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Revista Superinteressante Nº 007

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POUCOS 
MISTERIOS 
RESISTEM A 
UMA CHAVE 
DEFENDA. 
Se ~ pensa que a Plreltl está 
apenas no pneu do seu carro, en-
gano seu! 
Pegue uma cba\'e de fenda e 
solte o painel, que você vai encontrar 
mais. 
Aqueles chicotes• de fios colori-
dos, que ligam toda a parte elétrica 
do carro, são produzldos pelo maior 
fabricante de cabos de energia do 
mundo. 
Se não estiver sallsfeito, vá sol-
tando os parafusos, que você não vai 
parar de encontrar a Plreltl. Seja 
qual for a marca do seu carro. 
E, para adiantar o futuro, já 
estamos preparados para monitorar, 
atra~ das fibras óticas, cerca de 
trezentos itens de instrumentos e 
controles de um automóvel. 
~cabos, além de energia, 
transmitem confiança. 
IAELLI 
• 
Figue sócio do mam. 
Nós abaixo assinados agradecemos. 
Melhor que ser amigo da Arte é ser sócio 
dela .. Ficando sócio do MAM você pode 
ganhar uma gravura por ano. Tem seu 
nome inserido nas dependências do 
museu. Recebe carteita de sócio com 
direito a entrada franca em todos os 
eventos. Pode descontar sua contribuição 
do imposto de Renda. 
E o mais importante: ajuda o MAM a 
. continuar sendo o MAM. 
Entre em contato com a geme: 
(011) 549.9688, falar com Lúcia 
Aldo Bonadei, Alfredo Volpi, Arnaldo Pedroso D'Horta, Aldemir Martins, 
Abelardo Zaluar, Alberto Teixeira, Aldir Mendes.de Souza, Amilcar de 
castro, Ascânio M.M.M., Antônio Bandeira, Arlindo Daibert, Arthur Luiz 
Piza, Amélia Toledo, Anita Malfatti, Alcindo Moreira Filho, Alex Fleming, 
Anna Letycia, Brecheret, Bavarelli, Bené Fonteles, Bruno Giorgi, Clóvis 
Graciano, Caciporé Torres, Carybé, carros Scliãr, Carros Vergara, Cássio 
Michallany, Cláudio Tozzi, Cléber Machado, Di Cavalcanti, Di Prete, 
Darcy Penteado, Daniel Senise, Ernesto Di Fiori, Emanuel Araújo, Edith 
Behring, Evandro Carlos Jardim, Flávio de Carvalho, Fiaminghi, Famese 
de Andrade, Fúlvio Penacchí, Franz Krajcberg, Frans Weissmann, Fayga 
Ostrower, Gerda Brentani, Guilherme Faria, Grudzinski, Oswaldo Goeldi, 
Gilberto Salvador, Geraldo de Barros, Granato, Gustavo Rosa, Henrique 
Boese, Hércules Barsotti, Hugo Adami, lone Saldanha, Iracema Arditi, 
Ivan Serpa, José Antônio da Silva, José Rezende, Jair Glass, Károly 
Pichler, Lothar Charroux, León Ferrari, Luís Saciloto, Lydia Okumura, 
Lúcia Porto, Lívio Abramo, Marcelo Grassmann, Mário Gruber, Mário 
Zanini, Maria Leontina, Maria Bonomi, Maria Guilhermina, Mário Agostinelli, 
Mário Cravo, Maria Tomaselli, Maurício Nogueira Lima, Megumi Yuasa, 
Moriconi, Martin Disler, Manfredo Souza Neto, Milton da Costa, Marcelo 
Nietsche, Norberto Nicola, Ottone Zorlini, Otávio Roth, Olney Kruse, 
Pancetti, Portinari, Pola Rezende, Rebolo, Rossi Osir, Renina Katz, Sérgio 
Milliet, Sérgio Camargo, Samico, Siron Franco, Sérvulo Esmeralda, 
Tarsila do Amaral, Tomie Ohtake, Thomaz lanelli, Tomoshigue Kusuno, 
Tuneu, Takashi Fukushima, Vlavianos, Wega Nery, Willys de Castro, 
Yolanda Mohaly. 
Fique sócio do mam. Nem só de arte vive um museu. 
Apoio OPZ. 
Revista 
SUPERJN1UESSANTE 
CAPA 
S.O.S. ozõnio 
A eamada ·de ozônj.o que 
protege a Terra da ritdiação 
ultravioleta do Sol está 
ameaçàda. Os efeitos podem 
ser dramáticos. mas o mundo 
se prepara para evitá-los 
16 
COMPORTAMENTO 
1----::::::=~~~~-~ Tudo mentira 
TECNOLOGIA 
Revolução a bordo 
Uma nova geração de 
jatos nasce com o A320. 
em que a eletrônica 
assume fi rme o comando 
32 
GEOFÍSICA 
Mente-se para escapar 
de situações diffceis, 
realizar sonhos, lesar 
o outro. A verdade é 
que todos têm um pouco 
ou muito de Pinocchio 
24 
_.)ftllt .. - . ·--- - -- ·---. ···---=- c -
Descida aos porões 
do planeta 
1"'*.1 É mais fácil ir à Lua 
do que ao centro da 
Terra. Mas, com sondas 
=~~~~:_~!i! especiais, o homem já 
começa essa pesquisa 
COSTUMES 
Quando falam as flores: chaves 
de um código 
38 
Desde os tempos antigos. as tlores comunicam 52 
mensagens que exprimem sentimentos humanos 
BIOLOGIA 
Por dentro da vida 
Extraordinária colecção de 
fotografias feitas por 
microscóp·io eletrônico, 
publicada com el(clusividade 
no Brasil, mostra o qoe 
acontece com o corpo do 
homem e da mulher no processo da fecundação. 
O colorido das imagens evidencia minúcias 60 
como a ação dos hormônios nas células 
ASTRONOMIA 
FOTOGRAFIA 
Uma gata e seus gatinhos 
Quase testemunhas 
do Big Bang 
Silo os quasares, os 
corpos celestes mais 
antigos, distantes e 
luminosos que existem 
72 
Unindo a fotografia aos raios X. obteve-se uma 78 imagem da mãe e dos filhotes ainda por nascer 
, 
HISTORIA 
Pompêia, cidade eterna 
Há q uasc 2 mil anos, Pompéia foi soterrada 
por uma erupção do Vcsúvio. Suas ruínas 
mostram o cotidiano de uma cidade romana 
SEÇÕES 
Notícias superinteressantes 
Perguntas superíntrigantes 
Telescópio 
Oito & feito 
Dois mais dois 
Grandes idéias 
Superdivertldo 
Uvros superlmportantes 
Superdivertído/soluções 
Su~graçado 
Cartas dos leitores 
Capa: ilusl13çáo Ronaldo-Ll>PIIS Teixeira ! Milton Rodrigues Alves 
SUPERINTERESSANTE N. • 7 
80 
8 
14 
30 
43 
44 
58 
86 
88 
89 
90 
91 
SUPER 5 
Hoje eu nem sei por onde começar. tantas 
são as coisas superinteressantes que temos 
para você. Por exemplo. as extraordinárias 
fotografias fei tas através do microscópio 
eletrônico pelo professor italiano Pietro 
Motta . Ele publicou um livro muito bonito, 
com imagens surpreendentes do corpo de uma 
pes oa. Nós selecionamos para você as que 
Superimag•ns do corpo mostram todo o processo de reprodução 
humana. É um trabalho que beira o fantástico 
- mas é coisa muito real. Como eu já disse aqui nesta 
carta. o mundo real revelado pela ciência é muito mais fantãstjco 
do que qualquer outro que a nossa imaginação possa inventar. 
No art igo de capa, tomos outra impressionante seqüência de 
fotos , estas feitas pela NASA. Elas mostram o estranho 
fenômeno que acontece a cada primavera , na Antártida. com a 
camada de ozônio que pro tege a Terra contra os raios 
ultravioleta emitidos pelo Sol. l-lá dez anos, cientistas 
alertam o mundo para o perigo das agressões cometidas contra 
esse escudo por a lguns produtos aparentemente muito inocentes 
da nossa civilização. como os aerossóis. O assunto é sério: 
sem a proteção do ozônio. a Terra pode se tomar inabitável 
para a espécie humana. E. exatamente por ser sério. o alarme 
começa a ser .ouvido: países desenvolvidos já negociam acordos 
para con~rolar o uso desses produtos que destroem o ozônio. 
Silvio Atanes talvez seja a pe oa mais a tarefada aqui na 
redação de SU PERI NT ERESSANTE. Ele é o nosso "carteiro··. 
encarregado de cuidar da correspondência dos leitores. 
selecionar as cartas a serem publicadas. providenciar respostas 
para todos. De uns tempo para cá. Silvio 
tem se mostrado anito: chegaram milhare 
de cobranças de leitores interel>sados 
num poste r do nos o monstrinho - e e le 
não tinha resposta a dar. A culpa ríao ! 
é dele , é minha. Fui cu quem prometeu ~ 
o poster , logo na segunda edição §~ 
de SUPERINTERESSANT E, sem saber ~ 
em que confus~10 estava me metendo. Pois 
f Silvio, enfim livre dos seus deu muito trabalho levantar a biogra ia pessdelos 
do monstrinho. surrupiar aq uela velha fo to 
do seu Mbum de família. descobrir coisas de seus 
pais, mostrar em que seu organismo é diferente do nosso. 
Enfim , está tudo fe ito: o monstrinho está aí, num poster 
magnífi co, c o Silvio. acredi to . já pode trábalhar sossegado. 
Almyr Gajardoni 
6 SUPU 
1~1 Editora Abril 
m (41t• •~•ttt YCT()Il(WfTA 
ow~ ~W~HMC:,..w ...,.........._ ,,.,.. .......... ., .. .. , ................. , .......... ..... \ ........ Jb,,. ... ~ ______ ...... 
SUPER 
INTERESSANTE 
......... Clwt• \.ltoof ... ....... ... , ...... ~--~ .....,.,.. 
~· ....... u.... ............. . ,.... .. ..,... ....,.. a. eM•• ... 
o. .. .,.. ....... Ullelfrt 
:·c· ·· - ~ ....... ~., ............ 
Cu t ms trOr.._ .......,...., , ,......_ ,...., ...... , ... , ....... .......... ~ .... 
.. • . . ... ........... a,.a.;,.,..,..,. ........ ..... ..... 
..... ...... a.. • • ~..,.,. r.--. ...... ""... l ........... ,.,.__ a...\JNI" ,. ... ....... ~ • 
............ .. ~ • .,..... Aww~ 
::',C.,....., ...... o.-.... ,..... ._.,. ..... 
"'*"""""' GMfift't~ JCtM t.v-1 ~ 1\ICt> 
C..O.eo.ti•IKN ,.,..,.,._.. a.., .... ..,.pt M VfJA 
OQI . ... ""'lf\1 . .. t,ll$ .. S..Jot 
o .. .,..,, 1\_,. Lwlt Cf tHbtl, "-JNtot+M.toMnJ O.rio tlt tio 
lhoO eis ~wdo, Ct ... """ '-' HM , ..,._ P • 01•'191'' 
M.tiot., Moo• C.lt.ellt. lw C.tt't1 Jttwrl 
...... , ... l ..... k I OleY•NW I ....,. 
Alt • l~rv,,~t Cl~d .. h~. ""'•' "'' a'l\11t1 Mt rto 
N!tonllt l11"11~ti1M,. ' •utt MMHJt .. ~ow.,. , l~lllciO Vi 
G-t.I \.MI~j,. •• .... ,,_l•' "•",. c,._., Cotf"C~ .,.... o.-."' 
o\fNIMGf f.t. Ct~M;Mato ltfro CJNNM:f Oilf'h-.1 M(l• lt 
A c..'~ nM.,...., .. o.,.lót H,MI\ .. "''".,.• r.,.., .. 
U l A.N M" " .. Oh'ttllt. , .," ..... llc~ (fiO·· R.. ..,. ,.,..,."()to.., .. , .............. "*'~ ··~ 
-~~· ~ . .. ........ ............ ..... ~ .. ow.j·· 
W,., t.,ft Metlil ..... t~ ....... o..llt ...... (~ .. .......... .-... ... .,.,.,. ... ......-. ..... ,.., ,..., ~ , .... 
