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Revista Superinteressante - Maio 2020

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p. 48
ISOLAMENTO: 
O MERCADO 
DE BUNKERS.
p. 62
COMO O 
BAIXO CRIOU 
A MÚSICA POP.
p. 30
TEREMOS A 
MAIOR RECESSÃO 
DA HISTÓRIA?
p. 70
HEHEHEHEHE: 
OS 80 ANOS 
DO PICA-PAU.
r$ 18,00 
A GRIPE 
ESPANHOLA 
Ela matou milhões de 
pessoas em 6 meses, e traz 
lições importantes para 
a Covid-19. p. 42
A ciência reinará, 
as fake news 
serão esmagadas, 
a polarização vai 
diminuir – mas 
seremos mais 
vigiados, e 
controlados, do 
que nunca. E 
esse processo já 
começou. p. 20
o 
mundo 
pós
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1245768-VEJA NACIONAL-1_1-1.indd 2 14/04/2020 15:49:41
carta ao leitor e d i t o r i a l
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IMPRESSA NA ESDEVA INDÚSTRIA GRÁFICA LTDA
Av. Brasil, 1405, Poço Rico, CEP: 36020-110, Juiz de Fora - MG
Diretor de Redação: Alexandre Versignassi Editor: Bruno Garattoni 
Editor assistente: Bruno Vaiano Repórteres: Guilherme Eler, 
Maria Clara Rossini, Rafael Battaglia Designer-chefe: Juliana 
Krauss Designers: Anderson C.S. de Faria, Carlos Eduardo 
Hara, Maria Pace Estagiários: Bruno Carbinatto, Carolina 
Fioratti (texto) , Lucas Jatobá (arte) Colaboração: Alexandre 
Carvalho (revisão) Atendimento ao Leitor: Walkiria Giorgino 
Pool Administrativo: Mara Cristina Piola (coordenadora) .
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SUPERINTERESSANTE edição nº 415 (ISSN 0104-178-9), ano 34, 
nº5, é uma publi ca ção da Editora Abril 1987 G+J España S.A. “Muy 
Interesante” (“Muito In te res san te”), Es pa nha. Edições anteriores: Venda 
exclusiva em bancas, pelo preço da última edição em banca. Solicite ao 
seu jornaleiro. Distribuída em todo o país pela Dinap S.A. Distribuidora 
Nacional de Publicações, São Paulo. SUPERINTERESSANTE não admi te 
publi ci da de reda cio nal.
Redação e Correspondência: Av. Otaviano Alves de Lima, 
4.400, Freguesia do Ó, CEP 02909-900, São Paulo, SP. Publicidade 
São Paulo e informações sobre representantes de publicidade 
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2528 / 3037-4740 / 3037-3485. Licenciamento de conteúdo: 
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licenciamentodeconteudo@abril.com.br 
Fundada em 1950
VICTOR CIVITA
(1907-1990)
ROBERTO CIVITA
(1936-2013)
Publisher: Fábio Carvalho
Hanover é uma graça, como 
qualquer cidade alemã. Mas em 
1945 era diferente. O comandante 
britânico encarregado de adminis-
trar a cidade após a Segunda Guerra 
descreveu o dia a dia ali como uma 
constante de “saques, brigas, 
estupros, assassinatos”. 
Um desses saques foi a uma loja 
de maçanetas de porta. “As pessoas 
chutavam e batiam com barras de 
ferro em quem tivesse roubado 
mais maçanetas do que elas”, contou 
o correspondente de guerra inglês 
Leonard Mosley (1913-1992). Tudo 
“numa cidade em que metade das 
portas não existia mais”.
A luz só voltaria ao continente 
depois do Plano Marshall. Com 
medo de que uma Europa arrasada 
acabasse aliando-se à União 
Soviética em troca de comida, os 
EUA financiaram os governos de lá.
A partir de 1948, passaram a 
injetar bilhões de dólares em 15 
países. Era uma mão na roda. 
Naquele momento, com a economia 
baleada, praticamente só o dólar e o 
ouro eram aceitos em transações 
internacionais, mesmo quando o 
comércio era entre países europeus. 
Com a moeda forte do Plano 
Marshall no caixa, cada um conse-
guiu importar um pouco do que 
precisava para recolocar a vida nos 
trilhos – comida, fertilizantes, 
combustível, maquinário para a 
indústria. A maior parte vinha dos 
EUA mesmo, que tinham mantido 
intacta sua capacidade de produção. 
Mas os dólares do Plano 
também bombaram a força 
produtiva da Europa. Com mais 
máquinas e insumos agrícolas, cada 
país pôde produzir mais e melhor, 
e vender eles mesmos seus 
produtos. Nisso, as moedas locais 
ganharam força. Os dólares se 
tornaram menos necessários. E em 
1952, depois de ter transferido o 
equivalente a US$ 140 bilhões em 
dinheiro de hoje, o Plano Marshall 
fechou as torneiras. 
Dois terços do dinheiro tinha 
sido dado de graça, já que o 
propósito ali era mais político do 
que financeiro. O resto foi na 
forma de empréstimos, mas com 
prestações a perder de vista. Não é 
figura de linguagem: a Alemanha 
quitou sua última parcela só em 
1971. O Reino Unido, em 2006. 
Agora, que o coronavírus criou 
uma situação de pós-guerra sem 
que houvesse uma guerra, fala-se 
na necessidade de um “novo Plano 
Marshall”. A diferença é que cada 
país terá de fazer o seu. Falo sobre 
isso na reportagem da página 30, 
como parte da nossa cobertura a 
respeito da realidade sob o corona-
vírus, que permeia quase toda esta 
edição. A reportagem de capa, 
comandada pelo editor Bruno 
Garattoni, vai além, e mostra como 
a realidade pós-Covid-19 está 
sendo construída neste momento. 
Boa leitura. Boa sorte. E que a vida 
volte logo a ser uma graça. 
Cada um com o 
seu Plano Marshall 
Alexandre Versignassi
Diretor De reDação
AlexAndre.VersignAssi@Abril.com.br
Foto Tomás Arthuzzi
PUBLICIDADE E PROJETOS ESPECIAIS Marcos Garcia Leal 
(Diretor de Publicidade) (Alimentos, Bebidas, Beleza, Higiene, 
Moda, Imobiliár io, Decoração, Turismo, Varejo, Educação, 
Mídia & Entretenimento) , Marcelo Alberto Cohen (Financeiro, 
Mobilidade, Tecnologia, Telecom, Saúde e Serviços), André Marini 
(Regionais e Governo). DIRETORIA DE MERCADO Carlos Nogueira 
CRIAÇÃO E MARKETING MARCAS Andrea Abelleira BRANDED 
CONTENT, EVENTOS E VÍDEO Sandro Ferreira Rosa PRODUTOS 
E PLATAFORMAS Guilherme Valente DEDOC E ABRILPRESS 
Alessandra Collado ABRIL BIG DATA (BIG DATA + SEO + MKT 
DIGITAL + ADVERTISING) Sérgio Rosa
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70 “E lá vamos nós!”
O Pica-Pau chega aos 80 anos como 
um ícone da nostalgia nacional – 
mais popular por aqui do que nos EUA. 
M A I O d e 2 0 2 0cardápio
essencial oráculo
última páginasupernovas
6 uma imagem...
Isolamento social em 
barracas nas Filipinas.
78 orifício cósmico
Qual a diferença entre buraco 
negro e buraco de minhoca?
86 longo prazo
Quantos anos cada vacina 
levou para ficar pronta?
83 Quando a crise vier
Manual: como fazer um 
currículo certeiro.
10 555 milhões de anos
Conheça o nosso ancestral 
direto mais antigo. 
8 ... uma opinião 
Renda mínima: 
uma boa ideia tam-
bém para tempos 
sem pandemia.
14 3 notícias sobre
19 você decide
12 enQuanto isso...
79 pá pum
16 pérolas do streaming
82 lost in translation
82 pensando bem...
81 só acredito vendo
e se...
84 adeus, sétimo selo
E se a Peste Negra nunca
tivesse acontecido?
Capa | Ilustração Felipe Del Rio Finalização Tomás Arthuzzi
79 cartório 
microscópico
Quem dá nome aos vírus? 
53
bunkers 
subterrâne�
os privados 
estão escon�
didos só no 
estado de são 
paulo.
p.52
número
incrível
12 números vs. corona 
As simulações matemáticas 
que movem o combate 
contra a Covid-19. 
16 apocalipse nota 10
Organizamos filmes sobre o 
fim do mundo em um gráfico 
– dos mais verossímeis aos 
mais Michael Bay.
18 transformer
Protótipo de celular chinês 
tem tela dobrável que fica 
do tamanho de um iPad.
62 Caso grave de injustiça
Ninguém se lembra do baixista – mas o 
baixo elétrico mudou a história da música. 
48 Em caso de fim do mundo 
Só no Brasil, há dezenas de bunkers 
subterrâneos embaixo de mansões. 
Por R$ 15 milhões, você pode ter o seu. 
30 Economia de quarentena 
Podemos entrar na maior recessão 
desde a crise de 1929. E agora? 
20 Capa
o mundo pós-
coronavírus
Mais ciência, menos fake news, home office 
banalizado e vigilância do governo: vamos 
sair da pandemia num mundo diferente,melhor em alguns pontos, pior em outros.
42 Como foi a gripe espanhola
As lições que a pandemia mais letal do 
século 20 deixou para o combate à Covid-19.
36 Criadouro de vírus
Por que o mercado chinês de animais 
silvestres é uma bomba-relógio.
54 Zeus é brasileiro
O Brasil é recordista mundial de raios: caem 
77,8 milhões por ano. 300 atingem pessoas.
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essencial u m a i m a g e m . . .
Foto Ezra Acayan / Getty Images6 super maio 2020
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Foto Ezra Acayan / Getty Images maio 2020 super 7 
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essencial
O conceito de pagar 
um salário para 
cada cidadão, mais 
polpudo que o Bolsa 
Família, é visto com 
bons olhos tanto 
por liberais como 
por socialistas. E a 
crise de agora pode 
ser um gatilho para 
viabilizar a ideia.
OutuBrO dE 2000 foi um mês intenso na vida de Eduardo Suplicy. 
Marta, sua esposa na época, foi eleita prefeita da cidade de São 
Paulo no dia 29. Não foi o único acontecimento marcante daquele 
mês. Nos dias 6 e 7, em viagem a Berlim, Suplicy passou o fim de 
semana conversando com Milton Friedman, um dos economistas 
mais influentes da história. O encontro entre o cofundador do PT 
e o pai do neoliberalismo é ainda mais inusitado porque os dois 
se reuniram para concordar. Em comum, ambos defendiam que 
o Estado deveria garantir uma renda mínima a todos os cidadãos.
