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Tráfico Internacional de Pessoas e questões de Direitos Humanos Mestre em Ciências das Religiões. Especialista em Direito Penal. Bacharel em Direito. Delegado de Polícia Federal. Professor de Direito Penal, Processo Penal e Legislação Penal Especial em cursos de Graduação, Pós- Graduação e preparatórios para concursos públicos e exames da OAB. Escritor. Palestrante.Cristiano Jomar Costa Campidelli DIREITOS DO HOMEM, DIREITOS HUMANOS E DIREITOS FUNDAMENTAIS Embora muitas vezes sejam usadas como sinônimas, a doutrina distingue as expressões direitos do homem, direitos humanos e direitos fundamentais. Os direitos do homem são valores ético- políticos, ligados à dignidade da pessoa humana e à limitação de poder, ainda não positivados. (MARMELSTEIN, George) Direitos humanos e direitos fundamentais são a positivação dos direitos do homem, compreendendo, pois, os valores positivados com o objetivo de proteger e promover a dignidade da pessoa humana, açambarcando direitos relacionados à liberdade e à igualdade, contudo, estabelecidos em planos distintos: os direitos humanos no âmbito internacional; e os direitos fundamentais no âmbito constitucional, interno. (NOVELINO, Marcelo) As expressões “direitos do homem” e “direitos fundamentais” são frequentemente utilizadas como sinônimas. Segundo a sua origem e significado poderíamos distingui-las da seguinte maneira: direitos do homem são direitos válidos para todos os povos e em todos os tempos (dimensão jusnaturalista-universalista); direitos fundamentais são os direitos do homem, jurídico-institucionalmente garantidos e limitados espacio-temporalmente. Os direitos do homem arrancariam da própria natureza humana e daí o seu caráter inviolável, intemporal e universal; os direitos fundamentais seriam os direitos objectivamente vigentes numa ordem jurídica concreta. (CANOTILHO, José Joaquim Gomes) Habermas defende a tese de que, desde o início do desenvolvimento, há uma conexão conceitual entre direitos humanos e dignidade da pessoa humana, na medida em que os direitos humanos sempre foram o produto de resistência ao despotismo, à opressão e à humilhação. (HABERMAS, Jürgen) A função precípua dos direitos fundamentais “é a defesa da pessoa humana e da sua dignidade perante os poderes do Estado”, cumprindo a função de “direitos de defesa dos cidadãos sob uma dupla perspectiva”: Em um plano jurídico-objetivo, os direitos fundamentais constituem normas que limitam a atuação do Estado, proibindo a sua ingerência na esfera jurídica individual; Em um plano jurídico-subjetivo, concedem ao indivíduo o poder de exercer os seus direitos fundamentais e de exigir dos poderes públicos que se abstenham de realizar agressões lesivas a esses direitos. (CANOTILHO, José Joaquim Gomes) Outra função importante dos direitos fundamentais é a função de proteção perante terceiros, por meio da qual é imposto ao Estado o dever de proteger os titulares de direitos fundamentais perante terceiros, resultando da garantia constitucional de um direito o dever do Estado adotar medidas positivas destinadas a proteger o exercício dos direitos fundamentais perante atividades perturbadoras ou lesivas dos mesmos praticadas por terceiros. (CANOTILHO, José Joaquim Gomes) PASSADO “O tráfico de pessoas não é um mal criado pela sociedade contemporânea, pelo contrário. A história da humanidade nos mostra que, já na antiguidade, principalmente nas sociedades grega e, posteriormente, romana, a compra e venda de pessoas era prática comum, principalmente para efeitos de exploração de sua força laboral, ou seja, havia desde aquela época, o comércio de escravos, que eram tratados como meros objetos.” (GRECO, Rogério). PRESENTE No mundo moderno, globalizado, com “cidadãos do mundo”, exsurgem vulnerabilidades daqueles que, além-fronteiras, buscam realizar sonhos, principalmente o da estabilidade econômica. São essas pessoas as mais propensas a serem vítimas das redes criminosas que captam e aliciam aqueles que serão explorados contra a sua vontade. ABORDAGEM INTERNACIONAL DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS DESENVOLVIMENTO “À preocupação inicial com o tráfico de negros da África, para exploração laboral, agregou- se a do tráfico de mulheres brancas, para prostituição. Em 1904, é firmado em Paris o Acordo para a Repressão do Tráfico de Mulheres Brancas, no ano seguinte convolado em Convenção. Durante as três décadas seguintes foram assinados: a Convenção Internacional para a Repressão do Tráfico de Mulheres Brancas (Paris, 1910), a Convenção Internacional para a Repressão do Tráfico de Mulheres e Crianças (Genebra, 1921), a Convenção Internacional para a Repressão do Tráfico de Mulheres Maiores (Genebra, 1933), o Protocolo de Emenda à Convenção Internacional para a Repressão do Tráfico de Mulheres e Crianças e a Convenção Internacional para a Repressão do Tráfico de Mulheres Maiores (1947), e, por último, a Convenção e Protocolo Final para a Repressão do Tráfico de Pessoas e do Lenocínio (Lake Success, 1949).” (CASTILHO, Ela Wiecko V. de apud GRECO, Rogério) Em 2012, a OIT estimou 21 milhões de vítimas de exploração sexual ou trabalho forçado; Terceira maior atividade ilegal, atrás de tráfico de drogas e armas. Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Mais conhecida como Convenção de Palermo/Itália (art. 36, 1); Nova York, 15/11/2000; Decreto nº 5.015, de 12 de março de 2004 - Promulga a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional; Decreto nº 5.016, de 12 de março de 2004 - Promulga o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, relativo ao Combate ao Tráfico de Migrantes por Via Terrestre, Marítima e Aérea; Decreto nº 5.017, de 12 de março de 2004 - Promulga o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças. Decreto nº 5.015, de 12 de março de 2004 Promulga a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Compromisso com a adoção de medidas para prevenir e reprimir o crime organizado: Criminalizou a organização criminosa; Adoção de medidas mais efetivas contra: Lavagem de dinheiro; Corrupção; Obstrução da Justiça; Responsabilização das pessoas jurídicas. Lei 9.613/98, com as alterações da Lei 12.683/2012 Lei 12.846/2013: Responsabilização objetiva administrativa e civil da PJ por atos contra a adm. pública (acordo de leniência) Lei nº 12.850/2013 Art. 1º, § 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional. § 2º Esta Lei se aplica também: I - às infrações penais previstas em tratado ou convenção internacional quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; (...) Art. 2º Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas. § 1º Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal que envolva organização criminosa. Decreto nº 5.016, de 12 de março de 2004 Promulga o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, relativo ao Combate ao Tráfico de Migrantes por Via Terrestre, Marítima e Aérea Preâmbulo: Necessidade de tratar os migrantes com humanidade e de proteger seus direitos; Aumento significativo das atividades dos grupos criminosos organizados relacionadas ao tráfico ilícito de migrantes e crimesconexos, que causam grandes prejuízos aos Estados; O tráfico ilícito de migrantes põe em risco as vidas e a segurança dos migrantes. Objetivos: Prevenir e combater o tráfico de migrantes, bem como promover a cooperação entre os Estados Partes com esse fim, protegendo ao mesmo tempo os direitos dos migrantes objeto desse tráfico. Criminalização Os migrantes não estarão sujeitos a processos criminais; Criminalização do tráfico de migrantes com finalidade lucrativa, incluindo: Elaboração, fornecimento, obtenção ou posse de documentação falsa; Viabilização da permanência do imigrante ilegal; Agravam as penas: O risco de vida ou segurança do migrante; O tratamento desumano ou degradante, incluindo sua exploração. Medidas Troca de informações entre os Estados Partes: Especialmente entre os Estados com fronteiras comuns ou que estejam em itinerários utilizados para o tráfico de migrantes: Pontos de embarque, destino, itinerários, transportadores e meios de transporte, identidade e métodos das organizações criminosas, meios e métodos de dissimulação e transporte de pessoas, autenticidade e características de documentos de viagem. Reforço dos controles fronteiriços; Campanhas para informação e sensibilização da população; Combate às causas da migração (pobreza e subdesenvolvimento); Facilitação e aceitação do regresso do migrante: Tendo em conta a segurança e a dignidade da pessoa. Direito de liberdade versus Embarque em voo internacional DILEMA Direito ao documento de viagem versus Perfil de migrante Princípio da não discriminação Art. 19, 2, do Protocolo adicional sobre tráfico de migrantes (Decreto nº 5.016/2004) CF/88, Art. 5º, XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens; Decreto nº 5.017, de 12 de março de 2004 Promulga o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças Preâmbulo e objetivos Prevenir e combater o tráfico de pessoas, em especial de mulheres e crianças; Implementação de medidas destinadas a prevenir o tráfico, a punir os traficantes e proteger e ajudar as vítimas, respeitando seus direitos humanos; Abordagem global e