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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO HOSPITAL DAS CLÍNICAS PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL INTEGRADA EM SAÚDE ATUAÇÃO MULTIPROFISSIONAL DE ASSISTÊNCIA À PACIENTE PUÉRPERA COM FASCEÍTE NECROTIZANTE RECIFE 2016 CLAUDIA DA SILVA SALES RAÍSA SANTOS COELHO ROZIANE SILVA DE FREITAS ATUAÇÃO MULTIPROFISSIONAL DE ASSISTÊNCIA À PACIENTE PUÉRPERA COM FASCEÍTE NECROTIZANTE Estudo de caso apresentado como pré-requisito de avaliação teórica ao Programa de Residência Multiprofissional Integrado em Saúde do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco. Referente ao rodízio na Maternidade no mês de Abril de 2016. RECIFE 2016 Sumário 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 3 2 OBJETIVOS .......................................................................................................................... 4 2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................................................... 4 2.2 Objetivos Específicos ................................................................................................................................... 4 3 METODOLOGIA .................................................................................................................. 4 4 HIPÓTESES DIAGNÓSTICAS ........................................................................................... 4 5 HISTÓRICO DO PACIENTE ............................................................................................. 5 5.1 Dados de identificação .................................................................................................................................. 5 5.2 Antecedentes Familiares ............................................................................................................................... 5 5.3 Antecedentes Pessoais ................................................................................................................................... 5 5.4 História da Doença Atual .............................................................................................................................. 5 5.5 Exame Físico Geral: ...................................................................................................................................... 6 6 ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS EXAMES COMPLEMENTARES .................... 7 7 EVOLUÇÃO POR CATEGORIA PROFISSIONAL E PLANO ASSISTENCIAL SISTEMATIZADO ................................................................................................................ 13 7. 1 Fisioterapia ................................................................................................................................................. 13 7.1.1 Avaliação ................................................................................................................................................. 13 7.1.2 Metas ........................................................................................................................................................ 13 7.1.3 Intervenções e baseamento teórico ........................................................................................................... 13 7. 2 Nutrição ...................................................................................................................................................... 14 7.2.1 Avaliação antropométrica ........................................................................................................................ 14 7.2.3 Exames bioquímicos: ............................................................................................................................... 14 Medicamentos em uso ....................................................................................................................................... 15 Necessidades Nutricionais ................................................................................................................................ 