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O sistema partidário brasileiro e a sua relação com o sistema eleitoral: optamos por ter partidos frágeis?

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1 
 
Departamento de Ciência Política | IFCH | UFRGS 
Instituições Políticas Brasileiras (2019/1) 
Professor: Dr. Paulo Sérgio Peres 
Aluno: Pietro Barreto Menin (00246680) 
 
O sistema partidário brasileiro e a sua relação com o sistema eleitoral: optamos por ter 
partidos frágeis? 
 
 Introdução 
A discussão sobre os partidos políticos brasileiros na Ciência Política se desenvolveu a partir 
de uma visão negativa, apontando para a volatilidade e fragilidade do sistema partidário. Esta 
interpretação afirma que o sistema partidário brasileiro é caracterizado pela alta fragmentação, 
elevada volatilidade eleitoral e fragilidade partidária (KINZO, 2004), que tornariam a consolidação 
democrática no país uma tarefa improvável. Este sistema produziria uma falta de nitidez para os 
eleitores, criando uma dificuldade para estes se identificarem com os partidos. 
Os partidos brasileiros seriam ‘débeis’ ou ‘frouxos’, pois não conseguem estruturar as 
preferências dos eleitores e agiriam de forma indisciplinada no Parlamento (MAINWARING, 1993; 
1996). Para esta perspectiva pessimista, a origem do problema estaria no desenho constitucional 
adotado, mais especificamente na adoção do sistema eleitoral proporcional com o voto em lista aberta. 
Neste texto, a proposta será discutir o sistema eleitoral brasileiro e a sua relação com o sistema 
partidário, com uma breve exposição do percurso histórico do sistema partidário brasileiro, tendo 
como objetivo principal a análise dos fenômenos da volatilidade eleitoral e da indisciplina partidária. 
Volatilidade eleitoral 
Como demonstra Kinzo (2004), quanto maior a inconstância dos partidos, maior a chance de 
estes não conseguirem exercer sua função de estruturar e representar os interesses dos eleitores sem 
a dependência de um candidato específico, de posições políticas pontuais ou de acontecimentos 
inesperados (KINZO, 2004, p. 33). A grande proliferação de partidos no Brasil produziria este 
fenômeno chamado volatilidade eleitoral (KINZO apud PEDERSEN, 1990; BARTOLINI & MAIR, 
1990). Nas democracias consolidadas, os níveis de volatilidade variam, porém, não alcançam o alto 
índice brasileiro: é observado que 30% do eleitorado mudou o seu voto de um partido para outro no 
período 1982-1998 (KINZO apud NICOLAU, 1998). 
2 
 
Críticos da adoção do voto em lista aberta para o Parlamento defendem que esta escolhe 
enfraquece o sistema partidário na relação com o eleitorado, pois com a possibilidade de votar 
diretamente em um candidato, quando este migra de partido, o eleitor poderia acompanha-lo 
migrando seu voto, votando em um partido diferente em cada eleição. A proposta da ‘lista fechada’ 
surge como uma “saída”: forçar os eleitores a votar diretamente nos partidos. 
As características encontradas por críticos do desenho constitucional brasileiro demonstrariam 
um baixo nível de institucionalização do sistema partidário, que produziria constantes incertezas 
sobre os resultados eleitorais. Esta fraqueza do sistema partidário daria maior probabilidade à chegada 
ao governo de políticos personalistas antissistema (MAINWARING & TORCAL, 2005). Cabe 
verificarmos na literatura se esta hipótese é validada empiricamente. 
De acordo com Peres (2002), o fenômeno da instabilidade eleitoral é analisado considerando 
duas dimensões: a volatilidade partidária e a volatilidade ideológica (PERES apud PEDERSEN 1980; 
1990; BARTOLINI & MAIR, 1990). Com a análise de dados referente as eleições para a Câmara dos 
Deputados no período 1982-1998, foi verificado que a instabilidade eleitoral brasileira é elevada em 
comparação a países europeus e alguns latino-americanos, mas não chega a produzir um sistema que 
não consegue estruturar as preferências políticas dos eleitores. 
Os dados demonstram que a volatilidade ideológica é reduzida em relação a volatilidade 
partidária: a competição interpartidária é estruturada e delimitada a partir da clivagem ideológica 
(2002, p.2). Podemos afirmar que os eleitores migram o voto, mas a maioria das vezes migram para 
partidos próximos no espectro ideológico. 
Esta análise não possibilita a afirmação de que o sistema partidário brasileiro está totalmente 
consolidado, entretanto, enfraquece a tese de que a volatilidade do sistema partidário produziria uma 
situação caótica de instabilidade. O grau de instabilidade eleitoral tem uma queda geral, com 
diferenças de padrão quando são comparados estados e regiões entre si (2002, p. 23). Apesar destas 
diferenças regionais, o sistema partidário brasileiro apresenta uma estabilidade média que é suficiente 
para estruturar a competição em termos partidários e ideológicos. 
Indisciplina partidária 
O sistema partidário também seria caracterizado pela grande fragmentação e pela indisciplina 
dos partidos, que não fornecem uma base de sustentação estável para os presidentes 
(MAINWARING, 1993). A autonomia dos políticos individuais de votarem da forma como bem 
entendem, as constantes de mudanças de partidos, o anseio por agirem de forma personalista e 
clientelista tornariam os partidos brasileiros apenas “peças de ficção”. 
3 
 
