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HISTÓRIA DA IDADE MÉDIA OCIDENTAL

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HISTÓRIA DA IDADE MÉDIA OCIDENTAL
Conhecerá a definição de Medievo Ocidental;
2. aprenderá sobre os olhares para a Idade Média e descobrirá que a História tem história;
3. compreenderá que existem linhas complexas de ocupação no espaço europeu e um grande mix de culturas que dialogam entre si;
4. descobrirá que o Império Romano do Ocidente não caiu por conta da invasão de cruéis bárbaros.
Nossa, que horror!
Será que não há nada que preste na Idade Média?
Você tem a impressão muito forte de que pensar na Idade Média, como em Hollywood, é pensar em um mundo que tem um monte de estereótipos? A gente costuma esperar ver violência, controle da Igreja, enfim, a Idade das Trevas.
Mas, será que isso é verdade?
E aí alguém grita: “Feudalismo!”, que parece ser a única coisa de medieval que aprendemos na escola... uma coisa meio estranha: o homem fica quietinho, escondido no campo e protegido pelo senhor para fugir da violência medieval.
Tenho uma revelação para fazer a vocês: isso foi inventado!
Como assim, professora? Então na Idade Média não teve guerras, fome, violência, doenças e a forte presença da Igreja?
Houve sim, querido aluno... Mas, hoje nós deixamos de ter isso...
A Idade Média é um período como outro qualquer e assim deve ser estudado, cuidando das suas especificidades. Cada momento é um momento, são 1.000 anos de História, que não devem ser estudados como um grande bloco que ficou no meio.
E aí vem: esta é a divisão da história que nós utilizamos, não é? Será? Qual era nós vivemos hoje: Contemporânea? E se daqui a 20 anos fizerem um congresso de história e se chegue ao consenso de que desde o nascimento do Jobs e do Gates o mundo estaria em uma nova era: a informatizada... O que faz você? Se lamenta, pois sempre imaginou que era contemporâneo e não é mais... Não, você entende que seu tempo, o momento em que você vive é sempre contemporâneo... Assim é olhar o passado, os marcos são inventados, definidos. E por que nós os utilizamos em pleno século XXI? Simples: eles são didáticos, bons de entender... Agora, quando um modelo vira regra, aí nós temos um problema e, por isso, agora precisamos mergulhar no tempo medieval.
Agora, concentrado na linha do tempo:
Observe, comigo, essas três palavras e o que elas significam:
Do dicionário:
Antigo - Que existiu outrora.
Médio - Que está no meio, entre dois.
Moderno - Dos nossos dias, atual, que está em moda, dos tempos mais próximos a nós, o novo.
Observe bem, pois não parece uma divisão muito imparcial: o que ficou, o quanto o homem cresceu, evoluiu, mas ficou no passado, o que está no meio? O inominável, o que não vale a pena prestar atenção, e o novo, o recente, o que está na moda.
Essa leitura não é acidental. O modelo que adotamos hoje é um modelo de características iluministas, dos pensadores da razão do século XVII e XVIII, daqueles que vinham anunciar o "moderno", resgatar o que havia de bom na antiguidade e negar todas as práticas do período que os antecedeu... Repare nos nomes: Movimento Iluministas x A Idade das Trevas... Não é um acidente!
O desafio é justamente fugir deste imbróglio, fugir dessas definições menores, tentar pensar nisso de maneira um pouco mais complexa e, a partir daí, seguir o passeio que faremos pela história.
Muito antes da “queda”, o Império Romano já passava por profundas transformações. A tentativa de Diocleciano em estabelecer uma tetrarquia em 293 é denominada por muitos autores de processo de fragmentação do Império Romano. Os poderes locais cada vez mais resistiam às práticas de dominação romana e as disputas entre os diversos centros apareciam de maneira cada vez mais intensa. Nesse momento o Império tinha dois grandes centros:
Ravena (cidade próxima a Roma) e Constantinopla (atual Istambul na Turquia) e daí vem a ideia de divisão de Ocidente e Oriente – centros de poder Ocidental em Roma e Oriental em Constantinopla. Essa é divisão base para separarmos nossos estudos em Idade Média Ocidental, pois nos concentraremos nas fronteiras do Império Romano do Ocidente.
Nesse período, já se nota um importante processo de ruralização no império, com as cidades perdendo importância, o comércio decaindo e um aumento de relações de poder estabelecidos no campo. Apesar desses traços, a historiografia coloca seu marco na perda da coroa de Rômulo Augusto, em 476, tentando criar a figura dos grupos que "invadem" o Império como os causadores do seu fim.
Edwuard Gibbon foi um historiador importante do século XIX, talvez um dos primeiros a quebrar linhas positivistas até ali presentes e indiscutíveis na forma de fazer história. No entanto, suas concepções bebiam diretamente na noção de buscar os motivos da queda do Império Romano, elegendo culpados que teriam causado este "dolorido" fim. Ele defende, em seus textos, que o poder da igreja contribuiu para queda do Império Romano. Na sua hipótese, a presença do cristianismo fragilizou o posicionamento do imperador e fez esfriar a verve bélica romana, propiciando uma quebra na estrutura cultural que garantia ao imperador romano sua própria noção e identidade. Como resultado teríamos um caos político que, não podendo ser contido, facilitaria a entrada de grupos militarmente mais fracos no Império.
Quando se estuda o cristianismo, de fato, notamos que tem uma relação direta com a divisão proposta por Deocleciano, uma vez que além das medidas administrativas, ele buscou também a lógica de criar uma nova identidade para o Império pela religião, mas com um viés voltado para os deuses militares de Roma. Quando uma geração depois, um dos Césares da Tetrarquia, apoiado pelo ocidente, entra em Roma e é aclamado como o novo Imperador, mas nega as festas "pagãs" e se dedica a contemplação como um cristão, entendemos que é uma continuidade da política de Deocleciano, mas dialogando com outro grupo, as classes médias romanas, muito cristianizadas, e com os bispos orientais, senhores poderosos naquele momento. Então, discordamos de Gibbon, tal qual Le Goff, Marc Bloch ou Peter Brown, que consideram que o cristianismo não é motivo, mas consequência dos modelos de organização presentes no Império Romano.
Marc Bloch tem uma frase muito feliz: "Não é possível que, ainda hoje, pessoas acreditem que a vastidão do Império Romano era representada culturalmente por meia dúzia de propostas filosóficas vindas de algumas ilhotas do espaço do Peloponeso." Essa ideia de uma cultura greco-romana estabelecida, que dá a noção deu uma centralidade do Império, não existe. O Império em si tem várias línguas, vários governos e várias formas ao longo de sua história de criar a ideia de ser romano. Quando o Império no século I buscou o helenismo, trouxe, por exemplo, muito mais do que uma influência grega.
Quando encontramos figuras como os judeus, que ganharam importante notoriedade dentro do mundo romano, entende-se que a estrutura romana tende à absorção, e não à negação para privilegiar alguns aspectos. As disputas de poderes podem transformar o outro em inimigo ou modelo (veja o Tácito que passei para fazer como atividade e reparem como o Germano é um modelo para lembrar o que o romano tinha perdido).
Como síntese: Não tem sentido entender a Idade Média como um tropeço estranho, uma queda tão vertiginosa do mundo e as trevas se abatendo sobre o mundo. Ainda que entendamos um Império Romano fragilizado pelas suas crises internas, imaginar que ele é tomado de assalto pela chegada de novos grupos bárbaros que vão acabar com toda a noção é esquemático. Roma não morre, mas é uma sociedade que vem tendendo a manifestar a fragmentação que faz parte da sua estrutura a bastante tempo. O marco da chegada a Idade Média é uma escolha didática para explicitar essa transformação.
Como é vista a Idade Média?
Guerra, peste, bruxa, magia e dragões, fogueira de Hereges, Catedrais.
Qual dessas será a verdadeira Idade Média?
Na Idade Média nem sempre houve castelos, eles são um fenômeno dos séculos XIII/XI, com o crescimento das cidades.
Outra ideia é a de que, na Idade Média, quem fosse contra o cristianismo morria na fogueira. Issoé falso. A Idade Média só teve fogueira no seu período tardio, quando a Igreja se fortaleceu (sim, ao longo da Idade Média ela não foi a única e cruel dominadora). A Igreja, ao longo da Idade Média, estava em formação e passou a ser Católica Apostólica Romana no século XIII, além de só conseguir poderio para escolher seus membros em torno do século XII. A Inquisição em si é um fenômeno gigantesco dos séculos XV e principalmente XVII e XVIII, na modernidade. De fato, a Igreja que se apoiara em Roma com o fim do governo Ocidental vive um duro golpe ao longo da Primeira Idade Média.
Preste atenção em um ponto vital: Por que será que imaginamos uma Igreja tão poderosa na Idade Média?
Por conta dos escritos medievais, é um período em que a preocupação com registros de "oficialidade" governamental, muito presente em Roma, perdeu prestígio. A valorização do prestígio militar se impunha ao intelectual em seu modelo mais ruralizado.
A Igreja, em especial nos espaços dos mosteiros, não só guardava os documentos, mas principalmente os copiava. O filme O nome da Rosa, que reflete a preocupação da Igreja em controlar o que se lia, já ilustra o período da Baixa Idade Média, após o nascimento de Universidades, período no qual o controle dos escritos se faz fundamental. Na maior parte do período é o episcopado (elite eclesiástica) que tinha o interesse na educação greco-romana e, por conta disso, foi seu guardião e reprodutor. Esse fato nos dá, claro, um tipo de voz principal - o da Igreja - não temos como conhecer as outras vozes por sua manifestação, não houve registro e, por isso o necessário cuidado ao ler os documentos medievais.
Os bispos tinham na Idade Média, desde o seu início, um poder singular. Mas, para pensar na questão não podemos deixar de pensar em um aspecto vital: Quem é o bispo? Alguém nasce na Igreja? São sim, de fato, membros das elites locais!