16 7.3.4 Evolução da dieta ..................................................................................................................................... 16 7.3.5 Conduta e foco terapêutico ....................................................................................................................... 17 7. 4 Psicologia ................................................................................................................................................... 17 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 21 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 22 3 1 INTRODUÇÃO A Fasceíte Necrotizante (FN) é uma síndrome clínica grave, com o potencial fatal e definida como um processo infeccioso grave, representado por gangrena aguda com uma progressiva evolução para necrose da pele, tecido subcutâneo, fáscias e músculos (FERNANDES et al., 2011). O Streptococcus hemolítico do grupo A e o Staphylococcus aureus de forma isolada ou em sinergismo, são frequentemente os agentes iniciadores da FN. Tais microrganismos disseminam-se rapidamente pelas fáscias, envolvendo pele e vasos da região, resultando em choque séptico. Outras complicações são a insuficiência renal crônica, coagulopatia, complicações hepáticas e síndrome do desconforto respiratório agudo (SCHIAVETTO et al., 2008; COSTA et al., 2004). Os sintomas iniciais, que geralmente ocorrem após o sétimo dia do começo do processo de infecção, são edema, hiperemia, dor e febre. Tardiamente, com a evolução da infecção, ocorre a formação de bolhas, placas necróticas, formação de secreção purulenta na região subcutânea e perda de sensibilidade na região. (CHEUNG et al., 2009; SCHIAVETTO et al., 2008). Segundo Barreda et al 2010, inicialmente, acreditava-se que o sexo masculino era limitado pelo acometimento da FN, porém atualmente é sabido que ela pode ocorrer em ambos os sexos. O diagnóstico da FN, inicialmente, é clínico, com a inclusão da rápida progressão da infecção e a falta de resposta da antibioticoterapia convencional. As manifestações sistêmicas da sepse, com a inclusão de taquicardia, taquipnéia, leucocitose, febre e hipocalcemia, também contribuem para o diagnóstico (COSTA et al., 2004). O exame de cultura é o método mais preciso para o diagnóstico precoce da doença e, a tomografia computadorizada é importante para identificar a extensão e a localização primária da infecção (FERNANDES et al., 2011). Para o tratamento da FN, o desbridamento cirúrgico complementado com antibioticoterapia de amplo espectro e suporte hemodinâmico, são de caráter essencial (GOULART; BOABAID, 2010). Após o tratamento, deve se considerar a programação de reconstrução e enxertos de pele (MORAES; OLIVEIRA; SOARES, 2008). 4 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Estudar o quadro clínico da paciente em questão sob a ótica da equipe multidisciplinar. 2.2 Objetivos Específicos Descrever o quadro clínico da paciente, desde o início da sua internação. Compreender, de maneira integrada, as repercussões clínicas e psicológicas do diagnóstico. Apresentar as intervenções realizadas pela equipe multiprofissional, em cada categoria. 3 METODOLOGIA Trata-se de um estudo de caráter descritivo com abordagem qualitativa, o qual adotou- se enquanto estratégia de investigação o estudo de caso. Pois como traz Shaughnessy, Zechmeister e Zechmeister (2012) o estudo de caso representa um método depesquisa através do qual se torna possível uma descrição e análise intensiva de um individuo único, funcionando nesse sentido como uma fonte potencialmente rica de informações. O estudo foi desenvolvido na maternidade do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco, durante o mês de abril de 2016. Os dados foram coletados a partir de registros de evoluções e exames anexados em prontuário, observações da equipe ao longo do período da hospitalização da paciente, e informações provenientes dos atendimentos realizados pela fisioterapeuta, nutricionista e psicóloga. Utilizou-se ainda de levantamentos de dados através de revisão literária em livros e artigos impressos e em versão online referentes à temática em discussão. 4 HIPÓTESES DIAGNÓSTICAS https://play.google.com/store/books/author?id=John+J.