~ .. Atli#I~Mii .. M O.V.,.. • (IICI!o .... t ....... 
- Oo.vtt.~t ...., .. 
OiiA!Mf .. ~ . ...... , ......... c..-o..w 
O"CU.A(*'O 
...... ...... ........ ,..., 
..._ .. v ...... .._,...., 11: ...... ....,. .. ,..,..., ... 
~·O'IoeM ..... ~ ....... ,..,. 
Coisa de homem 
Qual será realmente a diferença 
fundamental entre o homem e a mu-
lher? Geneticistas americanos acaba-
ram de encontrar a resposta que os 
humanos procuravam desde o começo 
dos tempos: a diferença é um gene, 
existente apenas nos homens. chama-
do TDF (íniciais em inglêJ; de '·fator 
determinante de testículos' '). Delide 
1950. sabia-se que o sexo com que se 
nasce é determinado por um dos 23 
pares de cromossomos do ser huma-
no: mulheres possuem o par XX e ho-
mens. XY (assim' chamados por causa 
da forma). "Agora, com essa desco-
berta.,. explica o professor Paulo Ot-
to, do Jnstituto de Biociências da 
USP, " ficamos sabendo que não é um 
cromossomo inteiro, X ou Y. mas 
apenas um único gene que determina 
o sexo ... Detalhe: um único gene en-
tre os cerca de 100 mil que formam a 
bagagem hereditária do ser humano. 
Os pCJ;quisadores encontraram o ge-
ne TDF estudando os cromossomos 
de pessoas geneticamente anormais. 
ou seja. mulheres com par XY e hQ-
mens com par XX - casos raros, na 
8 5UPlR 
proporção de 1 para cada 20 mil. e es-
sas pessoas são estéreis. Os cientistas 
notaram que faltava um pedacinho no 
cromossomo Y das mulheres; já nos 
homens. havia um pedaço de um cro-
mossomo Y preso a um cromossomo 
X. Depois de muito quel:>rar a cabeça, 
eiCJ; concluíram que essa porção de 
cromossomo a menos nas mulheres e 
a mais no homem era o gene TDF. No 
embrião do sexo masculino. o TDF 
e:tiste desde a concepção. Mas só se 
manifesta na sétima semana; <tté en-
tão, segundo os geneticistas. o em-
brião é "sexualmente indiferen te''. • 
Um mistér•o de 
11 mil anos 
A recente descoberta de ossos fos-
silizados de um rapaz de 17 anos de 
idade e pouco mais de l metro de a l-
tura . numa caverna no Sul da ltitlia. 
indica que nem só os mais aptos so-
breviviam nos ásperos tempos· logo 
em seguida às glaciações de 11 mil 
anos atrás. O rapaz, um anão com 
braços e pernas deformados. com cer-
teza não tinha corno acompanhar as 
pe.rambulações do grupo a que per-
tencia - coletores e caçadores eter-
namente em movimento ~~ procura de 
O mais antigo caso de nanismo 
!:! 
~ 
' 
alimerÍto c abrigo. Não podendo 
acompanhar os outros - nern muito 
menos contribuir para o sustento da 
coletividade - . seria de esperar que 
o deficieme físico fosse largado à pró-
pria sorte. Nesse caso, ele jamais vi-
veria até os 17 anos. 
No entanto. os restos encontrados 
na caverna ita)jana demonstram que 
o jovem - por sinal, o mais amigo 
caso de nanismo de conhecimento da 
ciência - não só não ficou à mercê 
da natureza como fo i enterrado se-
gundo um certo cerimonial. talvez 
porque tivesse uma posição especial 
no grupo. A caverna foi pintada com 
figuras de animais c seu corpo ficou 
abraçado ao de sua mãe. Nada se sa-
be. porém. das circunstâncias em 
que ambos morreram. Para alguns 
antropólogos. a descoberta provaria 
que os povos da J dade da Pedra não 
eram selvagens brutos: podiam até 
manifelitar consideraçiio para com o 
próximo. • 
Romanenko (centro) com a taml/la: 
ossos em ordem e cabeça no lugar 
Depois do recorde 
O cosmonauta soviético luri Roma-
nenko. recordista de permanência no 
Clipaço- 326 dias a bordo da estação 
orbital Mir -. anda lépido e fagueiro 
como se tivesse passado qu~e um ano 
numa CJ;tação de veraneio. E uma sur-
presa: llntes dele. outros cosmonautas 
voltavam do espaço com os ossos. 
músculos e o sistejlla cardiovascular 
enfraquecidos pela falta de gravidade. 
Mas Rórnanenk.o deixou espantados 
os médicos soviéticos ao ficar de pé 
de.sde que pisou o ohão da base de 
• 
Baikonour, na Asia Central. no finzi-
nho do ano passado. 
Sua memorável recuperação reper-
cutiu oos projetos de uma futura via-
gem tripulada aMarre, cujo principal 
obstáculo é li duração - cerca de 
dois anos entre ir c voltar (SUPER-
INTERESSANTE n ... 3. ano 2). Pa-
ra a recuperação de Romanenko. 
contribuiu o rigoroso esquema de 
ex.ercícios a que ele foi submetido a 
bordo da Mir. além do novo ti po de 
vestimenta com fibras elásticas que. ~ 
por_ oferecer mais resistência, obriga ~ 
o cosmonauta a um esforço maior dos ~ 
rnusculos em cada movinienro. Mas 
Romanenko não voltou bem só fisica-
mente: nada indica que o prolongado 
confinamento no espaço tenha dei.xa-
do nele seqüelas psicológicas. • 
É usar a voz e cruzar os braços 
quer usuário. Tel.efonar dessa cabine 
é como falar para as paredes: o 
usuário coloca urn cartão magnético 
igual ao dos cabias automáticos de 
banco e faz a chamada. Terminada a 
conversa. é só "irar as costas e I! 
embora. • 
Alô: sem as mãos 
Graças à informática. já é possível 
chamar um número de telefone sem 
discar ou teclar - basta fa lar. pausa-
damente. os algarismos. No Brasil, 
esse tipo de apare lho ainda é consi-
derado muito sofisticado para ser 
posto à venda. Mas. na França. está 
disponível aos interessados em faler 
suas chamadas sem mexer um dedo: 
o telefone. oom5) u,n computador 
que recebe comando de voz. decodi-
fjea os números falados e completa a 
ligação. O aparelho só obedece à 
voz do dono. ta l qua l está programa-
da. Isso às vezeli é um problema -
quando a pCJ;soa fica resfriada ou 
rouca. o telefone não cumpre a or-
dem de ligação. 
Em princípio. esse aparelho não 
pode ser usado em cabines públ icas. 
Mas a companhia telefônica francesa 
está fazendo uma experiência na ci-
dade de Lannion . a sudeste de Paris. 
Ali. o aparelho aceita a voz de qual-
Supercondutores 
ligam o motor 
Com menos estardalhaço do que no 
ano passado. quando renderam at~ 
um Prêmio Nabel de Física (para a 
dupla Alex Müller c Georg Bednorz, 
da lBM suíça). as pesquisas com su-
percondutores continuam produzindo 
resultados. A meta é sempre a mCJ;-
ma: tirar do forno urna cerâmica ca-
paz de conduzir eletricidade sem per-
das a temperaturas cada vez mais al-
tas. Ern 1987'. 0 profelisor Paul Chu. 
da Universidade de Houston. nos Es-
tados Unidos. obteve supercondutivi-
dade à temperatura recorde de menos 
175 graus centígrados. trabalhando 
com o composto de cobre, ítrio e bá-
rio usado por Müller e Bednorz. 
Recentemente, o mesmo Chu anuo-
ciou uma cerâmica supercondulora a 
menos 159 graus, feita de materiais 
muito comuns, como bismuw. alumi-
nio, estrôncio e c;i lcio-o que facili -
tará a sua produção em grande escala. 
Por sua vez. pesquisadores do Argon-
ne National Laboratory, também nos 
Estados Unido_s, fabdcaram o primei-
ro motor elétrico baseado nos super-
condutores de alta temperatura. T ra-
ta-se de um prato de 1\lumínio de 20 
centímetros, dotado de 24 ímãs, que 
gira sobre dois discos de cerâmica su-
percondutora graças aos seus fortíssi-
mos campos magnéticos - o mesmo 
principio do projeto Maglev, o tremjaponês que flutua no ar. O motor 
produz uma quantidade de energia ín-
(ima demais para ter algum uso práti-
co. lsso se espera a lcançar em dez 
anos. aproximadamente~ • 
Nova cerâmica funciona a -
SUPERINTERESSANTE EM ENERGIA 
As ccnti.:nas de m.ctros dos fios c cabos necessários para a monitoração dos comandos dos sofisticados vckutos do mundo moderno, e-xigem 
cada vez mais o de;senvolvimento de novas tccnotogias .. A redução do volume desses cabos em até 30% só foi ~ível através da "irradiação", 
ststema que p<:mlltC o rcarranJO molecular do matenal isolante, reduzindo espessuras, mantendo caractedstícas físicas e ctéttlcas. Além 
disso, você já conhece os cabos de vela supreSSlvos que mclboram a. ignição e cllminam as rádio-lmerferêndas no som do seu cano. Hoje 
os minicompucadorcs c as fibras óticas também fazem parte do mundo maravilhoso do automóvel. 
lAEI li 
SlGWNCAtii-DEIN!I<11 
Notici~ Supcrintcrcssotntcs rêm ó llpOio do maJoc f::tbdc:uuc de fios c c~boS do 8rMU c do mundo. 
Falsa farinha 
...... .... - - -----o 
, Com peso na consciência. algumas 
pessoas hesitam diante de uma apeti-
tosa torta, com medo de engordar. 
Esse sofrimento pode estar perto do 
fim: cientistas americanos acabam de 
desenvolver uma celulose sem calo-
rias. capaz de substituir a [arinha tra-
dicional em pães e doces. O novo in-
grediente é à base de polpa de beter-
raba ou de farelo de aveia. tratados 
com peróxido - o óxido que forma a 
água oxigenada. ··o peróxido reage 
liberando apenas as fibras da beterra-
ba ou da aveia", explica a nutricionis-
ta Midore lshii. da Faculdade de Saú-
de Pública da USP. ''Como o orga-
nismo não absorve fibras, o novo in-
grediente não engorda.·· Até agora, 
os produtos sem calorias para substi-
tuir a farinha tinham dois inconve-
nientes: o sabor desagradável e o fato 
de não deixarem a massa crescer. 
Além de não apresentar esses proble-
mas, a nova farinha tem mais fibra 
do que o f a reto de trigo e libra é 
bom para o intestino - de gordos e 
magros. • 
A luz da matéria 
O exótico mundo proposto pela 
Mecânica Quãntica talvez tenha mais 
a ver com a realidade do que se podia 
supor - ainda que essa realidade não 
esteja ao alcance da vivência humana 
de todos os dias. Segundo a teoria dos 
quanta (SUPER!NTERESSANTE n.• 
3, ano 1), tanto a luz quanto a matéria 
se comportam ora como ondas ora co-
mo partículas. Tal semelhança de con-
duta entre luz e matéria, que contraria 
as leis da Física clássica, foi observada 
em três recentes experiências separa-
das. uma nos Estados Unidos, outra 
oa França. outra na União Soviética. 