“Há pessoas que têm resistência à renda mínima, dizendo se 
tratar de uma proposta neoliberal, pelo fato de Milton Friedman 
ter contribuído para conceituar e popularizar [a ideia]”, escreveu o
. . . u m a o p i n i ã o
renda 
mínima: uma 
boa ideia 
também para 
tempos sem 
pandemia 
na página anterior: Moradores de rua de Manila, nas Filipinas, fazem seu isolamen-
to em tendas improvisadas pelo governo num ginásio da cidade.A área metropolitana 
da capital filipina tem 3 milhões de sem-teto, para uma população de 13 milhões de
habitantes – de cada quatro cidadãos, um não tem onde morar. E o lugar está sob uma 
quarentena severa. Até o transporte público fechou. 
p o r p e d r o m e n e z e s
8 super maio 2020
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Suplicy em artigo sobre aquele en-
contro. “Ser contra a renda mínima 
só porque Friedman a defendeu é se-
melhante a ser contra o imposto de 
renda só porque países capitalistas o 
aplicam”, completou.
A proposta defendida por Friedman 
teve origem num artigo de George Sti-
gler, outro vencedor do Nobel, que des-
creveu ineficiências econômicas gera-
das pelo salário mínimo. Na conclusão, 
sem muita ênfase, Stigler propôs outra 
política pública que geraria o mesmo 
efeito, mas sem os defeitos apontados. 
A ideia foi batizada como “imposto de 
renda negativo”. Friedman gostou e de-
cidiu trabalhar em cima dela.
O imposto de renda negativo é o exato 
oposto do IR comum. A ideia consiste 
em transferir dinheiro público para os 
pobres, de modo que nenhum cidadão 
tenha renda abaixo de certo valor.
Três anos após o encontro de Su-
plicy e Friedman, o imposto de renda 
negativo inspirou o Bolsa Família. O 
economista responsável pelo desenho 
do programa foi Ricardo Paes de Barros, 
ex-aluno de Friedman. O PT protestou. 
Maria da Conceição Tavares, economista 
histórica do petismo, tratava o programa 
como fruto de uma infiltração do Banco 
Mundial em seu partido.
De lá para cá, a união entre liberais e 
socialistas em defesa da renda mínima 
ficou mais forte. Trata-se de uma das 
únicas políticas defendidas por duas 
tribos ideológicas que não se bicam.
Por um lado, muitos liberais argu-
mentam que a renda mínima é um pro-
grama social extremamente eficiente. 
Como o governo se limita a repassar 
dinheiro para o cidadão, os custos com 
burocracia são pequenos e é o indiví-
duo quem escolhe como gastar o valor 
recebido, em vez de deixar a decisão 
nas mãos do Estado.
Da mesma forma, muitos no campo 
da esquerda enxergam a renda míni-
ma como uma ferramenta eficaz no 
combate à pobreza e à desigualdade. 
Quando o trabalhador tem a garantia 
de que receberá algum dinheiro ao fim 
do mês, ele tem mais poder ao negociar 
com o patrão. Também aumentam os 
incentivos para estudar alguns anos a 
mais, evitando a entrada precoce no 
mercado de trabalho.
Se diversos grupos conflitantes 
simpatizam com a ideia, por que ela 
ainda não é aplicada em larga escala? O 
motivo é simples: custa caro. O Bolsa 
Família é barato, mas um lar de quatro 
pessoas com renda mensal de R$ 1.500 
é considerado rico demais para entrar 
no programa. E, mesmo para quem é 
miserável, o valor repassado dificil-
mente ultrapassa R$ 300. Apesar de 
garantir que nenhum brasileiro tenha 
renda familiar abaixo de certo limite, 
o Bolsa Família tem pouco dinheiro e 
atinge poucas pessoas, em relação ao 
total da população.
Por isso, muitos defensores da renda 
mínima propõem uma versão ainda mais 
radical e custosa: a renda básica univer-
sal, conhecida internacionalmente pela 
sigla UBI, que consiste num pagamento 
destinado a todos os cidadãos. Ou seja, 
bilionários e miseráveis, crianças e ido-
sos, todos receberiam o mesmo valor 
fixo, simplesmente por existir.
Enquanto o mundo discute essa 
ideia ambiciosa, o Congresso Nacio-
nal já aprovou uma política de renda 
básica universal. A lei, apresentada por 
Eduardo Suplicy, existe desde 2004, 
mas nunca foi implementada. O motivo 
é a sua inviabilidade prática. O projeto 
estabelece que o benefício pago deve 
ser “suficiente para atender às despesas 
mínimas de cada pessoa com alimen-
tação, educação e saúde”.
Caso o governo decidisse pagar 
mensalmente um salário mínimo para 
cada brasileiro adulto – R$ 1.045, valor 
que muitos julgariam insuficiente para 
cumprir os requisitos da lei –, o custo 
total superaria R$ 1,5 trilhão. Não dá, 
pois isso equivale ao total dos gastos 
federais hoje. 
Isso não significa que devemos des-
cartar a renda mínima como uma ideia 
inviável. A expansão de um programa 
como o Bolsa Família é possível. E o 
espírito da proposta original de George 
Stigler merece ser lembrado: vale a pe-
na substituir políticas públicas menos 
eficientes por uma renda mínima mais 
ampla e robusta.
Mesmo os liberais, céticos com re-
lação a qualquer aumento do Estado, 
precisam levar a ideia a sério. Quan-
to menor o número de cidadãos sem 
condições básicas de alimentação e 
moradia, maior pode ser o espaço do 
livre mercado. Se todos tiverem uma 
garantia mínima de sobrevivência, não 
precisamos temer tanto o avanço da 
tecnologia e a substituição de empre-
gos, por exemplo.
A renda mínima é possível e viável, 
mas para chegar a ela precisamos rein-
ventar o Estado. Esse é o desafio que 
muitos políticos adiaram por anos. Mas 
a sociedade civil tem pressionado – a 
Universidade Stanford até abriu um 
centro de estudos dedicado exclusi-
vamente a essa ideia.
Muitos defensores da renda mínima 
esperavam que o projeto continuasse 
travado numa longa luta, até que veio 
a pandemia. Conforme o novo corona-
vírus se espalha e impede as pessoas 
de trabalhar, diversos países decidiram 
implementar garantias de renda em 
larga escala, incluindo Brasil e EUA. 
Essas políticas são temporárias, cla-
ro, mas o simples fato de terem sido 
aplicadas já aumenta a viabilidade de 
novos programas de renda mínima no 
futuro, mais abrangentes. Vinte anos 
depois do encontro entre Friedman e 
Suplicy, nunca estivemos tão próximos 
de ver as ideias deles se transformarem 
em realidade, por todo o planeta. S
Para liberais, ela traz mais 
poder de decisão aos cidadãos. 
Para socialistas, é fundamental 
para minguar a desigualdade. 
E d i ç ã o a l e x a n d r e v e r s i g n a s s i
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supernovas
E d i ç ã o : G u I L H e r M e e L e r d E s i g n : c a r L o s e d u a r d o H a r a
os primeiros seres pluricelulares (feitos 
de mais de uma célula) apassear pela Ter-
ra, como algas e esponjas, tinham formatos 
muito irregulares. Isso, evolutivamente fa-
lando, é um problema: significa uma difi-
culdade maior de locomoção e de organizar 
estruturas internas. Mas algo permitiu que a 
vida desse um salto: a simetria bilateral – ter 
um corpo divisível em duas partes iguais. 
Agora, cientistas encontraram na Austrália 
evidências do ser vivo mais antigo a ostentar 
essa característica. Batizado Ikaria wariootia, 
ele viveu há 555 milhões de anos no fundo 
de oceanos, tinha o tamanho de um grão de 
arroz e se parecia com uma espécie de verme 
rechonchudo – como você vê acima. Essa 
forma de dividir o corpo foi incorporada por 
todas as espécies animais que vieram após 
ele. O que significa dizer que o I. wariootia é 
nosso ancestral mais antigo já descoberto.
Nosso parente mais antigo
1
10 super maio 2020
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sn. f a t o s
Ilustrações (1) Alexey Voltolino (2) Denis Freitas
Poucos voos, menos carros circulando, in-
dústrias produzindo menos. Com o planeta 
focado em combater a pandemia de Covid-19, 
a poluição do ar caiu consideravelmente.
 Em Nova York, o tráfego diminuiu 35% 
desde a chegada do novo coronavírus. Isso 
cortou as emissões de monóxido de carbono 
por automóveis pela metade, em comparação a 
2019. Na China, epicentro inicial da pandemia, 
as emissões de CO2 caíram 25% em apenas 
duas semanas, o que, segundo estimativas, po-
de resultar numa redução de 1% em 2020. 
 O total de NO2 na atmosfera também ficou 
menor de forma repentina no norte da Itália, 
um dos países mais afetados pela pandemia. 
Por lá, a queda foi de 40% – a diferença é tão 
grande que dá para ver a mancha de poluição 
diminuindo em imagens de telescópio. O mes-
mo aconteceu em países como Reino Unido, 
Alemanha e Holanda. O Brasil não ficou de 
fora: segundo a Cetesb, houve queda de 50% 
na poluição do ar na cidade de São Paulo uma 
semana após o início da quarentena.
 A má notícia é que as reduções podem ser 
temporárias. Após o fim da crise financeira de 
2008, por exemplo, as emissões subiram 5% 
repentinamente, como resultado dos estímulos 
financeiros ao setor de combustíveis. O receio 
é que os esforços para recuperar a economia 
joguem os ganhos atuais pelo ralo. BC
quarentena diminui poluição do ar ao redor do mundo
O novo coronavírus puxou o freio de atividades humanas. Quem agradece é o ambiente.
Matéria-priMa 
para esponjas de 
cozinha, solas de 
tênis e bancos de 
carro, o poliuretano 
é um plástico difícil 
de reciclar, pois 
libera substâncias 
tóxicas ao ser degra-
dado. Mas cientistas 
descobriram uma 
nova bactéria capaz 
de se alimentar 
dessas toxinas. O tal 
micróbio é do gêne-
ro Pseudomonas e 
foi encontrado num 
aterro sanitário. 
A ideia é usar 
seu apetite para 
diminuir o rastro 
de plástico que 
humanos deixam 
na natureza – 300 
milhões de tonela-
das são produzidas 
todos os anos. Bruno 
Carbinatto
a bactéria 
que come 
plástico 
tóxico
Maior. É o quanto 
costuma ser a ex-
pectativa de vida de 
fêmeas em compa-
ração à de machos 
da mesma espécie, 
segundo um estudo 
europeu que anali-
sou 101 mamíferos 
diferentes.
Foi a conclusão de uM estudo que analisou a saúde da Grande Barreira de Coral da Austrália, o maior recife 
de corais do mundo. Estima-se que 60% dos corais tenham adquirido aspecto esbranquiçado em algum 
grau. É a maior área já afetada na história. Quem dá cor aos corais são algas que vivem presas a eles. Se 
a temperatura aumenta muito, as algas são expulsas – o que pode ser letal, já que elas são sua principal 
fonte de alimento. Trata-se do terceiro episódio de branqueamento em massa na região em cinco anos.
18,6 %
“Os corais estão brancos como nunca”
2
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sn. f a t o s
MateMática a serviço do coMbate ao coronavírus
Um dos maiores desafios durante uma 
pandemia é comportar um grande nú-
mero de pacientes nos hospitais e UTIs 
simultaneamente. Pensando nisso, o ma-
temático Osmar Neto, que vive em São 
José dos Campos (SP), investe na criação 
de modelos matemáticos que tentam 
prever o avanço da Covid-19 no Brasil. 
