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Yslane Costa - Medicina Anticorpos ou imunoglobulina - são proteínas circulantes produzidas em resposta à exposição a estruturas estranhas ( antígenos). São diversos e específicos em suas habilidades de reconhecer estruturas moleculares estranhas e constituem os mediadores da imunidade humoral contra todas as classes de microrganismos. Se ligam a antígenos, atuam pelo sistema imune adaptativo. - são sintetizados somente pelas células da linhagem de linfócitos B e existem em duas formas: anticorpos ligados à membrana na superfície dos linfócitos B funcionam como receptores de antígenos e anticorpos secretados neutralizam as toxinas, previnem a entrada e espalhamento dos patógenos e eliminam os microrganismos. -O reconhecimento do antígeno pelos anticorpos ligados à membrana nas células B imaturas, ativa esses linfócitos a iniciarem uma resposta imune humoral. As células B ativadas se diferenciam em plasmócitos que secretam anticorpos de mesma especificidade do receptor do antígeno. As formas secretadas dos anticorpos estão presentes no plasma (a porção fluida do sangue), nas secreções mucosas e no fluido intersticial dos tecidos. Na fase efetora da imunidade humoral, esses anticorpos secretados se ligam aos antígenos e disparam vários mecanismos efetores que eliminam os antígenos. - A eliminação do antígeno necessita da interação do anticorpo com outros componentes do sistema imune, incluindo moléculas tais como proteínas do complemento e células, como fagócitos e eosinófilos. -As funções efetoras mediadas por anticorpo incluem: neutralização dos microrganismos ou produtos microbianos tóxicos; ativação do sistema complemento; opsonização dos patógenos para fagocitose aumentada; citotoxicidade mediada por célula e dependente de anticorpo, pela qual os anticorpos têm como alvo células infectadas para a lise pelas células do sistema imune inato; e ativação de mastócito mediada por anticorpo para expelir vermes parasitas Anticorpos são produzidos por plasmócitos nos órgãos linfoides secundários e na medula óssea e realizam suas funções efetoras em locais bdistantes de onde são produzidos. Os anticorpos produzidos nos linfonodos, no baço e na medula óssea podem entrar na circulação sanguínea e, então, circular por todo o corpo. Os anticorpos produzidos nos tecidos linfoidesassociados às mucosas são transportados através das barreiras epiteliais para o lúmen de órgãos mucosos, como o intestino e as vias respiratórias, onde esses anticorpos secretados bloqueiam a entrada de microrganismos ingeridos ou inalados. Os anticorpos também são ativamente transportados através da placenta para a circulação do feto em desenvolvimento. Anticorpos que medeiam a imunidade protetora podem ser derivados de plasmócitos produtores de anticorpos de vida longa ou curta. A primeira exposição ao antígeno, seja por infecção ou vacinação, leva à ativação de linfócitos B virgens e sua diferenciação em plasmócitos secretores de anticorpos e células de memória. A exposição subsequente ao mesmo antígeno leva à Yslane Costa - Medicina ativação de células B de memória e a uma resposta de anticorpos mais intensa e rápida Funções efetoras dos anticorpos são mediadas pelas regiões constantes da cadeia pesada das moléculas de Ig, e os diferentes isotipos de cadeia pesada possuem distintas funções efetoras. Por exemplo, algumas subclasses de IgG (IgG1 e IgG3) ligam-se aos receptores Fc de fagócitos e promovem a fagocitose de partículas recobertas por anticorpo; IgM e algumas subclasses de IgG (IgG1, IgG2 e IgG3, mas não IgG4) ativam o sistema complemento; e IgE liga-se aos receptores Fc de mastócitos e desencadeia sua ativação Apesar de muitas das funções efetoras dos anticorpos serem mediadas pelas regiões constantes da cadeia pesada da Ig, todas elas são desencadeadas pela ligação do antígeno às regiões variáveis. Os anticorpos contra microrganismos e toxinas microbianas bloqueiam a ligação desses agentes e suas toxinas aos receptores celulares. Oos anticorpos inibem, ou neutralizam, a infectividade de microrganismos, e os potenciais efeitos lesivos das