Prévia do material em texto
A Crise da sucessão e o Parlamentarismo O populismo brasileiro, que surgiu com Getúlio Vargas durante o Estado Novo, voltava-se para a expansão do setor industrial em conjugação com os interesses do setor agroexportador e obedecia a uma política de participação efetiva do Estado na economia. Representava o que se costumou chamar de “Estado de compromisso”. Os setores conservadores, entretanto, viam com receio crescente o avanço do populismo, pois as massas tendiam a exigir cada vez mais direitos e fatias maiores do bolo. E os líderes populistas, para ganharem eleições ou se manterem no poder, atendiam a essas reivindicações. Com a renúncia inesperada de Jânio Quadros, abriu-se a porta da presidência ao vice João Goulart, conhecido líder populista vinculado ao movimento sindicalista. Isso causou inquietações nas camadas conservadoras e nos setores militares, que passaram a articular um movimento contra a posse de Jango, que, no momento da renúncia de Jânio, se encontrava na China em missão diplomática e comercial. Ao saber do ocorrido, Jango achou mais prudente esperar para ter certeza se Jânio realmente renunciara ou fora deposto. Na ausência do vice-presidente, assumiu interinamente o cargo de presidente da República o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazilli. Ao mesmo tempo, as Forças Armadas entraram em prontidão em todo o País, ocupando todos os ministérios; o palácio presidencial foi cercado por tanques e os aeroportos de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília foram ocupados por tropas da Polícia do Exército. O país se dividiu entre “golpistas” e “legalistas”: os primeiros desejavam o impeachment de Goulart e a convocação de novas eleições, enquanto os segundos eram pela posse, expressando a ordem constitucional. Os partidários do impeachment, apesar do respaldo dos ministros militares, encontraram a oposição do Congresso, que se negou a vetar a posse de João Goulart e criou uma comissão para encontrar uma solução pacífica para a situação. No sul do país, o governador Leonel Brizola, cunhado de João Goulart, e o general Machado Lopes, comandante militar do III Exército, ameaçavam distribuir armas à população a fim de formar milícias, ao mesmo tempo em que se expandia a “Cadeia da Legalidade”, formada por várias emissoras de rádio. No dia 4 de setembro, os ministros militares concordaram em aceitar a solução política do Congresso, dada dois dias antes por meio de um Ato Adicional que emendava a Constituição e criava o parlamentarismo. Nas repúblicas parlamentaristas, o presidente é o chefe de Estado, seu representante oficial máximo, mas não é o chefe de governo. Esta função é desempenhada pelo primeiro ministro, proposto pelo presidente mas obrigatoriamente submetido à aprovação do Congresso Nacional. Esse seria o sistema de governo implantado a partir da posse de João Goulart; no final de seu mandato, haveria um plebiscito a fim de consultar a população sobre a manutenção do parlamentarismo ou o retorno do presidencialismo. Assim, no dia 5 de setembro, João Goulart desembarcava em Brasília, depois de um longo caminho de volta, uma verdadeira “odisséia” durante a qual passou por Cingapura, Paris, Nova Iorque, Montevidéu e Porto Alegre.