Como os modelos funcionam? Costuma-
mos seguir um fluxo de situações. Primei-
ro a pessoa está suscetível, exposta. De-
pois ela pode ou não se infectar, precisar 
de um hospital e aí seguir ou não para a 
UTI. Para cada uma dessas etapas existe 
uma equação diferente em que você pode 
mudar as variáveis, como na matemática 
de colegial.
 
Como essas simulações podem ajudar a 
reduzir o número de mortes? É possível 
estimar qual vai ser o dia que a prefeitura 
vai precisar de mais leitos para poder se 
preparar. Se a demanda fosse espalhada 
ao longo do ano, como uma gripe, o sis-
tema de saúde conseguiria dar conta. 
Quando começou a crise, São José dos 
Campos só tinha um leito disponível, 
porque não deixam de existir pessoas que 
buscam os hospitais por outras razões. Se 
não houver leito suficiente para cuidar de 
todo mundo, a mortalidade cresce muito. 
 
Por que previsões podem dar resultados 
tão diferentes? Existem variações nos 
modelos, mas são as variáveis que mudam 
mais. Depende da severidade das medidas 
de contenção, da velocidade de propaga-
ção, do tempo que a pessoa fica infecciosa. 
O site da OMS, por exemplo, diz que o 
período de incubação do novo coronaví-
rus pode ser de 2 a 21 dias. Isso é terrível 
para um modelo matemático. Dependen-
do do número que você coloca, aconte-
cem situações totalmente diferentes. O 
pico [de casos] pode variar desde junho 
deste ano até fevereiro do ano que vem. 
Maria Clara Rossini
Fontes (1) OMS (2) Universidade Stanford (3) 
Perth Museum and Art Gallery (4) Nature
Por Carolina Fioratti 
e Carlos Eduardo Hara
enquanto 
isso...
A internet foi do-
minada por lives de 
famosos. 
Simulações podem ajudar cidades a se preparar melhor para a pandemia.
Ilustração Denis Freitas
Novas mortes por ebola no 
Congo impediram que a OMS 
decretasse oficialmente o fim 
da epidemia no país. (1)
Cientistas descobriram que 
lulas de Humboldt brilham 
no escuro para se comunicar 
durante a caça. (2)
Arqueólogos encontraram 
pintura de deusa egípcia den-
tro do caixão de uma múmia 
de 3 mil anos. (3)
Pesquisadores descobriram 
que existiam florestas 
tropicais na Antártida há 90 
milhões de anos. (4)
12 super maio 2020
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Quanto dura o coronavírus?
O ponto 
branco mar-
ca o tempo 
em que a 
carga viral 
se mantém 
grande o 
bastante 
para infectar.
Após 4h, há tão poucos 
vírus no cobre que ele 
não oferece mais perigo.
No aço e no plástico,
o vírus fica ativo até 24h
após a contaminação.
Logo após a contaminação,
o plástico é o meio que
retém uma carga viral maior.
No de 
vírus
por ml de 
 secreção 
 Horas 
10.000
1.000
100
4
8
24
48
1
Depende da superfície. Se um infectado espirrar em algo de plástico, demora mais de um dia para a carga 
viral cair abaixo da linha do perigo. Já no papelão, oito horas são suficientes.
 papelão 
 cobre 
64 mil
É o número de pessoas feridas ou mortas no Camboja por minas terrestres que não explodiram 
durante a Guerra do Vietnã. Mas cientistas da Universidade de Ohio encontraram uma forma de 
mapear o local exato onde as minas estão – e evitar novos acidentes. Eles criaram uma inteligência 
artificial capaz de identificar, via imagens de satélite, as áreas dos campos minados – incluindo 
aquelas que ficaram tomadas pela vegetação, passando despercebidas na paisagem. O novo 
método foi testado em uma área de 100 km²em Kampong Trabaek, no Camboja, que foi alvo 
de bombardeios entre 1970 e 1973. A ferramenta cravou com sucesso a localização de bombas 
não detonadas em 86% dos casos. Carolina Fioratti
Fonte Aerosol and Surface Stability of SARS-CoV-2 as Compared with SARS-CoV-1
 plástico 
 aço inoxidável 
maio 2020 super 13 
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sn. f a t o s
“Remédios” para Covid-19
3 notícias sobre
1. 2. 3.
santococô 
Que a vaca é sagrada na 
Índia, você já sabe. Mas tem 
outra: há quem use a urina 
e o esterco do animal para 
curar doenças. Recentemen-
te, um deputado do país 
sugeriu que eles poderiam 
servir ao combate do novo 
coronavírus. Um grupo 
nacionalista hindu, inclusive, 
organizou um evento em 
Déli para beber xixi de vaca e 
provar sua suposta eficácia. (1)
Prata da casa 
Jim Bakker é um apresentador 
de TV dos EUA que passou 
anos preso por fraude. Mas 
isso não o impediu de divulgar 
a Silver Solution – fórmula à 
base de prata, “perfeita” para 
eliminar o novo coronavírus. 
Por sorte, os anúncios foram 
banidos, e Jim está sendo 
processado outra vez. O acú-
mulo de prata no corpo pode 
causar intoxicações graves e 
problemas de pele.(3)
abraço de urso 
A lista de tratamentos 
aprovada pela China conta 
com clássicos da medicina 
tradicional do país. Entre eles, 
uma injeção de bile de urso. 
Embora ela possa mesmo 
diminuir inflamações, não 
há eficácia comprovada para 
Covid-19. Além disso, a reco-
mendação é contraditória: 
em 2020, o país decidiu banir 
o comércio de animais selva-
gens para consumo. (2)
Dejetos sagrados, uma receita da vovó e um tônico picareta . Rafael Battaglia
Assim como 
anéis no tronco 
revelam a idade 
de árvores, mo-
mentos da vida 
humana – como 
a gestação ou a 
menopausa – po-
dem deixar mar-
cas permanentes 
no sorriso. Um 
estudo da Univer-
sidade de Nova 
York analisou a 
dentição de 15 
pessoas usando 
microscopia de 
luz polarizada. A 
equipe detectou 
que a espessura 
do cemento, 
camada que 
cobre a raiz, 
muda se a pessoa 
viveu episódios 
com grande carga 
de estresse. O 
cemento ajuda na 
fixação do dente. 
Ou seja: passar 
por episódios 
de estresse é 
algo que, por si 
só, pode levar à 
perda de dentes.
Seu
passado
está
nos
dentes
Fonte Sitema Deter-B, do Inpe
Cresce número 
de alertas de 
desmatamento 
na Amazônia
ToTal de deTecções no 
primeiro TrimesTre de 2020 
é o maior dos úlTimos 5 anos.
2016
 796 km² 
 643 km² 
 233 km² 
 685 km² 
 525 km² 
2017
2018
2019
2020
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Ilustrações Denis Freitas Fontes (1) BBC (2) National Geographic (3) NPR 
A notíciA
Presos monito-
ram a população 
em pontos de 
ônibus durante
a pandemia
o que elA diziA
O governo do Pará teria 
escalado detentos para 
garantir que as pessoas 
permaneçam a uma 
distância mínima umas 
das outras. A medida 
valeria em pontos 
de ônibus, locais que 
costumam ter grande 
aglomeração. 
A verdAde
É comum que a mão de 
obra de presos sirva a 
funções como limpeza 
urbana ou pequenos 
reparos. Foi isso que 
aconteceu na capital 
Belém: a função dos 
detentos era pintar no 
chão dos pontos de 
ônibus faixas intercala-
das um metro entre si. 
E só. As marcas ajudam 
as pessoas a saber qual 
distância ficar para 
evitar o contágio pelo 
novo coronavírus – 
uma medida recomen-
dada por autoridades 
médicas do mundo 
todo. Nada a ver com 
detentos deixando suas 
celas para cobrar “um 
passinho para trás”
dos usuários de trans-
porte coletivo que 
aguardam na fila.
Não é bem 
assim... 
Notícias que 
bombaram por 
aí - mas não são 
verdade
Respiradores automá icos têm custo 
alto de produção, são difíceis de operar e 
não existem em número suficiente para a 
pandemia. A demanda criada pela Covid-19 
fez produtores firmarem parcerias com mon-
tadoras de carro, empresas de tecnologia e 
até equipes de F1 para aumentar o estoque. 
E também incentivou cientistas a pensar em 
versões mais baratas e acessíveis. Pesquisa-
dores da UFPB criaram recentemente um 
modelo que custa R$ 400 – 37 vezes mais em 
conta que a versão disponível no mercado 
brasileiro. O equipamento teve sua licença 
liberada para a produção por empresas, mas 
ainda deve passar por uma série de testes 
do Inmetro antes de ser usado em hospitais 
pelo País. O que se discute agora é exata-
mente isso: o quanto essas novas versões 
são seguras e podem substituir máquinas 
caríssimas. Existem hoje cerca de 65 mil 
respiradores no Brasil, e cada paciente grave 
de Covid-19 precisa de um.
t
A corridA pArA produzir respirAdores mAis bArAtos
No Brasil, a UFPB criou um modelo de R$ 400 (o convencional custa R$ 15 mil).
Uma supernova é o úl imo ato da vida de uma estrela. A explosão em que ela distribui 
seus átomos pelo Cosmos. Recentemente, astrônomos de Harvard flagraram o maior evento 
desse tipo já avistado. A supernova em questão, a SN206aps, tinha massa entre 50 e 100 vezes 
maior que a do Sol. É muito: supernovas comuns costumam ser seis vezes menores que isso. 
De tão grande, a explosão ofuscou toda a luz da galáxia onde ela vive. A SN206aps está a 4,5 
milhões de anos-luz daqui. Além de ser a maior, ela é a mais duradoura: enquanto explosões de 
supernovas normais duram meses, esta segue explodindo após quatro anos. CF
t
Astrônomos avistam supernova mais poderosa de todos os tempos
2
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CANAL 
Cymye 
YouTube
A brasileira Cyntia Midori 
mora na China e costumava 
postar vídeos sobre gadgets 
e a vida em Shenzhen, sua 
cidade. Com o coronavírus, 
tudo mudou: o canal 
passou a apresentar o dia 
a dia do confinamento, e 
agora mostra como a cidade, 
vizinha de Hong Kong, está 
saindo dele. 
Fotos Reprodução/Divulgação
CANAL
VFX Express
YouTube
Não parece, mas 90% das 
cenas do filme Dois Papas têm 
computação gráfica – que 
permitiu recriar digitalmente 
o Vaticano sem que ele tivesse 
de ser fechado ao público. Este 
canal mostra como foi, e revela 
os segredos de centenas de 
filmes e comerciais: sempre em 
vídeos rápidos, de 3 minutos.
Pérolas do 
streaming
25
Veja quais são os melhores (e os piores) filmes sobre 
pandemia. Demos as notas de acordo com a porcen-
tagem de críticas positivas no Rotten Tomatoes 
(85%, por exemplo, vale aqui uma nota 8,5). 
Texto Rafael Battaglia Design Maria Pace
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
A vida 
imita a arte
Fo
to
s D
iv
ul
ga
çã
o
9,0
8,7
Um vírus modifi-
cado para curar o 
câncer dá errado 
– e os infectados 
se transformam 
em zumbis.
