Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UMÁRIO , .CAPíTULO A POSiÇÃO E A SITUAÇÃO GEOGRÁFICA DO TERRITÓRIO RIO-GRANDENSE 7 Os pontos extremos 8 Os limites e as fronteiras 8 A situação geográfica CAPíTULO O RELEVO E OS SOLOS 10 A formação do relevo CAPíTULO O CLIMA 16 Os ventos e a temperatura do ar 17 As chuvas 17 Os fatores regionais 18 A influência do clima ____ o ESPAÇO RIO-GRA OENSE : ·4--, ~ ~~~-- OS RIOS 20 A bacia do Uruguai 20 A bacia Atlântica , . AS PAISAGENS VEGETAIS 21 Os campos 22 As matas 24 O desmatamento 24 A recuperação florestal 2S O reflorestamento 26 A preservação ambiental CAPíTULO • A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL 28 O extermínio dos índios 29 As Missões dos jesuítas 31 O surgimento das estâncias 32 Os tropeiros 33 As charqueadas 34 A contribuição do negro 34 Os açorianos 3S A fundação de Porto Alegre 36 Os imigrantes 39 A evolução municipal • éApíTUlO A POPULAÇÃO 41 A distribuição espacial 42 O crescimento demo gráfico e a urbanização 44 As migrações internas 45 A emigração 48 O nível de vida CAPíTULO O ESPAÇO AGRÁRIO 49 A agricultura 52 A pecuária 54 A estrutura fundiária AS ATIVIDADES INDUSTRIAIS 57 As indústrias modernas 57 As fontes de energia 60 Os tipos' de indústria e sua distribuição espacial CAPíTULO O COMÉRCIO, AS CIDADES E OS TRANSPORTES 62 A função comercial das cidades 63 O comércio externo 64 O Mercosul 65 Os transportes CAPíTULO A DIVERSIDADE ESPACIAL 68 Uma divisão administrativa 69 Regiões de planejamento 70 O norte e o sul 72 Uma regionalização tradicional QUESTÕES DE VESTIBULARES 93 Respostas 93 Significado das siglas BIBLIOGRAFIA _______________________________________________IIIIIIIII~----~ A POSiÇÃO E A SITUAÇÃO GEOGRÁFI~A DO TERRITÓRIO RIO-GRANDENSE o Rio Grande do Sul é o estado mais meridional do Brasil. Seu território tem 282 062 krn", o que representa apenas 3,30% da área total do nosso país, mas que é quase a metade da superfície da região Sul. Em extensão territorial o Rio Grande do Sul é o nono estado do Brasil, sendo um pouco maior que o estado de São Paulo. Seu território é maior que o de muitos países do mundo; representa, por exemplo, dez vezes a área de Israel, seis vezes a da Holanda e três vezes a de Portugal. Foto da América do Sul feita pelo satélite NOOA. Assinalado, o território do Rio Grande do Sul. • Região Sul: composição da área I Rio Grande do Sulr. Paraná I Santa Catarina Fonte: Adaptado de Atlas geográfico escolar. Rio de janeiro, lBGE, 2002. Ospontos extremos o território rio-grandense está localizado na chamada zona temperada do Sul, que é a extensa faixa da superfície terrestre com- preendida entre o trópico de Capricórnio e o círculo polar Antártico. Seus pontos extre- mos são: • norte - uma das curvas do rio Uruguai, a 2JO04' 49" de latitude sul; • sul - uma curva do arroio Chuí, chama- da de Volta da Baleia, a 33%4'42" de la- titude sul, que também é o ponto ex- tremo sul do Brasil; • leste - barra do rio Mampituba, a 49°42'22" de longitude oeste (isto é, a oeste do meridiano de Greenwich); • oeste- barra do rio Quaraí, afluente do rio Uruguai, a 57°38'34" de longitude oeste. Rio Grande do Sul: localização 50" Rio Uruguai SANTA CATARINA : -- - ------- ------.- ------ --------- -- ---,-----------~ --- - - -- - - - - - - - - - - - - - - -. - - - - -- -' ~ocano~o$' j N,+, Fonte: Adaptado de Atlas geográfico escolar. Rio de janeiro, lBGE, 2002. 'i''-l''--r-----------300- OCEANO ATLÂNTICO " ESCALA O 80 160 km, ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~5q'~~J~~~~~~~.~~~~~~~~~~~~~~}~~~~~~~~~~':l~~~~~~~~. -------------------------"---- ___ --'_ A POSiÇÃO E A SITUAÇÃO GEOGRÁFICA DO TERRITÓRIO RIO-GRANDENSE Portanto, o Rio Grande do Sul está loca- lizado em uma latitude média de 30° sul. Isso significa que está mais próximo da linha do Equador (0° de latitude) que do pólo Sul (90° de latitude sul). Desse modo o território rio-grandense tem uma posição subtropical, ou seja, abaixo e próxima do trópico de Ca- pricórnio. Os limites e as fronteiras o Rio Grande do Sul tem os seguintes limites: • ao norte e a nordeste - estado de Santa Catarina; • ao sul e a sudoeste - República Oriental do Uruguai; • a leste - oceano Atlântico; • a oeste e a noroeste - República Argen- nna. Ao todo, o estado possui 3 307 km de li- mites, distribuídos da seguinte maneira: • 1 003 km com a República Oriental do Uruguai; • 724 km com a República Argentina; • 958 km com o estado de Santa Catarina; • 622 km com o oceano Atlântico. A maior parte dos limites do estado é for- mada por acidentes naturais. Por exemplo, o rio Uruguai é o limite entre o Rio Grande do Sul e a República Argentina; o rio Quaraí (afluente do rio Uruguai) e o rio Jaguarão (que corre para a lagoa Mirim) separam ter- ras rio-grandenses do território uruguaio. Mas uma pequena parte dos limites com a República Oriental do Uruguai, no sul do estado, é do tipo artificial ou convenciona- do, ou seja, foi demarcada através de um acerto entre o Brasil e o país vizinho. Não devemos confundir limite com fron- teira: limite é uma linha e fronteira é a faixa de território sobre a qual passa a linha que _ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE -------' separa um país de outro. O c~nceito de fron- teira não cabe, pois, no caso de divisão polí- tica interna de um país. Somando os limites com a Argentina e com o Uruguai, vemos que eles totalizam 52% (1 727 km) das divisas do estado. Por- tanto, o Rio Grande do Sul apresenta uma extensa linha divisória com outros países e, conseqüentemente, possui uma vasta faixa de fronteira. Asituação geográfica A situação geográfica de um território é definida pela sua posição em relação a fatos ou elementos externos capazes de influir em sua história e em seu desenvolvimento. As- sim, pode-se afirmar que a situação geográfi- ca do Rio Grande do Sul reveste-se de grande importância geopolítica em razão da extensa fronteira com a Argentina e o Uruguai e da proximidade com o Paraguai. As fronteiras do estado formaram-se em meio a intensas disputas entre portugueses e espanhóis, às quais se seguiram sucessivos conflitos entre o Brasil e seus vizinhos plati- nos. Ou seja, são áreas nas quais sempre pre- dominou a preocupação com a preservação e a defesa e que por isso marcam de modo concreto a separação entre o território bra- sileiro e o dos países vizinhos. Um exemplo dessa descontinuidade efetiva, historicamen- te constituída, é a ligação entre as cidades de Uruguaiana, em território rio-grandense, e Paso de los Libres, na Argentina, unidas por uma majestosa ponte sobre o rio Uruguai. A ferrovia brasileira que vai até Uruguaiana tem bitola de um metro, diferente da estrada de ferro argentina que vai até Paso de los Libres, com bitola de 1,20 metro. Hoje, no estágio do capitalismo globali- zante e sob o patrocínio do Mercosul, as • • fronteiras - que outrora eram elementos de separação - tendem a se tornar espaços onde avança a pretendida integração. Nesse sentido o Rio Grande do Sul tem uma situação potencialmente favorável. O estado tende a ser o centro geopolítico do Cone Sul da América, já que Porto Alegre fica, em linha reta, a 740 km de Monte- vidéu, 840 km de Assunção, 850 km de São Paulo, 940 km de Buenos Aires, 1 150 km do Rio de Janeiro, 1 615 km de Brasília e 1 950 km de Santiago. Considerando a orga- nização do espaço regional na perspectiva da integração, o Rio Grande do Sul pode ser também seu centro geoeconômico. O Rio Grande do Sul não enfrenta maio- res obstáculos às ligações rodoviárias e hidro- viárias com o Uruguai. A conclusão da ponte da Integração entre São Borja-Santo Tomé no fim de 1997 constituiu mais uma ligação terrestre com a Argentina. Além disso a nova ponte também proporcionou ao Paraguai outra saída viária para o oceano Atlântico: de Assunção, passando por Encarnación no sul do país, até o porto gaúcho de Rio Grande. Quando estiver concluída uma rodovia projetada para a região será possível o acesso ao porto de Antofagasta, no Chile. Uma das conseqüências dessa obra será a aproximação dos mercados latino-americanosde toda a costa do Pacífico aos países da costa atlântica da América do Sul. Além desses países, a Oceania e o extremo Oriente, compostos entre outros por países como China e Japão, estarão mais acessíveis às exportações brasileiras. o Rio Grande do Sul no MercosuP I Mercosul (Mercado Comum do Sul): organização instituída pelo Tratado de Assunção no fim ' de 1991, reunindo Argentina, Brasil Paraguai e Uruguai. Cil" meçou a vigorar em 1995 através de uma progressiva redução das tdrifas olfondegárids de um con- junto cada vez mais amplo de produtos, com vista ao livre-co-- mércio e àformação de um mer- cado comum entre ospaíses mem- bros. Posteriormente associaram- se ao Mercosul o ChiIR (I996) e a Bo/ivia (J997), porém não como membros efetivos. OCEANO PAcíFICO ESCALA O 380 760 km ! ! ! 1 cm - 380 km Fonte: Adaptado de Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro, IBGE, 2002. de Janeiro Santos I ritiba ..JI&.... Paranaguá :..J...... C:=J Região industrial • Florianópolis Área industrial .--. Zona agropecuária l.==J melhorada • Metrópole @ Capital nacional • Cidade importante .L Porto OCEANO ATLÂNTICO = Ponte - Rodovia - - - - Rodovia projetada •..•..•..•...Ferrovia ç= Hidrovia r--.....