+Shaughnessy https://play.google.com/store/books/author?id=John+J.+Shaughnessy https://play.google.com/store/books/author?id=Eugene+B.+Zechmeister https://play.google.com/store/books/author?id=Jeanne+S.+Zechmeister 5 Fasceíte necrotizante Lesão de alça ITR nosocomial 5 HISTÓRICO DO PACIENTE 5.1 Dados de identificação A.M.L., sexo feminino, 35 anos, casada. Natural de Igarassu-PE, local o qual reside atualmente com esposo e os dois filhos (M-12 anos e F-1 mês). Evangélica, tem 2º grau completo, do lar e vive com renda de um salário mínimo. Teve três gestações, sendo dois partos cesáreas e um aborto. 5.2 Antecedentes Familiares Paciente relata que não possui ninguém na família que tenha tido fasceíte necrotizante ou qualquer outra infecção pós-cirúrgica. 5.3 Antecedentes Pessoais Refere que no seu primeiro parto ocorreu uma pequena abertura da cesariana, com presença de pus que precisou ser drenada, foi tratada com antibiótico em casa, não sendo necessária internação. 5.4 História da Doença Atual Paciente foi admitida no centro obstétrico do Hospital das Clínicas, HC – UFPE, em 28 de março de 2016 com um quadro de gestação de alto risco, devido a elevação dos níveis tensionais, a qual evoluiu para cesariana em 29 de março de 2016 por sofrimento fetal. Deu à luz a RN único, saudável, cefálico, feminino, termo, com boa vitalidade. Recebeu alta no dia 31 de março de 2016 após evoluir bem, com boas condições clínicas e ferida operatória sem sinais de inflamação. 6 Retornou ao hospital no dia 02 de abril 2016 com queixas de vermelhidão em baixo ventre, dores e sangramento com mau odor pela ferida operatória. Foi submetida, no dia 03 de abril de 2016, à histerectomia e curetagem. Diagnosticada com fasceíte necrotizante, chega à maternidade no dia 04 de abril de 2016, para tratamento e acompanhamento da situação clínica. Paciente apresentou-se dispneica, com infusão contínua de clindamicina, mamas lactíferas, apresentando diurese concentrada (SVD: 20ml). No dia 05/04 evoluiu bem, sem queixas, eupneica e com diurese espontânea e clara. No dia 07/04, apresentou queixas de cólicas abdominais e diarreia, apresentando-se hipocorada +/4 e com abdome distentido. No dia seguinte, a paciente foi submetida a cirurgia de desbridamento da ferida operatória mais ráfia de aponeurose. Apresenta-se hipocorada 2+/4+ e com edema de membros inferiores 2+/4++ pés. Em uso de curativo de pressão negativa local, método à vácuo, tópico. Segundo Oliveira et al (2010), esse método institui uma pressão negativa localizada e controlada, com o objetivo de estimular a granulação e a cicatrização. Promove vasodilatação arterial e, consequentemente, o aumento do fluxo sanguíneo nos tecidos, estimulando a formação de tecido cicatricial de granulação. Ademais, a pressão negativa atrai os bordos da ferida ao centro, diminuindo sua dimensão. A paciente é encaminhada ao bloco para realização da troca do curativo e permanece assistida por toda equipe. 5.5 Exame Físico Geral: Paciente com estado geral bom (EGB), hemodinamicamente estável, consciente, orientada e colaborativa. Dispnéica, normocorada, taquicárdica, febril, hidratada e com presença de edemas em membros inferiores (++). Abdome globoso, depressível, doloroso à palpação e com curativo na ferida operatória. Na ausculta respiratória apresenta murmúrio vesicular presente em ambos hemitórax, sem ruídos adventícios apresentando bom padrão ventilatório, em respiração espontânea em ar ambiente. Tosse presente com secreção. 7 6 ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS EXAMES COMPLEMENTARES Cultura da ferida operatória: - (03/04/2016): Staphylococcus aureus O Staphylococcus aureus é um dos agentes iniciadores da FN mais frequentes (SCHIAVETTO et al.,2008). - (05/04/2016): parcial negativa Gasometria: - (07/04/2016): pH 7,52 ; pCO2 31mmHg; pO2 74 mmHg; HCO3 25,3mmol/L; FIO2 21%; SpO2 96% -(08/04/2016): pH 7,50; pCO2 32mmHg; pO2 81mmHg; HCO3 25mmol/L; FIO2 21%; SpO2 97% Alcalose respiratória leve, como pode ser observado o pH está elevado (referência- pH: 7,35- 7,45) e o pCO2 está baixo (referência pCO2: 35-45 mmHg) e, também a paciente apresenta uma baixa pO2, sendo a ideal o valor de 95 mmHg (MACHADO, 2008). 