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SUMÁRIO 1. Órgãos linfáticos ........................................................ 3 2. Timo ................................................................................ 4 3. Linfonodos ..................................................................12 4. Baço ..............................................................................19 5. Tecido linfoide associada à mucosa (malt) ....26 Referências bibliográficas ........................................31 3ÓRGÃOS LINFÁTICOS 1. ÓRGÃOS LINFÁTICOS Ao longo de toda a história, tem sido observado que pessoas que se re- cuperam de determinadas doenças, tais como varíola, sarampo e caxum- ba, tornam-se resistentes (imunes) à mesma doença. Outra observação feita há muito tempo é a de que a imu- nidade é específica, isto é, a imunida- de à varíola não impede a infecção do sarampo. Atualmente, sabemos tam- bém que o sistema imune pode reagir contra ele próprio, causando doenças autoimunes, como lúpus eritematoso, anemia hemolítica autoimune, alguns tipos de diabetes mellitus e tireoidite autoimune (tireoidite de Hashimoto). O sistema linfático consiste em gru- pos de células, tecidos e órgãos que monitoram as superfícies do corpo e os compartimentos de líquidos internos, reagindo à existência de substâncias potencialmente pre- judiciais. Os linfócitos constituem o tipo celular determinante do sis- tema linfático, pois são eles as cé- lulas efetoras na resposta do sistema imune a substâncias nocivas ao orga- nismo. Os vários órgãos linfáticos e tecidos linfáticos são frequentemen- te referidos, em seu conjunto, como sistema imune. Os vasos linfáticos conectam partes do sistema imune ao sistema circulatório sanguíneo. Os tecidos linfáticos atuam como lo- cais em que os linfócitos proliferam, diferenciam-se e amadurecem. Além disso, no timo, na medula óssea e no tecido linfático associado ao intestino (GALT), os linfócitos são “ensinados” a reconhecer e a des- truir antígenos específicos. Nesse estágio do desenvolvimento, são cé- lulas imunocompetentes que têm a capacidade de distinguir entre o “pró- prio” (moléculas geralmente presen- tes dentro de um organismo) e o “não próprio” (moléculas estranhas, as que geralmente não estão presentes no organismo). O sistema imunitário é formado por estruturas individualizadas, como nódulos linfáticos, linfonodos e baço, e por células livres, como linfócitos, granulócitos e células do sistema mo- nonuclear fagocitário, existentes no sangue, na linfa e no tecido conjun- tivo. As células do sistema imunitá- rio se comunicam entre si e com as células de outros sistemas, principal- mente por intermédio de moléculas proteicas denominadas citocinas. O sistema imune é responsável pela de- fesa do organismo contra microrga- nismos e moléculas estranhas. Após identificar os agressores, o sistema imunitário coordena a inativação ou a destruição deles. Ocasionalmente, o sistema imunitário pode reagir contra moléculas do próprio organismo, cau- sando as doenças autoimunes. O sistema linfoide é responsável pela defesa imunológica do corpo. Alguns de seus órgãos componen- tes como os linfonodos, nódulos 4ÓRGÃOS LINFÁTICOS linfáticos, timo e baço, são envolvi- dos por uma cápsula de tecido con- juntivo, enquanto que outros compo- nentes, membros do sistema linfoide difuso, não são encapsulados. As cé- lulas do sistema linfoide protegem o corpo contra macromoléculas es- tranhas, vírus, bactérias e outros microrganismos invasores, e elas também destroem células transfor- madas por vírus. Os órgãos linfoides são classificados em duas categorias: • Órgãos linfoides primários (cen- trais): responsáveis pelo desen- volvimento e pela maturação dos linfócitos, tornando-os células ma- duras e imunocompetentes (exem- plo: medula óssea, fígado fetal e timo). • Órgãos linfoides secundários (periféricos): responsáveis pelo ambiente adequado no qual as cé- lulas imunocompetentes podem reagir umas com as outras, assim como com antígenos e outras cé- lulas, para montarem uma respos- ta imunológica contra antígenos ou agentes patogênicos invasores (exemplo: nódulos linfáticos, linfo- nodos, baço e tecidos linfoides as- sociados às mucosas). 2. TIMO O timo é um órgão linfoide primário situado no mediastino superior e se estendendo por sobre os grandes va- sos do coração. É um pequeno órgão encapsulado composto por dois lo- bos, que serve como local de matu- ração dos linfócitos T. Os linfócitos T originados do mesoderma penetram o timo e são conduzidos a se torna- rem imunologicamente competentes. O timo origina-se precocemente no embrião e continua a crescer até a puberdade, quando pode pesar de 35 a 40 g. Após os primeiros anos de vida, o timo começa a involuir (atrofiar) e torna-se infiltrado por células adiposas. Entretanto, ele pode continuar a funcionar até mes- mo em adultos idosos. Da cápsula do timo, composta por tecido conjuntivo denso não mode- lado, partem septos que penetram os lobos subdividindo-os em lóbulos in- completos. Cada lóbulo é constituído por um córtex e uma medula, embora o córtex e a medula de lóbulos adja- centes sejam confluentes. Ao contrário dos outros órgãos linfá- ticos, o timo não apresenta nódulos. Cada lóbulo é formado de uma parte periférica, denominada zona corti- cal, que se cora mais fortemente pela hematoxilina, por ter maior concen- tração de linfócitos e envolve a parte central, mais clara, a zona medular, onde encontram-se os corpúsculos de Hassall. A cortical e a medular têm os mesmos tipos celulares, porém em proporções diferentes. 5ÓRGÃOS LINFÁTICOS Córtex Histologicamente, o córtex do timo tem um aspecto muito mais escuro do que a medula, por causa da presença de um grande número de linfócitos T (timócitos). As células T imunolo- gicamente incompetentes deixam a medula óssea e migram para a pe- riferia do córtex do timo, onde elas proliferam intensamente e são instru- ídas a tornarem-se células T imuno- competentes. Além dos linfócitos, o córtex contém macrófagos e células reticulares epiteliais. Figura 2. Zona cortical do timo. As células reticulares epiteliais podem ser identificadas por seus núcleos claros (seta). Fonte: Sanarflix. As células reticulares epiteliais, ao contrário das mesenquimatosas, não produzem fibras reticulares, de modo que o retículo existente no timo e em cujas malhas os linfócitos T proliferam e se diferenciam é formado exclusiva- mente por prolongamentos celulares unidos por desmossomos. Elas apre- sentam núcleos grandes, cromatina Figura 1. Fotomicrografia de um corte de timo, que mostra os lóbulos. Em dois lóbulos podem ser vistas a zona medu- lar, clara, e a zona cortical, escura. No canto superior esquerdo aparecem cortes de vaso sanguíneo e de tecido conjun- tivo. Fonte: Sanarflix. 