Em cada uma delas , feixes de <ítomos 
foram refletidos pela luz de forma 
muito parecida como normalmente 
um cristal ou um espelho refletem a 
luz. Ou seja. em condições muito es-
peciais de laboratório. a matéria apre-
sentou movimentos ondulatórios. co-
mo a luz. Os desdobramentos dessas 
pesquisas não de-vem tardar. • 
Limpeza de pele 
Vida nova na TV para velhos fil-
mes do cinema: técnicos ingleses de-
senvolveram um aparelho de telecine 
- projetor que transforma a imagem 
para cinema em sinais de video -
capaz de limpar as marcas do tempo 
na película, como manchas e ranhu-
ras. O aparelho tem I 024 sensores 
de luz e memória digital. Primeiro. o 
filme passa por três pranchas: cada 
uma avalia, pelo grau de luminosida-
de, que partes da imagem em branco 
10 SUPER 
e preto corrosponderiam ao azul, 
vermelho e verde. Então, a memória 
grava a combinação das tonalidades 
e as uniformiza uma por uma. de 
maneira que os sinais de vídeo sim-
plesmente não reproduzem possíveis 
manchas. Por fim, a película passa 
por uma luz infravertnelha. que só 
não a at:ravessa ali onde existem ar-
ranhões ou sujeira. Localizados esses 
pontos, a memória os apaga - c o 
Carlitos de meio século atrás chega 
novinho em folha ao dist ioto reles-
pectador. • 
\ • 
-
Para os deuses 
e os satélites 
Desde que foram descobertas em 
1939. as figuras e linhas desenhadas 
na superfície do planalto de Nazca, a 
sudoeste de Lima, no Peru, represen-
taram um desafio para os estudiosos 
das civilizações pré-colombianas. Elas 
mostram desenhos geométricos. espi-
rais e flores, além de um ·macaco, uma 
baleia, um cachorro e uma aranha. 
São enormes, por isso mesmo indeci-
fráveis ao nível do chão. embora per-
feitamente visfveis do céu. Agora, as 
imagens de dois satélites de recursos 
naturais - o americano Landsat e o 
fra_ncês Spot - ájudam a esclarecer o 
emgma. 
Pois. coto base nessas in1agens, o 
grupo de Sensoriamento remoto do 
Instituto de Pesquisas Espaciais (IN-
~ PE) de São José dos Campos, em 
Caflitos em Tempos modernos, de 1936: conjunto com instituições peruanas, 
agora sem affanhões na TV localizou pela primeira vez linhas de 
projetos particulares de pesquisa na 
ãrea de desarmamento. E ainda so-
bre novas fontes de energia. combate 
à poluição e à miséria no Terceiro 
Mundo. 
A Fundação Rockefeller ajudará a 
pagar a conta desses estudos. Com 
sedes em Washington, Moscou e Es-
tocolmo. na Suécia. o Fundo reúne 
figuras de grosso c.alibre. como o mi-
lionário americano Armand Ham-
mer, dono da Occidental Petroleum, 
o fisico paquistanês Abdus Salan, 
Prêmio Nobel de 1979, o ex-secretá-
!1' rio de Defesa dos Estados Unidos 
~ Robert McNamara e o dissidente so-- --...J ~ vi ético Andrei Sakharov, Prêmio 
Só os deuses deveriam ver Isso Nobel da Paz de 1975. " Para o Ter-
até 28 quilômetros de comprimento. 
Elas só puderam ser vistas por i.orei-
ro porque os satélites estão a 800 
quilômetros de altura. Os ufologis-
tas , que não i riam desperdiçar uma 
oportunidade dessas, apostam que 
os sinais serviam de pistas para dis-
cos voadores. Os pesquisadores, 
com os pés no chão, têm outras 
teorias para explicar essas marcas, 
criadas pelos ancestrais dos incas en-
tre os anos 200 a,C. e 600 da nossa 
era. "Provavelmente", imagina Pau-
lo Roberto Martini, geólogo do fN-
PE, "esses povos faziam os dese-
nhos como oferendas aos deuses pa-
ra que só eles, que viviam nos céus, 
pudessem vê-los.' ' • 
21 em defesa da 
humanidade 
Ô brasileiro José Goldemberg, rei-
tor da Universidade de São Paulo, é 
uma das 21 petsonalidades .de vários 
países (e o único da América Latina) 
escolhidas para dirigir o mais novo 
organismo internacional criado para 
ttabalhar pela paz e a prosperidade 
na Terra. O Fundo Inrernaciooal pe-
la Sobrevivência e Desenvolvimento 
da Humanidade, fruto das r~uniões 
mantida$ no ano passado em Moscou 
por cientistas americanos e soviéticos 
preocupados com a questão das ar-
mas nucleares, pretende financiar 
ceiro Mundo, a palavra sobrevivência 
significa combate ao subdesenvolvi-
m.eoto", diz Goldemberg. "Só aceitei 
participar da direção do Fundo por-
que ele se d.ispõe também a mexer 
com a pobreza." • 
Câmara à mão 
Mede apenas 5 centímetros e pesa 
só 50 gramas - é a mais recente gló-
ria da tecnologia francesa. Trata-se de 
uma min6scula câ.mara de vídeo para 
japonês nenhum pôr defeito. O apare-
lho não grava, somente transmite a 
imagem para um aparelho de TV. Em 
compensação, graças a sensores óti-
cos, consegue captar cenas com per-
feição, mesmo em ambientes mal ilu-
minados. Quatro mi l câmaras já fo-
ram vendidas - a maioria para servir 
como equipamento de segurança em 
edifícios. Os cientistas da Universida-
de de Paris acreditam que o aparelho 
é ainda mais útil na Medicina - para 
exames clfnicos, como os de garganta, 
permitindo observar melhor o organis-
mo nas proporções de uma tela de 
televisão. • 
Tapa nos glóbulos 
Está demonstraçlo que pessoas que 
fumam maconha adoecem com maior 
freqüência. Suspeitava-se que isso 
acontece porque a maconha afetaria o 
sistema imunológico. Agora, cientistas 
americanos parecem ter encontrado 
um ind(cio de que essa hipótese está 
correta: a substância ativa da maco-
nha, chamada tetrahidrocanabinol 
~ (THC), altera o processo de matur'<l-
~ ção dos glóbulos brancos, responsáveis 
~ pela defesa do organismo. Na presen-
iil ça do THC, os glóbulos brancosem 
~ formação passam a sintetizar certas 
protefnas que não lhes são caracterís-
ticas. Os cientistas supõem que essa 
síntese enfraquece os glóbulos. dei-
xando-os sem condições de cumprir 
plenamente sua ta.refa. • 
SUHil1 1 
... e os Idosos recordam mais 
A mente em forma 
Jovens que fazem ginástica regular· 
mente sofrem menos com o final de 
um rom;~nce - esta é a conclusão de 
uma recente pesquisa liobre os efeiws 
do exercício físico sob.re o estado 
emocional das pessoas. Psicólogos da 
Universidade da Califórnia, nos Esta-
do,s Unidos. observaram duwnte oito 
meses duzen tas adolescentes. As garo-
tas que praticavam pouco exercício. 
ao passar por situações estressanies 
como o fim de um namoro. ficavam 
muito m<tis doentes e apresentavam 
sintomas de desconforto com maior 
freqüência do que as colegas que fa-
ziam ginástrca regula rmente. Os cien-
tistas concluíram q ue os exercícios di-
minuem as alterações no sistema car-
diovascular. comuns em pessoas ner-
vosas ou deprimidas. porque elas ti-
ram o problema da cabeça. pelo me-
nos enquanto se movimentam. 
Outro traballlo. destn vez com pes-
soas mais velhas. sugere que a gínás-
tica ajuda a atividade mental. Testes 
de ,memóri<t e raciocínio lóeico. com 
~ 
dois grupos [armados por homens e 
mulheres entre 55 e 89 anos. mostra-
ram q ue o gmpo dos que praticam gi-
12 SUPER 
nástica no mínimo 75 minutos por se-
mana se saiu bem melhor do que 
aque les que só fazem alguns minu tos 
de ginástica semanalmente. A gin{lsti· 
ca. acreditam os cientistas. além tia 
sensaçito de bem-estar que proporcio-
na. retarda o envelhccimemo do sis-
tema ne rvoso central. • 
2 + 2 = bê·á·bá 
O psicólogo suíc;o Jean Piaget 
(1896-1980) provou que a intel igt!ncia 
das crianç<tS se desenvolve de forma 
parecida com a lógica da.~ operações 
ma temáticas. Com base nessa desco-
bertH. professore~ da Universidade 
Federal de Pernambuco começaram a 
testar urn projeto inovador em c:rian-
c;as de 6 a 7 anos. de quatro escolas 
públ icas do Recife - a alfabetização 
matemática antes da ·<llfabetização 
propriamente d ita. Ou seja, as crian-
ças só Hprendem a ler e a escrever 
depois de conhecer os conceitos ma-
temáticos. 
Elas começam ordenando figu ras 
pelo tamanho. depois são apresenta-
das às noções de agrupar c separar. 
somar e subtrair, multiplicar e divitlir. 
"A proposta é fnzer com que desen-
volvam o raciocínio". explica o pro-
fessor João Barbosa de Oliveira. coor-
denador do projeto. A.s aulas são da-
das com base em duas carti lhas que 
contêm exercícios e jogos. Dominan-
do os fundamen tos do mundo mate-
mático. as crianças devem compreen-
der com mais facilídade como se d ivi -
dem as sílabas e como se formam no· 
vas palavras com as sílabas obtidas e 
frases com essas palavras. • 
Re;Jtor de pesquisas de fusão 
da USP: 1,6 milhão de graus 
Fusão em equipe 
Há trinta anos cientistas do mundo 
in teiro sonham construir um reator 
nuclear de fusáo - capaz de gerar 
grandes quantidades de encrgiít c 
mui to m;t is limpa do que a resu ltante 
do~ atuais reamres de fissão (SU PER-
INTERESSANT-E n." 2. ano 2). A 
energia de fusão é liberada quando 
se a tinge a temperatura de 300 mi-
lhões ele graus ecmígrados - vinte 
vezes maio r do que a do núcleo do 
Sol. Por aí j<í vê que poucos sonhos 
são tão ambiciosos como esse. A 
temperatura máxima alcançada - c 
por frações ínfimas de tempo - foi 
de 200 milhões de graus centígradbs. 
O reator de pesquL~as de fusão dct 
Universidade de São Paulo conseguiu 
v 
J .6 mi lhão de ,::raus. 
" Para aumentar as chances dos cien-
• , . 
tistas. Estados Unidos. União Soviéti· 
ca. Japão e " Comunidade Econômica 
Européia resolverltm panir para um 
trabalho em equipe. Cieritistas desses 
países farito o p rojeto de um reator 
padrão. Em 1991. quando se espera 
que o projeto esteja pronto. s·erá de-
cidido se a construção do rcamr obe-
deceni ao mesmo esquema. Manfred 
Lciner. diretor da área de Física da 
Agência lnternacional de Energia 
Atômica (AIEA), torce para que a 
E decisão seja sim: ·'Esperemos que o 
8 clima político intern<1cional esteja 
g ameno o suficiente para uma emprei-
~ tada em comum... • 
< ... . ~· · 
11'! · - •• • • 
I I 
I I 
I 
l 
OXITI!NO 
O maior risco não é viver com a química. É viver sem ela. 
Torre 
Bafômetro 
Como funciona o bafômetro? 
(José Agostinho M. G. Barros Filho, 
Jaú, SP) 
O bafômetro baseia-se na relação 
entre o álcool diluído na corrente 
sanguínea e o que é expelido na res· 
piraçào. O aparelho compõe-se de 
um tubo transparente. semelhante a 
uma ampola, contendo ácido sulfúri-
co e dicromato de potássio, um bo-
cal c uma bolsa plástica inflável. Nu-
ma extremidade do tubo é colocado 
Com álcool, mistura muda de cor 
o bocal e na outra a _bolsa. A pessoa ~ 
sopra através do bocal até que a boi- 3 
sa fique inflada. Dessa forma, o ál-
cool exalado - se houver algum no 
organismo - reage com a mistura 
do tubo, fazendo-a mudar de cor, de 
amarelo. para verde. De acordo com 
a tonalidade, é possível estimar a 
quantidade de álcoól presente no 
sangue. • 
r 
' .. -
Por que a Torre de Pisa é Inclina· ~ .__ _ _ __.o.; 
da? (Celso Georgief, Sáo Paulo, SP) No avião em queda livre, a senssção é de l!Uséncla de gravidade 
Projetada para abrigar o sino da 
catedral de Pisa, na Itália, a t0rre 
começou a ser consrruida em 1174. 
