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DEFINIÇÃO Apresentação dos pós e granulados, métodos de fabricação e aplicações como intermediários na fabricação de cápsulas e comprimidos. Elucidação sobre os cálculos relacionados ao enchimento das cápsulas, aos excipientes utilizados e às técnicas de fabricação. Apresentação dos comprimidos e excipientes farmacêuticos utilizados na fabricação das formas farmacêuticas sólidas. Diferenciação entre os tipos de comprimido revestido e suas aplicações como sistemas de liberação modificado de fármacos. PROPÓSITO Conhecer as diferentes formas farmacêuticas sólidas, bem como os métodos de fabricação e os ensaios de controle de qualidade, é de fundamental importância para o desenvolvimento, a elaboração e o controle de qualidade dessas preparações. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar as formas farmacêuticas sólidas, pós e granulados, suas principais técnicas de fabricação e aplicações na fabricação de cápsulas e comprimidos MÓDULO 2 Descrever as principais técnicas de fabricação de cápsulas e seus adjuvantes farmacotécnicos, assim como as técnicas de fabricação de comprimidos e seus excipientes utilizados MÓDULO 3 Distinguir os principais tipos de comprimido revestido, suas aplicações e os adjuvantes farmacêuticos utilizados MÓDULO 4 Diferenciar os principais tipos de comprimido revestido, suas aplicações e os adjuvantes farmacêuticos utilizados INTRODUÇÃO Neste tema vamos conhecer as formas farmacêuticas sólidas. Essas apresentações podem ser consideradas as mais importantes dentro da farmacotécnica, devido à sua grande representatividade. Estima-se que, no mercado farmacêutico industrial, cerca de 65% das apresentações sejam sólidas e apenas 35% sejam líquidas ou semissólidas. Ainda, desses 65%, 80% são comprimidos e 20% são cápsulas. Essa representação é muito significativa. Vamos conhecer os pós e granulados que correspondem a uma apresentação farmacêutica definida ou podem ser intermediários nas etapas de fabricação de cápsulas e comprimidos. As cápsulas têm um papel bastante significativo na farmácia magistral, uma vez que podem ser prescritas em dosagens e formulações individualizadas para cada tipo de paciente. Fonte: worradirek/Shutterstock Os comprimidos são a forma farmacêutica mais fabricada e distribuída no mundo. Vamos aprender os tipos de comprimidos, as técnicas de fabricação e os testes que envolvem o controle de qualidade dessas preparações. Não podemos esquecer os adjuvantes farmacotécnicos que fazem parte de toda a formulação farmacêutica e que têm papel fundamental na fabricação das formas farmacêuticas sólidas, auxiliando na compressibilidade dos pós e no fluxo e escoamento das preparações. Fonte: Laboko/Shutterstock VENHAM COMIGO NESSA JORNADA E, JUNTOS, DESCOBRIREMOS OS PRINCIPAIS SEGREDOS DA PREPARAÇÃO DOS MEDICAMENTOS SÓLIDOS. MÓDULO 1 Identificar as formas farmacêuticas sólidas, pós e granulados, suas principais técnicas de fabricação e aplicações na fabricação de cápsulas e comprimidos FORMAS FARMACÊUTICAS SÓLIDAS A principal via de administração de medicamentos é a via oral, e as principais formas farmacêuticas de administração oral são as sólidas. Isso ocorre devido às inúmeras vantagens dessas apresentações frente às demais, tais como: facilidade de administração, estabilidade físico-química do princípio ativo e precisão da dosagem. O quadro 1 apresenta, de forma resumida, as principais vantagens relacionadas às formas farmacêuticas sólidas. Quadro 1: Principais vantagens das formas farmacêuticas sólidas | Fonte: Adaptado de FERREIRA 2010. VANTAGENS DESCRIÇÃO Maior facilidade de armazenamento e transporte. A forma de cápsulas e comprimidos facilita o armazenamento e as embalagens são mais fáceis de serem transportadas. Precisão das dosagens. As doses individuais e unitárias são mais precisas do que as diluídas na forma de soluções. Melhor palatabilidade. O sabor desagradável dos fármacos não pode ser evidenciado nesse tipo de apresentação. Maior estabilidade. Na forma sólida, os fármacos são mais estáveis, pois estão menos suscetíveis a sofrerem reações de oxidação e hidrólise. Liberação modificada. Os fármacos podem ser liberados de forma controlada ou modificada, melhorando a terapêutica do tratamento. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal APESAR DE EXTREMAMENTE VANTAJOSAS, ALGUMAS DIFICULDADES DESSES TIPOS DE APRESENTAÇÕES DEVEM SER OBSERVADAS QUANTO ÀS TÉCNICAS DE FABRICAÇÃO, A DISSOLUÇÃO DO FÁRMACO E, MAIS RECENTEMENTE, AOS ESTUDOS QUE ENVOLVEM A BIOFARMÁCIA OU BIOFARMACOTÉCNICA. PÓS E GRANULADOS A maioria das substâncias utilizadas como fonte de matérias-primas encontram-se na forma de pós. Os pós estão presentes em diversas áreas de conhecimento, na indústria química, na indústria alimentícia, na indústria petrolífera, na geologia, na construção civil, na indústria cosmética e na indústria farmacêutica. Fonte: tyak_factory/Shutterstock VOCÊ SABIA O termo pó, na prática farmacêutica, pode apresentar mais de uma denominação. Pode tanto ser uma apresentação final como um pó medicamentoso para uso interno, quanto pode descrever a forma física de um determinado material constituído de partículas finamente divididas; ainda, pode ser uma mistura de mais de um tipo diferente de pó. Uma das maiores dificuldades para o aluno de Farmácia é compreender a diferença entre pós e grânulos. Porém, vamos verificar aqui, primeiramente, as definições de cada um, segundo a Farmacopeia Brasileira, 6a edição (2019). PÓ Pó é a forma farmacêutica sólida que contém um ou mais princípios ativos secos e com tamanho de partícula reduzido, com ou sem excipientes. GRÂNULO Grânulo é a forma farmacêutica sólida que contém uma dose única de um ou mais princípios ativos, com ou sem excipientes. Consiste em agregados sólidos e secos de volumes uniformes de partículas de pó resistentes ao manuseio. PELA DEFINIÇÃO, PODE-SE COMPREENDER QUE OS GRÂNULOS OU GRANULADOS SÃO AGLOMERADOS OBTIDOS A PARTIR DE PEQUENAS PARTÍCULAS DE PÓ QUE CONTÊM PRINCÍPIOS ATIVOS E EXCIPIENTES, OBTIDOS POR UM PROCESSO DE GRANULAÇÃO SECA OU ÚMIDA. Agora que você já entendeu a diferença entre pós e granulados, vamos observar, no quadro 2, as principais vantagens e desvantagens dessas apresentações. javascript:void(0) javascript:void(0) Quadro 2: Vantagens e desvantagens dos pós e granulados | Fonte: Adaptado de AULTON, 2005. Vantagens Desvantagens Maior estabilidade que as líquidas. Embalagens e transporte mais difíceis do que as cápsulas e comprimidos. Dispensação de altas doses, podendo variar de 1 g a 5 g. Sabor desagradável quando em solução. Velocidade de dissolução mais rápida do que a de comprimidos e cápsulas. Susceptibilidade ao pH do estômago. Dificuldade de administração de baixas dosagens. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal PÓS MEDICAMENTOSOS Os pós medicamentosos podem ser empregados para uso interno ou externo; quando empregados para uso interno, podem ser administrados por via oral, diluídos ou reconstituídos em água, ou por inalação na forma de aerossóis. Já para uso externo, são geralmente administrados diretamente no local da lesão. Fonte: Nikita Molochkov/Shutterstock OS PACIENTES COM DIFICULDADE DE DEGLUTIÇÃO FAZEM USO DESSE TIPO DE PREPARAÇÃO E A ADMINISTRAÇÃO DE DOSES MUITO GRANDES TAMBÉM É UTILIZADA MEDIANTE ESSE TIPO DE FORMULAÇÃO, UMA VEZ QUE GRANDES VOLUMES DE PÓ SÃO MAIS DIFÍCEIS DE COMPRESSÃO. Na prática farmacêutica, os pós podem se apresentar na forma a granel ou não dividida, ou como pós divididos em dose única (figura 1). No passado, era mais comum encontrarmos medicamentos em apresentações a granel, como antiácidos, pós para duchas higiênicas, suplementos vitamínicos e laxantes. Entretanto, devido à dificuldade na precisão da dosagem dessas apresentações, atualmente são mais utilizados os pós divididos em doses individualizadas. Fonte: Jasni e Zety Akhzar/Shutterstock Figura 1 – Exemplos de granel (esquerda) e sachê (direita) É IMPORTANTE TAMBÉM OBSERVAR QUE O AVANÇO TECNOLÓGICO E O DESENVOLVIMENTO DE NOVAS EMBALAGENS FACILITARAM O PROCESSO DE DIVISÃO DAS DOSES EM SACHÊS OU FLACONETES (FIGURA 2). Fonte: Syda Productions/Shutterstock Figura 2 Os pós medicamentosos são fabricados basicamente em três etapas: a trituração, a tamisação e a mistura. A Figura 3 apresenta um esquema com as etapas de fabricação dos pós medicamentosos. Fonte: Ihor Matsiievskyi/Shutterstock TRITURAÇÃO Fonte: sruilk/Shutterstock TAMISAÇÃO Fonte: brumhildich/Shutterstock MISTURA Figura 3 – Esquema das etapas de fabricação de pós A trituração dos pós depende da quantidade de pós que será submetida ao processo. Para pequenas quantidades, utilizamos o gral e o pistilo de porcelana, muito comuns nas farmácias de manipulação. Já para grandes volumes, mais comuns nas indústrias farmacêuticas, utilizamos os equipamentos de moagem, principalmente os moinhos de facas e martelos. A etapa de trituração é também conhecida como cominuição de pós. Mais adiante, veremos como a trituração e a redução do tamanho das partículas dos pós influencia diretamente na fabricação das formas farmacêuticas sólidas e na biodisponibilidade do fármaco (figura 4 e 5). Fonte: Stock-Asso/Shutterstock Figura 4 Fonte: RJ22/Shutterstock Figura 5 A segunda etapa na fabricação de pós é a tamisação. Você já estudou, nas operações farmacêuticas, a técnica de tamisação. Essa técnica consiste em separar partículas sólidas de diferentes tamanhos através de um tamis e serve para padronizar o tamanho dos pós e garantir uma mistura mais homogênea. A MISTURA É A ÚLTIMA ETAPA NO PROCESSO DE FABRICAÇÃO DE PÓS E É CONSIDERADA A MAIS CRÍTICA. ASSIM COMO A TRITURAÇÃO, A ETAPA DE MISTURA DEPENDE DA QUANTIDADE DE PÓS A SER MISTURADA. EM PEQUENA ESCALA, PODE SER MISTURADA NO PRÓPRIO GRAL COM PISTILO, MAS EM