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ORANIZAÇÃO E LEGISLAÇÃO DA EDUCAÇÃO Pablo Rodrigo Bes Formação dos profissionais de educação Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Representar o histórico dos cursos de licenciatura no Brasil. Comparar a formação de profissionais da educação em instituições públicas e privadas. Identificar os principais desafios à formação de professores no Brasil. Introdução Durante as últimas décadas, principalmente após a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação Nacional, de 1996, a educação brasileira vivenciou inúmeras discussões em torno da formação necessária aos profissionais da educação, que atuam conduzindo os processos educacionais. Fazem parte dessas discussões atuais a composição do currículo dos cursos de licenciaturas, as atividades práticas, os estágios supervisionados, a inserção no universo da pesquisa e os conhecimentos teóricos necessários. Neste capítulo, você vai ler sobre o percurso histórico dos cursos de licenciatura no Brasil e comparar a formação dos profissionais de educação nas instituições públicas e privadas brasileiras. Além disso, vai identificar os principais problemas e desafios referentes à formação de professores no Brasil atualmente. Cursos de licenciatura no Brasil Ao começarmos a estudar a história referente à formação de professores no Brasil, devemos remontar às Escolas Normais, que surgiram no fi nal do século XIX para o ensino das chamadas primeiras letras no ensino primário. As normalistas realizavam a sua formação para professoras em nível secundário, o que seria equivalente hoje ao ensino médio. Essa formação de professores para atuar na C13_Formacao_profissionais.indd 1 29/11/2018 08:24:10 educação infantil e nos anos iniciais da escolarização, em nível médio, ocorreu até 1996, quando a LDB deu novas diretrizes. A formação dos professores para atuar nos anos fi nais do ensino fundamental e para o ensino médio começou a ser realizada em cursos regulares e específi cos somente no início do século XX. Gatti (2010, documento on-line) comenta que, anteriormente, “[...] esse trabalho era exercido por profi ssionais liberais ou autodidatas, mas há que considerar que o número de escolas secundárias era bem pequeno, bem como o número de alunos”. O Brasil, na década de 1930 até 1960, encontrava-se em processo lento de industrialização e urbanização, possuindo grandes problemas estruturais e uma massa de cidadãos analfabetos, o que contribuiu para que a educação focasse nos anos iniciais, visando erradicar esses índices de analfabetismo em crianças e adultos. As poucas universidades que existiam no Brasil nessa época formavam bacharéis em medicina, direito, teologia, engenharia, agronomia, entre outros, todos com caráter profissional. Não existiam os cursos superiores em humanidades, ciências ou letras. Em 1931, na primeira era do governo Vargas, foi criado o Decreto nº. 19.851, de 11 de abril de 1931 — Estatuto das Universidades Brasileiras, conhecido como a Reforma Francisco Campos. O decreto estabeleceu a importância da criação do sistema universitário oficial e dos institutos de educação, que seriam responsáveis por formar os professores para atuar no ensino secundário da época (anos finais do fundamental e ensino médio na atualidade). Com a criação do Instituto de Educação de São Paulo e da própria Universidade de São Paulo, em 1934, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras passou a assumir essa incumbência de formação dos professores. A expansão lenta e gradativa das universidades e das faculdades de filoso- fia, ciências e letras, encarregadas da formação dos professores, ocorreu até 1961, sendo realizada com maior expansão a partir das instituições privadas do que das públicas. A formação superior do professor nessa época era rea- lizada a partir do formato conhecido como 3 + 1, que compreendia três anos das disciplinas inerentes ao bacharelado e um ano de disciplinas da área de educação, como psicologia da educação, didática, administração escolar e prática de ensino. Aqui surgiu o conceito de licenciatura, que, embora ainda se mantivesse atrelada ao bacharelado, procurava a construção de um conceito distinto. Sobre esse aspecto, Gatti (2010, documento on-line) comenta que “[...] esse modelo veio se aplicar também ao curso de Pedagogia, regulamen- tado em 1939, destinado a formar bacharéis especialistas em educação e, complementarmente, professores para as Escolas Normais em nível médio”. