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Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes 8º Semestre Cefaleias Secundárias Hemorragia subaracnóidea (HSA) Condição potencialmente grave, a hemorragia subaracnóidea se apresenta com cefaleia súbita e de forte intensidade em cerca de 97% dos pacientes. A principal causa é a ruptura de um aneurisma cerebral. A investigação inicial se dá com uma tomografia de crânio sem contraste. Pacientes com suspeita clínica e tomografia de crânio devem realizar punção liquórica para excluir a presença de sangramento não detectável pelo exame de imagem. A sensibilidade do exame do liquor nas primeiras horas do sangramento se aproxima de 100%, mas um acidente de punção pode gerar resultado falso-positivo. Parâmetros importantes para diferenciar esses casos são a xantocromia à espectroscopia após centrifugação, que fica mais evidente após 12 horas do sangramento. Pacientes com achado de sangramento meníngeo nesse contexto devem ser submetidos a exame de imagem para estudo de vasos, como angiotomografia, angiorressonância ou arteriografia digital. O tratamento deve ser realizado conforme a etiologia, e em geral os pacientes devem ser admitidos em unidades de terapia intensiva para monitorização contínua, com especial atenção quanto a sinais de hipertensão intracraniana e crise convulsiva. Devem também ser avaliados por equipe de neurocirurgia e/ou radiologia intervencionista para programação do tratamento definitivo conforme topografia e evolução clínica do paciente. Dissecção arterial Causa comum de acidentes vasculares cerebrais em jovens, a dissecção arterial espontânea tem como apresentação clínica mais comum a dor cervical ou craniana. A evolução da dor pode ser gradual ou súbita. Na dissecção carotídea a dor geralmente é cervical, retro-orbitária e frontal, e a síndrome de Horner pode estar presente, geralmente parcial, com semiptose e miose e sem o componente de anidrose. É mais comum em mulheres e pode estar relacionada a história de traumas de baixo impacto, manipulação quiropráxica da coluna cervical e posturas viciosas em hiperextensão do pescoço. O diagnóstico é feito por meio de exames de imagem com estudos direcionados para vasos arteriais cervicais e intracranianos, com angiotomografia ou angiorressonância. A ressonância de crânio está indicada para avaliar presença de focos isquêmicos, que podem ser oligossintomáticos. Pacientes que se manifestam com sinais de isquemia cerebral aguda não têm contraindicação ao tratamento padrão do AVC, e devem ser submetidos a trombólise quando elegíveis. O tratamento da dissecção pode ser realizado com antiagregação plaquetária ou anticoagulação, não havendo consenso na literatura quanto à escolha. Trombose Venosa Cerebral A trombose venosa cerebral é uma condição potencialmente grave que em até 89٪ dos pacientes se manifesta com a cefaleia como o principal sintoma, e por vezes pode ser o único. A instalação é geralmente gradual e progressiva no período de dias. Outra forma de apresentação frequente é com fenótipo da enxaqueca, associada a foto e fonofobia, náusea e vômitos, razão pela qual é importante um alto índice de suspeição em pacientes com fatores de risco (como trombofilias, gestação e puerpério). Até 40% dos pacientes evoluem com um episódio de crise convulsiva. Outros sintomas neurológicos potencialmente presentes são relacionados a hipertensão intracraniana (piora ao deitar-se e com manobra de Valsalva) e a encefalopatia (quadro confusional, desorientação, apatia). Na avaliação clínica inicial é fundamental a realização do fundo de olho, que pode revelar papiledema e apontar para uma patologia secundária diante de uma apresentação com características aparentemente primárias. Investigação com exame de imagem deve ser realizada para todos os pacientes com suspeita clínica. Os exames de escolha para casos suspeitos de trombose venosa cerebral são a ressonância magnética de crânio com venografia, mas na indisponibilidade do exame, pode ser substituído pela associação de TC de crânio com venografia de crânio por TC. Síndrome da Vasoconstrição Cerebral Reversível Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes 8º Semestre Grupo de condições que cursa com estreitamento e dilatação multifocais de artérias cerebrais, com comportamento reversível, que tipicamente se