Para os críticos da adoção do voto em lista aberta, esta escolha é vista como um estímulo ao 
comportamento autônomo dos parlamentares (MAINWARING, 1996), tornando os partidos frágeis 
e imprevisíveis a cada votação na Câmara dos Deputados. Questiona-se aqui se este fenômeno de fato 
ocorre e se há uma relação de causalidade entre a adoção do sistema eleitoral e o suposto 
comportamento indisciplinado. Antes disso, é importante verificar qual a relação entre sistema 
eleitoral e sistema partidário. 
Duverger (1970) nos indica que o grau de fragmentação de um sistema partidário está 
relacionado com a adoção de um determinado sistema eleitoral: os sistemas podem ser de 
representação proporcional ou majoritária de dois turnos, possibilitando a um maior número de 
partidos a obtenção de cadeiras no Parlamento, aumentando a competição e a fragmentação partidária. 
Já o sistema eleitoral majoritário de turno único possibilitaria uma redução do sistema partidário a 
dois partidos, reduzindo a fragmentação e a competição. 
Com a Constituição de 1988, o Brasil adotou o sistema eleitoral proporcional com voto em 
lista aberta. Com esta escolha, na eleição para o Parlamento o eleitor pode votar diretamente no 
candidato de sua preferência, deste modo, os mais votados de cada lista partidária ocupam as cadeiras 
conquistadas pelo partido de acordo com o quociente eleitoral (NICOLAU, 2000a). O que difere do 
voto com lista fechada, quando o eleitor pode votar apenas na legenda de um dos partidos, e os 
parlamentares eleitos são definidos pela lista ordenada internamente pelos partidos. 
Como vimos, críticos do desenho constitucional brasileiro como Mainwaring (1996), acusam 
a representação proporcional de estimular uma fragmentação excessiva do sistema partidário e a 
consequente debilidade dos partidos. A crítica a lista aberta se baseia no argumento de que esta 
provocaria um comportamento indisciplinado do parlamentar com seu partido, pelo fato do voto ser 
dado diretamente ao parlamentar, estimulando o seu comportamento clientelista e individualista. 
Como saída para este suposto conjunto de problemas, a adoção da lista fechada poderia 
produzir uma maior disciplina partidária e diminuir a competição interna nos partidos, concentrando 
a escolha de quais serão os parlamentares eleitos dentro da estrutura decisória dos partidos 
(NICOLAU, 2000a). De todo modo, me parece que esta mudança passaria por tentar “forçar” uma 
maior identificação partidária do eleitorado, impossibilitando votar diretamente nos candidatos. 
Todavia, a respeito do comportamento dos parlamentares brasileiros, uma análise empírica 
demonstra o alto nível de disciplina partidária destes (NICOLAU, 2000b). Limongi e Figueiredo 
(1998) apresentam dados sobre as votações nominais na Câmara dos Deputadosno período 1989-
1994, demonstrando a alta disciplina dos deputados com seus partidos. Em média, 89,4% do plenário 
4 
 
