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Livro - Historia do Pensamento Geografico

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HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
GEOGRÁFICO
Edson Bareiro
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Curitiba
2016
Historia do 
Pensamento 
Geográfico
Edson Bareiro
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Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cassiana Souza CRB9/1501
B248h Bareiro, Edson
História do pensamento geográfico / Edson Bareio. – Curitiba: Fael,
2016. 
184 p.: il.
ISBN 978-85-60531-57-8
1. Geografia I. Título
CDD 910
Direitos desta edição reservados à Fael.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
FAEL
Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo
Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Revisão Editora Coletânea
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Capa Vitor Bernardo Backes Lopes
Imagem da Capa Shutterstock.com/Triff
Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim
Sumário
 Carta ao Aluno | 5
1. O Conhecimento Geográfico | 7
2. O Saber Geográfico e a Ação Humana | 19
3. Conhecimento Geográfico e Organização Social | 33
4. Idade Média - Contexto Geral | 47
5. O Conhecimento Geográfico na Idade 
Média: Renascimento | 65
6. Relação Homem e Desenvolvimento e os 
Pressupostos da Geografia como Ciência | 85
7. A Geografia de Humboldt e Ritter | 103
8. A Estruturação da Geografia como Ciência 
Acadêmica na Alemanha e França | 125
9. Os movimentos de Renovação da Geografia | 143
10. A Institucionalização da Geografia no Brasil | 159
 Conclusão | 173
 Referências | 175
Prezado(a) aluno(a),
O conteúdo desta obra procura apresentar e ajudar na refle-
xão de como a geografia como ciência contribuiu ao longo dos 
tempos para a interpretação e estudos do planeta em seus diversos 
momentos no tempo.
O espaço geográfico é dinâmico e construído, desconstru-
ído e reconstruído numa constância cada vez maior e numa veloci-
dade assustadora, alterando comportamentos sociais, pensamentos 
e conceitos mundiais.
Carta ao Aluno
– 6 –
História do Pensamento Geográfico
O objetivo principal da disciplina de História do Pensamento Geográ-
fico é o desenvolvimento da capacidade de utilizar os conhecimentos teóricos 
da geografia para refletir e debater a atuação dos homens sobre o meio e suas 
alterações, causas e efeitos, que resultam numa sociedade complexa, dinâmica 
e extremamente volátil. Para a formação do professor de geografia, é funda-
mental o domínio dos conceitos e dos procedimentos da análise espacial, pois 
permite abrir espaços para a discussão de assuntos contemporâneos e suas 
origens no passado, buscando a formação crítica de alunos capazes de atuar 
na sociedade de maneira sustentável.
Nas cidades ou na zona rural, os processos sociais, econômicos, políti-
cos, culturais e ambientais de que participamos são cada vez mais globaliza-
dos – um fato geográfico em outro continente ou hemisfério altera a produ-
ção agrícola, os hábitos alimentares, a vida econômica e as relações sociais.
A utilização da geografia como instrumento para encarar esse desafio 
metamórfico social e as noções geográficas aqui apresentadas podem enrique-
cer a sua formação docente em Geografia.
Bons estudos.
Prof. Edson Bareiro
1
O Conhecimento 
Geográfico
1.1 Introdução
Por que uma empresa realiza profundos estudos antes de deci-
dir onde localizar uma nova filial? Como se explicam as desigualda-
des de infraestrutura que observamos nos centros urbanos? 
Essas perguntas, dentre outras, remetem ao fato de que o 
espaço construído pelo ser humano exerce uma função nas suas 
condições de existência. O espaço geográfico condiciona a produ-
ção industrial e a agrícola, a circulação das mercadorias, o exercício 
da política, a moradia, o lazer e todos os contextos da vida privada 
e coletiva. Além disso, o espaço também influencia a formação das 
identidades das pessoas e dos grupos, pois é no lugar onde vivemos 
e trabalhamos que incorporamos hábitos, atitudes, valores, lingua-
gens e tudo o que constitui a nossa forma de ser.
História do Pensamento Geográfico
– 8 –
Por isso, o espaço é a via geográfica de análise da sociedade. Seu estudo 
na escola pode ser muito enriquecedor se as práticas educativas levarem em 
consideração o espaço vivido pelos alunos. Utilizar os conhecimentos geográ-
ficos na reflexão das vivências espaciais é uma condição para se formar como 
um sujeito crítico da construção do espaço.
1.1.2 A formação espacial através da 
interferência humana na natureza
As sociedades contemporâneas dispõem em seu espaço ou território 
de inúmeras manifestações da evolução da paisagem ou espaço geográfico, 
principalmente equipamentos urbanos, como residências, edifícios, estradas, 
pontes, hospitais, escolas, campos de cultivo, fábricas, etc. – são construções 
que o ser humano realiza transformando a natureza.
Uma bacia hidrográfica também constitui um elemento do espaço geo-
gráfico quando o indivíduo o utiliza como meio de transporte ou como fonte 
de geração de energia. Da mesma forma, uma montanha, quando uma comu-
nidade a transforma num local sagrado.
Tanto as construções humanas como os elementos da natureza de que 
o indivíduo se apropria para uma finalidade são objetos geográficos. Cada 
objeto geográfico cumpre uma função determinada, variando de um período 
histórico para outro.
Figura 1.1 - Rua 23 de Maio - São Paulo - SP
Fonte: Shutterstock.com/Alf Ribeiro
– 9 –
O Conhecimento Geográfico
Quando falamos de ações humanas, não nos limitamos às ações dos 
indivíduos, mas também observamos as que são executadas por empresas, ins-
tituições, órgãos públicos, organizações políticas, entre outras. As ações visam 
à realização de intenções relacionadas à satisfação de interesses e necessida-
des, que variam conforme a sociedade e a época histórica em que vivemos. 
No entanto, essas ações causam outros problemas, como podemos perceber 
na figura 1.1, a dinâmica espacial exige cada vez mais planejamento, porém 
como planejar se a complexidade e a velocidade das ações são assustadoras?
Os interesses e as necessidades da população mundial há dois séculos 
com certeza não são os mesmos da sociedade atual. Naquele momento histó-
rico, a sociedade mundial ainda lutava pela estruturação territorial de diversos 
países, e atualmente esse cenário mudou completamente, já que o que se 
busca é o fortalecimento econômico e social e principalmente a influência no 
espaço mundial, tudo isso no mesmo espaço geográfico, porém com a confi-
guração de características diversas no passado e no presente.
Sociedades diferentes também se diferenciam quanto às características 
espaciais. Como podemos distinguir o espaço geográfico rural do industrial 
ou de países localizados em hemisférios diferentes com acidentes naturais e 
interferência destes no seu território?
Convém buscar o passado e rememorar que, nos primórdios, o espaço 
geográfico era construído principalmente a partir do trabalho humano, rea-
lizado diretamente sobre a natureza primitiva. Isso ainda ocorre. Assistimos 
aos efeitos das ações humanas sobre florestas, rios, mares, solos, atmosfera e 
demais elementos naturais. Contudo, nos tempos atuais, as atividades huma-
nas recaem acima de tudo sobre a natureza já transformada. Como resultado 
disso, ocorre a predominância da população urbana em detrimento da popu-
lação rural. A produção econômica no Brasil, por exemplo, tem como prin-
cipal produto os advindos do campo, porém a concentração populacional 
está nos grandes centros urbanos do país, ou seja, essa população concentrada 
atua sobre uma nova configuração espacial que não é mais a natureza pura. 
Logo, o meio sobre o qual o ser humano exerce, na atualidade, a maior parte 
das suas ações é o meio construído, não o natural.
Se as relações sociais ocorrem no presente, sobretudo por meio dos obje-
tos construídos, a ciência geográfica procura revelar as formas de interação 
entre a sociedade e o espaço. As relações entre a sociedade e a natureza primi-
História do Pensamento Geográfico
– 10 –
tiva, quenão deixaram de existir, constituem apenas um capítulo dos estudos 
e investigações geográficas.
Podemos, então, entender que a geografia não se ocupa somente da des-
crição do mundo e de suas manifestações nos diferentes lugares – e muito 
menos somente as relações entre o indivíduo e a natureza. A geografia estuda 
o espaço geográfico, uma produção humana ao longo do tempo, componente 
da sociedade que interfere em todos os seus contextos.
SER HUMANO
SOCIEDADE
AÇÕES SOCIAIS E PRODUÇÃO DE EQUIPAMENTOS
NATUREZA
ESPAÇO GEOGRÁFICO
O espaço geográfico integra a sociedade da mesma forma que a econo-
mia, a cultura e a organização sociopolítica; estão ligados intrinsecamente e 
de maneira indissolúvel, e a geografia estuda essas conexões, sejam físicas ou 
humanas, e o resultado dessas interações.
Por isso, não podemos pensar o espaço simplesmente como um palco 
onde as atividades humanas se desenvolvem. O espaço é o meio formado por 
interações humanas na natureza, isto é, onde aparecem as interações humanas 
e suas conexões em forma do que se denomina paisagem, por meio da qual a 
dinâmica social se realiza.
Nesse contexto, a dinâmica fundamental da vida em sociedade culmina 
com a produção em busca de diversos objetivos, seja por melhorias no con-
forto, saúde, bem-estar, seja principalmente pela dinâmica comercial ou capi-
talista. Trata-se de uma atividade indispensável à sobrevivência de todos, que 
se desenvolve sempre coletivamente.
Pela produção, buscamos satisfazer às nossas necessidades e criamos uma 
vida em comum, repleta de tensões, contradições e conflitos. É a partir da 
produção coletiva, realizada pelo trabalho social, que a natureza se transforma 
em espaço geográfico. As características espaciais decorrem, portanto, dos 
objetivos e da maneira como a produção ocorre. Quando a produção visava 
– 11 –
O Conhecimento Geográfico
principalmente à sobrevivência, as interações humanas geravam menos desi-
gualdades, os instrumentos de trabalho eram simples, a transformação da 
natureza era pouco intensa e o espaço de vida era predominantemente natural.
Em nossa sociedade, a produção visa principalmente o acúmulo de capi-
tal pelo lucro, produzindo as desigualdades sociais e várias formas de exclu-
sões. Nesse contexto, as técnicas são crescentemente decisivas na construção 
do espaço, que passa a ser cada vez mais tecnológico, e tornam essas transfor-
mações mais velozes do que anteriormente, como as cidades e os campos de 
cultivo, refletindo o grau de transformação da natureza.