De onde surge a noção de trevas para Idade Média? Foi cunhado pela historiografia inglesa entre o século V e o XII, uma vez que a partir daí tivemos a formação das universidades e o crescimento das cidades. A lógica iluminista inglesa pensava, em especial, na produção intelectual europeia ocidental ao longo desse período.
A erudição na Idade Média foi caracterizada de maneira a afirmar que o grande intelectual não é o que inova, mas principalmente pelo domínio dos conhecimentos já produzidos. Mais erudito é aquele que mais conhece, daí teria se afirmado uma ideia de estagnação intelectual, incapacidade de novas produções, posição que precisa ser cuidadosamente relativizada quando estudamos o período com um novo apuro. A pressão iluminista, valorizadora da razão, buscava negar os conhecimentos medievais, descaracterizá-los como algo retrógrado e que deveria ser combatido. Foi a era da razão que cunhou a ideia de que o homem devia buscar o que ficou na Antiguidade, e esquecer aquele período de trevas e estagnação que teria sido vivido. O interessante é que no século XIX a razão entra em crise. Os processos de cidades empobrecidas trazem na literatura o fenômeno do romantismo. Os cavaleiros andantes ganham novas roupagens, seriam os homens de honra e de verdade que se perderam com o mundo moderno. Um autor inglês chega a afirmar: se a Idade Média foi o período de trevas, sem dúvida foi o que teve a mais bela e mais romântica noite da humanidade." Fadas e princesas ganham formas.
Brinque um pouco: veja o romance brasileiro - O Guarani - o índio Peri tem as características e honra de um cavaleiro medieval idealizado: ele respeita Ceci, luta pelos seus pais, é corajoso, forte, é principalmente fantasioso. Nesse momento se afirmava a Idade Média do mito de formação das nações, lembradas para mostrar passados gloriosos: Franceses buscam Carlos Magno; Alemães Oto 1; Ingleses Alfredo X e assim por diante.
Será que é assim, historiador, que devemos ler e estudar a Idade Média? Complicado, não é?
A Idade Média não é das damas e dos cavalheiros, e também não é a Idade das trevas. Como historiadores, não devemos sequer compreender um corte temporal de mil anos como algo linear que pode ser definido em poucas palavras. O nosso desafio como historiadores é justamente conhecer a Idade Média como um processo longo, cheio de nuances e características específicas em cada um dos seis períodos e espaços.
Media Tempestas significa o próprio tempo daquele período, não pelo sentido do Médio, que é como já vimos, uma leitura posterior, mas é a ideia de que aquelas populações, os períodos em que eles viviam, tinham-se outras noções e outras interpretações de tempo que são muito diversas das utilizadas por nós.
Quer ver: Que dia é hoje? Tem certeza? Pense que você está no calendário Gregoriano e vive sobre a ditadura do tempo, a hora, o minuto, às vezes os segundos, são importantes e você marca seus compromissos, comemora com base no tempo. Esse controle de tempo no campo é igual, então, pense em uma sociedade rural.
Não há noção de tempo no nosso modelo de calendários e tudo estará diretamente relacionado com a colheita, plantação.
O tempo do medievo não é o espaço da Igreja ou do meio, é o período do contemporâneo àquele momento e assim devem ser entendidos e discutidos.
Vamos agora para uma boa leitura: um dos principais medievalistas brasileiros, Hilário Franco Jr.
“A Idade Média para os medievais
Mas, enfim, que conceito tinham da “Idade Média” os próprios medievos? Questão difícil de ser respondida, apesar dos progressos metodológicos das últimas décadas. A resposta, mesmo provisória e incompleta, precisaria ser matizada no tempo e no espaço, e ainda considerar pelo menos duas grandes vertentes, a do clero, elaborada a partir de interpretações teológicas, e a dos leigos, presa a concepções antigas, pré-cristãs. Simplificadamente, essa bipolarização quanto à História partia de duas visões distintas quanto ao tempo. A postura pagã, fortemente enraizada na psicologia coletiva*, aceitava a existência de um tempo cíclico, daquilo que se chamou de “mito* do eterno retorno”. Ou seja, as primeiras sociedades só registravam o tempo biologicamente, sem transformá-lo em História, portanto sem consciência de sua irreversibilidade. Isso porque, para elas, viver no real era viver segundo modelos extra-humanos, arquetípicos. Assim, tanto o tempo sagrado (dos rituais) quanto o profano (do cotidiano) só existiam por reproduzir atos ocorridos na origem dos tempos. Daí a importância da festa de Ano-Novo, que era uma retomada do tempo no seu começo, isto é, uma repetição da cosmogonia, com ritos de expulsão de demônios e de doenças. Tal concepção sofreu sua primeira rejeição com o judaísmo, que vê em Javé não uma divindade criadora de gestos arquetípicos, mas uma personalidade que intervém na História.
O cristianismo retornou e desenvolveu essa idéia, enfatizando o caráter linear da História, com seu ponto de partida (Gênese), de inflexão (Natividade) e de chegada (Juízo Final). Portanto, linear mas não ao infinito, pois há um tempo escatológico* — que só Deus conhece — limitando o desenrolar da História, isto é, da passagem humana pela Terra. Contudo, se o cristianismo reinterpretou a História, não pôde deixar de sentir seu peso, inclusive da mentalidade* cíclica, daí a liturgia cristã basear-se na repetição periódica e real de eventos essenciais como Natividade, Paixão e Ressurreição de Jesus: ao participar da reprodução do evento divino, o fiel volta ao tempo em que ele ocorreu. Ou seja, a cristianização das camadas populares não aboliu a teoria cíclica, pelo contrário, influenciou o cristianismo erudito e reforçou certas categorias do pensamento mítico. Em virtude disso, pelo menos até o século XII os medievos não sentiam necessidade de maior precisão no cômputo do tempo, o que expressava e acentuava a falta de um conceito claro sobre sua própria época. De maneira geral, prevalecia o sentimento de viverem em “tempos modernos”, devido à consciência que tinham do passado, dos “tempos antigos”, pré-cristãos. Estava também presente a idéia de que se caminhava para o Fim dos Tempos, não muitodistante. Espera difusa, que raramente se concentrou em momentos precisos. Sabemos hoje que os pretendidos “terrores do ano 1000” foram uma criação historiográfica, pois não houve nenhum sentimento especial e generalizado de que o mundo fosse acabar naquele momento.
Mas c inegável que a psicologia coletiva* medieval esteve constantemente (ainda que com flutuações de intensidade) preocupada com a proximidade do Apocalipse. Catástrofes naturais ou políticas eram freqüentemente interpretadas como indícios da chegada do Anticristo. Havia uma difundida visão pessimista do presente, porém carregada de esperança no iminente triunfo do Reino de Deus. Nesse sentido, a visão de mundo medieval trazia implícita em si a concepção de um tempus medium, precedendo a Nova Era. Tempo não monolítico, dividido em várias fases. A quantidade e a caracterização delas não eram, contudo, consensuais. A eriodização mais comum, ao menos entre o clero, concebia seis fases históricas, de acordo com os dias da Criação. Como no sétimo dia Deus descansou, na sétima fase os homens descansarão no seio de Deus. Assim pensavam muitos, de Santo Agostinho (354-430) e Isidoro de Sevilha (560-636) até Fernão Lopes (1380-1460). Também teve sucesso uma concepção trinitária da História, surgida no século IX com João Escoto Erígena (ca. 830-ca. 880) e que teve seu maior representante no monge cisterciense Joaquim de Fiore (1132-1202). Para este, a Era do Pai ter-se-ia caracterizado pelo temor servil à lei divina, a Era do Filho pela sabedoria, fé e obediência humilde, a do Espírito Santo (que começaria em 1260) pela plenitude do conhecimento, do amor universal e da liberdade espiritual. Qualquer que fosse a divisão temporal adotada, reconhecia-se que o suceder das fases acabaria com a Parusia, quando a História enquanto tal deixaria de existir.
CONCLUSAO
· Compreendeu que o fim do Império Romano não foi o colapso do mundo para um mergulho nas trevas;
· analisou que a sociedade no medievo já foi vista de maneiras diversas ao longo da história, e que isso demanda cuidado
AULA 02
1. Aprender sobre o momento de transição entre o chamado fim da Antiguidade e o início da Idade Média;
2. compreender que existem relações entre a desestruturação do Império Romano e a organização de novas estruturas de poder;
3. o papel da Igreja na transição entre o Baixo Império e a Primeira Idade Média.
Vamos começar lembrando a periodização da Idade Média, pois mesmo que de maneira didática é impossível analisar o período como um todo.
Esse período de desestruturação e organização dos reinos germânicos é o período tratado como primeira Idade Média.
O período que entendemos como a solidificação de um novo governo, uma organização europeia mais centralizada, na ascensão da política de Carlos Magno, é chamado de alta Idade Média.
História da Idade Média
E na Idade Média?
A primeira Idade Média é o período de transição entre a desestruturação do Império Romano e a organização dos reinos germânicos.
Vamos conhecer um pouco sobre a época da Idade Média!
A Idade Média tardia é o período entre a baixa Idade Média e a modernidade. A Idade Média plena é chamada Idade Média Central, que seria o auge do período feudal (O nome plena pode confundir os outros status).
A Alta Idade Média é justamente o momento em que se tem a presença, mais marcante, do governo carolíngio, da organização de uma Europa, de uma economia.
Carolíngio é o governo organizado especialmente em torno da figura de Carlos Magno. É o nome da dinastia da família, a qual se tem como marco o juramento de fidelidade que é considerado o embrião do período da Idade Média Central. O feudalismo não é só uma relação econômica de terra mas, principalmente, um compromisso de fidelidade e a organização de fidelidade entre iguais para estabelecimento e a organização das terras. Vassalos e suseranos são iguais.