Quando r rês dos seus oito andares 
estavam prontos, notou-se uma ligei-
ra inclinação, devido a um afunda· 
mento do terreno e ao assentamento 
irregular das fundações. Tentou-se 
compensar a inclinação fazendo os 
outros andares um pouco maiores 
no lado mais baixo. Mas a estrutura 
afundou ainda mais, por causa do 
excesso de peso. A torre acabou de 
ser erguida, ainda inclinada, na se· 
gunda metade do século XIV, com 
56 metros de altura. Hoje sua incli-
nação chega a 5,2 metros. • 
14 SUPER 
Gravidade 
Como se consegue anular a gra· 
vldade terrestre, em laboratorios 
da NASA? (Paulo Suassuna e Fred Si· 
queira Campos, Jooo Pessoa, PB) 
Não se pode "desligar" a gravidade. 
Cintos antigravitacionais só existem 
nas histórias em quadrinhos. A NASA 
e outras agêqcias aeroespaciais utili· 
zam um artifício que permite simu.lar 
a ausência de gravidade: a queda li-
vre. Imagine-se dentro de um eleva-
dor, carregando alguns livros na mão. 
Quan_do o elevador chega ao último 
andar, alguém corta os cabos e ele 
despenca. De repente, a sensação será 
de ausência de peso, os pés perderão 
o contato com o chão e os livros flu· 
tuarão no ar. Como o elevador está 
fechado, você não nora~á que caiu. 
mas pensará que flutua. E a queda li-
vre , durante a qual ·a sensação é de 
ausência de gravidé\dC. Nos experi-
mentos das agências espaciais, um 
avião a jato sobe até determinada alti-
tude~ e é posto em queda livre du-
rante certo tempo·. Na acolchoada ca-
bine de passageiros, os futuro§ astro-
nautas experimentam a simulação de 
ausência de gravidade. • 
Sabonete 
Quem inventou o sabonete? (Au-
gusto T. Vida/, Rio de Janeiro, RJ) 
O sabão foi inventado pelos fení-
cios, seiscentos anos antes de Cristo. 
Eles ferviam água com banha de ca-
bra e cinzas de madeira. obtendo um 
sabão pastoso. O sabão sólido só 
apareceu no século VIL quando os 
árabes descobriram o processo de sa-
ponificação - mistura de óleos natu-
rais. gordura animal e soda c:íustica, 
que depois de fervida e!]durece. Os 
espanhóis, tendo aprendido a lição 
com os árabes, acrescentaram-lhe 
óleo de oliva, para dar <J..O sabão um 
chei ro mais suave. Nos, séculos XV e 
XVI, enfim, várias cidades européias 
tornaram-se centros produtores de 
Semana 
Como surgiram os nomes dos 
dias da semana? (Pierre R. Weber, 
São Paulo. SP, e Tíbétio V. Joca. Forta· 
leza. CE) 
No Império Romano, a astrologia 
introduziu no uso popular a seplima-
na, isto e, sete manhãs. de origem 
babilônica. fniciatmente, os nomes 
dos deuses orientais foram substituí-
dos por equivalentes latinos. No cris-
tianismo, o dia do Sol, solis dies, foi 
substituí_do por dominica,dia do Se· 
nbor: e o satumi dies, dia de Saturno, 
por sabbatum, derivado do hebraico 
slwbbatlt, dia de descanso, consagra-
do pelo Velho Testamento. Qs outros 
Costume começou com os fenícios 
sabão - entre elas, Marselha, na 
França, e Savóna. na Itália. Foi da 
cidade de Savona que os frànceses ti-
raram a palavra savon, sabão, e o 
diminutivo savormeue, sabonete. • 
dias eram dedicados a: Lua (segun-
da); Marte (terça); Mercúrio (quar-
ta); Júpiter (qui11-ta); e Vênus (sexta· 
feira). O termo feira surgiu em ponu· 
guê.s porque, na semana da Páscoa, 
rodos os dias eram feriados - férias 
ou feiras - e, além disso. os merca-
dos funcionavam ao ar livre. 'Com o 
tempo. a Igreja baniu da liturgia os 
nomes pagãos dos dias, oficializando 
as feiras. O domingo. que seria a pri-
meira feira, conservou o mesmo no-
me por ser dedicado a Deus. fazendo 
a contagem iniciar-se na secundá fe-
ria, segunda-feira. O sábado foi man-
tido em respeito à antiga tradição he-
braica. Apesar da oposição da Igreja, 
as designações pagãs sobreviveram 
em todo o mundo cristão, menos no 
que viria a ser J>or-
tuga I, graças ao 
apostolado de São 
Martinho de Braga 
(século VI), que 
combatia o costu-
me de " dar nomes 
de demônios aos 
dias que De.us 
criou''. • 
Depois de 
Cristo, o 
dia de Vênus 
virou sexta-feira 
Teclado 
Por que as letras no teclado das 
máquinas de escrever não seguem 
a ordem alfabética? (Ricardo Barl>o· 
sa Díniz. São Paulo, SP) 
Quando a máquina de escrever foi 
inventada pelo impressor americano 
Christopher Latham Sholes, em 
1$68, as teclas foram dispostas em 
ordem alfabética. Tentand0 criar um 
mérodo mais ·'científico", Sholes pc· 
diu ajuda a seu colaborador. James 
Densmore. Em 1872. ele surgiu com 
o teclado QWE,RTY (assim chamado 
por causa das seis primeiras lelras da 
fila superior, na mão esquerda). 
Densmore estudou as letras e suas 
combinações mais freq üentes na lín, 
gua inglesa para colocá"las distantes 
umas das outras, a fim de que as has· 
tes não subissem juntas, embolando 
durante a datilografia. Em 1932. de· 
pois de vinte anos de estudos. outro 
americano, August Dvorak, criou um 
teclado que leva o ·seu nome, extre· 
mamente eficiente para a língua in-
glesa: 3 mil palavras podem ser escri-
tas CQm as letras da fila principal 
(contra cinqüenta, no teclado 
QWERTY) e a mão direita é mais 
usada. Qualquer fabricante de J!láqui-
nas de escrever nos Estados Unidos 
fornece sob en.comenda o relllado 
Dvorak. No Brasil, o teclado 
QWERTY, adaptado com a cedilha e 
os acentos, é o que foi padronizado. 
Apesar de , nele, a letra a, de gr<Ulde 
freqüência, fiear a cargo do pobre de-
do mínimo esquerdo. • 
No principio era abcdefghlfk ... 
apara ·vidas escrev S 
P8T8 tírar su~sst'PERINTAIGAN~~ . 
peRGUNTAicW FJausíno Gom~p . 
Rua Gera 75 ~o Paulo. · ceP 045 • ----_:...a 
SUPER 15 
.. . 
Perda de ozônio 
pode causar 
o efeito estufa 
de ozônio do INPE (Instituto de Pes-
quisas Espaciais). explica por quê: 
"Na atmosfera". ele diz. "tudo fun· 
ciona como um jogo de xadrez. Qual· 
quer movimento de uma das peças po· 
de abalar a posição das outras". Por 
isso. teme·se que a dimmuição de OlÔ· 
nio possa contribuir paro um futuro 
aquecimento da Terra. quando parte 
da calota polar derreter. causondo 
inundações em outras áreas do pl:1ne· 
ta . Os cientistas chamam a essa c:nás· 
trofe "efeito estufa ... 
Por enquanto, a situa~fiO é muis 
preocupante na Antártida. onde ti 
perda anual de o:zõnio parece estar 
atrasando a chegada da primavera. 
Supõe-se que inverno~ mais longos 
tendam a comprometer o ciclo binló· 
gico das espécies anhnuis e vcgctuls 
da região. Com maior segurança. os 
cientistas relacionam o déficit periódi-
co de ozônio com a quebra da cadeia 
alimentar da fauna antártica. No ano 
passado. um erro atribuído à ministra 
do Meio Ambiente da Suécia. Birgit-
ta Dahl. assustou os brasileiros. 
Clima Umita à Antártida 
a extendo do buraco 
Ela teria afirmado que o buraco nn 
camada de o..:ônio cresceu tanto <IUc 
atingiu o paralelo 16. no hembfério 
suL ou SCJ:I. o Sul da África. a mtuor 
parte da AuMrália e metade da Amé-
rica do Sul. Na \'Crdade. a mmi~tnt 
teria querido dizer paralelo 60. t1uc 
nem ulcanc;a a Argen tina. "Por \or-
te". explica o engenheiro Kirshhoft. 
"a extensão do burnco no o..:ómo 
não aumentou nos últimos dois 
anos ... !'ode ser que os seus limites 
estejam fixudos pela.~ condições pc· 
culiares do clima na Ant:írtida. De 
qualquer forma. há dez :~nos o INPE 
faz o monitoramento do ozônio so-
bre o Bm~il por meio de balôcs c 
sondas. em operaçi10 conjunta com a 
NASA americano. E até agow não 
apareceram motivos de inqUietação 
(veja quadro). 
Quanto mais os cientistas investi-
gam a cuusa da d iminuição de ozónio 
na armo fero. mai~ certos e~uio de 
que o homem. ou melhor. um com-
18 SUPIIt 
posto químico chamado clorofluorcar-
bono. produzido pelo homem. está 
por trás desse desastre. Não deixa de 
ser uma ironia. Quando foi criado pc-
los quimicos d<~ General Motors em 
1928. o clorofluorcarbono - ou 
CFC. iniciais dos três elementos que 
o compõem - parecia a mara\'ilha 
das maravilhas. l'odia ser usado com 
segurança como spmy em inseticidas. 
produtos de limpc;w e ti nta. sem o 
risco de reagir com o conteúdo d<1s 
latas. 
Até o início da década de 70. o uso 
do CFC - também conhecido como 
80 
km 
45 
11 
OZONIO == 
-
80" 
Freon. marca do produto fabricado 
peln Ou Pont - cresceu sem barrei-
ras. Dos spmys. passou para os cir-
cuitos de refrigeração de I;!Ciadciras c 
ap11relhos de ar-condicionado. De· 
pois. rornou·se um dos elementos d<~s 
fôrmas de plástico poroso usadas pam 
embalar sanduíches. comida congela-
da c ovos. nlém de servir como sol· 
vcnre na indústriA e letr(\nicu. Niio hn-
vio por que irnnginnr que uma muté· 
ria-prima tão 1i til pudes.~e ser também 
perigosa. 
O primeiro alarme foi acionado em 
1974 pelos químicos americanos Shcr-
I 
I 
I 
t 
i 
L-------------------------------------------------------__j · 
Ocu,.ndo uma fai xa de 30 mil metros, o oz6nlo fl/tra os ralos do Sol 
wood Roland e Mario Mofina. Embo-
ra inofensivo na Terra - advertiam 
eles -. o CFC podia ser um veneno 
na :umosfera. Suas moléculas passa-
vam intactas pela troposfera - a fai-
xa de ar que vai da supcrffcic até cer-
ca de 10 mil metros de altitude. onde 
ocorrem todas as mudança!> de clima 
do planeta - para desembocar na 
estratosfera. Ali. os mios ultmviolct:t 
elo Sol quebrariam as mo l~culas de 
CFC e liberarium :\tomos do gás elo· 
ro. O ozônio. uma molécula formada 
por três átomos de oxigênio (0,). 
reagiria com o cloro (CI). formando 
monóxido de cloro (CIO) e mais oxi-
gênio (0~) . 
A cadcio de reac;óes químicas não 
ficaria n1 so. O monóxido de cloro 
combmundo·~c com o oxigênio deixa 
nov11mcntc livres os átomos de cloro 
para rcag1r com o ozônio. Os cientis-
tas que goMam de fazer contas no 
computndor calculam que. por causa 
do:ssc efeito cascatn. cnda átomo de 
cloro th.:strói l ()() mil moléculas de 
ozônio do 111 mo fera. Eles ainda aler· 
tam pnrn um detalhe importante - o 
CFC tem umu vida util de pelo me-
nos 75 unos. Portanto. Jli houve des-
O ozônio mau 
Enquanto na atmosfera o ozônio 
protege a Terra dos raios ultravioleta 
do Sol. na superficie é um poluente 
prejudicial. principalmente para lb 
plantas. O ozônio mau noscc de umn 
reação da luz solar com o dióxido de 
nitrogênio das descargas do:. automó-
veis. Nesse jogo entram também os 
hidrocarbonetos não destruidos no 
prooesso de queima do óleo combus-
Queimadas: um t ipo de polulçAo 
tlvel pelas mdústrias. Esse ozônio é 
levado pelos ventos a centenas de mi-
lhares de quilômetro:> de distância. 