6ÓRGÃOS LINFÁTICOS fina e citoplasma com numerosos prolongamentos que se ligam aos das células adjacentes, por desmos- somos. Podem apresentar grânulos semelhantes aos de secreção e feixes de filamentos intermediários cons- tituídos de queratina (tonofibrilas), o que evidencia a origem epitelial des- sas células. As células reticulares epiteliais for- mam uma camada por dentro do te- cido conjuntivo da cápsula e septos; formam o retículo da cortical e da medular, onde se multiplicam e dife- renciam os linfócitos T; formam uma camada em torno dos vasos sanguí- neos do parênquima tímico; e cons- tituem os corpúsculos de Hassall, já mencionados, que são encontrados exclusivamente na medular do timo. Três tipos de células reticulares epi- teliais estão presentes no córtex do timo: • Células do tipo I: separam o cór- tex da cápsula de tecido conjunti- vo e das trabéculas, e envolvem os elementos vasculares do córtex. Estas células formam junções de oclusão, isolando completamen- te o córtex do timo do restante do corpo. Os núcleos são polimorfos e têm um nucléolo bem definido. • Células do tipo II: estão localiza- das no córtex intermediário.Estas células têm longos prolongamen- tos largos, que formam junções do tipo desmossomos. Estes pro- longamentos formam um retículo celular que subdivide o córtex do timo em pequenos compartimen- tos cheios de linfócitos. Os núcleos são grandes, palidamente cora- dos e com pouca heterocromatina. O citoplasma também é claro e é muito rico em tonofilamentos (fila- mentos de citoqueratinas). • Células do tipo III: estão localiza- das no córtex profundo e na jun- ção córtico-medular. O citoplasma e os núcleos destas células são mais densos do que os das células reticulares epiteliais dos tipos I e II. O RER apresentam cisternas dila- tadas, o que é indicativo de síntese proteica. As células reticulares epi- teliais do tipo III também têm pro- longamentos largos, que formam compartimentos cheios de linfó- citos. Estas células participam na formação de junções de oclusão umas com as outras e com célu- las reticulares epiteliais da medula; isto isola o córtex da medula. 7ÓRGÃOS LINFÁTICOS Estes três tipos de células reticulares epiteliais isolam completamente o cór- tex do timo e, desta maneira, impedem as células T em desenvolvimento de entrarem em contato com antígenos estranhos. As células dos tipos II e III, assim como as células interdigitantes derivadas da medula óssea (APCs), também apresentam antígenos pró- prios, moléculas do MHC da classe I e moléculas do MHC da classe II para as células T em desenvolvimen- to. Os linfócitos T em desenvolvimen- to cujos TCRs reconhecem proteínas próprias, ou cujas moléculas CD4 ou CD8 não são capazes de reconhecer as moléculas do MHC da classe I ou do MHC da classe II, sofrem apopto- se antes de poderem deixar o córtex. É interessante observar que 98% das células T em desenvolvimento morrem no córtex e são fagocitadas pelos macrófagos residentes, que são denominados macrófagos de corpo tingível. As células sobreviventes pe- netram a medula do timo como linfó- citos T virgens e de lá (ou da junção corticomedular) são distribuídos para os órgãos linfoides secundários atra- vés do sistema vascular. As células T em desenvolvimento no timo proliferam intensamente no cór- tex, começam a expressar seus mar- cadores de superfície, e são testadas para a sua habilidade de reconhecer moléculas do MHC próprias e epí- topos próprios. As células que são incapazes de reconhecer as molécu- las do MHC das classes I e II próprias são destruídas através de apoptose. Além disso, também são destruídos aqueles linfócitos cujos TCRs foram Linfócitos DesmossomoCélula reticular epitelial Figura 3. Desenho da cortical do timo, com base em micrografias eletrônicas. Os longos prolongamentos das células reticulares epiteliais se prendem por desmossomos e se estendem entre os linfócitos. Fonte: Sanarflix. 8ÓRGÃOS LINFÁTICOS programados contra macromoléculas próprias. Acredita-se que o processo de testagem dos linfócitos para mo- léculas do MHC próprias e epítopos próprios seja uma função das células reticulares epiteliais tipos II e III e das células dendríticas derivadas da me- dula óssea, pois estes três tipos ce- lulares expressam em sua superfície ambas as classes dos complexos de moléculas epítopo-MHC. As células reticulares epiteliais do timo produzem pelo menos quatro hormô- nios que são necessários para a ma- turação das células T. Provavelmen- te estes são hormônios parácrinos, atuando a curta distância, embora se acredite que alguns sejam liberados na corrente sanguínea. Estes hor- mônios incluem timosina, timopo- etina, timulina e o fator tímico hu- moral, e eles facilitam a proliferação das células T e a expressão de seus marcadores de superfície. Além dis- so, hormônios provenientes de fontes extra-tímicas, especialmente das gô- nadas, hipófise, tireoide e suprarrenal, influenciam a maturação das células T. Os efeitos mais potentes são cau- sados por adrenocorticosteróides, os quais diminuem o número de células T no córtex do timo; tiroxina, a qual estimula as células reticulares epite- liais corticais a aumentarem a produ- ção de timulina; e somatotrofina, que promove o desenvolvimento de célu- las T no córtex do timo. CORRELAÇÕES CLÍNICAS: Alguns indivíduos podem apresentar uma inca- pacidade congênita de desenvolvimento do timo, conhecida como síndrome de DiGeorge. Nela, os pacientes não são capazes de produzir células T. Por este motivo, a resposta imunológica de base celular não é funcional, e estes pacientes morrem com pouca idade por causa de infecção. Como estes pacientes também não possuem as glândulas paratireoi- des, a morte também pode ser causada por tetania. Medula A medula do timo é caracteriza- da pela presença dos corpúsculos de Hassall, estrutura com diâmetro de 30 a 150 μm formados por célu- las reticulares epiteliais, organizadas em camadas concêntricas unidas por numerosos desmossomos. Algu- mas dessas células, principalmente as mais centrais, podem degenerar e morrer, deixando restos celulares que se podem calcificar. Todos os timóci- tos da medula são células T imuno- competentes. A medula do timo co- ra-se muito menos intensamente do que o córtex porque sua população