> Rio -----------------------'------ o RELEVO E OS SOLOS o relevo do Rio Grande do Sul asse- melha-se ao do resto do Brasil, pois possui um substrato rochoso muito antigo, que há milhões de anos não sofre manifestações tectônicas expressivas. A ausência de tecto- nismo se deve também ao fato de o território rio-grandense estar fora das áreas de insta- bilidade da crosta terrestre, que são as faixas de descontinuidade existentes entre as pla- cas tectônicas que constituem a litosfera. Nessas condições, o Rio Grande está livre de manifestações vulcânicas e dos temíveis ter- remotos. Devido à antiguidade e à estabilidade 00 embasament0-f.g(;h.oso,.....as-altitudes-São m0- 4estas e o relevo é mais ou menos s ve. I h, ·1"· ~ bai dporque a m! elllOSa qosao vem re alxan o Çl.S--PITfismais elevados e arredondando as fo r1"lli!S-IDais-ahrup.ta$. Sob o aspecto geológico, o território rio- grandense é constituído por rochas crisrali- gas, sedimentares e basálticas. A formação do relevo No centro-sul do estado afiara um núcleo de rochas cristalinas pré-cambrianas, como granitos e gnaisses, sob a forma de um pe- queno planalto. Esse núcleo faz parte de uma estrutura bem maior, o antigo embasamento sobre o qual, em uma grande depressão e du- rante dezenas de milhões de anos, se formou a bacia sedimentar do Paraná. Há cerca de 120 milhões de anos, portanto durante a era Mesozóica, essa bacia 'passou por intenso vulcanismo. Por diversas e sucessivas ocasiões Grandes unidades de relevo do Rio Grande do Sul SANTA CATARINA ARGENTINA o 90km '--' D Depressão Central D Planalto Sul-Rio-Grandense D Planicie Costeira - Linha de corte aMirim+ N O L oa angueira 5 Fonte: Adaptado de Atlas nacional do Brasil. Rio de Janeiro, IBGE, 2000. OCEANO ATLANTICO D Rochas cristalinas pré-cambrianas D Rochas sedimentares muito antigas - Era Paleozóica D Rochas sedimentares antigas - Era Mesozóica D Rochas vulcãnicas - Basalto Altitude (em metros) 1000 PERFIL DO RELEVO DO RIO GRANDE DO SUL (de Jaguarão a Marcelino Ramos) PLANALTO NORTE-RIO-GRANDENSE 800 Marcelino Ramos ---.. 600 PLANALTO SUL·RIO-GRANDENSE (ESCUDO) DEPRESSÃO CENTRAL Jaguarão 400 / 200 o~----------~----------------~ +-SUL------------------------ o ESPAÇO RIO-GRANDENSE Principais formas de relevo do Rio Grande do Sul Fonte: Adaptado de Atlas nacional do Brasil. Rio de Janeiro, IBGE, 2000. OCEANO ATLÂNTICO ESCALA O 75 150km ! I ! 1 em - 75 km o magma subiu e se derramou pela superfície através de extensas fraturas abertas na crosta. Ao se consolidar, a lava vulcânica formou ro- chas basálticas que cobriram grande parte da bacia do Paraná, incluindo o que é hoje o norte do estado e a maior parte do planalto Meridional do Brasil, também chamado de planalto da Bacia do Paraná. Mais tarde, quando ocorreu a orogenia andina, isto é, a formação da cordilheira dos Andes, na era Cenozóica, a bacia do Paraná foi soerguida, sofrendo em conseqüência inú- meras juntas ou diáclases (fissuras) e grandes falhas em suas bordas; Sobre as juntas muitos rios se encaixaram e, graças à erosão facilita- da, deram origem a gargantas e vales pro- fundos. Nos terrenos sedimentares periféricos ao planalto da Bacia do Paraná, ocorreu a se- guir intenso processo de erosão (chamado de. circundenudação periférica), rebaixando acentuadamente o terreno e formando uma larga faixa de depressão. Desde então os sedimentos oriundos dos planaltos são transportados, sobretudo por rios, e depositados no leste do território. Ali, juntamente com uma intensa sedimen- tação de origem marinha, vão formar uma larga faixa de terras baixas, com um gran- de número de lagoas e lagunas de variadas dimensões. Dessa maneira o relevo do Rio Grande do Sul possui diferentes unidades, cada qual com suas altitudes, tipos de rocha e formas pre- dominantes: o planalto Sul-Rio-Grandense, o planalto Norte-Rio-Grandense, a depressão Central e a planície Litorânea. o RELEVO E OS SOLOS o planalto Sul-Rio-Grandense No centro-sul do estado encontramos uma área de rochas muito antigas, que se for- maram na primeira fase da história da Terra. Trata-se do escudo cristalino, que constitui o planalto Sul- Rio-Grandense. Por serem muito amigas as rochas desse planalto já foram bastante atacadas pela ero- são. Por esse motivo as paisagens geralmente apresentam morros arredondados e somente em alguns lugares as altitudes ultrapassam 300 metros. Nessas partes mais altas os morros são mais salientes e aparecem agrupados, for- mando serras - são as serras Sul-Rio-Gran- denses. Por estarem localizadas no sudeste do estado, elas são conhecidas como serras de Sudeste. Planalto Sul-Rio-Grandense, serras de Sudeste ou simplesmente escudo são ex- pressões usadas para designar a mesma uni- dade geomorfológica. As principais serras de Sudeste são: de Caçapava, de Encruzilhada, dos Tapes e do Herval. Os solos do escudo não são muito bons para a agricultura, pois geralmente são are- nosos e pouco férteis. Por isso seu aproveita- mento agrícola exige o emprego de adubos. No entanto, alguns vales fluviais da-região têm solo de melhor qualidade. Se, por um lado, os solos não são muito favoráveis, por outro, o subsolo da região das serras de Sudeste oferece alguns minerais me- tálicos: cobre, ouro, estanho, chumbo, zinco e prata. Esses minerais, porém, aparecem em pequena quantidade e misturados às rochas. Por isso sua exploração não desperta grande interesse. Entre os minerais metálicos do estado, o cobre é o mais importante, pois aparece em maior quantidade que os outros. Ele é en- contrado sobretudo no município de Caça- pava do Sul. 111m O ESPAÇO RIO-GRANDENSE o planalto Norte-Rio-Grandense A parte norte do Rio Grande do Sul é constituída por terrenos mais ou menos ele- vados, que formam o planalto Norte-Rio- Grandense. Esse planalto nada mais é que a extremidade sul do planalto Meridional do Brasil, que se estende desde o sul de Goiás até o Rio Grande do Sul. Em classificação moderna essa grande unidade do relevo bra- sileiro é denominada planaltos e chapadas da Bacia do Parand. O planalto Norte-Rio-Grandense é for- mado por rochas sedimentares relativamente antigas, principalmente o arenito, que estão cobertas por espessas camadas de rochas vul- cânicas, sobretudo o basalto. Por isso dize- mos que esse planalto é arenítico-basáltico. As maiores elevações do planalto estão na sua parte leste e nordeste, onde chegam' a mais de mil metros de altitude. É nessa parte que se encontra o pomo mais elevado do ter- ritório rio-grandense: o monte Negro, com 1 398 metros, localizado em um trecho da serra Geral conhecido como serra do Realen- go, no município de São José dos Ausentes, próximo à divisa com Santa Catarina. As altitudes do planalto Norte-Rio-Cran- dense diminuem aos poucos de leste para oeste.Na sua parte leste e sudeste o planalto termina em uma descida brusca, isto é, em uma encosta. Devido a antigas fraturas e sobretudo à intensa erosão sob clima úmido, a encosta apresenta-se muito acidentada, notadamente em sua parte leste. Aí aparecem escarpas abruptas e morros com declives acentuados que oferecem belas paisagens. É nessa área que está localizado o famoso Itaimbezinho - um profundo e escarpado vale (um canyon), de grande atração turística. • A encosta do planalto Norte-Rio-Cran- dense tem o nome de serra Geral. Ela repre- senta o relevo mais acidentado do Rio Gran- de do Sul. Os solos do planalto Norte-Rio-Gran- dense - formados pela decomposição do basalto - são os melhores do estado para o aproveitamento agrícola. Hoje em dia, po- rém, eles estão empobrecidos, devido à ex- ploração continuada, à compactação causada pelo peso das máquinas agrícolas e, princi- palmente, ao emprego excessivo de fertili- zantes químicos. Em numerosos vales da serra Geral os so- los também são propícios para a agricultura. No entanto, estão muito desgastados pela erosão, sobretudo nos terrenos inclinados onde a mata foi derrubada. Além do basalto, usado na construção ci- vil e no calçamento de ruas, o principal re- curso mineral do planalto são as gemas, isto é, cristais de rocha que constituem pedras preciosas e semipreciosas. Formaram-se pela cristalização de minerais no interior de pe- quenas cavidades, originadas por gases conti- dos na lava vulcânica que se derramou sobre a bacia do Paraná na era Mesozóica. O Rio Grande do Sul é um dos maiores produtores nacionais de gemas, destacando- se os municípios de Encantado, Soledade e Salto do Jacuí. Guaporé notabilizou-se por sua indústria de lapidação de pedras. Aspecto do relevo da serra Geral no planalto Norte-Rio-Crandcnse. Na foto o Parque Nacional da Serra Geral, no nordeste do estado. Nas partes central e sul, porém, a planície Litorânea é bastante larga. No interior de toda a planície Litorânea existem numerosas lagoas, cuja água é salo- bra, isto é, salgada. Por se comunicarem dire- tamente com o oceano algumas delas têm o nome de lagunas, em vez de lagoas. Esse é o caso da laguna dos Patos, a maior do Brasil, que se comunica com o Atlântico através do canal de Rio Grande. Além da laguna dos Patos, a lagoa Mirim e a lagoa Mangueira também merecem destaque por sua extensão. A lagoa Mirim serve de fronteira com o Uruguai, pois parte de suas águas pertence a esse país vizinho. Por serem muito arenosos os solos da pla- nície Litorânea não são favoráveis à agricul- tura. Perto do mar a paisagem apresenta muitas dunas ou côrnoros de areia. No en- tanto, graças ao uso de fertilizantes, uma boa produção de cebola é obtida no município litorâneo de São José do Norte. ______ ~~==I~~ __O_R_E_L_E_V_O __ E_O_S__ S_O_L_O_S _ A depressão Central Separando as terras altas do planalto Norte-Rio-Crandense dos terrenos menos elevados do planalto Sul-Rio-Crandense há uma faixa de terras relativamente baixas, pla- nas ou levemente onduladas, que constitui a depressão periférica Sul-Rio-Grandense. Ao contrário do que ocorre no sudoeste do esta- do, na conhecida Campanha, onde as altitu- des e formas exteriores não apresentam gran- des diferenças em relação aos planaltos contí- guos, essa unidade de relevo é mais indivi- dualizada e facilmente perceptível na faixa central do estado. Por isso ela é mais co- nhecida como depressão Central. A depressão Central assemelha-se a uma planície, que se estende de leste a oeste e sobre a qual corre o rio mais importante do estado: o Jacuí. É formada por rochas sedi- mentares antigas, nas quais são encontrados o calcário, o xisto e o principal recurso mineral do Rio Grande do Sul: o carvão mineral. A planície litorânea o litoral rio-grandense, isto é, a faixa de terra que fica junto ao oceano Atlântico, é uma planície, pois seus terrenos são baixos e planos. É a planície Litorânea ou planície Costeira, formada por sedimentos recentes, depositados sobretudo pelo trabalho do mar. No litoral