LARGA ESCALA É NECESSÁRIA A UTILIZAÇÃO DE MISTURADORES. Os principais misturadores de pós na indústria farmacêutica são conhecidos como misturadores de volteadura, que consiste na misturada de pós com propriedades de fluxo livre. Existem vários tipos diferentes: os misturadores de cone duplo, os misturadores em V, os cúbicos, os de cone oblíquo e os misturadores em Y. Fonte: brumhildich/Shutterstock Legenda: Figura 6 – Misturador em tipo V MISTURADORES DE PÓS – TIPO V Durante muitos anos, os misturadores do tipo em V (figura 6) sempre foram os mais utilizados. Fonte: Cergios/Shutterstock Figura 7 – Misturador Tipo Bin – IBC (Intermediate Bulk Containers) MISTURADORES DE PÓS – TIPO BIN - IBC Atualmente, os contêineres a granel intermediários (Intermediate Bulk Containers — IBC) (figura 7), mais conhecidos como bins, têm sido mais utilizados em função de sua facilidade de locomoção. Dentre as maiores dificuldades na etapa de mistura, está a possibilidade de segregação dos pós. Isso geralmente ocorre por diferenças nos tamanhos de partículas e dificulta a homogeneidade da mistura. Uma técnica para facilitar a mistura de pós, principalmente quando o fármaco se apresenta em baixas dosagens, é utilizar a diluição geométrica. ATENÇÃO Cuidados com as misturas Alguns cuidados devem ser rigorosamente observados com relação às misturas. Algumas substâncias podem formar misturas explosivas, outras são altamente higroscópicas e absorvem a umidade do ar. Existem, ainda, as substâncias deliquescentes que tendem a formar misturas eutéticas. Quadro 3: Incompatibilidades nas misturas de pós | Fonte: adaptado de FERREIRA, 2010. Tipos Substâncias higroscópicas Substâncias deliquescentes Substâncias eflorescentes Misturas eutéticas Misturas explosivas Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal SUBSTÂNCIAS HIGROSCÓPICAS São substâncias que absorvem a umidade do ar. SUBSTÂNCIAS DELIQUESCENTES São substâncias higroscópicas que absorvem a umidade do ar e liquefazem-se parcial ou totalmente. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) SUBSTÂNCIAS EFLORESCENTES São substâncias cristalinas hidratadas que, ao serem pulverizadas, liberam água de cristalização. MISTURAS EUTÉTICAS Esse tipo de mistura ocorre quando dois componentes sólidos de baixo ponto de fusão, ao serem misturados ou triturados juntos, se liquefazem. MISTURAS EXPLOSIVAS Essas misturas ocorrem quando um agente oxidante forte é triturado com um agente redutor forte. Quadro 4: Exemplos de substâncias que ocasionam incompatibilidades de pós ou misturas de pós | Fonte: adaptado de FERREIRA, 2010. Substâncias Higroscópicas e Deliquescentes Substâncias Eflorescentes Misturas Explosivas Misturas Eutéticas Agentes Oxidantes Agentes Redutores Fortes Fortes Cloreto de cálcio Ácido cítrico Nitratos Sulfitos Cânfora Sulfato de efedrina Cafeína monoidratada Nitritos Glicerina Mentol Carbômeros Ciclofosfamida Hipocloritos Taninos Timol Heparina sódica Cloridrato de quinino Iodo Álcool Salicilatos Fenitoína sódica Fosfato de codeína Peróxidos Enxofre Benzocaína Fenobarbital sódico Fosfato de sódio Ácido hipocloroso Enxofre Fenacetina Amoxicilina Lactato de cálcio Ácido nítrico Óleos essenciais Resorcina Cloreto de sódio Sulfato de atropina Ácido nitroso Óleos essenciais Resorcina Cloreto de magnésio Sulfato de quinino Permanganato de potássio Brometos Lidocaína Cloridrato de pilocarpina Sulfato de codeína Clorato de potássio Iodetos Fenol Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal CARACTERÍSTICAS DOS PÓS TAMANHO DE PARTÍCULA E ANÁLISE GRANULOMÉTRICA Nós já vimos, em temas anteriores, que o tamanho das partículas sólidas pode interferir em alguns fatores importantes na manipulação farmacêutica. Dessa forma, a granulometria dos pós medicamentosos é uma das características físicas mais significativas e impactantes dentre os parâmetros de ensaios de qualidade dos sólidos. Um mesmo fármaco, por exemplo, pode apresentar diferenças físicas importantes, como a morfologia do cristal e a variedade nos tamanhos de partículas da substância (Figura 8). Fonte: Anônimo/Google Figura 8 – Diferentes tamanhos de partículas Observe, no quadro 5, os fatores mais importantes dentro da prática farmacêutica que podem ser afetados pelo tamanho das partículas dos princípios ativos e excipientes farmacêuticos. Quadro 5: Fatores afetados pelo tamanho de partícula | Fonte: adaptado de ALLEN Jr., L. V.; POPOVICH, N. G.; ANSEL, H. C., 2013. Fator Descrição Velocidade de A redução do tamanho de partícula dos fármacos aumenta a dissolução. velocidade de dissolução e, consequentemente, a biodisponibilidade. Suspensibilidade No preparo das suspensões, o tamanho de partícula é importante para garantir a redispersibilidade do fármaco no veículo e garantir a uniformidade da dose. Distribuição uniforme O tamanho de partícula deve ser uniforme, a fim de garantir uma mistura homogênea e a uniformidade do conteúdo. Grau de penetração O tamanho de partícula deve ser reduzido para garantir uma melhor penetração e absorção do fármaco no trato respiratório. Grau de aspereza Nas preparações semissólidas, como cremes e pomadas, é preciso reduzir o tamanho das partículas sólidas a fim de reduzir seu grau de aspereza, com exceção dos cremes e pomadas esfoliantes. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal A principal forma de se determinar o tamanho das partículas sólidas para a manipulação farmacêutica é por meio da análise granulométrica ou distribuição granulométrica dos pós. Existem muitos métodos para se realizar a análise granulométrica e determinar a distribuição do tamanho de partícula dos fármacos. A seguir, no quadro 6, iremos observar os métodos mais utilizados pela indústria farmacêutica. Quadro 6: Métodos de determinação da distribuição granulométrica | Fonte: adaptadode ALLEN Jr., L. V.; POPOVICH, N. G.; ANSEL, H. C., 2013. Tipos de Métodos Descrição Tamisação Vários tamises são dispostos em ordem decrescente de tamanho e, por agitação mecânica, é determinada a quantidade de pó retida em cada tamis. Microscopia A determinação do tamanho das partículas é feita por meio do microscópio óptico e de uma grade calibrada. Sedimentação A velocidade de sedimentação do pó através de um líquido é determinada pela Lei de Stokes. Dispersão ou espalhamento de luz As partículas são dispersadas em um líquido imiscível e a determinação do tamanho de partícula é realizada por meio da redução da intensidade luminosa que alcança o sensor. Laser holográfico Um laser pulsante é disparado por meio de uma aspersão de partículas na forma de aerossol e fotografado com uma câmera holográfica. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Por meio da análise granulométrica dos pós, é possível, portanto, classificá-los. A tabela 1 apresenta a classificação dos tipos de pós de acordo com a Farmacopeia Brasileira, 6a edição (2019). Tabela 1: Classificação dos pós | Fonte: Adaptado de Farmacopeia Brasileira, 6a edição, 2019. Classificação Descrição dos pós % de retenção Abertura da malha % de retenção Abertura da malha MESH (µm) MESH (µm) Grosso 100% 16 1700 40% 42 355 Moderadamente grosso 100% 24 710 40% 60 250 Semifino 100% 42 355 40% 80 180 Fino 100% 80 180 - - - Finíssimo 100% 120 125 - - - Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal PROPRIEDADES DO FLUXO DE PÓS Na manipulação dos pós medicamentosos, existem dois pontos essenciais que merecem destaque nos nossos estudos: a capacidade de escoamento dos pós, ou seja, o fluxo dos pós, e a capacidade de compactabilidade dos pós. Avaliar essas duas propriedades é importante tanto para a manipulação dos pós como um medicamento final quanto para sua utilização como intermediários na fabricação de outras formas farmacêuticas sólidas. Alguns testes considerados relativamente simples são muito utilizados para avaliar a fluidez e a compactabilidade de um fármaco em pó, por exemplo, a comparação da densidade aparente ou bruta e da densidade compactada, o ângulo de repouso, o Índice de Carr (IC) e o Fator de Hausner (FH). Agora, vamos conhecer um pouco melhor esses parâmetros. DENSIDADE APARENTE E DENSIDADE COMPACTADA Fonte: Anônimo/Google Figura 9 – Fórmula da densidade aparente e da densidade compacta Os pós, assim como os líquidos, apresentam uma densidade, ou seja, uma relação entre a sua massa e o seu respectivo volume. Nesses casos, uma densidade aparente ou bruta e uma densidade batida ou compactada, que podem ser calculadas pelas fórmulas ao lado (Figura 9). Fonte: Anônimo/Vertassets Figura 10 – Equipamento para teste de densidade de pós A determinação da densidade dos pós é um dos parâmetros físicos de controle de qualidade de pós mais importantes que existem, pois, por meio dele, podemos relacionar uma série de fatores, como: tamanho de partícula, porosidade, fluxo dos pós e compactabilidade dos pós (Figura 10). ÂNGULO DE REPOUSO Fonte: Anônimo/Goolge Figura 11 – Fórmula do ângulo de repouso O ângulo de repouso é uma outra técnica bastante simples que avalia as propriedades de fluxo e escoamento dos pós. Quando um determinado pó escoa através de um funil de sólidos e cai livremente, sob a ação da gravidade, sobre uma superfície ele tende a formar um cone. Uma relação interessante pode ser estabelecida entre o ângulo do cone formado e o fluxo de pós. A figura 11 apresenta a equação que determina o ângulo de repouso do cone formado. A relação entre os valores do ângulo de repouso e as propriedades de fluxo dos pós estão apresentados na tabela 2. Tabela 2: Valores de ângulo de repouso como indicativos para o fluxo dos pós | Fonte: Adaptado de AULTON, 2005. Ângulo de repouso (graus) Tipo de fluxo <20 Excelente 20-30 Bom 30-34 Tolerável >40 Muito fraco Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal A figura 12 apresenta a você diversos equipamentos que auxiliam