8 Raio X (05/04/2016) (07/04/2016) 9 É possível observar a presença de infiltrados e o apagamento na região basal no raio X do dia 07/04/2016 em comparação com o exame anterior (05/04/2016). Sugerindo uma possível infecção na região pulmonar e o acúmulo de secreção, corroborando assim, com as queixas de tosse produtiva, quadro de febres e taquipnéia da paciente. 10 28/03/16 03/04/16 04/04/16 05/04/16 06/04/16 07/04/16 09/04/16 10/04/16 12/04/16 HEMÁCIAS 4.06 2.95 2.37 2.47 2.33 2.52 2.31 3.53 HEMOGLOBINA 13.5 9.8 7.6 7.8 7.4 7.9 7.3 10.7 HEMATÓCRITO 37.30 26.0 22.30 23.40 22.70 24.20 21.90 32.50 VCM 91.90 95.30 94.09 94.70 97.42 96.00 94.80 92.10 HCM 33.30 33.20 32.07 31.60 31.76 31.30 31.60 30.30 CHCM 36.20 34.90 34.08 33.30 32.60 32.60 33.30 32.90 RDW 12.8 13.30 13.9 14.5 14.0 14.1 13.9 16.1 LEUCÓCITOS 12,220 15,040 25,380 23,710 23,500 21,300 17,410 15,250 PLAQUETAS 194,000 265,000 362,000 439.000 441,000 576,000 595,000 716,000 BILIRRUBINA T DIRETA INDIRETA 0.5 0.1 0.40 CREATININA 0.5 0.7 0.6 0.6 0.75 0.9 0.6 0.8 UREIA 17.1 31.72 11 TGO TGP 11.8 11.8 15.4 18.2 9.72 DHL 137.8 251.9 VDRL Não reagente ALBUMINA 2.5 13/04/16 14/04/16 18/04/16 19/04/16 20/04/16 23/04/16 VALORES DE REFERÊNCIA HEMÁCIAS 3.19 3.48 3.80 3.87 4.01 3.47 4,2 - 5,4 HEMOGLOBINA 9.9 11.0 11.7 12.0 12.4 10.7 12,0 - 16,0 HEMATÓCRITO 29.80 31.90 34.50 35.40 36.20 31.00 36,0 - 47,00 VCM 93.40 91.70 90.80 91.50 90.27 89.34 80,0 - 98,0 HCM 31.00 31.60 30.80 31.00 30.92 30.84 27,0 - 33,0 CHCM 33.2 34.50 33.90 33.90 34.25 34.52 31,5 - 36,0 RDW 15.5 15.3 14.7 14.5 14.4 14.1 11,5 - 15,5 LEUCÓCITOS 12,260 10,090 5.740 5,540 5.420 4.090 4000 - 11000 PLAQUETAS 615,000 568,000 336.00 311,000 278,000 150000 a 450000 12 CREATININA 0.6 0,6 - 1,1 UREIA 21.4 10 - 50 TGO TGP < 32 < 31 DHL VDRL ALBUMINA 3,5 - 4,8 IONOGRAMA 05/04 06/04 09/04 10/04 12/04 13/04 20/04 Valores de Referência Sódio 139,4 141,4 141,1 137,6 136,9 141,9 137,4 134-149 mmol/L Potássio 3,14 3,2 3,19 3,57 3,98 4,2 4,2 3,6 – 5,5 mmol/L Cloreto 105,5 105 103,5 101,2 101,1 104,0 100,9 94-112 mmol/L 13 7 EVOLUÇÃO POR CATEGORIA PROFISSIONAL E PLANO ASSISTENCIAL SISTEMATIZADO 7. 1 Fisioterapia 7.1.1 Avaliação Paciente, no inicio da intervenção fisioterapêutica que ocorreu no dia 6 de abril de 2016, estava com estado geral bom, consciente, orientada, colaborativa, eupnéica, normocárdica, respirando em ar ambiente, com presença de edema em membros inferiores (++),força muscular normal, sem restrições na amplitude de movimento, relatando tosse com secreção e náuseas. A asculta respiratória, no primeiro momento, com murmúrio vesicular presente em ambos hemitorax e sem ruídos adventícios, porém no dia 7 de abril de 2016, apresentava murmúrio vesicular presente em ambos hemitórax com diminuição na base direita e sem ruídos adventícios. A paciente evoluiu com quadros de taquipnéia e taquicardia. 7.1.2 Metas 5 Redução dos edemas 6 Aumentar a capacidade funcional 7 Higiene brônquica 8 Prevenir os efeitos do imobilismo 7.1.3 Intervenções e baseamento teórico O edema é um acúmulo excessivo de líquido extravascular, extracelular e de proteínas nos espaços dos tecidos (KISNER; COLBY, 2009). Com o objetivo da redução dos edemas, foram realizados bombeamento muscular da panturrilha. Conforme propõe Penha et al. 2009, durante a contração muscular da panturrilha, aumenta a habilidade de ejeção e, assim, facilita o retorno venoso reduzindo a pressão hidrostática, que é responsável pela formação do edema. O EPAP artesanal foi utilizado na paciente, este é um recurso em respiração espontânea que aumenta a capacidade residual funcional (CRF), promove recrutamento alveolar, aumenta volume e pressão nos alvéolos, mobiliza secreções que podem provocar 14 atelectasias (CAVALLI; NOHAMA, 2013). O padrão ventilatório em três tempos, um outro recurso utilizado, consistem em inspiração fracionada, ou seja, inspiração interrompida por pausa entre os três volumes e, ao final, a expiração frenolabial é realizada. Assim, ocorre a expansão pulmonar e o aumento do tempo expiratório (TREVISAN; SOARES; RONDINEL, 