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1961 passou a desobrigar as universidades da existência da faculdade de filosofia, ciências e letras, forne- Formação dos profissionais de educação2 C13_Formacao_profissionais.indd 2 29/11/2018 08:24:10 cendo condições para o surgimento das faculdades de educação. Cacete (2014, documento on-line) comenta que “[...] no início dos anos 60, a Universidade de Brasília substituiu a faculdade de filosofia pelos institutos centrais de ensino básico, criando a Faculdade de Educação, que passou a assumir a formação pedagógica dos professores”. A acentuada expansão do ensino secundário que começou a ocorrer — aliada ao discurso do desenvolvimento econômico do Brasil em 1960, asso- ciado à não obrigatoriedade das faculdades de filosofia nas universidades — evidenciava a necessidade urgente de um maior número de professores com formação superior para atuar nas escolas. A reforma universitária de 1968 propôs um ensino público e gratuito no qual se asso- ciasse o ensino e a pesquisa, reforçando a necessidade de que a: [...] formação do profissional de educação assumisse um caráter científico e acadêmico, além da necessidade de preparação de quadros especializados em administração, planejamento e professores para a escola secundária, que apresentava um processo crescente de ampliação (CACETE, 2014, documento on-line). Porém, as intenções da reforma universitária de 1968 não obtiveram muito sucesso, principalmente quanto a serem desenvolvidas preferencialmente em universidades federais. Esse cenário possibilitou o surgimento e a expansão de instituições de ensino superior (IES) privadas que se enquadravam como instituições isoladas e que tratavam de receber os alunos de classes médias e menos favorecidas para sua formação nos cursos de licenciaturas ofertados. Salientamos que o ensino superior nas universidades federais era elitizado na época, somente se estendendo àqueles que ocupavam as classes mais altas da sociedade. As licenciaturas curtas foram instituídas somente a partir da LDB de 1971, buscando uma integração de todo o sistema educacional da época, desde o 1º grau até o ensino superior. A LDB de 1971 fez a junção do ensino primário e do 1º ciclo do ensino secundário (ginásio), passando a ser chamado de 1º grau, com oito séries. Já o 2º ciclo de ensino médio (colegial) foi chamado de 2º grau, sendo realizado em três ou quatro anos e com caráter profissional obrigatório. De acordo com Cacete (2014, documento on-line): 3Formação dos profissionais de educação C13_Formacao_profissionais.indd 3 29/11/2018 08:24:10 A formação de professores, para essa nova estrutura do ensino, seria feita da seguinte forma: para o ensino nas quatro primeiras séries do 1º grau, em escola de 2º grau; para o ensino nas quatro últimas séries do 1º grau, em curso superior de curta duração; e para o ensino no 2º grau, em curso superior de longa duração. A Constituição Federal de 1988, embora ainda traga como política de focalização os aspectos referentes ao ensino obrigatório, ou seja, a educação básica dos 4 aos 17 anos de idade, direito público subjetivo de todos, também traz avanços ao ensino superior, uma vez que, de acordo com Saviani (2010, p. 10), “[...] consagrou a autonomia universitária, estabeleceu a indissociabilidade entre ensino pesquisa e extensão, garantiu a gratuidade nos estabelecimen- tos oficiais, assegurou o ingresso por concurso público e o regime jurídicoúnico”. Porém, com a grande pressão exercida para a ampliação das vagas nas universidades públicas, principalmente após a LDB de 1996, são criadas as denominações diferenciando universidades e centros universitários, favo- recendo uma separação entre instituições voltadas mais à pesquisa e aquelas voltadas mais ao ensino propriamente dito. A LDB de 1996 trouxe, originalmente, no art. 62: Art. 61 A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos cinco pri- meiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal (BRASIL, 1996, documento on-line). Aqui houve uma divisão entre os cursos de licenciatura em pedagogia e o curso normal superior, que passou a ser ofertado para atender às demandas da educação básica, o que, porém, não se efetivou, sendo retirada do artigo a expressão em itálico