Atualmente, a produção de um bem envolve a descentralização das peças 
ou semiprodutos, que são feitos por diversos ramos produtivos e em vários 
lugares ao mesmo tempo, sendo essa atividade mais viável financeiramente. É 
o que se denomina divisão do trabalho. As atividades produtoras que existem 
em um lugar são um elo do circuito produtivo que hoje se estende em nível 
mundial. Por isso, muitas modificações que observamos em nosso espaço de 
vivência decorrem de decisões e necessidades originadas em outras partes do 
país e até em outros continentes.
O que temos como cenário atual é a fabricação de peças e componen-
tes de determinado produto em lugares diferentes, às vezes bem distantes 
uns dos outros. Essa fragmentação da atividade produtiva permite que as 
empresas aproveitem as vantagens locais, que podem ser os baixos salários dos 
trabalhadores, a presença de matéria-prima, a oferta de benefícios feita pelos 
governantes ou os baixos custos com os cuidados ambientais.
Um produto com grande aceitação de consumo no mercado interna-
cional provoca uma integração entre os lugares pelos meios de transporte e 
comunicação, e estes acabam por se conectar para que o produto final real-
mente seja de qualidade e efetivamente se concretize.
É possível identificar vantagens aproveitadas por uma ou mais empresas 
no município ou na região onde você mora? Considerando os recentes even-
tos esportivos, como a Copa da FIFA de 2014 e as Olimpíadas de 2016, pode-
mos identificar muitas mudanças espaciais relacionadas ao desenvolvimento 
das atividades produtivas em sua região ou que tenham causado reflexos nela. 
Tais mudanças podem ser objeto de interessantes trabalhos interdisciplinares 
na escola. O setor agrícola, a indústria e a mineração, a geração de energia, 
História do Pensamento Geográfico
– 12 –
o comércio e a circulação de produtos, os vários serviços são atividades que 
transformam o espaço e as condições de vida do lugar onde se desenvolvem.
Essas transformações podem ser observadas diretamente nas cidades, na 
zona rural, nas vias de acesso, na natureza, na vida cotidiana, complemen-
tando-se com pesquisas nas diversas fontes de dados e informações e con-
tando com o suporte dos conhecimentos da ciência geográfica.
Todos nós somos atingidos pelos efeitos dessas mudanças, e estudá-las é 
importante porque nos permite identificar os interesses e as formas de ação 
dos agentes produtivos e do poder público, tornando possível o nosso posi-
cionamento crítico como cidadãos e como agentes participantes da produção 
do espaço.
1.2 Primórdios do conhecimento geográfico
A geografia é uma ciência que foi sistematizada nos meados do século 
XIX, porém cabe aqui ressaltarmos que o conhecimento geográfico acompa-
nhou a humanidade desde seus primórdios por diversas razões, inicialmente 
pela sobrevivência, pela necessidade de fixação do ser humano ao solo, pela 
necessidade de defesa do grupo, até mais recentemente abrir os horizontes 
para o conhecimento de novas fronteiras comerciais.
O conhecimento por novas áreas e por novas civilizações teve como pro-
pulsor a busca por conhecimentos geográficos que culminaram com a siste-
matização da nova ciência.
1.2.1 A busca pela sobrevivência e 
o conhecimento geográfico
Grupos humanos sofreram essa transformação em momentos diferentes, 
com intensidade diversa, em diferentes locais. Já se discute, sob a ótica da 
antropologia, se a felicidade de um grupo depende do gado confinado e da 
terra domada. Frequentemente, imaginamos que o indivíduo fica mais tran-
quilo por ter uma plantação que lhe pertença em contraste com o “selvagem 
coletor”, que tem que sair “procurando” raízes ou frutos.
Na verdade, é de se acreditar que, na cabeça do coletor, raízes e frutas lá 
estão para serem colhidas, e não como um acidente, uma eventualidade. O 
– 13 –
O Conhecimento Geográfico
domínio que os coletores tinham do seu ambiente lhes dava um grau de segu-
rança bastante grande para saberem, em determinadas épocas do ano, quais 
os locais que ofereciam determinados alimentos, como constatamos até hoje 
na região amazônica e outras regiões do globo.
A coleta e a caça seriam atividades primitivas porque inseguras, enquanto 
a agricultura e a criação engendrariam forte sentimento de segurança mate-
rial. Devemos também observar que a agricultura, como atividade que tenta 
submeter a natureza, corre riscos naturais, como secas, pragas e enchentes. Por 
se constituir em riqueza concentrada, a agricultura atraía a cobiça de vizinhos 
mais preocupados em atividades de guerra do que de organização agrícola.
A passagem de um tipo de organização social “primitivo” para outro tipo 
de organização social mais evoluído ocorre em situações concretas que pre-
cisam ser estudadas particularmente, assim como o significado histórico das 
transições e onde elas de fato ocorreram. O que não se pode é simplesmente 
atribuir ao “primitivismo” de um grupo, ou ao seu caráter “pré-civilizado”, a 
não ocorrência da passagem de coletor a agricultor.
1.2.2 Agricultura como fator de 
evolução do conhecimento
Mesmo quando transumante1, o grupo agrícola tinha de se fixar num 
local tempo suficiente para que sua plantação produzisse ao menos uma vez. 
A área plantada ficava bem próxima do acampamento, propiciando trabalho 
com menos locomoção por parte das mulheres – as crianças relativamente 
pequenas eram utilizadas pelo grupo como força de trabalho. Assim, com 
menor necessidadede locomoção e as crianças na agricultura, e não tendo 
limites tão rígidos no suprimento alimentar, os indivíduos passaram a se 
reproduzir mais, causando um crescimento demográfico notável.
Esse crescimento demográfico denota uma necessidade maior de organi-
zação social e, em consequência, de evolução do conhecimento.
1 A transumância é o deslocamento sazonal de rebanhos para locais que oferecem 
melhores condições durante uma parte do ano. Pode ainda se referir às migrações sazonais 
dos pastores ou de populações inteiras que se dedicam à pastorícia, que acompanham os 
animais transumantes.
História do Pensamento Geográfico
– 14 –
O fato é que a economia simples de produção de alimentos provocou 
grande transformação no grupo. Surge um excedente que necessitava de 
armazenamento e que aos poucos foi desenvolvido, a partir de observação 
principalmente das condições climáticas, já que naquele período era fator 
determinante para todas as atividades, e da própria realidade ditada pela natu-
reza: os grãos produzidos ficam maduros de uma só vez numa certa época 
e não ao longo do ano, devendo ser consumidos lentamente, em refeições 
distribuídas pelo ano todo. Além disso, parte da colheita deveria servir de 
semente na próxima semeadura.
O grupo precisa mudar sua atitude com relação ao alimento: começa a 
planejar e a poupar; a construir silos, depósitos adequados para armazena-
mento dos grãos. Entre as construções mais antigas que sobreviveram até hoje 
estão os silos de Faium, no Egito, e Jericó, na Cisjordânia, comprovando uma 
mudança na organização econômica e na mentalidade dos grupos neolíticos2.
A produção de um excedente agrícola, somada à atividade criadora (o 
que equivaleria ao excedente de carne), serviria para atender às necessidades 
da comunidade em períodos mais duros, propiciando o crescimento da popu-
lação e o surgimento posterior de um comércio incipiente. No início da orga-
nização social, a comunidade é autossuficiente, uma vez que coleta ou produz 
todo o alimento de que necessita, utiliza matérias-primas da região para os 
equipamentos necessários (madeira e palha, argila e pedra, ossos e chifres) e 
fabrica suas próprias ferramentas e utensílios.
1.2.3 Surgimento das cidades e 
expansão do conhecimento
Vimos que, a partir da necessidade de sobrevivência, o ser humano busca 
e consegue, com restrições, naquele recorte histórico, utilizando os recur-
sos da natureza, imprimir a eles forma útil a vida humana. Então, o espaço 
2 Também conhecido como Nova Idade da Pedra e Idade da Pedra Polida, o Período 
Neolítico teve início por volta de 8000 a.C., após as mudanças climáticas que criaram me-
lhores condições de vida para os homens e animais. Com as geleiras, os portentosos animais 
foram extintos, dando lugar a uma fauna mais parecida com a que temos hoje, e rios, deser-
tos e florestas tropicais foram formados, o que possibilitou o contato humano mais intenso 
com a natureza.
– 15 –
O Conhecimento Geográfico
geográfico foi sendo visto como uma segunda natureza (cidades, agricultura, 
estradas instrumentos de trabalho, etc.).
Os mapas elaborados pelos povos da antiguidade tinham a função de 
delimitar fronteiras, localizar água, terras férteis, rotas de comércios, entre 
outros. Inicialmente, havia a concepção de que a Terra tinha a forma de um 
disco com massa continental que flutuava na água.
As primeiras civilizações da antiguidade desenvolveram atividades rela-
cionadas ao espaço natural que ocupavam. No vale dos grandes rios, como o 
Nilo e o Eufrates, a economia baseava-se na agricultura. Já os povos que viviam 
próximos ao mar, dedicavam-se à pesca, à navegação e ao comércio marítimo. 
Nesse sentido, os povos da antiguidade – egípcios, mesopotâmicos, fenícios, 
hebreus e persas – desenvolveram-se em geral às margens de grandes rios.
A partir da contribuição dos gregos, o conhecimento geográfico recebeu 
grande impulso na antiguidade. Tais contribuições decorrem do posiciona-
mento geográfico da Grécia, que possibilitou a navegação, o comércio e o 
domínio sobre os povos do mediterrâneo. Além do desenvolvimento social, 
político, econômico e cultural, dominavam grande parte da região do Mar 
Mediterrâneo, principalmente o leste, buscavam novos territórios para seu 
domínio e para ampliar seu comércio. Para tanto, era preciso que eles conhe-
cessem os aspectos naturais e físicos do ambiente, e com a observação de 
elementos naturais, como as chuvas, as cheias dos rios, os ventos, o céu, os 
gregos puderam detalhar certas características do espaço geográfico.