norte a planície é estreita, já que as escarpas da serra Geral estão a poucos quilômetros de distância do oceano. Bem ao norte aparecem junto ao mar elevações rochosas que são blocos remanescentes dos grandes falhamentos sofridos no passado geológico pela bacia do Paraná. No lado do Atlântico essas elevações têm encostas com a forma de grandes paredões, que se parecem com torres. Foram elas que deram nome ao município de Torres. o ESPAÇO RIO-GRANDENSE As torres do litoral norte gaúcho são formadas por fragmentos e blocos remanescentes da antiga bacia sedimentar do Paraná. • As coxilhas são uma característica marcante do relevo rio-grandense, particularmente na região da Campanha. A Campanha A região do oeste e do sudoeste do Rio Grande do Sul tem o nome de Campanha. Embora pertençam a distintas unidades do relevo - ao planalto arenítico-basãltico e à depressão periférica -, seus terrenos têm certa semelhança, pois neles predominam elevações suaves e alongadas. Vistas de longe essas elevações se asseme- lham à curva que existe perto da ponta de um facão. Antigamente essa parte do facão era chamada de coxilha, e por isso as eleva- ções suaves e compridas do estado receberam o nome de coxilhas. As coxilhas, primitivamente cobertas por uma vegetação rasteira, de campos limpos, são os elementos predominantes nas paisa- gens da Campanha. Mas elas também apare-. cem, embora com menor freqüência, em ou- tras áreas do estado: nos terrenos cristalinos do sul e até nas partes elevadas do norte. Por serem encontradas em quase todo o território rio-grandense as coxilhas são a forma mais conhecida do relevo do Rio Grande do Sul. Os solos da Campanha são mais propí- cios à pecuária, embora possam ser cultiva- dos, particularmente lias vales dos rios e nas baixadas, onde a lavoura de arroz tem grande destaque. Em terrenos onde aflora um deter- minado arenito da era Mesozóica - da épo- ca chamada de série Botucatu - há grandes áreas intensamente desertificadas. Ali solos originalmente arenosos sofreram uso inade- quado, com ação continuada de máquinas agrícolas, adubos químicos em excesso e pisoteio do gado. As áreas mais conhecidas são o deserto de São João, em Alegrete, e o deserto de Puitã, em São Borja. o CLIMA No Rio Grande do Sul o ar atmosférico varia muito no decorrer do ano. Isso acon- tece devido à posição geográfica do estado, que o torna ora dominado por massas de ar tropicais, ora por massas de ar polares. Osventos e a temperatura do ar Nos meses de verão o território rio-grau- dense é geralmente dominado por ventos vindos do norte. Por se originarem em lati- tudes baixas esses ventos são quentes e, em conseqüência, ocasionam altas temperaturas, sobretudo nos meses de dezembro e janeiro. Nos meses de inverno o estado é freqüen- temente invadido por ventos frios de origem polar. Eles provocam baixas temperaturas, sobretudo nos meses de junho e julho. Quan- do é seco o vento frio vindo do sul é chama- do de minuano. Desse modo o ar atmosférico no Rio Grande do Sul é quente no verão e frio no inverno. Mas nem todos os dias de inverno ./ são frios, pois em alguns períodos dessa estação a influência de ventos vindos do norte ocasiona temperaturas moderadas e, em algumas ocasiões, até elevadas. Por ter verões quentes e invernos nem sempre frios o clima do Rio Grande do Sul é classificado como subtropical. Na primavera e no ourono as tempera- turas são variáveis, dependendo da origem do ar que chega ao estado: se faz frio é por- que o ar é de origem polar; se faz calor ele certamente veio do norte. No entanto, essas estações apresentam em grande parte tem- peraturas amenas, embora quase sempre a- I· • r-'" I •corram sensrveis vanaçoes terrrucas entre o dia e a noite. Verão Inverno SANTA CATARINA Fonte: Adaptado de Atlas geogrdfico escolar. Rio de Janeiro, IBGE, 2002. o 112km'--------J o ESPAÇO RIO-GRANDENSE • As chuvas Ocorrem chuvas em todos os meses do ano. Na maior parte das vezes elas se devemà influência do ar polar. A superfície de descontinuidade ou zona de contato entre o ar quente, de origem tro- pical, e o ar frio, de origem polar, chama-se frente. Ela se caracteriza geralmente pela ocorrência de chuvas, pois o ar frio provoca o resfriamento, a condensação e a conse- qüente precipitação do vapor de água conti- do no ar quente. Por isso, ao se deslocarem, as frentes ocasio- nam chuvas nos lugares por onde passam - são as chuvasfrontais. Se o ar frio estiver avan- çando e o ar quente estiver recuando, como acontece no Rio Grande do Sul, a frente será fria. Se ocorrer o contrário, a frente será quente. Em grande parte do ano, sobretudo nos meses de inverno, o Rio Grande do Sul é se- guidamente atingido por frentes frias, que provocam chuvas e, em seguida, a diminui- ção da temperatura. No verão, porém, mui- tas chuvas são causadas pela grande umidade trazida por ventos quentes, geralmente de origem tropical atlântica, eventualmente de origem equatorial continental. Por apresentar chuvas bem distribuídas por todo o ano o clima do estado é classifi- ar fria -_ ••••~ ••• ••• ••• Frente fria cada como úmido. Portanto, o clima do Rio Grande do Sul é subtropical úmido. Os fatores regionais Embora seja semelhante em toda a exten- são do território, o clima do estado apresen- ta algumas pequenas diferenças, devido à influência dos chamados fatores regionais: a latitude, o relevo, a distância do mar e prin- cipalmente a altitude. Assim, por causa da latitude, as temperatu- ras do litoral norte são ligeiramente mais altas que as temperaturas registradas no litoral sul. O município de Torres, por exemplo, de lati- tude mais baixa, tem temperatura mais alta que o de Chuí, que fica bem ao sul do estado. Devido à influência do relevo chove um pouco mais nas partes elevadas da serra Geral que nas demais regiões do estado, já que a encosta aumenta a turbulência dos ventos úmidos vindos do oceano. A distância do mar, por sua vez, é respon- sável pelos verões muito quentes e pelos dias de inverno muito frios que ocorrem no oeste do estado; no litoral as variações de tempe- ratura não são tão grandes. Isso acontece A frente provoca chuvas na área por onde passa. Fonte: Adaptado de Manual de meteorologia para aeronavegantes. Ministério da Aeronáutica, 1969. ______________ lfi:.i.'"'",;~"-,,,:I__ o CLIMA porque as diferenças de temperatura entre o inverno e o verão variam na mesma pro- porção que aumenta a distância do mar. Esse fator é chamado continentalidade. O fator regional que mais influi no clima do Rio Grande do Sul é a altitude. Como se sabe, a temperatura do ar é mais baixa nos lugares mais altos. Por isso, nas partes ele- vadas do planalto Norte-Rio-Crandense, no nordeste do estado, registram-se tempera- turas muito baixas no inverno, com fre- qüente formação de geada ou até mesmo ocasionais quedas de neve. Na mesma região os verões são menos quentes que no resto do estado. Também devido à altitude, os inver- nos são mais frios e os verões menos quentes nos lugares mais altos do escudo. Por esses motivos podemos identificar dois subtipos de clima subtropical úmido no estado: um, nas regiões de relevo mais alto, com invernos muito frios e verões brandos; outro, na maior parte do território, com verões quentes e invernos menos frios. Rio Grande do Sul: clima OCEANO ATLANTICO o 102 kmL....--.....J Clima subtropical úmido com:c:=J Verões quentes c:=J Verões brandos Fonte: Adaptado de Atlas geográfico escolar.Rio de Janeiro, IBGE, 2002. :1 O ESPAÇO RIO-GRANDENSE A influência do clima A existência de duas estações climáticas bem diferentes representa um fator favorável à agricultura no Rio Grande do Sul. Assim, o calor do verão e do fim da primavera favorece o cultivo de muitos produtos tropi- cais, cujo desenvolvimento exige altas tem- peraturas: arroz, milho, soja, fumo e outros. Também são praticadas no estado algu- mas culturas de inverno, como a do centeio, do linho e, sobretudo, do trigo. Nos declives menos acentuados da encos- ta do nordeste, onde a geada é fenômeno ra- ro, cultivam-se cana-de-açúcar e banana, que são plantas tropicais semipermanentes (que permitem sucessivas colheitas durante alguns anos, sem necessidade de replantio). A cultu- ra do pêssego, planta permanente de clima temperado, tem destaque na parte oriental do escudo, particularmente na área de Pelotas, Alguns acontecimentos climáticos cau- sam efeitos negativos. É o caso, por exemplo, do granizo (chuva de pedra), da geada e even- tualmente da neve, que podem danificar as plantações. Às vezes chove demais no inver- no ou no início da primavera, em conse- qüência de frentes estacionárias. Outras ve~ zes a pluviosidade excessiva ocorre na prima- vera e início do verão, provocada pelo EI Ni- fioz. Nessas ocasiões os rios podem transbor- dar e provocar enchentes, que trazem sérios prejuízos. . 