Med1çõcs realizadas pelo lNPE em 
Natal. no R1o Grande do None. rc-
"elam que. em cenos meses do ano. a 
concentrac;ão do ozõruo sobre o Nor-
deste chega a dobrnr. Pwvavelmen-
te. especula o engenhe1ro Volker 
K1rshhoff. o fenômeno resulta das 
queimadas dumme a estação seca no 
Brasil Central. 
Quanto maior a quantidadede 
ozônio na baixa atmosfem. maior 
também u perda agrlcola. Pesquisas 
realizadas nos Estados Unidos apon-
tam prejuizos enormes dos plantado-
res de .soja. trigo. Bll;!odâo e amen-
doim, É que o O'lônio inibe a fotos· 
sfntcse. produzindo lesões nas folhos. 
Nos animais. provoca irriwção e rcs-
secamento das mucosus do aparelho 
respiratório. além de enve!Jlecunento 
precoce. Testes J:Í mostraram que. 
em maiores conccntruçõcs. o ozónio 
destrói proteínas e enzimas. 
A radlaçáo perigosa do Sol /neide 
mais diretamente sobre a Antirtlde 
carga ~uficientc do gós na a tmosfera 
pam comer o ozõmo por quase um 
século - mesmo que nem um único 
er.1mn de CFC ro se produlldo daqu1 
j;arn a freme. 
Pelo menos no~ Estado Umdos, o 
susto com a descoberta dos cientistas 
foi gmnde - e a reação niio tardou 
Em 1978. os umcricunos tratílrnm de 
banir o CFC da maior parte d~ ae-
rossóis - a exccçflo foram os rcmé· 
dio~. como as bombinhas pnru usm:1-
tico~. Naquela época. os Estados 
Umdos usavam -170 mil toneladas de 
CFC em ;terossóis c 350 mil em ou-
t ro~ produtos. Só que desde então u 
situação se inverteu: crn 1985. os 
americ~1nos consumlnm 235 mil tone-
ladas de CFC em ncrossóis c 540 mil 
toneladas em refrigeração. embala-
gens etc .. ou seJn. o banimento ado· 
tado dez anos a tr:is n;lo resolveu 
l!runde coisa. Além disso. é claro. o~ 
Esr:~dos Unidos não são o único pai~ 
sura 19 
A mancha negra 
nos monitores 
confirmou tudo 
do mundo a usar produtos em spray. 
Em 1979. a Du Pom - uma das 
maiores fabricantes mundiais de CFC 
- divulgou um comunicado, no qu.al 
dizia que todos os dados relativos à di-
minuição da camada · de ozônio eram 
apenas pro jeçôes de computador ba-
seadas em meras suposições. Foi en-
tão que estourou a bomba. Enquanm 
trabalhavam nas madrugadas gélidas 
do pólo sul. cientistas do Instituto 
Britânico de Pesquisas Antárticas 
descobriram acidentalmente que a 
concel}tração de ozônio sobre a re· 
gião não só era muito mais baixa do 
quç em qualquer lugar da Terra, co-
mo também vinha diminuindo a cada 
a proteção do ozónlo, tomar sol seria expor-se ao risco de câncer 
ano desde 1977. 
A princípio, cientistas da NASA 
contesta ram a informação, mas de- ~ 
pois ent regaram os pontos. É que o ~ 
computador que manipulava as i n for- ~ 
mações do satéli te me!eorológico ~ 
Nimbus-7 estava programade para ~ 
não levar em consideração mudanças Usado em embalagens para o vos ... 
como as que ocorriam nos céus da 
Antártida. Repassando todas as fitas 
gravadas, dessá vez cóm uma nova 
programação do computador, os cien-
tistas amer icanos viram nos monitores 
surgir sobre o pólo sul uma acusadora 
mancha negra. Era a prova viva de 
que, de setembro a novembro, a ca-
mada de ozônio sobr'e a Antárrida so-
fria uma redução de 30 até 50 por 
cento. A partir daí. não havia mais 
dúvida sobre o que estava aconteceo-
do na atmosfera. 
Expedição tira-teima deu 
razão aos pessimista.s 
Mas, também. como diziam funcio-
nários do governo influenciados pelo 
lobby dos fabricantes de CFC, não 
havia certeza absoluta -como de Ia-. 
to não há até hoje - de que o gás 
era o principal culpado. Afinal. o que 
se convencionou chamar camada de 
ozônio é uma faixa de 30 mil metros 
de espessura. a partir de 15 mil me-
tros acima da superfície terrestre, de 
um gás tão rarefeito que. se fessc 
comprimido a pressão e temperatura 
normais da Terra, formaria uma cas-
quinha de apenas três milímetros. É 
impossível prever com exatidão o que 
20 SUPER 
acontece no seu i.nterior. Ali, qual-
quer intromissão de gases quase tão 
perigosos como o CFC - como me-
tano. dióxido de carbono. óxido nítri· 
co - provoca mudanças. Descobriu-
se. por exemplo, que o bromo. tun 
gás utilizado em extintores de incên-
dio, produz uma substância chamada 
halônio. cujo poder de destruição é 
dez vezes maior que o do CFC. 
Se não conhecem detalhes , os cien-
tistas têm uma visão bastante aproxi-
mada da vida ímirna da atmosfera. 
Correntes de' ar se deslocam dos pó: 
los para o equador a baixa altitude e 
do equador para os p61os a altitudes 
mais elevadas, espalhando poluentes 
a milhares de quilômetros do local de 
origem. Mas na Antártida isso não 
oco-rre. Durante o inverno. que co-
meça em abril, a região permanece 
no escuro e os ventos giram em circu-
les impenetráveis, que atraem massas 
de ar de outras partes da Terra com 
grandes qu~ntidades de subsrânci.as 
químicas. E o vónex poJ.ar. onde 
ocorre o buraco na camada de ozô· 
nio. Em setembro. com os primeiros 
raios ultravioleta do Sol. as moléculas 
de CFC começam a se quebrar , des-
truindo o ozônio. O buraco só se fe-
cha em novembro, com a renovação 
. .. em aparelhos de refrigeração ... 
... e sprays de Inseticidas ... 
do ar vinda de outras regiões. 
Esta pelo menos era a teoria. Res-
tava saber se isso realmente acontecia 
na prática. Uma expedição tira-íeima 
com I 50 ciem ista·s de dezenove orga-. ~ 
nizações de quatro países esteve em 
setembro último na Antártida para 
analisar a composição do vónex po-
lar. A NASA usou na pesquisa dois 
aviões; um jato DC-8 e um velho 
ER-2 adaptado dos aviões espiões 
U-2. com0 o que a União Soviética 
Tudo Igual nos 
céus do Brasil 
Uma notícia tranqüilizaqora para 
os brasileiros: a variação da cam!l· 
da de ozônio sobre o país peumane-
ce estável - no máximo, aumenta 
ou diminui apenas 5 por cento. Pe-
lo menos é o que d.izem os instru-
mentôs de medição do iNPE.. Des-
de 1~78, o instituto acompanba a 
movimentação do gás na atmosfe-
ra. Quase duzentos balões já foram 
lançados da base da Barreira do In-
ferno, em Natal. As informa_çõeS 
des balões foram complementadas 
por foguetes e instrumentos de su-
perfíeie instalados em Nfanaus. Be-
lém. Natal . Fortaleza. Cuiabá e 
São José dos Campos. 
lsso é possível graças a um convê-
nio com a NASA. que fornece os 
equipamentos, inclusive foguetes do 
tipo ~oki e Super-Loki. comparáveis 
ao Sonda-3, de fabricação nacional. 
Os americanos estão interessados no 
. .. o gás CFC é um sério poluente 
abateu em 1960. no mais célebre inci-
dente da guern\ fria. Com o que há 
de mais sofisticado em matéria de 
equipamentos. os aparelhos desafia-
ram os ventos do vórtex c, durante 
seis semanas, espionaram a quantida-
de de poluentes concemrada em seu 
interior. 
Os resultados confirmaram as ex-
pectativas mais pessimistas. A con-
centração de monóxido de cloro so-
bre a região é cem vezes maior do 
Em Natal, bslóes medem o gás 
estudo do comporta1;11ento do ozônio 
perto do equador. algo até recente-
mente pouco conhecido. Nos líltimos 
anos, o INPE tem aperfeiçoado suas 
medições. Go,meçou a observar tam-
bém o monóxitlo de carbono. que 
participa de uma série de reações quí-
micas junto com o ozônio. O objeti-
vo, diz Volker Kirshhoff. respons.'ivel 
pelas medições, é controlar os po-
luentes que podem afetar a vida na 
Terra. 
que em qualquer outro lugar do glo-
bo terrestre. Como diz VoJker Kir-
shhoff. do l NPE. um veterano de ex-
pedições cienríficas à Antártida, '"a 
pesquisa não foi a resposta fínaJ . ..rnas 
uma prova arrasadora de que real-
mente o CFC está fazendo alguma 
coisa de er.rado lá em cima··. 
A meta é controlar o 
uso do gás CFC no mundo 
A NASA prometeu divulgar este 
mês novos resultados da expediçito -
e cientistas europeus bem-informados 
receiam que a batelada completa de 
dados contenha conclusões de arre-
piar os cabelos. Além disso, a agên-
cia americana está programando uma 
análise do ar na região do pólo norte , 
onde não parece ocorrer um fenôme-
no igual ao da Antártida. 
Caracterizada a parte que cabe ao 
CFC nessa agressão à natureza, a ló-
ll;ica mandaria acabar com a produção 
~ . 
do gás. Mas nem sempre a lóg.tca dá 
a última palavra. Há. de um lado, os 
interesses da indústria. Mas, junto 
com eles. há o fato não menos real 
de que a vida das pessoas ficou mais 
confortável desde o advento dos clo-
rofluorcarbOJlOS. Afinal. ninguém 
contestará que um inseticida em 
spray é mais prático do que as vel.basbombas de ··flit" . O caso do ozônio 
ilustra exemplarmente um di lema dos 
tempos modernos -como beneficiar-
se das conquistas da tecnologia sem 
pagar o preço de prejuízos às vezes 
incalculáveis ao ambiente. 
Controlar a produção de CFC no 
mundo. portanto. não é fácil. Os tre-
ze maiores fabricantes mundiais -
com sede no Japão. Europa e Esta-
dos Unidos - assinaram um acordo 
em janeiro último comprometendo-se 
a ac.elerar os restes de identificação 
da toxicidade do produto e de even-
tuais substitutos. Mas as empresas 
não reconhecem como definitivas as 
evidências contra o CFC. 
No Brasil, o consumo do 
poluente ainda é baixo 
Para a Du Poni, por exemplo, 
"não existe nenhuma comprovação 
científica de que a camada de ozônio 
seja atingida pelo CFC" _ diz um por-
ta-voz ela companhia em São Paulo. 
Mesmo assim. segundo a fonte, a em-
presa está desenvolvendo pesquisas 
em nível mundial para estudar o as-
sunto. De seu lado, a Hoechst do 
Brasil, que fabrica o CFC sob a mar-
ca Frigen, reconhece que hí1 indícios 
de que o gás esteja afetando o ozô-
nio. Um executivo da empresa desta-
ca em todo caso que o consumo no 
Brasil ainda é baixo. De fato. en· 
quanto nos países desenvolvidos o 
consumo é de I quilo a I ,3 quilo por 
habitante por ano, no Brasil esse va-
lor cai para irrisórios 80 gramas. 
Em agosto do ano passado. ainda 
antes portanto da última safra de más 
notícias vindas da Antártida, a rede 
ele lanchonetes McDonald 's anunciou 
nos Estados Unidos a intenção de 
substi tuir as embalagens de espuma 
plástica de seus sanduíches por outras 
que não contivessem clorofluorcarbo· 
no. A idéia foi saudada com entusias-
mo. mas ainda não se concretizou -
as 9 600 lojas da rede em 46 paí.ses 
continuam a usar a embalagem polui-
dera. Enquanto isso. no Brasil. a 
Basf. que fabrica o tradicional isopor. 
usando o inofensivo gás pentano em 
vez do CFC, desistiu de entrar no 
mercado de embalagens para sanduí-
ches, aparentemente a fim de não 
agravar a polui~ão da atmosfera. 