Os gregos realizaram estudos sobre sistemas agrícolas, sistemas de mon-
tanhas, técnicas de uso do solo, os rios com variados regimes, a distribuição 
das chuvas, a sucessão das estações do ano, o relacionamento entre campo e 
cidade, entre outros.
O conhecimento geográfico era produzido pelo senso comum e filo-
sófico, pois era possível a um filósofo realizar estudos de cunho geográfico, 
além de médicos, astronômicos e matemáticos e, naquele momento histórico, 
ainda não existiam as ciências de maneira fragmentada como atualmente.
A seguir estão listados alguns estudiosos da geografia grega.
 2 Tales de Mileto (640-558 a.C.) – além de ser filósofo, era consi-
derado matemático, astrônomo, físico e realizou estudos de inte-
História do Pensamento Geográfico
– 16 –
resses geográficos. Ele concebia a Terra como um disco boiando 
sobre a água.
 2 Anaxímenes de Mileto (610-547 a.C.) – filósofo e meteorologista, 
contribuiu para a distinção dos planetas e estrelas e nos princípios 
do geocentrismo.
 2 Hipócrates (460-350 a.C.) – para ele, era necessário localizar e 
conhecer cada lugar para fazer uma correta avaliação de hábitos, cos-
tumes e aspectos físicos de cada lugar, além de vários outros estudos.
 2 Heródoto (485-425 a.C.) – contribuiu bastante para o conheci-
mento geográfico, foi o primeiro a fazer um elo entre história e geo-
grafia, estudou as populações e suas características e é considerado 
o “pai da história”.
Figura 1.2 – Estrabão numa gravura do Século XVI
Estrabão, geógrafo e historiador 
grego, afirmou:
“A maior parte da geografia satis-
faz a necessidade dos Estados. A 
geografia em seu conjunto tem um 
vínculo com as atividades dos diri-
gentes. [...] Até mesmo um caçador 
terá mais êxito se conhecer a natu-
reza e a extensão do bosque e, além 
do mais, só aquele que conhece 
uma região pode escolher o melhor 
local para acampar, para fazer uma 
emboscada ou para dirigir uma 
campanha militar”.
Síntese
A atividade geográfica, desde suas origens mais remotas, sempre foi plu-
ralista, tanto em sua temática quanto em suas abordagens. Essa pluralidade, 
– 17 –
O Conhecimento Geográfico
apesar das dificuldades e perplexidades que, inevitavelmente, proporcionou 
para os praticantes da geografia, é um dos principais motivos da continui-
dade, da utilidade, da riqueza e do prazer ligados a essa atividade intelectual 
tão antiga.
Inicialmente, temos que todo o conhecimento nasce de uma necessidade 
de sobrevivência, já que na Pré-História esse era o principal objetivo daquelas 
sociedades ainda nômade. Depois de sua fixação no espaço, fato que teve a 
agricultura como grande contribuinte, as necessidades foram se modificando 
em razão das novas características que surgiram.
Nesse contexto, em relação ao conhecimento geográfico, convém lem-
brar ainda que a geografia como ciência e disciplina acadêmica se institucio-
nalizou no século XIX e foi se estabelecendo principalmente pela observação 
e pela dependência da natureza.
A organização do espaço e a distribuição de funções e divisão de tarefas 
foram sendo mais e mais fragmentadas de modo a servirem de base e exemplo 
para as sociedades que surgiram.
Buscando esse viés, houve a organização do espaço, que, somada ao 
conhecimento geográfico, produz o espaço geográfico, e o que vemos hoje é 
fruto de alteração e atuação dessa sociedade no espaço geográfico, agora mais 
intenso e muito mais dinâmico e assustadoramenteveloz, causando assim 
heterogeneidades no espaço, que causam crises e principalmente enorme dife-
rença social.
2
O Saber Geográfico 
e a Ação Humana
2.1 Elementos do saber geográfico
Ressaltamos inicialmente a necessidade de acompanhar a 
evolução dos elementos que compõem o saber geográfico. A dis-
cussão desde sua origem e sua evolução é mais que conveniente 
para que o futuro professor aplique seus conhecimentos e aborde os 
conteúdos de acordo com um espaço temporal adequado. Convém 
refletir sobre a seguinte citação:
o ponto culminante do estudo geográfico é a descrição da 
Terra em ordem geográfica. A chave para tal ordem está no 
conceito locacional de lugar. Enfatizar o relativo, o cultural, 
a experiência histórica da humanidade, em relação aos atri-
butos físicos da área, é fazer o estudo completo da geografia 
– o estudo dos lugares. (LUKERMANN, 1964, p. 172).
Nesse contexto, as proposições dos estudos geográficos se 
basearam em observação e relações que abordaremos mais adiante, 
porém alguns elementos ficaram marcados, e estes variam no tempo, 
mas são sempre importantes para a análise geográfica.
História do Pensamento Geográfico
– 20 –
2.1.1 Posições e contornos
O ser humano, ao longo de sua trajetória, enfrentou dificuldades cruéis 
para poder se situar e ter uma ideia da forma, dos contornos e da articulação 
entre os continentes, além da tentativa de conhecimento da Terra. Os nave-
gadores foram os principais descobridores dos limites das terras e dos litorais. 
Sobre seus barcos, guiados pelo fio condutor das costas, impulsionados pelos 
ventos e pelas correntes, esses homens empreenderam viagens e expedições 
em direção a terras míticas, imaginárias ou reais, e desenharam os contornos 
das costas. Depois, com seus barcos, mediram as distâncias, a duração das 
navegações e identificaram as posições topográficas.
A exploração de mares e rios, na tentativa de descobrir o surreal, para 
aquele momento histórico, proporcionou a descoberta de novos fenômenos 
naturais, como cachoeiras, novas civilizações e novas crenças, o que ajudou no 
desenvolvimento de técnicas de orientação e descrição. As viagens de explo-
ração por via terrestre – mais difícil – foram raras e tardias. As configurações 
de continentes e oceanos necessitavam da resolução de três problemas: 1) o 
conhecimento da forma da Terra; 2) o conhecimento de suas dimensões; 3) a 
definição das coordenadas de um lugar. A esfericidade da Terra foi admitida, 
e suas dimensões foram medidas desde a Antiguidade. Em suma, orientar-se 
constitui uma das bases de todo saber geográfico.
2.1.2 Identificação e registro dos lugares
Com o descobrimento de novas terras e a curiosidade de conhecer outras, 
seja para conquistar ou explorar, é despertada a necessidade de registrar terras 
a conquistar, impérios a dominar, riquezas a se apropriar, populações para 
descobrir, rios e fontes, montanhas e lagos entre outros.
O ser humano se sentiu instigado a conhecer, e assim a variação e a escala 
tenderam a aumentar, ou seja, variar em razão da distância e do afastamento 
dos lugares que se quer conhecer, e, nesse caso, conhecer significa criar itinerá-
rios, que são identificados e registrados pela observação dos traços da topogra-
fia próxima e longínqua, memorizar cores da vegetação, nuanças do relevo etc. 
Para melhor inventariar e identificar, primeiramente, fixaram-se os fenômenos 
mais remarcáveis ou que fornecem os melhores marcos e sinais: o traçado dos 
rios, os obstáculos montanhosos, os desfiladeiros, os vulcões, os lagos, os ani-
– 21 –
O Saber Geográfico e a Ação Humana
mais e também as cidades. Além disso, outros elementos podem ser elenca-
dos, como as relações de troca, tipos de organização social, religiosidade etc. 
É importante frisar que um bom inventário leva em consideração também os 
lugares habitados, rotas, construções religiosas, riachos, paradas etc.
As cidades, os portos, as redes de rotas representam nós e linhas de fun-
cionamento das sociedades humanas e são reveladoras de dados essenciais. 
Lembrando que os lugares são compostos principalmente por sua caracterís-
tica e pela sua denominação – a toponímia (o estudo da origem do nome dos 
lugares) é uma etapa indispensável do conhecimento da superfície da Terra. 
Todo lugar nomeado pelo ser humano é importante pelas suas características 
termo. Nomear o local ou o terreno e cobri-lo de uma camada de nomes 
transforma o conhecimento dos lugares em saber coletivo.
Desde o instante em que os lugares têm um nome, eles são integrados 
a uma grade social de localização. Seu conhecimento geográfico deixa de ser 
fechado no círculo estreito das pequenas comunidades e se socializa para além 
do local.
Ouvimos e lemos sobre vilarejos, cidades, montanhas, reinos que jamais 
vimos e que não veremos nunca por diversos motivos, sejam financeiros ou 
simplesmente por não atraírem a nossa curiosidade. Além do que é pessoal-
mente conhecido, a existência de uma esfera muito mais ampla e que existe 
apenas como um universo de palavras, tem efeitos múltiplos: ela suscita, para 
alguns, uma fascinação por aqueles lugares dos quais ouviram falar; alimenta 
sua imaginação; faz nascer uma necessidade de evasão. A camada de nomes 
que constitui a toponímia alarga a esfera dos deslocamentos e das trocas para 
além do que foi percorrido pelo indivíduo.
2.1.3 Localização e distribuição
Se o saber geográfico descreve, então, por conseguinte, também localiza, 
ou seja, uma coisa está atrelada a outra, o conhecimento se particulariza por 
sua primazia com os dados de localização. É importante salientar que, além 
de coletados por meio de critérios rigorosos, é necessário que eles sejam car-
tografados. O que o geógrafo procura ver na paisagem não é a simples loca-
lização deste ou daquele objeto geográfico particular (fazenda, cidade, capela 
e outros), mas a distribuição de todos os objetos de uma mesma espécie (as 
História do Pensamento Geográfico
– 22 –
casas, as cidades, as vilas, a vegetação, as florestas) e as diversas fisionomias de 
conjunto que revelam o meio.
2.1.4 Relação ser humano – natureza
Durante o decorrer dos séculos e no desenvolvimento das civilizações, 
foi e ainda é normal que, inseridos em meios naturais diversos, os seres 
humanos tivessem de retirar desses meios o seu sustento, os materiais para 
construir suas casas, as matérias-primas para sua produção, entre outras 
coisas, bem como que se interrogassem sobre as influências desse meio no 
seu comportamento.