toxinas microbianas. Muitos microrganismos penetram nas células hospedeiras por meio da ligação de determinadas moléculas da superfície presentes na superfície das células hospedeiras. Os anticorpos que se ligam a essas estruturas microbianas interferem na capacidade desses agentes de interagir com os receptores celulares por meio do bloqueio e podem, assim, evitar a infecção. Em alguns casos, os anticorpos podem se ligar ao microrganismo e induzir alterações conformacionais em moléculas de superfície que impedem a interação do agente com receptores celulares. Muitas toxinas microbianas também medeiam seus efeitos patológicos pela ligação a receptores celulares específicos. Por exemplo, a toxina tetânica liga-se a receptores na placa terminal motora das junções neuromusculares e inibe a transmissão neuromuscular, levando à paralisia, e a toxina diftérica liga-se aos receptores celulares e entra em várias células, onde inibe a síntese proteica. Anticorpos contra tais toxinas dificultam estereoquimicamente as interações de toxinas com as células hospedeiras e, então, impedem que as toxinas produzam lesão e doença Parasitas helmínticos são eliminados pela ação conjunta de anticorpos, eosinófilos e mastócitos, que medeiam a morte e a expulsão desses parasitas. Os helmintos (vermes) são muito grandes para serem internalizados por fagócitos, e seus tegumentos são relativamente resistentes aos produtos microbicidas dos neutrófilos e dos macrófagos. Eles podem, no entanto, ser mortos por uma proteína catiônica tóxica, conhecida como a proteína básica principal, presente nos grânulos de eosinófilos. Anticorpos IgE e, em menor extensão, anticorpos IgG e IgA que revestem os helmintos podem se ligar a receptores de Fc em eosinófilos e provocar a desgranulação destas células, liberando a proteína básica e outros conteúdos dos grânulos de eosinófilos e, assim, matar os parasitas. Estrutura do anticorpo diferentes anticorpos produzidos por muitos clones de linfócitos B que podem, cada um, se ligar a diferentes porções (epítopos) de um antígeno (os chamados anticorpos policlonais). Yslane Costa - Medicina Características Gerais da Estrutura do Anticorpo Todas as moléculas de anticorpo compartilham as mesmas características estruturais básicas, mas apresentam variabilidade nas regiões onde os antígenos se ligam. (variabilidade das regiões de ligação do antígeno é responsável pelos diferentes anticorpos se ligarem a um grande número de antígenos estruturalmente diversos Uma molécula de anticorpo tem a estrutura simétrica do núcleo composta de duas cadeias leves idênticas e duas cadeias pesadas idênticas (Fig. 5-1). Ambas as cadeias leve e pesada contêm uma série de unidades homólogas repetidas, cada uma com cerca de 110 resíduos de aminoácidos de comprimento, que se dobram independentemente em um motivo globular que é chamado de domínio Ig. Um domínio Ig contém duas camadas de folhas β-pregueadas, cada camada composta de três a cinco fitas de cadeia polipeptídica antiparalela (Fig. 5- 2). As duas camadas são mantidas unidas pela ponte dissulfeto, e faixas adjacentes de cada folha β são conectadas por pequenas alças. Os aminoácidos localizados em algumas destas alças são os mais variáveis e críticos para o reconhecimento do antígeno. Ambas as cadeias leve e pesada consistem em regiões variáveis de aminoterminal (V) que participam no reconhecimento do antígeno e regiões carboxiterminais constantes (C); as regiões C das cadeias pesadas medeiam as funções efetoras. Nas cadeias pesadas, a região V é composta de um domínio Ig e a região C é composta de três ou quatro domínios Ig. Cada cadeia leve é composta de uma região V no domínio Ig e uma região C no domínio Ig.As regiões variáveis são assim chamadas por causa das suas sequências de aminoácidos variando entre os anticorpos produzidos pelos diferentes clones B. A região V de uma cadeia pesada (VH) e a região V contígua de uma cadeia leve (VL) formam um local de ligação do antígeno - Pelo fato de a unidade estrutural do núcleo de cada molécula de anticorpo ter duas cadeias pesadas e duas cadeias leves, cada molécula de anticorpo tem pelo menos