na determinação do ângulo de repouso e da densidade dos pós. Fonte: Anônimo/HMK TEST Figura 12 – Equipamentos para determinação do ângulo de repouso e densidade aparente de pós FATOR DE HAUSNER E ÍNDICE DE CARR Outra forma que temos de relacionar a densidade com a propriedade de fluxo dos pós é por meio do Fator de Hausner e do Índice de Carr. A grande vantagem dessas técnicas é que, além de serem simples e possibilitarem cálculos fáceis, é possível realizá-las com uma quantidade pequena de amostra (poucos gramas) e com ótima representatividade para a larga escala. A Figura 13 apresenta as fórmulas para o cálculo do Índice de Carr e do Fator de Hausner. Fonte: Anônimo/Google Figura 13 – Fórmula do Fator de Haussner (F.H.) e Índice de Carr (I.C.) O Fator de Hausner foi determinado por Henry Hausner em 1967 e relaciona em porcentagem a densidade compactada com a densidade aparente. Segundo Hausner, valores menores que 1,25 indicam um bom fluxo dos pós, enquanto valores maiores que 1,25 indicam um fluxo ruim. Quando temos valores entre 1,25 e 1,5, é possível adicionar um agente lubrificante para melhorar o escoamento. Já para valores maiores que 1,5, dificilmente será possível utilizar esse pó para a manipulação farmacêutica e o material deverá ser granulado como alternativa para o processo de fabricação. O Índice de Carr estabelece o que seria o percentual de compressibilidade de um pó; apesar de também ser uma medida fácil e de cálculo simples, sua interpretação requer maiores cuidados, uma vez que não se trata de uma medida direta, mas interfere no enchimento das cápsulas e no preenchimento uniforme das matrizes das máquinas de comprimidos. A interpretação dos resultados do Índice de Carr, do Fator de Hausner e do ângulo de repouso dos pós conjuntamente dá uma informação completa sobre o comportamento dos pós ao longo do processo de fabricação das formas farmacêuticas sólidas. A tabela 3 apresenta a relação entre os Índices de Carr e o Fator de Hausner com a propriedade de fluxo dos pós. Tabela 3: Valores de Índice de Carr e Fator de Hausner relacionados ao fluxo de pós. Índice de Carr Tipo de Fluxo Fator de Hausner Tipo de Fluxo <10% < Excelente < 1,00 a 1,11 < Excelente 11 a 15% Bom 1,12 a 1,18 Bom 16 a 20% Fraco 1,19 a 1,25 Fraco 21 a 31% Pobre 1,26 a 1,45 Pobre >32% Muito Pobre >>32% Muito Pobre Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Fonte: DavidBautista/Shutterstock GRANULADOS Você já estudou todas as características dos pós medicamentosos e observou que, em alguns casos, infelizmente, eles não apresentam bom fluxo e boa compactabilidade. Nesses casos, a única forma de transformar esse tipo de fármaco em uma forma farmacêutica sólida é por meio da granulação. Assim como os pós, os granulados podem tanto ser a preparação final de um medicamento como a etapa intermediária do processo de fabricação das formas farmacêuticas sólidas. OS GRANULADOS, QUANDO COMPARADOS AOS PÓS, APRESENTAM ALGUMAS VANTAGENS INTERESSANTES. O QUADRO 7 APRESENTA ALGUMAS DESSAS VANTAGENS. Quadro 7: Vantagens dos granulados frente aos pós | Fontes: adaptado de AULTON, 2005. Mais estéticos. São mais estéticos que os pós em função da presença dos adjuvantes e do processo de granulação. Menor aderência e melhor fluxo. Apresentam menor probabilidade de aderência entre si e melhor fluxo, devido ao maior tamanho de partícula. Sabor mais agradável. É possível acrescentar adjuvantes, como edulcorantes e corantes, melhorando o aspecto e o sabor da apresentação. Menos afetados pela umidade. A maior superfície de contato diminui a capacidade de absorção de umidade. Podem ser revestidos. Os grânulos podem ser revestindo, conferindo propriedades ao granulado, incluindo liberação modificada. Menor força decompressão. Facilitam o processo de compressão, já que apresentam melhor fluxo e permitem que se trabalhe com menor força de compressão ao longo do processo de fabricação de comprimidos. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Existem dois métodos de preparação dos granulados, a granulação por via seca e a granulação por via úmida. Independentemente da escolha do método, um componente é fundamental para todo o procedimento de granulação, que é o agente aglutinante ou agente granulante. A seguir, conheceremos um pouco melhor ambos os métodos e os adjuvantes farmacêuticos necessários para o procedimento. GRANULAÇÃO SECA Para a realização do método de granulação a seco, é geralmente utilizado um equipamento do tipo compactador (figura 14). A mistura de pós secos, contendo o agente aglutinante, é passada pelos rolos compressores, que podem ser lisos ou crivados, e forma uma lâmina fina de pó compactado. Em seguida, essa lâmina passa por um granulador mecânico acoplado a um tamis e o granulado é formado com partículas de tamanho uniforme. Fonte: Anônimo/adaptado de Glatt GmbH Figura 14 – Equipamento de granulação seca com rolo compactador A grande vantagem da granulação seca frente à granulação úmida está no fato de não ser utilizado nenhum tipo de solvente para o processo. Assim, fármacos sensíveis à umidade e ao calor poderão passar pelo processo de granulação, como é o caso do ácido acetilsalicílico, por exemplo. GRANULAÇÃO ÚMIDA A granulação úmida é uma etapa mais complexa e consiste na utilização de uma solução aglutinante adicionada à mistura de pós, formando uma massa úmida. Os principais solventes utilizados nesse processo são a água, o etanol e o isopropanol, que podem ser utilizados isolados ou combinados entre si. Seria lógico pensarmos que a água deveria ser o solvente mais utilizado por razões econômicas e de segurança. Entretanto, devido à maior dificuldade de secagem das soluções aquosas e à possibilidade de o princípio ativo sofrer hidrólise, nem sempre ela pode ser a principal escolha. Além disso, nenhum solvente isolado consegue ser forte o suficiente para manter as partículas unidas e aglomeradas após a secagem. Dessa forma, é necessária a utilização de uma solução aglutinante que contenha uma substância capaz de manter as partículas unidas e coesas após a evaporação do solvente. SOLUÇÃO AGLUTINANTE Os aglutinantes são, na maioria das vezes, polímeros. Muitas substâncias podem ter essa propriedade, entre elas o amido de milho, a gelatina e os derivados de celulose, como a carboximetilclulose (CMC) e a hidroxietilcelulose (HEC). Atualmente, a substância de escolha como agente aglutinante tem sido a polivinilpirrolidona (PVPK-30), devido à sua facilidade de solubilização tanto em água como em solventes orgânicos. A adição da solução aglutinante é considerada um dos maiores pontos críticos no processo de granulação úmida, pois o excesso no umedecimento dos pós resulta em grânulos muito rígidos e dificulta o processo de desintegração e compressão; e a falta de umedecimento confere uma quantidade de agente aglutinante insuficiente para a coesão das partículas, gerando muito pó livre e tornando o granulado fraco e pouco resistente. Quando isso ocorre como processo intermediário na fabricação de comprimidos, produz comprimidos friáveis com presença de capping (descabeçamento) dos comprimidos. GRANULAÇÃO Fonte: Anônimo/Google Figura 15 – Granuladores planetários automatizados A preparação da massa úmida, com a mistura de pós e a adição da solução granulante, ocorre em misturadores planetários automatizados ou em granuladores de alta velocidade, também conhecidos como high shear mixers, com controle de velocidade de aspersão da solução aglutinante e velocidade de agitação. Após a preparação da massa úmida, esta deve ser granulada; essa etapa geralmente acontece de forma contínua (figura 15). Fonte: Anônimo/adaptado de Glatt GmbH Figura 16 – Granuladores de alta velocidade (High Shear Mixer) Os granuladores de alta velocidade têm um granulador acoplado que permite a possibilidade da escolha de tamises com malhas de 10 mm, 8 mm e 5 mm para produzirem os granulados úmidos. Esses granulados são recolhidos em bandejas e seguem para a etapa de secagem, que pode ocorrer em estufas ou pleitos fluidizados (figura 16). SECAGEM Os grânulos úmidos formados precisam passar pela etapa de secagem, que consiste na evaporação do solvente e é considerada o segundo ponto crítico no processo de granulação úmida, pois uma secagem excessiva fornecerá grânulos muito rígidos e duros, o que dificultará a desintegração e a compressão; já uma secagem ineficiente fornecerá um alto teor de umidade, o que levará à aderência dos grânulos e à dificuldade de fluxo e escoamento. O teor de umidade ideal para os granulados está entre 2% e 4%. Fonte: Anônimo/Casa das Resistências Figura 17 – Estufa de secagem industrial A secagem pode ser realizada: em estufas de secagem industriais com controle de temperatura e de tempo, um processo estático e demorado; ou em leitos fluidizados nos quais os grânulos encontram-se em movimento, um processo dinâmico em que a secagem ocorre rapidamente (figura 17). Fonte: Anônimo/adaptado de Glatt GmbH Figura 18 – Leito fluidizado para secagem de pós Os leitos fluidizados, além de serem equipamentos extremamente modernos e com controles de diversos parâmetros, como temperatura, fluxo de ar e exaustão, são mais facilmente validados do que as estufas de secagem. Além disso, nesses equipamentos é possível também realizar o processo de granulação e secagem em uma única etapa (figura 18). CALIBRAÇÃO Após a secagem, os granulados precisam ser calibrados por outro granulador, contendo tamises de malhas menores, de 2 mm, 1,5 mm e 1 mm. É importante ressaltar que o objetivo da granulação é tornar as partículas maiores, menos aderentes e mais esféricas. Assim, a calibração não deve reduzir muito o tamanho do granulado, correndo o risco de se perder as propriedades adquiridas. Uma vez formado o grânulo, seja por via seca ou por via úmida, a última etapa