A Idade Média Central é o período do surgimento das cidades. A Baixa Idade Média é o período das liberdades das universidades. A organização da economia imperial romana é basicamente mediterrânea.
Na Alta Idade Média, há uma migração das principais relações econômicas do Mediterrâneo para o norte da Europa. Não é à toa que se tem o crescimento das Ilhas Britânicas, o avanço dos Vinkings, porque o território do norte da Europa começa a ser valorizado. Rotas comerciais passam pelo norte da Europa e, nesse sentido, há uma mudança de ciclo econômico.
Vamos fazer uma reflexão!
Como historiador, qual é o seu olhar sobre a IDADE MÉDIA?
Já pensou? Avance a tela e veja algumas informações sobre o historiador!
O historiador deve olhar a Idade Média não como a idade das trevas, não como a idade romântica dos cavalheiros errantes. O historiador deve, entre tantas coisas, principalmente, reconhecer a capacidade de transformação, reorganização e de mutação.
Ele deve ter o cuidado de não perder nunca o seu objeto primeiro, que é o homem no tempo. Se é o homem no tempo, não é o homem em mil anos.
É saber que esse homem vai ter momentos específicos, que o local vai ter momentos específicos, que as relações tem momentos específicos. Então temos relações de poder diferenciadas, organizacões sociais diferentes. Não se pode perder essa noção dos objetos de pesquisa.
Nesta aula, falaremos de Jacques Le Goff, certamente um dos historiadores mais importantes do século XX e um medievalista dos mais reconhecidos.
Le Goff afirma que, para entender a Idade Média, é necessário entender a confluência de três grandes tradições: Romanismo, Germanismo e Cristianismo. Ainda que entendamos que seja um modelo didático, é um dos mais interessantes para compreender a formação da Idade Média, dos reinos germânicos.
Neste momento, vamos conhecer as três tradições, relacionando-as ao co que estudamos – a transição entre os século IV e VI.
Você está preparado? 
Fique atento!
Quando levantamos o entendimento da tradição germânica, precisamos lembrar da formação cultural do Império Romano. Lembrar que Cícero era lido, relido e falado no século I AC. Ele defendia que ser romano era dominar as leis romanas, era viver como súdito da força, do conjunto e da lei romana.
Outros autores vão trazer a ideia de que a romanidade deve ser trazida nas transformações. Por exemplo, ir para uma nova cidade e construir tudo no modelo de Roma, assim sente-se em casa.
Tentamos entender de onde vem o apoio ou a relação do Império com a Igreja.
O cristianismo, entre o século I e o IV, se difundiu no mundo romano dentro de um emaranhado de processos. Ele se faz presente, dentro de muitas propostas filosóficas de intelectualidades locais, de propostas helenísticas, de propostas com características gregas. Ele vai se organizar no modelo do Império.
Será o próprio Império Romano o espelho para se entender a organização da Igreja. Falamos de Império como instituição política, nunca como unidade. De unidade só se tem o discurso, como ideia se tem unidade, como instituição se tem o modelo.
Como modelo, a Igreja vai, cada vez mais, funcionar nos moldes do Império. Ela vai crescer, nos séculos IV e V, em especial, em núcleos que, muitas vezes, estavam fora da estrutura central do Império, em núcleos intelectualizados.
Ela vai se mostrar organizada, a ponto de que quando Constantino busca uma nova forma de colo, uma nova coalizão, essa busca é a Igreja. Já existiam elementos anteriores que buscavam e pensavam isso. Outras religiões, que pela visão cristã são chamadas de pragas, foram buscadas pelos romanos.
É na busca pelo cristianismo, justamente, o momento do cristianismo assumir, de maneira clara, essa romanidade. O cristianismo se torna romano e, nesse sentido, ele consegue ser base do próprio Império. Se o Império vive, sob a força e a organização de suas leis, o espelho vai ser a mesma ordem.
O imperador romano convoca um concílio, uma reunião geral de Bispos, para organizar a Igreja e dar forma para se entender determinadas características que se manifestam em torno daqueles 1000 anos. Podemos considerar, inclusive, marcos diferentes para o seu entendimento didático, de inícioe fim.
O marco político trabalhado de início e fim é a queda do Império Romano do Oriente. Há uma noção religiosa, a Idade Média começa na ascensão do cristianismo e termina com a reforma protestante.
Há uma noção muitas vezes trabalhada com a estrutura militar, quando o exército romano sucumbe aos bárbaros e quando o Mediterrâneo é tomado pelos turcos. Um marco parecido com o político, mas com um argumento diferente.
Sobre a Igreja um lembrete vital tem que ser dado: Ninguém nasce da Igreja, o bispo era um nobre dentro daquela sociedade, é um dos maiores naquela sociedade. Então, se a Igreja domina, se tem força, precisa pensar que ela sozinha não existe. Antes de tudo, a Igreja tem um conjunto em torno dela, ela é um corpo imerso dentro da sociedade e vai reproduzir as relações de poder imersas nessa sociedade.
O bispo, muitas vezes, vai ser um cavaleiro, um prefeito de uma cidade, vai andar de armadura, porque ele nasceu nobre. Por exemplo, São Francisco de Assis, no século XIII, para se tornar santo despiu-se de todas as roupas da casa do pai. Isto é uma forma de negar a própria herança que lhe permitia uma ascensão de poder social.
Precisamos entender que o medieval tem características próprias e que temos que mergulhar nesses espaços específicos.
O Ocidente que vamos estudar é aquele inscrito historicamente, que é sede á antiga divisão do Império Romano, onde os territórios a oeste do Império são tratados como Ocidente e a leste como Oriente. É nessa influência da ideia de um mundo romano inegavelmente forte que está a própria noção que ainda, hoje utilizamos para olhar o período de Oriente e Ocidente.
A região da Bretanha é caracterizada como sendo mais rural, com um olhar mais voltado para a produção. Esse olhar é o que é referido quando se fala em transição do período Antigo para o Medieval. Se destaca o processo de ruralizarão das produções e da organização social, não é uma ruralizarão física. As sociedades antigas, até a revolução industrial, são sociedades principalmente rurais, a maior parte da está espalhada no campo, não está concentrada em núcleos urbanos.
A diferença que, normalmente, é conservada do período antigo para o medieval é a perda da importância das cidades. A redução do contingente de cada cidade, sem dúvida nenhuma, é bem maior do que o contingente, do que a quantidade de pessoas, em uma mesma área do mesmo tamanho no campo. Temos a cidade antiga, em especial, o período romano tardio, século III ao V, sendo, claramente, uma sociedade em que notamos que as relações de poder, o comércio, as decisões e a política são decididas nas cidades. Quando começa-se a pensar a organização, começa-se a ter decisões mais dispersas. 
O período medieval, entre outras características, vai ser marcado dentro dessa leitura de uma redução das cidades.
Você sabe como era o comércio em Roma?
O comércio romano girava em torno do Mediterrâneo, falamos em produções de latifúndios para abastecer grandes centros, falamos em grandes trocas comerciais em detrimento ao que começamos observando no período medieval, em que se tem cidades menores e a produção sendo especialmente voltada para aquele núcleo menor. Utilizando caminhos por terra, temos claramente o que os autores marxistas chamam de uma mudança de um modo de produção escravista voltado para a grande propriedade.
Para o grande comércio, para o modo de produção que vai ser chamado depois de feudal apesar de não ser mais possível utilizar feudal nesse momento , o que é claramente, um modo de produção de policulturas com uma circulação comercial, muito mais terrestre de pequeno arco (de pequena distância) do que uma produção de modelo que se tinha, de grandes rotas, de grandes caminhos, de grandes celeiros.
O bárbaro, dentro da leitura romana, não queria dizer destruidor, até porque a estrutura das guerras que também estavam presentes no mundo romano faz referência a um conjunto cultural, onde se está fora das relações socioculturais presentes no mundo romano. Quando se está fora dessas relações, não se reconhece o padrão chamado pelos romanos de Civitas, que depois dá origem à nossa ideia de civilização, se é um bárbaro.
Desta forma, entendemos que a leitura pejorativa já estava presente entre os romanos e a adoção do termo bárbaro, que deve ser vista com cuidado, para não ser confundido com selvagens. Não há um isolamento, esses grupos chamados de bárbaros orbitam e fazem parte da estrutura do mundo romano. Desde o século 1 já há referência a essas trocas nas fronteiras romanas.
Ao longo do período tardio, temos a presença desses grupos dentro do Império, eram aliados e muitas vezes guerreiros de Roma. Eles tinham a função de militares romanos. Chama atenção o pai de Rômulo Augusto, Oreste, ele era um comandante romano, era um Magisters e, ao mesmo tempo, era também de origem Franca. Teoricamente, dentro dessa leitura, é considerado bárbaro.
O que se chama de bárbaro ou não vai depender muito do momento e dos interesses que estão sendo discutidos.
É necessário entender que o quadro de transformação, de transição do mundo romano, já vem em crise muito antes dessa ruptura pontual.
A organização social já vem demonstrando elementos de transição saindo do que vai ser entendido como Antiguidade e apresentando características que serão lidas como medievais, ao longo de um período.
O modo de produção romano era escravista, baseado em um grande comércio. A organização desse grande comércio já vem em claro
declínio, desde o movimento em que se estabelece a figura da paz romana, vindo a reduzir o número de batalhas e o número de escravos.
Temos em vez dessa organização que está presente, desde o século II, as fronteiras romanas, apesaar da ideia de fortificação, mais perenes quando Roma precisa organizar grandes batalhas. Não vai um grande e organizado exército romano, mas, sim, um grupo com quem Roma fez um acordo, pagando ou concedendo permissões. Dessa forma, há o estabelecimento, por exemplo, dos visigodos e dos ostrogodos.
Esses dois povos que vêm das regiões mais ocidentais e vão ocupar posições da Nécia, atual região da Sérvia e regiões ao norte do Mar Negro. Essas duas ocupações são importantes dentro do mundo romano e não são ocupações de características militares, são grupos rurais e que não entram no grande comércio e nem na grande produção escravista, vão tender a ter produção de caráter menor.
