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Livro - O Espaço Rio-Grandense - Igor Moreira

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UMÁRIO
, .CAPíTULO
A POSiÇÃO E A SITUAÇÃO
GEOGRÁFICA DO TERRITÓRIO
RIO-GRANDENSE
7 Os pontos extremos
8 Os limites e as fronteiras
8 A situação geográfica
CAPíTULO
O RELEVO E OS SOLOS
10 A formação do relevo
CAPíTULO
O CLIMA
16 Os ventos e a temperatura
do ar
17 As chuvas
17 Os fatores regionais
18 A influência do clima
____ o ESPAÇO RIO-GRA OENSE
: ·4--,
~ ~~~--
OS RIOS
20 A bacia do Uruguai
20 A bacia Atlântica
, .
AS PAISAGENS VEGETAIS
21 Os campos
22 As matas
24 O desmatamento
24 A recuperação florestal
2S O reflorestamento
26 A preservação ambiental
CAPíTULO
• A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL
28 O extermínio dos índios
29 As Missões dos jesuítas
31 O surgimento das estâncias
32 Os tropeiros
33 As charqueadas
34 A contribuição do negro
34 Os açorianos
3S A fundação de Porto Alegre
36 Os imigrantes
39 A evolução municipal
•
éApíTUlO
A POPULAÇÃO
41 A distribuição espacial
42 O crescimento demo gráfico e a
urbanização
44 As migrações internas
45 A emigração
48 O nível de vida
CAPíTULO
O ESPAÇO AGRÁRIO
49 A agricultura
52 A pecuária
54 A estrutura fundiária
AS ATIVIDADES INDUSTRIAIS
57 As indústrias modernas
57 As fontes de energia
60 Os tipos' de indústria e sua
distribuição espacial
CAPíTULO
O COMÉRCIO, AS CIDADES E OS
TRANSPORTES
62 A função comercial das cidades
63 O comércio externo
64 O Mercosul
65 Os transportes
CAPíTULO
A DIVERSIDADE ESPACIAL
68 Uma divisão administrativa
69 Regiões de planejamento
70 O norte e o sul
72 Uma regionalização tradicional
QUESTÕES DE VESTIBULARES
93 Respostas
93 Significado das siglas
BIBLIOGRAFIA
_______________________________________________IIIIIIIII~----~
A POSiÇÃO E A SITUAÇÃO GEOGRÁFI~A
DO TERRITÓRIO RIO-GRANDENSE
o Rio Grande do Sul é o estado mais
meridional do Brasil. Seu território tem
282 062 krn", o que representa apenas
3,30% da área total do nosso país, mas que é
quase a metade da superfície da região Sul.
Em extensão territorial o Rio Grande do
Sul é o nono estado do Brasil, sendo um
pouco maior que o estado de São Paulo. Seu
território é maior que o de muitos países do
mundo; representa, por exemplo, dez vezes a
área de Israel, seis vezes a da Holanda e três
vezes a de Portugal.
Foto da América do Sul feita pelo satélite NOOA.
Assinalado, o território do Rio Grande do Sul.
•
Região Sul: composição da área
I Rio Grande do Sulr. Paraná
I Santa Catarina
Fonte: Adaptado de Atlas geográfico
escolar. Rio de janeiro, lBGE, 2002.
Ospontos extremos
o território rio-grandense está localizado
na chamada zona temperada do Sul, que é a
extensa faixa da superfície terrestre com-
preendida entre o trópico de Capricórnio e o
círculo polar Antártico. Seus pontos extre-
mos são:
• norte - uma das curvas do rio Uruguai,
a 2JO04' 49" de latitude sul;
• sul - uma curva do arroio Chuí, chama-
da de Volta da Baleia, a 33%4'42" de la-
titude sul, que também é o ponto ex-
tremo sul do Brasil;
• leste - barra do rio Mampituba, a
49°42'22" de longitude oeste (isto é, a
oeste do meridiano de Greenwich);
• oeste- barra do rio Quaraí, afluente do rio
Uruguai, a 57°38'34" de longitude oeste.
Rio Grande do Sul: localização
50"
Rio Uruguai SANTA CATARINA :
-- - ------- ------.- ------ --------- -- ---,-----------~ --- - - -- - - - - - - - - - - - - - - -. - - - - -- -'
~ocano~o$' j N,+,
Fonte: Adaptado de Atlas geográfico escolar. Rio de janeiro, lBGE, 2002.
'i''-l''--r-----------300-
OCEANO
ATLÂNTICO
"
ESCALA
O 80 160 km,
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~5q'~~J~~~~~~~.~~~~~~~~~~~~~~}~~~~~~~~~~':l~~~~~~~~.