2 El Nino: fenômeno que consiste no aquecimento acima do normal das águas do Pacífico equatorial, o que provoca alterações no clima de várias partes do mundo, como chuvas excessivasno sul do Brasil. ~~_OS_R_IO_S _ Graças a uma pluviosidade intensa e bem distribuída por todo o ano, o Rio Grande do Sul tem uma farta rede hidrográfica. É um dos estados brasileiros mais bem servidos de águas internas, já que, além dos rios, possui um número considerável de lagoas e lagunas costeiras, algumas de grande extensão. Devido à influência decisiva do relevo, os rios do território rio-grandense correm em duas direções. Uns dirigem-se para o rio Uru- guai, formando seu conjunto a bacia do Uru- guai. Outros encaminham-se para leste, desa- guando nas lagoas costeiras ou indo diretamen- te para o oceano: eles formam a bacia Aclântica. Rio Grande do Sul: hidrografia ARGENTINA URUGUAI ESCALA o 54 108km ! I f 1 cm-54km SANTA CATARINA -'9/0 Canoas OCEANO ATLÂNTICO c=:J Bacia do Uruguai c=:J Bacia Atlântica Fonte: Adaptado de Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro, IBGE, 2002. __________________________________________~IIIIIIIII~--- OS RIOS A bacia do Uruguai É formada pelo rio Uruguai e seus afluentes. No Rio Grande do Sul encontramos apenas afluentes da margem esquerda. O rio Uruguai é o mais extenso do esta- do. É formado pela junção dos rios Pelotas e Canoas, e seu curso serve de limite com o estado de Santa Catarina e, mais adiante, com a Argentina. Depois separa a Argentina do Uruguai e, por fim, desemboca no estuário do rio da Prata, cujas águas vão para o oceano Atlântico. Em seu curso médio e superior o Uruguai é um rio de planalto. Daí o seu bom poten- cial hidráulico, que está sendo aproveitado pelas usinas hidrelétricas de há e Machadinho. Na época das cheias o rio Uruguai torna- se navegável em grande extensão. Com a construção de barragens, paralelamente ao aproveitamento do seu potencial hidrelétri- co, ele poderá constituir-se numa grande via permanentemente navegável. Entre os numerosos afluentes do rio Uru- guai destacam-se no território rio-grandense os rios Passo Fundo, Ijuí e Ibicuí. Este últi- mo, o mais extenso, é um rio de planície. A bacia Atlântica Na verdade, a bacia Atlântica (ou do Leste) é um conjunto de bacias hidrográficas que têm em comum o fato de suas águas cor- rerem em direção ao Atlântico. O Jacuí é o rio mais importante dessa bacia e também do estado. Nasce no planal- to Norte-Rio-Grandense, nas proximidades de Passo Fundo. Inicialmente corre para o sul como um rio de planalto. Para aproveitar o potencial hidráulico dessa parte inicial do curso foram construídas diversas usinas hidrelétricas, cada qual abastecidapor uma ___ ----'_ O ESPAÇO RIO·GRANDENSE represa. A maior hidrelétri~a do Jacuí é a de Itaúba. Depois de descer a encosta do planalto o Jacuí dirige-se para leste, correndo sobre a depressão Central. Torna-se então um rio de planície, sendo navegável por barcos de por- te médio e pequeno. Além disso fornece água para a irrigação de numerosas lavouras de arroz da região. Os principais afluentes do Jacuí são o rio Pardo e o rio Taquari, que tambémdescem do planalto em direção à depressão Central. Este último é navegável a partir de Estrela. O rio Jacuí deságua no lago Guaíba, onde três outros rios também despejam suas águas: o rio Caí, o rio dos Sinos e o rio GravataÍ. O lago Guaíba tem ampla ligação com a laguna dos Patos, que por sua vez se comunica com o oceano Atlântico através do canal de Rio Grande. Além do Jacuí e dos demais rios que con- vergem para o Guaíba, merecem referência os rios Camaquã e Jaguarão. O Camaquã de- ságua diretamente na laguna dos Patos, vin- do do planalto Sul-Rio-Grandense; o Jagua- râo desemboca na lagoa Mirim. O canal São Gonçalo, que recebe as águas do rio Piratini, liga a lagoa Mirim à laguna dos Patos. o lago Guaíba é marca característica da paisagem de Porto Alegre. • AS PAISAGENS VEGETAIS A vegetação natural depende das caracte- rísticas do solo e do clima. Por exemplo, as matas ou florestas neces- sitam de solos mais ou menos profundos para que as raízes das árvores possam se de- senvolver. Os solos rasos normalmente são cobertos por plantas de pequeno porte, que em geral constituem os campos. Ao mesmo tempo, as matas precisam de boa quantidade de água, suficiente para satisfazer as necessi- dades vitais das árvores. Por isso ocorrem flo- restas em regiões de clima úmido com chu- vas abundantes. . No Rio Grande do Sul as condições de clima e solo favoreceram tanto a formação de matas quanto a de campos. No litoral, po- rém, a vegetação é escassa e pobre devido à presença de solos arenosos e com muito sal. A vegetação litorânea é formada por plantas baixas e arbustos, adaptados ao ambiente em que VIvem. Os campos Antigamente mais da metade do ter- ritório rio-grandense era coberta por cam- pos. Hoje em dia a atividade humana transformou grande parte dos campos em lavouras. Há dois tipos de campos no Rio Grande do Sul: as campinas e os campos do planalto. As campinas são campos limpos, que cobriam quase toda a metade sul e o oeste do estado. Nas áreas remanescentes dessa vege- tação no Rio Grande do Sul forma-se um verdadeiro tapete de gramíneas, que se estende pelas terras onduladas das coxilhas. As campinas dominam a paisagem da região da Campanha. ________________________---------------------IIIIIIIII~--- ______ AS PAISAGENS VEGETAIS A ocorrência das campinas está ligada à exis- tência de solos rasos e à ação do vento frio do inverno (o minuano), que dificulta o desen- volvimento de uma vegetação de maior porte. A paisagem natural da região das campi- nas é diferente nas proximidades do leito dos rios; aí geralmente aparecem as chamadas matas-galerias. Nos lugares mais baixos do terreno, onde a umidade do solo também é maior, ocorrem manchas de mata, conhecidas como capões de mato. As campinas representam a maior área contínua de campos do Brasil. Elas são uma continuação dos campos da Argentina e do Uruguai, cujo conjunto é chamado de pampa. As campinas têm grande valor para a cria- ção de gado, particularmente no oeste do es- tado, onde estão as melhores pastagens natu- rais do Brasil. Os campos do planalto, ou de cima da ser- ra, aparecem em solos relativamente pobres, em comparação aos solos rico~'de origem vul- cânica do planalto Norte-Rio-Grandense. No nordeste do estado, nos campos de Bom Jesus e de Vacaria, os solos são arenosos. Além disso o frio rigoroso do inverno contribui pa- ra a ocorrência de vegetação campestre. Por possuírem muitos arbustos mistura- dos às gramíneas os campos do planalto eram chamados de campos sujos; eles sempre tiveram uma qualidade pastoril inferior às campinas. Atualmente a maior parte desses campos foi transformada em lavouras de trigo e soja, especialmente na área de Passo Fundo, e em plantações de frutas (maçã) na zona de Vacaria. As matas Há dois tipos de florestas no Rio Grande do Sul: a mata Subtropical e a mata dos Pinhais. Rio Grande do Sul: vegetação natural ARGENTINA URUGUAI ESCALA o 83 166km ti! 1cm-83km Fonte: Atlas nacional do Brasil. IBGE. Rio de Janeiro, 2000. OCEANO ATLÂNTICO CJ Campos CJ Mata Subtropical CJ Mata dos Pinhais CJ Vegetação litorânea _____ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE • • Exemplares remanescentes da mata de Araucária, ou dos Pinhais, outrora predominante na paisagem do planalto Norte-Rio-Grandense. A mata Subtropical ocupava a encosta do planalto e o alto vale do rio Uruguai, onde a pluviosidade é farta e o inverno não é muito frio. Ela é parecida com as florestas tropicais: possui grande variedade de árvores, de folhas largas e perenes, que estão entrelaçadas por cipós. No entanto, as árvores são de menor porte que as das florestas tropicais, e algumas delas perdem as folhas durante o inverno. Por isso é do tipo subtropical. Na encosta nordeste do estado a mata Subtropical é uma continuação da mata Atlântica, que antigamente cobria as escar- pas orientais do planalto Brasileiro, desde o Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul, no município de Osório. A mata Subtropical possui muitas árvores de grande valor econômico, pois servem para a extração de madeiras de lei, isto é, madeiras duras e resistentes, ótimas para a fabricação de móveis. Entre elas destacam-se o cedro, a cabreúva, o ipê e a canela. A devastação da floresta Subtropical co- meçou no início do século XIX, para· a ex- tração da madeira, e prosseguiu com a vinda dos imigrantes europeus, que passaram a cul- tivar as áreas que receberam para colonizar. A mata dos Pinhais é formada pelo pi- nheiro-do-paraná, cujo nome científico é Araucaria angustifolia. Por isso ela é também chamada de floresta ou mata de Araucária. Os pinheiros são árvores que preferem as baixas temperaturas. Por esse motivo, sua área de ocorrência é o planalto, no norte e no nordeste do estado. A mata de Araucária era um dos muitos recursos naturais do Rio Grande do Sul, pois a madeira do pinheiro é utilizada para a fabricação de instrumentos musicais, mó- veis, casas; na produção de celulose, papel e ______~ ~BIIIIIII~_ _------ AS PAISAGENS VEGETAIS papelão. Além do uso da madeira, o fruto da araucária, mais conhecido como pinhão, e bastante apreciado na culinária de toda a região Sul do Brasil. Antigamente os pinhais cobriam boa par- te do território rio-grandense. No entanto, devido ao intenso desmatamento para explo- ração madeireira, restam hoje poucos lugares onde as araucárias podem ser encontradas. Na região dos pinheirais havia também a erva-mate - pequena árvore de cujas folhas se produz a erva para o chimarrão. Atual- mente não existem mais ervais nativos no es- tado: a produção rio-grandense de erva-mate é obtida de ervais cultivados. o desmatamento As florestas têm um papel importantíssi- mo no chamado equilíbrio ecológico. O des- matamento de grandes áreas provoca enor- mes alterações no meio ambiente e traz mui- tas conseqüências negativas ao homem. Po- demos destacar as seguintes: • as chuvas tornam-se irregulares, havendo períodos secos seguidos de dias com plu- viosidade excessiva; • a erosão torna-se mais intensa, sobretu- do quando o desmatamento é feito nas encostas; • os solos, antes mantidos pelas raízes das plantas, são carregados pelas enxurradas; • o material transportado pelas enxurradas - os solos - acaba sendo depositado em grandes quantidades nos leitos dos rios, que se tornam mais rasos e, em época de chuvas excessivas, transbordam com mais facilidade, provocando enchentes de con- seqüências desastrosas. Quando os primeiros europeus chegaram ao extremo sul do Brasil cerca de 40% do ter- ritório rio-grandense era coberto por florestas. A partir do século XIX, com o povoamento e ______ o ESPAÇO RIO-GRANDENSE a colonização, as matas começaram aser der- rubadas para a produção de madeira e princi- palmente para a ocupação agrícola. Devido ao contínuo desmatamento o Rio Grande do Sul chegou a uma grave situação: no início da década de 1980, pouco mais de 6% do seu território estava coberto por florestas. A recuperação florestal Nas duas últimas décadas houve uma no- tável recuperação das áreas florestais do esta-do. O desmatamento praticamente cessou e, sobretudo, o abandono de terras original- mente florestadas permitiu que a vegetação nativa aos poucos se reconstituísse: nos solos desprezados surge a capoeira, que ganha por- te e se transforma em mata secundária com o passar dos anos. A causa principal da recuperação florestal do Rio Grande do Sul reside nas dificuldades de cultivo e na impossibilidade de mecaniza- ção dos minifúndios em terrenos acidenta- dos, levando pequenos produtores rurais a renunciar à prática agrícola. Mas outros fa- tores contribuíram para o ressurgimento de - matas no estado: • o êxodo rural reduziu significativamente a mão-de-obra no campo, diminuindo a pressão por terras para a subsistência; • o advento de uma legislação ambiental ri-' gorosa, inibindo ações predatórias; • o despertar da consciência dos proprietá- rios sobre a importância das florestas. Por esses motivos as áreas de mata do es- tado triplicaram em vinte anos: no início do novo milênio mais de 18% do território rio- grandense aparece coberto por florestas, em sua maior parte com espécies nativas. Essa restauração ocorreu principalmente na- região da encosta do planalto Norte-Rio- Grandense. Rio Grande do Sul: uso do solo ARGENTINA o mapa mostra que mais de 18% do território rio-grandense está coberto por matas, das quais menos de 1% é plantado. Destaca-se a área de campos e pastagens, refletindo a tradição pastoril do estado. Merece referência a extensão das lagunas e lagoas, cujo conjunto forma o que já foi chamado de "segundo litoral" ou "costa doce". URUGUAI ESCALA O 55 , ! 