O mundo é tomado 
por um vírus da 
raiva, que acabou 
com o Reino Unido 
em 28 dias.
Sobreviventes de 
uma pandemia en-
viam um prisionei-
ro ao passado para 
buscar a cura.
6,6
Um funcionário da 
ONU procura os pri-
meiros infectados 
em busca de uma 
cura para o apoca-
lipse zumbi.
8,5
Vírus com origem 
num morcego 
sai da China, se 
espalha e obriga o 
mundo a ficar em 
casa. Familiar?
5,9
 EPIDEMIA 
(1995)
Um macaco 
contrabandeado 
da África carrega 
o vírus Ebola que 
infecta uma cida-
de na Califórnia.
5,1
Jovens precisam es-
capar de um labirinto 
– um experimento 
de uma sociedade 
pós-apocalíptica.
3,6
Uma parte de Seul 
é isolada após a 
descoberta de um 
vírus que mata em 
36 horas.
 A GRIPE 
(2013)
NOTA
(-) REALISTA
6,7
Um satélite cai nos 
EUA e traz um vírus 
desconhecido, que 
começa a matar as 
pessoas da cidade.
 O ENIGMA 
 DE ANDRÔMEDA
(1971) 
(+) REALISTA
 CONTÁGIO 
 (2011) 
GUERRA 
 MUNDIAL Z
(2013)
 EU SOU 
A LENDA
(2007) 
6,8
OS DOZE MA-
CACOS (1995)
 EXTERMÍNIO 
(2002)
1,0
 SAGA MAZE 
 RUNNER 
 (2014-2018)
p l a y l i s tsn.
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E d i ç ã o B r u n o G a r a t t o n i
filme
Vida 
Netflix
A Estação Espacial Inter-
nacional descobre vida 
alienígena. É um micróbio 
marciano, que os astronau-
tas da ISS resolvem cultivar 
para estudar. E isso se 
mostra uma péssima ideia. 
Releitura moderna, 
e ainda mais assustadora, 
do clássico Alien.
Série 
I Am Not Okay 
With This 
Netflix
Sydney tem 17 anos e proble-
mas típicos da idade. Briga 
com a mãe, vai mal na escola, 
tenta encontrar seu lugar 
no mundo. Tudo normal, 
exceto por uma coisa: a 
menina descobre que tem 
um poder sobrenatural, que 
se manifesta quando ela está 
com medo ou raiva.
“ Meus 
irmãos e 
eu sempre 
fazíamos 
a mesma 
pergunta: 
quando ela 
vai surtar?",
eScreve aamericana 
Eileen Garvin neste livro 
sobre a vida com a irmã 
mais velha, Margaret, 
portadora de autismo 
severo. Margaret é 
um terror: quebra 
coisas, bate em pessoas, 
arranca a roupa em 
público. Mas há uma 
lógica escondida sob 
todo esse caos – que, 
aos poucos, Eileen vai 
conseguindo desbravar.
Eu, Minha Irmã e seu 
Universo Particular. R$ 30. 
Histórias da Gente 
Brasileira: República 
(1951-2000). R$ 60. 
O humorista Beppe Grillo foi 
banido da TV italiana por ridicu-
larizar o primeiro-ministro Silvio 
Berlusconi. Então ele criou um par-
tido político, o Cinque Stelle, que se 
tornou o maior do país. Mas Beppe 
era só um fantoche. Quem inventou 
tudo, e escrevia os discursos dele, era 
Gianroberto Casaleggio: um enge-
nheiro de software com caracterís-
ticas de gênio do mal. Uma história 
real, mas que chega a parecer ficção. 
Os Engenheiros do Caos. R$ 45. 
O palhaço e o cientista 
A física do impossível
Prédios, favelas 
e restaurantes 
Por quilo
O holandês M.C. Escher ficou famoso pelas 
"cenas impossíveis": desenhos de situações insó-
litas, como uma escada infinita (que ele criou em 
1960 baseado em cálculos do matemático Roger 
Penrose). Neste game, você atravessa cenários 
como os de Escher, só que em escala gigantes-
ca – resolvendo puzzles e tentando sobreviver a 
situações que distorcem a lei da gravidade. 
O Brasil já foi um 
país de casinhas, 
com capitais harmo-
niosas e ritmo de vida 
tranquilo. Neste livro, 
a historiadora Mary 
Del Priore explica 
como e por que tudo 
mudou, dando origem 
ao pior e ao melhor 
das cidades – como 
o rodízio de carnes, 
inventado sem querer 
por um garçom de 
Jacupiranga, e o pri-
meiro quilão do mun-
do: o Isto e Aquilo, 
inaugurado em Belo 
Horizonte em 1986. 
Quando foi lançado, em 2009, o jogo Call of Duty: 
Modern Warfare 2 chocou o público. Foi por causa de uma 
fase em que você pode (ou não) assumir o papel de terro-
rista. Isso colocou o game, que também tem uma missão 
ambientada em uma favela do Rio de Janeiro, sob a mira 
da censura em vários países. Uma década depois, ele está 
de volta, agora com gráficos 4K e o mesmo enredo politi-
camente incorreto – em que milícias, espiões e políticos 
detonam uma guerra global. 
A polêmicA em ultrA hd 
Modern Warfare 2 Remastered. 
Para PS4, Xbox One e PC. US$ 20.
Manifold Garden. Para PC, iPad e iPhone (Apple 
Arcade). A partir de R$ 10.
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sn. t e c h
Fo
to
s D
iv
ul
ga
çã
o
Os primeiros celulares dobráveis, como o Galaxy 
Fold e o Moto Razr, não conquistaram o mercado. É 
que, além de caros, eles não apresentam grandes 
vantagens práticas (quando estão abertos, ficam do 
tamanho de um smartphone comum). O protótipo 
da TCL é diferente. Quando ele é desdobrado, sua 
tela cresce para espantosas 10 polegadas, o tamanho 
O celular 
desdobrável
Protótipo da chinesa TCL tem dois 
eixos dobráveis; quando está aberto, 
se transforma em um tablet do tamanho 
do iPad. Texto Bruno Garattoni
transFOrmer
O smartphone roda 
o sistema operacio-
nal Android, e sua 
tela tem resolução 
total de 3K (3.000 x 
2.000 pixels). A data 
de lançamento ainda 
não foi definida.
de um iPad. Dá para ver vídeos, ler livros e revistas e 
navegar na internet usando a tela inteira, ou usar dois 
apps ao mesmo tempo, um em cada lado (você pode 
consultar a agenda enquanto escreve um email, por 
exemplo). O único porém é que, quando o smartphone 
está fechado, ele fica mais grosso do que um celular 
comum – parece uma carteira de couro.
18 super MAiO 2020
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Cartão localizador
o orbit (US$ 35) parece um cartão qualquer, 
mas é um localizador GPS: se você perder a 
carteira, pode encontrá-la por meio de um app 
(o cartão transmite a própria localização para o 
celular via Bluetooth). Ele também toca um 
alarme de 80 decibéis, bem alto, para ajudar. 
Sua bateria é recarregável, e dura três meses.
você decide
Os projetos mais 
interessantes 
(e surpreendentes) 
do mundo do 
crowdfunding
Sem contato manual 
kickstarter.com
Projeto Hygiene Hand 
O que é Um chaveiro que 
permite abrir portas, apertar 
botões e interagir com 
touchscreens sem tocá-las, 
reduzindo o risco de pegar 
coronavírus. O gadget é feito 
de cobre, material em que 
o SARS-CoV-2 sobrevive por 
menos tempo (4h). 
Meta US$ 5 mil
Chance de rolar 
bbbb
Esteira doméstica
indiegogo.com
Projeto WalkingPad
O que é Uma esteira dobrá-
vel para usar em casa. Ela 
serve para andar ou correr 
(a até 10 km/h), tem motor 
elétrico, amortecedor de 
impacto e um lugar para 
você colocar o smartphone. 
Tudo como as esteiras de 
academia. Mas com uma 
diferença: quando está 
fechada, a esteira fica com 
apenas 15 cm – dá para 
guardar atrás da porta. 
Meta US$ 20 mil
Chance bbbb
E d i ç ã o b r u n o g a r a t t o n i
Elétrico e 
a álcool
Em 2019, o Nike Vaporfly dominou as 
maratonas: 31 dos 36 atletas mais bem 
colocados, nas seis corridas mais importan-
tes do mundo, usavam esse tênis – e, com 
ele, o recorde mundial de maratona caiu 
abaixo de 2h pela primeira vez. O Vaporfly 
era tão bom que acabou sendo banido. Seu 
segredo estava na sola, que tinha 40 mm de 
espessura e uma placa de fibra de carbono. 
O sucessor, que se chama Alphafly (US$ 
250), tem “apenas” 39,5 mm. Está dentro do 
regulamento – por muito pouco. 
O Koenigsegg Gemera tem três 
motores elétricos, que somados 
produzem 1.100 cavalos de po-
tência. Mas não para aí: também 
tem um propulsor de três cilindros 
movido a etanol, que gera mais 
600 CV. O computador do carro, 
que alcança 400 km/h e acelera 
de 0 a 100 km/h em 1,9 segundo, 
coordena todos os motores. 
O Gemera tem 1.000 km de auto-
nomia, e vai custar US$ 1,7 milhão. 
Os aparelhos de RV ainda têm pouca 
resolução: o Oculus Rift S, por exemplo, exibe 
2.560x1.440 pixels, o que não é suficiente (a 
imagem fica meio granulada, como se houves-
se uma rede de pesca na frente dela). Como 
as telinhas ficam muito perto dos seus olhos, 
precisam ter mais resolução. A Panasonic diz 
que chegou lá, e conseguiu criar os primeiros 
óculos 4K: eles exibem 3.840x2.160 pixels, mais 
que o dobro dos rivais. O preço e a data de 
lançamento não foram divulgados. 
Um tênis 
qUase ilegal
Realidade viRtual 
mais Realista 
MAiO 2020 super 19 
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Muita coisa não será como antes. A ciência reinará, 
as fake news serão esmagadas, a polarização deve dimi-
nuir; mas seremos mais vigiados, e controlados, pelos 
governos. Veja como a pandemia deve mudar a história 
– e os sinais de que esse processo já começou.
O mundO
pós-
cOrOna-
vírus
Texto Emanuel Neves, Ricardo Lacerda e Bruno Garattoni
Ilustração Davi Augusto Design Carlos Eduardo Hara
c a p a
20 super maio 2020 
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Winston acorda, 
levanta da cama 
e liga a TV para 
fazer uma aula de 
ginástica. Depois 
do alongamento, a 
professora pergun-
ta quem consegue tocar a ponta dos pés 
sem dobrar os joelhos. “Só a cintura. 
Um-dois! Um-dois!”, diz. Smith tenta, 
mas fracassa. Do outro lado da tela, a 
mulher o adverte: “Smith! Incline-se 
mais, por favor. Você pode fazer mais 
do que isso. Mais baixo. Assim está 
melhor. Agora, todo mundo, descansar!”. 
Em meio à pandemia de coronavírus, 
muita gente começou a fazer exercí-
cios em casa com vídeos do YouTube. 