Mas a iniciativa de restringir a pro-
dução de clorofluorcarbonos não é 
discutida só nas empresas. Exatamen-
SUPIR 21 
Pesqu 
receiam um 
grande desastre 
te ha um ano. uma confercncw em 
Genebra. na Su•c;a. reumu delc@.:•dos 
de 32 países. Eles come<;amm ali a 
discutir mecam<mos paro regular o 
U.\0 do produto Foi um pnmcml pas· 
so - e seus frut~ não tardaram. Cin· 
co meses depo1s. representante~ de 24 
pmscs. entre os qu:us EsHtdo~ Un•dos. 
Japão. Alemanha c Franc;u - os 
maiores produtores -. a~marnm em 
Montreal. no Canadá. o comprom•~ 
de reduzir a produç-Jo de 
C.mtglfdo de Instrumentos túl PH<~UI$11, o ER·2 voou sobre a Antlttlda ... 
CFC pela metade até 199'). 
Mns o documento autoriz:• 
nações em desenvolvimento a 
:aumentar o seu uso dumntc 
uma década mtcirn. O rcsul· 
tado final. a~~egumm os de· 
fcnsorcs do tratado. scra umu 
redução de 35 por cento no 
total de CFC na atmosfera 
a tê o final do século. Por ccr· 
to. isso é insuficiente parn 
afugentar de vct o problemn. 
"Sob o ponw de v1sta técni· 
co, as medida~ adotadas em 
Monrrcal foram pouco cfcti· 
vas" . critica o engenheiro 
Kirshhoff. do INPE. "Ma~ do 
ponto de "' ta diplomático 
serviram como um empurrão 
... junto Ct>m um jato OC-$ p•r• estudar o ozônio 
inicial. Ouem sabe. no futuro. essas 
medidas não ~râo ampliados'!" 
O Brasil mandou dois d1plomatas a 
Montreal. mas não assinou o protoco-
lo. Em todo caso. o ltamarut) \Cm 
promovendo consultas sobre o assunto 
a diversos órgãos do governo. como o 
INPE e a Secretaria Espec1al do Meio 
Ambiente. Ambos '\e mamlcSt!lrilm a 
favor da assinatura do protocolo. Se· 
gundo o sccretáno especial do Meio 
Ambiente. Roberto Messio~ Franco. 
"o uso do CFC nas proporc;õcs atuai~ 
realmente preocupa. mas posso ga· 
rantir que a nossa particip:1çúo ainda 
é pequena". Ele afirma que CK países 
do Terceiro Mundo são responsáveis 
por apenas 6 por cento do fnhricnçf10 
internacional - c o Brasil por openas 
I por cento. Mcssins Frauco di!lsc a 
SUPERINTERESSANTE que o Bra-
sil assinará o protocolo de Montreal 
"dentro de cinco n seis meses". 
Segundo o pres1dcnte du Associa· 
ção Brasileira de Aerossói~. Hugo 
Chaluleu. "menos de 5 por cento 
22 1UPU 
dos sprays produzidos no pais usam 
o CFC. A maior parte dos fabricao· 
tes prefere uma mistura de butano e 
propano como propelente. até por· 
que é muito ma1s barato". Na opi· 
mão de Chaluleu. "o CFC poderia 
ter ~ido abolido das latas de spray há 
muito tempo". Restariam de qual· 
quer forma os aparelhos de rcfngcra· 
çio. onde ainda não foi encontrado 
um produto adequado para substuuir 
o ~ás. 
Os cientistas mais preocupados com 
a questão insistem em que ela deve 
ser rc.~olvida - e imediatamente. "As 
mudan~as ocorridas nos últimos trinta 
n cmqilema anos na atmosfera nllo 
têm precedentes c n veloddodc em 
<luc elas acontecem está se acclcrnn· 
<o". nlcna o cientista americano Gil-
bcrt White. da Universidade do Colo-
r:u.lo. " É ~ivel que um g.rande de· 
'uMrc esteja sendo armado ... O clima 
du Terra passou por mil mudanças ao 
longo dos bilhões de anos de sua exis· 
téncin. Mas sempre conseguiu manter 
• 
Volker Klnhhott, do INPE: 
um• proVlf arraudora 
o equilíbrio - sem o qual o próprio 
planeta dcixarin de abrigar a vtda. 
Ou seja. o clima pode ser comparado 
a uma m6quina que se corrige a si 
mesma. deixando entr.lr a quantidade 
certa de energia solnr para harn10ni· 
Ulr :r temperatura c o desenvolvimen-
to da 'ida. Mas o homem vem inter· 
ferindo neste procc))(). Desde o ~ur· 
gtmento do Homo sapttlls at~ os tem· 
pos modernos. essn interferência foi 
desprczlvcl. Nas últimos cinco décn· 
dus. porém. a explosf10 das llO\IIIS tec· 
nolngin~ tornou a intromissão humn· 
na um futo cndn vez mais carregado 
de ri\COS para a natureza no sentido 
mai~ gernl. No cnso especifico do 
oz6n1o. o 11lcancc ela nmcnça nf•o po· 
de scr ~ubestilnado. • 
Marlha San Juan Fra nça 
Para saber mais 
AlmOIItHa, Rit;~rd M Ooody e JJ1mn C G 
Wll~et. EIMOta Edgll(t Bluchet, fbot»JIIIIIf • 
10 11182 
éGatin 
Capricho. 
E miau para 
as outras! 
é a 
COMPORTAMENTO 
Toda criança aprende que a mentira 
é um feio pecado. Mas os mesmos adultos 
que lhe ensinam essa verdade mentem 
mais do que aceitam confessar. Viver sem mentir 
parece tão difícil como viver sem respirar 
inguém gosw de :tdmitir es1u 
dura verdade: todo~ menh;m. 
Seja para agradar a alguém. 
escapulir de uma encrenca.~c r 
o herói de alguma aventura nunca Vt· 
vida. levar ' 'nntagem na vida. Com 
sua~ pernas curtas. a mcntiru c<tminha 
no pusso do homem desde que o mun· 
do é mundo - c não dli o menor sinal 
de perder o fôlego. muito pelo conlrtl· 
rio. Todos temos um pouco - ou 
muito - de Pinocchio. I lá milhnrC$ 
de anos. como se estivcs.o;c conforma· 
do com o fa to de que vwcr sem pregar 
uma menririnha é uio tmpossivel como 
viver sem respirar. o filósofo chinês 
Confucio (551-479 a.C.) recomend:l\'a 
- ' 
que se apelasse para esse antiqüíssimo 
recurso apenas quando a verdade prc· 
judicasse uma famnin ou a nação. É 
um conselho maroto. como sabem os 
chdc~ de clfu. c dirigentes poliricos. pa· 
ra quem nunca foi difícil fazer o que 
pregava o venerando sábio. 
Ari~tótelcs (384·322 n.C). o pcnsn· 
dor grego. só aceitava duas maneiras 
de mentir: diminuindo ou aumcmnn· 
do uma vcrdnde. O teólogo S:mto 
Ago~tinho. no ~cu lo IV. resolveu 
complicar o n~un10 dcscre,·endo seis 
tipos diferentes de mentira: a que pre· 
judic.1 alguém. mns é litil a outro: a 
que prejudica sem beneficiar nin· 
guém: a que se comete pelo prazer de 
, .. 
mentir: a que se conta para divertir ai· 
guém: a que leva ao erro religiooo: c. 
finalmente. a que ele considcravq a 
''boa" mentira. que salva u vida de 
uma pessoa. Para as modernos ctén· 
cias do componnmento. porém. ~eja 
qual Cor a hiMóri(l falsa. a realidade é 
uma só: mentira é aquilo <tllc se que-
ria que fosse verdade. 
O aco de mentir. contudo, é menos 
ou mui~ tolcrndo conforme o:. valores 
de cada povo c c<~da épocn.E nté nu· 
ma mesma sociedade podem cocxiMir 
graus c.IICercntes de :tceitaçiio (ou rc· 
plidio) da mentira. de acordo com as 
expectativas que cada grupo social po· 
de ter em relaç:io aos demais O po· 
. ' . 
Pode indirnr 
a quantas 
anda um pais 
vos antigos. de maneira geral. conde-
navam a mentira, mas podiam mudar 
de idéia a panir do contato com ou-
tras culturas. Por exemplo. os povos 
da velha fndia tinham o preceito de só 
mentir para salvar um hóspede. No 
mais. os budistas pregavam que men-
tir equivalia a matar dez homens. Em 
tempos recentes. com a chegada dos 
colonizadores ingleses, a mentira pas-
sou a ser aceita com naturalidade pe-
los indianos, que a ela recorriam até 
paro salvar a própria pele. 
Mas. ontem ou hoje. na fndia ou no 
Brasil. segundo os psicólogos. existe 
um perlodo da vida em que sempre se 
mente: a infância. Nela. a mentira é 
um modo de sarisfazer. para si mesmo 
o u perante os outros. uma necessida-
de o u alcançar um desejo. Por exem-
plo. o ga ro to que d iz q ue s~u pai. uma 
pessoa modesta, é um ''grande ho; 
mem" quer que isso seja verdade. E 
pane do desenvolvimento pslqu1co de 
cada um fazer da menti ra uma Cl>pécie 
de varinha mágica. 
Também existem as menuras por 
motivos óbvios, em que o pequeno 
mentiroso sacrifica a verdade para 
proteger-se da esperada punição por 
um mau desempenho na escola ou 
uma travessura que custou a Ylda de 
um valioso vaso em casa. A criança 
mente ainda para extravasar agresslvi-
dade o u \Íngar-se de alguém: por 
exemplo. acusa o irmão de uma falta 
imaginária para vê-lo castigado e as-
sim aplacar o próprio ciúme. Tudo is-
so, com mais refinamento, os adultos 
também fazem. Há. porém. uma dife-
rença. "Não existe uma idade exa ta 
para parar de mentir. Mas quando se 
deixa de viver mentindo é sinal de que 
já se está maduro' '. acredita a psicólo-
ga paulista Maria Helena de Brito lz-
zo. que há vinte anos trabalha com 
crianças. 
Se a mentira é tão comum. por que 
todo pai virn uma fera quundo 11 agru o 
(ilho mentindo? " Porque esse mesmo 
pai. embora também minta na sua vi-
da. niio deixa de dar o devido valor à 
verdade". responde Maria Helena. 
"Ele que r que o filho faça o ceno pelo 
mesmo motivo que deseja vê-lo o me-
lhor em tudo." A repressão fam1llar à 
mentira faz bem: sem ela. explica a 
26 SUPER 
f 
' A crlanç• mente parti C.n11 ~ Atrlçlo fatal: a merrtlr11 do adultlrl o lVIII /Izar •eu• ~Jo• 
psicóloga. não se aprende a lutar pelas 
coisas que se quer usando meios lcgíti· 
mos. nem se assume o que se faz -
enfim. nfto so cresce. No fina l das con-
tas. o adulto q ue mente constante-
mente é uma criança que só cresceu 
por fora . Pois então a mentira é prova 
de que algo vai mal na cabeça do cida-
dão- e precisa ser tratado. 
As expressões corporais 
entregam a verdade 
Por isso mesmo. a mentira é uma das 
principais manifestações analisadas no 
divã do ps1coterapeuta: os assuntos so-
bre os quais a pessoa mente fornecem 
ótimas pistas sobre as áreas mais proble-
máticas de seu temperamento. aquilo 
que ela nf10 enfrenta ou quer esconder 
-de SI mesma. para começo de conver-
sa. Niio menos impon ante. porem. é a 
influência da sociedade. Assim como a 
censuro da família é fundamental para 
conduzir a criança ao bom caminho da 
verdade. a forma como a sociedade pu-
ne a mentira também é. •· um país co-
mo o Brasil. em que a impunidade corre 
solta. mesmo um adulto pode nc'10 ver 
mal algum em mentir" . observa a p:.ic:ó-
loga Maria Helena. Aí a mentira muda 
de figura. Jtí niio se trata da necessidade 
compulsiva de enganar, tipica da pessoa 
imatur<J. nom das pequenas invcrdades 
que todos contam. seja por piedade. co-
mo dizer o um doente que sua aparência 
está ótima. seja para poupar-se de uma 
chateação. ao mandar dizer que não se 
está em casa no momento de atender um 
telefonema. 