internacional dos países de origem, trânsito e destino, com promoção da cooperação entre os Estados Partes; Conceito A expressão "tráfico de pessoas" significa o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração. A exploração incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos; O consentimento da vítima nas hipóteses acima será considerado irrelevante se tiver sido utilizado qualquer um dos meios também referidos acima. O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoa menor de 18 anos para fins de exploração serão considerados "tráfico de pessoas" mesmo que não envolvam nenhum dos meios referidos acima. Medidas em relação às vítimas Recuperação física, psicológica e social; Alojamento adequado; Aconselhamento e informação, especialmente quanto aos seus direitos; Assistência médica, psicológica e material; Oportunidades de emprego, educação e formação; Observação quanto às necessidades específicas da vítima (idade, sexo etc.); Segurança física e possibilidade de obtenção de indenização pelos danos sofridos; Regresso facilitado e sem demora ao Estado de nacionalidade ou de residência; Proteger as vítimas da revitimação. Adoção das medidas citadas em relação ao tráfico de migrantes. ABORDAGEM BRASILEIRA DO ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS Lei nº 13.344, de 6 de outubro de 2016 Art. 1º Esta Lei dispõe sobre o tráfico de pessoas cometido no território nacional contra vítima brasileira ou estrangeira e no exterior contra vítima brasileira. Parágrafo único. O enfrentamento ao tráfico de pessoas compreende a prevenção e a repressão desse delito, bem como a atenção às suas vítimas. Art. 2º O enfrentamento ao tráfico de pessoas atenderá aos seguintes princípios: I - respeito à dignidade da pessoa humana; II - promoção e garantia da cidadania e dos direitos humanos; III - universalidade, indivisibilidade e interdependência; IV - não discriminação por motivo de gênero, orientação sexual, origem étnica ou social, procedência, nacionalidade, atuação profissional, raça, religião, faixa etária, situação migratória ou outro status ; V - transversalidade das dimensões de gênero, orientação sexual, origem étnica ou social, procedência, raça e faixa etária nas políticas públicas; VI - atenção integral às vítimas diretas e indiretas, independentemente de nacionalidade e de colaboração em investigações ou processos judiciais; VII - proteção integral da criança e do adolescente. Art. 3º O enfrentamento ao tráfico de pessoas atenderá às seguintes diretrizes: I - fortalecimento do pacto federativo, por meio da atuação conjunta e articulada das esferas de governo no âmbito das respectivas competências; II - articulação com organizações governamentais e não governamentais nacionais e estrangeiras; III - incentivo à participação da sociedade em instâncias de controle social e das entidades de classe ou profissionais na discussão das políticas sobre tráfico de pessoas; IV - estruturação da rede de enfrentamento ao tráfico de pessoas, envolvendo todas as esferas de governo e organizações da sociedade civil; V - fortalecimento da atuação em áreas ou regiões de maior incidência do delito, como as de fronteira, portos, aeroportos, rodovias e estações rodoviárias e ferroviárias; VI - estímulo à cooperação internacional; VII - incentivo à realização de estudos e pesquisas e ao seu compartilhamento; VIII - preservação do sigilo dos procedimentos administrativos e judiciais, nos termos da lei; IX - gestão integrada para coordenação da política e dos planos nacionais de enfrentamento ao tráfico de pessoas. Art. 4º A prevenção ao tráfico de pessoas dar-se-á por meio: I - da implementação de medidas intersetoriais e integradas nas áreas de saúde, educação, trabalho, segurança pública, justiça, turismo, assistência social, desenvolvimento rural, esportes, comunicação, cultura e direitos humanos; II - de campanhas socioeducativas e de conscientização, considerando as diferentes realidades e linguagens; III - de incentivo à mobilização e à participação da sociedade civil; e IV - de incentivo a projetos de prevenção ao tráfico de pessoas. Art. 5º A repressão ao tráfico de pessoas dar-se-á por meio: I - da cooperação entre órgãos do sistema de justiça e segurança, nacionais e estrangeiros; II - da integração de políticas e ações de repressão aos crimes correlatos e da responsabilização dos seus autores; III - da formação de equipes conjuntas de investigação. Art. 6º A proteção e o atendimento à vítima direta ou indireta do tráfico de pessoas compreendem: I - assistência jurídica, social, de trabalho e emprego e de saúde; II - acolhimento e