manifesta com cefaleia em trovoada (thunderclap) e menos frequentemente com sinais focais, edema cerebral difuso, crise convulsiva e AVCi. Para confirmação, deve-se realizar o exame de liquor, que por definição deve ser normal ou pouco alterado. Hipotensão Liquórica Espontânea O padrão mais típico de apresentação da hipotensão liquórica espontânea é com cefaleia que piora em ortostase e melhora em decúbito, mas também pode se apresentar sem clara relação com a ortostase, e mais raramente com cefaleia em thunderclap. Pacientes com história recente de punção lombar não necessitam de exames para investigação diagnóstica. Os demais casos são suspeitos de hipotensão liquórica espontânea e devem ser investigados. O primeiro exame diagnóstico é a ressonância magnética que evidencia sinais indiretos de hipotensão liquórica: realce paquimeníngeo difuso, coleções subdurais, posição baixa de estruturas encefálicas, alargamento hipofisário e ingurgitamento dos plexos venosos epidurais. Hipertensão Intracraniana A síndrome de hipertensão intracraniana constitui-se do conjunto de sinais e sintomas decorrentes da quebra da relação volume/pressão intracraniana. O aumento lento do conteúdo intracraniano permite o deslocamento gradual e progressivo de grande quantidade de líquido para seu interior. No entanto, o rápido aumento do volume acarreta o desequilíbrio precoce da relação volume/pressão intracraniana acarretando, por conseguinte, aumento da PIC com volumes bem menores em relação aos acréscimos lentos. A descompensação e o consequente aumento da PIC podem resultar no deslocamento e na torção do neuroeixo, que recebem a denominação de herniações, e são resultado tanto de fatores que levam ao aumento da PIC quanto de processos expansivos por compressão. Na tentativa de se manter uma pressão de perfusão cerebral compatível com a irrigação encefálica necessária, ocorre aumento da pressão arterial média (PAM), decorrente da hipóxia de estruturas do tronco cerebral. Caso essa isquemia atinja maiores proporções, poderá haver falência da reação vasopressórica, diminuição da PAM, isquemia cerebral e consequente morte. O aumento da PAM, a bradicardia e as alterações no padrão respiratório são denominados como Tríade de Cushing e são indicativos de HIC grave. Existem três situações clínicas as quais se deve atentar para evitá-las (ou prontamente combatê-las): o edema citotóxico (edema intracelular, causado pela morte neuronal, como ocorre em grandes AVC isquêmicos), o edema vasogênico (edema extracelular, que ocorre na região perilesional de processos expansivos tumorais) e o swelling (ou “inchaço cerebral”, em geral pós- traumatismo crânio-encefálico). Diversas patologias podem cursar com hipertensão intracraniana. Entre elas, as principais são neoplasia primária ou metastática de sistema nervoso central, hematoma subdural, hemorragia intraparenquimatosa (especialmente em regiões próximas ao aqueduto cerebral), e a síndrome de hipertensão intracraniana idiopática ou pseudotumor cerebri. • Manifestações Clínicas Os sinais e sintomas mais característicos da hipertensão intracraniana correspondem à cefaléia, vômitos em jato e papiledema. - Cefaléia: costuma ser o primeiro sintoma e o mais constante, podendo ser holocraniana, occipital ou frontal. Apresenta a característica de piorar pela manhã – quando a PIC atinge o seu valor máximo. - Vômito: o vômito em jato, não precedido por náusea, costuma ser consideradocomo sinal patognomônico de HIC. - Papiledema: ocorre devido à resistência imposta à drenagem venosa da retina por meio da veia central da retina em direção ao seio cavernoso, o que acarreta maior pressão nas veias retinianas. No exame de fundo de olho é possível notar aumento do diâmetro das veias retinianas, com desaparecimento do pulso venoso e borramento dos bordos da papila, evoluindo, posteriormente para edema, presença de focos hemorrágicos e, mais tardiamente, atrofia da papila, com possível perda definitiva da visão. Demais sinais e sintomas clínicos podem ser ocasionados por meio das herniações cerebrais, as quais acarretam manifestações clínicas focais: Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes 8º Semestre - Hérnia Transtentorial Central: Ocorre pela compressão, no sentido vertical, do tálamo sobre o mesencéfalo. A compressão acentuada desse pode levar ao coma profundo