1cm-55km Fonte: Adaptado de Zero Hora, 6 jun. 2001, p. 34. SANTA CATARINA OCEANO ATLÂNTICO c::::J Florestas ( 18.49%) c=:J lavouras (25,25%) c=:J Campos e pastagens (46,73%) c=:J lâminas de água (7.09%) _ Dunas, banhados e outros (2,44%) o reflorestamento Simultaneamente à restauração de matas nativas, e graças sobretudo aos incentivos go- vernamentais concedidos ao reflorestamen- to, houve o desenvolvimento da silvicultura, voltada para a produção de matéria-prima . para as fábricas de papel, papelão, resinas, madeira aglomerada e móveis. Geralmente o plantio de árvores é feito em terrenos desfa- voráveis à agricultura, como encostas de va- les e áreas de solos pobres, pedregosos ou a- renosos. As espécies preferidas para o reflo- restamento têm sido o euca1ipto, o Pinus eliot- ti e a acácia-negra, diferentes das que forma- vam as antigas matas gaúchas. Do ponto de vista econômico o reflo- restamento tem trazido bons resultados. O Pinus eliotti, por exemplo, cresce mais rapi- damente que o pinheiro-do-paraná e sua madeira dá bons lucros aos produtores. O município de Encruzilhada do Sul destaca-se por seu pólo madeireiro. A acácia-negra, ár- -------------------------- . ---'_ AS PAISAGENS VEGETAIS Reflorestamento com Pinus eliotti. A silvicultura ocasiona matas homogêneas que, embora de inegável importância econômica, não restauram o antigo ambiente natural. vore da qual se extrai o tanino, empregado para curtir couro, é uma das principais ri- quezas dos municípios de Brochier e Maratá, no vale do Rio Caí. No entanto, esse tipo de reflorestamento não restaura o antigo ambiente ecológico, ri- co em espécies vegetais e animais. Numa grande área de plantação de eucaliptos, por exemplo, não se ouve o canto de passarinhos. A preservação ambiental Depois de mais de um século de devasta- ção o poder público, tanto federal quanto es- tadual, começou a se preocupar com a pre- servação do meio ambiente. A partir dos anos 1940, mais precisamente em 1947, foi criada a primeira unidade de conservação da natureza no Rio Grande do Sul: o Parque Estadual do Turvo. As unidades de conservação da natureza são áreas onde a ação humana sofre restrições legais, de forma parcial ou total. Há diversos tipos de unidades de conser- vação, que podem ser federais, estaduais ou municipais, cuja denominação varia confor- _____ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE me o alcance da restrição' estabelecida: par- que, reserva, estação ecológica, etc. No Rio Grande do Sul há diversas uni- dades de conservação criadas pela União e outras, em maior número, pelo governo esta- dual. O maior parque federal é o Parque Na- cional da Lagoa do Peixe, com 34 400 hec- tares de área. Essa enorme área está localizada na restinga que separa a laguna dos Patos do oceano Atlântico, entre os municípios de Tavares, Mostardas e São José do Norte. Entre as unidades de conservação esta- duais as mais extensas são o recém-criado Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos, com 2 543 hectares, e o Parque Estadual do Turvo, com 17 491 hectares, à semelhança do Parque Estadual do Delta do Jacuí, com mais de 17 mil hectares. Algumas dessas unidades ainda não saíram do papel, como é o caso do Parque Nacional da Serra Geral, com 17 300 hectares, nos municí- pios de Cambará do Sul e São Francisco de Paula, no Rio Grande do Sul, e Jacinto Machado e Praia Grande, em Santa Catarina. O parque foi criado em 1992, mas até hoje nada foi feito para que se tornasse reali- dade, já que as terras não foram desapropria- das e os proprietários continuam residindo na área. Outras, no entanto, como o pionei- ro Parque Estadual do Turvo, localizado no município de Derrubadas, estão devidamen- te regularizadas. O mapa a seguir mostra um expressivo número de unidades de conservação locali- zadas no nordeste do estado. Isso reflete as preocupações com uma área complexa do ponto de vista ambiental, pois nela a passagem abrupta do planalto Norte-Rio-Crandense para a planície Litorânea permite o contato muito próximo entre diferentes ecossistemas, Com efeito, a mata Atlântica, de característica subtropical, ocupa as encostas da serra Geral, confrontando-se a oeste com os antigos dorní- nios dos campos de cima da serra e da mata de Araucária, hoje praticamente extinta. A leste, • •• Rio Grande do Sul: unidades federais e estaduais de conservação da natureza SANTA CATARINA '1 em - 67 km 13, Turvo 14, Delta do Jacuí 15, Rondinha 16, Espigão Alto 17. Itapuã 18. Espirilho 19. Tainhas 20. Camaquã 21. Itapeva 22, Podocarpus 23. Ibiritiá 24, Guarita 25. Nonoai •25•15 .5 Passo Fundo Bento. Gonçalves .o?"" carflaquã OCEANO ATLÂNTICO Fontes: Ibama e Sema-RS. o sistema mata Atlântica está em contato com o delicado sistema litorâneo. Além das áreas públicas de preservação ambiental, existem também as reservas par- ticulares do patrimônio natural (RPPNs). As RPPNs - como também são conhecidas- representam hoje um importante instrumen- to no esforço para envolver a sociedade na conservação do meio ambiente. Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Reno- váveis (Ibama), no início de 2003 o total das áreas protegidas por essas reservas no Rio Grande do, Sul chegou a 3 944 hectares. 26. Mata Paludosa 27, Serra Geral 28. Ibirapuitã 29. Banhado São Donato 30. Ibicuí- Mirim 31. Mato Grande 32, Aratinga 33. Banhado dos Pachecos 34. Litoral Norte _______________________________________________EIIIIIIII~ _ CAPíTULO __ IIL-A_FO_RM_A_Ç_ÃO_S_O_CI_OE_S_PA_C_IA_L _ o território rio-grandense era habitado primitivamente por povos indígenas. A par- tir do' século XVII começou a ser ocupado por europeus, sobretudo portugueses. No início o território que começava a ser ocupado pelos europeus deveria pertencer à Espanha, pois ficava a oeste da linha de Tor- desilhas. Mas aos poucos, e depois de muitas disputas com os espanhóis estabelecidos na região do Prata, os portugueses conquista- ram o território rio-grandense, formando o estado mais meridional do Brasil. o extermínio dos índios Antes da chegada dos europeus calcula-se que havia cerca de 300 mil índios no terri- tório rio-grandense, pertencentes a três anti- gas etnias, cada uma com vários grupos - ao norte, os jês (kaingangs, guaianás, etc.): na faixa central, os tapes; no sul e no oeste, os chands (minuanos, charruas, guenoas, etc.) -, bem como à grande nação guarani, cujos grupos haviam invadido aregião e "guarani- zado" muitas tribos nativas. Depois de quase três séculos de domina- ção branca, durante os quais os índios foram submetidos a variadas formas de extermínio, restam hoje cerca de 13 mil remanescentes daqueles que eram os donos originais da terra. A maior parte deles é do grupo kaingang; os demais são guaranis. Os índios atuais vivem em áreas especiais, oficialmente denominadas terras indígenas, Rio Grande do Sul: terras indígenas-~ SANTA CATARINA I-rg-. If. ARGENTINA 10. 16• ·11-2 • 12. • .4 Terra indigen • Etnia Municipio Área (em hectares)13 24 22 ·20 7· • 21 1. Agua Grande Guarani Camaquã 165 2, Barra do Ouro Guarani Maquiné; Riozinho 2266 ·14 3. Borboleta Espumoso A definir• 4, Cacique Doble Kaingang/Guarani Cacique Doble 4426• 3 5, Canta Galo Guarani Vlamão 28623 -'7 2 6. Capivari Guarani Pai mares do Sul 43• 7. Carreteiro Kaingang Água Santa 23925. ·15 8. Nonoai Kaingang Nonoai 149095 9, Coxilha da Cruz Guarani Barra do Ribeiro 2029. 6 Tenente Portei.; Redentora;27. 