abrigo provisório; III - atenção às suas necessidades específicas, especialmente em relação a questões de gênero, orientação sexual, origem étnica ou social, procedência, nacionalidade, raça, religião, faixa etária, situação migratória, atuação profissional, diversidade cultural, linguagem, laços sociais e familiares ou outro status; IV - preservação da intimidade e da identidade; V - prevenção à revitimização no atendimento e nos procedimentos investigatórios e judiciais; VI - atendimento humanizado; VII - informação sobre procedimentosadministrativos e judiciais. § 1º A atenção às vítimas dar-se-á com a interrupção da situação de exploração ou violência, a sua reinserção social, a garantia de facilitação do acesso à educação, à cultura, à formação profissional e ao trabalho e, no caso de crianças e adolescentes, a busca de sua reinserção familiar e comunitária. § 2º No exterior, a assistência imediata a vítimas brasileiras estará a cargo da rede consular brasileira e será prestada independentemente de sua situação migratória, ocupação ou outro status. § 3º A assistência à saúde prevista no inciso I deste artigo deve compreender os aspectos de recuperação física e psicológica da vítima. Art. 14. É instituído o Dia Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, a ser comemorado, anualmente, em 30 de julho. Art. 15. Serão adotadas campanhas nacionais de enfrentamento ao tráfico de pessoas, a serem divulgadas em veículos de comunicação, visando à conscientização da sociedade sobre todas as modalidades de tráfico de pessoas. CONDUTAS TIPIFICADAS NO CÓDIGO PENAL Redução a condição análoga à de escravo Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência. § 1o Nas mesmas penas incorre quem: I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho; II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. § 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: I – contra criança ou adolescente; II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem. Tráfico de Pessoas Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de: I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo; II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo; III - submetê-la a qualquer tipo de servidão; IV - adoção ilegal; ou V - exploração sexual. Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. § 1o A pena é aumentada de um terço até a metade se: I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las; II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência; III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de dependência econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou função; ou IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional. § 2o A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e não integrar organização criminosa. Vide art. 199, § 4º, da CF/88 e art. 14 da Lei 9.434/97 Promoção de migração ilegal Art. 232-A. Promover, por qualquer meio, com o fim de obter vantagem econômica, a entrada ilegal de estrangeiro em território nacional ou de brasileiro em país estrangeiro: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. § 1º Na mesma pena incorre quem promover, por qualquer meio, com o fim de obter vantagem econômica, a saída de estrangeiro do território nacional para ingressar ilegalmente em país estrangeiro. § 2º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço) se: I - o crime é cometido com violência; ou II - a vítima é submetida a condição desumana ou degradante. § 3º A pena prevista para o crime será aplicada sem prejuízo das correspondentes às infrações conexas. CONDUTA TIPIFICADA NO ECA Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior com inobservância das formalidades legais ou com o fito de obter lucro: Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa. Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça ou fraude: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à violência. DISPOSIÇÕES PROCESSUAIS Art. 8º O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação do delegado de polícia, ouvido o Ministério Público, havendo indícios suficientes de infração penal, poderá decretar medidas assecuratórias relacionadas a bens, direitos ou valores pertencentes ao investigado ou acusado, ou existentes em nome de interpostas pessoas, que sejam instrumento, produto ou proveito do crime de tráfico de pessoas, procedendo-se na forma dos arts. 125 a 144-A do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal). § 1º Proceder-se-á à alienação antecipada para preservação do valor dos bens sempre que estiverem sujeitos a qualquer grau de deterioração ou depreciação, ou quando houver