de linfócitos não é tão abundante e porque contém um grande número de células reticulares epiteliais deri- vadas do endoderma Existem três tipos de células reticula- res epiteliais na medula: • Células do tipo IV: são encontra- das em íntima associação com as 9ÓRGÃOS LINFÁTICOS células do tipo III do córtex e par- ticipam da formação da junção corticomedular. Os núcleos destas células têm uma malha grossei- ra de cromatina, e seu citoplas- ma se cora fortemente e é rico em tonofilamentos. • Células do tipo V: formam o retí- culo celular da medula. Os núcleos destas células são polimorfos, com uma malha de cromatina perinu- clear bem definida e um evidente nucléolo. • Células do tipo VI: constituem a característica mais típica da medu- la do timo. Estas células grandes, palidamente coradas, coalescem umas em torno das outras, for- mando os corpúsculos tímicos (ou corpúsculos de Hassall) cujo número aumenta com a idade da pessoa. As células do tipo VI po- dem tornar-se altamente querati- nizadas e até mesmo calcificadas. Ao contrário das células reticulares epiteliais dos tipos IV e V, as cé- lulas reticulares epiteliais tipo VI podem ser de origem ectodérmica. A função dos corpúsculos tímicos é desconhecida, embora eles pos- sam ser o local de morte dos linfó- citos T na medula. Figura 4. Fotomicrografia de um timo humano. A. O córtex contém uma população densa de pequenas células T em fase de maturação, produzindo uma coloração escura nessa região. Em contraste, a medula aparece mais clara. A medula também contém os corpúsculos tímicos que se coram com eosina. B. Medula com um corpúsculo tímico (à esquerda) e células circundantes. Os corpúsculos tímicos são massas isoladas de células epiteliais do tipo VI de disposição concêntrica, densamente acondicionadas; essas células exibem núcleos achatados. A massa mais central do corpúsculo contém células queratinizadas. Além dos numerosos linfócitos, a micrografia também mostra células reticulares epiteliais V (setas), com seu citoplasma eosinofílico e grandes núcleos de coloração pálida. . Fonte: ROSS, M. H.; PAWLINA, W. Histologia: texto e atlas em correlação com a biologia celular e molecular. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 10ÓRGÃOS LINFÁTICOS Vascularização O suprimento vascular do córtex for- ma uma barreira hemato-tímica mui- to poderosa que impede as células T em desenvolvimento de entrarem em contato com as macromoléculas pre- sentes no sangue. O timo recebe numerosas artérias pequenas, que se ramificam e apro- fundam-se no órgão através das tra- béculas presentes entre os lóbulos adjacentes. Ramos destes vasos não têm acesso direto ao córtex; em vez disso, das trabéculas eles penetram a junção corticomedular, onde for- mam leitos capilares que penetram no córtex. Essasarteríolas formam capilares não fenestrados com lâmina basal espessa revestida por uma bainha de células reticulares epiteliais tipo I que forma uma barreira hemato- tímica, presentes apenas na zona cortical. Desta maneira, as células T em desenvolvimento do córtex são protegidas de entrar em contato com macromoléculas estranhas presentes no sangue. Entretanto, as macromo- léculas próprias do organismo podem atravessar a barreira hematotímica (provavelmente controlada pelas cé- lulas reticulares epiteliais), possivel- mente para eliminar aquelas células T programadas contra antígenos pró- prios. A rede de capilares que entram na cortical, ramificam-se e anatomi- zam-se, depois descrevem um arco, dirigindo-se para a medular, onde de- sembocam em vênulas. As vênulas da medular confluem para formar veias que penetram os sep- tos conjuntivos e saem do timo pela cápsula do órgão. O timo não con- tém vasos linfáticos aferentes e não constitui um filtro para a linfa, como ocorre nos linfonodos. Os poucos va- sos linfáticos encontrados no timo são todos eferentes e localizam-se nas paredes dos vasos sanguíneos e no tecido conjuntivo dos septos e da cápsula do órgão. As células T recém-formadas, imu- nologicamente incompetentes, de- rivadas da medula óssea, deixam os vasos sanguíneos na junção corti- comedular e migram para a periferia do córtex. Quando estas células se tornam maduras, elas se deslocam para o córtex mais profundo e pene- tram a medula como células virgens, mas imunocompetentes. Elas deixam a medula através das veias que dre- nam o timo. 11ÓRGÃOS LINFÁTICOS SE LIGA! O timo alcança seu desenvol- vimento máximo no feto a termo e no re- cém-nascido e cresce até a puberdade, quando se inicia sua involução. A invo- lução relacionada com a idade começa pela zona cortical, que, pouco a pouco, torna-se mais delgada. As células reti- culares epiteliais e os corpúsculos de Hassall são mais resistentes à involu- ção do que os linfócitos. O timo involui, mas não desaparece totalmente, sendo constituído em idade avançada por cé- lulas reticulares, corpúsculos de Hassall, alguns linfócitos e grande quantidade de tecido conjuntivo e adiposo. Figura 5. Diagrama esquemático da barreira hematotímica. A barreira he- matotímica consiste em três elementos principais: o endotélio capilar e sua lâmina basal; o tecido conjuntivo perivascular povoados por macrófagos; e as células reticulares epiteliais do tipo I com suas lâminas basais. Fonte: ROSS, M. H.; PAWLINA, W. Histologia: texto e atlas em correlação com a biologia celular e molecular. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanaba- ra Koogan, 2016. Figura 6. Corte do timo de uma pessoa idosa. O pa- rênquima foi quase inteiramente substituído por tecido adiposo. Fonte: Sanarflix. 