10. Guarita KainganglGuarani Erval Seco 23406 17\-1 11. Guarani Votouro Guarani Ben'amin Constant do Sul 7171 t2. Rio da Várzea Kainoano Liberato Salzano 16415 13.lnhacorá Kainoana São Valéria do Sul 2843 URUGUAI 14.lnhacapetum Guarani São Miguel das Missões 36 15.lrapuá Guarani Cachoeira do Sul 220o 16.1. Kainoana lrai 279N OCEANO 17,Pameca Guarani Camaquã 18520+' ATLÂNTICO 18. Riozinho Kainoano Camaquã 12]; 19. Rio dos Indios Kaingang Camaauã A definir20. Ligeiro Kainaana Charrua 455221. Monte Caseiros Kainaana Mulitemo; Ibiraiaras 1112 S 22. Ventara Kaingang Erebango 772 23. Safio Grande do Jacui Guarani Safio do Jacul 234 24. Serrinha Kaingang Ronda Alta; Três Palmeiras; 11950 Áreas demareadas Constantina; Engenho Velho• ESCALA 25. Varzinha/Três Forquilhas Guarani Caraá 795ou homologadas O 130 260 km 26, Votouro Kaingang Benjamin Constant do Sul 3361• Áreas não demareadas , , , Palmares do Sul; Barra do1 em -130 km 27. Acampamentos Guarani Guarani Ribeiro; São Miguel; Tapes - Fonte: Funai, 2002. _____ '----=-O--=-:ES~PA Ç~O~R .;I O_-_G_R_A_N_D_E_N_S_E ._------- que no Rio Grande do Sul são em número de 27; mas apenas treze delas estão devida- mente demarcadas. Os indígenas deixaram sua contribuição na formação étnica e cultural do Rio Grande do Sul, especialmente na região das campi- nas. Os charruas, por exemplo, índios cava- leiros que viviam no sudoeste do estado, co- miam carne assada no espeto e usavam indu- mentária de couro, constituíram o principal contingente do qual foi recrutada a mão-de- obra necessária ao estabelecimento da ativi- dade pecuária na região. Talvez seja na toporiímia, isto é, na deno- minação de lugares e acidentes fisiográficos, que a influência indígena é mais facilmente identificada: lbicuí, Coroados, ltaimbé e inúmeros outros nomes remetem aos habi- tantes originais do estado. As Missões dos jesuítas A ocupação do Rio Grande do Sul pelos europeus começou com padres jesuítas vin- dos do Paraguai. Eles se estabeleceram na margem oriental (leste) do rio Uruguai com a finalidade principal de catequizar os índios. Os jesuítas fundaram várias aldeias ou povoados, que eram chamados de Missões ou reduções. A primeira delas foi fundada em 1626 pelo padre Roque Gonzales. O conjunto de povoados de maior importância histórica foram os Sete Povos das Missões: São Nicolau, São Miguel, São Luís Gonzaga, São Borja, São Lourenço, São João Batista e Santo Ângelo. Localizavam-se no noroeste do atual Rio Grande do Sul, numa área que ficou conhecida como região das Missões. Rio Grande do Sul: região das Missões ARGENTINA São Luís Gonzaga 1" t São Nicolau URUGUAI SANTA CATARINA T Santo Ângelo t São Lourenço 1" São João Batista T São Miguel Arcanjo OCEANO ATLÂNTICO ESCALA O 71 142 km t r ! Fonte: Adaptado de Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro, MEC, 1988. 1 em -71 km ----------------------~-- /' ____ -'_ A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL Os jesuítas introduziram a criação de ani- mais no Rio Grande do Sul: ovinos, muares, eqüinos e principalmente bovinos. Junto com a pecuária e valendo-se do trabalho in- dígena, desenvolveram também a agricultura e a extração da erva-mate. Sob a direção dos jesuítas, as Missões reu- niam milhares de índios em uma vida comu- nitária, na qual as atividades eram distribuí- das entre todos, que trabalhavam tendo em vista o bem comum. Ainda no século XVII as Missões come- çaram a ser invadidas por bandeirantes - homens vindos de São Paulo, que atacavam as aldeias com a finalidade de aprisionar os índios para vendê-Ias como escravos. Devido aos seguidos ataques dos bandeirantes as Missões entraram em decadência. Em 1750, pelo Tratado de Madri, Portu- gal e Espanha determinaram que a popula- ção dos Sete Povos - cerca de 30 mil índios deveria deixar a áre;, que passaria ao domínio dos portugueses, e transferir-se para o outro lado do rio Uruguai, que pertencia aos espanhóis. Liderados pelo cacique Sepé Tiaraju, os índios missioneiros recusaram-se a abandonar suas aldeias e perder suas terras. Seguiu-se então uma longa resistência arma- da contra tropas portuguesas e espanholas - as Guerras Guaraníticas. Embora o Tratado de Madri tenha sido anulado em 1761, e os índios missioneiros tenham obtido o direito de permanecer na região, as guerras causaram a destruição dos Sete Povos. Os habitantes das Missões que não morreram em combate fugiram para ou- tros lugares ou foram escravizados por ban- deirantes. Os rebanhos de sua criação sol- taram-se pelos campos do estado. Em 1768 os jesuítas abandonaram o Rio Grande do Sul. Detalhe das ruínas de São Miguel, no interior do município de mesmo nome. As ruínas das Missões são testemunhos históricos da atuação dos jesuítas no território rio-grandense. ____ ---'_ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE • o surgimento das estâncias Encontrando condições favoráveis de clima, de relevo e principalmente de vege- tação, o gado missioneiro dispersou-se pelos campos rio-grandenses, reproduziu-se livre- mente e tornou-se bravio. No século XVIII numerosos rebanhos vagavam pelos campos do planalto Norte-Rio-Grandense, conheci- dos como Vacaria dos Pinhais, e sobretudo pelas campinas, chamadas de Vacaria do Mar. A notícia da existência no Rio Grande do Sul de rebanhos sem dono atraiu o interesse de muitas pessoas, principalmente de São Paulo. As reses eram abatidas em pleno cam- po e delas se aproveitavam apenas o couro e o sebo. Em 1737, para garantir os interesses dos portugueses instalados na região, foi cons- truído o forte Jesus-Maria-José, junto ao ca- nal que liga a laguna dos Patos ao oceano Atlântico. Ao lado do forte formou-se uma povoação, que deu origem à atual cidade de Rio Grande. O domínio português se expan- diu pelas áreas vizinhas, que no seu conjun- to eram chamadas de Continente do Rio Grande de São Pedro. Esse foi o primeiro nome do atual estado do Rio Grande do Sul. Nessa época - ainda no século XVIII - desenvolveu-se a mineração em Minas Ge- rais, atraindo milhares de pessoas para a re- gião. Assim se formou um mercado de consu- mo para os produtos da pecuária: couro, car- ne, leite e animais para transporte. Em conse- qüência a atividade de caça foi sendo substi- tuída pela criação de gado, pois os animais passaram a ser reunidos em locais destinados a tal finalidade - as estâncias ou fazendas. Estimulada pelo mercado do sudeste do país, principalmente de Minas Gerais, desen- volveu-se a pecuária no Rio Grande do Sul. Portugueses, paulistas e catarinenses - estes Estância no município de Bagé onde a principal atividade econômica é a pecuária. ________________________________________~IIIIIIIIL_ _ ____ -'_ A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAl particularmente de Laguna - ganhavam do governo grandes extensões de campo, onde instalavam suas fazendas de criação de gado. Muitos dos novos fazendeiros tinham com- batido contra os platinas, que eram os inimi- gos dos portugueses na disputa pela posse da região. Com o passar do tempo as áreas cam- pestres, principalmente as da Campanha, ficaram povoadasde fazendeiros. Junto a al- gumas estâncias surgiram povoados, que mais tarde se tornaram cidades. Portanto, a formação do Rio Grande do Sul teve início com o surgimento das estân- cias. Foi na atividade pastoril, particularmente na Campanha, que surgiu a figura do gaúcho, originalmente o homem que trabalhava na fazenda, cuidando do gado. Bem mais tarde todas as pessoas nascidas no Rio Grande do Sul passaram a ser chamadas de gaúchos. Os tropeiros A tarefa de conduzir o gado dos campos rio-grandenses para ser vendido no sudeste do Brasil era feita pelos tropeiros, vindos de São Paulo e principalmente de Laguna, no litoral catarinense. As tropas de gado eram conduzidas a pé e levavam meses até chegar ao seu destino. Na Os caminhos do gado MS 5 ESCALA o 153 306km ! I ! 1cm-153 km Fonte: Adaptado de Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro, MEC, 1988. OCEANO ATLÂNTICO ----. Caminhos do gado D Vacaria dos Pinhais D Vacaria do Mar ____ -'_ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE • zaaior parte das vezes o gado era vendido na ~ de Sorocaba, perto da capital paulista, de de era levado para as áreas de consumo, sobretudo em Minas Gerais. No início os tro- ~os apanhavam o gado sem dono, que vivia campinas. Depois muitos tropeiros orga- nizaram estâncias e tornaram-se fazendeiros. O gado era conduzido pelo litoral. Em ~s lugares do caminho dos rebanhos sur- ziram povoados, como São José do Norte, ivari, Santo Antônio da Patrulha e ou- . Alguns povoados cresceram e se torna- cidades. Mais tarde foram abertos caminhos pelo alto Norte-Rio-Grandense. Esses novos caminhos permitiram que o gado da região Missões e da Vacaria dos Pinhais também esse ser vendido em São Paulo. Pelos ca- os do planalto começaram a surgir es- cias, chácaras e povoados. Alguns povoa- transformaram-se em cidades: São Borja, ruz Alta e Vacaria. Desse modo os tropeiros contribuíram bastante para o povoamento do estado e para que o Rio Grande do Sul ficasse integrado a São Paulo e demais regiões do Brasil. As charqueadas A mineração provocou a transferência do centro econômico do nordeste para o sudeste do Brasil, ocasionando a mudança da capital do país, de Salvador para o Rio de Janeiro . Devido a migrações a população de Mi- nas Gerais, do Rio de Janeiro e de São Paulo cresceu bastante. À medida que essa popula- ção crescia aumentava o mercado de con- sumo para os produtos da pecuária gaúcha - o couro e principalmente a carne. Aos poucos o transporte do gado passou a ser feito também por barcos e navios, pois desenvolveu-se a navegação pelo rio jacuí, pe- la laguna dos Patos e pelo oceano Atlântico, queada no início do século XX no interior do Rio Grande do Sul. Nas charqueadas onde o gado era abatido se ricava o charque, ou seja, a carne bovina era salgada e seca em fatias e, posteriormente, comercializada. -------------------------------v. ______ A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAl até o Rio de Janeiro. Só bem mais tarde fo- ram construídas as primeiras ferrovias em ter- ritório rio-grandense, cujo traçado obedeceu aos interesses do transporte de gado. Mesmo após o surgimento da navegação, o Rio Grande do Sul continuou vendendo os animais vivos, pois naquela época não havia maneira de conservar a carne fresca por mui- to tempo. No entanto, como a parte vendida era somente o couro e a carne, os fazendeiros resolveram enviar, em vez de bois vivos, a carne já seca e salgada, que se chama charque. Dessa forma barateavam o transporte e aumentavam seus ganhos. Foi assim que sur- giram as charqueadas, estabelecimentos onde se fabricava o charque. A primeira charqueada foi fundada em 1780, junto ao arroio Pelotas, próximo a Rio Grande. Em seguida, muitas outras foram criadas na mesma região e também junto a diversas fazendas. O Rio Grande do Sul tornou-se grande vendedor de charque. Sua produção e seu co- mércio atraíram muitas pessoas ao estado. Grandes levas de escravos negros foram trazi- das para trabalhar na atividade saladeiril, isto é, na indústria do charque. Junto a muitas charqueadas surgiram povoações, algumas das quais mais tarde se tornaram