dificuldade para sua manutenção. § 2º O juiz determinará a liberação total ou parcial dos bens, direitos e valores quando comprovada a licitude de sua origem, mantendo-se a constrição dos bens, direitos e valores necessários e suficientes à reparação dos danos e ao pagamento de prestações pecuniárias, multas e custas decorrentes da infração penal. § 3º Nenhum pedido de liberação será conhecido sem o comparecimento pessoal do acusado ou investigado, ou de interposta pessoa a que se refere o caput, podendo o juiz determinar a prática de atos necessários à conservação de bens, direitos ou valores, sem prejuízo do disposto no § 1º. § 4º Ao proferir a sentença de mérito, o juiz decidirá sobre o perdimento do produto, bem ou valor apreendido, sequestrado ou declarado indisponível. Art. 9º Aplica-se subsidiariamente, no que couber, o disposto na Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013. Art. 10. O Poder Público é autorizado a criar sistema de informações visando à coleta e à gestão de dados que orientem o enfrentamento ao tráfico de pessoas. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL Art. 13-A. Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no § 3º do art. 158 e no art. 159 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), e no art. 239 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderá requisitar, de quaisquer órgãos do poder público ou de empresas da iniciativa privada, dados e informações cadastrais da vítima ou de suspeitos. Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, conterá: I - o nome da autoridade requisitante; II - o número do inquérito policial; e III - a identificação da unidade de polícia judiciária responsável pela investigação. Art. 13-B. Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes relacionados ao tráfico de pessoas, o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderão requisitar, mediante autorização judicial, às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso. § 1o Para os efeitos deste artigo, sinal significa posicionamento da estação de cobertura, setorização e intensidade de radiofrequência. § 2o Na hipótese de que trata o caput, o sinal: I - não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de qualquer natureza, que dependerá de autorização judicial, conforme disposto em lei; II - deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia móvel celular por período não superior a 30 (trinta) dias, renovável por uma única vez, por igual período; III - para períodos superiores àquele de que trata o inciso II, será necessária a apresentação de ordem judicial. § 3o Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito policial deverá ser instaurado no prazo máximo de 72 (setenta e duas) horas, contado do registro da respectiva ocorrênciapolicial. § 4o Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 (doze) horas, a autoridade competente requisitará às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso, com imediata comunicação ao juiz. Violações de direitos humanos concernentes ao tráfico de pessoas Dignidade da pessoa humana Cada indivíduo é um fim em si mesmo, tem autonomia para se comportar conforme seu livre arbítrio e não possui preço; Vida (riscos, punições exemplares, maus-tratos etc.); Liberdade individual (dívidas, documentos, cárcere, vigilância etc.); Integridade física (remoção de órgãos, tortura etc.); Dignidade sexual (exploração da prostituição, pedofilia etc.); Direito ao trabalho (redução à condição análoga à de escravo). OPERAÇÃO CAI-CAI FASE 1 Apurados 283 crimes: 1 crime de associação criminosa; 263 de promoção de migração ilegal (Art. 232-A do Código Penal); e 19 crimes de envio ilegal de criança ou adolescente para o exterior (Art. 239 da Lei nº 8.069/90). FASE 3 Apurados 409 crimes: 4 crimes de organização criminosa; 272 crimes de promoção de migração ilegal (Art. 232-A do Código Penal); e 133 crimes de envio ilegal de criança ou adolescente para o exterior (Art. 239 da Lei nº 8.069/1990). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 6. ed. São Paulo: Almedina, 2002. p. 393, 407 e 410. GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral, volume I. 20. ed. Niterói, RJ: Impetus, 2018. p. 456. HABERMAS, Jürgen. The concept of human dignity and the realistic utopia of human rights. In: Metaphilosofy, v. 41, n. 4. Oxford, July, 2010. MARMELSTEIN, George. Curso de direitos fundamentais. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2013. p. 23. NOVELINO, Marcelo. Manual de direito constitucional. 8. ed. rev. e atual. São Paulo: Método, 2013. p. 378.
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