dois locais de ligação do antígeno. Os domínios Ig da região C são distantes do local de ligação do antígeno e não participam no reconhecimento do antígeno. As regiões C da cadeia pesada interagem com outras moléculas efetoras e células do sistema imune e medeiam a maioria das funções biológicas dos anticorpos. Além disso, as cadeias pesadas existem em duas formas que diferem nas terminações carboxiterminais: uma forma das cadeias pesadas ancora os anticorpos ligados à membrana nas membranas plasmáticas dos linfócitos B, e a outra é encontrada somente nos anticorpos secretados. As regiões C das cadeias leves não participam nas funções efetoras e não estão diretamente ligadas às membranas das células. As cadeias pesadas e leves e as duas cadeias pesadas de cada molécula de anticorpo estão covalentemente ligadas por pontes dissulfeto Nos anticorpos IgG, essas ligações são formadas entre resíduos de cisteína nos domínios CH2, próximas à região conhecida como dobradiça, descrita mais adiante neste capítulo. Em outros isotipos, as ligações dissulfeto podem ocorrer em diferentes localizações. Interações não covalentes Nas moléculas de IgG, a região não pregueada da dobradiça entre os domínios CH1 e CH2 das cadeias pesadas é o segmento mais suscetível à clivagem proteolítica. Se a IgG Yslane Costa - Medicina for tratada com a enzima papaína sob condições de proteólise limitada, a enzima age na região de dobradiça e cliva a IgG em três pedaços separados. Dois dos pedaços são idênticos um ao outro e consistem em cadeia leve completa (VL e CL) associada a um fragmento VH-CH1 da cadeia pesada. Esses fragmentos retêm a habilidade de se ligar ao antígeno, porque cada um possui domínios VL e CL pareados e são chamados de Fab (fragmento, ligação do antígeno). A terceira peça é composta de dois peptídios idênticos ligados por dissulfeto, cada um contendo os domínios CH2 e CH3 da cadeia pesada. Este pedaço da IgG tem a propensão de se autoassociar e de cristalizar em forma de treliça, sendo, assim, chamado de Fc (fragmento, cristalizável). Muitas outras proteínas no sistema imune, assim como numerosas proteínas sem nenhum conhecimento da função imunológica, contêm domínios com uma estrutura de dobra da Ig – duas folhas β-pregueadas adjacentes mantidas juntas por uma ponte dissulfeto. Todas as moléculas que possuem este tipo de domínio são ditas pertencerem à superfamília Ig, e todos os segmentos de genes que codificam os domínios Ig destas moléculas parecem ter evoluído de um gene ancestral. Os domínios Ig são classificados como do tipo V e do tipo C com base na homologia próxima aos seus domínios V da Ig ou C da Ig. Os domínios V são formados a partir de um polipeptídio mais longo do que os domínios C e contêm duas fitas β extras dentro do sanduíche da folha β. Características Estruturais das Regiões Variáveis do Anticorpo A maioria das diferenças de sequência e variabilidade entre os diferentes anticorpos está confinada a três pequenos trechos na região V da cadeia pesada e a três trechos na região V da cadeia leve. Segmentos da maior diversidade são conhecidos como regiões hipervariáveis. Correspondem a três alças protuberantes conectando fitas adjacentes das cadeias β que compõem os domínios V da cadeia pesada da Ig e as proteínas da cadeia leve (Fig. 5-5). As regiões hipervariáveis são compostas, cada uma, de 10 resíduos de aminoácidos de comprimento. No anticorpo, as três regiões hipervariáveis do domínio VL e as três regiões hipervariáveis do domínio VHsão mantidas juntas para criar uma superfície de ligação ao antígeno. As alças hipervariáveis podem se assemelhar a dedos protuberantes de cada domínio varável, com três dedos de cada cadeia pesada e três dedos de cada cadeia leve permanecendo juntos para formar o local de ligação do antígeno (Fig. 5-6). Pelo fato de essas sequências formarem uma superfície que é complementar à forma tridimensional do antígeno ligado, as regiões hipervariáveis também são chamadas de regiões de determinação de complementariedade (CDRs). Procedentes de cada região aminoterminal VL ou VH, essas regiões são chamadas de CDR1, CDR2 e CDR3. As CDR3s