2010). Também para a promoção da higiene brônquica, a tosse dirigida também utilizada. A expulsão brusca de ar, promove eliminação de secreções, no qual o seu acúmulo nos pulmões pode levar a formação de quadros infecciosos (MACHADO, 2008; CAVALLI; NOHAMA, 2013). A imobilidade no leito provoca perca de massa e força muscular e alterações osteoarticulares, assim, a mobilização precoce previne as diversas patologias associadas ao repouso prolongado (PEDROSO et al., 2010; CINTRA, 2013). Sendo assim, foram realizados exercícios ativos assistidos, orientações quanto ao posicionamento no leito, sedestação e deambulação. 7. 2 Nutrição 7.2.1 Avaliação antropométrica Atura 1,60 m A 2 = 2,56 Peso Habitual: 69,00 kg Peso atual: 65,00 kg IMC : 25,3Kg/m2 Paciente eutrófica, segundo IMC. 7.2.3 Exames bioquímicos: As hemácias mantiveram-se abaixo dos valores de referência, durante todo o internamento. Assim como as hemoglobinas e hematócrito, que normalizaram apenas nos dias 19 e 20/04, respectivamente. Paciente diagnosticada com anemia. A paciente apresenta leucocitose, desde o dia do internamento, adequando-se aos valores de normalidade a partir do dia 14/04. Dos dias 09/04 a 14/04 a paciente apresentou plaquetose. Ureia, creatinina, TGO e TGP, não saíram dos valores de normalidade durante 15 todo o internamento. A dosagem de albumina foi realizada no dia 12/04, evidenciando hipoalbuminemia. Além de hipocalemia do dia 05/04 ao dia 10/04. De acordo com Malcata (2013), laboratorialmente, pode acorrer anemia normocítica, normocrómica, leucocitose ou não, elevação da creatinina, da creatinina fosfoquinase e da PCR; hipoalbuminemia e hipocalcemia. Deste modo, os exames avaliados, até então, correlacionam-se com a literatura. Creatinina, contudo, não apresentou elevações. Cálcio e PCR não foram dosadas, até o presente momento. Contudo, a PCR foi solicitada nos últimos dias. Medicamentos em uso Medicamentos Princípio Terapêutico Rocefin (ceftriaxona) Infecção Sulfato ferroso Anemia ferropriva Plasil (cloridrato de metoclopramida) Antiemético Hidralazina Anti-hipertensivo Metronidazol Antibiótico Ciprofloxacina (cloridrato de ciprofloxacina) Antibiótico Metoclopramida Distúrbios de motilidade do TGI e facilitação de procedimentos radiológicos Tazocin (piperacilina sódica, tazobactam sódico) (até 07/04) Antibiótico Meropenem (até 18/04) Antibiótico Fenergan Antianafilático, antialérgico e antiemético 16 (12/04) Vancomicina Antibiótico Ondansentrona Antiemético Tramal Analgésico Necessidades Nutricionais 1. Kcal: 30 - 35 Kcal/Kg/dia 2. PTN: 1,2 – 2,0 PTN/Kg/dia 3. Peso 65 x 35 = 2,275 calorias 4. Ptn/kg = 2,0 x 65,00 = 130 g/dia 7.3.4 Evolução da dieta Dieta livre, segundo prescrição médica. Em visita à paciente, optou-se pela consistência pastosa, devido a maior conforto para deglutição. Ressalta-se, entretanto, que não houve indicação fisiológica para tanto. Dieta progredida para o recomendado na prescrição, assim que paciente apresentou melhor tolerância. A paciente manteve boa ingestão alimentar, contudo, a dieta foi zerada inúmeras vezes por iminência de reabordagem cirúrgica e/ou procedimento para exame. Deste modo, pelas necessidades nutricionais elevadas, optou-se pela introdução do suplemento P2 100ml 3x/dia. A paciente queixa-se do sabor desagradável do suplemento, mas compreende-o como uma medicação. Sendo assim, manteve aceitação integral do mesmo. Após duas semanas de suplementação, sem intercorrências, houve a necessidade da troca do suplemento para o P3 100 ml 3x/dia. Porém, com a supressão rotineira da dieta às 22h, durante 4 dias corridos, resultando em longos períodos de jejum, optou-se pela evolução do volume do mesmo para 200ml 3x/dia, a fim de manter oferta calórica e proteica suficiente para a evolução da cicatrização da ferida operatória. Diagnostico Dietético: Paciente com ingestão alimentar inadequada por conta das supressões recorrentes da dieta. 17 Diagnóstico Nutricional: Paciente apresenta anemia, hipoalbuminemia, leucocitose, o exame físico evidenciou edema, características de desnutrição, ingestão alimentar insuficiente dados que coincidem com o seu quadro clínico. 