12ÓRGÃOS LINFÁTICOS 3. LINFONODOS Os linfonodos ou gânglios linfáti- cos são pequenos órgãos encapsula- dos e ovais, interpostos no trajeto dos vasos linfáticos, que servem como filtros para a remoção de bactérias e outras substâncias estranhas. Os linfonodos estão localizados em várias regiões do corpo, mas são mais frequentes no pescoço, nas axilas, nas virilhas, ao longo dos grandes vasos e nas cavidades do corpo. Seu parênquima é constituí- do por coleções de linfócitos T e B, APCs e macrófagos. Estas células reagem à presença de antígenos através da montagem de uma res- posta imunológica na qual macró- fagos fagocitam bactérias e outros microrganismos que chegam ao linfonodo através da linfa. MAPA: TIMO TIMO Maturação dos linfócitos T Células reticulares epiteliais Barreira hematotímica Involução Medula Localização Córtex Células tipo II Células tipo III Células tipo I Corpúsculos de Hassall Substituição por tecido adiposo e fibroso Idade avançada Mediastino superior 13ÓRGÃOS LINFÁTICOS São órgãos macios, relativamente pe- quenos, com menos de 3 cm de di- âmetro, e que têm uma cápsula de tecido conjuntivo fibroso, geralmente envolvida por tecido adiposo. Como acontece no tecido linfático em geral, o parênquima do órgão é sustentado por um arcabouço de células reticu- lares e fibras reticulares, sintetizadas por essas células. Em geral têm a for- ma de rim e apresentam um lado con- vexo perfurado pelos vasos linfáticos aferentes, dotados de valvas, que garantem que a linfa vinda dos vasos entre no linfonodo; e o outro com su- perfície côncava, o hilo, local em que as artérias e as veias entram e saem do linfonodo. Além disso, a linfa sai do linfonodo através dos vasos lin- fáticos eferentes, que também estão localizados no hilo. Os vasos linfáticos eferentes têm valvas que previnem o refluxo da linfa para o linfonodo. Figura 7. Estrutura de um linfonodo. A. Diagrama mostra as características gerais de um linfonodo como visto em um corte histológico. B. Fotomicrografia de um linfonodo em uma preparação corada pela H&E. Fonte: ROSS, M. H.; PAWLINA, W. Histologia: texto e atlas em correlação com a biologia celular e molecular. 7. ed. Rio de Janeiro: Guana- bara Koogan, 2016. CORRELAÇÕES CLÍNICAS: Na pre- sença de antígenos ou bactérias, os linfócitos do linfonodo proliferam rapi- damente e o linfonodo pode aumentar várias vezes seu tamanho normal, tor- nando-se duro e palpável ao toque. Os linfonodos filtram a linfa em senti- do unidirecional e atuam como locais de reconhecimento de antígenos. À medida que a linfa entra no linfonodo, a velocidade de seu fluxo é reduzida, o que dá aos macrófagos residentes nos seios (ou que têm prolongamentos 14ÓRGÃOS LINFÁTICOS que penetram nele) mais tempo para fagocitar partículas estranhas. Desta maneira, 99% das impurezas presen- tes na linfa são removidas. Os linfonodos também funcionam como locais de reconhecimento de antígenos, porque as APCs que en- tram em contato com antígenos mi- gram para o linfonodo mais próximo e apresentam seu complexo epítopo- -MHC aos linfócitos. Além disso, an- tígenos que circulam pelos linfonodos são capturados pelas células den- dríticas foliculares, e linfócitos que estão presentes no linfonodo, ou que migram para o linfonodo, reconhecem o antígeno. Se um antígeno é reconhecido e uma célula B torna-se ativada, esta célula B migra para um nódulo linfoide pri- mário e prolifera, formando um cen- tro germinativo, e o nódulo linfoide primário passa a ser denominado nó- dulo linfoide secundário. As células recém-formadas se diferenciam em células B de memória e plasmócitos, saem do córtex e formam os cordões medulares. Cerca de 10% dos plas- mócitos recém-formados permane- cem na medula e liberam anticorpos os seios medulares. Os plasmócitos restantes penetram os seios e vão para a medula óssea, onde eles continuam a produzir anti- corpos até morrerem. Algumas célu- las B de memória permanecem nos nódulos linfoides primários do córtex, mas a maioria deixa o linfonodo e passa a residir em outros órgãos lin- foides secundários do corpo. Por isso, quando ocorre uma segunda exposi- ção ao mesmo antígeno, um grande número de células de memória está disponível, de modo que o corpo pos- sa montar uma resposta secundária imediata e potente. CORRELAÇÕES CLÍNICAS: Os lin- fonodos estão localizados ao longo do caminho dos vasos linfáticos e formam uma cadeia de linfonodos, de modo que a linfa flui de um linfonodo para o seguinte. Por esta razão, uma infecção pode espalhar-se e células malignas podem estabelecer metástases através de uma cadeia de linfonodos em regiões distantes do corpo. O parênquima do linfonodo apresenta a região cortical, que se localiza abai- xo da cápsula, ausente apenas no hilo, e a região medular, que ocupa o centro do órgão e o seu hilo. Entre es- sas duas regiões encontra-se a cor- tical profunda ou região paracortical. A região cortical superficial é consti- tuída por tecido linfoide frouxo, que forma os seios subcapsulares e peri- trabeculares, e por nódulos ou folícu- los linfáticos (condensações esféricas de linfócitos). Todas as trêsregiões têm abundantes espaços dilatados revestidos por células reticulares, que formam um revestimento seme- lhante a um endotélio, através dos quais a linfa circula; estes espaços 15ÓRGÃOS LINFÁTICOS são caracterizados como os seios do linfonodo. Córtex O córtex do linfonodo é subdividi- do em compartimentos que abrigam nódulos linfoides primários e secun- dários, ricos em linfócitos B. A cáp- sula, constituída por tecido conjun- tivo denso não modelado, envia trabéculas para o tecido linfoide do linfonodo, subdividindo a região ex- terna do córtex em compartimentos incompletos, que se estendem até as proximidades do hilo. Os vasos linfáticos aferentes perfu- ram a superfície convexa da cápsula do linfonodo e lançam a linfa no seio subcapsular, que está localizado logo abaixo da cápsula. Este seio é contí- nuo com os seios corticais (seios peritrabeculares ou corticais), que são paralelos às trabéculas, e destes a linfa vai para os seios medulares, e finalmente entra nos vasos linfáticos eferentes. Estes seios são formados por tecido linfoide frouxo, que pos- suem uma rede de células reticulares estreladas cujos prolongamentos es- tão em contato com os de outras cé- lulas e um revestimento semelhante a um endotélio. Os macrófagos, liga- dos às células reticulares estreladas, fagocitam avidamente partículas es- tranhas. Além disso, as células linfoi- des podem entrar ou sair dos seios passando por entre as células reticu- lares que os revestem. Figura 8. Corte de linfonodo que mostra a estrutura do córtex, com seus nódulos linfáticos, e a estrutura da medula, onde podem ser vistos os cordões e os seios medulares. Fonte: Sanarflix. Nódulos linfáticos Existem dois tipos de nódulos ou fo- lículos linfoides: primário e secundá- rio. Os compartimentos incompletos dentro do córtex contêm nódulos lin- foides primários, os quais são agre- gados esféricos de linfócitos B (tanto células B virgens quanto células B de memória) que estão em processo de entrada ou saída do linfonodo. Fre- quentemente, os centros dos nódulos linfoides são mais palidamente cora- dos e contêm os centros germina- tivos, e estes nódulos linfoides são então denominados nódulos linfoi- des secundários. Estes formam-se somente em resposta a um estímulo antigênico; acredita-se que eles se- jam locais onde são gerados os linfó- citos B de memória e os plasmócitos. A