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ELETRÔNICA DE POTÊNCIA Julia Beust da Silva AC/DC: retificadores trifásicos controlados e não controlados Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Diferenciar retificadores trifásicos controlados e não controlados. � Descrever a operação dos retificadores trifásicos não controlados (carga R e RL). � Analisar a operação dos retificadores trifásicos controlados (carga R e RL). Introdução Neste capítulo, você vai estudar os retificadores trifásicos controlados e não controlados. A função dos retificadores é produzir uma saída continua a partir de uma entrada corrente alternada (CA), ou seja, um retificador é um conversor que transforma CA em corrente contínua (CC). Os objetivos deste capítulo são aprender a identificar as diferenças entre retificadores controlados e não controlados, bem como analisar a operação desses circuitos quando são alimentadas diferentes cargas. Retificadores controlados e não controlados O conversor que transforma a entrada CA, do inglês alternating current, em uma saída CC, do inglês direct current, é chamado retificador. Retificadores trifásicos convertem sua tensão trifásica alternada em uma saída continua, conforme ilustra a Figura 1. Figura 1. Comportamento do conversor trifásico. Conversor R S T+V 0 –V +V Vméd 0 –V120° 240° 360° t A distinção entre os retificadores controlados e não controlados é realizada de acordo com as chaves semicondutoras utilizadas em sua construção. Os conteúdos aqui estudados focam no funcionamento básico dos retificadores; por este motivo, o comportamento das chaves é modelado como ideal, para que o comportamento do circuito possa ser enfatizado. Um breve estudo das chaves eletrônicas utilizadas nos retificadores é apresentado a seguir. Diodos O circuito retificador que utiliza apenas diodos é chamado de retificador não controlado. Diodos são dispositivos semicondutores simples que permitem a condução de corrente apenas em uma direção quando uma tensão positiva maior que sua tensão de disparo VD é aplicada entre seus terminais. Logo, uma vez que diodos não podem ser controlados e que suas condições de estado ligado ou desligado são determinadas pelas tensões e correntes do circuito, retificadores trifásicos a diodo são não controlados. A Figura 2 ilustra o com- portamento de um diodo ideal. AC/DC: retificadores trifásicos controlados e não controlados2 Figura 2. Diodo semicondutor ideal: (a) em polarização direta; (b) em polarização reversa. Fonte: Adaptada de Boylestad e Nashelsky (2004, p. 19). + -VD - +VD ID I x (a) (b) Quando polarizado diretamente com uma tensão maior que VD, o diodo se comporta como um curto circuito, Figura 2(a). Caso polarizado inversamente, Figura 2(b), o diodo se comporta como uma chave aberta, não permitindo a passagem de corrente. A representação do diodo ideal é, na maioria das análises, uma aproximação que fornece resultados com qualidade para os circuitos retificadores. Nessa representação, você considera que, quando polarizado diretamente, o diodo passa a condução instantaneamente e é equivalente a um curto-circuito. Contudo, o valor real de gatilho de um diodo é de, aproximadamente, 0,7V. A Figura 3 apresenta um resumo das representações existentes para esse componente. A representação mais completa (a terceira) ainda leva em conta a característica de resistência do dispositivo. 