7.3.5 Conduta e foco terapêutico Diagnóstico Intervenção Metas Avalição Baixa ingestão alimentar Avaliação dos parâmetros clínicos e bioquímicos. Adequação da dieta às necessidades da paciente, respeitando a sua tolerância, sobretudo, com relação aos volumes ofertados. Manutenção de consistência da dieta, a fim de favorecer o consumo pleno, pela paciente. . Paciente tolerou as modificações. Infecção e Desnutrição. Promover o aporte nutricional de acordo com estado clínico do paciente. Aumento de calorias e proteínas. Introdução de Formulas hipercalóricas e hiperproteícas. Paciente tolerou bem a dieta prescrita. 7. 4 Psicologia Paciente começou a ser acompanhamento pela psicologia no dia 07 de abril de 2016, mostrando-se desde o início disponível aos atendimentos, embora algumas vezes impossibilitada devido intercorrências clínicas. Foram realizados seis atendimentos com objetivo de acompanhar a internação, disponibilizando um espaço para livre expressão dos sentimentos relacionados à experiência vivenciada, bem como apoio e acolhimento das demandas psíquicas, visando facilitar sua reflexão e ampliação do campo perceptivo. Nos atendimentos foram trabalhados conteúdos referentes ao período de internação, distância do contexto familiar, enfrentamento, novas intervenções cirúrgicas e situação clínica. A. M. L., não demonstrou alterações nas funções psíquicas, e negou histórico de transtorno mental. Referiu a existência de um bom suporte familiar e social. Apresentava no 18 início, humor rebaixado e pouca verbalização, que foi se modificando positivamente no decorrer dos atendimentos. O atendimento a paciente iniciou a partir da solicitação da equipe, que perante essa situação reconhece a necessidade de acompanhamento psicológico. Diante desse momento, a psicologia buscoupropiciar a paciente uma espaço para livre expressão dos sentimentos e escuta qualificada, onde foi possível identificar a vivencia de questões pontuais como a histerectomia e afastamento da filha, que lhe levavam a apresentar humor rebaixado. A partir dessa identificação buscou-se trabalhar a ressignificação por meio da validação de emoções, interrogações e clarificação de idéias. Em um segundo momento, após ser colocada em isolamento de contato, a paciente apresentou-se bastante apreensiva e emocionalmente instável. E durante o atendimento foi possível perceber que A.M.L. não compreendia o que estava vivenciando, apresentado algumas fantasias que lhes causava sofrimento, referia dúvidas e dificuldades de buscar informações junto da equipe. Com intuito de reduzir o sofrimento as intervenções da psicologia consistiram no acolhimento, propiciamento de informações e facilitação de comunicação médico/paciente. Outras temáticas apresentadas, durante o atendimento foram a saudade do convívio familiar, a tristeza decorrente dessa e o período de internação. Nesse sentido, a psicologia buscou acolher o sofrimento da paciente, por meio da livre expressão de sentimentos, validação de emoção e suporte emocional. Por meio da resolução de problemas, a paciente conseguiu identificar possibilidades que favorecessem a minimização da saudade, como o fato de articular junto com assistência social a visita do filho. E com relação ao tempo de hospitalização observou-se a necessidade de identificar e trabalhar com ela seu recurso de enfrentamento, e fortalecimento de recursos internos que favorecem sua adaptação e elaboração frente hospitalização. Um dos recursos verbalizados com maior frequência pela paciente foi o de cunho religioso, que acaba funcionando com um suporte que lhe auxilia e favorece o processo de elaboração. Outra demanda foi o medo diante da possibilidade de novas intervenções cirúrgicas. Para trabalhar essa questão buscou-se ofertar um espaço de fala e acolhimento, no qual pudesse manifestar sua ansiedade, fantasia, tristeza e insegurança. No sentido de elaborar e/ou desmistificar as fantasias e minimizar a ansiedade experienciada, se fez uso da clarificação de idéias, reasseguramento, interrogações e validação de emoções. Entretanto ainda que perceba- se a priori, uma redução nesses