O Império Romano, uma vez cessada a sua expansão, uma vez tendo áreas fora do seu controle e, mais do que isso, uma vez que os governos romanos dependiam diretamente do recurso dessas vitórias, que tinham uma "máquina estatal cara", com uma organização multifacetada , não podiam fazer com pouco dinheiro uma política de "Panis Cercensis". Começa-se a ter mais fome e aquela cidade, que já tinha demonstrando crises, se torna um local de extrema pobreza em muitos espaços, com isso, o comércio fica mais frágil, sem incentivo.
Alguns produtores ainda conseguem se manter, mas outros não têm capacidade de se organizar para manter o seu latifúndio. Começa-se a ter a ideia de uma cessão de terras, isso não acontece do dia para a noite.
O sistema da cessão de terras é o sistema do colonato. O colonato está claramente presente, na organização social romana, desde o século III ( alguns defendem o século II). Ele seria a cessão de parte das terras em troca do trabalho, nas suas próprias terras, em determinados momentos específicos. A vantagem disso em relação ao sistema escravista é que não há a necessidade de se manter o colono.
Se há um sistema produzindo bem, o escravismo é um ótimo negócio, com muito lucro. Quando ocorre uma redução na produção, o romano diminui o número de escravos, não por bondade, o que ocorre é uma política de descentralização, de ruralização, para que se possa ter, muitas vezes, uma reacomodação do sistema, que se mostrava enfraquecido por conta da sua própria estrutura.
Sobre a relação do Império com os romanos temos que observar que a relação entre os dois é bastante longa. As terras Góticas.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
Compreendeuas transformações políticas do Império Romano do Ocidente para os reinos germânicos;
analisou que a Igreja não é a sucessora do Império Romano, que ela tem que se reestruturar na Idade Média.
AULA 03 OS REINOS GERMANICOS
1. Conhecer a organização política e social europeia nos séculos VI, VII e VIII, nos chamados reinos germânicos;
2. aprender o papel do cristianismo nos reinos, com uma igreja cada vez mais local;
3. compreender que existem fenômenos que aproximam e afastam o entendimento da história
Nesta aula vamos conhecer os reinos que são os sucessores do Império em termos de organização política na Primeira e Alta Idade Média. Comecemos então pelo reino dos Suevos
Mas, o que seriam estes reinos?
No artigo referido, o autor procura defender a consolidação de uma “monarquia centralizada” no decorrer da presença sueva na Galiza. Para tanto, pauta-se na análise das fontes que demarcam a fixação dessas populações germanas no território do Império Romano e suas sucessões monásticas.
A saber, são lembrados os escritos de Tácito, Hidácio, Isidoro de Sevilha e Jordanes. A seguir, destacaremos os pontos que, para nós, são os mais relevantes de sua argumentação.
Avance a tela e confira o que preparamos para você!
No sentido de buscar as origens da monarquia sueva, ou melhor, as características das relações de poder no seio das populações germanas, Pablo Martínez ressalta o escasso número de fontes que tratam de seus costumes e organização antes da travessia do rio Reno, bem como a presença de contradições encontradas entre os autores. Deixa claro, no entanto, que para tratar do quinto século destacará, principalmente, a Crônica de Idácio.
Preocupa-se com o que chama de “problemas terminológicos”, uma vez que relembra a possibilidade de encontrar significações pouco claras ou diversas para os termos utilizados nas fontes romanas sobre quem são de fato os suevos. A seu ver, certos velhos conceitos podem ter sido usados com o intuito de definir novas experiências, alterando seu sentido.
Primeiramente, considera o caráter tribal das populações germanas, para definir suas lideranças baseadas nos atributos bélicos, considerando ser o “estado de guerra” o elemento de coesão dessas sociedades. Para o autor, essa forma de “governo” mudou no decorrer da inserção germana em território imperial, pois o contato com a cultura romana e as transformações nas estruturas socioeconômicas geraram a demanda por alterações nas organizações políticas.
Tais transformações dizem respeito, em especial, à sedentarização dessas populações, antes nômades ou seminômades. Dessa forma, aquelas formas de poder que se formavam em torno de uma nobreza guerreira tornam-se pautadas em um poder localizado, associado à noção de propriedade. Por esta via, percebe a formação de um tipo de “monarquia centralizada” que reúne em volta de si um séquito. O auge desse processo teria sido, portanto, a “dinastia” constituída pela sucessão Hermerico - Réquila - Requiário.
Com o fim da dinastia de Hermerico, notam-se duas dificuldades: manter a monarquia centralizada e conciliar as diferenças das tribais sob uma só liderança. Nesse sentido, o autor chama a atenção para o surgimento de “elementos primitivos” que se desenvolvem no período de interrupção da monarquia. A presença visigoda na estruturação do reino pós--Requiário também é destacada por Martinez, assim como os reis “débeis” que sucedem o ano de 456.
Precisamos notar que não é fácil conhecer essa história, dependemos muito dos relatos sobre a sua chegada. A utilização dos relatos de Hidácio, Jordanes e Isidoro são essências para o trabalho prosopográfico proposto pelo autor. Ao analisar a formação, o desenvolvimento e o fim do reino suevo o autor lança mão dessas fontes históricas para questionar e comparar os elementos presentes nessa sociedade com outros grupos germânicos.
Sua chegada à Península Ibérica após a pressão dos Hunos: na Península, Hidácio pinta sua chegada com um prenúncio de final de mundo, o Apocalipse sendo deflagrado. Seria tão violento e ignóbil, segundo outras fontes como Paulo Orósio, nem tanto, mas sim depois de um peso de saques, são introduzidos as organizações hispano-romanas, iniciando um processo de organização monárquica.
 
A dualidade monárquica
Com a ascensão de Maldras, que não descendia de uma estirpe régia, o autor destaca a transição do modelo de liderança, que agora vinha de famílias nobiliárquicas por meio de algum tipo de eleição. Entretanto, essa decisão não foi unânime e Frantano reclama o reino também. Para o autor, não devemos nos ater a esse fato, pois esse quadro não se configurava com as diarquias tradicionais já estudadas e reclamar o título de rei poderia ser apenas por possuir interesses divergentes.
 
O surgimento das facções no reino suevo
Subgrupos dentro do reino obedecem aos vários líderes: Frantano, Maldras, Remismundo e Frumário. Martínez ressalta que naquele momento a qualidade de liderança não tem caráter de monarquia. Entre 460 e 465 há o desaparecimento da monarquia. Seu reaparecimento será apenas com Remismundo em meados de 465 e estará atrelada à atuação visigoda. (conversão ao arianismo, religião cristã considerada uma heresia, que veremos mais com os visigodos)
467: A morte de Teodorico II provocará, segundo o autor, uma mudança radical na relação dos suevos com os visigodos. Mesmo com a ascensão de Eurico, Remismundo aproveitará o momento para libertar--se do “domínio” godo e exercer sua soberania.
Momento de expansão do reino: saqueiam a Lusitania, Coimbra e Lisboa.
Período obscuro: Após a expansão, os suevos entram em conflito com os visigodos liderados por Eurico. A dificuldade de entender esse período mais uma vez é posta em discussão por Martinez, já que ficamos quase um século sem qualquer informação sobre esse povo. Com a conversão ao catolicismo, voltamos a ter fontes fidedignas onde os suevos figuram e fica confirmada a sustentação da monarquia, mesmo submetida aos visigodos, pós-Remismundo. (Carrarico, Ariamiro, Teodomiro).
A conversão trouxe aos suevos o aparato ideológico que faltava para a conexão com a população galo-romana, porém, sua relação com os visigodos arianos ficou estremecida novamente. O fim do reino suevo chega com a ascensão de Leovigildo e suas campanhas contra o território suevo e o rei Miro, morto na Béltica em 583. Os reis que o sucederam não conseguiram dar continuidade ao reino suevo que foi combatido pelos visigodos.
Uma pequena lista de reis para facilitar a compreensão: Hermerico (409-441), Réquila (438-448), Requiário (448-456), Maldras (456-460), Frantano (457-458), Frumário (460-464), Remismundo (458-?), Carrarico (550?-558), Ariamiro (558-561), Teodomiro (561-570), Miro(570-583), Eborico (583), Audeca (583-585), Malarico (585).
1 Os Vândalos
A organização Ocidental tem dois momentos dos Vândalos no território do Império Romano: v
Refere-se ao percurso que este povo germano realizou desde a Europa Central até a Península Ibérica.
Alguns conceitos permeiam a narrativa, tais como etnogênese e soberania doméstica.  No sentido expresso pela primeira proposição, a designação de “vândalo” abarcaria um vasto conjunto de formação heterogênea, pois, sobre a égide de tal termo estariam duas facções vândalas (Hasdingos e Silingos), Alanos e diversos grupos aos quais se juntaram em suas andanças; neste caso, conclui-se que não havia unidade étnica e sim militar entre os vândalos. Já no segundo conceito, Pampliega afirma a importância dos laços contratuais estabelecidos entre o rei e seus guerreiros como elemento que garante o controle das tropas. Destaca o papel preponderante exercido pela aristocracia no interior da camada nobiliárquica, pois, os destinos de migração ou fixação em determinado território são estipulados pelos líderes da soberania doméstica e seguidas pelas camadas populares por obediência àqueles.  
Analisando o montante de valorização, arriscamos afirmar uma predisposição ou condescendência crítica do autor em relação ao rei vândalo Gunderico, pois, na trajetória descrita deste nobre,credita-se-lhe fatos classificados simbolicamente de forma positiva para uma ação real, sendo assim, destacamos: a competência exclusiva de aglutinar ramos nobiliárquicos beligerantes, o reconhecimento de um acampamento provisório dos vândalos na Gallaecia como o marco de primeiro “Estado” vândalo constituído e a soberania doméstica exercida por Gunderico entre os Hasdingos. Por outro lado, pesa sobre Genserico -  a todo momento lembrado pelo autor como meio irmão de Gunderico e, portanto, de nascimento inobre - a fama de usurpador, invasor e assassino.