Mas o episódio acima tem mais de 70 
anos. Foi escrito por George Orwell em 
1948, quando surgiam as primeiras TVs, 
muito antes da internet. No romance 
1984, o Estado usa “teletelas” para trans-
mitir propaganda política (e, também, 
aulas de ginástica) o dia inteiro – e mo-
nitora seus cidadãos 24 horas por dia.
Quando a pandemia de coronavírus 
for superada, nascerá um novo mundo. 
Política, economia, saúde, ciência, rela-
ções humanas: muita coisa não será co-
mo antes. É bem provável, por exemplo, 
que você seja monitorado em tempo 
real pelo Estado, que usará dados para 
determinar o que você poderá ounão 
fazer. É algo que nem a fértil imaginação 
de Orwell pôde conceber – mas tem 
tudo para acontecer. Inclusive porque 
já está acontecendo.
A vida em números
Em 2009, o governo chinês começou 
a desenvolver um projeto chamado 
W
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SI_415_vidaposcorona.indd 21 16/04/20 00:20
“Sistema de Crédito Social”. Ele entrou 
no ar, em versão limitada, em 2014 – e 
ganhou contornos mais amplos, com 
regras mais duras, a partir de 2019. 
Funciona assim: cada cidadão recebe 
uma pontuação inicial, que aumenta ou 
diminui conforme sua conduta. Ganha 
pontos quem vai bem nos estudos, doa 
sangue ou faz serviço voluntário, por 
exemplo. Perde pontos quem atravessa a 
rua fora da faixa, passeia com o cachorro 
sem coleira ou atrasa o pagamento de 
impostos. A China usa 200 milhões de 
câmeras de vigilância, conectadas a um 
sistema de reconhecimento facial, para 
coletar dados sobre o comportamento 
de cada cidadão. “Lembra um pouco a 
cultura dos escoteiros, com seus valores 
sociais. Mas, no mundo digital, eu diria 
que é a gamificação da vida”, afirma Gil 
Giardelli, professor da ESPM e membro 
da Federação Mundial de Estudos do 
Futuro (WFSF), sediada em Paris.
Um escore alto facilita a vida para 
financiar um imóvel, alugar um carro, 
conseguir melhores empregos ou entrar 
numa boa universidade. Uma pontua-
ção baixa pode restringir o acesso a 
serviços públicos e proibir a pessoa de 
viajar – até junho de 2019, segundo o 
governo chinês, 26 milhões de passa-
gens aéreas e 6 milhões de passagens 
de trem foram negadas a pessoas que 
tinham baixa pontuação (elas possuíam 
dinheiro para adquirir os bilhetes, mas 
foram impedidas de comprá-los). 
Atualmente, há vários sistemas de 
crédito social, que são gerenciados por 
empresas e governos locais da China e 
adotam critérios diferentes – mas eles 
deverão ser unificados. “A ideia é que o 
governo central faça um estudo e pense 
numa política que se expanda ao resto 
do país de maneira uniforme”, diz Evan-
dro Carvalho, coordenador do Núcleo 
de Estudos Brasil-China da FGV Rio. 
Em 2018, um estudo online feito por 
pesquisadores alemães com 2.209 chi-
neses revelou que 80% deles aprovavam 
os sistemas de crédito social que utili-
zavam. Detalhe: todos eram sistemas 
privados, criados por empresas. Entre 
 Na China, 6 milhões de 
 pessoas foram impedidas 
 de viajar de trem nos 
 últimos anos. Motivo: 
 possuíam baixo escore em 
 um dos sistemas de crédito 
 social empregados no país. 
22 super maio 2020
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os mais populares está o Sesame Cre-
dit, da gigante varejista Alibaba, que 
usa algoritmos para determinar quem 
pode ou não pegar um empréstimo – ao 
menos essa é a proposta. Mas apenas 
11% dos chineses sabiam que o gover-
no também tem seu próprio sistema 
de pontuação social. Para Carvalho, o 
conceito de crédito social liderado pe-
lo Estado está mais ligado a aspectos 
econômicos do que ao cerceamento das 
liberdades individuais. “A estabilidade 
é fundamental na vida dos chineses, e o 
sistema de crédito social tem a ver es-
pecialmente com a produtividade”, diz.
Mas observadores internacionais, co-
mo a ONG americana Human Rights 
Watch (HRW), dizem que o crédito 
social pode ter um lado mais sinistro: 
o governo chinês, que já monitora for-
temente a internet, poderia aumentar 
ou abaixar a pontuação dos cidadãos 
conforme os sites que eles acessam, com 
quem se comunicam e o que postam. 
Seria uma forma de controlar, implaca-
velmente, a ideologia da população. “Por 
enquanto, critérios políticos não estão 
incluídos no sistema, mas falta pouco 
para que isso seja feito”, diz Kenneth 
Roth, diretor da HRW. E a coisa vai 
além: no futuro será possível utilizar 
até mesmo sinais biométricos, como 
a frequência cardíaca e a temperatura 
corporal, para monitorar as pessoas.
No futuro não. No presente mesmo. 
O coronavírus acelerou e aprofundou o 
processo de monitoração. Em diversas 
cidades da China (e do resto do mundo), 
a entrada e saída de pessoas em prédios 
é controlada: fiscais tiram sua tempera-
tura, e você não pode entrar se estiver 
com febre (que é um sintoma comum da 
infecção pelo SARS-CoV-2). O acesso 
a locais públicos, como supermercados, 
também está sendo regulado, com da-
dos fornecidos por plataformas como 
WeChat e Alipay. Com mais de 1 bilhão 
de usuários, esses superaplicativos já 
faziam parte da rotina dos chineses, 
porque servem para quase tudo: para 
pagar compras (substituindo cartões de 
débito ou crédito), pedir delivery, como 
rede social e para transferir e receber 
dinheiro.
Com o surgimento da pandemia, os 
cidadãos foram obrigados a baixar um 
novo app, o Alipay Health Code, que 
mescla dados do seu histórico de saúde 
e dos lugares onde você esteve para 
avaliar o seu risco de estar infectado. 
Ele atribui um QR code, e uma cor, a 
você – que tem de mostrar o código 
antes de pegar transporte público, entrar 
em lojas ou, em alguns casos, até sair do 
seu apartamento. Se o status for verde, 
você tem permissão para circular em 
locais públicos. Amarelo indica contato 
com indivíduos ou regiões de risco, e 
limita os lugares onde você pode en-
trar. Já o vermelho significa que você 
pode estar contaminado, e deve se isolar 
imediatamente. Tudo isso tem ajuda-
do a conter a pandemia. Mas também 
cria uma rotina orwelliana, no melhor 
estilo Grande Irmão, a figura que re-
presenta o totalitarismo absoluto em 
se a sua “pontuação 
social” for baixa, 
você será barrado
em locais públicos.
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1984 – mesmo porque o governo chinês 
não explicou detalhadamente como o 
seu sistema calcula a cor atribuída a 
cada pessoa. E isso abre espaço para 
arbitrariedades: num futuro pós-pan-
demia, pessoas com baixa pontuação 
social poderiam ser punidas com um 
equivalente à cor vermelha, e ter sua 
circulação restrita, por qualquer motivo. 
A Coreia do Sul, apontada como re-
ferência no enfrentamento da pandemia, 
também está monitorando fortemente 
seus cidadãos: o governo utiliza SMS 
para informar onde há pessoas poten-
cialmente infectadas e os locais em que 
elas estiveram recentemente. Quando 
um caso positivo é registrado, o pacien-
te precisa responder um questionário 
dizendo por onde andou e com quem 
esteve. E não só as pessoas que tive-
ram contato com ele são avisadas, mas 
também desconhecidos que possam ter 
cruzado seu caminho – como o caixa do 
mercado ou o motorista do aplicativo de 
transporte. Isso só é possível porque as 
respostas fornecidas pelos infectados 
são cruzadas com dados de cartão de 
crédito, do GPS do celular e, claro, de 
câmeras de vigilância – também co-
muns nas ruas coreanas. Isso também 
tem sido eficaz no combate à pandemia. 
Mas é um padrão de vigilância inédito, 
e que não será “desinventado” quando 
a poeira do vírus baixar. 
O fato é que a vigilância está, sim, se 
espalhando pelo mundo. No dia 10 de 
abril, Apple e Google anunciaram que 
estão desenvolvendo um novo sistema 
de rastreamento para o iOS e o Android. 
Ele utiliza a tecnologia Bluetooth Low 
Energy para mapear a proximidade en-
tre as pessoas, e irá registrar todos os 
indivíduos de quem você se aproximou 
fisicamente – e, se algum deles testar 
positivo para coronavírus, você será in-
formado. O sistema será implantado por 
meio de uma atualização, que chegará a 
basicamente todos os smartphones do 
mundo nas próximas semanas, e servirá 
como base para aplicativos desenvol-
vidos pelos governos (Apple e Google 
não farão o rastreamento; só fornecerão 
a infraestrutura para que ele ocorra). 
A Rússia também está na ciranda. Já 
começou a desenvolver um aplicativo, 
de uso obrigatório, que usará um QR 
code para armazenar dados sobre seus 
cidadãos. Alemanha e Itália estão usan-
do dados fornecidos pelas operadoras 
de celular, que permitem saber onde 
cada pessoa esteve. E o governo brasi-
leiro anunciou que adotará um sistema 
similar, monitorando 220 milhõesde 
celulares. Segundo o SindiTelebrasil, 
grupo que reúne as operadoras, os da-
dos serão anonimizados e fornecidos 
com 24 horas de atraso, ou seja, não 
revelarão a identidade das pessoas nem 
sua localização em tempo real. A ideia 
é utilizar as informações para entender 
melhor como a população, de modo ge-
ral, está se deslocando.
Em Israel, o monitoramento de ce-
lulares acabou dando margem a medi-
das mais agressivas. O primeiro-mi-
nistro Benjamin Netanyahu anunciou 
a saúde de cada 
pessoa poderá ser 
monitorada pelo go-
verno em tempo real.
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o monitoramento da localização dos 
cidadãos. Em seguida, fechou todos os 
tribunais do país e passou a governar 
por decreto. “O coronavírus matou a 
democracia em Israel”, escreveu o his-
toriador israelense Yuval Noah Harari. 
Ele está acostumado a lidar com o tema. 
Em seu livro 21 Lições para o Século 21, 
lançado em 2018, dedicou um capítu-
lo inteiro ao que chamou de ditaduras 
digitais. “Nas mãos de um governo be-
nigno, algoritmos de vigilância podem 
ser a melhor coisa que já aconteceu ao 
gênero humano. Mas também podem 
dar poder a um futuro Grande Irmão”, 
escreve. Para Harari, é muito provável 
que os palestinos já estejam sendo mo-
nitorados pelos israelenses.
Sim. É comum que, em momentos 
de crise, os países aprovem leis aumen-
tando o poder do Estado. O problema, 
como dissemos, é que algumas dessas 
medidas podem se tornar eternas. Foi 
o que aconteceu nos EUA após o 11 de 
Setembro, em 2001. À época, o Con-
gresso aprovou a Patriot Act, uma lei 
que autoriza o governo a espionar qual-
quer cidadão americano. Originalmente, 
ela teria validade até 2005 – mas está 
em vigor, com pequenas alterações, até 
hoje. E o coronavírus já provocou uma 
nova pancada do Estado nos direitos 
civis. Em março, o Departamento de 
Justiça (DOJ) procurou lideranças do 
Congresso dos EUA, sugerindo um pa-
cote com ações drásticas. As medidas, 
que ainda não foram aprovadas, permi-
tem à polícia prender qualquer pessoa 
por tempo indeterminado, sem direito 
a julgamento. Na Hungria, o primeiro-
ministro Viktor Orban obteve poder 
absoluto: agora, ele pode criar e extin-
guir leis, sem passar pelo Congresso. 
