações sociais, estabelecendo relações entre os sons e as letras. Nesse sentido, a sociedade apresenta a escrita antes mesmo da escolarização; as estratégias específicas da linguagem escrita estão postas nas leis, nos currículos e nos livros didáticos. Há que se duvidar dos modelos de sucesso no ensino da escrita – as experiências são por vezes contextuais e se atrelam às estratégias escolhidas segundo o potencial das experiências com as turmas e grupos singulares. As teorias, por vezes, em sua fase de experimentação são diversificadas, já que os professores também sinalizam formas singulares de recepção e uso das diferentes estratégias e métodos de ensino. Por que a questão de métodos no momento atual tem sido pouco tratada, tanto na formação quanto na produção dirigida aos professores? Um primeiro mal-entendido é a afirmação de que a adesão a métodos prescinde de fundamentos teóricos. Quando 40 estudamos aspectos históricos relativos aos métodos, encontramos uma série de argumentos teóricos que explicam o conteúdo, as formas de aprendizagem e, consequentemente, as formas de ensino, em contraposição a um método anterior. Em cada momento histórico, com as respectivas teorias existentes sobre a aprendizagem, sobre o ensino e sobre a linguagem, é possível verificar vários princípios, como se verá no decorrer deste Caderno. Um segundo equívoco é o de estabelecer ligações estreitas entre três elementos: métodos de alfabetização, livro didático e controle das aprendizagens. Nem sempre houve uma ligação direta entre princípios metodológicos e livros que controlam, de fora das condições de cada classe, os processos de aprendizagem e de ensino. A divulgação dos métodos globais em alguns países é um bom exemplo. Na França, inicialmente, pregava- se a ideia de que o professor deveria construir junto com seus alunos o livro da classe. Segundo Maciel (2000), ao relatar movimentos históricos em torno da defesa dos métodos globais, o princípio básico que faz com que o método global se desenvolva está na sua ligação com o desenvolvimento geral da linguagem: primeiro se sugeria que os alunos formulassem frases de seu cotidiano que só depois seriam escritas, lidas e memorizadas. Assim, a formação de textos passaria pela experiência situada de cada grupo ou turma. Um outro equívoco é pensar que os processos de aprendizagem dos sujeitos dependem apenas dos métodos/metodologias e didáticas que desenvolvemos. A autora Emília Ferreiro (1985), pesquisadora dos processos de aprendizagem inicial da linguagem escrita, afirma que a criança tenta compreender o sistema de escrita se apropriando desse conteúdo a sua maneira e com sua lógica, e não com a lógica e a sequência dos métodos. Por isso ela critica a visão, implícita nos métodos, de que as crianças aprendem uma atividade mecânica. Citamos suas observações sobre essa questão: “o método (enquanto ação específica do meio) pode ajudar ou frear, facilitar ou dificultar, porém não pode criar aprendizagem. A obtenção do conhecimento é o resultado da própria atividade do sujeito.” (p.29) Polêmicas em torno dos métodos, metodologias e didáticas da alfabetização Reforçamos também que, quanto mais adequadas são as intervenções do professor, maiores serão as reações positivas dos sujeitos, que também aprendem juntos na escola, comcolegas e com o direcionamento adequado de sua aprendizagem pelo professor. O risco que se corre num período de maiores modificações conceituais, como diria Berta Braslavsky (1988), é o de uma negação de que há caminhos a seguir na intervenção em sala de aula. Para essa autora, a principal consequência negativa de alguns movimentos nesse sentido é uma defesa da não-intervenção na alfabetização, que leva, ao extremo, a uma ideia de que a alfabetização deve ser desescolarizada. Isso tem implicações sérias para países em que a escola ainda é a principal via de acesso para a aprendizagem da escrita. (FRADE, 2005, p. 17,18). Assim, a referência à escolha de métodos de alfabetização e de técnicas específicas no trabalho pedagógico pode ser uma resposta com lacunas, expressas na formação de professores conforme o uso do método tradicional – que nem sempre é suficiente para a alfabetização dos estudantes em sala de aula. O acesso à escrita escolarizada na escolha de materiais, textos e leituras com a ideia da linguagem como extrato social ganhou uma diversidade maior e foi amplificado por meio da cultura social da concepção das crianças, e os 41 professores, por vezes, se apropriam das experiências de sucesso de sua trajetória e mesclam-na com diferentes métodos para práticas de sucesso. Dessa forma, pensar as metodologias e/ ou didáticas da alfabetização é organizar um conjunto amplo com decisões metodológicas sobre diferentes procedimentos e processos que abrangem a compreensão do sistema alfabético; ortográfico; a linguagem escrita e as práticas discursivas em contextos culturais e sociais. A partir desse repertório, o professor necessita organizar a sala de aula, o ambiente, pesquisas e uma série de procedimentos e estratégias para o desenvolvimento da escrita dos estudantes por meio das escolhas realizadas. Neste material, foi situado que o modo de ensinar baseado em métodos ou em didática não deve ser concebido como uma escolha rígida, ou com ausência de teorias ou ainda baseado em materiais didáticos; mas pode englobar diferentes procedimentos que implicam possibilidades plurais de ação que não significam domínio de métodos, tradicionais ou não, mas envolvem o conhecimento teórico necessário na