O texto é bastante convidativo àqueles que desejam se aprofundar nas problemáticas históricas que surgiram da configuração dos reinos germânicos dentro das estruturas do antigo Império Romano ocidental.
Os vândalos são destacados como um dos grupos que resistem a aceitar a Igreja Católica e mantêm arianos como forma de se opor as populações locais cristãs muito fortes no Norte da África, lugar em que se estabelecem a partir do século VI.
Os Vândalos permanecem com seu domínio na região até a expansão dos bizantinos liderados por Justiniano.
 
Ilhas britânicas
- Povos germânicos se lançaram à conquista das terras mais ao norte em meados do século V.
- Os povos bretões, celtas, eram pouco densos e sua romanização havia sido muito superficial.
- Conjuntura de lutas entre os chefes locais facilitou uma influência germânica muito maior que a da Europa.
- Redutos de resistência celta: Cornualha (até o século IX) e o País de Gales (até o século XIII)
- Yutos e suevos da Dinamarca e noroeste da Alemanha se fixaram no território dos Cantwara; os anglos se situaram no noroeste; os saxões se estabeleceram na zona intermediária.
- Os saxões foram os que criaram mais reinos na Grã Bretanha e, segundo a história tradicional, tratava-se de sete reinos, mas estudos mais modernos dão conta de outros reinos menos instáveis que existiram.
- Até o fim do século VIII, os setes reinos tradicionais se tornaram três.
- As invasões escandinavas do século IX favoreceram a unificação da Inglaterra anglo-saxã pelos reis de Wessex.
- Entre os séculos VI e VII a Irlanda seguiu sendo celta, enquanto parte dos bretões refugiados na Cornualha e no País de Gales emigrou para o continente em meados do século VI, e se assentaram no noroeste do que seria a França, a Armórica.
- O estabelecimento dos anglo-saxões na Inglaterra significou na ilha a inclusão de um elemento demográfico novo. Em geral, a ilha se achava pouco povoada e boa parte dela encontrava-se sem ser cultivada e com grandes extensões de bosques.
- Apesar das matanças de população indígena e as migrações internas que grupos bretões faziam no Oeste, nos reinos anglo-saxões foram núcleos importantes celtas.
- Os grupos de nobres que rodeavam cada rei constituíam a Corte e o Conselho. Seus membros se distribuíam em dois: os velhos e os jovens. Tal classificação implicaria uma divisão de funções administrativas e judiciais por um lado, e militares e políticas por outro.
- Existia um número considerável de servos não livres e escravos dedicados ao pastoreio, aos trabalhos agrícolas mais pesados, ao serviço doméstico e a pequenos artesanatos de consumo familiar.
- Nos primeiros tempos da "Heptarquia" os quadros políticos eram débeis. A sociedade devia se estruturar por sua própria força solidária.
- Foram precisas as invasões escandinavas no século IX para que, uma vez desaparecidos os reinos mais fracos, os reis de Wessex lograssem a sua unificação do que era a Heptarquia.
- O autor aponta "primitivismo" como causa da conquista lenta e sangrenta. Associação aos deuses pagãos como um símbolo desse primitivismo.
- O rei era, antes de tudo, um chefe da guerra. Seu principal poder radicava na força de seus fiéis guerreiros.
- Dentro da estrutura política existia uma instituição peculiar dos reinos anglo-saxões, a figura da "Bretwalda", rei superior aos demais e cuja autoridade era reconhecida por estes.
- Existência de uma assembléia local e tribal; cada condado tinha à frente um conde, e em cada território um sheriff cuidava da administração da justiça régia.
- A estrutura política dos reinos anglo-saxões se centrou em torno do rei e seus conselhos. E em sua maior parte, a política dependia da iniciativa desse grupo.
- A economia dos reinos anglo-saxões foi rural. Cada grupo de famílias formavam uma aldeia, que possuía zonas de pasto e bosques comunais.
- Aquelas ao quais o autor chama de "invasores da Inglaterra" levaram consigo para a ilha uma literatura oral, formada por rituais mágicos.
- Com a cristianização, a literatura das cortes em línguas vernáculas se uniu à literatura latina das escolas. Depois da atividade missionária de São Patrício na Irlanda se estabeleceram escolas nas quais florescia a cópia de manuscritos e a arte da miniatura. Nessas escolas se faziam cópias da Bíblia e da literatura religiosa.
- Encontrava-se desde o fim do século VI o ensino e a cultura eclesiástica "romana", levada à ilha pelos monges beneditinos.
A cultura latina foi base da cristianização dos anglo-saxões. Uma figura de destaque da cultura anglo-saxã foi Beda, monge e escritor, conhecedor da cultura clássica, escriturista, primeiro historiador da Heptarquia.
O texto, cumpre seu papel de prover informações políticas, militares e administrativas acerca da Itália ostrogoda (ca. 493 -526) tomando como norte a trajetória de Teodorico, ora exaltado por suas virtudes romanas (p. 83, tal como Diocleciano), ora dito invasor da península, tal qual Alarico fora décadas antes (p. 75). 
Extremamente didático, o texto pode ser subdivido em nove trechos, resumidos a seguir:
1- A ocupação ostrogoda por Teodorico daquela protagonizada previamente por Odoacro: no caso do  último se tratava de um recrutamento – procedimento estabelecido desde dois séculos antes. Quanto a Teodorico, apesar de repetir os feitos de Alarico, este contava com o apoio de Zenão, imperador de Constantinopla (p. 75)
2) Em seguida, o autor menciona muito brevemente as andanças dos ostrogodos entre 453 e 490, quando estes se retiram de sua área de foedus nas pobres terras ao sul do Danúbio e iniciam um processo expansivo (rumo à Trácia, Tessália e Macedônia) que perturba as lideranças romanas orientais. (p. 75).
2.1) Parcialmente criado em Constantinopla, Teodorico foi associado ao trono por seu pai e o sucedeu (471-474). Neste ínterim, enfrentou a oposição de outro candidato ao trono ostrogodo, o homônimo líder alcunhado como ‘o vesgo’: para superá-lo, Teodorico contou com o apoio do também então aspirante ao trono imperial, Zenão, o qual cobriu de honrarias em troca do apoio de Teodorico contra seu próprio rival em Constantinopla, Basilisco (p. 75)
2.2) Em fins da década de 480, para diminuir a pressão ostrogoda no Oriente, Zenão consagrou uma solene cerimônia que abriu caminho para o mandato ostrogodo na Itália, a despeito de Odoacro, principal prejudicado pela política bizantina (p. 76).
3) Após eventuais vitórias das forças ostrogodas – seguidas de fugas de Odoacro para a ‘fortaleza’ de Ravenna – Teodorico consegue atraí-lo para uma conspiração que resulta no assassinato de Odoacro e na consagração de Teodorico como governante da Itália (ca. 493) (p. 76).
4) Neste trecho (p. 76-8) o autor destaca a confusão jurídica instalada com a ocupação ostrogoda – já que Teodorico, patrício e magister militium reconhecido pelo Senado era, ao mesmo tempo, rei dos ostrogodos – a concessão dada pelo Imperador para que Teodorico promulgasse leis (ainda que o monarca só pudesse regular os editos imperiais existentes); a dualidade de poderes e o mútuo reconhecimento entre os governos ostrogodo e imperial (expressos da cunhagem de moedas ‘mistas’, na devolução por Zenão das insígnias imperiais a Teodorico, no direito de Teodorico nomear dois cônsules e, por fim, na política de Teodorico de ‘imitatio imperii’, que garantiria a ele distinção simbólica frente a outros líderes germânicos).
4.1) Cioso, Teodorico teria preservado esferas distintas de atuação aos ‘godos’ e aos ‘romanos’ , ao passo queos primeiros cuidavam das armas e os últimos seriam responsáveis pelas artes, letras e administração.
5) De fato, a instalação dos ostrogodos na península contribuiu, a princípio, para diminuir as tensões, já que os germânicos não se dispersaram e privilegiaram a porção norte peninsular, na qual estabeleceram regimes de hospitalidades nas villae. (p. 78)
5.1) Em caso de atritos jurídicos entre godos e romanos, os tribunais permaneciam, em essência, associados ao direito romano.
6) Quanto à política externa, ao promover uma ‘política nacional’ (p. 78-9) Teodorico estabeleceu uma intensa política matrimonial – com visigodos, francos, vândalos, burgúndios, turíngios –, prática que fez parte do habitus político europeu até o século XVIII (p. 79).
6.1) As guerras e campanhas persistem, e os ostrogodos acodem os visigodos e ocupam a Provença e a Narbonense (p. 79) – garantindo às regiões renovadas construções e cargos (p. 80) – das mãos da coligação franco-
-burgúndia.
6.2) Nesse contexto, os ostrogodos mantiveram seus aliados visigodos sob ‘tutela’, no período conhecido como ‘supremacia ostrogoda’ (ca. 507-526), condizente com a influência exercida por Teodorico junto ao seu neto Amalarico, soberano visigodo.
6.3) Além disso, Teodorico passa a proteger os interesses turíngios e alamanos, além de manter o domínio sob a Dalmácia (p. 79).
6.4) Dessa forma, Teodorico converte-se então no principal ator político germânico de seu tempo, o que contribui, inversamente, para ampliar o distanciamento político entre Teodorico e o Império Oriental (p. 79-80).
7) Quanto à política interna, o autor afirma que Teodorico foi o único monarca germânico a tentar, de fato, preservar a ‘romanitas’.