O Parlamento britânico aprovou um 
pacote de leis, com nada menos do que 
327 páginas, que aumenta radicalmente 
o poder policial e jurídico do Estado. 
As medidas foram apelidadas, pejora-
tivamente, de “poderes de Henrique 8o” 
– referência a esse rei inglês, que no 
século 16 governou o país por decreto, 
seguindo apenas as próprias decisões. 
 Num futuro possível, 
 informações que hoje 
 são privadas, como quais 
 doenças você teve durante 
 a vida, podem estar até em 
 aplicativos de encontro. 
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Num artigo escrito em março, Yuval 
Harari afirma que a Covid-19 pode se 
revelar um divisor de águas na história 
da vigilância. Primeiro, por normalizar 
seu uso em países democráticos, como 
vimos aqui. Segundo, por representar 
uma transição dramática da vigilância 
sobre a pele para uma vigilância sob a pele. 
O coronavírus vai passar, mas o trauma 
que ele deixa não; por muito tempo, a 
sociedade conviverá com o medo de 
novos vírus. E isso poderá ser usado 
para adicionar uma nova camada de 
monitoramento. 
No futuro, poderemos ser conven-
cidos a usar uma pulseirinha digital, 
ou um smartwatch, que medirá nossa 
temperatura corporal e batimentos 
cardíacos e enviará essas informações 
para o governo, que as utilizará para 
analisar quem está ou não doente. Is-
so tem um lado muito positivo: ajuda 
mesmo a conter eventuais epidemias. A 
maioria das pessoas tenderia a aceitar, 
ignorando o lado sinistro da coisa – se 
o governo monitora os seus batimentos 
cardíacos e a sua navegação na internet, 
consegue saber quais notícias e textos 
deixam você tranquilo ou irritado. E a 
partir daí pode inferir, em certo grau, 
sobre o que você pensa. Essa capacidade, 
combinada com os sistemas de pontua-
ção social, daria aos governos um poder 
realmente orwelliano sobre os cidadãos.
Esse cenário, que hoje soa meio exa-
gerado, pode se tornar tão comum quan-
to usar máscaras para ir ao supermer-
cado – coisa que ninguém fazia mesmo 
quando o vírus já tinha começado a 
circular, e virou norma.
As grandes catástrofes têm o poder 
de acelerar a história e tornar corriquei-
ras coisas que antes pareciam inima-
gináveis. Mas, na era pós-coronavírus, 
a sociedade não irá mudar apenas “de 
cima para baixo”. Ela também será 
transformada em outro plano: como 
nos relacionamos uns com os outros.
Hands off
O aperto de mãos é um hábito milenar: 
os registros mais antigos remontam à 
Babilônia, atual Iraque, por volta do 
século 9 a.C. Mas, durante a maior 
parte da história, esse era um gesto 
relativamente raro, usado em situações 
específicas (como fechar um negócio 
ou checar se a outra pessoa estava ar-
mada). Apertar as mãos de todo mundo, 
como cumprimento universal no dia a 
dia, surgiu com os Quakers, um grupo 
religioso protestante, na Inglaterra do 
século 17. Para eles, o aperto de mão 
simbolizava a igualdade entre as pesso-
as, independentemente da classe social. 
A moda foi parar nos livros de etiqueta 
do período vitoriano, e acabou adota-
da pela maioria das pessoas. Mas nem 
todas. No Japão e na China, as pessoas 
saúdam umas às outras curvando leve-
mente o tronco. Na Índia e na Tailândia, 
fazem um meneio de cabeça com as 
mãos sobre o peito. 
O aperto de mãos não é tão universal 
quanto se imagina. E quando a pan-
demia for superada, talvez seja ainda 
menos. “Já é assim em outras culturas. 
O coronavírus tende a reforçar isso”, diz 
o psicanalista Christian Dunker, pro-
fessor da USP e autor de A Reinvenção 
da Intimidade.
Também pode ser que, passada a 
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pandemia, todo mundo volte a apertar 
as mãos e pronto (foi o que aconteceu 
após a gripe espanhola de 1918, afinal). 
Mas a vida não voltará ao normal tão 
cedo, pois dificilmente alguém sairá do 
isolamento com a saúde mental intacta. 
A questão é que o ser humano evoluiu 
para ser intensamente social, pois isso 
era (e é) uma questão de sobrevivência. 
O confinamento é uma surra diária que 
damos nesse instinto. E a mente não 
gosta de apanhar todo dia. 
 No começo de março, cientistas da 
Universidade de Xangai publicaram o 
primeiro grande estudo sobre o impacto 
psicológico do coronavírus. Entrevista-
ram 52 mil chineses, de 36 províncias 
e cidades. Nada menos do que 35% 
apresentaram transtornos psicológicos 
como ansiedade, depressão, compulsões 
e fobias (incluindo agorafobia, medo 
de espaços abertos). É muito acima 
da média clássica, que fica entre 5% e 
10%. Especialistas têm previsto uma 
explosão nas taxas de doenças psíquicas 
durante a pandemia. E depois.
Vamos sair dessa bem diferentes do 
que entramos. Mas não apenas para pior.
A pós-mentira
Em 2016, o Dicionário Oxford elegeu 
“pós-verdade” como a palavra do ano. 
Nunca se mentiu tanto, sobre tudo. As 
o home office não 
será visto como pri-
vilégio, mas como um 
modelo de trabalho.
 Antes da pandemia, 45% 
 das empresas brasileiras já 
 permitiam algum grau de 
 home office. Isso só deverá 
 crescer – e, possivelmente, 
 se tornar o novo normal. 
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fake news infestaram o mundo por um 
motivo simples: elas funcionam. “As 
pessoas se identificam com aquela 
informação, mesmo sem fundamento. 
É quase uma torcida”, diz Diogo Rais, 
professor da Universidade Mackenzie e 
fundador do Instituto Liberdade Digital. 
A pandemia vem tendo seu quinhão de 
notícias falsas, mas há sinais de que a 
onda está começando a virar. As redes 
sociais deram o primeiro passo. Em 
março, Twitter, Facebook e Instagram 
excluíram posts que continham men-
tiras sobre o coronavírus – incluindo 
mensagens publicadas por chefes de 
Estado, como os presidentesJair Bol-
sonaro e Nicolás Maduro, e o ex-prefeito 
de Nova York, Rudolph Giuliani. Essa 
censura das redes sociais, mesmo com 
intenção protetiva, abre um precedente 
arriscado. “Como sociedade, aceitamos 
esse controle, dada a gravidade da situ-
ação. Mas pode ser um caminho sem 
volta”, diz Pablo Ortellado, professor de 
gestão pública da USP. Também há outro 
fator envolvido: uma certa “pressão evo-
lutiva”. Os indivíduos que acreditarem 
em mentiras, e não se protegerem contra 
o SARS-CoV-2, correrão maior risco de 
ter Covid-19 – e os sintomas pesados 
da doença poderão forçá-los a aceitar, 
na própria pele, as verdades científicas.
A primazia da ciência, por sinal, 
deverá ser outro eixo do mundo pós-
coronavírus. Em condições normais, 
uma decisão ou política equivocada 
pode levar décadas até mostrar seu 
efeito negativo. Agora, não é assim: a 
conta chega rápido, e pode ser altíssima. 
“A crise pode representar uma derrota a 
quem se coloca como antagonista da ci-
ência e das universidades”, diz Ortellado. 
Essa mudança poderá reduzir outro 
elemento central da última década: a 
polarização ideológica. É o que acredita 
o psicólogo Peter Coleman, professor 
da Universidade Columbia e especia-
lista em resolução de conflitos. Ele se 
baseia em duas premissas. A primeira 
é histórica: pela primeira vez em cem 
anos, desde a gripe espanhola, a hu-
manidade tem um inimigo comum – o 
coronavírus, contra o qual todos são 
iguais. A outra é estatística: números 
mostram que eventos graves tendem a 
unir os povos. Uma análise feita pela 
Universidade de Michigan, que analisou 
850 conflitos políticos ocorridos entre 
1816 e 1992, constatou que 75% acaba-
ram após o surgimento de um grande 
choque. Coleman cita como exemplo 
a política americana após a Primeira 
Guerra Mundial (1918), que estabeleceu 
uma convivência mais pacífica entre 
democratas e republicanos até 1980.
As eleições vão mudar, até na forma: 
a médio prazo, têm grande chance de 
acontecer online. Eleições pela internet 
exigiriam um período maior de vota-
ção, de uma semana ou até um mês: é 
a única forma de evitar que falta de 
energia elétrica, congestionamentos 
na rede (eleições online não são como 
votação do Big Brother, demandam 
sistemas parrudos de segurança) ou 
outros problemas técnicos impeçam 
a médio prazo, 
as eleiçÕes serão 
online – mas isso
poderá banalizá-las.
 As votações do Congresso 
 Nacional já estão sendo 
 feitas pela internet – e isso 
 pode ser um primeiro 
 passo para o uso da rede 
 nas eleições gerais. 
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as pessoas de participar. Votar sem sair 
de casa poderia banalizar as eleições 
e gerar polêmica, já que não há como 
recontar os votos. A solução pode estar 
em tecnologias como o Blockchain, um 
banco de dados praticamente impos-
sível de fraudar. Ele já foi usado para 
que militares americanos que estavam 
fora dos EUA votassem nas eleições 
de 2018. A Estônia, um pequeno país 
do Leste Europeu, adota o voto onli-
ne desde 2007. No Brasil, o primeiro 
passo nessa direção veio do Congresso 
Nacional, que tem votado remotamente 
durante a pandemia. Nossos deputados 
e senadores estão em home office.
Eles mais seis em cada dez brasilei-
ros. Essa é a massa que estava traba-
lhando de casa em março, de acordo 
com a empresa de monitoramento Hi-
bou. E muitos continuarão assim. Em 
2019, 45% das empresas já permitiam 
alguma espécie de home office, segundo 
a Sociedade Brasileira de Teletrabalho. 
Mas isso era visto como um privilégio. 
“Agora, passará a ser considerado um 
modelo de trabalho”, diz Leonardo Ber-
to, da consultoria de RH Robert Half. As 
empresas irão repensar a necessidade de 
manter escritórios grandes e caros – o 
que deve diminuir o trânsito, a poluição 
e o consumo de energia. Mas o trabalho 
não será totalmente remoto. Encontros 
e feiras de negócios terão ainda mais 
força. “Serão oportunidades para a cria-
ção das redes de relacionamento, algo 
que o mundo virtual não oferece da 
mesma maneira”, afirma Berto.