2.1.5 Saber geográfico como totalizador 
da superfície terrestre
No século XIX, com o advento do Mercantilismo e o desenvolvimento 
de técnicas1 que posteriormente se transformaram em tecnologia2, já se 
conhecia e se dispunha de registros sobre superfície da Terra, que podiam 
proporcionar uma visualização de sua totalidade e também uma ideia geral 
de sua dinâmica espacial.
Além das descrições de lugares particulares, de inventários sobre as 
diversas partes da Terra, o saber geográfico segue na direção de compreender 
os conjuntos de elementos naturais e humanos e a solidariedade entre seus 
componentes, numa dimensão totalizante.
2.2 Princípios da geografia
Antes de prosseguirmos, é interessante que entendamos como se estuda 
e como se consolidou a ciência geográfica a partir de autores clássicos e que 
ajudaram a concretizar a geografia como ciência, aceita em toda comunidade 
1 Conjunto de procedimentos ligados a uma arte ou ciência. No caso a navegação 
e a cartografia, foram evoluindo a ponto de ser possível um conhecimento aprofundado dos 
lugares e da navegação.
2 Conhecimento técnico e científico e a aplicação deste por sua transformação no uso 
de ferramentas, processos e materiais criados e/ou utilizados a partir de tal conhecimento.
– 23 –
O Saber Geográfico e a Ação Humana
científica, é o que chamamos de princípios da geografia: princípio da exten-
são, princípio da geografia geral ou da analogia, princípio da causalidade, 
princípio da conexidadee princípio da atividade.
No século XIX, depois do surgimento da geografia como ciência, era 
necessária a fixação de princípios metodológicos, que confeririam à ela o 
devido caráter científico. Os princípios formulados são os seguintes.
 2 O princípio da extensão, concebido por Friedrich Ratzel (1844-
1904), reza que é preciso delimitar o fato a ser estudado, locali-
zando-o na superfície terrestre.
 2 O princípio da analogia, também chamado geografia geral, foi 
exposto por Karl Ritter (1779-1859) e Paul Vidal de La Blache 
(1845-1918). Esses autores mostraram que é preciso comparar o 
fato ou área estudada com outros fatos ou áreas da superfície terres-
tre, em busca de semelhanças e diferenças.
 2 O princípio da causalidade, formulado por Alexander von Hum-
boldt (1769-1859), diz respeito à necessidade de explicar o porquê 
dos fatos.
 2 O princípio da conexidade ou interação, apresentado por Jean Bru-
nhes (1869-1930), segundo o qual os fatos não são isolados, e sim 
inseridos num sistema de relações, tanto locais quanto interlocais.
 2 O princípio da atividade, formulado também por Brunhes, afirma 
que os fatos têm caráter dinâmico, mutável, o que demanda o 
conhecimento do passado para a compreensão do presente e previ-
são do futuro.
O objeto material da geografia é a Terra, a superfície terrestre, e seu 
objeto formal são as relações aí processadas. Com outras palavras, o objeto 
formal da geografia é o estudo das relações locais de fatores que diferenciam 
um lugar de outro, e das relações entre os lugares ou áreas.
A seguir, temos um exemplo da aplicação dos princípios da geografia 
retirado de uma aula da Professora Carmen Rivas, do Colégio Nossa Senhora 
das Mercês, na qual é abordado com padrão de excelência didática os princí-
pios geográficos.
História do Pensamento Geográfico
– 24 –
Exemplo aplicação príncípios. Professora Carmen Rivas do Colégio Nossa 
Senhora da Mercês.
2.3 Transformação do espaço 
pela atividade humana
As transformações que ocorrem na natureza sempre acontecem em rit-
mos distintos ao longo do tempo, seja pelas próprias ações das forças inter-
nas ou externas de sua própria dinâmica, seja pela ação humana a partir do 
momento em que o indivíduo consegue se apropriar do conhecimento e 
aplicá-lo a seu favor. O ser humano habita a Terra há cerca de 160 milhões de 
anos, tendo alterado a fisionomia do planeta de maneiras diferenciadas. Tais 
alterações resultam de criação, incorporação, difusão e alteração dos meios 
e instrumentos de extração e produção de riquezas, responsáveis por efetuar 
o estudo da complexidade das relações entre o indivíduo e o espaço vivido.
O espaço geográfico é um conceito muito amplo, pois requer para sua 
análise outros conceitos ou categorias analíticas, dos quais alguns já foram 
relacionados e definidos. O território é uma das noções que auxiliam na aná-
– 25 –
O Saber Geográfico e a Ação Humana
lise do espaço geográfico. Ele também é amplo e diverso e, em alguns casos, 
muito semelhante ao conceito de espaço geográfico.
As necessidades inerentes ao ser humano de sobreviver, num primeiro 
momento, criaram possibilidades de melhorar suas próprias condições de 
bem-estar e conforto. Elas foram se materializando e implementando com 
a dinâmica das condições objetivas da produção que, na medida em que se 
adaptam ou se concedem condições de melhoria, proporcionam um alarga-
mento das necessidades atreladas a outros bens e consumos, estabelecendo 
uma relação de reciprocidade, em que se perde a dimensão do que é real-
mente necessário. Assim, sobrevivência institui-se em um intenso descobri-
mento de saberes e observações para que se atue no espaço e este seja um 
elemento dialógico entre a sociedade e a natureza.
O indivíduo, nesse processo de “produção” das condições de sua sobrevi-
vência, participa cada vez mais ativamente e, atualmente, como fator princi-
pal e intenso na relação ser humano-trabalho-técnica-natureza. O indivíduo 
passa a transformar a natureza a partir de um conjunto de necessidades que 
inicialmente eram individuais, depois coletivas e no atual momento parece 
haver uma força dominante economicamente que sobrepõe as anteriores.
O trabalho, uma das forças motrizes no processo, vai se especializando, 
separando o ser humano da natureza. “A ação do homem deixa de estar sub-
metida à natureza, à medida que evolui com o meio natural circundante. 
Alguns instrumentos passam a ser descobertos e apropriados, sua submissão 
à natureza vai diminuindo, o espaço começa a ser produzido.” (ROSSINI, 
1996, p. 2)
O trabalho institui-se como uma ferramenta de transformação da natu-
reza, cuja sofisticação técnica acelera a diferenciação e as especializações entre 
as funções dos homens na relação com a natureza.
O trabalho, suas conexões e seus produtos fazem surgir condições de 
sobrevivência. O trabalho pode ser definido como a ação humana articulada a 
estratégias refletidas para transformar objetos em outros objetos ou a primeira 
natureza em outra natureza.
A expressão “o ser humano conhece a natureza para dominá-la” assume 
relevância em uma sociedade e, desta feita, podemos considerar momen-
História do Pensamento Geográfico
– 26 –
tos em que houve uma ação mais direta do ser humano sobre a natureza, 
enquanto em outros o processo de mediação técnica se tornou mais relevante.
Assim, temos que compreender o trabalho em um processo que rela-
ciona desenvolvimento técnico e força humana intervindo na transformação 
da natureza. Quanto mais desenvolvimento técnico, menor a ação direta do 
ser humano, quanto menor o desenvolvimento técnico, maior sua ação sobre 
a natureza. Podemos, então, dizer que o sentido da relação ser humano-natu-
reza não se define a priori, mas se revela no contexto histórico de sua produ-
ção. É dessa relação que emerge o meio geográfico ou espaço geográfico.
2.4 Relação entre ser humano e natureza 
como princípio do espaço geográfico
Nas mais diversas situações ou discussões em que estamos envolvidos, 
temos o conceito de espaço: meu espaço, nosso espaço, espaço econômico, 
social, entre outros, fazem parte de ambientes acadêmicos, sociais e do coti-
diano. O espaço parece ser transversal a diferentes experiências de vida. Nessa 
perspectiva, a ciência geográfica também dispõe de sua especificidade com 
relação ao espaço.
A geografia como ciência está preocupada em problematizar a relação 
ser humano-natureza, mediatizada pelo trabalho. Nessa relação, o indivíduo 
desenvolve ações/intervenções no meio, alterando as feições pré-existentes, 
criando novas formas espaciais. Dessa relação, emerge a singularidade do 
espaço geográfico. De acordo com Milton Santos (1978, p. 119), “O espaço 
geográfico é a natureza modificada pelo homem através do seu trabalho”. A 
concepção de uma natureza natural, onde o indivíduo não existisse ou não 
fosse o seu centro, cede lugar a ideia de uma construção permanente da natu-
reza artificial, sinônimo de espaço humano.
[...] O espaço por suas características e por seu funcionamento, pelo 
que ele oferece a alguns e recusa a outros, pela seleção de localização 
feita entre as atividades e entre os homens, é o resultado de uma prá-
xis coletiva que reproduz as relações sociais, [...] o espaço evolui pelo 
movimento da sociedade total. (SANTOS, 1978, p. 171)
A partir da definição apresentada, podemos compreender a relação 
intensa entre natureza e ser humano na produção do espaço geográfico, a 
– 27 –
O Saber Geográfico e a Ação Humana
interdependência entre eles e a influência de acordo com as limitações e obje-
tivos. Em qualquer época e lugar, o espaço humano é conhecido como o 
resultado da produção que se realiza de acordo com uma dada organização 
social, como vemos na figura 2.1.
Figura 2.1 – Espaço urbanizado
Fonte: Shutterstock.com/Alejsabdar Todorovic 
Produzir significa tirar da natureza os elementos indispensáveis à repro-
dução da vida. A produção, pois, supõe uma intermediação entre o ser 
humano e a natureza pormeio das técnicas e dos instrumentos de trabalho 
inventados para o exercício desse intermédio. (SANTOS, 1978, p. 161-162).
O espaço deve ser considerado como uma totalidade, a exemplo da 
própria sociedade que lhe dá vida [...] o espaço deve ser considerado 
como um conjunto de funções e formas que se apresentam por pro-
cessos do passado e do presente [...] o espaço se define como um 
conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do 
presente e por uma estrutura representada por relações sociais que se 
manifestam através de processos e funções (SANTOS, 1978, p. 122).
O espaço geográfico é, portanto, uma produção humana, produto do tra-
balho humano, modificando a natureza. Apresenta uma feição própria e uma 
História do Pensamento Geográfico
– 28 –
estrutura organizacional que diz respeito às condições em que ocorre a relação 
do indivíduo com a natureza e o estágio em que se encontra a sociedade em 
termos de conhecimento, técnicas e formas de interação socioespacial.