na versão atual da LDB. Foi estabelecido na época o prazo de 10 anos para a adaptação dos profissionais da educação, o que efetivamente não se cumpriu, sendo que ainda na atualidade temos muitos professores que não são formados em licenciaturas, porém atuam na educação infantil e nos anos iniciais nas escolas brasileiras. Outro ponto interessante acrescido pela LDB de 1996, encontra-se em seu art. 64, que comenta que: Formação dos profissionais de educação4 C13_Formacao_profissionais.indd 4 29/11/2018 08:24:10 Art. 64 A formação de profissionais de educação para administração, pla- nejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós- -graduação [...] (BRASIL, 1996, documento on-line). Na atualidade, essa habilitação para atuar como gestor escolar tem sido realizada em nível de pós-graduação. A Resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE) nº. 1, de 15 de maio de 2006, estabeleceu as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para os cursos de graduação em pedagogia — licenciatura (BRASIL, 2006). Nessas diretrizes, está reforçada a importância dos estudos teórico-práticos, da investigação e da reflexão crítica na formação dos licenciados em pedagogia, estabelecendo 3.200 horas de efetivo trabalho acadêmico, divididas em: 2.800 horas de atividades formativas; 300 horas de estágio supervisionado; 100 horas de atividades teórico-práticas de interesse dos alunos, como iniciação científica, extensão ou monitoria. Em 2015, o CNE, por meio da Resolução nº. 2, de 1º de julho de 2015, estabe- leceu as DCNs para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licencia- tura) e para a formação continuada. Essa diretriz procura corrigir os rumos da formação do licenciado, enfatizando a formação continuada e estimulando a articulação entre a instituição de educação superior e o sistema de educação básica durante essa formação docente. O art. 7º da diretriz de 2015 explicita que: Art. 7º O (a) egresso(a) da formação inicial e continuada deverá possuir um repertório de informações e habilidades composto pela pluralidade de conhe- cimentos teóricos e práticos, resultado do projeto pedagógico e do percurso formativo vivenciado cuja consolidação virá do seu exercício profissional, fundamentado em princípios de interdisciplinaridade, contextualização, democratização, pertinência e relevância social, ética e sensibilidade afetiva e estética (BRASIL, 2015, documento on-line). A novidade da diretriz de 2015 é estabelecer novas possibilidades de for- mação inicial para exercer o magistério, além da graduação de licenciatura, em caráter urgente e provisório, como os cursos de formação pedagógica para graduados não licenciados e cursos de segunda licenciatura. A diretriz mantém a carga horária para as graduações em licenciatura em 3.200 horas, divididas agora em: 5Formação dos profissionais de educação C13_Formacao_profissionais.indd 5 29/11/2018 08:24:10 2.200 horas dedicadas a atividades formativas; 400 horas de prática como componente curricular; 400 horas de estágio supervisionado; 200 horas de atividades teórico-práticas de aprofundamento por inte- resse do aluno. Já a formação pedagógica e a segunda licenciatura atenderão à carga horária constante no Quadro 1. Fonte: Adaptado de Brasil (2015). Formação pedagógica para graduados não licenciados Segunda licenciatura 1.000 horas — formação pedagógica em curso da mesma área de origem 800 horas — para cursos da mesma área de origem 1.400 horas — formação pedagógica em curso de área diferente 1.200 horas — para cursos de áreas diferentes do curso de origem 300 horas de estágio supervisionado 300 horas de estágio supervisionado Quadro 1. Composição dos cursos de segunda licenciatura e formação pedagógica para graduados Como podemos perceber, a história da formação dos profissionais da educação possui etapas controversas, acompanhando os períodos de desenvolvimento econômico e atendendo aos preceitos políticos de cada época histórica. Os grandes questionamentos durante as épocas analisadas dizem respeito a uma formação docente mais teórica e distanciada da realidade da escola ou mais prática e equilibrada entre formação teórica e possibilidades de atuação prática. O aumento na carga horária dos estágios supervisionados e a colocação de horas de atividades teórico-práticas nos currículos de licenciaturas buscam uma solução para esse impasse. Porém, ao