Vamos sair da pandemia machucados, 
mas também evoluídos. E o período de 
isolamento extremo, paradoxalmente, 
pode acabar tendo o efeito contrário: 
reforçar a comunhão social. Foi o que 
aconteceu na China, primeiro país a 
conter a crise. Em 4 de abril, primeiro 
dia sem quarentena, multidões lotaram 
os parques, pontos turísticos e espaços 
públicos das cidades. As pessoas es-
tavam desesperadas para sair de casa. 
Mas também celebrar, numa apoteose 
coletiva, o único desfecho aceitável: a 
vitória da humanidade sobre o vírus. S
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Só tem um jeito de evitar que a Covid-19 cause a
Grande Depressão do século 21: o governo ligar as im-
pressoras de dinheiro e encontrar uma forma eficiente 
de fazer a grana chegar aonde ela deve. Entenda como o 
jogo econômico funciona. E veja os caminhos possíveis.
Texto Alexandre Versignassi Ilustração Denis Freitas Design Lucas Jatobá
como 
salvar a
economia
B r a s i l
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o episódio conhecido 
como Grande Depressão 
consistiu numa queda 
de 26% no PIB dos 
EUA entre 1929 e 1933. 
O Goldman Sachs, um 
banco americano, prevê 
um baque de 24% por lá 
só neste trimestre (que 
vai de abril a junho). O 
UBS, um banco suíço, 
imagina algo na mesma 
linha para o Brasil: tombo 
de 20% no PIB.
É isso. A queda agora 
deve concentrar em três 
meses os quatro anos da 
maior crise econômica 
que o mundo já viu em 
tempos de paz. Até o 
fechamento desta edição, 
não havia dados concre-
tos sobre o aumento no 
desemprego no Brasil em 
março, o mês em que o 
coronavírus começou a 
fechar o País. Mas as pre-
visões eram feias – uma 
subida dos 11% de feve-
reiro para mais de 16%. 
Nos EUA, idem: a maior 
economia do mundo viu 
16 milhões de vagas eva-
porarem em três semanas. 
10% da força de trabalho 
deles foi para a rua da 
noite para o dia.
 Danou-se, então? 
C a l m a . A G r a n d e 
Depressão só virou o que 
virou porque o governo 
dos EUA fez o favor de 
ficar de braços cruzados. 
Aquela crise começou 
com o Crash de 1929, 
uma queda abrupta de 
23% em dois dias no valor 
das ações mais negocia-
das na Bolsa de Nova 
York (o fundo do poço 
O
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Bancos centrais têm o
poder de imprimir dinheiro. 
Mas seu papel não é pagar 
os gastos do governo.
para evitar a queda. A justificativa era 
quase religiosa: não haveria ajuda do 
Estado porque a ideia era justamente 
fazer uma “faxina”. Tirar do jogo os 
“especuladores”. “Isso expurgará o sis-
tema, que está podre”, disse Andrew 
Mellon, então secretário do Tesouro 
(equivalente a ministro da Fazenda) 
dos EUA. “Os padrões de vida serão 
reduzidos. As pessoas trabalharão mais, 
levarão uma vida mais de acordo com 
a moralidade. Os valores se ajustarão, 
e os empreendedores recolherão os 
destroços dos menos competentes.” 
Deu ruim.
A economia parou de cair em 1934, 
mas o desemprego continuaria roçando 
na casa dos 20% por vários anos.
 “O que realmente pôs um fim na 
Grande Depressão foi um programa 
massivo de obras públicas chamado 
Segunda Guerra Mundial”, disse certa 
vez o Nobel de economia Paul Krug-
man. De fato. A produção de aviões, 
navios de combate e a logística brutal 
das operações de guerra na Europa e no 
Pacífico criaram uma situação de pleno 
emprego nos EUA – com o índice de 
pessoas sem trabalho caindo para míse-
ros 1,2% em 1944, no auge do conflito.
Esse boom na produção fez o PIB 
americano crescer severamente durante 
a Guerra – entre 1941 e 1943, admiráveis 
15% ao ano. Mas de onde vinha a grana 
para pagar o pessoal que fazia os aviões, 
os encouraçados, a comida e o cigarro 
dos soldados? Vinha da grande casa de 
papel americana: o Federal Reserve (Fed), 
que é o Banco Central deles. 
Bancos centrais têm o poder de impri-
mir dinheiro, e fazem parte do governo. 
Mas seu papel nas economias não épagar os gastos do governo. O que eles 
só viria em 1932, com 
uma queda acumulada de 
89%). A queda não teve 
uma razão. Não havia 
guerra, pandemia nem 
nada parecido à espreita. 
Foi basicamente um 
tombo forte do mercado 
depois de anos de subida 
incessante. Acontece.
Esse baque inicial, 
porém, criou um efeito 
dominó. Bancos que 
tinham dinheiro demais 
investido em ações fali-
ram. Com menos bancos, 
muitas empresas ficaram 
sem ter como tomar 
dinheiro emprestado 
para as despesas do dia 
a dia. Quebraram. Com 
menos empresas, come-
çou a faltar emprego. Sem 
emprego, o consumo bai-
xou. E mais empresas 
quebraram, retroalimen-
tando o círculo vicioso. A 
crise se espalharia pelo 
mundo, pois já havia uma 
economia global – e os 
EUA já eram o jogador 
principal ali.
O governo de lá pode-
ria ter dado uma força. O 
Estado tem o poder de 
criar moeda. De imprimir 
dinheiro. E quando falta 
dinheiro em circulação, 
o governo tende a mate-
rializar esse dinheiro 
mágico, para evitar que 
seus cidadãos acabem 
se estapeando no meio 
da rua por maçanetas de 
porta ou por comida. 
Mas não. O governo 
dos EUA não fez nada 
fazem no dia a dia é controlar o volume 
de moeda que circula pela economia.
Se os índices de inflação começam 
a subir, significa que tem dinheiro 
demais na praça. No caso, mais dinheiro 
em circulação do que coisas que exis-
tem para comprar com esse dinheiro. 
Então os preços sobem. Inflação. E aí 
quem perde o valor é o dinheiro. Um 
Banco Central (BC) existe para manter 
o valor da moeda.
Para evitar tal perda de valor, o 
Banco Central age para tirar dinheiro 
da economia. Então ele chega nas insti-
tuições financeiras, ou seja, nos bancos 
normais, pedindo dinheiro emprestado. 
Não que ele precise (ele tem o poder 
de fabricar moeda do nada, afinal). Ele 
só pega emprestado dos bancos para 
que os bancos não possam emprestar 
esse dinheiro para o público, para nós. 
Para que os bancos topem empres-
tar, ele oferece juros mais gordinhos. 
Quando você vê no noticiário que “os 
juros subiram”, é isso que aconteceu.
Mas tem um outro lado nessa moeda. 
Se os índices de inflação estão caindo, 
o que acontece? O BC fica lá parado 
estourando champanhe para come-
morar a valorização da moeda? Não. 
Inflação é ruim. Mas deflação, queda 
generalizada nos preços, é pior. Sig-
nifica que a economia está deixando 
de funcionar, que ninguém mais está 
comprando nada. Nos EUA da Grande 
Depressão, os preços caíam 15% ao ano, 
por pura falta de demanda. No mundo 
pós-coronavírus, vale adiantar, é o que 
já está acontecendo.
Então o que é o ideal? Uma inflação 
absolutamente zero? Também não. Se 
nenhum preço jamais sobe, significa 
que a economia congelou. Preços em 
ligeira alta, num setor específico, são 
um bom sinal. Se o preço da pizza no 
seu bairro está subindo, isso pode sig-
nificar que há espaço para você criar 
uma pizzaria. E isso é bom.
O que os governos fazem, então, é 
estabelecer uma meta de inflação para 
o ano. No Brasil, ela está em 4% para 
2020. E isso significa o seguinte: se os 
índices de inflação estiverem abaixo de 
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É o quanto a economia 
brasileira pode cair 
no terceiro trimestre.
20%
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Os EUA
dArãO
dinhEirO
A pEqUEnAs
EmprEsAs
pArA pAgA-
mEntO dE
sAláriO.
E não vão 
cobrar
dE volta.
4%, o Banco Central tem a obrigação de 
imprimir dinheiro – mais exatamente, 
de criar moeda eletrônica, já que nin-
guém mais usa dinheiro de papel. Então 
ele cria essa moeda e faz o quê? Depo-
sita na nossa conta? Infelizmente não. 
Ele pega e dá emprestado, a juros baixi-
nhos, de pai para filho, para os bancos. 
Quando você vê no noticiário que “os 
juros caíram”, foi isso que aconteceu.
Com mais dinheiro na mão, os ban-
cos tendem a emprestar mais. É assim 
no mundo inteiro. O nome dessas joga-
das entre o Banco Central de um país 
e os bancos normais que operam ali é 
“política econômica”. É ela que determina 
o valor do dinheiro e dá forças para a 
economia crescer quando esse dinheiro 
está devidamente valorizado.
No Brasil, o BC só pode imprimir 
dinheiro para fazer a tal política econô-
mica. A Lei de Responsabilidade Fiscal, 
editada no ano 2000, tem um ponto 
importantíssimo: proíbe a impressão 
de dinheiro para financiar o Estado.
Isso é ótimo, já que nos livrou de 
qualquer nova ameaça de hiperinflação. 
Para sempre.
Se o governo quiser construir está-
dio, hidrelétrica ou hospital, vai ter de 
arranjar o dinheiro por conta própria. 
Que se vire cobrando mais impostos 
ou pegando emprestado na rua. E é o 
que ele faz mesmo. Ele pede emprestado 
“na rua” lançando títulos públicos. Um 
título público é como se fosse um vale 
que diz “Obrigado por emprestar R$ 
1.000 ao seu maravilhoso governo. Pro-
metemos pagar R$ 1.100 de volta daqui 
a três anos”. Aí o governo paga ou com 
o dinheiro que entrar de impostos lá na 
frente ou fazendo uma dívida nova, com 
outra pessoa, para não te dar um calote. 
Rola a dívida. O nome do montante que 
o governo deve é “dívida pública”.
A do Brasil, como a de qualquer 
outro país, vem sendo rolada desde o 
Pré-Cambriano. Está hoje em quase 
R$ 6 trilhões (ou 80% do PIB, que é 
como os técnicos medem as dívidas de 
cada país). O resto é igual na sua vida: 
quanto maior a dívida, maior o risco de 
calote, então o governo precisa pagar 
juros maiores para continuar rolando.
Se o Banco Central pudesse imprimir 
dinheiro para comprar títulos públi-
cos, estaria financiando o governo 
por magia. É isso que a nossa Lei de 
Responsabilidade Fiscal proíbe. E a 
compra nem precisa ser 
direto do governo. Se um 
banco tem uma tonelada 
de títulos públicos em 
seu poder (e todos têm), 
o BC vai lá, imprime 
dinheiro e compra. Nisso, 
o governo ganha uma 
folga: deixa de ter dívida 
com o banco. O dinheiro 
que o Estado usaria 
para rolar essa dívida 
fica livre para ele gastar 
como bem entender. Na 
prática, é exatamente 
como se o BC tivesse 
imprimido o dinheiro e 
dado de presente para os 
cofres da União. A Lei de 
Responsabilidade Fiscal, 
então, não permite que 
o BC compre títulos – a 
não ser para fazer a tal 
política econômica.