vota de acordo com a orientação do líder partidário. Portanto, a hipótese da indisciplina partidária 
também não encontra fundamento na realidade brasileira. 
Considerações finais sobre o sistema partidário brasileiro 
O sistema partidário brasileiro transformou-se de um multipartidarismo estadualista, na 1ª 
República; para um multipartidarismo moderado com partidos nacionais, no período 1946-1964; 
passando por um bipartidarismo compulsório do regime militar e finalmente chegando a um 
multipartidarismo elevado, na República pós-1985. A tradição multipartidária prevaleceu, com 
exceção dos períodos de regime autoritário. 
Como demonstra Campelo de Souza (1985), o período varguista, iniciado com o Golpe de 
1930 e a posterior instauração da ditadura do Estado Novo em 1937, deixou heranças para o sistema 
partidário que se desenvolvera a partir da redemocratização do país em 1946. A democracia é 
superposta ao Estado Novo, portanto, diversas características permaneceram, entre estas, a força do 
Executivo frente ao Legislativo, a força da burocracia, o corporativismo sindical e sobretudo, os 
mesmos atores políticos do período anterior (CAMPELO DE SOUZA, 1985). 
Como resultado, no período 1946-1964, a disputa política acabou se configurando entre o 
grupo varguista, liderado por PTB e PSD, com uma plataforma trabalhista/social-democrata e a 
oposição de direita liderada pela UDN. Com o Golpe de 1964 e a posterior reforma partidária feita 
pelo regime militar, foram permitidos apenas dois partidos no país, a ARENA, o partido do governo 
e o MDB, o partido de oposição. Com o processo de abertura democrática nos anos 1980, o 
multipartidarismo é restaurado, adaptando MDB e ARENA ao novo regime, com cisões dando origem 
a outros partidos, e outros partidos sendo criados, com destaque maior para PT, PSDB, PMDB, PFL, 
PTB, PDT e PP. 
Deste modo, o mais importante de observarmos aqui é como a transição entre diferentes 
regimes sempre trouxe algum impacto para a constituição do sistema partidário que se erguia. Como 
o período varguista 1930-1945 trouxe elementos que influenciaram o sistema partidário do período 
1946-1964, o regime militar acabou influenciando a formação do multipartidarismo que se desenhou 
a partir do processo de redemocratização do país. 
Contrariando os críticos do desenho constitucional brasileiro, que alertavam os possíveis 
efeitos negativos do sistema eleitoral sobre o sistema partidário, este se demonstrou um sistema 
multipartidário com partidos altamente disciplinados (LIMONGI, FIGUEIREDO, 1998; NICOLAU, 
2000b), que possibilita a formação de coalizões (ABRANCHES, 1988). A fragmentação partidária 
acontece, no geral, com vários partidos disputando o eleitorado dentro de uma mesma clivagem 
5 
 
ideológica. O eleitorado é volátil, mas geralmente migra seu voto para um partido próximo 
ideologicamente. O sistema partidário demonstra que possui condições de institucionalizar os 
conflitos dos diferentes interesses sociais. A partir dos anos 1990 até os dias atuais, a clivagem política 
da disputa eleitoral nacional acaba, como no período 1946-1964, se configurando em torno de dois 
grupos políticos mais proeminentes: o PT e a centro-esquerda que o orbita, e à direita partidos que 
disputam a hegemonia interna do seu campo, como DEM, PSDB e PSL. 
Referências bibliográficas 
ABRANCHES, S. (1988). “Presidencialismo de Coalizão: O Dilema Institucional Brasileiro”, 
Dados, Vol. 31, N. 01, pp. 05-34. 
CAMPELO DE SOUZA, M. C. (1985). “A Democracia Populista de 1945-1964: Bases e 
Limites”; In: ROUQUIÉ, A.; LAMOUNIER, B. e SCHVARZER, J. (Orgs.), Como Renascem as 
Democracias. São Paulo: Brasiliense. 
KINZO, M. D. (2004). “Partidos, Eleições e Democracia no Brasil”, Revista Brasileira de 
Ciências Sociais. São Paulo, Vol. 19, N. 54. 
LIMONGI, F.; FIGUEIREDO, A. (1998) Bases institucionais do presidencialismo de 
coalizão. Lua Nova, São Paulo, n. 44, p. 81-106. 
MAINWARING, S. (1993). Democracia Presidencialista multipartidária: o caso do 
Brasil. Lua Nova, São Paulo, n. 28-29, p. 21-74. 
______________ (1996). “Brasil: Partidos Débiles, Democracia Indolente”, In: 
MAINWARING, S. and SCULLY, T. (Eds.), La Construcción de Instituciones Democráticas: 
Sistemas de Partidos en América Latina. Santiago: Cieplan. 
MAINWARING, S.; TORCAL, M. (2005) Teoria e institucionalização dos sistemas 
partidários após a terceira onda de democratização. Opin. Publica, Campinas, v. 11, n. 2. 
NICOLAU, J. (2000a). Sistemas Eleitorais. Rio de Janeiro: FGV. 
___________ (2000b). “Disciplina partidária e base parlamentar na Câmara dos Deputados 
no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso (1995-1998)”. Dados [online]. vol.43, n.4 
PERES, P. (2002). “Sistema Partidário e Instabilidade Eleitoral no Brasil”, In: MARENCO, 
André e PINTO, Céli (Orgs.). Partidos no Cone-Sul: Novos Ângulos de Pesquisa. Rio de Janeiro: 
Konrad-Adenauer- Stiftung.

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