é denominada de mistura final. Nessa fase são adicionados outros adjuvantes, como os lubrificantes, e a mistura pode ser homogeneizada para seguir seu destino, seja como um produto final ou como um intermediário na fabricação de comprimidos. O esquema a seguir apresenta, de forma resumida, as etapas do processo de granulação úmida, contemplando os pontos críticos do processo e os equipamentos utilizados em cada etapa (figura 19). Fonte: Anônimo/adaptado de Glatt GmbH Figura 19 – Esquema da granulação via úmida PÓS E GRANULADOS EFERVESCENTES Os pós e granulados efervescentes são também conhecidos como sais efervescentes. São compostos por uma mistura de pós ou grânulos secos que contém, como adjuvantes, bicarbonato de sódio, ácido cítrico e ácido tartárico. Quando adicionados à água, os ácidos e bases presentes liberam dióxido de carbono (CO2), resultando na efervescência (figura 20). A grande vantagem desse tipo de apresentação é que a presença da carbonatação auxilia em mascarar o sabor desagradável dos fármacos, proporcionando um paladar mais agradável. O principal cuidado que se deve observar nesse tipo de apresentação é quanto à presença de umidade, principalmente na área de fabricação, a fim de se evitar a liberação precoce de CO2. As áreas de fabricação devem passar por rigoroso controle de temperatura e umidade evitando que esta última alcance os de 30%. Fonte: anokato/Shutterstock Figura 20 – Pós e granulados efervescentes Assista ao vídeo e entenda a determinação de densidade aparente e densidade compactada de pós. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. APRENDEMOS QUE PÓ É A FORMA FARMACÊUTICA SÓLIDA QUE CONTÉM UM OU MAIS PRINCÍPIOS ATIVOS SECOS E COM TAMANHO DE PARTÍCULA REDUZIDA, COM OU SEM EXCIPIENTES. A APRESENTAÇÃO NA FORMA DE PÓS APRESENTA ALGUMAS VANTAGENS. SOBREAS VANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DO PÓ, MARQUE A OPÇÃO CORRETA: A) Os pós têm alta aceitabilidade, pois apresentam sabor agradável. B) O pó é resistente ao pH ácido do estômago. C) O pó apresenta alta estabilidade e uma velocidade de dissolução mais rápida. D) O pó pode ser utilizado quando é necessária a administração de baixas dosagens. 2. ESTUDAMOS QUE OS PÓS MEDICAMENTOSOS, EM ALGUNS CASOS, NÃO APRESENTAM BOM FLUXO NEM BOA COMPACTABILIDADE. NESSES CASOS, A ÚNICA FORMA DE TRANSFORMAR ESSE TIPO DE FÁRMACO EM UMA FORMA FARMACÊUTICA SÓLIDA É POR MEIO DA GRANULAÇÃO. SOBRE AS VANTAGENS DOS GRANULADOS FRENTE AOS PÓS, ANALISE AS ASSERTIVAS A SEGUIR. I. OS GRANULADOS SÃO MAIS ESTÉTICOS QUE OS PÓS EM FUNÇÃO DA PRESENÇA DOS ADJUVANTES E DO PROCESSO DE GRANULAÇÃO. II. OS GRANULADOS APRESENTAM UMA MAIOR ADERÊNCIA ENTRE SI E, CONSEQUENTEMENTE, UM FLUXO MAIS LENTO. III. NOS GRANULADOS, É POSSÍVEL ACRESCENTAR ADJUVANTES, COMO EDULCORANTES E CORANTES, MELHORANDO O ASPECTO E O SABOR DA APRESENTAÇÃO, TORNANDO-OS MAIS AGRADÁVEIS. IV. OS GRANULADOS SÃO MAIS AFETADOS PELA UMIDADE, POIS TÊM UMA MAIOR SUPERFÍCIE DE CONTATO. A) I e II. B) I e III. C) I e IV. D) II e III. GABARITO 1. Aprendemos que pó é a forma farmacêutica sólida que contém um ou mais princípios ativos secos e com tamanho de partícula reduzida, com ou sem excipientes. A apresentação na forma de pós apresenta algumas vantagens. Sobre as vantagens da utilização do pó, marque a opção correta: A alternativa "C " está correta. A maioria das substâncias utilizadas como fontes de matérias-primas encontra-se na forma de pós. Os pós medicamentosos podem ser utilizados para o uso interno e externo. Apresentam como vantagens a grande estabilidade, a rápida velocidade de dissolução e o fato de poderem ser dispensados em altas doses. No entanto, os pós são suscetíveis ao pH ácido do estômago, têm sabor desagradável e apresentam grande dificuldade de administração de baixas doses. 2. Estudamos que os pós medicamentosos, em alguns casos, não apresentam bom fluxo nem boa compactabilidade. Nesses casos, a única forma de transformar esse tipo de fármaco em uma forma farmacêutica sólida é por meio da granulação. Sobre as vantagens dos granulados frente aos pós, analise as assertivas a seguir. I. Os granulados são mais estéticos que os pós em função da presença dos adjuvantes e do processo de granulação. II. Os granulados apresentam uma maior aderência entre si e, consequentemente, um fluxo mais lento. III. Nos granulados, é possível acrescentar adjuvantes, como edulcorantes e corantes, melhorando o aspecto e o sabor da apresentação, tornando-os mais agradáveis. IV. Os granulados são mais afetados pela umidade, pois têm uma maior superfície de contato. A alternativa "B " está correta. Os granulados, quando comparados aos pós, apresentam algumas vantagens interessantes, como menor probabilidade de aderência entre si e melhor fluxo, devido ao maior tamanho de partícula, e o fato de serem menos afetados pela umidade, pois a maior superfície de contato diminui a capacidade de absorção de umidade. MÓDULO 2 Descrever as principais técnicas de fabricação de cápsulas e seus adjuvantes farmacotécnicos, assim como as técnicas de fabricação de comprimidos e seus excipientes utilizados CÁPSULAS Essas formas farmacêuticas sólidas são as mais fabricadas e dispensadas pelas farmácias de manipulação, todavia, na indústria farmacêutica, elas são bem menos utilizadas do que os comprimidos. Estima-se que cerca de 80% das formas farmacêuticas sólidas fabricadas na indústria sejam comprimidos e somente 20% estejam na forma de cápsulas. Ainda assim, é javascript:void(0) uma apresentação importante e que traz vantagens e alternativas interessantes ao processo de compressão. CÁPSULAS Segundo a Farmacopeia Brasileira, 6a Edição (2019), cápsulas são formas farmacêuticas sólidas em que o princípio ativo e os excipientes estão contidos em um invólucro solúvel duro ou mole, de formatos e tamanhos variados, usualmente, contendo uma dose única do princípio ativo. Normalmente é feita de gelatina, mas pode, também, ser de amido ou de outras substâncias. Fonte: Fahroni/Shutterstock O quadro a seguir apresenta as principais vantagens e desvantagens das cápsulas frente aos comprimidos e demais formas farmacêuticas sólidas. Quadro 8: Vantagens e desvantagens das cápsulas | Fonte: Adaptado de PRISTA, 1995; AULTON, 2005. Vantagens Desvantagens Permitem mascaramento de sabor e odor desagradáveis. Não são fracionáveis. Proporcionam maior facilidade de deglutição frente aos comprimidos. Dificuldade de deglutição frente aos pós e granulados. Permitem a identificação. Controle de umidade e temperatura. Precisam de menos etapas produtivas. Maior custo de produção, depende de maquinário. Apresentam boa estabilidade. São digestíveis. Podem ser de liberação modificada ou controlada. Ocupam pequeno volume. São utilizadas em sistemas para inalação. Apresentam menor número de excipientes. Sofrem desintegração rápida. Permitem a associação de vários fármacos. Estão disponíveis em vários tamanhos, formas e cores. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Nos dias de hoje, a maioria das cápsulas são gelatinosas e podem se apresentar de duas formas: cápsulas gelatinosas duras e cápsulas gelatinosas moles. Vejamos a definição de ambas as formas segundo a Farmacopeia Brasileira, 6a edição (2019). CÁPSULAS GELATINOSAS DURAS É a cápsula que consiste em duas seções cilíndricas pré-fabricadas (corpo e tampa) que se encaixam e cujas extremidades são arredondadas. É tipicamente preenchida com princípios ativos e excipientes na forma sólida. Normalmente é formada de gelatina, mas pode também ser composta de outras substâncias. CÁPSULAS GELATINOSAS MOLES É a cápsula constituída de um invólucro de gelatina, de vários formatos, mais maleável do que o das cápsulas duras. Normalmente são preenchidas com conteúdos líquidos ou semissólidos, mas podem ser preenchidas também com pós e outros sólidos secos. CÁPSULAS GELATINOSAS DURAS Fonte: tassel78/Shutterstock Figura 21 – Cápsulas Gelatinosas Duras javascript:void(0) javascript:void(0) Essas cápsulas são as mais conhecidas e utilizadas comercialmente. Os invólucros são constituídos por gelatina animal, água e corantes, têm seu formato arredondado nos dois extremos e são formados por duas partes abertas e separadas. Podem conter outros adjuvantes farmacêuticos em sua constituição, como edulcorantes, antioxidantes e conservantes. Seus tamanhos são variados e designados por uma numeração Quanto maior for o número da cápsula, menor é a capacidade do invólucro (figura 22). Fonte: Anônimo/Google Figura 22 – Tamanho das Cápsulas Gelatinosas Duras A gelatina é uma proteína animal originada do tecido conjuntivo e dos ossos de animais, geralmente bovinos e suínos, e obtida por hidrólise parcial do colágeno presente nesses materiais. Atualmente já existem gelatinas de origem vegetal, mas, devido ao alto custo e falta de viabilidade econômica, essas cápsulas ainda se restringem ao uso em pequena escala pelas farmácias de manipulação. O maior cuidado que deve ser observado com as cápsulas gelatinosas duras é em relação à umidade. Essas cápsulas têm entre 13% e 16% de umidade presente, porém tendem a absorver a umidade do ar. Quando isso acontece, a gelatina perde seu formado e sua flexibilidade, tornando-se rígida e quebradiça. Essa reação é conhecida quimicamente como ligação cruzada da gelatina. Para evitar esse tipo de situação, é comum nos países úmidos e quentes o armazenamento das cápsulas gelatinosas sob refrigeração. Fonte: Anônimo/Google Figura 23 – Fechamento Coni-Snap® Um outro cuidado que precisa ser observado quanto à fabricação das cápsulas gelatinosas duras é em relação ao seu fechamento. No passado, era comum que as grandes indústrias sofressem com o extravasamento de póse a abertura das cápsulas ao longo do processo de fabricação. Atualmente, a inovação no desenvolvimento das cápsulas melhorou