cidades. Dessa forma pode-se dizer que o Rio Grande do Sul "nasceu com as estâncias e cresceu com as charqueadas". A contribuição do negro Embora tenha sido usado como carrega- dor por bandeirantes e tropeiros e aproveita- do como serviçal doméstico nas fazendas, foi com o desenvolvimento das charqueadas que se deu o ingresso mais expressivo do negro no Rio Grande do Sul. Para trabalhar na atividade saladeiril fo- ram trazidas para o estado grandes e sucessi- vas levas de escravos de origem africana, cujo -,-- __ --"_ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE número chegou a ser esti~ado em 80 mil indivíduos, por volta de 1860. A dispersão espacial do negro deu-se do litoral para o interior, atingindo a Campa- nha e a depressão Central a partir de dois ei- xos de irradiação com base em Rio Grande. No principal deles os escravos eram levados para Pelotas, Canguçu, Piratini e Jaguarão. O outro incluía São José do Norte, Viamão, Triunfo e Taquari. A influência do negro na formação étni- co-cultural do Rio Grande do Sul freqüente- mente tem sido subestimada. No entanto, ela aparece de modo significativo em alguns aspectos da vida rio-grandense, como o es- porte, a música e de modo especial a religião. Os açorianos O povoamento oficial do Rio Grande do Sul teve início em 19 de fevereiro de 1737, com a fundação do forte ou presídio (na ver- dade uma praça de guerra) que deu origem à atual cidade de Rio Grande e foi o núcleo irradiado r da ocupação do território. O governo português percebia a necessi- dade de garantir a posse das áreas em dispu- ta com os platinas, mediante uma ocupação em bases estáveis através do uso agrícola do solo. Para isso promoveu a vinda de habi- tantes dos Açores, arquipélago localizado em pleno oceano Atlântico, que ainda hoje per- tence a Portugal. A partir de 1751 centenas de casais de açorianos foram encaminhados para o sul do Brasil. Cada um recebeu um lote de terra para cultivar, com o propósito de expandir o povoamento a partir de Rio Grande. Os aço- rianos participaram do desenvolvimento ini- cial de povoados, vilas e cidades, principal- mente no litoral e na depressão Central: São José do Norte, Tavares, Mostardas, Gravataí, Santo Antônio da Patrulha e Osório, em um primeiro momento, e posteriormente Triun- • .. fo, General Câmara, Rio Pardo e Cachoeira do Sul. Nessas cidades percebe-se a influência dos açorianos, especialmente na arquitetura. Além do tipo de construção os açorianos legaram ao Rio Grande alguns costumes e tra- dições que perduram em certas comunidades das áreas por eles colonizadas. O sotaque ca- racterístico e o linguajar do litoral, por exem- plo, são uma herança cultural dos ilhéus. A fundação de Porto Alegre Em 1732 Jerônimo de Ornelas Menezes e Vasconcelos ganhou uma grande extensão de terras do governo português. Situadas a leste do lago Guaíba, essas terras pertenciam ao municí- pio de Viamão, que na época era um dos prin- cipais povoados do Rio Grande do Sul. Jerônimo de Ornelas organizou uma es- tância, cuja sede ficava no morro Santana, hoje um bairro de Porto Alegre. Para servir ao comércio de Viamão, havia sido construí- do um pequeno porto sobre o Guaíba - o porto de Viamão. Marinheiros, comerciantes e outras pessoas fixaram-se junto a esse porto. A população cresceu e o lugar passou a ser chamado de Porto do Dorneles (que vem de Ornelas). Em 1752 dezenas de casais açorianos de- sembarcaram no Porto do Dorneles e recebe- ram terras do governo, nas quais começaram a plantar trigo e outros produtos. Eles orga- nizaram um povoado, onde hoje fica o bair- ro Gasômetro, e construíram uma capela em homenagem a São Francisco. Depois da che- gada dos açorianos o Porto do Dorneles pas- sou a ser chamado de Porto dos Casais. A posição do Porto dos Casais era muito favorável ao comércio, e ali eram embarcados e desembarcados numerosos produtos. As ati- vidades comerciais e portuárias atraíam rnui- Porto Alegre, a capital gaúcha,antigo Porto dos Casais, é uma das metrópoles mais importantes do Brasil. ____ - A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL Caxias do Sul, fundada por imigrantes italianos, conta atualmente com mais de 360 mil habitantes, sendo um destaca- do pólo industrial e comercial do Rio Grande do Sul. tas pessoas, fazendo com que a população do povoado crescesserapidamente. No dia 26 de março de 1772 o povoado foi separado do município de Viamão, com o nome de São Francisco do Porto dos Casais. Esse dia é con- siderado a data oficial da fundação de Porto Alegre. No ano seguinte o povoado recebeu o nome de Freguesia de Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre e tornou-se a capi- tal do Rio Grande do Sul. Antes disso a capi- tal tinha sido Rio Grande e, por pouco tem- po, Viamão. Em 1810 Porto Alegre foi elevada à cate- goria de vila e, em 1822, tornou-se cidade. Atualmente, segundo o Censo Demográfico 2000, a cidade ocupa o nono lugar em popu- lação no Brasil com mais de 1,3 milhão de habitantes. _____ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE Os imigrantes São consideradas imigrantes as pessoas que vieram para o Brasil depois da Indepen- dência. Em 1822 os campos do Rio Grande já estavam ocupados, mas as áreas de mata do planalto Norte-Rio-Grandense e da serra Geral permaneciam despovoadas. Para po- voá-Ias, o governo brasileiro resolveu promo- ver a imigração. Com o correr dos anos, milhares de imi- grantes vieram para o Rio Grande do Sul. Com base na agricultura eles ocuparam áreas de mata, ou seja, colonizaram lugares despo- voados do estado. Por isso foram chamados de colonos, e as áreas por eles ocupadas fica- ram conhecidas como zonas coloniais. Ainda hoje, mesmo depois de grandes transforma- • ções socioespaciais, o conjunto dessas zonas não raro é chamado de região colonial do Rio Grande do Sul. Ao chegar ao estado cada colono recebeu um lote de terra, que passou a cultivar com a ajuda dos membros da família. Os colonos introduziram a policultura no estado, pois dedicavam-se ao cultivo de vários produtos: trigo, milho, batata, frutas, verduras e legu- mes. Juntamente com a agricultura, criavam animais: vacas leiteiras, porcos e galinhas. Por serem donos das terras que ocupavam e por ficarem com toda a produção obtida, os colonos sentiam-se estimulados a trabalhar e a produzir cada vez mais. Dessa forma, as zonas coloniais do estado progrediram bastante. No início os colonos produziam para sua subsistência, mas logo passaram a obter exce- dentes. Com o dinheiro ganho na venda des- ses excedentes podiam comprar outros pro- dutos. Dessa forma desenvolveu-se o comér- cio, ao mesmo tempo que se formavam mer- cados de consumo nas zonas coloniais. Rio Grande do Sul: áreas de colonização Fonte: Adaptado de Brasil: 500 anos de povoamento. IBGE, 2003. SANTA CATARINA OCEANO ATLÂNTICO c:J Alemã D Italiana c:J Mista (expansão) O Poloneses Açorianos (século XVIII) ____________________________________________IIIIIIIII~----- lIIIIIí,iijJ!i . J A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL---- Entre os imigrantes vieram muitos arte- sãos, que instalaram pequenas oficinas, co- mo tecelagens, serralherias, marcenarias, cur- tumes, etc. Havendo compradores para seus produtos, muitas oficinas cresceram e, mais tarde, transformaram-se em indústrias: têx- teis, mecânicas, de móveis, de calçados, etc. Diversos grupos de imigrantes vieram para o Rio Grande do Sul: os principais fo- ram alemães, italianos e poloneses. Os que vieram em maior número foram os alemães e os italianos. Os alemães começaram a chegar ao esta- do em 1824, desembarcando no lugar onde hoje fica a cidade de São Leopoldo. Eles co- lonizaram a parte inferior da encosta do pla- nalto Norte-Rio-Crandense, sobretudo os vales dos rios Caí, dos Sinos, Pardo e Taqua- ri. Fundaram vários povoados, alguns dos quais se tornaram cidades, como Novo Hamburgo, São Leopoldo, Lajeado e São Se- bastião do Caí, entre outras. Hoje em dia o vale do Rio dos Sinos é famoso por sua in- dústria de produtos de couro, com destaque para o setor de calçados. A maior cidade da -. região é Novo Hamburgo, que também pos- sui muitas outras indústrias. Quando as primeiras zonas ocupadas já estavam bastante povoadas os alemães subiram o planalto e foram para o norte e noroeste do estado. Aí também se estabeleceram colonos poloneses e imigrantes de outras origens. Em 1875 chegaram ao Rio Grande do Sul os primeiros italianos, que colonizaram a parte superior da encosta e a borda do pla- nalto. O primeiro povoado organizado pelos italianos transformou-se na maior cidade do interior do estado: Caxias do Sul. Os italia- nos fundaram outros povoados, que origina- ram as cidades de Bento Gonçalves, Farrou- pilha, Garibaldi, entre outras. Junto com a policultura os italianos in- troduziram no Rio Grande do Sul o cultivo da uva e a fabricação do vinho - a vitivini- cultura. A região colonial italiana é famosa no Brasil inteiro pela qualidade das uvas e dos vinhos que produz. As cidades que eles fundaram, em particular Caxias do Sul,' possuem muitas indústrias: metalúrgicas, mecânicas, malharias, fábricas de móveis, etc. Grupo de danças típicas em Dois Irmãos (RS), município de colonização alemã. O ESPAÇO RIO·GRANDENSE Assim, os imigrantes europeus, sobretudo alemães e italianos, contribuíram de maneira significativa para a formação do estado. Tal contribuição ocorreu especialmente nas zo- nas coloniais, onde a maioria da população atual é formada por descendentes de imi- grantes. Na parte inferior da encosta do pla- nalto, por exemplo, a influência alemã é visí- vel nas características étnicas e culturais da maioria das pessoas; ela está presente nos há- bitos, nas tradições e até na maneira de falar. A influência italiana é marcante nos habitan- tes da parte superior da encosta. A evolução municipal A unidade básica da organização político- administrativa do Brasil é o município, dota- do de autonomia e poderes próprios, nos ter- mos da Constituição federal. A sede de um município é, por definição, uma cidade. Por conveniência administrativa, o município pode dividir-se em subunidades, os distritos. No início do século XIX o Rio Grande do Sul tinha apenas quatro municípios: Rio Grande (o mais antigo), Santo Antônio da Patrulha, Rio Pardo e Porto Alegre. Em 1900 tinha 64 e, em meados do século XX, esse número chegava a 112. A partir do fim dos anos 1980 ocorreu um surto de emanci- pações municipais no estado, como em todo o país. Nem sempre em condições recomen- dáveis, mas favorecidos por uma legislação pouco exigente, inúmeros distritos consegui- ram se emancipar, tornando-se municípios. Em 1987, quando o estado tinha 244 municípios, ocorreram 29 emancipações. o ano seguinte, mais sessenta, perfazendo 333. Com mais 94 emancipações em 1992, outras 40 em 1996 e 30 em 2001, o estado chegou a 497 municípios. Rio Grande do Sul: evolução municipal 1809 ____________________________________________~EIIIIIIII~ ~ 4 municípios /... . ... " ... . " ' .. . " . 