região do nódulo linfoide periférica ao centro germinativo é constituída 16ÓRGÃOS LINFÁTICOS por um acúmulo denso de pequenos linfócitos que estão migrando do seu local de origem dentro do centro ger- minativo. Esta região periférica é de- nominada coroa (ou manto). Os centros germinativos apresentam três zonas: uma zona escura, uma zona basal clara e uma zona apical clara. A zona escura é o local de in- tensa proliferação das células B in- timamente compactadas (que não possuem Igs). Estas células, denomi- nadas centroblastos, migram para a zona basal clara, expressam Igs, mudam a classe de imunoglobulinas e são denominadas centrócitos. Estas células são expostas às células dendríticas foliculares, portadoras de antígenos e sofrem uma hipermu- tação, tornando-se mais proficientes na formação de anticorpos contra o antígeno. As células que não sinteti- zam as Igs adequadas são forçadas a entrar em apoptose e são destruídas pelos macrófagos. Os centrócitos re- cém-formados autorizados a sobrevi- ver entram na zona apical clara, onde se tornam células B de memória ou plasmócitos e, subsequentemente, saem do folículo secundário. Paracórtex A região do nódulo linfoide entre o córtex e a medula é o paracórtex. Ele contém principalmente células T e é a zona timo-dependente do linfono- do. As APCs (exemplos: células de Langerhans da pele ou células den- dríticas das mucosas) migram para a região paracortical do linfonodo para apresentar seu complexo epítopo- -MHC classe II para as células TH. Quando as células TH se tornam ati- vadas, elas proliferam, aumentando a largura da zona paracortical a tal ponto que esta pode avançar pro- fundamente na medula. As células T recém-formadas migram para os seios medulares, saem do linfonodo e dirigem-se para a área de atividade antigênica. As vênulas de endotélio alto (HEVs) estão localizadas no paracórtex. Os linfócitos saem dos vasos sanguíneos migrando por entre as células cuboi- des deste endotélio incomum e en- tram no tecido linfoide do linfonodo. As células B migram para o córtex externo, enquanto as células T per- manecem no paracórtex. A membrana plasmática dos linfóci- tos expressa moléculas de superfície, denominadas selectinas, que auxi- liam a célula no reconhecimento das células endoteliais das HEVs e permi- tem o rolamento ao longo da superfí- cie destas células. Quando o linfócito entra em contato com as moléculas sinalizadoras adicionais que estão localizadas na membrana plasmáti- ca da célula endotelial, as selectinas tornam-se ativadas, ligando-se fir- memente à célula endotelial e inter- rompendo a ação de rolamento do lin- fócito. Então, através de diapedese, o 17ÓRGÃOS LINFÁTICOS linfócito migra entre as células endo- teliais cuboides para sair do lúmen de uma vênula pós-capilar e entrar no parênquima do linfonodo. Figura 9. Vênula de endotélio alto de um linfonodo. As pontas de seta indicam as células endoteliais altas (cuboides). Diversos linfócitos estão atravessando a parede da vênula (setas). Fonte: Sanarflix. Medula A medula é constituída por seios lin- fáticos largos e tortuosos, envolvidos por um tecido linfoide difuso rico em linfócitos B organizado em grupos denominados cordões medulares. As células dos cordões medulares (linfócitos, plasmócitos e macrófagos) estão emaranhadas em uma rede de fibras reticulares e células reticulares. Os linfócitos migram do córtex para os seios medulares, de onde eles entram nos vasos linfáticos eferentes e saem do linfonodo. Cortes histoló- gicos da medula também mostram a presença de trabéculas, originadas da cápsula espessa do hilo, contendo vasos sanguíneos que entram e saem do linfonodo. Figura 10. Medular de um linfonodo. Os seios medula- res ficam separados pelos cordões medulares. Fonte: Sanarflix. Vascularização Os vasos arteriais entram no parên- quima do linfonodo através do hilo. Estes vasos percorrem toda a medu- la dentro de trabéculas e tornam-se menores à medida que se ramificam repetidas vezes. Finalmente, eles perdem sua bainha de tecido conjuntivo, penetram o te- cido linfoide dos cordões medulares e contribuem para a formação dos lei- tos capilares da medula. Os peque- nos ramos das artérias permanecem nos cordões medulares até alcança- rem o córtex. No córtex eles formam um leito de capilares corticais, que é drenado pelas vênulas pós-capila- res (HEVs). O sangue das vênulas pós-capilares é drenado para veias maiores, que saem do linfonodo pelo hilo. 18ÓRGÃOS LINFÁTICOS MAPA: LINFONODOS Tecido conjuntivo denso não modelado Nódulos linfáticos Tecido linfoide frouxo Córtex LINFONODOS Filtros para a remoção de bactérias e outras substâncias estranhas Vascularização Localização Medula Cordões medulares Seios medulares Vênulas pós-capilares (HEVs) Pescoço Axilas Ao longo dos grandes vasos Nas cavidades do corpo Virilhas Tecido linfoide difuso Ausência de nódulos linfáticos Região paracórtex Cápsula Superficial/externa Profunda/interna Secundário Zona escura Zona basal clara Zona apical clara Vênulas de endotélio alto (HEVs) Primário Centro germinativo 19ÓRGÃOS LINFÁTICOS 4. BAÇO O baço é o maior órgão linfoide do corpo. Localiza-se no peritônio, mais especificamente no quadrante supe- rior esquerdo da cavidade abdominal. Ele é revestido por uma cápsula de tecido conjuntivo fibroelástico não modelado, contendo ocasionalmente células musculares lisas. O epitélio simples pavimentoso do peritônio (mesotélio) fornece ao baço uma superfície lisa. As funções do baço não se limitamà capacidade imunológica de produção de anticor- pos e de proliferação de células T e B, mas ele também atua como um filtro para o sangue, destruindo hemácias velhas. O baço é o único órgão linfoide in- terposto na circulação sanguínea. Em virtude de sua riqueza em cé- lulas fagocitárias e do contato ín- timo entre o sangue e essas célu- las, representa um importante órgão de defesa contra microrganismos que penetram o sangue circulante e é também o principal órgão destrui- dor de eritrócitos (hemácias) des- gastados pelo uso. Por sua locali- zação na corrente sanguínea, o baço responde com rapidez aos antíge- nos que invadem o sangue, sendo um importante filtro fagocitário e imunológico para o sangue e gran- de produtor de anticorpos. Durante o desenvolvimento fetal, o baço é um órgão hematopoiético, e quando necessário, ele pode reassu- mir esta função no adulto. Além disso, em alguns animais (mas não em hu- manos), o baço atua como um reser- vatório de hemácias, as quais, quan- do necessárias, podem ser liberadas na circulação. O