Quando a mentira passa a fazer par-
te rotineira do jogo socml - uma téc-
nica de ataque e defesa na competição 
entre as pessoas por mais riqueza. 
prestigio ou poder, e ulnda na guerri-
l h ~ entre governados c governantes 
-. é claro sinal de que o país onde is-
so acon tece não vai bem das pernas. 
O pior é quando as pessoas mentem c 
já nem ficam vermelhas - ao contrá-
rio. até invocam justificativas para as . . . 
raste1ras que praticam. como o contn-
buinte que lesa o fisco porque se diz 
lesado pelo governo que não cumpre 
o que promete. A mentira envergo-
nhada ainda é uma prova de que se 
sabe distinguir o CC!rto do errado: as-
sim como a hipocnsm é a homenagem 
do \icio à vinude. ela e uma demons-
tração indireta do respeno pela ,·erda-
de. Mesmo o ma1s descarado dos 
mentirosos. porém, se entrega - só 
não o nota quem não quer ou não 
presta suficrente atenção. 
Descontadas as mudanças imper-
ceptíveis diretamente. aquelas capta-
das somente pelo detector de mentira 
(veja quadro). o corpo mostra um 
grande número de sinais de que a ver-
dade está passando lontte naquela ho-
r:l . Sabe-se. por exemplo. que é mais 
fãcil mentir com o rosto do que com 
as pernas e os pés. Isso mesmo: cien-
tistas descobriram que. pelo fa to de 
todos conhecerem us próprias expres-
sões faciais, de urn to vê-las no espe-
lho. é mais simples controlá-las no 
momento de mentir. Mas é quase im-
possível disciplinar pernas e pés -
que à sua maneira também ''falam". c 
às vezes bem alto. durante uma con-
\'ersaçáo. O mentiroso bate os pés. 
cruza e descruzn ns pernas. ~ por isso 
Aristóteles e Pllftlo fluram 
filosofias sobre a mentlr11 
CQ•~IIH:Io: mentir 
apen11s qu•ndo 
• tllll'dMle 
prefudlcar 
um• t.mflls 
ou a nação 
Joseph Goebbels 
ITIIbSihiiVS para 
qu11 u menllrt1S 
nazJ•t .. fou.m 
~/I .. como 
verdNH pUTIIS 
pelos slemles 
Ooando os animais mentem 
aves. As borbole-
• tas apetitosas tra-
A mentira. na 
natureza. é uma 
arma de sobrevi-
vência. Muitas 
vezes. na luta 
contra o preda-
dor, a presa só 
tem chance de es· 
capar se souber 
mentir bem. É o 
caso dos cama-
leões. que. graças 
à pigmentação 
especial da pele. 
se confundem 
com o ambiente 
O-~ "nge qu. 4 pedra ou 
folh• e uslm vai .oorevlvendo 
tavam de voar 
misturadas às ou· 
tras. Hoje ~e sa-
be que os ammrus 
memorizam cer-
tos padrões de 
aparência quando 
associam deter· 
minada presa a 
um gosto nau-
seante ou à dor. 
Ponanro. menti-
roso competente 
é aquele que con-
Ou de cenos caranguejos, que Vi-
vem com a carapaça coberta por al-
gas ou esponjas. Os insetos são es-
pecialistas em se fingir de cortiça 
ou de graveLoS no tronco de árvo-
res. Essas c muitas outras formas 
de mentira atendem por um ún1co 
e verdadeiro nome cicntíf~o - mi· 
metismo. 
O fcnómeno foi estudado pela 
primeira vez pelo naturalista inglês 
Henry Walter Bates (1825-1892). 
que observou o comporwmento 
das borboletas no vale do rio Ama-
zonas. Ele descobriu uma família 
de borboletas que conseguia csca· 
par dos pássaros tomando-se pare· 
cida na forma e na cor com outra 
família. cujo sabor não agradava às 
segue assumir uma aparência pou-
co atrativa para o predador. 
Existem. porém. casos de auto-
mimetismo: animais que imitam 
outros da própria espéc1e. Os 
zangões. por exemplo. quando es-
tão prestes 11 ser atacados. voam 
e zumbem como abelhas. que. 
como bem sabem os atucantcs. 
têm ferrões para se defender -
se a mcntim pega. os zungõcs se 
sa lvum. Nem sempre. contudo. é 
u prcsu o mentiroso. Isso aconte-
ce no caso clássico do lobo em 
pele de cordeiro. ou seja. o ani-
mul que finge ser manso. se 
aproxrma calmamente de outro 
com ar de quem não quer nada e 
sa1 ganhando uma refeição. 
que em negociações complicadas ns . . . 
pessoas ficam mconSCJentemente ma1s 
à vo ntade sentadas a mesas que escon-
dem a metade inferior do corpo. 
Numa das mais bem trabalhadas 
pesquisas sobre a mentira e o organis-
mo. cientistas americanos pediram a 
um grupo de estudantes de enferma-
gem - uma profiSSão cujos pratican-
Les são de certo modo treinados para 
mentir - que dissessem ora a verda-
de. ora a mentira sobre alguns filmes 
a que haviam assisttdo.Enquanto as 
enfermeiras falavam. uma câmara 
ocu.lta tratava de flagrar os sinais men-
tirosos. Um deles é o ato de esconder 
as mãos, que normalmente se movi· 
mcntam numa conversação para dar 
força a uma idéia. Sem perceber o que 
está fazendo. o mentiroso tende a ti-
rar as mãos de cena, afundando-as nos 
bolsos. por exemplo, para evitar que 
desmintam a mentira que sai da boca. 
No amor, é multas vezes 
confundida com a fantasia 
As enfermeiras da pesquisa omeri-
cana aumentanm a freqüência de nu· 
tocontatos com o rosto. enquanto 
mentiam sobre os filmes. Ou seja, co· 
meçaram a passar a mão pela face, ali-
sar os cabelos, apoiar a mão no quei· 
xo. Mas dois gestos se destacaram: o 
de encobrir parcialmente a boca -
nem que apenas por um momento -
e o de tocar o nariz. O primeiro. se· 
gundo os psicólogos, uaduz uma von-
tade de amordaçar-se, porque nin-
guém se sente totalmente à vontade 
ao contar mentiras. Tende a ser um 
gesto rápido porque exprime um con-
Dito: uma pane do menti roso não 
quer amordaçar-se coisa nenhuma -
e sim continuar com a sua mentira. Já 
o toque no nariz tem duas explica· 
ções: a primeira seria basicamente a 
impossibilidade de cobrir a boca -
portanto, encontra-se apoio no nariz. 
que está convenientemente próximo: 
a segunda explicação refere-se a ce rtas 
mudanças fisiológicas, nos momentos 
de tensão. que aumentam a sensibili· 
dade da mucosa nasal. Assim, ao 
mentir, o nariz coça, embora possa ser 
uma scnsaç!\o tão suave que mal se 
perceba. 
Finalmente, as enfermeiras menti-
rosas se mexiam mais nas cadeiras. co-
mo crianças que querem escapar de 
algum lugar. Na verdade. o que todos 
querem t escapar desse desconforto 
psicológico que é enganar o próximo. 
mesmo quando não se o ama. As 
sura 27 
Há quem nlinta 
• paravner 
honestamente 
crianças podem dizer "sou mentiroso 
e sou feliz: mais mentiroso é quem me 
diz". Mas não é verdade: memira ra-
ramente rima com felicidade. Princi-
palmente quando a pessoa se vé força-
da a esconder de seu parceiro a reali-
dade. Nas relações amorosas. diz o 
psicoterapcuta paulista Jacob Pinheiro 
Goldberg, a mentira costuma ser con-
fundida com a fantasia. pois ambos os 
processos servem à mesma finalidade: 
suavizar as situações de tensão. 
"Mas. na mentira". explica 
Goldberg, ' 'existe a intenção de iludir 
o outro em causa própria, e isso impli-
ca lesões e mutilações para o relacio-
name!ltO. Já a fantasia serve muitas 
vezes para sustentar a qualidade da 
relação." A mentira no jogo amoroso 
também sofre a influência dos costu-
mes da sociedade em que vivem os 
amantes. Quanto mais tabus houver. 
maior será a tendência para a hipocri-
sia e o fingimemo. Poucas coisas são 
tão complicadas como o conflito entre 
a verdade e a mentira numa relação 
afetiva. e os rios de tinta já gastos pe-
Mentirosos de 
• menttra 
"De tanto inventar histórias para 
distrair seus amigos, o alemão Karl 
Friedrich Hieronymus, barão de 
Munchhausen (1720-1 797). que ser-
viu como mercenário no exércíto 
russo na guerra contra os turcos em 
1740. acabou eptra'ndo para a His-
tória como um grande mentiroso. 
grac;.as ao livro. por sinaJ publicado 
anonim mente em L785. do escri-
tor aremão Rudolph Erich "Raspe 
( 1737-l794). De voha dos calJlpoS 
de batalha, o barão contou. por 
exemplo. como se safara de um 
pântano onde caira: puxando a sL 
mesmo pelos cabelos. Em outra pe-
ripécia. salvou-se da morte. caval-
gando balas de canhão disparadas 
pelo inimigo. Entre uma aventura e 
ourra. ;tinda achou tempo para ir à 
Lu~- duas vezes. 
28 SUPD 
Que se,. que dom Pedro disse de verdade lls margens plâcldas do lp lranfP17 
los psicólogos para explicar a questão 
não conseguem cobrir suficientemente 
toda a gama de emoções envolvidas 
nessas situações. 
I lá quem vive para mentir e há 
quem mente par!\ viver - como os 
que ganham honestamente o pão de 
cada dia graças ao fingim<?nto. em 
tempo parcial ou integral. E o caso, 
por exemplo, dos atores, que fingem 
ser personagens; dos médicos, que os-
tentam nas horas mais graves uma cal-
ma fictícia; dos diplomatas, que por 
dever do oficio blefam à mesa de ne-
gociações. Os publicitários, cansados 
de levar a fama de vender mentiras 
bem embaladas, resolveram há oito 
Plnocchlo descobriu que fa l11r a 
verdecH lhe trazfe van111gens 
Mas não há literatura que não 
tenha seus campeões da mentira 
- rcàl ou imaginária. O escritpr 
francês Alphonse Daudet 
(1840- L897) celebrizou-se graças às 
aventuras mentirosas de seu persa· 
nngem Tartarin de Tarascon. um 
burguês baixinho, com certa (en-
dência à obesidade. que se irnagi-
anos criar o Conselho Nacional de 
Auto-Regulamentação .Publicitária 
(Conar), justamente para vigiar anún-
cios caldos na tentação de vender gato 
por lebre. 
Pois bem: só nos últimos CÍIJCO me-
ses do ano passado, o Conselho sus-
pendeu sete campanhas publicitárias 
por causa das chamadas mensagens 
enganosas. Isso sem contar as campa-
nhas que sofreram pequenas correções 
porque não explicavam direito o que 
estavam vendendo. " O problern!l des-
ses tempos de crise'', comenta Alvaro 
Moura. do Conar, ·'é que aumenta o 
número de produtos. como manuais 
fantásticos para ter sucesso. figas e 
nava um valente herói e saia con-
tando peripêcias nunca vividas. No 
Brasil,, o mentiroso Macunalma • 
de Mário de Andrade, nêm fez 
questão de se üngir de herói: co-
varde como só ele e sem nenhum 
caráter. Macunaíma mentía o tem-
po inteiro para Se safar de qual-
quer 'problema -dizer a verdade. 
aliás. lhe dava preguiça. 
O mentiroso mais conhecido dQ 
mundo da ficção foi sem dúvida 
Pinocchio. o boneco de mademl 
criàdo em 1878 pelo escritor italia-
no Carlo Collodi. Numa tentativa 
de educá-lo. a fada madrinha de 
Pinocchio fe.z com que cada vez 
que ele mentisse o nariz crescesse. 
Antes que virasse um Cirano, o 
boneco acabou desistindo de sua 
vida de mentJras. Foi. talvez. o 
único mentüoso da literatura a op-
tar pela verdade - pela boa e 
simples razão de que a verdade lhe 
trazia mai.s vantagens ds> que a 
mentira. 