observarmos a formação pedagógica para graduados não licenciados, parecer haver um relaxamento dos padrões de qualidade e, de certa forma, um retrocesso ao velho esquema 3 + 1, tão criticado por justamente não conferir o caráter profissional ao professor. Formação dos profissionais de educação6 C13_Formacao_profissionais.indd 6 29/11/2018 08:24:11 Quando falamos em formação de professores, costumamos nos referir à formação inicial, que ocorre quando o docente faz sua graduação, ou seja, sua licenciatura no ensino superior. Já a formação continuada deve ocorrer a partir do momento que o professor exercer o magistério nas escolas. Alguns autores, porém, comentam que nossa identidade docente já começa a ser produzida antes disso, nas nossas primeiras experiências pessoais quando iniciamos a escolarização, por meio da interação e percepção de nossos primeiros professores. Formação dos profissionais da educação em instituições públicas e privadas A LDB de 1996 trouxe avanços para a temática da formação de professores ao defi nir que, para todas as etapas da educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio), deve haver graduação no ensino superior, embora a formação no antigo Curso Normal (ensino médio) ainda seja aceita como titulação mínima para exercer o magistério na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental. Isso se deve à percepção de não ser possível atingir essa universalização na formação de todos os docentes em curto espaço de tempo. O Plano Nacional de Educação (PNE) 2014–2024 traz, na sua meta nº. 15, a busca por uma política nacional de formação de professores que possa assegurar o proposto na LDB de 1996: que todos os professores que atuem na educação básica possam ter sua formação em nível superior. Porém, os dados dessa meta ainda se encontram muito distantes de serem alcançados (Quadro 2). Fonte: Adaptado de Brasil (2016a). Etapa Percentual de professores com formação no ensino superior Educação infantil 46,6% Anos iniciais 59% Anos finais 50,9% Ensino médio 60,4% Quadro 2. Formação dos professores da educação básica em nível superior 7Formação dos profissionais de educação C13_Formacao_profissionais.indd 7 29/11/2018 08:24:11 Ao mesmo tempo, a LDB de 1996 trouxe a possibilidade de uma nova modalidade educacional — a educaçãoa distância — para fazer parte desse processo de formação de professores no ensino superior. Com o Decreto Presidencial nº. 5.622, de 19 de dezembro de 2005, houve a equiparação dos cursos superiores a distância e dos presenciais, disponibilizando regras que possibilitavam às IES ofertar cursos de graduação nessa modalidade. Isso gerou uma expansão dos cursos de graduação a distância, incluindo as licenciaturas de modo geral, sendo a pedagogia o curso mais procurado (BRASIL, 2005). Embora o Ministério da Educação tenha criado iniciativas para que a formação docente em IES públicas aumentasse, como a criação da Universidade Aberta do Brasil e do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), essa medida favoreceu muito a expansão das IES privadas, que, em alguns casos, possuem um interesse muito mais comercial do que propriamente pedagógico ao formar os licenciados. A esse respeito, Diniz-Pereira (2015, p. 3) comenta que “[...] em um curto intervalo de tempo, observa-se que instituições privadas, muitas delas sem tradição alguma na oferta de cursos de licenciatura, passaram a responder quantitativamente pela formação de professores da educação básica no país”. Essa expansão quantitativa que ocorreu na formação de professores a partir das universidades privadas fez o currículo dos cursos de licenciaturas se em- pobrecer e se distanciar de áreas e metodologias adotadas nas universidades públicas. Isso ocorreu principalmente nos cursos presenciais, que apresentavam maiores articulações com a prática docente por meio de atividades de exten- são e pesquisa e que procuravam envolver, de forma mais eficaz, os saberes docentes necessários para o exercício da profissão. Conforme Tardif (2014, p. 32), esses saberes deveriam envolver “[...] os saberes disciplinares, curriculares, profissionais (incluindo o das ciências da educação e da pedagogia) e expe- rienciais”. Ao analisar os dados estatísticos do Censo da Educação Superior de 2017, percebemos como as 1.589.441 matrículas referentes às licenciaturas se encontram distribuídas (Quadro 