baço tem uma superfície convexa, assim como um lado côncavo, de- nominado hilo. A cápsula do baço é mais espessa no hilo, e este é o local por onde as artérias e as fibras nervo- sas que a acompanham entram, e de onde saem as veias e os vasos linfáti- cos esplênicos. As trabéculas que partem da cápsu- la conduzem vasos sanguíneos para dentro e para fora do parênquima esplênico. Histologicamente, o baço tem uma rede tridimensional de fi- bras reticulares e células reticulares associadas (tecido reticular), aderida à cápsula assim como às trabéculas, formando o arcabouço estrutural des- te órgão. Os interstícios da rede de tecido re- ticular são ocupados por capilares sinusóides esplênicos (seios veno- sos), por trabéculas contendo vasos sanguíneos e pelo parênquima esplê- nico conhecido como polpa esplêni- ca. O corte de um baço a fresco reve- la áreas acinzentadas (polpa branca) circundadas por áreas avermelhadas (polpa vermelha). O baço filtra o sangue, produz células linfoides, elimina ou inativa antígenos 20ÓRGÃOS LINFÁTICOS presentes no sangue, destrói plaque- tas e hemácias velhas, e participa da hematopoiese. As células linfoides são formadas na polpa branca em resposta a um estímulo antigênico. Figura 11. Corte de baço no qual se nota a cápsula, que envia trabéculas para o interior do órgão. A polpa branca, com suas arteríolas, está circundada por uma linha interrompida. Fonte: Sanarflix. Polpa branca A polpa branca é constituída pelo tecido linfático que constitui as bai- nhas linfoides periarteriais (BLPA) contendo células T e pelos nódulos linfáticos linfoides contendo células B que se formam por espessamen- tos dessas bainhas. Frequentemen- te, ao longo do trajeto das BLPA estão presentes nódulos linfoides, que são constituídos por células B, os quais se desenvolvem ao redor das ramifi- cações das artérias centrais, que são caracterizados como arteríolas cen- trais da polpa branca, os linfócitos B dos nódulos costumam deslocar a ar- teríola central para uma posição pe- riférica. Os nódulos linfoides podem apresentar centros germinativos, indicativos de estímulo antigênico. As BLPA e os nódulos linfoides consti- tuem a polpa branca, e como no linfo- nodo, as células T e B estão dispostas em localizações específicas. Entre a polpa branca e a polpa ver- melha existe uma zona mal delimita- da, constituída pelos seios marginais. Nesses seios encontram-se linfóci- tos, macrófagos e células dendrí- ticas interdigitantes (apresentado- ras de antígenos - APCs) que retêm e processam antígenos trazidos pelo sangue. A zona marginal que cir- cunda a polpa branca contém muitos antígenos transportados pelo san- gue e desempenha importante papel imunitário. Além disso, numerosos pequenos canais vasculares, os sinu- soide marginais, estão presentes na zona marginal, especialmente envol- vendo os nódulos linfoides. Delicados capilares sanguíneos, que se irradiam da arteríola central, dirigem-se para a polpa vermelha, retornam e lançam seu sangue nos seios marginais. Como os espaços entre as células endoteliais destes sinusoides podem ter de 2 a 3μm de largura, é aí que as células sanguíneas, os antígenos e o material particulado têm seu primeiro acesso livre ao parênquima esplênico. Assim, os seguintes eventos ocorrem na zona marginal: as APCs testam o material transportado pelo sangue, pesquisando por antígenos. Os ma- crófagos atacam microrganismos 21ÓRGÃOS LINFÁTICOS presentes no sangue. O conjunto circulante de linfócitos T e B deixa a corrente sanguínea e entra em seus locais preferenciais na polpa branca. Os linfócitos entram em contato com as células dendríticas interdigitantes; se elas reconhecem o complexo epí- topo-MHC, os linfócitos iniciam uma resposta imunológica dentro da polpa branca. As células B reconhecem e reagem contra os antígenos timo-in- dependentes (como os polissacaríde- os da parede de bactérias). Polpa vermelha A polpa vermelha do baço é consti- tuída por cordões esplênicos (de Bill- roth), separados por sinusoide esplê- nicos. O revestimento endotelial dos sinusoides (ou seios) esplênicos é incomum, pois suas células são fusi- formes. Além disso, são comuns es- paços (2 a 3 μm de largura) entre as células adjacentes. Os sinusoide são envolvidos por fibras reticulares que se enovelam ao seu redor. As fibras reticulares estão organizadas per- pendicularmente ao eixo longitudinal dos sinusoide e são recobertas por uma lâmina basal. Portanto, os sinu- soide esplênicos têm uma lâmina ba- sal descontínua. Os cordões esplênicos também chamados cordões de Billroth são constituídos por uma rede de tecido linfoide frouxo, com células reticulares e fibras reticulares, cujos interstícios são ocupados por elementos figura- dos do sangue extravasado. As fibras reticulares (formadas por colágeno do tipo III) estão envolvidas e isoladas do sangue por células reticulares es- treladas, impedindo que as plaque- tas reajam contra o colágeno (coa- gulação). Essa estrutura é constituída de outras células, como macrófagos, linfócitos B e T, plasmócitos, monóci- tos, leucócitos, granulócitos, além de plaquetas e eritrócitos, sendo os ma- crófagos particularmente numerosos nas vizinhanças dos sinusoide. Vascularização O baço é suprido pela artéria esplê- nica e é drenado pela veia esplêni- ca; ambos os vasos entram e saem do baço pelo hilo. A artéria esplênica se ramifica exponencialmente após atravessar a cápsula de tecido con- juntivo ao nível do hilo do baço. Os ramos destes vasos, as artérias tra- beculares, são conduzidos para o parênquima esplênico em trabécu- las que vão diminuindo de tamanho. Quando as artérias trabeculares têm o seu diâmetro reduzido a cerca de 0,2 mm, elas saem das trabéculas. A túnica adventícia destes vasos que deixam as trabéculas torna-se frou- xamente organizada e passa a ser in- filtrada por uma bainha de linfócitos, a bainha linfoide periarterial (BLPA ou PALS). Como este vaso ocupa o 22ÓRGÃOS LINFÁTICOS centro da BLPA, ele é denominado artéria central da polpa branca. Em seu término, a artéria central da polpa branca perde sua bainha lin- foide e se subdivide em vários ramos paralelos e curtos, denominados ar- teríolas penicilares, que penetram na polpa vermelha. As arteríolas pe- nicilares apresentam três regiões: as arteríolas da polpa, as arteríolas embainhadas (região espessada dos vasos envolvida por uma bainha de macrófagos, denominada bainha de Schweigger-Seidel), e os capilares arteriais terminais. Embora se saiba que os capilares ar- teriais terminais lançam sangue