2.5 Conceitos e categorias da geografia
A geografia defronta-se assim com a tarefa de analisar o espaço geográfico 
como uma categoria para compreender a realidade. Com essa abordagem, a 
geografia confere ênfase ao estudo do meio como resultante da ação do sujeito 
social responsável pela construção do lugar, da paisagem e do território.
Considerando o ensino da geografia na realidade em que vivem os 
alunos, é importante que eles sejam estimulados a considerar as diferentes 
ações sociais e culturais, sua dinâmica social e espacial, os impactos naturais 
que transformam o mundo e as marcas que identificam os diferentes luga-
res. Conhecimentos oriundos da experiência pessoal dos alunos, do senso 
comum, da produção de especialistas ou da pesquisa sobre tecnologia e ciên-
cia contribuem para essa leitura processual, que propicia a construção e a 
reconstrução dos conhecimentos geográficos. Nesse sentido, cabe ao profes-
sor orientá-los no processo de reflexão, que envolve noções e conceitos cen-
trais da geografia, como lugar, região, território, escala geográfica, paisagem e 
mobilidade socioespacial.
O conceito de espaço geográfico está intimamente ligado à relação entre 
natureza e sociedade. Na busca dessa articulação, a geografia tem que tra-
balhar, de um lado, com os elementos e atributos naturais, procurando não 
só descrevê-los, mas entender as interações existentes entre eles, e, de outro, 
verificar a maneira pela qual a sociedade está administrando e interferindo 
nos sistemas naturais. Para perceber a ação da sociedade, é necessário aden-
trar em sua estrutura social, procurando apreender o seu modo de produção 
e as relações socioeconômicas que estão mais intensas no momento e que na 
geografia e na sociedade atual são muito dinâmicas.
Quando nos deparamos com o que chamamos de lugar, temos que 
levar em consideração as percepções, as vivências e a memória dos indivíduos 
e grupos sociais, uma vez que estas impulsionam a construção de projetos 
individuais e coletivos, que transformam os diferentes espaços em diferentes 
– 29 –
O Saber Geográfico e a Ação Humana
épocas. Essa leitura incorpora o movimento e a velocidade, os ritmos e a 
simultaneidade, o objetivo e o subjetivo, o econômico e o social, o cultural 
e o individual, propiciando ao aluno condições de construir e reconstruir as 
noções e os conceitos de lugar, paisagem, região, território. “[...] lugar signi-
fica muito mais que o sentido geográfico de localização. Não se refere a obje-
tos e atributos das localizações, mas a tipos de experiências e envolvimento 
com o mundo, a necessidade de raízes e segurança.” (RELPH, 1979, p. 156)
A leitura da espacialidade da sociedade inclui o ponto de referência para 
a estruturação dos conteúdos, que é, sem dúvida, o conjunto de noções e 
conceitos necessários para desvendar geograficamente a realidade.
Sob essa interpretação, o lugar é diferente do espaço. O primeiro é 
fechado, íntimo e humanizado, ao passo que o segundo seria qualquer porção 
da superfície terrestre, ampla e desconhecida. Assim, o lugar está contido no 
espaço. A categoria lugar encerra espaços com os quais os indivíduos têm 
vínculos afetivos, onde se encontram as referências pessoais e os sistemas de 
valores que induzem a diferentes formas de perceber e construir a paisagem e 
o espaço geográfico.
Na perspectiva de lugar e singularidade, o lugar é resultante, de um lado, 
de características históricas e culturais inerentes ao processo de formação e, de 
outro, da expressão da globalidade.
Pedagogicamente, o conhecimento geográfico só pode ser processado 
quando os alunos localizam, têm acesso e utilizam as informações acumu-
ladas sobre diferentes lugares: ao desenvolver as habilidades de comparar, 
analisar, interpretar e sintetizar, tornam-se capazes de elaborar um discurso 
próprio da geografia, utilizando a oralidade, a escrita ou quaisquer linguagens 
que representem os lugares, os territórios.
No passado, saber sobre um lugar era memorizar uma lista de elemen-
tos que o distinguiam. Uma região, segundo Milton Santos (1997, p. 133), 
“era sinônimo de territorialidade absoluta de um grupo, com suas característi-
cas de identidade, exclusividade e limites, dada a presença única desse grupo, 
sem outra mediação. A diferença entre essa área se devia a essa relação com o 
entorno”. Hoje, cada vez mais, saber sobre o lugar é compreender como ele 
dá base às relações globais e com elas interage – o planeta, em seu momento 
histórico, é a unidade; os lugares dão a marca da diversidade. Muda o mundo 
História do Pensamento Geográfico
– 30 –
e mudam os lugares: os acontecimentos mais distantes podem provocar trans-
formações no espaço local de vivência dos alunos. Desse modo, estudar o lugar 
busca entender seu entorno, conhecer e desvelar alguns aspectos da realidade 
mais imediata, criando condições para atuar sobre ela e também modificá-la.
O espaço geográfico pode ser recortado a partir de diferentes critérios, 
de acordo com o ponto de vista do geógrafo e dos temas em estudo, como já 
vimos anteriormente, a visão do professor ou do geógrafo deve definir o que 
se deseja expressar na abordagem do espaço.
No que tange a região ou à regionalização é a delimitação de conjuntos 
ou parcelas do território que apresentam alguma identidade (física, política, 
cultural, econômica, diferentes sistemas técnicos, científicos e informacio-
nais). Portanto, ao planejar o trabalho e decidir sobre o estudo de um lugar, 
uma região, o critério de divisão espacial estabelecido deve contribuir para o 
entendimento de um tema, um problema.
Convém ressaltar que a região é um conceito mais complexo, que foi 
evoluindo juntamente com a geografia e será estudado separadamente por 
essa questão.
Quando se escolhe uma região a ser estudada, é possível estabelecer seus 
fundamentos políticos de controle e gestão. Ao construir a rede de influên-
cias, é possível refletir sobre quem domina a organização espacial desse lugar 
e como isso ocorre.
Já o conceito de território está envolvido com relações de poder e posse. 
O termo pode ser usado tanto em âmbito nacional quanto associado a outras 
escalas, desde a local (de rua e bairro) até a mundial, isso porque a delimitação 
do território está assentada nas relações de poder, domínio e apropriação nele 
contidas. O território configura-se como uma porção concreta do espaço geo-
gráfico em que se revelam as diferenças de condições ambientais e de vida da 
população; pode ser demarcado, é construído, desconstruído ou reconstruído 
ao longo do tempo – sejam séculos, décadas ou anos, até meses, semanas ou 
dias. Para Santos (1996, p. 75-76):
Seja qual for o país e o estágio do seu desenvolvimento, há sempre 
nele uma configuração territorial formada pela constelação de recur-
sos naturais, lagos, rios, planícies, montanhas e florestas e também de 
recursos criados: estradas de ferro e de rodagem, condutos de toda 
– 31 –
O Saber Geográfico e a Ação Humana
ordem, barragens,açudes, cidades, o que for. É esse conjunto de todas 
as coisas arranjadas em sistema que forma a configuração territorial 
cuja realidade e extensão se confundem com o próprio território de 
um país. Tipos de floresta, de solo, de clima, de escoamento, são 
interdependentes, como também o são as coisas que o homem super-
põe á natureza. Aliás, a interdependência se complica e completa jus-
tamente porque ela se dá entre as coisas que chamamos de naturais e 
as que chamamos de artificiais.
Por exemplo, ao selecionar o território nacional como escala de estudo de 
um projeto escolar, muitos geógrafos utilizam mapas com as regiões estabeleci-
das pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cujas fronteiras 
são unidades administrativas (os estados). Nesses mapas, o território está orga-
nizado e dividido em cinco regiões, como se cada uma delas tivesse caracterís-
ticas físicas, políticas, culturais e econômicas semelhantes. Esse é o modelo de 
divisão regional encontrado na maioria dos livros didáticos.
3
Conhecimento 
Geográfico e 
Organização Social
A organização social é um pressuposto para o desenvolvi-
mento. Colocar-se à margem da comunidade ou, ainda, à margem 
da Terra e de seus habitantes, é ficar renegado à fome ou à soli-
dão. Assim, normas de convivência social foram sendo criadas em 
favor do grupo a que determinado elemento pertencia: a sociedade 
que premiava o membro que demonstrava bom comportamento, e 
punia aquele que falhava por meio de sanções que o condenavam a 
viver fora da estrutura de produção.
História do Pensamento Geográfico
– 34 –
3.1 A urbanização como pressuposto para 
a evolução do conhecimento geográfico
A vida nas grandes cidades modernas estabelece uma distância enorme 
entres seus habitantes e a natureza. É comum aos professores darem às crian-
ças da pré-escola um grão de feijão deitado sobre um pedaço de algodão 
molhado para que o aluno tenha ao menos uma ideia sobre o ciclo de vida 
vegetal – de outra forma, eles poderiam pensar que vegetais são fabricados em 
sacos plásticos ou caixas de cores atraentes. O fato é que o habitante de uma 
cidade recebe sua formação em razão do mundo que o espera, não de uma 
ligação com a natureza orgânica.
Estruturas são formas, materiais e imateriais, de organização social 
(habitações, edificações, cidades, redes rodoviárias, portos, aeroportos, cami-
nhos, formas de governo, leis, religiões, cultura etc.). Elas são distribuídas de 
maneira irregular, no entanto, compõem um sistema de organização espacial 
cujas causas e consequências a geografia tenta entender. Lembramos ainda 
que a geografia se preocupa também com a irregularidade da distribuição dos 
fenômenos físicos e relaciona-os às estruturas sociais.
Com pouco contato com a natureza, o indivíduo pode ter sérios proble-
mas ao se perder em um ambiente natural. Por não conhecer as características 
desse habitat, não reconhece árvores frutíferas e raízes que podem servir de 
alimento; é incapaz de matar pequenos animais, improvisando armas; não 
sabe tecer com fibras de piteiras e palmeiras uma proteção adequada; sem 
instrumentos industriais, perde o senso de localização, não encontrando o 
caminho de volta, mas é comum em virtude da vida eminentemente urbana.