7.1) Mantendo o Senado, preservando títulos de altos dignatários aos romanos (prefeito do pretório, magister officium, defensor e curator das províncias e cidades, todos acompanhados do braço armado godo), reconstruindo estradas, muros, aquedutos, termas, teatros, palácios, igrejas, mausoléus; recriando o ‘pão e circo’ em Roma, os gládios, festivais, etc. tanto na Itália (vide a renovada cidade de Ravenna) quanto na recém-
-conquistada Provença: nesta região faz ‘ressuscitar’ a administração romana, nomeando um prefeito do pretório e um vigário para as Gálias, além de garantir a ascensão de Cesário de Arles à condição de metropolitano junto ao ‘papa’ Símaco (?) (p. 80).
7.2) Nas ‘letras’, se destacam Cassiodoro, Enódio de Pávia, Arator, Maximiano e, sobretudo, Boécio, considerado pelo autor e por tantos outros como o ‘canto do cisne’ da filosofia antiga.
7.3) Teodorico teria promovido ainda uma notável tolerância religiosa), que garantiria então uma razoável autonomia ‘pontifícia’ e eclesiástica.
8) Dois fatores fundamentais são responsáveis pela desarticulação ostrogoda:
8.1) De um lado, a expansão franca no Ocidente, amparada pelos bizantinos, ameaçava os ostrogodos (p8.2). Por outro, a nova política do império oriental tinha aproximado os romanos da Itália dos interesses de Constantinopla (já que ambos eram católicos), polarizando a situação religiosa na península e ocasionando uma ‘reação anticatólica’ ): julgando ser vítima de conspirações, Teodorico ordena o assassinato do ‘papa’ João e indica Felix V (Não seria o IV?) como bispo de Roma (p. 83); além disso, julga Boécio e Símaco – chefes do Senado – como traidores.
8.3) Sua sucessão abriu caminho para disputas entre ostrogodos pró-romanos e pró-godos. Amalasunta e Amalarico são símbolos do enfraquecimento ostrogodo (p. 84). Teodorico, de acordo com o autor, deixou um legado de magnitude semelhante ao de Diocleciano e maior do que o de Constantino e Teodósio (p. 83).
9) Algumas questões e polêmicas perpassam o texto, podendo ser discutidas:
a) ostrogodos, incapazes de cultivar o solo, de humor inquieto, vagam pelo Oriente, causando problemas ao Império Bizantino (p. 75).
b) Dentre ‘todo o povo ostrogodo’ encontra-se parte dos ‘rúgios’, salvos da destruição de Odoacro e incorporados ao grupo godo (p. 76).
c) A cronologia ‘oficiosa’ da historiografia ocidental deveria ser repensada, já que o Imperador Zenão devolve a Teodorico as insígnias imperiais que lhe foram entregues anteriormente por Odoacro (p. 77).
d) Godos não acrescentam nada ao Direito escrito, e tampouco podem manter seu princípio de ‘personalidade das leis’ (p. 78)
e) Matrimônio cortês, base do habitus político ocidental resulta da dificuldade germânica em superar as noções familiares mais fundamentais – que são, via de regra, facilmente quebrantáveis em função do ‘apetite’ dos monarcas (p. 79).
f) Teodorico promoveu um ‘novo renascer’ na cultura itálica, tanto mais por ser o único rei germânico engajado de fato nesse projeto: se as novas construções e reconstruções não seguiram o padrão do período clássico ou helenístico, azar dos puristas (p. 80-1).
g) Teodorico comanda a Igreja com notória tolerância e autonomia, o que seria contradito pela própria indicação de Cesário como metropolitano na Gália, com o assassinato de João e a escolha por Félix IV).
h) Qual a magnitude de Teodorico? Do mesmo nível de Diocleciano, acima de Constantino e Teodósio?
2 Visigodos
Depois das breves apresentações nos centraremos com maior força no olhar da organização visigótica.
Os godos têm longa relação com o Império Romano, ora como algozes como na vitória sobre Valente e no saque de Roma, ora como defensores frente aos "invasores" da Península Ibérica e os Hunos.  Esses elementos são necessários para compreendermos a ideia de grupos muito romanizados, normalmente atribuídos aos visigodos.  
Podemos afirmar que a própria organização política e a noção de gens gothorum bebem de maneira indelével na leitura dos romanos sobre os visigodos.  Os sinais dessa romanização era ainda mais marcante quando observamos o fato de serem seguidores do cristianismo, no caso a vertente ariana.
Esses traços de romanização eram associados a uma estrutura de intensa valorização das relações pessoais e a aproximação de clãs familiares em torno de uma liderança, que entre suas principais funções estava a liderança militar.
Neste contexto, os visigodos no final do século V estavam assentados em uma extensa região entre os Alpes e os Pirineus, margeando o Mediterrâneo.  O centro do seu poder era a cidade de Tolosa e as relações de poder com as novas lideranças se intensificavam, seja com Ostrogodos e Teodorico na península Itálica, seja com as lideranças Francas, representados em especial pelos Merovíngios.
Liderança Militar é o livro do Garcia Moreno sobre germanismo.
Uma das características mais marcantes desse momento é justamente a busca pela continuidade dos avanços militares e a vitória frente a forças consideradas tensas.  Uma dessas disputas mais emblemáticas sem dúvida é a batalha de Vouillé entre Francos e Visigodos.
Derrotados e sem uma liderança política com a morte do rei godo notamos um afluxo de senhores ou magnatas visigodos indo em busca de novos territórios.  Muitos permaneceram em Narbona, mas grande parte foi em busca de terras em um região já conhecida pelo grupo: a Península Ibérica.
Apoiados por Teodorico, avô do sucessor legítimo do trono e ainda uma criança naquele momento, Amalarico, o monarca ostrogodo, garante o apoio para o assentamento sociopolítico dos visigodos na Hispânia. Neste momento, princípios do século VI, estava diante de uma das mais tradicionais aristocracias do mundo romano um grupo tido como invasor e com um contingente muito pequeno de homens frente a população local.
Devemos sinalizar que esta ocupação visigótica na península não pode ser entendida de maneira regular, são senhores que ocupam regiões diferentes, buscando ora abafar resistências, ora dar garantias ao funcionamento socioeconômico local.
Os primeiro trinta anos são marcados pela tutela de Teodorico na região, governando em nome de seu neto Amalarico, o que ajuda a marcar um certo distanciamento do poder central.  Com os monarcas seguintes temos a presença de um dos elementos mais marcantes da política do gens gothorum na Península Ibérica: asdisputas pelo direito à liderança político-militar.
Neste sentido devemos entender a atuação de alguns personagens singulares: o episcopado e os líderes militares da região.  Alguns elementos aglutinadores entre os visigodos se fazem presente como o Breviário de Alarico, a religião ariana e a liderança militar.  Para os hispano-romanos observamos a manutenção de práticas e estruturas próximas à organização da Hispânia, sendo afastados dos cargos de ordem política.
As disputas ocorridas em Agila e Atanagildo são emblemáticas: enquanto o primeiro tem o apoio de uma das regiões mais ricas da península, no entorno de Sevilha, Atanagildo parte de Narbona para, buscando uma série de apoios, assumir o governo.  Para tanto, casa-se com nobre franca, e busca aproximação com o governo do Império Romano do Oriente.
Quando Atanagildo consegue assumir a liderança política, mantêm-se no poder por conta de muitas disputas: suevos, francos e a maior derrota militar no domínio do sul peninsular para as forças de Justiniano. Neste momento a ocupação definitiva na Península Ibérica, durava mais de cinquenta anos. Nos documentos encontramos a estruturação da organização social e os conflitos dela decorrentes.  
As crônicas de Juan de Biclaro e mais tarde a história dos godos escrita por Isidoro de Sevilha oferecem elementos para a compreensão da disputa pelo poder monárquico entre os visigodos.
Em meio a essas disputas, Toledo, e consequentemente o direito a coroa, são tomados por um magnata da região de Narbona, uma das poucas visigóticas para além dos Pirineus. Região notoriamente rica, e que segundo Garcia Moreno, o interesse em manter seu poderio local em detrimento a um poder central, Liuva opta por dividir o trono com seu irmão Leovigildo.
A linha estabelecida pela família de Leovigildo apresenta uma preocupação diferente ao assumir
o trono visigodo.  Suas medidas e empreendimentos militares buscam oferecer a legitimidade à monarquia visigótica. Garcia Moreno defende inclusive que só pode se compreender a organização de um reino visigodo de Toledo a partir de sua chegada ao poder.
As disputas territoriais foram um importante trunfo buscado pelo monarca em batalhas contra francos, bizantinos e poderes autônomos presentes na Península ibérica.  
Sua legitimidade, no entanto, dependia diretamente da interlocução com os diversos poderes locais.  Para tal, Leovigildo lança mão de dois importantes expedientes: reorganizar juridicamente o reino, mudando e adaptando leis, permitindo casamentos mistos e garantindo o direito de terras de grupos hispano-romanos; o segundo a buscar o diálogo com o que simbolicamente representava a continuidade do Império Romano, e ao mesmo tempo, eram importantes senhores de terras locais, o episcopado católico.
O desafio da proposta de fortalecimento do reino, da construção de sua sociopolítica, porém, não ia ser fácil.  Por características regionais notamos que as aristocracias da região da bética, em especial de Sevilha, não estavam claramente alinhadas à política do monarca.
Na vitae patrum aemeritense as disputas entre Masona e os bispos arianos e o próprio rei indicam uma resistência.
Na busca da garantia da estabilidade política e uma das questões mais difíceis era a sucessão monárquica, Leovigildo divide o trono entre seus dois filhos: Recaredo em Terraconensis e parte norte da Península; Hermenegildo, seu filho mais velho, assumiu o comando da Bética.  Alianças foram buscadas: Leovigildo casa-se com Gosvinta, esposa do monarca anterior, e uma princesa Franca da Austrásia, Ingunda.  Mas, apesar dos esforços de Leovigildo, os poderes locais se levantam contra o monarca.