e a pupilas médio-fixas, devido à perda do reflexo fotomotor e consensual (III par craniano); respiração de CheyneStrokes pela compressão do tálamo e hiperventilação central pela compressão do mesencéfalo. O efeito compressivo atinge a ponte e o bulbo progressivamente levando à postura de descerebração (compressão da ponte), respiração apnêustica pontina (pausa após a expiração), respiração atáxica de Biot (ponte e bulbo) e, por fim, apnéia por compressão bulbar. - Hérnia de Uncus: Ocorre por uma lesão expansiva sobre o lobo temporal. Pode acarretar compressão do nervo oculomotor (III par craniano) ipsilateral à lesão (midríase paralítica); infarto mesencefálico tornando o estado de coma irreversível pela compressão da artéria cerebral posterior e hemiparesia ipsilateral à lesão expansiva por compressão do pedúnculo cerebral mesencefálico contralateral. - Hérnia Subfálcica: Ocorre pela protusão do giro cingulado por baixo da foice do cérebro, acarretando hemiparesia ipsilateral à lesão expansiva por compressão das fibras piramidais contralaterais. - Hérnia do Forame Magno: Ocorre pela protusão da amídala cerebelar pelo Forame Magno, ocasionando apnéia súbita pela compressão do centro respiratório bulbar. O exame neurológico pode evidenciar alterações do nível de consciência (especialmente nos quadros agudos), déficits focais progressivos, por vezes discretos e não notados pelos pacientes (nos casos de neoplasia intracraniana). Diplopia horizontal pode estar presente secundária à hipertensão intracraniana, não necessariamente um sinal focal. • Diagnóstico Uma tomografia computadorizada (TC) de crânio sem contraste, para afastar hemorragia, deve ser solicitada em todo paciente com suspeita de HIC. A punção lombar não deve ser realizada em pacientes com HIC antes da TC de crânio, visto que na presença de uma lesão expansiva com efeito de massa comprimindo as cisternas da base, a retirada de líquor pode produzir efeito aspirativo que precipita uma herniação transtentorial central ou uncal. A instalação de um monitor para determinação da PIC invasiva confirma o diagnóstico e permite o acompanhamento do paciente com HIC. Há quatro principais locais anatômicos utilizados para a medição da PIC, são eles: intraventriculares (considerado padrão-ouro para monitorização), intraparenquimatosos, subaracnóides e epidurais. A monitorização invasiva da PIC é indicada, principalmente, naqueles pacientes com as características abaixo citadas: - Grande risco se apresentarem PIC elevada - Comatosos (Escala de Coma de Glasgow < 8) - Diagnosticados em um processo que necessite de cuidados intensivos A ressonância magnética de crânio é um exame mais detalhado e pode ser fundamental nos casos em que a tomografia não auxilia no diagnóstico. Uma vez excluídas lesões com efeito de massa, deve-se realizar a punção lombar com o paciente em decúbito lateral para aferição da pressão de abertura. Níveis superiores a 250 mmH2O indicam hipertensão intracraniana. Por fim, deve-se concluir a investigação com estudo venoso cerebral por angiotomografia ou angiorressonância, para excluir a hipótese de trombose venosa cerebral. • Tratamento O tratamento da HIC deve ter por base o tratamento do distúrbio que a causa. Em pacientes atendidos em emergência com sinais e sintomas de HIC, a avaliação inicial deve focar o suporte ventilatório e a estabilização hemodinâmica. Dependendo da etiologia da HIC alguns procedimentos podem ser úteis para reduzir o dano cerebral como o uso de manitol – diurético (em casos de edema citotóxico), uso de corticosteróides (em casos de edema vasogênico) e a hiperventilação (focando a redução da pCO2, nos casos de “swelling”). O tratamento neurocirúrgico deve focar a redução da HIC e a eliminação da doença de base, quando isso for possível. Abordagens mais amplas são usadas para prevenir e tratar a elevação da PIC, independente da etiologia de base, são elas: - Cabeceira elevada a 30 graus Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes 8º Semestre - Otimização da drenagem venosa: manter o pescoço em posição neutra - Monitorizar pressão venosa central e evitar hipervolemia excessiva - Sedação, utilizando-se propofol (anestésico IV), a fim de reduzir a demanda metabólica - Hiperventilação mantendo-se a PCO2 entre 26 e 30 mmHg4
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