A natureza foi dominada pelos humanos como grupo, não indivíduos 
isolados. Isso nos afasta de nossos primórdios, pois nos denominamos reis dos 
animais, o que nos dá a falsa sensação de que cada um de nós é capaz de per-
petrar as proezas que apenas alguns conseguem realizar; somos urbanos por 
excelência e dependentes do agricultor que planta e do boia-fria que colhe; do 
engenheiro que projeta, do operário que fabrica e do comerciante que vende; 
dependemos da prospecção de petróleo no Golfo Pérsico, da água domada 
em Itaipu, da lenha das florestas dizimadas pelo país todo.
– 35 –
Conhecimento Geográfico e Organização Social
Estamos acostumados, e não é de se estranhar que nossa locomoção está 
cada vez mais dependente de veículos, como ônibus e trens. Nossos olhos 
são vídeo da televisão, nosso horizonte são os postais que amigos nos enviam 
após suas viagens pasteurizadas. Por tudo isso, quando falamos de revolução 
urbana, não se pode pensar em cidades como as nossas, nem em humanos 
com valores semelhantes aos que nós desenvolvemos aqui. Não há como ide-
alizar os indivíduos conscientemente, decidindo-se por fundar uma cidade, 
principalmente quando nos referimos à gênese das cidades – é nesse aspecto 
que encontramos o desenvolvimento do conhecimento geográfico.
Não existiam objetivos determinados para a sociedade que se apresenta 
atualmente. Não houve consciência individual ou de grupo que tenha levado 
pessoas a plantar os alicerces de agrupamentos urbanos no Egito ou na Meso-
potâmia, ou que, a partir de modelos e com objetivos bem determinados, 
levou-as a criar as bases de futuras cidades pelas diversas civilizações, basear-se 
no domínio da natureza e, consequentemente, desenvolver conhecimentos, 
entre os quais podemos destacar o conhecimento geográfico.
Retrocedendo 5 ou 6 
mil anos, não havia refe-
rências ou parâmetros, e a 
organização social e urbana 
(nomenclatura utilizada 
atualmente) decorre de 
uma série de circunstâncias 
sociais tão complexas que 
até hoje não há unanimi-
dade entre os pesquisadores 
a respeito do tema. Aparen-
temente, os locais coinci-
dem: a agricultura inicia-
-se no Oriente Próximo, a 
organização espacial – e em 
consequência a urbaniza-
ção – também.
Figura 3.1 – Crescente Fértil
Fonte: www.historiadigital.org
História do Pensamento Geográfico
– 36 –
Quando nos referimos a um provável início da civilização, o foco se 
volta para o que se denomina de Crescente Fértil1 como local onde as revolu-
ções agrícola e urbana teriam se realizado.
Se houvesse uma relação entre uma revolução e outra, por que a organi-
zação não teria ocorrido com todos os produtores de alimento do Crescente 
Fértil (figura 3.1)? Podemos tentar elencar algumas possibilidades, como 
localização, distância ou comunicação, que em nossos dias são recursos extre-
mamente rápidos ou quase que instantâneos (como é a comunicação), mas 
naquele momento histórico não existiam ou ainda não estavam sistematiza-
dos. Isso nos faz refletir sobre o conhecimento geográfico nesse contexto.
Qual o motivo pelo qual, em alguns lugares, as aldeias se transformaram 
em cidades e, em outros, permaneceram sem evolução durante séculos ou 
por muito tempo em relação 
às demais? O que fez com que 
a urbanização tenha sido um 
privilégio, ao menos inicial, 
do sul da Mesopotâmia e do 
Vale do Nilo? Uma das hipó-
teses é que as encostas das 
montanhas e os vales podem 
ser cultivados sem grande 
dificuldade, facilitando 
sobremaneira a instalação de 
aldeias e núcleos que atual-
mente chamamos de urbanos.
No caso da Síria e da 
Palestina, há que se consi-
derar a terra fértil e a chuva 
de inverno como elemen-
tos favoráveis ao plantio e as 
montanhas razoavelmente 
1 Crescente Fértil é uma região que compreende os atuais estados de Palestina, Israel, 
Jordânia, Kuwait, Líbano e Chipre, bem como partes de Síria, Iraque, Egito, do sudeste da 
Turquia e sudoeste do Irã. Irrigada pelo Jordão, pelo Eufrates, pelo Tigre e pelo Nilo, a região 
cobre uma superfície de cerca de 400 mil a 500 mil km².
Figura 3.2 – Curso do Rio Nilo na África
Fonte: Jeff Schmaltz / NASA / GSFC
– 37 –
Conhecimento Geográfico e Organização Social
verdejantes como local adequado ao pastoreio. Há várias citações na bíblia 
sobre pastores, vinhas, tâmaras, ou seja, áreas de agricultura e pastoreio. Local 
mais adequado para a implantação da agricultura e seus iniciantes produto-
res, a extensão larga de terras permitiria ainda pequenos deslocamentos por 
parte dos grupos por ocasião do esgotamento do solo. Já no sul do Egito e da 
Mesopotâmia, as condições geoclimáticas eram (e continuam sendo) bastante 
diferentes. A chuva, nesses locais, é praticamente inexistente. A fertilidade da 
terraapós as cheias é excelente.
Conforme teria elencado Heródoto e quase todos os manuais, o Egito 
é uma dádiva do Nilo, e na figura 3.2, vemos seu trajeto e sua desemboca-
dura em forma de Delta. De fato, o rio, anualmente, em fins de setembro e 
início de outubro, inundava suas margens, depositando nelas camada de solo 
novo, rico em matéria orgânica e sedimentos que funcionavam como adubo 
natural para a agricultura. Aos poucos foram construídos diques e reserva-
tórios para controlar a água, soltando-a lenta e adequadamente, de modo 
a não encharcar em excesso 
após as cheias nem permitir 
que a terra perdesse o húmus 
vários meses depois.
Com os Rios Tigre e 
Eufrates, na Mesopotâmia, 
o processo era diferente, 
mas o principio era seme-
lhante. Por causa de irre-
gularidade do degelo nas 
vertentes, as cheias eram 
surpreendentes e intempes-
tivas, às vezes destruidoras. 
A extrema fertilidade das 
terras às suas margens (pelo 
menos ao sul de Bagdá) 
requeria uma defesa contra 
a imprevisibilidade dos rios, o que era obtido com a construção de valas que 
conduziam as águas para onde fosse necessário, graças à topografia plana e 
aos canais e braços naturais.
Figura 3.3 – Esboço do Rio Nilo na civilização 
egípcia
Fonte: extraído do vídeo Egito: Dádiva do Nilo. 
Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=doJGjkv1QsM>
História do Pensamento Geográfico
– 38 –
Esses povos foram os primeiros a introduzir a forma de comunicação 
escrita, em plaquetas de argila cozida, e também reproduziam lugares por 
meio de símbolos gráficos, dando origem aos mapas – algumas dessas peças 
foram encontradas em escavações arqueológicas, representando de modo pri-
mitivo a Babilônia, com seus estados e cidades.
Os mapas desse período foram responsáveis pela base do sistema carto-
gráfico atual, sendo ultrapassados apenas no século XVI, com o advento das 
grandes navegações e a melhoria considerável dos documentos cartográficos.
O mapa mais antigo conhecido em nossos dias foi descoberto nas esca-
vações das ruínas da cidade de Ga-Sur (figura 3.4), ao norte da Babilônia. 
Nesse mapa de aproximadamente sete centímetros, aparece o vale de um 
rio, com montanhas de cada lado, representadas à semelhança de escamas de 
peixe, simbolizando a maneira precária com que aqueles povos representavam 
o relevo terrestre, e ainda círculos trazendo pontos cardeais em caracteres 
cuneiformes (MOURA FILHO, 1993).
Com relação a esse mapa, encontrado na região da Mesopotâmia, des-
coberto próximo à cidade de Harran, no nordeste do Iraque atual, Oliveira 
(1988, p. 17) acrescenta: “É, a propósito de origem babilônia, o mais antigo 
mapa que o mundo conhece. Trata-se de um tablete de argila cozida com a 
representação de duas cadeias de montanhas e, no centro delas, um rio, pro-
vavelmente o Eufrates”.
Figura 3.4 – Mapa de Ga-Sur original e reprodução gráfica baseada em sua leitura
Fonte: Oliveira (1993, p. 17) e Raizs (1969, p. 9) in Scalzitti (2011).
– 39 –
Conhecimento Geográfico e Organização Social
Na Grécia antiga, em razão da efervescência das ideias dos pensadores, 
alguns precursores vinculados direta ou indiretamente aos estudos do uni-
verso, do cosmos, visão de mundo, fenômenos e processos naturais merecem 
destaque pelas suas contribuições. A expansão política, comercial e marítima 
dos povos do mediterrâneo (Mesopotâmia, Fenícia, Egito) levou à elaboração 
de mapas marítimos e, sobretudo, à descrição de lugares e povos. Tais descri-
ções eram denominadas périplos. O périplo mais antigo data do século VII 
a.C. e foi feito por marinheiros fenícios a serviço do faraó egípcio.
3.2 Sistematização do 
conhecimento geográfico
A geografia, ou melhor, o conhecimento geográfico, estava inicial-
mente distribuído nos diversos conhecimentos, como astronomia, medicina 
e matemática. A partir dos gregos, os estudos geográficos começaram a ser 
sistematizados em estudos que engendravam mais de um conhecimento, e a 
necessidade de se conhecer novos lugares e interpretá-los, além da curiosidade 
natural do homem, fez evoluir o conhecimento geográfico.
3.2.1 Contribuição 
dos gregos
A palavra geografia foi 
criada pelos gregos, que ori-
ginalmente se preocuparam 
com a sistematização desse 
conhecimento e efetiva-
mente estudaram a descrição 
da Terra. O primeiro mapa 
grego de que se tem notícia 
foi elaborado por Anaxi-
mandro de Mileto (650-615 
a.C.), que viajou e escreveu 
relatos das suas viagens. Dis-
cípulo de Tales de Mileto, é 
Figura 3.5 – Gnômon ou relógio do Sol
Fonte: http://www.silvestre.eng.br/astronomia/
criancas/orientasol.
História do Pensamento Geográfico
– 40 –
provável que tenha sido o inventor do gnômon2 (figura 3.5), instrumento que 
serve para medir a altura do Sol.