de ambos os segmentos VH e VL são as mais variáveis das CDRs.. As diferenças na sequência entre as CDRs de diferentes moléculas de anticorpo contribuem para superfícies distintas de interação e, dessa maneira, para as especificidades dos anticorpos individuais. A habilidade de uma região V em se dobrar em um domínio Ig é primordialmente determinada pelas sequências conservadas de regiões adjacentes aos CDRs. O confinamento da sequência de variabilidade para três trechos curtos permite que a estrutura básica de todos os anticorpos seja mantida, a despeito da variabilidade das especificidades entre os diferentes anticorpos. Yslane Costa - Medicina A ligação do antígeno pelas moléculas de anticorpo é primariamente uma função das regiões hipervariáveis de VH e VL. Análises cristalográficas dos complexos antígeno-anticorpo mostram que os resíduos de aminoácidos das regiões hipervariáveis formam múltiplos contatos com os antígenos ligados. O contato mais extenso é com a terceira região hipervariável (CDR3), que também é a mais variável das três CDRs. Entretanto, a ligação do antígeno não é primariamente uma função dos CDRs e os resíduos do arcabouço também podem fazer contato com o antígeno. Além disso, na ligação de alguns antígenos, um ou mais CDRs podem estar do lado de fora da região de contato com o antígeno, não participando, assim, na ligação com ele. Características Estruturais das Regiões Constantes do Anticorpo As moléculas de anticorpo podem ser divididas em classes e subclasses distintas com base nas diferenças na estrutura das regiões C da cadeia pesada. As classes de moléculas de anticorpo também são chamadas de isotipos e são nomeadas como IgA, IgD, IgE, IgG e IgM. Em humanos, os isotipos IgA e IgG podem ainda ser divididos em subclasses, ou subtipos, intimamente relacionadas, chamadas de IgA1 e IgA2 e IgG1, IgG2, IgG3 e IgG4. As regiões C da cadeia pesada de todas as moléculas de anticorpo de um isotipo têm a mesma sequência de aminoácidos. Esta sequência é diferente nos anticorpos de outros isotipos ou subtipos. As cadeias pesadas são designadas pela letra do alfabeto grego correspondente ao isotipo do anticorpo: IgA1 contém cadeias pesadas α1; IgA2, α2; IgD, δ; IgE E ; IgG1, γ1; IgG2, γ2; IgG3, γ3; IgG4, γ4; e IgM, μ. Diferentes isotipos e subtipos de anticorpos realizam distintas funções efetoras. Anticorpos secretados e associados à membrana diferem na sequência de aminoácidos da porção carboxiterminal da região da cadeia pesada. Na forma secretada, encontrada no sangue e em outros fluidos extracelulares, a porção carboxiterminal é hidrofílica. As moléculas de IgG e IgE secretadas e Ig de membrana, a despeito do isotipo, são monoméricas no que diz respeito à unidade estrutural básica do anticorpo (i.e., elas contêm duas cadeias pesadas e duas cadeias leves). As formas secretadas de IgM e IgA compõem complexos multiméricos nos quais dois ou mais dos núcleos de quatro cadeias das unidades estruturais do anticorpo são ligados covalentemente. A IgM pode ser secretada como pentâmeros e hexâmetros Yslane Costa - Medicina do núcleo da estrutura de quatro cadeias, ao passo que a IgA frequentemente é secretada como um dímero. Como veremos mais adiante,as formas multiméricas dos anticorpos se ligam aos antígenos mais avidamente do que as formas monoméricas o fazem, mesmo se ambos os tipos de anticorpo contiverem regiões Fab que se ligam individual e igualmente bem ao antígeno. Os anticorpos de distintas espécies diferem uns dos outros nas regiões C e em partes da malha das regiões V. Dessa maneira, quando moléculas de Ig de uma espécie são introduzidas em outra (p. ex., anticorpos de soro de cavalo ou anticorpos monoclonais de camundongo injetados em humanos), o recebedor as enxerga como estranhas, monta uma resposta imune e produz os anticorpos contra as regiões C da Ig introduzida. A resposta frequentemente cria um distúrbio denominado doença do soro e, então, limita grandemente a habilidade em tratar indivíduos com anticorpos produzidos em outras espécies. Pequenas diferenças nas sequências estão presentes em anticorpos de indivíduos da mesma espécie, refletindo