3AC/DC: retificadores trifásicos controlados e não controlados Figura 3. Resumo das apresentações existentes para diodos. Primeira ou ideal Segunda ou prática Terceira Usada quando Análise de defeito ou análise rápida Análise técnica Alto nível ou análise de engenharia Curva do diodo Circuito equivalente Exemplo de circuito Polarização reversa Polarização reversa Polarização reversa Polarização direta Polarização direta Polarização direta ID VD ID VD ID VD0,7 V 0,7 V 0,7 V 0,7 V 0,23 Ω 9,28 V9,3 V10 V 10 V 100 Ω100 Ω 0,7 V 0,7 V RB RB RB RLRL 100 Ω RL VS 10 V VS 10 V VS SiSiSi VoutVoutVout Tiristores Os tiristores são chaves eletrônicas que permitem o controle de seu estado ligado. Assim sendo, circuitos retificadores controláveis são construídos com tiristores. O termo tiristor muitas vezes é empregado para fazer referência ao diodo controlado de silício (SCR), como é o caso neste capítulo, em que os SCRs representam os dispositivos controlados da família dos tiristores. A operação básica do tiristor é diferente da do diodo, uma vez que o tiristor possui um terceiro terminal chamado Gate que determina quando o dispositivo muda do estado de circuito aberto para o estado de curto-circuito. Enquanto a condução do diodo ocorre a partir do momento que ele é polarizado direta- mente, um tiristor sem corrente de Gate não conduz. Só existe condução se o tiristor estiver polarizado diretamente e um pulso de magnitude suficiente, chamado corrente de disparo, for aplicado ao terminal de Gate. A Figura 4 ilustra o comportamento de um tiristor ideal. AC/DC: retificadores trifásicos controlados e não controlados4 Figura 4. Comportamento do tiristor ideal. v V VCC O2 - + + + + + + VCC VCC VCC 0 - - É importante observar que o tiristor unidirecional (SCR) vai conduzir apenas quando for polarizado diretamente e acionado por um pulso de gati- lho. Uma vez em estado de condução, o tiristor ideal continuará conduzindo enquanto a corrente de anodo permanecer positiva (polarização direta do componente). No caso real, o tiristor é desligado quando a tensão cai abaixo de um valor mínimo, chamado de nível de manutenção. As demais não idealidades comentadas para os diodos também são válidas para o tiristor. Retificadores trifásicos não controlados Os retificadores trifásicos não controlados podem ser divididos em dois grupos: os retificadores trifásicos com ponto médio, que operam retificando apenas o semiciclo positivo da alimentação trifásica; e os retificadores trifásicos de onda completa, também conhecidos como ponte de Graetz, circuitos retificadores que operam am ambos os semiciclos positivo e negativo da alimentação. Acesse o link abaixo e revise o comportamento do retificador monofásico a diodo para compreender melhor o comportamento do retificador trifásico não controlado. https://goo.gl/gkBipy 5AC/DC: retificadores trifásicos controlados e não controlados Retificador trifásico de ponto médio O circuito retificador trifásico a diodo com ponto médio, representado na Figura 5, pode ser considerado uma associação de três retificadores monofásicos de meia onda. Figura 5. Retificador trifásico não controlável com ponto médio. Fonte: Adaptada de Barbi (2005, p. 47). N R S T D2 D1 D3 i3 iL VL i2 i1 V1(ωt) V2(ωt) V3(ωt) + – Nesse retificador, cada diodo é associado a uma das três fases, R, S ou T, da rede trifásica, e o aterramento do ponto N é obrigatório. As tensões de alimentação são dadas por v1(ωt) = VOsen(ωt) v2(ωt) = VOsen(ωt – 120°) v3(ωt) = VOsen(ωt + 120°) AC/DC: retificadores trifásicos controlados e não controlados6 Carga R Devido a suas características unidirecionais, os diodos D1, D2 e D3 bloqueiam, respectivamente, os semiciclos negativos da tensão de alimentação alternada R, S e T. Dessa maneira, somente os semiciclos positivos da tensão são aplicados à resistência da carga R. Cada diodo do retificador conduz durante um intervalo de tempo de 120 graus elétricos da tensão da rede, conforme é mostrado na Figura 6, onde Vo é a tensão de linha da rede