3). Formação dos profissionais de educação8 C13_Formacao_profissionais.indd 8 29/11/2018 08:24:11 Fonte: Adaptado de Brasil (2018). IES pública Nº. de matrículas em licenciaturas % Federal 350.441 22 Estadual 234.153 14,73 Municipal 17.245 1,14 IES privadas 987.601 62,13 Quadro 3. Matrículas nas licenciaturas do ensino superior entre as IESs Além de representar 62,13% das matrículas no ensino superior nas institui- ções privadas, quando analisamos os dados da educação a distância, constata- mos que 90,57% das matrículas nessa modalidade educacional são realizados nas IES privadas, que, de fato, são as grandes responsáveis pela expansão do acesso ao ensino superior no Brasil. Barreto (2015, p. 683) reforça nossa análise ao afirmar que “[...] as características predominantes da expansão dos cursos de pedagogia são: pela iniciativa privada e pela educação a distância”. Existem, porém, outros complicadores em relação a essa expansão comer- cial realizada pelas IES privadas, uma vez que, mesmo dentro delas, existe a evasão de acadêmicos dos cursos de licenciatura, conforme cita Diniz-Pereira (2015, p. 278): [...] a dificuldade dos alunos manterem o seu sustento durante a graduação, a baixa expectativa de renda em relação à futura profissão e o declínio do status social da docência fizeram que os cursos de licenciatura, tanto em instituições públicas como privadas, convivessem com altíssimas taxas de evasão e, consequentemente, permanecessem em constante crise. Essa crise que afeta os cursos de licenciaturas no Brasil costuma estar associada à falta de reconhecimento e status da categoria profissional do pro- fessor, que, na atualidade, parece ter perdido seu significado para a sociedade. Da mesma forma, os baixos salários recebidos pelos professores, sobretudo nas escolas públicas estaduais e municipais da educação básica, fazem as perspectivas em relação à renda futura dos acadêmicos ser desanimadora. 9Formação dos profissionais de educação C13_Formacao_profissionais.indd 9 29/11/2018 08:24:11 Procurando aproximar mais a formação teórica do acadêmico de licenciatura e a realidade cotidiana das escolas, o Ministério da Educação possui um programa que se alinha com a política nacional de valorização do magistério, que é o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). Esse programa é organizado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e ocorre em parceria com as IES públicas ou privadas sem fins lucrativos, que executam seus projetos e cedem vagas aos acadêmicos dos primeiros semestres das licenciaturas para atuar nas escolas públicas da educação básica da localidade onde se inserem. As bolsas para o ano de 2018 estão no valor de R$ 400,00 por aluno. Principais desafios da formação de professores no Brasil A formação de professores no Brasil passa a ser discutida de forma muito tardia, sobretudo, quando falamos do profi ssional de educação formado em nível superior, sendo que ainda hoje possuímos uma boa parcela dos docentes da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental com forma- ção em nível médio. Essa formação docente apresenta alguns desafi os bem signifi cativos e que costumam pautar as discussões acadêmicas em torno das políticas públicas educacionais, em busca de estratégias e caminhos a seguir para a sua superação e, consequentemente, a melhoria da qualidade de ensino e a efi ciência no alcance dos objetivos propostos pelo sistema educacional brasileiro. Para efeitos didáticos, iremos dividir esses desafios em cinco áreas dife- rentes, conforme: formação inicial; formação continuada; modelo de escola; salário; deficiência de vagas nas universidades públicas. A formação inicial compreende o período em que o professor realiza sua graduação em licenciatura, a qual irá fazê-lo adquirir conhecimentos teóricos e práticos que o habilitem para o exercício da docência ou do magistério. A grande crítica nessa etapa importante da formação do profissional da educação Formação dos profissionais de educação10 C13_Formacao_profissionais.indd 10 29/11/2018 08:24:11 se dá justamente na escassez de atividades de cunho prático durante a formação, que, em sua grande totalidade, é teórica e, muitas vezes, deslocada do ambiente de sala de aula, o que faz os professores chegarem despreparados às escolas. Os estágios supervisionados ainda representam uma parte pequena do currículo da