polimorfismos herdados nos genes que codificam as regiões C das cadeias pesadas e leves da Ig. Quando um variante polimórfico encontrado em alguns indivíduos de uma espécie pode ser reconhecido por um anticorpo, as variantes são referidas como alótipos e o anticorpo que reconhece um determinante alotípico é chamado de anticorpo antialotípico. As diferenças entre as regiões V do anticorpo estão concentradas nos CDRs e constituem os idiótipos dos anticorpos. Um anticorpo que reconhece algum aspecto dos CDRs de outro anticorpo é assim chamado de anticorpo anti-idiotípico. Existem teorias interessantes de que indivíduos produzem anticorpos anti-idiotípicos contra seus próprios anticorpos que controlam as respostas imunes, mas existem poucas evidências para suportar a importância deste mecanismo potencial da regulação imune. Anticorpos Monoclonais Um tumor de plasmócitos (mieloma ou plasmacitoma), assim como a maioria dos tumores de qualquer origem celular, é monoclonal, produz anticorpos de uma única especificidade. A especificidade do anticorpo derivado do tumor não é conhecida; assim, o anticorpo do mieloma não pode ser usado para detectar ou se ligar a moléculas de interesse. A descoberta de anticorpos monoclonais produzidos por esses tumores leva à ideia de que pode ser possível produzir anticorpos monoclonais similares de qualquer especificidade desejada com a imortalização de células secretoras de anticorpo individuais de um animal imunizado com um antígeno conhecido. O método se baseia na fusão das células B de um animal imunizado (tipicamente um camundongo) com uma linhagem celular imortalizada de mieloma e o crescimento dessas células sob condições nas quais as células não normais e tumorais que não se fundiram não sobrevivem. As células fundidas resultantes que cresceram são chamadas de hibridomas; cada hibridoma produz somente uma Ig, derivada de uma célula B do animal imunizado. Os anticorpos secretados por muitos clones de hibridomas são pesquisados para ligação do anticorpo de interesse, e este único clone com a especificidade desejada é selecionado e expandido. Os produtos destes clones individuais são anticorpos monoclonais, cada qual específico para um único epítopo no antígeno usado para imunizar o animal e para identificar os clonessecretores de anticorpo imortalizados. Yslane Costa - Medicina Os anticorpos monoclonais têm inúmeras aplicações práticas na pesquisa e diagnóstico médicos e na terapia. Algumas das suas aplicações comuns incluem as seguintes: • Imunodiagnóstico. O diagnóstico de muitas doenças infecciosas e sistêmicas se baseia na detecção de antígenos ou anticorpos particulares no sangue, urina ou tecidos pelo uso de anticorpos monoclonais em imunoensaios. • Identificação tumoral. Anticorpos monoclonais marcados e específicos para várias proteínas celulares são usados para determinar a fonte tecidual de tumores por meio da coloração de seções tumorais histológicas. • Terapia. Avanços na pesquisa médica levaram à identificação de células e moléculas que estão envolvidas na patogênese de muitas doenças. Anticorpos monoclonais, em razão da sua estranha especificidade, fornecem os meios para que essas células e moléculas sejam alvo. Um número de anticorpos monoclonais atualmente é usado terapeuticamente. Alguns exemplos incluem anticorpos contra a citocina fator de necrose tumoral (TNF) usada para tratamento da artrite reumatoide e outras doenças inflamatórias, anticorpos contra CD20 para o tratamento de leucemias de célula B e para a depleção das células B em certos distúrbios autoimunes, anticorpos contra receptores do fator de crescimento epidermal para serem alvos em células de câncer, anticorpos contra fator de crescimento endotelial vascular (uma citocina que promove angiogênese) em pacientes com câncer de cólon, e assim por diante. Sistema complemento O sistema complemento é um dos principais mecanismos efetores da imunidade humoral (quando precisa do antígeno-anticorpo) e é um importante mecanismo efetor da imunidade inata. Possui 3 vias: clássica, alternativa e via das lectinas O sistema complemento é composto de proteínas séricas e de