O segundo mapa da Antiguidade foi elaborado por Hecateu de Mileto 
(figura 3.6), que viajou por toda parte do mundo conhecido, escreveu a Des-
crição da Terra, obra ilustrada por um mapa onde a Terra é representada por 
um disco com água em sua volta.
Figura 3.6 – Mapa Grego com o mundo conhecido
Fonte: www.mapas-historicos.com.
Outros documentos importantes dessa época são os poemas épicos Ilí-
ada e Odisseia, de Homero, conhecidos e apreciados por seu valor literário e 
pelas informações geográficas contidas na descrição dos lugares distantes e das 
longas viagens marítimas.
Podemos perceber que existem dois pontos de vista da geografia, duas 
são as preocupações que fundamentam os conhecimentos geográficos na 
Antiguidade, um relacionado com a física terrestre – forma, dimensão, posi-
2 Objeto (estilete, coluna etc.) que, pela direção ou pelo comprimento de sua sombra 
no plano horizontal, indica a altura do Sol ou da Lua acima do horizonte e, por conseguinte, 
a hora do dia.
– 41 –
Conhecimento Geográfico e Organização Social
ção sideral – e outra com a descrição das diferenças da constituição da superfí-
cie terrestre e com as diversas culturas que nela se instalam. Essas duas dimen-
sões dão origem a dois pontos de vistas: o da geografia geral e o da geografia 
regional.
Os romanos foram menos preocupados com o caráter científico da car-
tografia e mais voltados para suas utilidades práticas. Eles elaboravam mapas 
com fins administrativos e militares, que eram utilizados para cobrança de 
impostos e para o aumento do seu império.
Eles não davam importância à visão esférica que os gregos tinham da 
Terra, pois os mapas gregos antigos já lhes serviam para traçar rotas e delimi-
tar os territórios conquistados. Nesse tipo de carta, chamado Orbus terrarum 
(figura 3.7), ou mundo inteiro, os três grandes continentes conhecidos apare-
cem dispostos simetricamente.
Figura 3.7 – Mapa romano Orbus terrarum
Fonte: www.celtiberia.net
Os romanos realizavam extensos levantamentos de seu império, usando 
instrumentos gregos, como o astrolábio, um instrumento óptico capaz de 
determinar a localização de pontos da Terra por meio de observação de fenô-
História do Pensamento Geográfico
– 42 –
menos celestes. Eles também eram adeptos de mapas de itinerários (que 
mostram caminhos), como a Tábua de Peutinger. Útil representação para os 
navegantes da época, essa tábua media mais de 6 metros de comprimento por 
30 centímetros de largura e servia, basicamente, para traçar rotas de viagens.
A seguir estão listados alguns estudiosos gregos que contribuíram sobre-
maneira para a evolução do conhecimento geográfico.
 2 Erastóstenes (276-194 a.C.) – além de demonstrar a existência 
da curvatura da Terra e calcular suas dimensões com notável pre-
cisão, também localizou mares, terras, montanhas, rios e cidades 
no primeiro sistema de coordenadas geográficas, no qual estavam 
presentes as latitudes e as longitudes. Estudou, ainda, questões rela-
tivas à hidrografia e à climatologia, às zonas climáticas e às cheias 
dos rios, notadamente aquelas relativas ao Nilo. Contudo, os níveis 
de generalização traziam consigo margens de erros consideráveis, 
fortalecendo a abordagem regional.
 2 Heródoto (484-425 a.C.) – filósofoe historiador, considerado 
o pai da história e da geografia, inseriu a história dos povos no 
contexto geográfico. Suas crônicas registram a gênese da geografia 
regional e retratam os mais diferentes e distantes países. São conhe-
cidas suas viagens à Fenícia, ao Egito e à Babilônia. Ao estudar as 
cheias do rio Nilo, Heródoto associou a sua desembocadura à letra 
grega delta, razão pela qual é encontrada até os dias atuais a foz em 
delta nos livros escolares.
 2 Estrabão (64 a.C. – 20 d.C.) – grande enciclopedista, destaca o 
caráter filosófico e transdisciplinar da geografia. Em sua obra, afir-
mava que o amplo conhecimento, necessário ao empreendimento 
de qualquer trabalho geográfico, deve estar relacionado tanto com 
as coisas humanas como divinas, conhecimento que constitui a 
filosofia. Ao contrário dos gregos, interessava-se por uma abor-
dagem mais humana, cujos ensinamentos destinavam-se às ações 
de governo. Além do mais, ensinava que os geógrafos não deviam 
preocupar-se com o que estava fora do mundo habitado.
Assim como Heródoto, Estrabão foi um grande viajante, tendo 
descrito no seu livro várias partes do mundo daquela época. Por 
– 43 –
Conhecimento Geográfico e Organização Social
tal feito, é, ainda hoje, considerado um dos mais importantes geó-
grafos da Antiguidade. Estrabão tinha como metodologia geográ-
fica a localização e delimitação dos aspectos físicos de uma região 
seguidas da descrição da população, com suas lendas, costumes e 
atividades econômicas.
 2 Ptolomeu (90 – 168 d.C.) – é o último grande geógrafo da anti-
guidade, foi também astrônomo e matemático. Interessou-se pelas 
técnicas de projeção cartográfica e elaboração de mapas. Em sua 
obra Geographia, de oito volumes, traz os princípios de construção 
de globos e projeções de mapas, indica os princípios da geogra-
fia, da matemática e da cartografia, além de organizar um grande 
vocabulário com todos os nomes de 8000 lugares que conhecia, 
localizando-os por meio da latitude e da longitude.
A seguir, estão as principais contribuições para o conhecimento geográfico.
Grécia Antiga Império Romano
Homero – século VIII a.C.; geografia 
como cenário das conquistas e feitos 
heroicos dos gregos.
Marcus T. Varron – 116-27 a.C.; 
geografia histórica, baseada na ideia 
de uma sucessão de estágios culturais.
Escola de Mileto
Pomponius Mella – século I A.D.; 
geografia regional descritiva; coreo-
grafia do mundo conhecido; “gêneros 
de vida”.
Tales – século VII-VI a.C.; mensura-
ções e localizações geográficas.
Périplos – nas costas do Mediterrâneo 
(SCYLAX); nas costas do Mar Negro 
(ARIANUS); nas costas do Mar da 
Eritreia (de autor desconhecido).
Anaximandro – VI-V a.C.; instru-
mentos geográficos e cartografia.
Plínio, O Velho – 23-79 A.D.; sín-
tese do conhecimento geográfico 
grego; mapeamentos com o uso das 
coordenadas latitude e longitude; 
papel importante nas geografias 
medievais ocidentais.
História do Pensamento Geográfico
– 44 –
Grécia Antiga Império Romano
Hecateus – VI-V a.C.; relatos de via-
gens e descrições regionais.
Heródoto – V a.C.; geografia histó-
rica e política; descrições regionais; 
usos e costumes de “povos bárbaros”; 
geografia cultural, etc.
Platão/Aristóteles – V-IV a.C. rela-
ções ambiente natural/ser humano; 
questões de método.
Pytheas – IV a.C.; relatos de viagens, 
geografia física; “gêneros de vida”.
Alexandre – IV a.C.; “geografia apli-
cada”: expansão do helenismo; guer-
ras; administração dos territórios con-
quistados.
Hipócrates – IV-III a.C.; geografia 
médica; influência do ambiente natu-
ral sobre o ser humano.
Eratóstenes/Hiparco – III-II a.C.; 
em Alexandria: geografia geral; carto-
grafia da Terra; macromensurações da 
superfície terrestre.
Estrabon – I a.C. – I . A.D.; redigiu 
a maior obra entre os geógrafos greco-
-romanos e a maior síntese do conhe-
cimento geográfico grego; geografia 
regional; relatos de viagens; “gêneros 
de vida”.
Ptolomeu – 90-168 A.D.; síntese da 
geografia mundial; astronomia geo-
cêntrica; guia geográfico da localiza-
ção de vários lugares no planeta.
– 45 –
Conhecimento Geográfico e Organização Social
Glossário
Mesopotâmia: região do Oriente Médio, delimitada pelos vales dos rios 
Tigre e Eufrates, no atual território do Iraque e terras próximas.
Bagdad (Bagdá): capital e maior cidade do Iraque e segunda maior 
cidade do sudoeste asiático. Situada no centro do país, nas margens do Rio 
Tigre. Outrora centro da civilização islâmica, foi ocupada pelos EUA em 
2003 durante a intervenção de uma coligação internacional no país.
Eufrates: rio da antiga Mesopotâmia, atual Iraque, com cerca de 2.780 
km de extensão. No sul do Iraque se une ao Rio Tigre para formar o Rio 
Shattal-Arab, que vai desaguar no Golfo Pérsico.
Biblos: nome grego da cidade Fenícia Gebal. Aparentemente, os gregos 
chamaram-lhe Biblos devido ao fato de ser por meio de Gebal que o byblos 
(“o papiro Egípcio”) era importado para a Grécia. Situa-se na costa mediter-
rânica do atual Líbano, a 42 km de Beirute.
Triangulação: a triangulação utiliza um princípio da trigonometria: se 
um lado e dois ângulos de um triângulo são conhecidos, é possível calcular 
o terceiro ângulo e os dois lados restantes; utiliza um princípio da trigono-
metria: se um lado e dois ângulos de um triângulo são conhecidos, é possível 
calcular o terceiro ângulo e os dois lados restantes.
Agrimensura: medição de terras, campos etc.; arte ou técnica dessa 
medição; agrimensão.
Heródoto: historiador grego, nascido em Halicarnasso (hoje Bodrum, 
na Turquia) (485?-420 a.C.). Autor da história da invasão persa da Grécia nos 
princípios do século V a.C., conhecida como As histórias de Heródoto.
Dicearco de Messena: historiador e geógrafo grego, natural de Messina 
(Messena), Sicília (350-290 a.C.). Suas investigações mais notórias estão na 
área da política, da história literária, da geografia. Criou um planisfério em 
que a posição de cada região geográfica era estabelecida em relação à distância 
que a separava de uma linha imaginária orientada de leste para oeste, cha-
mada de diafragma. 
Eratóstenes: matemático, geógrafo e astrónomo grego (194-276 a. 