esse e outros problemas, como o engavetamento dos invólucros, com a criação das cápsulas do tipo Coni-Snap®. Nesse tipo de invólucro, as paredes não são retas, mas levemente afuniladas, e o fechamento se dá em duas etapas, chamadas de “duplo-clique”, aumentando a segurança e evitando o extravasamento de pós (figura 23). CÁPSULAS GELATINOSAS MOLES Fonte: Bankoo/Shutterstock Figura 24 – Cápsulas gelatinosas mole Existem duas principais diferenças entre as cápsulas gelatinosas duras e as moles. A primeira é que as cápsulas de gelatina dura são constituídas de duas partes, o corpo e a tampa, e as de gelatina mole são feitas de uma única parte. A segunda é que as cápsulas gelatinosas moles são constituídas de gelatina e um emoliente como a glicerina, o propilenoglicol ou o sorbitol. É possível adicionar outros adjuvantes farmacêuticos como conservantes, antioxidantes, corantes e até opacificantes, assim como nas cápsulas gelatinosas duras. São mais utilizadas para o encapsulamento de líquidos, mas podem encapsular também materiais pastosos e suspensões. Lembrando que, independentemente do material a ser encapsulado, ele jamais poderá ser um diluente da gelatina, como a água, por exemplo. Uma outra diferença entre as cápsulas gelatinosas moles e as duras é em relação ao processo de fabricação. Enquanto as cápsulas gelatinosas duras podem ser obtidas separadamente para serem preenchidas em etapas distintas, as cápsulas moles são produzidas em um processo contínuo, no qual a fabricação e o enchimento acontecem em uma única etapa. A maioria das cápsulas de gelatina mole são produzidas pelo método de moldagem rotativa, no qual são fabricadas, enchidas e seladas em uma operação contínua. O formato dessas cápsulas depende do molde escolhido e pode ser oval, oblongo ou redondo. ADJUVANTES FARMACÊUTICOS Você já estudou sobre os adjuvantes farmacêuticos ou excipientes. Agora vamos falar um pouco mais sobre os principais materiais utilizados como auxiliares na preparação das cápsulas gelatinosas duras. Dentre eles, os principais são os agentes diluentes, lubrificantes e molhantes. Independentemente da escolha do excipiente, ele precisa apresentar algumas características específicas, assim como nos demais usos, que são: Ser inócuo ou inerte. Não interferir na biodisponibilidade dos fármacos. Melhorar a estabilidade. Facilitar as operações de fabricação. Não interferir nos ensaios de qualidade. DILUENTES São utilizados para o enchimento das cápsulas, para ocupar o espaço deixado pelo fármaco, dando volume. As cápsulas devem ter pelo menos 90% de seu volume preenchido e por isso são os excipientes que entram em maior quantidade na formulação e podem mais interferir na liberação do fármaco da forma farmacêutica. Os diluentes podem ser solúveis ou insolúveis e devem ser escolhidos levando-se em consideração a solubilidade do fármaco. Exemplos: Diluentes solúveis: lactose e manitol. Diluentes insolúveis: celulose microcristalina e amido de milho. LUBRIFICANTES São utilizados para melhorar o escoamento dos pós e diminuir a coesão entre as partículas. Têm um papel mais importante no enchimento automático utilizado em grande escala pelas indústrias farmacêuticas. São altamente hidrofóbicos e suas quantidades devem ser restritas, a fim de não interferirem na solubilidade do fármaco. Exemplos: talco, estearato de magnésio e dióxido de dilício coloidal (Aerosil®). MOLHANTES São utilizados para melhorar a solubilidade de fármacos pouco solúveis ou hidrofóbicos. Geralmente são tensoativos e devem ter sua concentração regulada em no máximo 2%, devido às suas restrições de uso. Exemplo: lauril sulfato de sódio. ENCHIMENTO DE CÁPSULAS Fonte: Gumpanat/Shutterstock Figura 25 – Enchimento automático de cápsula A fabricação das cápsulas nas farmácias magistrais é bem diferente da fabricação nas indústrias farmacêuticas. Enquanto as farmácias magistrais utilizam encapsuladores manuais com capacidade máxima de 360 cápsulas, as indústrias farmacêuticas realizam a fabricação por meio de um encapsulamento automático que pode chegar a 180.000 cápsulas por hora (figura 25). Um bom técnico de laboratório pode chegar a fabricar, na farmácia magistral, até 2.000 cápsulas por hora, mas a supervisão e os cálculos que envolvem o enchimento das cápsulas devem ser realizados pelo farmacêutico. Uma vez que a quantidade de princípio ativo não pode variar, o farmacêutico precisa determinar o tamanho das cápsulas a ser utilizado e a quantidade de excipiente necessária para o seu enchimento. Fonte: imperio10/Shutterstock Figura 26 – Encapsulamento manual Além disso, as cápsulas são medidas em volume, e não em massa, daí a importância de se determinar a densidade dos pós para a realização do enchimento das cápsulas. (figura 26). APRENDA SOBRE O ENCHIMENTO DAS CÁPSULAS NA MANIPULAÇÃO FARMACÊUTICA, OBSERVANDO UM EXEMPLO DE CÁLCULO. Observe a formulação a seguir: Componentes Quantidade Guaraná em pó 500 mg Lactose q.s.p. 1 cápsula Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal javascript:void(0) 1ª etapa: determinar o volume aparente dos componentes da formulação. Isso pode ser realizado de forma direta e experimental ou por meio da densidade aparente informada pelo fornecedor. Vap do guaraná em em pó para 1 g de pó = 1,8 mL Vap da lactose para 1 g de pó = 2,1 mL 2ª etapa: determinar o tamanho da cápsula. 1 g de guaraná ---------- 1,8 mL 0,5 g de guaraná -------- X X = 0,75 mL Observando a tabela do tamanho das cápsulas: Tamanho da cápsula Capacidade em Volume 000 1,37 mL 00 0,95 mL 0 0,68 mL 1 0,50 mL 2 0,37 mL 3 0,30 mL 4 0,21 mL 5 0,13 mL Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal É possível, portanto, escolhermos a cápsula 00. 3ª etapa: determinar a quantidade de excipiente. Se 500 mg de guaraná ocupa um volume de 0,75 mL, por diferença teremos: 0,95 mL - 0,75 mL = 0,20 mL. Irá faltar um espaço de 0,20 mL na cápsula, que deverá ser preenchido com excipiente. Agora, se 1 g de lactose ocupa um volume de 2,1 mL, então 0,20 mL será ocupado por X g de excipiente. Vejamos: 1 g de lactose --------- 2,1 mL X g de lactose --------- 0,20 mL X = 0,095 g de lactose 4ª etapa: determinar a quantidade de fármaco e excipientes para o preparo de 120 cápsulas. 1 cápsula -------- 500 mg de guaraná em pó 120 cápsulas ---- X X = 60.000 mg ou 60 g 1 cápsula -------- 0,095 g de lactose 120 cápsulas ---- X X = 11,40 g Serão necessários 60 g de guaraná em pó e 11,4 g de lactose para o enchimento e o preparo de 120 cápsulas. Obs.: comum, na prática farmacêutica, o farmacêutico realizar sempre o cálculo para n + 1 cápsulas a fim de minimizar a margem de erro da pesagem e da etapa de encapsulamento. Neste caso, então, seriam utilizados 60,5 g de guaraná em pó e 11,5 g de lactose. CONTROLE DE QUALIDADE DE CÁPSULAS O controle de qualidade de cápsulas na farmácia magistral resume-se à realização do peso médio das cápsulas. Já na indústria farmacêutica, é bem mais completo e inclui, além do peso médio, os testes de desintegração e de dissolução. PESO MÉDIO O peso médio é um ensaio de controle de qualidade que visa garantir a uniformidade das doses unitárias. Nesse teste, vinte cápsulas são escolhidas de forma aleatória e pesadas individualmente; a média aritmética é determinada e é realizado também o cálculo do desvio- padrão relativo, que não pode ser superior a 4%. Para cápsulas duras, moles e vaginais com peso médio de até 300 mg, a variação é de aproximadamente e, para cápsulas com peso médio acima de 300 mg, a variação é aproximadamente 7,5%. Pode-se tolerar, no máximo, duas unidades fora dos limites especificados; em relação ao peso médio do conteúdo, porém, nenhuma poderá estar acima ou abaixo do dobro das porcentagens indicadas.Fonte: Evgeny Starkov/Shutterstock Figura 27 – Peso médio das cápsulas Na indústria farmacêutica, esse ensaio é realizado em dois momentos: no controle de processo, a cada 30 minutos de produção. e no fim da fabricação, na avaliação do controle de qualidade final do lote. Fonte: Surasak_Photo/Shutterstock Figura 28 – Desintegrador de cápsulas e comprimidos TESTE DE DESINTEGRAÇÃO O teste de desintegração consiste no tempo necessário para que a forma farmacêutica sólida retorne ao seu estado original de pó ou grânulo. É realizado em um equipamento denominado desintegrador e o objetivo é simular in vitro o que acontece no nosso organismo após a ingestão de uma cápsula ou comprimido com a influência dos movimentos do trato gastrintestinal, da presença de fluidos e da temperatura corporal. O equipamento trabalha com uma cesta com espaço para 6 cápsulas ou comprimidos, a qual é imersa em um fluido predeterminado pelas farmacopeias, 30 vezes por minuto, na temperatura de 37 °C (figura 28). No caso das cápsulas, poucos fatores influenciam no tempo de desintegração, uma vez que o invólucro é rapidamente desintegrado em meio aquoso e nos sucos gástricos. Entretanto, o tempo de desintegração pode influenciar diretamente na velocidade de dissolução do fármaco. TESTE DE DISSOLUÇÃO O teste de dissolução consiste em se determinar in vitro a quantidade de fármaco dissolvida em um determinado meio de dissolução. O equipamento utilizado para este ensaio é o dissolutor e ele é constituído geralmente por 6 cubas e uma cuba extra utilizada para o padrão (figura 29). É realizado somente ao fim do processo de fabricação, sempre com no mínimo 6 cápsulas, e segue a monografia específica de cada produto presente nas farmacopeias. Você saberá um pouco mais sobre o teste de dissolução no módulo sobre comprimidos. Fonte: Cergios/Shutterstock Figura 29 – Dissolutor de cápsulas e comprimidos Assista ao vídeo para saber mais sobre o controle de qualidade de comprimidos. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. VIMOS QUE AS CÁPSULAS SÃO AS FORMAS FARMACÊUTICAS SÓLIDAS AS MAIS FABRICADAS E DISPENSADAS PELAS FARMÁCIAS DE MANIPULAÇÃO. ANALISE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR: I. AS CÁPSULAS GELATINOSAS DURAS SEMPRE SÃO PREENCHIDAS COM PRINCÍPIOS ATIVOS LÍQUIDOS OU SEMISSÓLIDOS. II. UMA DAS MAIORES VANTAGEM DA UTILIZAÇÃO DAS CÁPSULAS É SUA RESISTÊNCIA A VARIAÇÕES DE TEMPERATURA E UMIDADE. III. AS CÁPSULAS APRESENTAM UMA MAIOR FACILIDADE DE DEGLUTIÇÃO FRENTE AOS COMPRIMIDOS E CONSEGUEM MASCARAR O SABOR DESAGRADÁVEL DOS PÓS. IV. AS CÁPSULAS PODEM SER DE LIBERAÇÃO MODIFICADA OU CONTROLADA. A) I e II. B) I e III. C) II e IV. D) III e IV. 2. APREENDEMOS SOBRE OS PRINCIPAIS MATERIAIS UTILIZADOS COMO AUXILIARES NA PREPARAÇÃO DAS CÁPSULAS GELATINOSAS DURAS. SOBRE ESSES MATERIAIS, MARQUE A OPÇÃO CORRETA: A) Os molhantes são utilizados para melhorar a solubilidade de fármacos pouco solúveis ou hidrofóbicos. B) Os lubrificantes são utilizados para facilitar a deglutição das cápsulas. C) Os diluentes são utilizados para diluir os princípios ativos; o principal diluente solúvel é o amido de milho. D) Os lubrificantes devem ser altamente hidrofílicos e suas quantidades devem ser restritas a fim de não interferirem na solubilidade do fármaco. GABARITO 1. Vimos que as cápsulas são as formas farmacêuticas sólidas as mais fabricadas e dispensadas pelas farmácias de manipulação. Analise as afirmativas a seguir: I. As cápsulas gelatinosas duras sempre são preenchidas com princípios ativos líquidos ou semissólidos. II. Uma das maiores vantagem da utilização das cápsulas é sua resistência a variações de temperatura e umidade. III. As cápsulas apresentam uma maior facilidade de deglutição frente aos comprimidos e conseguem mascarar o sabor desagradável dos pós. IV. As cápsulas podem ser de liberação modificada ou controlada. A alternativa "D " está correta. Nas cápsulas, o princípio ativo e os excipientes estão contidos em um invólucro solúvel duro ou mole de formatos e tamanhos variados. Nos dias de hoje, a grande maioria das cápsulas são gelatinosas; elas podem se apresentar de duas formas: cápsulas gelatinosas duras e cápsulas gelatinosas moles. Normalmente, as cápsulas gelatinosas moles recebem os princípios ativos líquidos ou semissólidos. As cápsulas são muito afetadas pela temperatura e pela umidade, sendo necessário o rígido controle desses parâmetros. Essa é uma grande desvantagem da utilização dessa forma farmacêutica. 2. Apreendemos sobre os principais materiais utilizados como auxiliares na preparação das cápsulas gelatinosas duras. Sobre esses materiais, marque a opção correta: A alternativa "A " está correta. Os principais adjuvantes farmacêuticos utilizados para a fabricação das cápsulas são os agentes diluentes, lubrificantes e molhantes. Os lubrificantes são utilizados para melhorar o escoamento dos pós e diminuir a coesão entre as partículas. Por serem altamente hidrofóbicos, suas quantidades devem ser restritas a fim de não interferirem na solubilidade do fármaco. Os diluentes são utilizados para o enchimento das cápsulas, para ocupar o espaço deixado pelo fármaco, dando volume. Os diluentes podem ser solúveis ou insolúveis e devem ser escolhidos levando-se em consideração a solubilidade do fármaco. O amido de milho é um exemplo de diluente insolúvel. MÓDULO 3 Distinguir os principais tipos de comprimido revestido, suas aplicações e os adjuvantes farmacêuticos utilizados COMPRIMIDOS Agora, vamos estudar as principais formas farmacêuticas sólidas. Apesar de serem menos importantes para as farmácias magistrais do que as cápsulas, é unanimidade que as formas farmacêuticas sólidas mais importantes que existem são os comprimidos. Existem muitos tipos de comprimidos e técnicas de fabricação variadas que requerem alta tecnologia. Fonte: MaraZe/Shutterstock O quadro 9 apresenta, de forma resumida, os principais tipos de comprimido e suas definições. Quadro 9: Principais tipos de comprimido | Fonte: adaptado de ALLEN Jr., L. V.; POPOVICH, N. G.; ANSEL, H. C., 2013. Tipos de comprimido Definição Comprimidos convencionais São também chamados de simples ou de liberação imediata. São obtidos por compressão e liberam o fármaco diretamente no estômago. Comprimidos mastigáveis ou de desintegração imediata São comprimidos de dissolução rápida ou que podem ser mastigados. Precisam apresentar um sabor agradável, pois a dissolução acontece já na boca com a mastigação. Também conhecidos como orodispersíveis. Comprimidos sublinguais São parecidos com os mastigáveis e de rápida dissolução. Devem ser administrados embaixo da língua para que sejam absorvidos pela veia cava superior e evitem a absorção gastrointestinal. Comprimidos efervescentes Semelhantes aos pós e granulados efervescentes, devem ser dissolvidos em água antes de serem administrados. Comprimidos revestidos São revestidos com uma camada que pode ser de açúcar, no caso das drágeas, ou um filme peliculado, no caso dos revestimentos por película. Comprimidos de liberação modificada ou retardada São comprimidos revestidos por película resistentes ao suco gástrico, em que o filme só será dissolvido no intestino. São também conhecidos como comprimidos de revestimento entérico. Comprimidos de liberação controlada ou prolongada São comprimidos revestidos por película nos quais a velocidade de liberação do fármaco é controlada. Esse tipo de sistema depende de alta tecnologia. Comprimidos vaginais Diferentemente das demais apresentações, esses comprimidos são de aplicação local, e não sistêmica. Também são obtidos por compressão e considerados uma forma farmacêutica sólida. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Vejamos agora a definição dessas apresentações segundo a Farmacopeia Brasileira, 6a edição. É A FORMA FARMACÊUTICA SÓLIDA QUE CONTÉM UMA DOSE ÚNICA DE UM OU MAIS PRINCÍPIOS ATIVOS,COM OU SEM EXCIPIENTES, OBTIDA PELA COMPRESSÃO DE VOLUMES UNIFORMES DE PARTÍCULAS. PODE SER DE UMA AMPLA VARIEDADE DE TAMANHOS E FORMATOS, APRESENTAR MARCAÇÕES NA SUPERFÍCIE E SER REVESTIDO OU NÃO. Você já compreendeu que os comprimidos são as principais formas farmacêuticas sólidas e as mais fabricadas pelas indústrias farmacêuticas. Isso ocorre em função das inúmeras vantagens que essas apresentações frente às demais preparações farmacêuticas. Observe a seguir as principais vantagens dos comprimidos. Quadro 10: Vantagens e desvantagens dos comprimidos | Fonte: (Adaptado de AULTON, 2005). Vantagens Desvantagens Maior precisão na dosagem. Irritação na mucosa gástrica. Ótima estabilidade e conservação. Problemas de biodisponibilidade. Facilidade de transporte e pequeno volume. Altos investimentos em maquinário. Embalagens invioláveis. Dificuldade de processos. Fácil identificação (formato e cores). Processos rápidos e econômicos. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal ADJUVANTES FARMACÊUTICOS Assim como as cápsulas e outras formas farmacêuticas, os comprimidos, para serem fabricados, também dependem da utilização de uma série de adjuvantes farmacêuticos. Na verdade, é possível que o papel mais importante desses excipientes funcionais seja justamente na formulação dos comprimidos. VOCÊ JÁ VIU QUE OS EXCIPIENTES, APESAR DE SEREM INERTES E INÓCUOS, APRESENTAM ALGUMAS FUNCIONALIDADES IMPORTANTES NAS FORMAS FARMACÊUTICAS SÓLIDAS, POIS SÃO CAPAZES DE MELHORAR O FLUXO E O ESCOAMENTO DOS PÓS, ACELERAR A DESINTEGRAÇÃO DE COMPRIMIDOS, REGULAR A VELOCIDADE DE DISSOLUÇÃO DO ATIVO E INTERFERIR NA BIODISPONIBILIDADE DOS FÁRMACOS. Vejamos a seguir algumas das principais classes de excipientes farmacêuticos utilizados na fabricação de comprimidos: DILUENTES Essas substâncias também são conhecidas como materiais de enchimento e são utilizadas para dar corpo, peso e volume aos comprimidos, ou seja, regulam o tamanho final da preparação. Como, geralmente, entram em grandes quantidades nas formulações, os diluentes devem sempre ser utilizados de acordo com a solubilidade do fármaco, para que não interfiram na liberação do ativo de sua forma farmacêutica. Podem ser solúveis ou insolúveis e, ainda, podem ser utilizados de forma mista, a fim de favorecer a solubilidade do fármaco. Exemplos: Diluentes solúveis: lactose, manitol e sorbitol. Diluentes insolúveis: celulose microcristalina, amido de milho e fosfato de cálcio dibásico. AGLUTINANTES Essas substâncias são utilizadas nas etapas de granulação seca e granulação úmida e têm a função de promover a adesão das partículas sólidas, permitindo a aglomeração dos grânulos. São geralmente polímeros, substâncias de alto peso molecular e de cadeia longa. É preciso tomar muito cuidado, pois a quantidade de agente aglutinante na formulação pode interferir em alguns fatores importantes. Por exemplo, seu excesso na formulação poderá formar granulados muito rígidos e comprometer o tempo de desintegração da preparação, a velocidade de dissolução e, consequentemente, a biodisponibilidade. Já sua falta pode dificultar o processo de granulação, interferindo na mistura de pós e na formação do granulado, dificultando a etapa de compressão e levando a comprimidos friáveis. Exemplos: goma de amido, gelatina, derivado de celulose, polivinilpirrolidona (PVPK-30). DESINTEGRANTES Os agentes desintegrantes têm a função de acelerar a desintegração do comprimido em partículas menores de pós ou grânulos, nos fluidos do organismo, deixando o fármaco mais disponível e facilitando a dissolução. Observem que essas substâncias têm efeito oposto aos agentes aglutinantes e podem atuar por intumescimento ou por formação de capilares que favorecem a penetração da água. Uma vez que o tempo de desintegração do fármaco pode influenciar a velocidade de dissolução do fármaco, esses agentes também interferem na biodisponibilidade dos ativos. Exemplos: glicolato de amido sódico, croscarmelose sódica, crospolividona. LUBRIFICANTES, ANTIADERENTES E DESLIZANTES Essas