1900 64 municípios ~ ::::::':: •••I•••.... ..' '" ~""., .., ::. ":-., . " / '<' .:: •..•••:.::.: .. ::.:; ....:.~;:::. '... ' :....:.::..,: .. • ' •••• :: t. :'.::': ::~:. _.. • • .. .. . ··:·:·~·:;:;;:i~:~::·'[ • .' • : ••••::.', -·::';U:i:'.::::' : .• ' :" ." -'. " ••••••••'!.il~·:••••••. .....: ..~ ...• :.: •.•••• :p' •. . . ...~. . '. ":iV e. .. . 2001 497 municipios Fonte: Governo do Rio Grande do Sul. CAPíTULO A POPULAÇÃO Assim como a do Brasil, a população rio- grandense foi formada por diferentes grupos humanos, com predomínio de europeus. No estado, contudo, esse predomínio é mais for- te, principalmente porque houve expressiva participação não só de portugueses -- o ele- mento dominante --, mas também de outros povos de origem européia, sobretudo ale- mães e italianos. A participação dos negros na formação da população gaúcha não foi tão grande como a que ocorreu, por exemplo, no litoral do Nor- deste brasileiro. A contribuição dos índios -- mesmo que modesta, principalmente se for comparada com a que aconteceu em al- gumas regiõesdo Brasil, como a Amazônia -- foi significativa nas áreas de formação pastoril do estado. Muitos gaúchos de hoje têm sangue indígena. De qualquer maneira, a miscigenação pro- duziu uma razoável porcentagem de mesti- ços, sobretudo mulatos. Juntamente com os negros, a imensa maioria deles vive nos bair- ros pobres dos maiores centros urbanos do estado, principalmente na capital e nas cida- des vizinhas. Isso acontece porque, de modo mais evidente que no resto do Brasil, a con- dição de cor está muito ligada à condição econômica e social: por falta de melhores oportunidades a população não-branca ge- ralmente exerce atividades menos valorizadas e, portanto, de remuneração mais baixa. Se- gundo o Censo Demográfico 2000, conside- rando as pessoas com 10 ou mais anos de idade, enquanto o analfabetismo atinge 7% da população branca, chega a 12% entre os negros e a 15% entre os pardos ou mestiços. A população do Rio Grande do Sul apre- senta uma porcentagem de brancos bem mais elevada do que a população brasileira em geral, enquanto a proporção de negros e sobretudo . tl O ESPAÇO RIO-GRANDENSE Brasil: composição étnica da população 0,5% Negros Indígenas Brancos Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000. Rio Grande do Sul: composição étnica da população _0,04% o Negros III--AJn-=M--el-o-s------------------------- Outros Brancos Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000 . Rio Grande do Sul: descendência européia • Portuguesa Italiana Alemã Outras Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000. de mestiçosé bem inferior. Estima-seque a po- pulação branca do estado tenha aproximada- mente a seguinte descendência: portuguesa: 35%; alemã: 25%; italiana: 25%; outras: 15%. A distribuição espacial Com cerca de 10,2 milhões de habitan- tes, que representam 6% da população brasi- leira, o Rio Grande do Sul é o quinto estado mais populoso do país (depois de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia). Entre os estados da região Sul, a população gaúcha é levemente superior à do Paraná. O Rio Grande do Sul tem uma média de 36 hab.zkrrr' - quase o dobro da densidade demográfica do Brasil. Portanto, o estado é relativamente bem povoado. Todavia, não é dos mais povoados do país, estando abaixo inclusive de Santa Catarina (55 hab.rkm") e do Paraná (47 hab.Zkm-). A distribuição da população pelo espaço -o-grandense é irregular, pois a densidade demográfica varia de uma região para outra. Como se sabe" a distribuição espacial da po- pulação depende de fatores naturais, históri- cos e sobretudo econômicos. Assim, as áreas menos povoadas são o litoral sul e médio, onde a ocupação produtiva do solo é pouco expressiva, e aquelas originalmente cobertas por campos, onde se deu uma formação socioespacial com base na criação de gado. No oeste e no sudoeste do estado ainda hoje a pecuária é predominante, praticada em grandes propriedades. A agricultura, desen- volvida nas últimas décadas, geralmente é mecanizada. A lavoura com emprego de má- quinas e principalmente a atividade criatória não requerem muita mão-de-obra. Por isso a região da Campanha é pouco povoada, com menos de 10 hab.zkm': só as áreas em torno das principais cidades apresentam densidades um pouco maiores. Por motivos semelhantes os antigos campos do planalto, no nordeste do estado, hoje dominados pela agricultura mecanizada e pela fruticultura, também têm baixas densidades de população. Por outro lado, as áreas do planalto e da encosta, de formação socioespacial assentada na agricultura, têm densidades médias, altas ou muito altas. De modo geral as densidades médias são encontradas no planalto, onde Região Sul: distribuição da população Santa Catarina Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000. A POPULAÇÃO ciais e de serviços. A região metropolitana de Porto Alegre concentra um terço da popula- ção total do estado. o crescimento demográfico e a urbanização Desde que a imigração no país foi subs- tancialmente restringida, em 1934, a popu- lação do Rio Grande do Sul cresce segundo taxas menores que as verificadas na popula- ção brasileira. Isso se deve fundamentalmen- te a menores índices de natalidade ocorrentes no estado, em conseqüência de um nível mé- dio de vida mais elevado da população gaú- cha em relação ao da população do país. dominam lavouras mecanizadas em proprie- dades também médias, e com uma rede de cidades de razoável porte, nas quais se desta- ca a agroindústria. As densidades são maiores nos vales que entalham a encosta devido ao histórico pre- domínio da policultura realizada em peque- nas propriedades, que empregam bastante mão-de-obra. Hoje o desenvolvimento in- dustrial e a conseqüente urbanização confe- rem altas densidades demográficas aos vales dos rios Caí, Taquari e Pardo. De outra parte, a região industrial de Ca- xias do Sul, na borda do planalto, e notada- mente a de Porto Alegre, que inclui o vale do rio dos Sinos, possuem densidades demográ- ficas muito altas numa escala brasileira. São espaços fortemente urbanizados, nos quais dominam as atividades industriais, comer- Rio Grande do Sul: densidade demográfica ARGENTINA URUGUAI SANTA CATARINA ESCALA o 75 150 km ! ! , 1 em - 75 km Fonte: Adaptado de Atlas geogrdfico escolar. IBGE, Rio de Janeiro, 2002. OCEANO ATLÂNTICO Habitantes por km2 [=:J 1-10 [=:J 11-25 26-100 100 ou mais O ESPAÇO RIO-GRANDENSE Comparando as taxas anuais de cresci- mento verifica-se que tanto para a população rio-grandense quanto para a brasileira os va- lores máximos ocorreram no final da década de 1950 e início dos anos 1960, quando se deu o auge da explosão demo gráfica no país. A desaceleração demo gráfica - a redu- ção significativa do ritmo de crescimento po- pulacional devido à diminuição da natalida- de - iniciou-se primeiro no Rio Grande do Sul, nos anos 1970. Apenas na década se- guinte o fenômeno ocorreu no conjunto do país. Isso significa que há mais tempo o esta- do viu-se aliviado das pressões demo gráficas que agravam muitos problemas do subdesen- volvimento: carência alimentar, déficit habi- tacional, analfabetismo, etc. Atualmente, segundo estimativas do IBGE, enquanto a população brasileira cres- ce cerca de 1,4% ao ano, a população rio- grandense aumenta 1,0%. Como em todo o Brasil, o crescimento populacional do estado nas últimas décadas está associado à urbanização, isto é, à passa- gem da população de atividades agrárias para atividades urbanas. Em quarenta anos - de 1940 a 1980 - houve uma inversão completa da situação de domicílio da população: de essencialmente rural para flagrantemente urbana. Hoje, de cada cinco rio-grandenses, apenas um vive na zona rural. Nos anos 1970 a urbanização do estado ocorreu sem grandes distorções: apesar do maior incremento de cidades próximas à ca- pital, houve também um crescimento de ci- dades médias e pequenas do interior. No último período intercensitário, porém, 60% do crescimento demográfico aconteceu em municípios com mais de 100 mil habi- tantes. Os municípios com menos de 10 mil residentes tiveram, no conjunto, um decrésci- 3 2,99 Taxa média de incremento anual da população (em %) % 2,89 2,54 2 2,48 1,93 1,63 1,55 1,48 1,22 1950/1960 1960/1970 1991 /20001970/1980 1980/1991 Brasil LI Rio Grande do Sul " Fontes: IBGE, Anuário Estatístico do Brasil 1999 e Censo Demográfico 2000, A POPULAÇÃO Brasil: distribuição da população 1940 1970 2000 1950 67%.:» 1980 Rio Grande do Sul; distribuição da população 1991 1970 1950 1980 1991 Fontes: IBGE, Anuário Estasistico do Brssi :999 e Censo Demográfico 2000. mo de população. Isso quer dizer que os pe- quenos centros já não atraem a população que deixa o campo; ela prefere os centros maiores, onde acredita haver melhores oportunidades de ascensão econômica e social. Com isso o crescimento e a urbanização ocorrem não só na região que envolve a capital, mas essencial- mente nas cidades médias e sobretudo gran- des do interior. A contrapartida é que mais de 70% dos municípios gaúchos possuem menos de 20 mil habitantes. As migrações internas Por ser uma
Compartilhar