-------------------------"----
___ --'_ A POSiÇÃO E A SITUAÇÃO GEOGRÁFICA DO TERRITÓRIO RIO-GRANDENSE
Portanto, o Rio Grande do Sul está loca-
lizado em uma latitude média de 30° sul.
Isso significa que está mais próximo da linha
do Equador (0° de latitude) que do pólo Sul
(90° de latitude sul). Desse modo o território
rio-grandense tem uma posição subtropical,
ou seja, abaixo e próxima do trópico de Ca-
pricórnio.
Os limites e as fronteiras
o Rio Grande do Sul tem os seguintes
limites:
• ao norte e a nordeste - estado de Santa
Catarina;
• ao sul e a sudoeste - República Oriental
do Uruguai;
• a leste - oceano Atlântico;
• a oeste e a noroeste - República Argen-
nna.
Ao todo, o estado possui 3 307 km de li-
mites, distribuídos da seguinte maneira:
• 1 003 km com a República Oriental do
Uruguai;
• 724 km com a República Argentina;
• 958 km com o estado de Santa Catarina;
• 622 km com o oceano Atlântico.
A maior parte dos limites do estado é for-
mada por acidentes naturais. Por exemplo, o
rio Uruguai é o limite entre o Rio Grande do
Sul e a República Argentina; o rio Quaraí
(afluente do rio Uruguai) e o rio Jaguarão
(que corre para a lagoa Mirim) separam ter-
ras rio-grandenses do território uruguaio.
Mas uma pequena parte dos limites com a
República Oriental do Uruguai, no sul do
estado, é do tipo artificial ou convenciona-
do, ou seja, foi demarcada através de um
acerto entre o Brasil e o país vizinho.
Não devemos confundir limite com fron-
teira: limite é uma linha e fronteira é a faixa
de território sobre a qual passa a linha que
_ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
-------'
separa um país de outro. O c~nceito de fron-
teira não cabe, pois, no caso de divisão polí-
tica interna de um país.
Somando os limites com a Argentina e
com o Uruguai, vemos que eles totalizam
52% (1 727 km) das divisas do estado. Por-
tanto, o Rio Grande do Sul apresenta uma
extensa linha divisória com outros países e,
conseqüentemente, possui uma vasta faixa
de fronteira.
Asituação geográfica
A situação geográfica de um território é
definida pela sua posição em relação a fatos
ou elementos externos capazes de influir em
sua história e em seu desenvolvimento. As-
sim, pode-se afirmar que a situação geográfi-
ca do Rio Grande do Sul reveste-se de grande
importância geopolítica em razão da extensa
fronteira com a Argentina e o Uruguai e da
proximidade com o Paraguai.
As fronteiras do estado formaram-se em
meio a intensas disputas entre portugueses e
espanhóis, às quais se seguiram sucessivos
conflitos entre o Brasil e seus vizinhos plati-
nos. Ou seja, são áreas nas quais sempre pre-
dominou a preocupação com a preservação e
a defesa e que por isso marcam de modo
concreto a separação entre o território bra-
sileiro e o dos países vizinhos. Um exemplo
dessa descontinuidade efetiva, historicamen-
te constituída, é a ligação entre as cidades de
Uruguaiana, em território rio-grandense, e
Paso de los Libres, na Argentina, unidas por
uma majestosa ponte sobre o rio Uruguai. A
ferrovia brasileira que vai até Uruguaiana
tem bitola de um metro, diferente da estrada
de ferro argentina que vai até Paso de los
Libres, com bitola de 1,20 metro.
Hoje, no estágio do capitalismo globali-
zante e sob o patrocínio do Mercosul, as
•
•
fronteiras - que outrora eram elementos de
separação - tendem a se tornar espaços
onde avança a pretendida integração.
Nesse sentido o Rio Grande do Sul tem
uma situação potencialmente favorável. O
estado tende a ser o centro geopolítico do
Cone Sul da América, já que Porto Alegre
fica, em linha reta, a 740 km de Monte-
vidéu, 840 km de Assunção, 850 km de São
Paulo, 940 km de Buenos Aires, 1 150 km
do Rio de Janeiro, 1 615 km de Brasília e
1 950 km de Santiago. Considerando a orga-
nização do espaço regional na perspectiva da
integração, o Rio Grande do Sul pode ser
também seu centro geoeconômico.
O Rio Grande do Sul não enfrenta maio-
res obstáculos às ligações rodoviárias e hidro-
viárias com o Uruguai. A conclusão da ponte
da Integração entre São Borja-Santo Tomé
no fim de 1997 constituiu mais uma ligação
terrestre com a Argentina. Além disso a nova
ponte também proporcionou ao Paraguai
outra saída viária para o oceano Atlântico: de
Assunção, passando por Encarnación no sul
do país, até o porto gaúcho de Rio Grande.