aspectos, é possível identificar a necessidade de continuação 19 do acompanhamento psicológico, uma vez que trata-se de uma medo construído a partir de um acontecimento real e percebido como traumático para a paciente. Plano Assistencial Sistematizado: Demandas Metas Intervenções Avaliações Humor rebaixado, dificuldade de comunicação e interação. - Propiciar espaço para livre expressão dos sentimentos e escuta qualificada; - Acolher sentimentos e pensamentos apresentados. - Identificar as causas o humor rebaixado - Escuta psicológica; - Interrogações; - Validação das emoções; - Clarificação de ideias. - Paciente pôde expressar sentimentos e identificar questões pontuais referentes ao estado emocional. - Em processo ressignificação. Apreensão diante da situação clínica(isolamento de contato) - Desmistificar as fantasias; - Trabalhar a ampliação de conhecimento; - Minimizar o sofrimento - Acolhimento de demanda; - Propiciamento de informações; - Facilitação de comunicação médico/paciente. - Paciente pôde esclarecer suas dúvidas e ter melhor compreensão da situação clínica, desconstruindo algumas fantasias sobre o adoecer. Saudade do convívio familiar. - Acolher sofrimento; - Proporcionar espaço para reflexão e identificação de formas de enfrentamento. - Promoção de livre expressão verbal; - Validação de emoção; - Suporte emocional; - Resolução de problemas. - Paciente consegue identificar possibilidades para reduzir a saudade, como receber visita do filho. Tempo de internação. - Identificar e trabalhar recurso de enfrentamento; - Ofertar apoio psicológico. - Escuta psicológica; - Reasseguramento; - Encorajamento; -Apoio psicológico. - Paciente apresenta mobilização de recursos internos frente a hospitalização. 20 Medo de intervenções cirúrgicas. - Ofertar espaço de fala e acolhimento; - Desmistificar fantasias; - Reduzir ansiedade. - Clarificação de idéias; - Reasseguramento; - Interrogações; - Validação de emoções. - Apesar de reconhecer importância das intervenções, a paciente encontra-se ainda em processo de elaboração. Partido do que foi exposto percebe-se que as principais temáticas suscitadas pelo caso em questão foram: humor rebaixado, apreensão diante da situação clínica, saudade do contexto familiar, período de internação e medo de intervenções cirúrgicas. Questões estas que vem sendo alvo de discussões e reflexões no âmbito da literatura. Com relação ao estado de humor experienciado pela paciente nos primeiros dias de internação se percebe a presença de aspectos peculiares ao momento em que vivencia e a necessidade de atentar para tais. Pois, conforme expõem Trucharte e Knijnik (2003), o puerpério, assim como a gravidez, é um período em que a mulher torna-se especialmente sensível e bastante vulnerável à ocorrência de crises. Os primeiros dias após o parto são carregados de emoções intensas e variadas, e a labilidade emocional é o padrão característico nesse período, onde se tem rápidas alternâncias entre euforia e a depressão, podendo esta última atingir grande intensidade. Entretanto a intensificação ou permanência dos sintomas depressivos algumas semanas pós-parto merecem ser vistas com maior cuidado. Com base neste aspecto, ao referir o humor rebaixado e a pouca comunicação da puerpéra, constata-se que a equipe reconhece a necessidade de um cuidado para além do aspecto físico, ao solicitar a assistência psicológica. Essa é uma atitude que vem sendo evidenciada por Brasil (2006) ao trazer que, os avanços científicos construídos diante da prática obstétrica, vêm possibilitando que médicos e enfermeiros percebam que condutas baseadas somente nos aspectos físicos não são suficientes, sendo necessária a compreensão dos processos psicológicos que permeiam o período grávido-puerperal, tendo em vista tratar- se de um momento em que vivencia sobrecarga emocional. Ao se pensar a apreensão diante da situação clínica e a dificuldade de comunicação entre paciente e equipe médica, encontra-se na fala de Miziara (2013) a importância do psicólogo na facilitação e construção da comunicação médico, paciente e familiares, ao ressaltar os benefícios advindos dessas práticas e