organização de tempos e espaços para escolher materiais, conhecer os contextos diversos da comunidade escolar, dos alunos e avaliar os trabalhos a serem organizados em sala de aula. 4. Métodos sintéticos e métodos analíticos Os métodos no Brasil foram organizados por meio de princípios distintos: os métodos sintéticos e os métodos analíticos. No primeiro, a tendência era o método alfabético, tendo a letra como unidade; o método fônico, tendo como unidade o fonema; o método silábico, tendo a sílaba como pronunciável. Nesse método, havia um distanciamento quanto aos usos sociais da escrita. O método analítico, por sua vez, deseja romper com os princípios de sentenciação, buscando respeitar a criança e sua percepção da língua e da escrita; com base em uma visão global, possibilita-se aos estudantes poderiam organizar as unidades menores. 42 Vocabula rio Metódos de sentenciação referem-se às análises que partem de unidades de significado. Nesse sentido, a ênfase pedagógica recai na palavra ou na frase, e não no texto. A partir do século XIX, quando a escola começa a ser organizada considerando conteúdos simultâneos, organizados em séries, a produção de material didático era uma tentativa de organizar e padronizar os procedimentos: Fonte: (http://metodofonico.com.br/files/sites/1105/2015/12/metodos-de-alfabetizacao- metodo-fonico-2.png) No método fônico há uma relação entre a correspondência de fonema e a sua representação escrita, entretanto, há variações dialetais próprias da pluralidade sociolinguística no Brasil e que podem dificultar a decodificação e codificação dos estudantes; além de sons semelhantes como o s e o z (casa, poesia, usual), na qual a relação direta da fala e da escrita não se aplica. Por isso, foram criando-se variações do método fônico, como, por exemplo, a associação da letra a uma imagem, ou de uma história a de uma letra; No método silábico, a análise é a sílaba. Para o estudante, a vantagem é que, quando falamos, nós enunciamos sílabas, http://metodofonico.com.br/files/sites/1105/2015/12/metodos-de-alfabetizacao-metodo-fonico-2.png http://metodofonico.com.br/files/sites/1105/2015/12/metodos-de-alfabetizacao-metodo-fonico-2.png 43 entretanto, por vezes, os textos são deslocados de significação contextual e social das experiências dos alunos. Um exemplo de variação do método são as baseadas no método de Paulo Freire, o qual utiliza procedimentos analíticos e sintéticos, dando uma ideia eclética e que rompe com a decodificação para pensar em textos que considerem as relações sociais e ideológicas; O método de palavração e de sentenciação apresentavam a palavra, que era decomposta em sílabas. Nele, a proposta é que as imagens associadas às palavras deveriam ser apresentadas aos alunos considerando o interesse deles. Geralmente, são usados os cartões de fixação com a palavra de um lado e gravuras do outro além de exercícios motores para a escrita; Os métodos globais de contos e de historietas iniciaram a partir o século XX, nos quais eram produzidos, tendo como base o reconhecimento e a memorização no reconhecimento das sentenças. A linguagem era apresentada de maneira mais efetiva e os textos eram a base para tal; O método natural e o método de imersão consideram uma produção espontânea com base no repertório das crianças, ele tem relação com o método global. A ideia é de que a leitura é uma consequência da escrita, o trabalho de alfabetização chamado de imersão possui princípios semelhantes em situações de escrita e leitura de texto. Os métodos se fazem presentes e buscam diferentes estratégias que impactam o processo de ensino e aprendizagem. Ao longo do tempo, foram modificados, mesclados e servem para refletirmos sobre a alfabetização. 44 Fonte: Christianne Visvanathan Pode-se concluir que todos os métodos que incentivaram a reflexão e a proposição para desenvolver as competências de leitura e escrita propuseram didáticas que, por sua vez, obedeceram a formas para buscar responder à valorização da leitura e da escrita na sociedade. Por vezes, só a decodificação não foi suficiente para garantir o desenvolvimento proficiente de leitores na sociedade, mas elas são dimensões que estruturam o campo da alfabetização. Importante É preciso reconhecer que esta modalidade de fracasso escolar aqui caracterizada como anterior continua presente e ainda não superada; o adjetivo anterior é usado, aqui, apenas para diferenciá-la de uma nova modalidade que se vem revelando nas últimas décadas. Resumo da aula 4 Nesta aula propôs-se a reflexão de que a escolha de um método não é suficiente para que uma turma apresente resultados de aprendizagem condizentes com a proposta pedagógica. O equilíbrio é uma fonte importante na busca de atividades que promovam uma aproximação dos estudantes aos usos 45 da escrita em diferentes contextos sociais e com o uso de diferentes gêneros. Para tanto, é importante o professor considerar com os estudantes a sistematização do conhecimento de alfabetização e identificar lacunas, progressos e desafios para uma possível intervenção. As perguntas norteadoras da ação didática engendrada por meio de escolhas e na definição teórica e usos de métodos são dadas pelos alunos, quando avançam nas competências leitoras ou são prejudicados. Assim, o questionamento deve ser contextualizado por meio da prática e da experiência em perspectivas escolhidas de maneira não apenas individual, mas também coletiva – junto à escola, aos colegas e com os alunos. Desse modo, as
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