trifásica. Figura 6. Formas de onda para o retificador trifásico com ponto médio. Fonte: Adaptada de Barbi (2005, p. 47). v1v2 v3v1 0 2ππ D1 D2 D3 √2V0 ωt √2V0 vR π 5π 6 6 (+)t O valor da tensão média aplicada sobre a carga é dado por VLMéd = ∫ √2 VOsen(ωt)d(ωt) = 1,17VO 3 2� 5� 6 � 6 O valor da corrente média na carga é ILMéd = ∫ sen(ωt)d(ωt) = 1 2� 5� 6 � 6 √2VO R 1,17VO R Como cada diodo conduz durante um terço do ciclo,a corrente média em cada diodo é definida como 7AC/DC: retificadores trifásicos controlados e não controlados IDMéd = = ILMéd 3 1,17VO 3R A corrente de pico do diodo é IDP = √2VO R A corrente eficaz de cada diodo é IDef = (ILMéd) 2 d(ωt) = 0,59 ILMéd 1 2� Carga RL A presença de uma carga indutiva altera o comportamento do diodo, fazendo com que o bloqueio do dispositivo seja modificado para um ângulo β superior ao ângulo de bloqueio de quando a carga é puramente resistiva. Nesse caso, a tensão da carga é expressa pela relação: VL(ωt) = 1,17VO + VOsen(3ωt) = 1,17VO + 0,3VOsen(3ωt) 2 ∙ 1,17 8 E a corrente de carga é IL(ωt) = + sen(3ωt – �3) 1,17VO R 0,3VO √R2 + 9ω2L2 Onde ϕ3 é o ângulo dado por �3 = arctg 3ωL R Dessa forma, pode-se calcular a corrente eficaz pela expressão ILef = √(I 2 LMéd + I23f) = 1,17VO R 0,3VO √R2 + 9ω2L2( ) ( ) 2 2 + AC/DC: retificadores trifásicos controlados e não controlados8 O valor eficaz da corrente para cada diodo é IDef = ∫0 (ILMéd) 2 d(ωt) = ILMéd √3 1 2� Como cada diodo conduz durante um terço do ciclo, a corrente média em cada diodo é definida como IDMéd = IDMéd 3 Retificador trifásico de onda completa O retificador trifásico com ponto médio opera apenas no semiciclo positivo da tensão de alimentação trifásica. Contudo, para produzir tensão e corrente contínua para cargas de valores elevados, o retificador trifásico de onda com- pleta, também conhecido como ponte de Graetz, é a estrutura mais utilizada industrialmente para realizar conversão CA/CC. Figura 7. Retificador trifásico de seis pulsos a diodo. Fonte: Adaptada de Barbi (2005, p. 57). D1 D2 D3 D4 D5 D6 v3(ωt) v1(ωt) v2(ωt) i LVL + - 9AC/DC: retificadores trifásicos controlados e não controlados Algumas observações básicas nos ajudam a compreender o circuito: � cada diodo conduz durante um intervalo de 120°; � aplicando a lei de Kirchhoff das tensões, é possível concluir que, na metade superior da ponte, a condução se dá através de apenas um diodo (D1, D2, D3) por vez; � analogamente, na metade inferior apenas um dos diodos (D4, D5, D6) pode estar em condução; � sendo assim, existem sempre dois diodos em condução, um no grupo positivo (metade superior) e um no grupo negativo (metade inferior); � ocorre uma comutação a cada 60°, origem do nome retificador trifásico a seis pulsos. A Figura 8 mostra as formas de onda de entrada e saída para o circuito da Figura 7, considerando uma carga resistiva. Figura 8. Formas de onda para o retificador trifásico de seis pulsos a diodo. Fonte: Adaptada de Barbi (2005, p. 58). ωt ωt ωt ωt v1v2 v3v1 D1 D2 D3 D1 2ππ D6 D4 D5 D6 D2 D3 D1 D1D3D2 D6 D5D5 D4 D4 D6 2π 3 2π 3 AC/DC: retificadores trifásicos controlados e não controlados10 Aprofunde seus conhecimentos sobre o retificador trifásico de onda completa aces- sando o link abaixo. https://goo.gl/SMLUfz Retificadores trifásicos controlados A saída do retificador trifásico pode ser controlada se os diodos forem substitu- ídos por tiristores SCRs. Diferente de como funcionam os diodos, a condução dos SCRs não inicia até que o componente, polarizado diretamente, receba uma corrente no terminal de gate. Dessa maneira, a tensão de saída pode ser atrasada em relação à tensão de linha da entrada. O ângulo de atraso, conhecido como α, é equivalente ao ângulo