os sinusoide esplênicos, o modo de li- beração ainda não é completamen- te entendido, o que levou à formulação de três teorias da circulação esplênica: circula- ção fechada, circulação aber- ta e uma combinação das duas teorias. • Teoria da circulação fe- chada: acredita-se que o revestimento endotelial dos capilaresarteriais ter- minais é contínuo com o endotélio dos sinusoide. • Teoria da circulação aberta: acredita-se que os capilares arteriais ter- minais acabam antes de alcançar os sinusoide, e o sangue percola através da polpa vermelha antes de ir para os seios. • Combinação das duas teorias: alguns pesquisadores ainda acre- ditam que alguns vasos se conec- tam aos sinusoide e que outros va- sos terminam como canais abertos na polpa vermelha, sugerindo que o baço possui sistemas de circula- ção aberta e fechada. Os sinusoide esplênicos são drena- dos por pequenas veias da polpa, tributárias de veias cada vez maiores, que terminam se juntando e forman- do a veia esplênica, uma tributária da veia porta. 23ÓRGÃOS LINFÁTICOS Hemocaterese Os eritrócitos têm uma vida média de 120 dias e, quando envelheci- dos, são destruídos principalmente no baço. Esse fenômeno da remo- ção das hemácias em via de dege- neração é denominado hemocate- rese e ocorre também, embora com intensidade muito menor, na medula óssea. Há indicações de que a redu- ção da flexibilidade das hemácias e modificações de sua membrana se- jam os sinais para a destruição das hemácias envelhecidas. Os macrófa- gos destroem plaquetas envelheci- das e monitoram hemácias à medida que estas migram dos cordões esplê- nicos por entre as células endoteliais em direção aos sinusoides. Como as hemácias velhas perdem a sua fle- xibilidade (assim como as hemácias infectadas pelo plasmódio, o parasita Figura 12. Diagrama esquemático das circulações esplênicas aberta e fechada. Na circulação aberta, que ocorre nos humanos, as arteríolas peniciladas deságuam diretamente na rede reticular dos cordões, em vez de se conectarem com os seios esplênicos revestidos por endotélio. O sangue que entra na polpa vermelha passa então pelos cordões e fica exposto aos macrófagos que residem nesse local. Na circulação fechada, que ocorre em outras espécies, as arte- ríolas peniciladas desembocam diretamente nos seios esplênicos da polpa vermelha. Fonte: ROSS, M. H.; PAWLINA, W. Histologia: texto e atlas em correlação com a biologia celular e molecular. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 24ÓRGÃOS LINFÁTICOS da malária), elas não são mais capa- zes de passar pelos espaços entre as células endoteliais e são fagocitadas pelos macrófagos. Os fagócitos também monitoram a superfície da membrana dos eritró- citos, que são destruídas da seguinte maneira: as hemácias velhas perdem resíduos de ácido siálico de suas ma- cromoléculas de superfície, expondo resíduos de galactose. Os resíduos de galactose que são expostos na membrana da hemácia induzem sua fagocitose. As hemácias fagocita- das pelos macrófagos são destruídas dentro dos fagossomos. A hemoglo- bina é catabolizada em suas porções heme e globina. A porção de globina é dissociada em seus aminoácidos constituintes, que se tornam parte do conjunto de aminoácidos circulan- tes do sangue. As moléculas de fer- ro são transportadas para a medula óssea pela transferrina e são utiliza- das na formação de novos eritrócitos. O heme é convertido em bilirrubina e excretado pelo fígado na bile. Os macrófagos também fagocitam pla- quetas e neutrófilos danificados ou mortos. Durante o segundo trimestre da ges- tação, o baço participa ativamente na hematopoiese; entretanto, após o nascimento, a formação das células do sangue ocorre somente na medu- la óssea. Quando se torna necessá- rio, o baço pode retomar sua função hematopoiética. Figura 13. Fotomicrografia de cinco macrófagos do baço, que fagocitaram hemácias. As hemácias, visíveis no citoplasma dos macrófagos, estão em diferentes estágios de digestão. Fonte: Sanarflix. CORRELAÇÕES CLÍNICAS: Como o baço é um órgão friável (frágil), um gran- de trauma no quadrante abdominal su- perior esquerdo pode causar ruptura do baço. Em casos graves, o baço pode ser removido cirurgicamente, sem compro- meter a vida da pessoa. Os eritrócitos envelhecidos são então fagocitadas pe- los macrófagos do fígado e da medula óssea. 25ÓRGÃOS LINFÁTICOS MAPA: BAÇO Cápsula BAÇO Vascularização Polpa vermelha Localização Polpa branca Teoria da circulação fechada Combinação das teorias aberta e fechada Teoria da circulação aberta Células musculares lisas Fibras reticulares Tecido conjuntivo fibroelástico não modelado Nódulos linfáticos Seios marginais Bainhas linfoides periarteriais (BLPA) Tecido vermelho-escuro rico em sangue Cordões esplênicos (de Billroth) Hemocaterese Circulação Peritônio Fibras reticulares Células reticulares estreladas 26ÓRGÃOS LINFÁTICOS 5. TECIDO LINFOIDE ASSOCIADA À MUCOSA (MALT) O tecido linfoide associado à mu- cosa (MALT) é constituído de in- filtrados não encapsulados de te- cido linfoide difuso e de nódulos linfoides localizados nas mucosas dos tratos gastrointestinal, respi- ratório e geniturinário, os quais es- tão sujeitos a invasões microbianas frequentes, porque são expostos ao meio externo. Os melhores exemplos destes acúmulos são o tecido lin- foide associado ao tubo digestivo (GALT) o tecido linfoide associado aos brônquios (BALT) e as tonsilas (ou amídalas). A pele também apresenta muitas células do sistema imunitário, como linfócitos, macrófagos e células de Langerhans. O tecido linfático das mucosas e da pele está em posição estratégica para proteger o organismo contra patógenos do meio ambiente. Tecido linfóide associado ao tubo digestivo (GALT) O GALT é composto por folículos linfoides ao longo do comprimento do trato gastrointestinal, sendo sua maioria isolada uns dos outros, en- tretanto, no íleo, eles formam agre- gados linfoides denominados placas de Peyer. Os folículos linfoides das placas de Peyer são constituídos por células B envolvidas por uma região de tecido linfoide difuso contendo cé- lulas T e numerosas APCs. Embora o íleo seja revestido por um epitélio simples cilíndrico as regiões imediatamente adjacentes aos folícu- los linfoides são revestidas por células semelhantes a células pavimentosas, conhecidas como células M (células com micropregas). Acredita-se que as células M capturam antígenos e os transferem (sem processá-los em epítopos) para os macrófagos locali- zados nas placas de Peyer. As placas de Peyer não têm vasos linfáticos