superfície celular que interagem umas com as outras e com outras moléculas do sistema imune de maneira altamente regulada para gerar produtos que funcionam para eliminar os microrganismos. As proteínas do complemento são proteínas plasmáticas normalmente inativas; elas são ativadas apenas em determinadas condições para gerar produtos que medeiam várias funções efetoras do complemento. Diversas características de ativação do complemento são essenciais para sua função normal. • O sistema complemento é ativado por microrganismos e por anticorpos que estão ligados aos microrganismos e outros antígenos. • A ativação do complemento envolve a proteólise sequencial de proteínas para gerar complexos de enzimas com atividade proteolítica. Ocorre uma cascata de reações que leva ao complexo de ataque a membrana (MAC) – furo na mebrana levando a lise osmótica • Os produtos de ativação do complemento tornam-se ligados covalentemente a superfícies de células microbianas, anticorpos ligados aos microrganismos e outros antígenos, e também aos corpos apoptóticos. Na fase fluida, as proteínas do complemento são inativas, ou apenas transitoriamente (por segundos) ativas, e tornam-se estavelmente ativadas após sua ligação a microrganismos, anticorpos ou células mortas. • A ativação do complemento é inibida por proteínas reguladoras que estão presentes em células normais do hospedeiro e ausentes nos microrganismos. As Yslane Costa - Medicina proteínas reguladoras são uma adaptação de células normais que minimizam os danos mediados pelo complemento às células hospedeiras. Os microrganismos não possuem essas proteínas reguladoras, o que permite que a ativação do complemento ocorra nas superfícies microbianas. Receptores para Proteínas do Complemento Receptor de complemento do tipo 1 (CR1 ou CD35) funciona principalmente para promover fagocitose de partículas recobertas por C3b e C4b e remoção dos imunocomplexos da circulação. élulas derivadas da medula óssea, incluindo eritrócitos, neutrófilos, monócitos, macrófagos, eosinófilos e linfócitos T e B receptor do complemento do tipo 2 (CR2 ou CD21) tem como função estimular as respostas imunes humorais, aumentando a ativação de células B por antígenos e promovendo a retenção de complexos antígenoanticorpo nos centros germinativos. resente em linfócitos B, células dendríticas foliculares e em algumas células epiteliais receptor do complemento do tipo 3, também chamado Mac-1 (CR3, CD11bCD18), é uma integrina que funciona como um receptor para o fragmento iC3b gerado por proteólise de C3b receptor de complemento do tipo 4 (CR4, p150,95, CD11c/CD18) é uma outra integrina com uma cadeia α diferente (CD11c) e a mesma cadeia β do Mac-1. Também se liga a iC3b etem provavelmente uma função semelhante à do Mac-1. CD11c é abundantemente expresso em células dendríticas, sendo utilizado como um marcador para este tipo de células. O receptor do complemento da família das imunoglobulinas (CRIg) é expresso na superfície de macrófagos no fígado e é conhecido como célula de Kupffer. CRIg é uma proteína integral de membrana com uma região extracelular constituída por domínios de Ig. Liga-se aos fragmentos C3b e iC3b do complemento e está envolvido na eliminação de bactérias opsonizadas e de outros patógenos transmitidos por via sanguínea Regulação da Ativação do Complemento A ativação da cascata do complemento e a estabilidade de proteínas ativas do complemento são finamente reguladas para evitar a ativação do complemento em células normais do hospedeiro e para limitar a duração da ativação do complemento, mesmo em células microbianas e complexos antígeno-anticorpo. A regulação do complemento é mediada por diversas proteínas circulantes e de membrana celular. Muitas dessas proteínas, bem como as várias proteínas das vias clássica e alternativa, pertencem a uma família denominada reguladores da atividade do complemento (RCA, do inglês regulators of complement activity) e são codificadas por genes homólogos que estão localizados de forma adjacente um ao outro no genoma. Vias de Ativação do Complemento Existem três vias principais de ativação do complemento: Via