demonstrar que uma boa comunicação favorece melhoras no estado emocional do doente, uma vez que lhe permitir reduzir estresse, 21 ansiedade, questionamentos e até mesmo sentimentos negativos formados diante do adoecimento. Quando fala-se da saudade do convívio familiar apresentado pela paciente, percebe-se que é uma queixa frequente em internamentos maternos. Como expõe Costa, Mombelli e Marcon (2011) mães hospitalizadas vivenciam variadas experiências emocionais, pois além da situação de hospitalização, convivem com medos e preocupações do seu cotidiano, que envolvem preocupação com os outros filhos, esposo, trabalho, etc. Entretanto precisam aprender a lidar com seus sentimentos e suportá-los para conseguir permanecer de uma maneira menos sofrida no ambiente hospitalar. E com relação aos recursos usados por A.M.L. para lidar com esses sentimentos e o tempo de hospitalização, percebe-se fortemente um enfrentamento de cunho religioso, que de acordo com as evidencias apresentadas por Lima (2010) representa uma estratégia bastante utilizada diante de situações difíceis de suportar, onde busca-se apoio na fé e religiosidade.No que diz respeito as intervenções cirúrgicas, percebe-se que o medo da paciente vem acompanhado de aspectos permeados por fantasias. Entretanto sobre esse entendimento, Sebastiani (2003) ressalta que, o paciente submetido a procedimento cirúrgico apresenta aspectos psicológicos importantes principalmente com relação ao medo. E que, diferentemente de outras coisas temidas pelas pessoas, o medo diante da cirurgia tem, pelo menos em parte, uma base concreta, dessa forma ainda que a realidade seja enriquecida pela imaginação, o medo formado diante do evento cirúrgico nunca é totalmente imaginário. CONSIDERAÇÕES FINAIS Observamos que as ações integradas entre a fisioterapia, a nutrição e a psicologia, contribuíram significativamente para a assistência à saúde da paciente com fasceíte necrotizante. Ressalta-se também a importância dos residentes médicos e de enfermagem, não integrantes da equipe multiprofissional, mas que, deram suporte à paciente diretamente, e também as informações importantes para as condutas da equipe multiprofissional. Além de estarem abertos ao diálogo e compartilharem das mesmas preocupações e motivações para o tratamento. Devido ao longo tempo de internamento e as intercorrências sofridas, a paciente apresentou demandas diferenciadas. Estas, em muitos momentos, eram subjetivas e a 22 assistência multiprofissional buscou promover cuidados que prezassem pela atenção global à paciente, mantendo uma visão holística do seu quadro clínico. É interessante notar que o quadro clínico vai muito além da ferida operatória, repercutindo diretamente sobre as questões emocionais, que podem melhorar ou não a percepção e disposição da paciente em adotar as condutas propostas. Nota-se que a paciente é bem consciente do seu diagnóstico e às implicações do mesmo sobre o seu corpo, atentando-se para as oscilações no quadro clínico, sob a sua ótica pessoal, e, colocando-se à disposição das intervenções, a fim de obter sucesso no tratamento. Deste modo, a equipe mantém-se também motivada a vencer todos os obstáculos, visando o desfecho positivo do quadro. REFERÊNCIAS BARREDA, J.T.et al. Gangrena de Fournier: Estudio retrospectivo de 41 casos. Cir Esp ;87(4):218-23, 2010. BRASIL. Ministério da Saúde. Pré-natal e Puerpério: atenção qualificada e humanizada – manual técnico. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. CAVALLI, F; NOHAMA, P. Novo dispositivo EPAP subaquático no pós-operatório de cirurgia de revascularização do miocárdio. Fisioter. Mov., Curitiba, v. 26, n. 1, p. 37-45, 2013. CHEUNG, J.P. et al. A review of necrotising fasciitis in the extremities. Hong Kong Med J;15(1):44-52,2009. COSTA, J. B.; MOMBELLI, M. A.; MARCON, S. S. Avaliação do sofrimento psíquico da mãe acompanhante em alojamento conjunto pediátrico. Revista Estudos de Psicologia, Campinas, v. 26, n.3, p.317-325, jul-set., 2011. COSTA, I. M. C. et al. Fasciíte necrosante: revisão com enfoque nos aspectos dermatológicos. 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