aferentes, mas elas têm drenagem linfática eferente. Elas re- cebem pequenas arteríolas que for- mam um leito capilar drenado por vênulas de endotélio alto (HEVs). Os linfócitos destinados a entrar nas pla- cas de Peyer têm receptores que in- dicam que seu destino específico são as HEVs do GALT. 27ÓRGÃOS LINFÁTICOS Figura 14. O corte do intestino delgado (íleo) mostra parte de uma placa de Peyer. Da direita para a esquer- da aparecem enterócitos (epitélio de revestimento) e célula caliciforme, uma fenda no centro, que é o lúmen do intestino, o revestimento epitelial da placa de Peyer, constituído principalmente por células M, e finalmente muitos linfócitos. Entre os linfócitos há núcleos grandes e claros pertencentes às células M. Fonte: Sanarflix. Tecido linfóide associado aos brônquios (BALT) O BALT é semelhante às placas de Peyer, exceto pela sua localização nas paredes dos brônquios, espe- cialmente nas regiões em que os brônquios e os bronquíolos se bi- furcam. Como no GALT, o revesti- mento epitelial destes nódulos lin- foides muda de pseudoestratificado cilíndrico ciliado com células calicifor- mes para células M. Vasos linfáticos aferentes estão ausentes, embora a drenagem lin- fática tenha sido demonstrada. A rica vascularização do BALT indica seu possível papel sistêmico, assim como um papel localizado no proces- so imunológico. A maioria das célu- las é de linfócitos B, embora APCs e células T estejam presentes. Os linfócitos destinados a entrar no BALT têm receptores específicos que indi- cam o seu destino determinado para as HEVs deste tecido linfoide. Figura 15. Corte de pulmão, no qual aparece um acú- mulo de linfócitosno tecido conjuntivo da mucosa de um bronquíolo. Fonte: Sanarflix. Tonsilas (ou amígdalas) As tonsilas ou amídalas (palatinas, faríngea e linguais) são agregados não encapsulados de nódulos lin- foides produtores de linfócitos que protegem a entrada da orofaringe. As tonsilas estão localizadas em posição estratégica para defender o organis- mo contra antígenos transportados pelo ar e pelos alimentos, iniciando uma resposta imunitária. As tonsilas palatinas são bilaterais e estão localizadas no limite da cavi- dade oral com a orofaringe, entre os arcos palatoglosso e palatofaríngeo. O parênquima é constituído por nu- merosos nódulos linfoides, muitos dos quais apresentam centros ger- minativos, indicativos de formação de células B. A região profunda de cada 28ÓRGÃOS LINFÁTICOS tonsila palatina é isolada dos tecidos adjacentes por uma pseudo-cápsula de tecido conjuntivo denso fibroso. A região superficial das tonsilas pa- latinas é revestida por um epité- lio estratificado pavimentoso não queratinizado, que se invagina no parênquima da tonsila formando de 10 a 12 criptas profundas, constitu- ídas de células epiteliais descama- das, linfócitos e bactérias, podendo aparecer como pontos purulentos nas tonsilites (amidalites). A tonsila faríngea é única e situa- -se no teto da nasofaringe, sendo recoberta pelo epitélio típico das vias respiratórias, epitélio pseu- doestratificado cilíndrico ciliado interposto com áreas de epitélio estratificado pavimentoso. Ela é semelhante às tonsilas palatinas, mas sua pseudo-cápsula incom- pleta é mais delgada. Em vez de criptas, a tonsila faríngea apresen- ta dobras longitudinais pouco profundas, denominadas pregas, constituída de tecido linfático difu- so e nódulos linfáticos. Ductos de glândulas seromucosas abrem-se na base das pregas. O parênquima da tonsila faríngea é constituído por nódulos linfoides, alguns dos quais apresentam centros germinativos. Quando este tipo de tonsila se en- contra inflamado, ela é denominada adenoide. As tonsilas linguais são nume- rosas e estão localizadas na superfície dorsal do terço poste- rior da língua e são revestidas, em sua região superficial, por um epité- lio estratificado pavimentoso não queratinizado. A região profunda das tonsilas linguais tem uma pseu- do-cápsula muito delicada que a se- para do tecido conjuntivo subjacente. As tonsilas linguais têm numerosas criptas, cujas bases recebem os duc- tos das pequenas glândulas salivares mucosas. O parênquima das tonsilas linguais é constituído por nódulos lin- foides, que frequentemente apresen- tam centros germinativos. 29ÓRGÃOS LINFÁTICOS MAPA: MALT Tonsila palatina TECIDO LINFÁTICO ASSOCIADO À MUCOSA (MALT) Tonsilas (amígdalas) Tecido linfoide associado ao tubo digestivo (GALT) Tecido linfóide associado aos brônquios (BALT) Tonsila faríngea Tonsila lingual Epitélio estratificado pavimentoso Epitélio pseudoestratificado colunar ciliado Epitélio estratificado pavimentoso Células M (células com micropregas)Intestino delgado distal Placas de Peyer Células M (células com micropregas) Enterócitos 30ÓRGÃOS LINFÁTICOS MAPA: ÓRGÃOS LINFÁTICOS Córtex TECIDO LINFÁTICO ASSOCIADO À MUCOSA (MALT) BAÇO LINFONODOS NÓDULOS LINFÁTICOS PERIFÉRICOS TIMO ÓRGÃOS LINFÁTICOS TECIDO LINFÁTICO ASSOCIADO À MUCOSA (MALT) BAÇO CLASSIFICAÇÃO LINFONODOS Tecido linfoide associado aos brônquios (BALT) Tecido linfoide associado ao tubo digestivo (GALT) Tonsilas (amídalas) Córtex Medula Involução Substituição por tecido adiposo e fibroso Corpúsculos de Hassall Células reticulares epiteliais Barreira hematotímica Tecido linfoide difuso Ausência de nódulos linfáticos Região paracórtex Tecido linfoide frouxo Nódulos linfáticos Profunda/interna Superficial/externa Medula Vascularização Cordões medulares Seios medulares Vênulas pós-capilares (HEVs) Hemocaterese Circulação Tecido vermelho- escuro rico em sangue Cordões esplênicos (de Billroth) Nódulos linfáticos Seios marginais Vascularização Polpa vermelha Polpa branca Teoria da circulação fechada Teoria da circulação aberta Combinação das teorias aberta e fechada Tonsila lingual Placas de Peyer Tonsila palatina Células M (células com micropregas) Tonsila faríngea Epitélio estratificado pavimentoso Epitélio estratificado pavimentoso Epitélio pseudoestratificado colunar ciliado Células M (células com micropregas) MEDULA ÓSSEA TIMO FÍGADO FETAL CENTRAIS 31ÓRGÃOS LINFÁTICOS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GARTNER, Leslie P. Tratado de histologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J.; ABRAHAMSOHN, P. Histologia básica: texto e atlas. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. ROSS, M. H.; PAWLINA, W. Histologia: texto e atlas em correlação com a biologia celu- lar e molecular. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 32ÓRGÃOS LINFÁTICOS
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