clássica, que é ativada por determinados isotipos de anticorpos ligados a antígenos; Via alternativa, que é ativada na superfície das células microbianas na ausência de anticorpo; Yslane Costa - Medicina Via das lectinas, que é ativada por uma lectina plasmática que se liga a resíduos de manose em microrganismos Funções do Complemento Promover a fagocitose de microrganismos sobre os quais o complemento é ativado, estimular a inflamação e induzir a lise desses microrganismos Opsonização e Fagocitose - Os microrganismos sobre os quais o complemento é ativado pela via clássica ou pela via alternativa tornam-se revestidos com C3b, iC3b ou C4b e são fagocitados pela ligação dessas proteínas aos receptores específicos em macrófagos e neutrófilos. Defesa do hospedeiro contra bactérias com cápsulas ricas em polissacarídios, tais como pneumococos e meningococos, que é mediada primariamente pela imunidade humoral. Os anticorpos IgM contra polissacarídios capsulares ligam-se às bactérias, ativam a via clássica do complemento e estimulam a eliminação das bactérias por fagocitose no baço. É por isso que indivíduos sem obaço (p. ex., como resultado da remoção cirúrgica após ruptura traumática ou em pacientes com anemia hemolítica autoimune ou trombocitopenia) são suscetíveis a septicemia pneumocócica e meningocócica disseminada Estimulação das Respostas Inflamatórias Os fragmentos proteolíticos dos complementos C5a, C4a e C3a induzem inflamação aguda, ativando mastócitos, neutrófilos e células endoteliais (Fig. 13-17, B). Todos os três peptídios ligam-se a mastócitos e induzem a desgranulação, com a liberação de mediadores vasoativos como a histamina. Esses peptídios também são denominados anafilatoxinas porque as reações de mastócitos que desencadeiam são características de anafilaxia (Cap. 20). Em neutrófilos, C5a reforça a motilidade, a adesão firme às células endoteliais e, em altas concentrações, o estímulo do burst respiratório e da produção de espécies reativas de oxigênio. Além disso, C5a pode atuar diretamente sobre as células endoteliais vasculares e induzir aumento da permeabilidade vascular e expressão de Pselectina, o que promove a ligação de neutrófilos. Essa combinação de ações de C5a em mastócitos, neutrófilos e células endoteliais contribui para a inflamação nos locais da ativação do complemento. O C5a é o mediador mais potente de desgranulação de mastócitos; C3a é cerca de 20 vezes menos potente; e C4a, aproximadamente 2.500 vezes menos potente. Os efeitos pró-inflamatórios de C5a, C4a e C3a são mediados pela ligação dos peptídios aos receptores específicos em vários tipos celulares. O receptor de C5a é o mais bem caracterizado. Ele é um membro da família de receptores acoplados à proteína G. O receptor de C5a é expresso em muitos tipos celulares, incluindo neutrófilos, eosinófilos, basófilos, monócitos, macrófagos, mastócitos, células endoteliais, células musculares lisas, células epiteliais e astrócitos. O receptor de C3a também é um membro da família de receptores acoplados à proteína G. Citólise Mediada pelo Complemento A lise mediada pelo complemento de organismos estranhos é mediada pelo MAC. A maioria dos patógenos desenvolveu durante sua evolução paredes celulares espessas ou cápsulas que impedem o acesso do MAC em suas membranas celulares. A lise mediada pelo complemento parece ser essencial apenas para a defesa contra alguns poucos agentes patogênicos que são incapazes de resistir à inserção do MAC, como bactérias do gênero Neisseria, que possuem paredes celulares muito delgadas. Outras Funções do Sistema Complemento Yslane Costa - Medicina Ao se ligar aos complexos antígeno-anticorpo, as proteínas do complemento promovem a solubilização destes complexos e sua eliminação por fagócitos. Um pequeno número de imunocomplexos é formado frequentemente na circulação quando um indivíduo monta uma vigorosa resposta de anticorpos a um antígeno circulante. Se os imunocomplexos se acumulam no sangue, eles podem ser depositados na parede dos vasos e induzir reações inflamatórias que danificam os vasos e o tecido circundante. A proteína C3d gerada a partir de C3 liga-se a