Um grande concílio é convocado para que as diferenças entre arianismo e cristianismo niceno2 fossem remediadas, infelizmente as atas foram perdidas, mas segundo João de Bíclaro, a proposta de conversão ao arianismo com a garantia dos direitos como episcopados mantida foi refutada.
A tensão de transforma-se em disputa quando liderados por Hermenegildo os nobres da Bética e um levante é organizado dividindo o reino visigodo. Parte da historiografia mais tradicional, representada por José Orlandis, leu esse movimento como o embate da vertente ariana versus os católicos de Leandro de Sevilha, bispo e o recém-convertido Hermenegildo; as linhas mais reflexivas notam a estrutura dos poderes locais e a valorização do poder monárquico como foco desse embate.
Após conseguir abafar a revolta, Leovigildo não consegue retomar seu protejo político de aproximar as elites locais e as visigodas, nem tão pouco alcançar a legitimidade decorrente desse acordo.
Lovigildo consegue algumas vitórias militares importantes mesmo depois de vencer seu filho, no entanto, não tentou nenhum projeto de unificação religiosa.
Muito se discutiu sobre as posições de Leovigildo após a sua morte.  Na História Gothorum, escrita por Isidoro de Sevilha, o monarca é apresentado como um bom rei, traído pela heresia ariana.  Gregório de Tours afirma que, no seu leito  de morte, o rei teria se arrependido de seus erros e se convertido ao cristianismo niceno.
Uma coisa é certa, a partir da ascensão de Leovigildo ao trono visigodo, no início da segunda metade do século VI, o projeto político visigodo muda de diretriz, buscando não mais a separação entre hispanos e godos, mas sim a união dos diversos grupos aristocráticos.
Seu filho e sucessor Recaredo dá prosseguimento ao projeto político do pai, pela via católica.
O III Concílio é um marco no reino visigodo de transformação dessas reuniões em conselhos políticos, com a participação inclusive dos reis e nobres.
Quando ocorre a mudança de rumo na direção política, a Igreja Católica assume um papel de representação religiosa frente a todo reino.  Nesse contexto ocorre a diversificação dos quadros eclesiásticos com a entrada dos visigodos na instituição. Assim, ao mesmo tempo em que a Igreja Católica alcança alguma legitimidade e autonomia, ela se depara com a necessidade de manter a coesão dos seus membros e se fazer presente na sociedade.
A união entre clero e nobreza confere aos membros do episcopado a possibilidade da participação política de forma direta nas questões do reino: o clero passa a interferir na eleição do monarca e desfruta de uma conjuntura na qual os cânones conciliares possuem peso de lei, a ser respeitada por toda a sociedade.  
Cabe salientar que tais privilégios, dentre outros, só foram construídos e reafirmados na medida em que o episcopado relacionou o seu fortalecimento à necessidade de homogeneidade do grupo, ou seja, o beneficiamento decorrente da elevação dos cânones à categoria de lei civil foi possível graças à busca interna de coesão por parte da elite eclesiástica, que por sua vez alimentou uma conjuntura política propícia ao investimento no fortalecimento episcopal.
Recaredo fora associado ao trono durante o governo de seu pai. Ao assumir o poder busca reconstruir e fortalecer um série de relações de poder, reabilita bispos condenados por seu pai, abre concessões importantes para os diversos centros visigóticos.
Uma aliança então fica delineada, no entanto, o reino visigodo, por todo o trajeto há pouco apresentado, não tem uma unidade na qual as decisões de sua monarquia passem a ser incontestáveis.  Muito pelo contrário, o que sempre ficou claro foi que a institucionalização monárquica e seu reconhecimento fosse algo a ser buscado.
Assim o século VII será marcado por essa disputa: de um lado os discursos episcopais falando em uma poderosa unidade, e a análise do conjunto documental revela um quadro de disputas constantes de poder por parte das elites, sejam políticas, nobiliárquicas ou episcopais.
A História escrita por Isidoro é sem dúvida um dos mais importantes documentos para compreensão dessa tensão.
Este sevilhano, irmão de Leandro, o mesmo que participara das revoltas organizadas por Hermenegildo e presidiu o III Concílio de Toledo, foi uma personalidade das mais influentes do reino visigodo no século VII.  Sua história revela as difíceis sucessões após o reinado de Recaredo.Seu filho Liuva II, ainda jovem, sofreu um golpe militar do nobre Witerico, provavelmente de uma região da Lusitânia, golpe que é retratado por constantes disputas militares.
Apesar de reforçar a fragmentação das estruturas políticas, esse golpe revela também a importância que o domínio toledano cada vez mais passa a representar.  A aliança estabelecida entre episcopal e nobres para legitimar a sede de Toledo, pela ação isidoriana e os golpes que se sucedem na primeira metade do século VII é inegável.
Viterico será enfrentado e vencido por  Gundemaro, representante da aristocracia cartaginense, e concentra suas ações nessa região.  Enfrentando o domínio bizantino sobre as igrejas da região e fortalecendo a posição da diocese de Toledo.  Segundo a hipótese de Leovigildo, Gundemaro representa o retorno ao poder do grupo eclesiástico de Leovigildo, uma aristocracia que favorecia especialmente o episcopado sul peninsular como forma de afirmação.
Seu substituto é eleito sem maiores conflitos sinalizados.
O poder definitivamente continuava em aberto, mas teve seu período de maior estabilidade na primeira metade do século VII por conta de uma reforçada aliança com centros episcopais importantes e por vitórias militares emblemáticas como a obtida frente aos bizantinos ocupando o sul peninsular.
Continuador da política recarediana, organiza concílios em Barcelona e Sevilha, que ainda locais, mostra a ligação de Sisebuto às regiões e ao seu episcopado.
O monarca ganha fama por ser educado, escreve uma hagiografia e alguns pequenos tratados e busca fundamentar uma linha de conduta para o governante visigodo.
Garcia Moreno chega a afirmar que o monarca tinha pretensões "imperializantes”, marcando que seu governo era a continuidade legítima de Recaredo e eleva seu filho Recaredo II ao trono, evitando disputas por sucessão.
Este é o momento-chave, no entanto, para entender as tensões presentes nas disputas do poder no século VII. O jovem filho de Sisebuto morre pouco depois de sua morte, mesmo tendo pouca idade e quase nenhum relato sobre o caso.
O que se segue é um espaço de três meses entre esta morte e qualquer sucessor, além de um silêncio chamativo nos documentos do período.
Quem assume o poder é Suintila, que seguindo os dados levantados por Garcia Moreno o nobre vindo do Vale do Ebro ao nordeste da Península tem importantes vitórias em Caesaraugusta e apesar de tratado por usurpador, é aclamado após definitivamente vencer os bizantinos no sul da península
Seu governo, no entanto, enfrentará resistência tanto dos nobres ao sul, como de forças do Noroeste e centro peninsular lideradas por Sisenando. Se em um primeiro momento teve apoio de nobres do Centro Sul, até pelas concessões oferecidas em sua primeira parte do governo, viu seu governo ser deposto.
A chegada ao poder de Sisenando não lhe garante a legitimidade buscada, visto o acontecido recentemente com o antecessor.  Em uma manobra política que aproxima o monarca do principal interlocutor da Igreja do sul peninsular, uma das áreas com maior dificuldade de diálogo opta por um grande foro de discussão.  Buscando a legitimidade da aliança estabelecida em Recaredo, é convocado um grande concílio, o IV de Toledo.  Isidoro é reconhecido como o primeiro dentre todos os bispos do reino, alcançando poderio para organização de frentes importantes e difusão de suas obras por todo o espaço peninsular.
Nesse conjunto, identificamos ao longo da primeira metade do século VII um momento de fortalecimento das funções episcopais.  Desde a conversão (589) com a aliança entre a Igreja Católica e a nobreza visigoda, a primeira tem uma intensa relação com as disputas sociopolíticas.  Nesse contexto, a educação aparece como um tema central no discurso eclesiástico.
AULA04 FRANCOS: MEROVÍNGIOS E CAROLÍNGIOS
1. Conhecerá a organização política e social das Gálias no século VI, VII e VIII, nos chamados reinos carolíngios e merovíngios;
2. aprenderá sobre o papel do cristianismo no reino franco e a sua importância para a reorganização europeia nos século VIII e IX, com uma Igreja cada vez mais local;
3. compreenderá que existem práticas simbólicas que assumem grande papel social como as esfinges nas moedas ou o Juramento de Fidelidade;
4. conhecerá um pouco da relação entre muçulmanos e cristãos na Europa.
A região das Gálias configura um dos últimos espaços conquistados pelos romanos. Seus limites são os Pirineus, na Península Ibérica; os Alpes, no norte da Itália; e o rio Elba, a leste. Esta foi a região que deu notoriedade ao conquistador Júlio César.
No século V, ocorre uma grande migração de Hunos, que foram contidos por uma associação de Francos e Visigodos no território das Gálias. Uma vez tendo a vitória sobre os Hunos, ocorrem uma série de acordos entre romanos e esses grupos que os apoiaram, que seriam, entre os chamados de bárbaros, os mais importantes e significativos.
Temos uma batalha importante, na altura da cidade de Vouillé. Nessa batalha, os visigodos se retiram e ocupam a Península Ibérica, e o domínio Franco se estende do norte das Gálias até o Litoral do mar do norte. É nesse domínio que eles vão dialogar diretamente com os novos povos que estão chegando: chamam atenção os Alamanos, os Saxões, os Turíngios e mais tarde, Normandos e Lombardos.
Este espaço das Gálias foi dominado definitivamente no século VI pelos Francos (hoje, França, Bélgica, Luxemburgo, Holanda, Suíça etc) Com o domínio carolíngio, há uma expansão desse território. São territórios dominados para além de Danúbio e que vão colocar o império carolíngio na fronteira do próprio império bizantino, cerca de três séculos depois.