Retrato de um mentiroso 
Enquanto a boca mente eom a 
maior desenvoltura, a mente se 
perde entre o que conhece como 
verdade e o que está sendo afll1Da-
do mentirosamentc como verdade. 
Durante esse pequeno curto-circui-
to, ocorrem mudanças fisiológicas 
comuns a todo e qualquer mentiro-
so: a respiração se interrompe por 
um segundo e depois volta num rit-
mo acelerado; o coração também 
passa a bater rápido e a transpíra-
ção aumenta. Como nada disso po-
de ser percebido diretamente, exis-
te o po!ígra[o, ou detector de men-
tira . um aparelho que em comato 
com o peito, o pescoço e as pontas 
dos dedos registra em gráficos 
aquelas manifesta9ões fisiológicas. 
Certamente. todos os sintomas 
citados aparecem no mentiroso. A 
polêmica, porém, surge ao se le-
CÉREBRO 
Por segundos. 
descontrofa·se e provoca 
uma série de reaç688 
~'/1 fisiofógloas 
NARIZ 
A mucosa nasal fica 
sensfvel e coça 
ROSTO 
O mentiroso aumenta o 
núme10 de contatos com 
o rosto e tende 
• CObrir a boca 
comamâo 
• 
&L-~ CORAÇÃO 
Ace,lera o ritmo 
vanl:ar a possibilidade de que quaJ-
quer pessoa em estado de ansieda-
de - com problemas familiares, 
por exemplo - pode apresentar as 
mesmíssimas características. No 
Brasil, apenas a polícia de São Pau-
to usa o detector de mentira. Se-
gundo o delegado Nelson Silveira 
Guimarães, "apesar da confiança 
que temos no exame. ele não é 
ronsiderado prova judicial. mas 
apenas um indicio que pode in-
fluenciar a opinião do juiz·•. O de-
tector de mentira, diz Guimarães, 
só não é ainda mais usado porque 
apenas um em cada dez suspeitos 
consente em submeter-se ao apare-
lho. Além disso. enquanto nos Es-
tados Onidos cerca de 10 mil poli-
ciais sabem manipular o detector, 
no Brasil não bá mais de uma dúzia 
de funcionários habilitados. 
PULMÃO 
A respiração fica 
levemente entrecortada 
e. depols. se acelera 
MÃOS 
Como as mftos 
costumam reforçar as 
palavras, o mentiroso 
evita movimentá· las ou 
tenta escondê·las,com 
meelo de que entreguem 
e verdade 
DEDOS 
O suor aumente no corpo 
Inteiro. mas é na ponta 
dos dedos que are é 
medido peJo pofigraiO 
PERNAS EPÉS 
Ficam agitados. não 
param de movlmentar·se 
cruzes milagrosas, receitas para ga-
nhar na loteria. Está na cara que é 
mentira. Mas, no desespero. o brasi-
leiro pode acabar acreditando." 
As pesquisas indic.am que os brasi-
leiros menos acreditados pela popula-
ção são os poHticos. É uma revelação 
inquietante, sem dúvida, mas não é 
verdade que isso acontece só no Brasil 
-e só nos dias de hoje. Afinal. qua-
tro séculos antes de Cristo, na Grécia 
Antiga, Platão ensinava que " a menti-
ra enfeia a alma, mas é perdoável 
quando atende a imeresses de Esta-
do''. Depois. no Renascimento. o ita-
liano Maquiavel escreveria que todos 
vêem o que o polltico parece, mas 
poucos sabem o que ele é realmente. 
E assim ningu~m tanto quanto o polí-
tico profissional é uma aparência -
ainda que a aparência engane. 
Versões oficiais tendem a 
mudar a verdade dos fatos 
A mentira se infi ltra na História 
que se aprende nos livros didáticos -
e cada pais há de ter sua cota de maus 
tratos à verdade dos acontecimentos 
históricos. Dom Pedro I, por exem-
plo. jamais teria br;~dado " Indepen-
dência ou morte,. às margens do Ipi-
ranga. ao receber a carta que o inti-
mava a voltar a Portugal; teria reagido 
!soltando uns sonoros palavrões. 
Guardadas as diferenças de tempo, lu-
ear e pessoa, não se tem provas de 
que Nero tenha mandado incendiar 
Roma em 64 d.C., mas não há·quem 
não tenha sido ensinado a acreditar 
em sua culpa. 
Nos Estados Unidos. quando se en-
sina às crianças as virtudes da verdade. 
é inevitável o exemplo de George Wash-
ington: ao~ 6 anos. confe.o;sou ter der-
rubado a cerejeira favorita do pai. di-
zendo ''não posso mentir". Na verda-
de. nenhuma de suas biografias confir-
ma o episódio. O nazista Joseph Goeb-
bels. famigerado ministro da Propa-
ganda de Hitler. entrou para a Histó-
ria, entre muitas outms coisas. como 
tendo dito que ·•a mentira repetida di-
versas vezes se torna uma verdade" . 
Nunca se provou que ele tivesse de fa-
to dito isso. pelo menos com essas pa-
lavras. Mas tanto já se repetiu a frase 
·que ninguém dirá ser mentira. • 
Lúcia Helena de Oliveira 
Para saber mais 
Trocando klélu. Mw ~ dtJ BniD lzzD. 
EdiferaM-tos, SioPJWio. t984 
SUPIR 29 
Finalmente, uma anã marrom 
em carne e osso 
A nãs marrons são singulares corpos celestes que nrto são planetas nem 
chegam oo srams de estrelas. Uma anã 
marrom será sempre um astro relativa-
mente frio, com temperatura superficial 
em tomo de 1 000 graus Kelvin (mais ou 
menos 700 graus centígrados). O Sol. 
uma estrela, tem temperatura de 6 000 
grnus Kelvin (cerca de 5 700C): Júpiter. 
um phmeta. o maior de todos. tem mni~ 
ou menos 96 graus Kelvin (quase 100 
centígrados negativos). 
Subeslrelas. as anãs marrons foram 
previstas teoricamente, mas jamais 
haviam sido registradas concretamen· 
te. Tendo em vista a baixa tempera-
tura e a baixa luminosidade, não é 
fácil detectar sua presença por qual· 
quer dos métodos utilizados pela As· 
tronomia para observar os corpos ce-
lestes. Na verdade. só podem ser ob-
servadas através de telescópios ou 
sondas espaciais sensíveis às ondas 
infravermelhas. 
Dois grupos principais de estrelas 
de baixa massa t~m sido relacionados 
pelos astrônomos. O primeiro com· 
preende os sistemas de duas estrelas. 
uma das quais é a companheira da es-
trela invisível. detectada apenas pela 
perturbaçAo que provoca no movi-
mento da outra. Em virtude de sua 
temperatura muito baixa. essa compa-
nheira só emue radiação no infraver-
melho, o que toma muito difícil sua 
observaçAo. O caso mais célebre é o 
da compnnheira da estrela Van Bies-
broech 8. observada com aparente su-
cesso pelos astrônomos do Obscrvató· 
rio Naval do Arizona. em 1985. 
Denominada VB8·B. teve medidas 
a temperatura. luminosidade e mas-
sa. Durante algum tempo discutiu-se 
se seria um planeta ou uma anã 
marrom. até que. em 1987. observa· 
c;óes precisas realizadas no Observa· 
tório Europeu Austral. no Chile, 
deixaram claro que essa companhci· 
ra niío existe. O outro grupo é o 
das es trelas isoladas de baixa massa 
e luminosidade. q ue tem na 
LHS-2924 um bom representante. 
E m novembro do ano passado. 110 estudarem anãs brancas (estrelas 
de baixa luminosidade. temperatura 
de superficie relativamente alta e den· 
sidade extremamente alta). os astrõ-
nomos americanos Benjamin Zucker· 
man. do Departamento de Astrono-
mia da Universidade da Califórnia. e 
Eric Becklin. do Instituto de Astrono· 
mia da Universidade do Havaf. desco· 
briram que a estrela Giclas 29-38 pa-
rece emitir um excesso de radiação em 
infravermelho. Estimaram. e ntão. sua 
temperatura superficial em 1 200 
graus Kelvín. 
Situada a 45 anos-luz da Terra 
(mais de 400 trilhões de quilômetros). 
essa estrela tem uma massa situada 
entre .v;. e ll.-é de massa solar - a 
Nem isso, nem aquilo 
~--~------------~ 
M1111 menor que 1% 
dama111aolar 
Nto há tudo de 
hldrogtnlo 
Tempera~Ur~e belll88 
Anãs marrons 
M-adelt68% 
da maasa solar 
Queima lenta de 
hidrogênio 
Tempetllutl em tomo 
de700'C 
Estrelas 
Maa11 maior que 8% 
de massa solar 
Fulllo do hldrog6nlo 
Tempetatura em tomo 
de5700'C 
lnceneza da medida provém da impre· 
c1são dos modelos teóricos aos quais 
for.1m comparados os dados de obser-
vação. Ora. um objeto celeste com 
massa superior a I t;l: de massa solar 
deixa de ser um planeta: mas abaixo 
de W< de massa solar não chega a ser 
uma estrela propriamente dita . Um 
objeto celeste nesses limites de massa 
solar pode queimar hidrogênio lenta· 
mente. durante bilhões de anos. e ja-
mais alcançar o estado estacionário no 
qual as reações termonuclcarcs che· 
garn ao estágio terminal . 
T alvez Zuckerman e Becklin te-nham deseobeno um ponto espe· 
ela I do gráfico da evolução estelar. 
Caso se confirme a impressão de que 
o objeto detectado por eles seJa uma 
anã marrom, estaremos diante da 
possibilidade de um avanço cient[fico 
compar4vel ao que seria proporciona· 
do pela identificação de um novo sis-
tema planetário - ou talvez ainda 
mais. Essa descoberta pode comple· 
tnr a teoria sobre a origem e a evolu-
ção de estrelas e planetas no Univer-
so. Vai contribuir enormemente parn 
que se compreenda como uma estrela 
em formação se condensa a partir de 
uma nuvem de gases. Por outro lado, 
ajuda r:! também a saber quando e co-
mo a matéria interestelar é capaz de 
se aglutinar para formar outra estre-
la. um planeta ou os anéis de frag-
mentos como os cinrurôes de asterói· 
des ou. ainda. os cometas. Finalmen· 
te. a descoberta e a determinação da 
freqüêncm dessas estrelas tênues e de 
massa reduzida permitirão determinar 
n massa das galáxias e resolver. en· 
fim. o grande problema da massa fal-
tante do Universo- uma quantidade 
de massa que a teoria diz que deve 
existir. mas ninguém conseguiu ainda 
dizer onde está. • 
o llstiÓIIOmO Rot.- RogeriO de HeÍII$ _., • 
dltliiOr db-ele"-e~ A!IIS db 
~- dtl ~ ... C.Wiric:o. 
T~ 
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UPER- UPER" SIGNIFICA O QUE HA DE MELHOR! 
Chegando junto 
com a tecnologia 
de ponta! 
D a mesma forma como o fiZera com o primeiro lut de televi-
são produzido no Brasil, novamen· 
te a Oceidcntal S chools se an-
tecipa no mercado, agora com o lan· 
çamemo dos· cursos na ~rca ~ 1~­
formáúca e do revolue1onáno Kn 
de Microcomputador Z-80. 
Kit digi tal - Além deste mo· 
demo equipamento, a Ocddental 
S choolst< possui t~bém .u!'" av~~­
çado Kit de Elctrõmca D1gttal, ml-
cialmcnte previsto para 50 experiên-
cias. O número de experiências po-
derá ser ampliado, de acordo com 
a capacidade de assim1laçio c cria-
ção de seu operador. 
.-1 '-·· .-· --,;.:;·...r-:;: ... •.-:.··· •. -· ..... ', .. ·, .,_.' • - •• -f • - l. ' ...... . 
·:\·- 0·\.: :~~"· ,\· ·: .. , \, ;\ ' ' , , ... . . ·_\ .· -::• l' '".:-·-.• ,· ·_, ... ' ' \ ~ ·)j. .·-.·. ;~ ·-_.:, -·, _'> \ .• 
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