CR2 em células B e facilita a ativação dessas células e o início das respostas imunes humorais. INFLAMAÇÃO CRÔNICA Inflamação crônica é a inflamação de duração prolongada (semanas a meses ou anos) na qual inflamação ativa, destruição tecidual e reparação por fibrose ocorrem simultaneamente. Ao contrário da inflamação aguda, que é caracterizada pelas alterações vasculares, edema e infiltrado predominantemente neutrofílico, a inflamação crônica caracteriza-se por um conjunto de alterações: • Infiltração de células mononucleares, incluindo macrófagos, linfócitos e plasmócitos. • Destruição tecidual, francamente induzida pelos produtos das células inflamatórias. • Reparo, envolvendo proliferação de novos vasos (angiogênese) e fibrose. A inflamação aguda pode progredir para inflamação crônica. Essa transição ocorre quando a resposta aguda não pode serresolvida ou devido à persistência do agente lesivo ou por causa da interferência com o processo normal de cura. Alternativamente, algumas formas de lesão (p. ex., reações imunológicas, algumas infecções virais) engendram uma resposta que envolve inflamação crônica desde o início. A inflamação crônica origina-se nos seguintes contextos: • Infecções persistentes por microrganismos difíceis de erradicar. Estes incluem micobactérias, Treponema pallidum (microrganismo causal da sífilis), certos vírus e fungos, todos tendendo ao estabelecimento de infecções persistentes e a suscitar resposta imune mediada por linfócito T, denominada hipersensibilidade tardia. • Doenças inflamatórias imunomediadas (distúrbios de hipersensibilidade). As doenças que são causadas por ativação excessiva e inapropriada do sistema imune são reconhecidas como importantes problemas de saúde. Sob certas condições, as reações imunes desenvolvem-se contra os próprios tecidos do indivíduo, resultando nas doenças autoimunes. Nessas doenças, os autoantígenos suscitam uma reação imune autoperpetuadora que resulta em lesão e inflamação tecidual crônica. A inflamação decorrente de autoimunidade tem papel importante em várias doenças comuns e debilitantes, como artrite reumatoide, doença inflamatória intestinal e psoríase. As respostas imunes contra as substâncias ambientais são a causa das doenças alérgicas,como a asma brônquica. As doenças imunomediadas podem mostrar padrões morfológicos mistos de inflamação aguda e crônica porque são caracterizadas por episódios repetidos de inflamação. Como os antígenos desencadeadores não podem ser eliminados, essas doenças tendem a ser crônicas e intratáveis. • Exposição prolongada a agentes potencialmente tóxicos. Os exemplos incluem materiais exógenos não degradáveis, como a sílica particulada que, quando inalada, pode induzir uma resposta inflamatória crônica nos pulmões e agentes endógenos, como os cristais de colesterol, que podem contribuir para a aterosclerose. Yslane Costa - Medicina • Yslane Costa - Medicina FEBRE A febre, caracterizada por elevação da temperatura corporal, é uma das manifestações mais proeminentes na resposta da fase aguda. A febre é produzida em resposta a substâncias chamadas pirogênios, que atuam estimulando a síntese de prostaglandina nas células vasculares e perivasculares do hipotálamo. Os produtos bacterianos, como o lipopolissacarídio (LPS; chamado pirogênio exógeno) estimula os leucócitos a liberarem citocinas como IL-1 e TNF (chamados pirogênios endógenos) que aumentam os níveis de cicloxigenases que convertem o AA em prostaglandinas. No hipotálamo, as prostaglandinas, especialmente PGE2, estimulam a produção de neurotransmissores, os quais funcionam para reajustar a temperatura em nível mais alto. Os AINEs, incluindo a aspirina, reduzem a febre, inibindo a cicloxigenase, bloqueando assim a síntese de prostaglandina. Embora a febre seja reconhecida como um sinal de infecção há centena de anos, o propósito dessa reação ainda não é claro. Tem sido mostrado que a temperatura corporal elevada auxilia os anfíbios a repelirem as infecções microbianas e assume-se que a febre faça o mesmo com os mamíferos, embora os mecanismos sejam desconhecidos
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