de disparo do tiristor. Retificador trifásico de ponto médio O circuito retificador trifásico a tiristores com ponto médio é representado na Figura 9. Figura 9. Retificador trifásico de meia onda a tiristor. Fonte: Adaptada de Barbi (2005, p. 101). v3(ωt) v1(ωt) v2(ωt) T1 T2 T3 iL Lv + - 11AC/DC: retificadores trifásicos controlados e não controlados Carga R A tensão na carga resistiva para o ângulo de disparo α = 0° pode ser vista na Figura 10. Figura 10. Tensão na carga resistiva pra α = 0 para o retificador trifásico controlado de ponto médio. Fonte: Adaptada de Barbi (2005, p. 101). v1 v2 v3 Você já conhece esse comportamento, uma vez que um tiristor operando com α = 0 possui o mesmo comportamento de um diodo. Então, quando o ângulo de disparo é nulo, a comutação acontece quando duas ondas de tensão se interceptam, e não no momento em que a tensão passa por zero. Para valores de alpha maiores que zero e menores que 30°, a condução ainda é contínua, como pode ser observado na Figura 11. AC/DC: retificadores trifásicos controlados e não controlados12 Figura 11. Tensão na carga resistiva pra para o retificador trifásico controlado de ponto médio. Fonte: Adaptada de Barbi (2005, p. 102). v1 v2 v3 Quando 30° < α < 150° (e 120° é o tempo máximo de condução de cada diodo), a condução torna-se descontínua. O cálculo da tensão média na carga é, então, dependente do modo de condução do circuito. 0° < α < 30° – Condução contínua VLMéd = ∫ √2VO sen(ωt)d(ωt) = 1,17VOcos (α) 3 2� 5� 6 + α + α�6 30° < α < 150° – Condução descontínua VLMéd = ∫ √2VO sen(ωt)d(ωt) = 0,67VO(1 + cos ( + α)) 3 2� � + α � 6 Para valores de α maiores que 150°, VLMéd = 0. 13AC/DC: retificadores trifásicos controlados e não controlados Carga RL Da mesma maneira que no retificador a diodos, a presença de uma carga indutiva faz com que o bloqueio do dispositivo seja modificado para um ângulo β superior ao ângulo de bloqueio de 180° da carga puramente resis- tiva. A estrutura então pode operar em dois quadrantes, positivo e negativo, conforme a Figura 12. Figura 12. Tensão de carga de operação para o retificador com carga indutiva. Fonte: Adaptada de Barbi (2005, p. 101). A1 A2 Nesse caso, o circuito opera em dois quadrantes, ou seja, opera como retificador (V > 0) e, também, como inversor (V < 0). Retificador trifásico onda completa A operação do retificador trifásico controlado de onda completa, ou Ponte de Graetz controlada, apresenta as mesmas alterações que o retificador trifásico controlado a três pulsos. Ou seja, substituição dos diodos por tiristores permite a alteração do ângulo de disparo dos componentes. Esse circuito permite uma menor ondulação na tensão e tensões médias maiores. Conheça as formas de onda e equações para esse circuito acessando o link abaixo. https://goo.gl/z1HfKt AC/DC: retificadores trifásicos controlados e não controlados14 BARBI, I. Eletrônica de potência. 6. ed. Florianópolis: Ed. do Autor, 2005. BOYLESTAD, R. L.; NASHELSKY, L. Dispositivos eletrônicos e teoria de circuitos. 8. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004. Leituras recomendadas HART, D. W. Eletrônica de potência: análise e projetos de circuitos. Porto Alegre: AMGH, 2012. KIDA, A. A. Aula retificadores trifásicos. [2017]. Disponível em: <http://www.ifba.edu. br/professores/alexandrekida/materiais/2017/2841/U4/12%20-%20Retificadores%20 trif%C3%A1sicos.pdf>. Acesso em: 22 ago. 2018. MALVINO, A.; BATES, D. J. Eletrônica. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2007. v. 1. RASHID, M. H. Power electronics handbook. 3. ed. Oxford: Elsevier, 2011. 15AC/DC: retificadores trifásicos controlados e não controlados
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