Nos EUA é diferente. 
Não existe uma lei 
assim. O Fed pode criar 
dinheiro para comprar 
títulos públicos. Tem 
licença para imprimir 
dinheiro. E agora o Bra-
sil segue pelo mesmo 
caminho. A PEC do 
“Orçamento de Guerra”, 
aprovada em abril pelo 
Congresso, permite a 
compra de títulos públi-
cos com dinheiro novo, 
pelo menos enquanto 
vigorar o estado de cala-
midade pública. 
Isso dá poder de fogo 
ao governo para ban-
car medidas anticrise, 
como aquela ajuda de 
R$ 600 por três meses e 
as liberações de seguro-
desemprego a quem tiver 
o salário reduzido ou 
suspenso. E não menos 
importante: vai deixar os 
bancos com muito mais 
dinheiro para emprestar.
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O grande riscO de 
ligar as impressOras 
de dinheirO é criar 
inflação – e destruir
o valor da moeda.
amplo e barato, principal-
mente para os pequenos 
comércios. Se não signi-
ficar, uma injeção direta 
de dinheiro novo, à la Fed, 
será urgente. 
Medidas assim, de 
qualquer forma, tendem 
a gerar inflação. Haverá 
mais dinheiro na praça 
do que a capacidade que 
temos de produzir coi-
sas para serem compra-
das com esse dinheiro. 
Quando os índices de 
inflação subirem, os 
governos terão de drenar 
moeda das economias – 
aumentando os juros. Aí 
que a porca torce o rabo. 
Aumento de juros man-
tém o valor da moeda, 
mas reduz a atividade 
econômica. E não pode-
mos nos dar a esse luxo 
nos próximos meses, sob 
pena de entrarmos numa 
Grande Depressão. 
A melhor forma de agir, 
então, é usar as impresso-
ras, mas com moderação. 
Com que grau de mode-
ração? Ninguém sabe. 
Será na tentativa e erro. 
Porque a economia pode 
até ser a mais exata das 
ciências humanas, mas 
também é a mais humana 
das ciências exatas. S
previsões são de umaretomada firme já no 
terceiro trimestre (julho-
setembro), com subidas 
de mais de 15% no PIB, 
seja aqui, seja lá fora. O 
ano fecharia ainda numa 
recessão brava, mas 
administrável: na casa 
de 5% negativos. 
Mesmo assim, o Fed 
radicalizou. Decidiu 
fazer ele mesmo certos 
empréstimos, para não 
ter de se ajoelhar para 
os bancos. O BC dos 
EUA criou um programa 
de resgate a pequenas e 
médias empresas. Eles 
imprimem os dólares 
e emprestam para você, 
empresário. Os juros são 
de 1% ao ano.
E tem um plot twist 
aí: se você provar que 
gastou 75% com paga-
mento de salários, e os 
outros 25% em aluguel, 
água, luz, eles perdoam 
a dívida. Fica por isso 
mesmo. Não é juro zero. 
É amortização zero. 
Dinheiro de graça para 
pagar salário. Isso vai 
cobrir metade da força 
de trabalho dos EUA.
No Brasil, as fichas 
estão com os bancos. 
As compras de títulos 
públicos e privados pelo 
BC colocará mais de R$ 
1 trilhão no colo deles. 
Espera-se, então, que 
isso signifique crédito 
Além disso, a PEC permite que o BC 
compre títulos privados em poder dos 
bancos. Ou seja: se a Petrobras deve R$ 
1 bilhão para o Bradesco, o BC pode dar 
esse bilhão ao Bradesco, e aí assume 
para si o risco de a Petrobras não pagar. 
É o que os EUA estão fazendo também. 
A ideia principal é encher os bancos 
de dinheiro novo e pedir pelo amor de 
Deus para que eles emprestem mais, e a 
juros menores. Se esses títulos privados 
forem de companhias menores, melhor 
ainda. Você mata dois coelhos: enche 
o caixa dos bancos e desafoga a rola-
gem de dívidas das pequenas empresas 
– ainda mais levando em conta que elas 
respondem por 54% das vagas formais 
no Brasil. 
A fé de que esse tipo de medida 
dê resultado é grande. Tanto que as 
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M U N D O
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WET
MARKETS
A criação e venda de animais exóticos empregam 14 milhões de pes-
soas na China. Entenda por que esse hábito é uma bomba-relógio de 
pandemias – e o que o país tem feito para impedi-lo.
 Texto Guilherme Eler Ilustração Sapo Lendário Design Maria Pace Edição Bruno Vaiano
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Fotos: Getty Images
Da fome 
à peste
O consumo de animais selvagens 
na China, que surgiu em tempos 
de escassez, hoje é sinal de 
status – e fonte de vírus peri-
gosos para a humanidade.
Grande fome (1958)
Governo de Mao Tsé-
Tung passa a controlar 
terras dos agricultores. 
Entre 1958 e 1961, 40 
milhões morrem de 
inanição na China.
Gripe de 
HonG KonG (1968)
Gripe H3N2 sofre mu-
tação em aves (talvez 
na China, talvez em 
Hong Kong, não se 
sabe). 
redistribuição 
das terras (1978)
Reforma agrária 
redistribui as terras. 
Pequenos produtores 
passam a criar animais 
exóticos para venda.
EnTRE 1958 E 1961, toda a agricultura e 
pecuária da China foram “coletivizadas” 
pela ditadura comunista de Mao Tsé-
Tung. A propriedade privada se tornou 
ilegal. Pequenas e grandes fazendas se 
tornaram estatais; a produção de grãos 
era recolhida por agentes do governo 
e então redistribuída. Além de perder 
a posse de suas terras, os camponeses 
recebiam em troca do trabalho uma 
parcela minúscula da produção. 
Com os produtores rurais completamen-
te desmotivados a investir para as safras 
futuras, a produção caiu. Mas oficiais fal-
sificavam os dados para dar a impressão 
de que havia mais grãos – e ficar bem 
na fita com o poder central. Grandes 
quantidades de alimento eram remetidas 
às cidades. Os camponeses que produ-
ziram esse alimento pagavam o pato e 
ficavam com cotas ainda menores que 
as normais (ou cota nenhuma). Adicione 
a esse cenário alguns desastres naturais, 
nenhuma imprensa para fazer denúncias 
e opressão violenta, e o resultado foi a 
fome. Dos 900 milhões de habitantes 
que a China tinha na época, 40 milhões 
morreram de inanição.
Em 1978, teve início um processo de re-
forma agrária e as terras voltaram a ser 
privadas. Logo de cara, as criações mais 
tradicionais (porcos, frangos e bois) aca-
baram concentradas nas mãos de gran-
des proprietários. Com a expansão da 
economia e empresários centralizando 
a produção, as propriedades familiares 
perderam espaço. Os preços caíram e 
os produtores de subsistência já não 
conseguiam mais competir.
e
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 A criAção de 
AnimAis exóti-
cos gerA Us$ 
70 bi AnUAis.
Muitos, então, passaram 
a apostar na criação de 
animais exóticos. De 
início, o governo chinês 
fez vista grossa à prática. 
Apesar de ser um desas-
tre ambiental e sanitário, 
a criação desses bichos 
em cativeiro garantia 
empregos e fazia girar a 
economia, evitando outra 
crise de fome. Veja bem: 
as espécies selvagens não 
eram fonte de alimento 
para os pobres, e sim fonte 
de renda. Elas eram ven-
didas a pessoas com mais 
dinheiro – como acontece 
com as criações de lagosta 
no Nordeste brasileiro. 
Uma década depois, em 
1988, o governo deu bên-
ção à prática, baixando 
uma lei que considerava 
animais exóticos recursos 
naturais – cuja exploração, 
portanto, era autorizada. 
Negócios de fundo de 
quintal se expandiram 
e viraram verdadeiras 
linhas de produção de 
cobras, tartarugas, pavões 
etc. Essa lei, desde então, 
foi revisada quatro vezes. 
Até 2019, 400 espécies de 
animais eram protegidas. 
Não podiam ser caçadas 
ou vendidas. Mas outras 
1.480 espécies ainda eram 
legalizadas, desde que os 
produtores seguissem 
certas normas. E centenas 
de espécies exóticas, algu-
mas comuns nos merca-
dos, não são mencionadas. 
Estima-se que 14 milhões 
de pessoas trabalhem em 
atividades ligadas a ani-
mais exóti-
cos na Chi-
na. Em 2016, 
um relatório 
da Academia 
Chinesa de 
Engenharia 
calculou o 
valor dessa 
i n d ú s t r i a 
em US$ 73,3 bilhões. A 
demanda por couro e 
pelagem, principalmente 
de doninhas, raposas e 
guaxinins, corresponde à 
maior porcentagem des-
se valor (US$ 55 bilhões). 
Outros US$ 17,6 bilhões 
são gerados pela venda de 
carnes exóticas. Répteis 
são o tipo preferido: mo-
vimentam US$ 9 bilhões 
ao ano. Por fim, US$ 700 
milhões são gerados pela 
criação de animais pela ob-
tenção de matérias-primas 
consideradas terapêuticas 
ou estimulantes sexuais 
pela milenar medicina 
chinesa, como bile de ur-
so e escamas de pangolim. 
Consumir esses produ-
tos se tornou símbolo de 
status a partir da década 
de 1990 (ainda que, hoje, 
pouca gente mantenha o 
hábito – como veremos 
adiante). 
O impacto positivo na 
economia, anos mais tar-
de, causaria problemas de 
saúde pública em escala 
internacio-
nal. Afinal, 
d i ve r s o s 
vírus que 
afetam hu-
manos fa-
zem a festa 
também em 
a n i m a i s . 
Porcos po-
dem transmitir ebola, 
hepatite e gripe. Bois e 
vacas foram os primeiros 
hospedeiros do vírus do 
sarampo. E a Mers chegou 
aos humanos de carona 
em camelos. Dos 1.415 
patógenos que infectam 
humanos, 61% têm ori-
gem em outras espécies. 
É por isso que o consu-
mo de carnes exóticas é 
tão arriscado: se animais 
que convivem conosco há 
milênios já carregam sur-
presas, imagine que tipo 
de micróbio nos aguarda 
em espécies que não fa-
zem parte do cotidiano. 
Os wet markets
Não precisa imaginar. Isso 
já aconteceu. Nas cidades 
chinesas, existe uma du-
radoura tradição de mer-
cadões com dinâmica de 
feira livre – similares aos 
que vendem frutas, legu-
mes e carnes em qualquer 
cidade do mundo. São os 
chamados wet markets. 
Wet significa “molhado” 
ao pé da letra. Na práti-
ca, a palavra se refere a 
produtos perecíveis, em 
oposição aos não perecí-
veis, chamados dry goods 
(os “secos”). Antigamen-
te, era comum que arma-
zéns tivessem na porta 
placas com a expressão 
“secos e molhados” – daí 
o nome da banda de Ney 
Lei de proteção 
à vida seLvagem 
(1988)
Na prática, fez o 
contrário do que diz: 
autorizou a criação de 
animais exóticos.
sars (2002)
O coronavírus Sars-
CoV, transmitido por 
civetas – vendidas nos 
wet markets –, infecta 
mais de 8 mil pessoas 
pelo mundo.
pós-sars