substâncias melhoram o fluxo do material nos equipamentos, impedindo que fique aderido nas matrizes e punções, e promovem uma fácil ejeção dos comprimidos. Essas substâncias fornecem comprimidos brilhantes, mas suas concentrações de uso nas formulações devem ser rigorosamente controladas, uma vez que são substâncias altamente hidrofóbicas e seu excesso pode interferir na velocidade de dissolução do fármaco. Exemplos: estearato de magnésio, talco, ácido esteárico, dióxido de silício coloidal (Aerosil®). MÉTODOS DE FABRICAÇÃO DE COMPRIMIDOS Existem três técnicas básicas de fabricação de comprimidos: a compressão direta, a granulação seca e a granulação úmida. ATENÇÃO Alguns fármacos têm características físicas de fluidez e compressibilidade tão perfeitas que basta misturá-los com alguns poucos excipientes para que se possa realizar a compressão direta deles, sem a necessidade de granulação. Infelizmente, eles não são a maioria e, mesmo com a evolução no desenvolvimento das tecnologias que envolvem os excipientes farmacêuticos, ainda não é possível promover a compressão direta de todos os fármacos. Dessa forma, a maioria dos fármacos não suporta a compressão direta para a fabricação dos comprimidos e precisam passar pela granulação seca ou úmida para que sejam passíveis de compressão. A partir de agora, vamos conhecer as três técnicas básicas de fabricação de comprimidos. COMPRESSÃO DIRETA Fonte: Anônimo/Google Figura 30 – Esquema do método de compressão direta | Fonte: elaborado pela autora O processo de compressão é o mais simples dentre os métodos de fabricação de comprimidos e envolve apenas três etapas: a tamisação, a mistura e a compressão. Já vimos as técnicas de tamisação e mistura no módulo de pós e granulados. Conheceremos, agora, a técnica de compressão. PROCESSO DE COMPRESSÃO O avanço tecnológico nos últimos vinte anos trouxe o desenvolvimento de máquinas rotativas de compressão cada vez maiores e mais velozes, com controles automatizados sofisticados e que necessitam de grande especialização por parte dos técnicos e farmacêuticos para operá- las. Fonte: Anônimo/LFA Tablet Press Figura 31– Punções e matrizes de comprimidos O princípio básico do processo de compressão em máquinas rotativas consiste no enchimento das matrizes e punções, na força de compressão e na velocidade de rotação (figura 31). A maioria das máquinas de compressão funciona da mesma forma; elas comprimem o material particulado dentro da câmara de compressão (matrizes) mediante uma força de compressão exercida pelo movimento de dois punções de aço, um superior e outro inferior. Fonte: Anônimo/adaptado de Trustar Pack Figura 32 – Processo de compressão Basicamente, o sistema funciona da seguinte maneira: a mistura de pós escoa através de um funil de alimentação e enche a matriz, devidamente regulada para a quantidade de pós desejada pela altura do punção inferior. Em seguida, o punção superior desce e exerce uma força de compressão no material particulado dentro da câmara de compressão. O punção inferior sobe e ejeta o comprimido formado. Esse processo se repete diversas vezes de acordo com o número de punções presentes na máquina rotativa (figura 32). Fonte: aodaodaodaod/Shutterstock Figura 33 – Máquina rotativa de compressão Hoje em dia, as compressoras rotativas podem apresentar projetos que vão desde uma escala de desenvolvimento com oito punções a uma escala industrial com oitenta ou mais punções e que fabriquem 300.000 comprimidos por hora, por exemplo (figura 33). GRANULAÇÃO SECA Fonte: Anônimo/Google Figura 34 – Esquema do processo de granulação seca Você já conheceu o processo de granulação por via seca no módulo que trata de pós e granulados. Vamos apenas recordá-lo rapidamente aqui (figura 34). GRANULAÇÃO ÚMIDA Fonte: Anônimo/Google Figura 35 – Esquema do processo de granulaçãoúmida Você já conheceu o processo de granulação por via úmida no módulo de pós e granulados. Vamos apenas recordá-lo rapidamente aqui (figura 35). CONTROLE DE QUALIDADE Os testes de controle de qualidade para a fabricação de comprimidos na indústria farmacêutica podem ser divididos em dois momentos. Um controle de processo realizado ao longo de toda a fabricação do lote, geralmente a cada trinta minutos, e um controle de qualidade final realizado ao fim do processo de fabricação do lote. ATENÇÃO Observe que, com exceção do teste de dissolução, todos os demais testes são realizados como controle de processo. PESO MÉDIO A determinação do peso médio dos comprimidos é importante, pois garante a uniformidade de conteúdo do fármaco nos comprimidos. O controle do peso médio deve ser realizado ao longo de todo o processo de fabricação. Para a determinação do peso médio, deve-se pesar, individualmente, vinte comprimidos e determinar o peso médio. Pode-se tolerar, no máximo, duas unidades fora dos limites especificados na tabela 1, em relação ao peso médio, porém nenhuma poderá estar acima ou abaixo do dobro das porcentagens indicadas. O desvio-padrão relativo também deverá ser calculado e a faixa geralmente usada é de 2% a 5% de variação. É muito comum a utilização de carta controle ou gráfico controle. Tabela 1 - Critérios de avaliação da determinação de peso para formas farmacêuticas sólidas em dose unitária | Fonte: adaptado de Farmacopeia Brasileira 6a Edição (2019). Formas farmacêuticas em doses unitárias Peso médio Limites de Variação Comprimidos não-revestidos ou revestidos <80 mg ± 10,0% com filme, comprimidos efervescentes, comprimidos sublinguais, comprimidos vaginais e pastilhas >80 mg e <250 mg >250 mg ± 7,5% ± 5,0% Comprimidos com revestimento açucarado (drágeas) <25 mg >25 mg e até 150 mg >150 mg e <300 mg >300 mg ± 15,0% ± 10,0% ± 7,5% ± 5,0% Cápsulas duras e moles, cápsulas vaginais <300 mg >300 mg ± 10,0% ± 7,5% Supositórios e óvulos independentemente do peso médio ± 5,0% Pós estéreis, pós liofilizados e pós para injetáveis >40 mg* ± 10,0% Pós para reconstituição (uso oral) <300 mg >300 mg ± 10,0% ± 7,5% (*) Se o peso médio for de 40 mg ou menos, submeter ao teste de Uniformidade de doses unitárias Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal ATENÇÃO O peso médio, a espessura e a dureza dos comprimidos estão muito relacionados entre si, e existem equipamentos, denominados de multipropósito, que são capazes de realizar essas análises simultaneamente. ESPESSURA Apesar de não ser considerado um parâmetro farmacotécnico, a determinação da espessura dos comprimidos mediante uma faixa mínima e máxima indicará se houve uniformidade de enchimento em função da pressão empregada. ATENÇÃO A medida é feita por um paquímetro, durante todo o processo, e sua variação pode influenciar no processo de embalagem (blister e strip). DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE DE RESISTÊNCIA DOS COMPRIMIDOS Fonte: Anônimo/Impor Técnica Legenda: Figura 36 – Durômetro para comprimidos TESTE DE DUREZA O teste de dureza dos comprimidos consiste em uma medida indireta da força de compressão dada, sendo esta a força necessária para quebrar o comprimido. É necessário utilizar um equipamento específico denominado durômetro. As farmacopeias determinam um valor mínimo de dureza, determinado em Newton (N) ou em quilograma-força (Kgf) (figura 36). O teste é realizado com dez comprimidos, individualmente, eliminando-se qualquer resíduo superficial antes de cada determinação. Os comprimidos devem obedecer sempre à mesma orientação (considerar forma, presença de ranhura e gravação) e o resultado deve ser expresso como a média dos valores obtidos nas determinações. O resultado do teste é informativo. TESTE DE FRIABILIDADE O teste de friabilidade de comprimidos consiste na avaliação da resistência mecânica dos comprimidos a ações diversas (avaliação da tendência de fragmentação). O teste consiste em pesar dez ou vinte comprimidos de acordo com o peso especificado nas farmacopeias, submetê-los à ação do aparelho e retirá-los depois de efetuadas cem rotações. Em seguida, deve-se remover qualquer resíduo de pó dos comprimidos e pesá-los novamente. A diferença entre o peso inicial e o final representa a friabilidade, medida em função da porcentagem de pó perdido, e o valor máximo permitido é de 1%. O equipamento utilizado é denominado friabilômetro (figura 37). Fonte: Surasak_Photo/Shutterstock Figura 37 – Friabilômetro A AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA MECÂNICA DOS COMPRIMIDOS É IMPORTANTE, POIS, SE OS COMPRIMIDOS ESTIVEREM FRIÁVEIS PODEM ATRAPALHAR O PROCESSO DE REVESTIMENTO OU DE EMBALAGEM. DESINTEGRAÇÃO O teste de desintegração de comprimidos é realizado de forma semelhante ao realizado para as cápsulas e utiliza o mesmo equipamento (verifique o Módulo 2, sobre o controle de qualidade de cápsulas — teste de desintegração). DURANTE TODO O CONTROLE DE PROCESSO DO LOTE DE COMPRIMIDOS, DEVE-SE REALIZAR O TESTE DE DESINTEGRAÇÃO, SEMPRE COM AMOSTRAS DE SEIS COMPRIMIDOS. A DESINTEGRAÇÃO PODE AFETAR A VELOCIDADE DE DISSOLUÇÃO DO FÁRMACO, E ALGUNS CUIDADOS DEVEM SER OBSERVADOS EM RELAÇÃO AO TEMPO DE DESINTEGRAÇÃO. Os constituintes da formulação, como os agentes desintegrantes, o processo de fabricação e a dureza dos comprimidos interferem no tempo de desintegração e podem influenciar na velocidade de dissolução e na biodisponibilidade do fármaco (figura 38). Fonte: A – Elaborado pela autora; B – Farmacopeia Brasileira 6ª edição Figura 38 – Desintegrador de cápsulas e comprimidos DISSOLUÇÃO O teste de solução é o único dos ensaios de controle de qualidade que não é realizado ao longo do processo de fabricação; só é realizado no controle de qualidade final da fabricação do lote. O teste de dissolução consiste em determinar in vitro a quantidade de fármaco dissolvida em um determinado meio de dissolução. Fonte: Farmacopeia Brasileira 6ª edição; e Shutterstock por Cergios