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Uma vez pressuposta a produção capitalista, com as demais cir-
cunstâncias constantes e dada a duração da jornada de trabalho, variará
a grandeza do mais-trabalho com as condições naturais do trabalho,
sobretudo também com a fertilidade do solo. Mas de modo algum se-
gue-se daí, inversamente, que o solo mais fértil é o mais apropriado
para o crescimento do modo de produção capitalista. Este supõe o do-
mínio do homem sobre a Natureza. Uma Natureza demasiado pródiga
“segura o homem pela mão como uma criança em andadeiras”. Ela
não faz de seu próprio desenvolvimento uma necessidade natural.328
Não é o clima tropical com sua exuberante vegetação, mas a zona
temperada, a pátria do capital. Não é a fertilidade absoluta do solo,
mas sim sua diferenciação, a multiplicidade de seus produtos naturais,
que constitui a base natural da divisão social do trabalho e estimula
o homem, pela mudança das condições naturais, dentro das quais ele
reside, à multiplicação de suas próprias necessidades, capacidades,
meios de trabalho e modos de trabalho. A necessidade de controlar
socialmente uma força natural, de administrá-la, começando por apro-
priá-la ou dominá-la mediante obras feitas pela mão do homem, de-
sempenha papel decisivo na história da indústria. Assim, por exemplo,
a regulação das águas no Egito,329 na Lombardia, Holanda etc. Ou na
Índia, Pérsia etc., onde a irrigação através de canais artificiais leva
ao solo não apenas a água indispensável, mas, com a lama desta,
simultaneamente os adubos minerais das montanhas. O segredo do
florescimento industrial da Espanha e da Sicília sob domínio árabe foi
a canalização.330
A excelência das condições naturais fornece sempre apenas a
OS ECONOMISTAS
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328 "Como a primeira" (a riqueza natural) “é muito nobre e vantajosa, torna o povo despreo-
cupado, orgulhoso e dado a todos os excessos; a segunda, ao contrário, desenvolve o cuidado,
a cultura, a perícia e a sabedoria política.” (England’s Treasure by Foreign Trade. Or the
Balance of our Foreign Trade is the Rule of our Treasure. Written by Thomas Mun of
London, Merchant, and now published for the common good by his son John Mun. Londres,
1669. pp. 181, 182.) “Também não posso imaginar nenhuma maldição pior, para o conjunto
de um povo, do que ser posto sobre uma mancha de terra em que a produção dos meios
de subsistência e alimentação ocorra em grande parte espontaneamente, e o clima exija
ou permita pouco cuidado com vestimenta e moradia (...) é possível, certamente, também
um extremo pelo outro lado. Um solo que apesar do trabalho não possa oferecer nenhum
fruto é tão ruim como outro que sem trabalho produz ricamente.” ([FORSTER, N.] An
Inquiry into the Present High Price of Provisions. Londres, 1767. p. 10.)
329 A necessidade de calcular os movimentos do Nilo gerou a astronomia egípcia e com ela o
domínio da casta sacerdotal como dirigente da agricultura. “O solstício é o momento do
ano em que começa a elevação do Nilo e que, portanto, os egípcios tinham de observar
com maior cuidado. (...) Era o ano equinocial que eles precisavam fixar, para orientarem-se
por ele em suas operações agrícolas. Eles tinham, portanto, de procurar no céu um sinal
visível de sua volta.” (CUVIER. Discours sur les Révolutions du Globe. Ed. Hoefer, Paris,
1863. p. 141.)
330 Uma das bases materiais do poder do Estado sobre os pequenos e isolados organismos de
produção da Índia era a regulação do abastecimento de água. Os dominadores muçulmanos
da Índia entendiam isso melhor que seus sucessores ingleses. Recordamo-nos apenas da
fome de 1866, a qual custou a vida de mais de 1 milhão de indianos no distrito de Orissa,
presidência de Bengala.

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