C.). Apelidado de Beta por seus contemporâneos, porque o consideravam 
História do Pensamento Geográfico
– 46 –
o segundo melhor do mundo em vários aspectos. Foi diretor da Biblioteca 
de Alexandria.
Demócrito: filósofo grego (460-370 a.C.). Considerado pré-socrático, 
porém, contemporâneo de Sócrates, foi o maior expoente da teoria atômica 
ou do atomismo.
Hiparco de Niceia: astrônomo, construtor, cartógrafo e matemático 
grego da escola de Alexandria (190-126 a.C.). Hoje é considerado o fundador 
da astronomia científica e também chamado de pai da trigonometria.
Estrabão de Amásia: historiador, geógrafo e filósofo grego (63 ou 64 
a.C.-ca. 24 d.C.). Foi o autor da monumental Geographia, um tratado de 17 
livros contendo a história e descrições de povos e locais de todo o mundo que 
lhe era conhecido à época.
Ptolomeu: cientista grego (90-168 d.C.). Desenvolveu trabalhos em 
matemática, astrologia, astronomia, geografia e cartografia. Escreveu o Alma-
gesto, tratado de astronomia que reúne todo o conhecimento astronômico 
babilônico e grego. Nele se basearam árabes, indianos e europeus até o apare-
cimento da teoria heliocêntrica de Copérnico.
Projeção cônica: projeção cartográfica que utiliza um cone como super-
fície de projeção e que apresenta os paralelos circulares e concêntricos e os 
meridianos, retilíneos e concorrentes no vértice, fazendo entre si ângulos infe-
riores às respectivas diferenças de longitude.
Gerardus Mercator: geógrafo e cartógrafo flamengo (1512-1594). 
Apresentou em 1569 a Projeção de Mercator, por meio de um grande pla-
nisfério com dimensões 202 x 124 cm, composto por 18 folhas impressas. O 
nome e as explicações fornecidas por Mercator no seu planisfério mostram 
que este foi expressamente concebido para uso da navegação marítima.
Teodolito: instrumento óptico que mede ângulos verticaise horizontais.
4
Idade Média - 
Contexto Geral 
A Idade Média geralmente é referenciada com tendo ocorrido 
apenas na Europa, sobretudo a parte Ocidental, onde se consolidou 
o Império Romano. Porém, convém lembrar que, embora a Europa 
Ocidental tenha sofrido grandes reflexos após a queda do Império 
Romano, em outras áreas do mundo essa queda ou ruptura total 
foi pouco ou nada preponderante para as ciências e a evolução do 
conhecimento geográfico. Não é conveniente generalizar os aspec-
tos históricos de uma região para as demais regiões da Terra, pois 
cada lugar tem suas especificidades, sua história. Além disso, nessa 
época que passaremos a estudar, o mundo não estava interligado 
como hoje, os contatos entre os povos e as regiões eram muito pre-
cários e, em alguns casos, inexistentes.
A Idade Média foi tradicionalmente delimitada com ênfase 
em eventos políticos. Nesses termos, ela teria se iniciado com a 
desintegração do Império Romano do Ocidente, no século V (476), 
e terminado com o fim do Império Romano do Oriente, com a 
queda de Constantinopla, no século XV (1453), também chamada 
de Império Bizantino, e pela chegada dos europeus à América.
História do Pensamento Geográfico
– 48 –
Somados todos esses anos, temos cerca de mil anos, caracterizando um 
longo período em que os europeus viveram em sua maioria no campo, restri-
tos a propriedades que buscavam sua sobrevivência e sustento. A sociedade, 
muito diferente daquela do período do Império Romano, era rigidamente 
hierarquizada e marcada pela fé em Deus e pelo controle da Igreja Católica 
– sem dúvida a instituição mais poderosa de toda a Idade Média. O poder 
político era descentralizado, isto é, estava nas mãos de muitos senhores de 
terras, os senhores feudais.
Por todas essas características, muitos estudiosos acabaram chamando 
esse longo período de Idade das Trevas. Eles acreditavam que o mundo 
medieval tinha soterrado o conhecimento produzido por gregos e romanos. 
O estudo dos fenômenos naturais e das relações sociais por meio da observa-
ção, por exemplo, teria sido substituído pelo misticismo religioso.
O certo é que durante esses mil anos a sociedade europeia construiu 
grande parte de seus valores culturais, que iriam se espalhar por todo o mundo 
a partir do século XV, com as Grandes Navegações. Valores que são, até hoje, 
plenamente perceptíveis.
4.1 Divisão do período
Ao estudarmos a Idade Média, geralmente constatamos, na maior parte 
dos livros didáticos, a divisão esquemática entre Alta Idade Média e Baixa Idade 
Média. Essa divisão possui a finalidade de compartimentar os conteúdos refe-
rentes a um período que engloba cerca de dez séculos: do século V ao XV d.C. 
A Alta Idade Média corresponderia, aproximadamente, aos cinco primeiros 
séculos (século V a século X d.C.), enquanto à Baixa Idade Média estaria reser-
vado o período relativo aos séculos seguintes (século XI ao XV d.C.).
4.1.1 Alta Idade Média
Período de instabilidade e insegurança generalizada que se estendeu do 
século V ao século IX. Desse período, destacam-se:
 2 reinos germânicos – os germânicos eram povos árias estabelecidos 
ao longo das fronteiras do Império Romano. Os romanos os cha-
– 49 –
Idade Média - Contexto Geral 
mavam de “bárbaros”, por serem estrangeiros e não falarem o latim. 
Formaram vários reinos germânicos dentro do território romano;
 2 Reino Cristão dos Francos – os francos constituíram o reino mais 
poderoso da Europa Ocidental;
 2 Igreja e o Sacro Império – a Igreja Medieval teve importante papel 
na sociedade. Foi nessa época que começou a organizar-se, com o 
objetivo de zelar pela homogeneidade dos princípios da religião 
cristã e promover a conversão dos pagãos;
 2 Sistema Feudal – o feudalismo começou a se formar no século V, 
na Europa Ocidental, com a crise do Império Romano;
 2 Império Bizantino – estabelecido em Constantinopla, sobreviveu 
à invasões bárbaras e perdurou por todo o período medieval;
 2 árabes e o islamismo – no Oriente Médio, na península ará-
bica, nasceu em 630 o Islão, como resultado das Guerras Santas 
empreendidas por Maomé. Aos poucos, o Islamismo se expandiu 
por um extenso território, conquistando terras da Ásia, da África 
e da Europa.
4.1.2 Baixa Idade Média
Período que vai do século X ao século XV. Destacam-se nessa época:
 2 crise do feudalismo;
 2 cruzadas e a expansão das sociedades cristãs;
 2 ressurgimento urbano na Europa;
 2 renascimento comercial europeu;
 2 formação das monarquias nacionais europeias;
 2 cultura medieval.
Durante a Baixa Idade Média, com a expansão dos turcos-otomanos no 
século XIV, tomando os Balcãs e a Ásia Menor, o Império Bizantino acabou 
reduzido à cidade de Constantinopla.
História do Pensamento Geográfico
– 50 –
A queda, em 1453, foi um fato histórico que marcou o fim da Idade 
Média na Europa. A conquista da capital bizantina pelo Império Otomano 
sob o comando do sultão Maomé II, marcou o fim do Império Romano 
no Ocidente.
4.2 Influência da Igreja 
Católica na Idade Média
Juntamente com a expansão do Feudalismo, em quase toda a Europa 
Medieval, também ocorre a ascensão de uma das mais importantes e podero-
sas instituições desse mesmo período: a Igreja Católica, que havia se expan-
dido durante o Império Romano e, com seu fim, alcançou a condição de 
principal instituição a disseminar e refletir os valores da doutrina cristã.
Naquela época, logo depois do primeiro século, diversas interpretações 
da doutrina cristã e outras religiões pagãs se faziam presentes no contexto 
europeu. Foi pelo Concílio de Niceia, em 325, que se assentaram as bases 
religiosas e ideológicas da Igreja Católica Apostólica Romana. Com a cen-
tralização de seus princípios e a formulação de uma estrutura hierárquica, a 
Igreja teve condições suficientes de realmente influenciar os inúmeros feudos 
na Idade Média.
Estabelecida em uma sociedade marcada pelo pensamento religioso, a 
Igreja esteve presente nos mais diferentes níveis da sociedade medieval. A 
própria organização da sociedade medieval (dividida em clero, nobreza e ser-
vos) era um reflexo da Santíssima Trindade. Além disso, a vida terrena era 
desprezada em relação aos benefícios a serem alcançados pela vida nos céus. 
Dessa maneira, muitos dos costumes dessa época estavam influenciados pelo 
dilema da vida após a morte.
Além de se destacar pela sua presença no campo das ideias, a Igreja tam-
bém alcançou grande poder material. Durante a Idade Média, ela passou a 
controlar grande parte dos territórios feudais, transformando-se em impor-
tante chave na manutenção e nas decisões do poder nobiliárquico. A própria 
exigência do celibato foi um importante mecanismo para que a Igreja conser-
vasse o seu patrimônio. O crescimento do poder material da Igreja chegou a 
causar reações dentro da própria instituição.
– 51 –
Idade Média - Contexto Geral 
Aqueles que viam na influência político-econômica da Igreja uma ame-
aça aos princípios religiosos, começaram a se concentrar em ordens religiosas 
que se abstinham de qualquer tipo de regalia ou conforto material (quando 
assistimos ao filme O nome da rosa1, podemos observar o tratamento dife-
renciado às congregações dentro da própria igreja. Essa cisão nas práticas da 
Igreja veio subdividir o clero em duas vertentes: o clero secular, que admi-
nistrava os bens da Igreja e a representava nas questões políticas; e o clero 
regular, composto pelas ordens religiosas mais voltadas às práticas espirituais 
e à pregação de valores cristãos.
Grande parte de pessoas alfabetizadas eram membros da Igreja, pouquís-
simas pessoas eram alfabetizadas ou tinham acesso às obras escritas. Por isso, 
muitos mosteiros medievais preservavam bibliotecas inteiras, nas quais grandes 
obras do Mundo Clássico e Oriental eram conservadas. São Tomás de Aquino e 
Santo Agostinho, por exemplo, foram dois membros da Igreja que produziram 
tratados filosóficos que dialogavam com os pensadores da Antiguidade.
Mesmo contando com tamanho poder e influência,

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