formação docente e deveriam ser ampliados para que os profes- sores pudessem adquirir, a partir das regências desses estágios, a experiência mínima necessária para atuar com maior proficiência. A Resolução do CNE nº 2/2015 inova ao acrescentar no currículo das licenciaturas as atividades teórico- -práticas que visam também auxiliar nessa busca pelo ensino prático e pela aplicação adequada das teorias em situações reais de ensino e aprendizagem. Outro ponto interessante em relação à formação inicial se refere à proxi- midade ou ao distanciamento do profissional com a pesquisa, uma vez que o local dessa formação é decisivo. Por exemplo, em universidades, sejam públicas ou privadas, pela própria natureza da instituição, a pesquisa é fomentada e incentivada. Em centros universitários ou mesmo faculdades, isso não acon- tece, ficando o acadêmico distante das atividades de iniciação científica que poderiam torná-lo pesquisador da área. A formação continuada é adquirida no decorrer da prática profissional. É de grande importância para o professor, uma vez que as formações pedagógicas da escola e da rede de ensino podem lhe proporcionar conhecimentos diferentes da sua formação inicial. O que ocorre, porém, é que a formação continuada em algumas escolas bra- sileiras ainda é incipiente. Os dados do Sistema de Monitoramento do Ministério da Educação (2018) — ao analisar a meta nº. 16 do PNE 2014–2024,que procura construir indicadores sobre a formação continuada, buscando sua universalização a todos os docentes — apontam que somente 35,1% desses profissionais da educação básica tiveram acesso a formações continuadas. Na rede pública de ensino, essa formação normalmente está planejada no calendário escolar, porém, algumas vezes, de forma pouco articulada com as questões cotidianas de sala de aula. Por outro lado, na rede privada, a formação continuada fica a cargo do interesse dos professores, que devem buscar formação de pós-graduação para atender a essa finalidade ou, até mesmo, manter sua empregabilidade. Muitas escolas, na atualidade, apresentam uma estrutura física precária e não possuem suporte tecnológico necessário para que os alunos se interessem 11Formação dos profissionais de educação C13_Formacao_profissionais.indd 11 29/11/2018 08:24:11 e participem dos processos pedagógicos. Quando possuem boa estrutura, ainda encontramos docentes que resistem à utilização desses recursos de tecnologias da informação e comunicação a seu favor. Dessa forma, dentro dos processos de formação continuada, tais práticas devem ser reforçadas e problematizadas com os colegas docentes de ambas as gerações. Quando os alunos da gradua- ção nas licenciaturas se aproximam das escolas para realização dos estágios supervisionados, logo costumam se espantar com essas realidades tão distantes em relação ao cotidiano, o que precisaria ser equiparado. A questão que envolve o salário do professor é muito séria e vai contra as políticas de valorização dos professores, que se encontram na legislação educacional. Percebemos um salário muito abaixo da média de outras categorias profissionais com a mesma equivalência de estudos. Ao analisarmos a meta nº. 17 do PNE 2014–2024, que se refere a essa equiparação, percebemos que, segundo os dados do Ministério da Educação (2018), 74,8% dos professores da educação básica da rede pública atendem a essa condição. Essa situação se agrava mais ainda quando se trata dos professores que atuam na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental. Estes recebem salários menores do que o piso nacional do magistério. Instituído pela Lei nº. 11.738, de 16 de julho de 2008, ainda não há dados estatísticos consolidados para análise do cumprimento do piso nacional do magistério em todo o território nacional. Para agravar ainda mais a situa- ção, segundo o Relatório do 1º Ciclo de Monitoramento das Metas do PNE 2014–2016, relativo à meta nº. 18 do PNE, que propõe a criação de planos de carreira para os docentes, “[...] no caso dos estados, apenas 11 declararam ter PCR e cumprir a Lei do Piso” (BRASIL, 2016b, p. 405). Da mesma forma, “Os dados da Munic e da Estadic 2014 permitem afirmar que pelo menos 20 estados e 3.538 municípios teriam que elaborar o plano (de carreira dos pro- fessores) ou adequá-lo às normas vigentes, visto que foram elaborados antes das diretrizes de carreira ou nem foram