Os Francos não são um grupo único, são uma confederação de grupos que vai tender a se aproximar, seja pela organização política, normalmente em torno de conselhos de Anciãos, seja pela estrutura, muitas vezes de negociação, uma vez que negociam em grupo com o próprio Império Romano. Durante o século IV, já com uma estrutura de batalha, esses grupos unem colisões diferentes e, em torno de uma figura que é escolhida, se direcionam para a batalha.
Esses grupos são aqueles que entendemos como Francos e em torno deles é que temos o espaço, o domínio Franco vivendo uma certa romanização, ou seja, a influência romana sobre a estrutura Franca. Quando os Francos combatem e vencem Átila, eles estavam sendo utilizados como exército romano. Era o próprio poder romano representado nas figuras de generais francos. Os Francos têm uma negociação, uma proximidade com os poderes romanos, estabelecidos nas Gálias, não na cidade de Roma.
Childerico, teoricamente, é o primeiro monarca da dinastia Merovíngia (conforme Gregório de Tours, que escreve a história dos Francos e que é a principal fonte que temos sobre a organização desse povo). É um bispo que, apesar de ter origem hispana, está inserido no reino Franco e vê o estabelecimento do domínio de uma tradição franca.
Se deixar em aberto, os Francos são bárbaros dominando a região onde se construiu um cuidadoso arcabouço para demonstrar que eles alcançaram a verdadeira fé e, então, passam a pertencer a civitas, aquilo que mais tarde entenderemos como ser civilizado. Se dá legitimidade ao poder, aquele reino existe e, tal qual o imperador romano, foi escolhido por Deus (Como Gregório de Tours escreve) Nessa época, não podemos usar o termo "povo", mas "aristocracia", tanto a de origem galo--romana presente anteriormente na região, como o aristocracia Franca, que dá uma liga para eles se organizarem. Quando o poder está legitimado, tudo fica mais fácil.
A mensagem chega pelos bispos à população mais simples. A religião é a do Gens, do grupo dos Francos (não povo). Gens Francorum é a hierarquia presente na organização franca, na qual havia um líder de uma região, e quem está em torno desse líder e da área que esse líder domina, o seguia, assim como o restante do grupo. A partir do momento em que se tem a conversão, tem-se a clareza da mistura do grupo com a população local.
O importante é a monarquia ser reconhecida. Temos, claramente,uma organização Franca, mas não temos a clareza de um reino Franco, como Gregório de Tours escreve em seu material. Ele vai caracterizar Childerico como um magisters-milito do próprio Império Romano, que vai ser sucedido por seu filho, Clóvis, à frente do poder. E Clóvis vai ter o cuidado e vai ser marcado por-estabelecer uma união político e militar dessa estruturação Franca. Teremos uma série de outras diferenças caindo frente ao governo de Clóvis. A vitória de Clóvis sobre os visigodos acaba sendo emblemática do poder militar do próprio Clóvis.
A partir de Clóvis, surge a preocupação em estabelecer uma série de leis de práticas de origem romana, para regular a vida social, tem-se uma aproximação muito clara com a Igreja. Ele não era seguidor de nenhuma linha cristã, ao inverso dos visigodos. Ele tem um momento simbólico que era, às vésperas da batalha contra os visigodos, fazer uma conversão pública. A conversão pública era ir até a cidade mais povoada, reunir os principais chefes militares e todos serem batizados publicamente. Isso não é um ato de fé, é um ato político que dá a real possibilidade de fortalecimento da estrutura social local, um ato político que nos permite entender que essa aproximação, essa busca em torno de Clóvis, faz com que a Igreja queira legitimar a figura do rei Franco. De bárbaro passa a se buscar uma origem, o primeiro grande rei medieval, que Clóvis defende ter origem divina. Dá-se um sentido à história, transforma-se Clóvis em um rei legítimo, os Francos organizam um novo império Romano, menor, mas bem estruturado.
A Igreja legitima e tem os principais intelectuais do período e essa intelectualidade vende, cria, constrói uma ideia de organização. O problema é que a Igreja cria a ideia de que Clóvis teria recriado a institucionalização do Império Romano. Quando olhamos esse documento, vemos que as principais rainhas organizam grandes mosteiros, vemos a figura de uma Igreja que, em determinados locais, não tem um senhor, o senhor é o próprio bispo de Roma. Ele é o governante da cidade. Ele é governante por ele ser nobre e, além de nobre, ele é bispo, o que dá uma dupla legitimidade, demonstrando que o reino Franco chega ao ponto perfeito pós-Clóvis.
Clóvis, ao morrer, divide o reino entre seus quatro filhos. Não é possível imaginar uma sucessão política em que há divisões entre os sucessores, quebra-se a unidade. A busca de Clóvis sempre foi unir os Francos. Certamente, Tours apresenta fatos muito mais romanos do que Francos, principalmente na sua estrutura. Tem uma série de práticas influenciadas pelo mundo romano, mas mantém também uma série de práticas e costumes localizados.
A primeira noção importante, antes da própria noção de partilha, é a relação de fidelidade "A relação é pessoal, uma vez jurado comigo, eu tenho responsabilidade com você e você tem responsabilidade comigo". Não é uma relação de grupo, não é o reino, é uma série de conflitos, uma teia de relações.
Os herdeiros se tornam senhores de uma determinada proporção, de um determinado palácio (moradia dos senhores, grandes centros, antigas áreas de dominus, senhores de terra. Espaço onde se tem, muitas vezes, o estacionamento de uma aristocracia, militar, de cobrança de impostos, uma área de pagamento) de um domínio. Falamos de um juramento de característica militar, uma partilha por regiões de domínio pela riqueza, não pelo tamanho territorial.
Quando se domina a Austrásia, mais ao norte, tem-se um território maior, por ser considerada uma região mais pobre do que o da Burgúndia, que é mais próxima ao Mediterrâneo, o território é bem menor. Não há a ideia de demarcação de fronteira, a não ser quando a fronteira é uma área rica. O monarca, no limite, é o senhor da terra. Quando se organiza uma frente de batalha, muitas vezes a garantia com outro é de uma outra terra que será dominada e que vai ser dele. Quando o outro guerreia em nome dele, sabe que há um juramento que deve ser cumprido e, se o outro não voltar, seus herdeiros receberão.
Essa noção é contraditória com o modelo de reino que a Igreja planta. O que se tem depois da chamada dinastia Merovingia, logo após Clóvis, são pelo menos três grandes reinos: Nêustria, Austrásia e Burgúndia. Três grandes reinos que muitas vezes entram em conflito, se aproximam e que, apesar de se reconhecerem como Francos, na prática, estão em plena disputa.
Com a chegada dos Francos, é preciso criar um diálogo entre o domínio militar e a população local, se não é impossível entender a criação de um governo. Os Francos, quando chegam, começam a se inserir dentro do modelo romano existente.
As principais casas aristocratas francas vão ser grandes proprietários de terras, senhores de muitos homens com uma capacidade militar. Há vários desses centros, dentro do que é o reino Franco Clóvis consegue trazer para si essas múltiplas vertentes e, a partir das próprias vitórias militares, garantir que novos grupos o apoiassem pela cessão de novas terras. Mas ainda que esses grupos francos o apoiassem, era o bispo que ia fazer a população local se aproximar. O bispo era alguém de alta hierarquia dentro daquela região, ele não vai ser ouvido por ser bispo, necessariamente, ele vai ser ouvido por ser um senhor de terras. Ele representa a autoridade regional, ele representa o diálogo com os grupos locais.
Quando falamos em legitimação, a partir do momento que temos essa aristocracia local, Franca, está sendo construída uma nova aliança, um novo modelo. Esse modelo seria Franco-Galo ou Franco-Romano. O papel da Igreja nesse novo reino é ser o interlocutor para falar com o restante da população. O poder político vai ter que garantir a legitimidade da Igreja, para que o bispo seja reconhecido como autoridade e legitime o Rei, começando a conversar com a aristocracia.
A Igreja representava não só a Igreja, representava a elite local, e era responsável pelo diálogo com essas novas elites militares, para que se possa construir uma nova política, um novo reino fora do mundo romano.
Esse regnum vai ser uma mistura romana e franca. A relação principal está na fidelidade, na relação pessoal. Para resolver isso, a Igreja dá legitimidade ao juramento de fidelidade, que é feito na presença do bispo.
A Igreja se apoia no poder local e esse poder, para aumentar sua legitimidade com a população local, se aproxima da Igreja. Esta, por sua vez, por conta da tradição romana, representa uma elite intelectual local muito forte, muito importante. É uma troca de legitimidade.
Todo processo é vivo, as tradições são misturadas, mais do que isso, a partir do momento em que a Igreja se torna um foco importante de poder ela não é só um poder local, ela começa a receber uma série de bispos francos naquele primeiro momento. Depois ela vem se tornando um conjunto homogêneo, nunca como uma homogeneidade total, mas bem próxima do que tinha anteriormente no império romano.
Quando vocês estudam a formação do Islão, em especial o momento da sua expansão político-militar durante a dinastia dos Omíadas, notamos que as principais áreas ocidentais de conquista estão no entorno do Mediterrâneo. Clique aqui: https://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=87
Os territórios de tradição romana como Norte da África, sul da Itália e parte da Península Ibérica são agora domínios islâmicos. Segundo Pirene, durante este período o mundo teria presenciado um processo de interiorização da política europeia e um abandono do Mediterrâneo. Neste sentido, por exemplo, o eixo de poder no mundo Franco teria abandonado a cidade de Arlés e Tolouse, passando a se concentrar em Paris.
Não precisamos acreditar plenamente na proposição de que Pirene defende que este aspecto se dá pela impossibilidade de comercialização no Mediterrâneo, pois com um estudo um pouco mais aprofundado notamos que o comércio europeu medieval mediterrânico não foi extinto, continuou a ser feito tendo entre seus agentes muçulmanos, judeus e cristãos.
 
Lembrando do contexto no século VIII
Reino visigodo foi dominado e vencido pelo Islão, tornando-se a partir

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