Figura 39 – Teste de dissolução aparata 1 (cestas) O equipamento utilizado para esse ensaio é o dissolutor, constituído geralmente por seis cubas e uma cuba extra utilizada para o padrão. Esse aparelho de dissolução tem um sistema de três componentes distintos que contempla três métodos de dissolução: o método de cestas (aparato 1), o método de pás (aparato 2) e o método de cilindros alternantes (aparato 3), sendo os dois principais o de cestas e o de pás (figuras 39 e 40). Fonte: Farmacopeia Brasileira 6ª edição; e Shutterstock por Cergios Figura 40 – Teste de dissolução aparata 2 A escolha do método, o meio de dissolução, o tempo e a quantificação do princípio ativo são determinados de acordo com a monografia específica de cada produto. SAIBA MAIS O teste de dissolução in vitro é muito importante, assim como o perfil de dissolução, para fornecer uma previsão da biodisponibilidade do ativo ou, ainda, para correlacionar os dados obtidos com o sistema in vivo. Esses resultados podem ser associados com o sistema de classificação biofarmacêutica (SCB), a fim de se estabelecer uma relação segura entre os resultados in vitro e in vivo para a determinação da biodisponibilidade. O quadro 11 apresenta o sistema de classificação biofarmacêutica (SCB). Quadro 11: Sistema de classificação biofarmacêutica (SCB) dos fármacos | Fonte: adaptado de ALLEN Jr., L. V.; POPOVICH, N. G.; ANSEL, H. C., 2013. Classes Solubilidade Permeabilidade Classe I Alta Alta javascript:void(0) Classe II Baixa Alta Classe III Alta Baixa Classe IV Baixa Baixa Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal CLASSE I Os fármacos classe I são considerados bioisentos, pois apresentam uma alta solubilidade e alta permeabilidade e a relação entre a velocidade de dissolução in vitro e a biodisponibilidade é considerada alta. São fármacos que geralmente atingem 85% de dissoluçãoem menos de quinze minutos. CLASSE II Os fármacos classe II apresentam baixa solubilidade e alta permeabilidade. Nesses casos, a velocidade de dissolução pode ser considerada um fator limitante para a absorção e deverá ser observada e regulada. CLASSE III javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Os fármacos classe III apresentam baixa permeabilidade e alta solubilidade. Nesses casos, a absorção será a etapa limitante e a velocidade de dissolução deverá acompanhá-la para que a biodisponibilidade seja atingida. CLASSE IV Os fármacos classe IV apresentam baixa solubilidade e baixa permeabilidade, e sua administração oral desses deve ser revista, uma vez que, dificilmente, a biodisponibilidade desses fármacos será atingida. Conforme visto, muitos fatores afetam a desintegração e a velocidade de dissolução dos fármacos, entre eles: o tamanho da partícula; a solubilidade; a quantidade de agente desintegrante, aglutinante e lubrificante; o método de fabricação, principalmente a granulação úmida, entre outras variáveis. ATENÇÃO Os testes de desintegração e de dissolução auxiliam a determinar essas variações e os cuidados necessários a serem observados para garantir a eficácia, a segurança e a qualidade do produto final. Assista ao vídeo e veja na prática o processo de desintegração de comprimidos e o teste de friabilidade. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. OS COMPRIMIDOS SÃO PREPARADOS POR TRÊS MÉTODOS GERAIS: GRANULAÇÃO ÚMIDA, GRANULAÇÃO SECA E COMPRESSÃO DIRETA. COM BASE NESSES TRÊS PROCESSOS, A PREPARAÇÃO DE COMPRIMIDOS TAMBÉM PODE SER DIVIDIDA EM MÉTODOS SECOS E MÉTODOS MOLHADOS. OS MÉTODOS A SECO, EM PARTICULAR A COMPRESSÃO DIRETA, APRESENTAM VANTAGENS QUANDO COMPARADOS ÀQUELES QUE EMPREGAM LÍQUIDOS PORQUE: A) Exigem gastos com equipamentos necessários para os procedimentos de molhar e secar. B) Podem evitar a hidrólise de fármacos sensíveis à água. C) Produzem comprimidos com cores mais brilhantes. D) Evitam a necessidade de mistura e tamisação. 2. PARA MEDIR A FALTA DE RESISTÊNCIA DOS COMPRIMIDOS À ABRASÃO, QUANDO SUBMETIDOS À AÇÃO MECÂNICA, UTILIZA-SE O TESTE DE: A) Dureza. B) Friabilidade. C) Desintegração. D) Peso médio. GABARITO 1. Os comprimidos são preparados por três métodos gerais: granulação úmida, granulação seca e compressão direta. Com base nesses três processos, a preparação de comprimidos também pode ser dividida em métodos secos e métodos molhados. Os métodos a seco, em particular a compressão direta, apresentam vantagens quando comparados àqueles que empregam líquidos porque: A alternativa "B " está correta. As moléculas de alguns fármacos podem sofrer alterações químicas quando entram e contato com a água. Os métodos a seco previnem essa interação, evitando, assim, a hidrólise dos fármacos sensíveis. As demais alternativas estão incorretas em relação aos métodos secos. 2. Para medir a falta de resistência dos comprimidos à abrasão, quando submetidos à ação mecânica, utiliza-se o teste de: A alternativa "B " está correta. O teste de friabilidade de comprimidos consiste na avaliação da resistência mecânica dos comprimidos a ações diversas (avaliação da tendência de fragmentação). MÓDULO 4 Diferenciar os principais tipos de comprimido revestido, suas aplicações e os adjuvantes farmacêuticos utilizados COMPRIMIDOS REVESTIDOS As técnicas de revestimentos de comprimidos já existem há muitos anos. Os comprimidos são revestidos por diversos motivos, como para mascarar o sabor desagradável, facilitar a deglutição ou proteger o fármaco. Segundo a Farmacopeia Brasileira, 6a edição, os comprimidos revestidos são definidos da seguinte maneira: Fonte: sasimoto/Shutterstock Exemplos de comprimidos revestidos É O COMPRIMIDO QUE TEM UMA OU MAIS CAMADAS FINAS DE REVESTIMENTO, NORMALMENTE POLIMÉRICAS, DESTINADAS A PROTEGER O FÁRMACO DO AR OU DA UMIDADE; PARA FÁRMACOS COM ODOR E SABOR DESAGRADÁVEIS; PARA MELHORAR A APARÊNCIA DOS COMPRIMIDOS; OU PARA ALGUMA OUTRA PROPRIEDADE QUE NÃO SEJA A DE ALTERAR A VELOCIDADE OU EXTENSÃO DA LIBERAÇÃO DO PRINCÍPIO ATIVO. Conforme visto, portanto, o revestimento de comprimidos apresenta algumas vantagens importantes em relação aos comprimidos simples ou convencionais. Vejamos no quadro a seguir essas vantagens. Quadro 12: Vantagens e desvantagens dos comprimidos revestidos | Fonte: Adaptado de AULTON, 2005. Vantagens Desvantagens Mascarar odor ou sabor desagradável. Depende de equipamentos sofisticados. Evita a ação emética ou irritante de algumas substâncias. Custo do processo (mais uma etapa operacional). Fácil deglutição (arestas arredondadas). Exige pessoal qualificado. Melhorar a estabilidade do fármaco frente ao meio ambiente. Facilidade de identificação. Proporcionar maior resistência ao comprimido. Possibilidade de revestimento funcional para liberação modificada. Diminui a contaminação cruzada. Evitar incompatibilidades entre os componentes. Impedir a formação de pós e facilitar ao processo de embalagem. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Fonte: r.classen/Shutterstock TIPOS DE REVESTIMENTO Existem várias técnicas de revestimento: revestimento por película, revestimento por açúcar, revestimento por compressão, revestimento por gelatina, entre outros. Nesse módulo iremos contemplar os dois principais tipos de revestimento: por açúcar e por película. REVESTIMENTO POR AÇÚCAR O revestimento por açúcar é também conhecido como drageamento. Na realidade, as drágeas nada mais são do que comprimidos revestidos com açúcar. Antigamente, esse era o tipo de revestimento mais utilizado e até hoje apresenta alguns pontos interessantes para sua escolha, como o fato de oferecer comprimidos arredondados e brilhantes e mascarar o sabor como nenhum outro processo. Porém, é um processo considerado muito artesanal, de difícil validação e muito demorado. O equipamento utilizado para o revestimento por açúcar é a drageadeira. O drageamento pode ser dividido em cinco etapas: IMPERMEABILIZAÇÃO E SELAGEM DO NÚCLEO Trata-se de uma etapa opcional e é utilizada para comprimidos que podem ser afetados pela ação da umidade, pelo ar e pela ação do meio ambiente. Consiste na utilização de uma solução impermeabilizante, alcóolica, contendo um polímero hidrofóbico. A solução é atomizada sobre os núcleos na turbina de drageamento e a secagem é feita pelo sistema de exaustão com ar quente. Exemplos: goma laca, acetoftalato de celulose e acetato de polivinila. REVESTIMENTO PRIMÁRIO OU SUB-REVESTIMENTO Essa etapa tem por finalidade dar corpo ao revestimento, produzindo uma camada grossa ao redor do comprimido, tornando a forma arredondada e a superfície, áspera. São aplicadas de três a cinco camadas de solução de sacarose espessada com gelatina, goma arábica ou PVP. Em seguida, é aplicada uma mistura de açúcar e pós (talco ou amido) para dar aspereza à superfície. A secagem acontece sempre por um sistema por meio de exaustão com ar quente. ALISAMENTO E ARREDONDAMENTO FINAL Essa etapa tem por objetivo o ajuste da forma e o alisamento da superfície do comprimido. Para isso, são aplicadas de cinco a dez camadas de um xarope liso à base de sacarose, contendo talco, amido ou carbonato de cálcio, como agentes lubrificantes, a fim de auxiliarem no alisamento final. ACABAMENTO E COLORAÇÃO Trata-se também de uma etapa opcional, mas serve para conferir cor e uniformidade final ao comprimido. Consiste na aplicação de um xarope diluído contendo um corante. POLIMENTO Nesta etapa, os comprimidos recebem uma última camada de solução orgânica, de rápida secagem, contendo cera de abelha ou de carnaúba para dar-lhes brilho e polimento. As drageadeiras são revestidas com tecidos para auxiliar no polimento, e um pouco de talco pode ser adicionado ao fim do processo. As drágeas finalizadas devem apresentar brilho intenso, bordas arredondadas, superfície lisa e regular e cor uniforme. Os defeitos mais comuns nesse
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