elaborados” (BRASIL, 2016b, p. 405). O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) possui duas pesquisas muito importantes para a coleta de dados que possam traçar um perfil dos municípios e estados brasileiros, são elas: a Pesquisa de Informações Básicas Estaduais (Estadic) e a Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic). Formação dos profissionais de educação12 C13_Formacao_profissionais.indd 12 29/11/2018 08:24:12 Outra questão problemática e desafiadora da formação dos profissionais da educação diz respeito à deficiência de vagas para a formação nas universidades públicas. São as instituições privadas as grandes responsáveis pelo aumento das matrículas no ensino superior. Dentro desse acréscimo de matrículas, grande parte ocorre em cursos ofertados na modalidade a distância. Embora estejam regularizados e possam ofertar um ensino de qualidade se aliados a boas matrizes curriculares, esses cursos podem distanciar mais ainda os acadêmicos das atividades práticas e de pesquisa. Como podemos perceber, muitos são os desafios para a formação dos profissionais da educação brasileira, passando pela reestruturação do conceito da formação, da valorização e da identidade docente, sendo que: [...] não podemos nos esquecer do princípio da indissociabilidade entre a formação e as condições adequadas para a realização do trabalho do- cente: salários dignos, autonomia profissional, dedicação exclusiva a uma única escola, pelo menos um terço da jornada de trabalho para planejamento, reflexão e sistematização da prática, estudos individuais e coletivos, salas de aula com um número reduzido de alunos (DINIZ-PEREIRA, 2011, p. 48). Acompanhando o raciocínio de Diniz-Pereira (2011), ressaltamos a im- portância da formação dos professores aliada aos aspectos das condições materiais de suas práticas cotidianas na instituição escolar, pois envolvem um conjunto de situações que afetam o docente e, consequentemente, podem afetar seu desempenho em sala de aula. Para conhecer um pouco mais sobre as necessidades brasileiras no campo da formação de professores, assista à entrevista com a professora Bernadete Gatti, da Fundação Carlos Chagas, no seguinte link: https://goo.gl/ArWQ16 13Formação dos profissionais de educação C13_Formacao_profissionais.indd 13 29/11/2018 08:24:12 1. Sobre o percurso histórico das licenciaturas no Brasil, assinale a alternativa correta. a) A formação de professores por meio das licenciaturas no nível superior remonta ao início das primeiras universidades brasileiras. b) A formação dos professores no ensino superior começa a partir do entendimento de que os bacharéis poderiam cursar mais um ano de disciplinas da área da educação e, então, seriam licenciados a ensinar. c) A formação dos professores em nível superior é fato recente, uma vez que os primeiros se formaram após a LDB de 1996, que institui sua obrigatoriedade. d) A formação dos professores em nível superior na atualidade ainda mantém o esquema conhecido como 3 + 1, em que três anos são de disciplinas teóricas e um ano de estágio supervisionado. e) A formação dos professores no ensino superior ainda precisa ser normatizada, uma vez que, na legislação, essa formação se dá no nível médio, por meio das Escolas Normais. 2. Sobre as DCNs de 2015 para a formação inicial em nível superior e para a formação continuada, assinale a alternativa correta. a) As DCNs de 2015 para a formação inicial em nível superior e para a formação continuada visam proporcionar que os egressos dos cursos de licenciatura tenham sua formação assegurada envolvendo os aspectos teórico e prático necessários. b) As DCNs de 2015 para a formação inicial em nível superior e para a formação continuada visam estabelecer um currículo mínimo comum a todos os cursos de licenciatura do Brasil para homogeneizar a formação dos professores. c) As DCNs de 2015 para a formação inicial em nível superior e para a formação continuada visam dissociar os aspectos teóricos, de responsabilidade das universidades, dos aspectos práticos vistos na escola. d) As DCNs de 2015 para a formação inicial em nível superior e para a formação continuada visam disciplinar os processos de formação continuada das escolas da educação básica do sistema educacional brasileiro. e) As DCNs de 2015 para a formação inicial em nível superior e para a formação continuada visam estabelecer diretrizes para os cursos de formação em segunda licenciatura e formação pedagógica para graduados em outras áreas, em caráter permanente e prioritário. 3. Sobre a formação dos profissionais da educação Formação dos profissionais de educação14 C13_Formacao_profissionais.indd 14 29/11/2018 08:24:12 em IES públicas e privadas, assinale a alternativa correta. a) A formação dos profissionais da educação no ensino superior ocorre nas universidades públicas, que disponibilizam que os futuros docentes possam seinserir no universo da pesquisa. b) Entre as IES públicas e as privadas, não existem diferenças na formação dos profissionais de educação, pois ambas seguem as mesmas legislações. c) As IES privadas realizam uma aproximação maior dos seus acadêmicos com a prática cotidiana das escolas. d) Não existe hoje a necessidade de expansão de vagas nas universidades públicas para acadêmicos das licenciaturas, pois o interesse pelos cursos diminui cada vez mais. e) A expansão das vagas no ensino superior para as licenciaturas ocorre nas IES privadas e, dentro destas, grande parte na modalidade da educação a distância. 4. “Não podemos nos esquecer do princípio da indissociabilidade entre a formação e as condições adequadas para a realização do trabalho docente: salários dignos, autonomia profissional, dedicação exclusiva a uma única escola, pelo menos um terço da jornada de trabalho para planejamento, reflexão e sistematização da prática, estudos individuais e coletivos, salas de aula com um número reduzido de alunos” (DINIZ-PEREIRA, 2011, p.48). Com base na citação do autor, assinale a alternativa correta. a) A formação docente envolve o que é desenvolvido dentro dos espaços acadêmicos, já as condições de trabalho são lutas políticas de uma categoria e não se associam à primeira. b) Dentro dos desafios da formação dos profissionais da educação, não se encontram os aspectos inerentes ao funcionamento e à estrutura das escolas. c) Para pensarmos sobre a profissionalização docente, é necessário considerarmos tanto a formação teórico-prática acadêmica quanto as condições materiais para exercer a profissão no interior das escolas. d) As atividades de planejamento, reflexão e sistematização das práticas docentes são aprendidas nos aspectos teóricos em sala de aula durante a graduação. e) A formação dos profissionais da educação deve ser teórica e evidenciar os aspectos vocacionais, que farão as questões salariais não serem importantes em sua prática profissional. 5. Sobre os desafios da formação de professores no Brasil na atualidade, assinale a alternativa correta. a) O desprestígio e a falta de valorização dos profissionais da educação, associados a um baixo salário, são alguns dos desafios encontrados hoje. b) A formação inicial e a formação continuada na atualidade estão 15Formação dos profissionais de educação C13_Formacao_profissionais.indd 15 29/11/2018 08:24:12 BARRETTO, E. S. S. Políticas de formação docente para a educação básica no Brasil: embates contemporâneos. Revista Brasileira de Educação, v. 20, nº. 62, p. 679-701, jul./ set. 2015. Disponível em:<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=27540282006>. Acesso em: 25 nov. 2018. BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CP nº. 1, de 15 de maio de 2006. Disponível em:<http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_06.pdf>. Acesso em: 25 nov. 2018. BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CEP nº. 2, de 1 de julho de 2015. 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Acesso em: 25 nov. 2018. ocorrendo de forma integrada e complementar, não sendo mais problemáticas como já foram anteriormente. c) O modelo de escola na atualidade não representa um desafio, pois está diretamente relacionado com a realidade cotidiana e sem problemas geracionais. d) As vagas para a formação dos professores nas universidades públicas estão asseguradas, pois atendem plenamente à demanda das licenciaturas. e) A existência de plano de carreira e o cumprimento do piso nacional do magistério em todos os municípios brasileiros são um avanço na valorização dos professores. Formação dos profissionais de educação16 C13_Formacao_profissionais.indd 16 29/11/2018 08:24:12 BRASIL. Lei nº. 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm>. Acesso em: 25 nov. 2018. BRASIL. Ministério da Educação. 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