Quando estiver concluída uma rodovia
projetada para a região será possível o acesso
ao porto de Antofagasta, no Chile. Uma das
conseqüências dessa obra será a aproximação
dos mercados latino-americanosde toda a
costa do Pacífico aos países da costa atlântica
da América do Sul. Além desses países, a
Oceania e o extremo Oriente, compostos
entre outros por países como China e Japão,
estarão mais acessíveis às exportações
brasileiras.
o Rio Grande do Sul no MercosuP
I Mercosul (Mercado Comum
do Sul): organização instituída
pelo Tratado de Assunção no fim '
de 1991, reunindo Argentina,
Brasil Paraguai e Uruguai. Cil"
meçou a vigorar em 1995 através
de uma progressiva redução das
tdrifas olfondegárids de um con-
junto cada vez mais amplo de
produtos, com vista ao livre-co--
mércio e àformação de um mer-
cado comum entre ospaíses mem-
bros. Posteriormente associaram-
se ao Mercosul o ChiIR (I996) e a
Bo/ivia (J997), porém não como
membros efetivos.
OCEANO
PAcíFICO
ESCALA
O 380 760 km
! ! !
1 cm - 380 km
Fonte: Adaptado de Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro, IBGE, 2002.
de Janeiro
Santos I
ritiba ..JI&....
Paranaguá
:..J...... C:=J Região industrial
• Florianópolis Área industrial
.--. Zona agropecuária
l.==J melhorada
• Metrópole
@ Capital nacional
• Cidade importante
.L Porto
OCEANO
ATLÂNTICO
= Ponte
- Rodovia
- - - - Rodovia projetada
•..•..•..•...Ferrovia
ç= Hidrovia
r--.....> Rio
-----------------------'------
o RELEVO E OS SOLOS
o relevo do Rio Grande do Sul asse-
melha-se ao do resto do Brasil, pois possui
um substrato rochoso muito antigo, que há
milhões de anos não sofre manifestações
tectônicas expressivas. A ausência de tecto-
nismo se deve também ao fato de o território
rio-grandense estar fora das áreas de insta-
bilidade da crosta terrestre, que são as faixas
de descontinuidade existentes entre as pla-
cas tectônicas que constituem a litosfera.
Nessas condições, o Rio Grande está livre de
manifestações vulcânicas e dos temíveis ter-
remotos.
Devido à antiguidade e à estabilidade 00
embasament0-f.g(;h.oso,.....as-altitudes-São m0-
4estas e o relevo é mais ou menos s ve. I
h, ·1"· ~ bai dporque a m! elllOSa qosao vem re alxan o
Çl.S--PITfismais elevados e arredondando as
fo r1"lli!S-IDais-ahrup.ta$.
Sob o aspecto geológico, o território rio-
grandense é constituído por rochas crisrali-
gas, sedimentares e basálticas.
A formação do relevo
No centro-sul do estado afiara um núcleo
de rochas cristalinas pré-cambrianas, como
granitos e gnaisses, sob a forma de um pe-
queno planalto. Esse núcleo faz parte de uma
estrutura bem maior, o antigo embasamento
sobre o qual, em uma grande depressão e du-
rante dezenas de milhões de anos, se formou
a bacia sedimentar do Paraná. Há cerca de
120 milhões de anos, portanto durante a era
Mesozóica, essa bacia 'passou por intenso
vulcanismo. Por diversas e sucessivas ocasiões
Grandes unidades de relevo do Rio Grande do Sul
SANTA CATARINA
ARGENTINA
o 90km
'--'
D Depressão Central
D Planalto Sul-Rio-Grandense
D Planicie Costeira
- Linha de corte
aMirim+
N
O L
oa
angueira
5
Fonte: Adaptado de Atlas nacional do Brasil. Rio de Janeiro, IBGE, 2000.
OCEANO
ATLANTICO
D Rochas cristalinas pré-cambrianas
D Rochas sedimentares muito antigas
- Era Paleozóica
D Rochas sedimentares antigas
- Era Mesozóica
D Rochas vulcãnicas - Basalto
Altitude
(em metros)
1000
PERFIL DO RELEVO DO RIO GRANDE DO SUL
(de Jaguarão a Marcelino Ramos)
PLANALTO
NORTE-RIO-GRANDENSE
800
Marcelino Ramos ---..
600
PLANALTO
SUL·RIO-GRANDENSE
(ESCUDO)
DEPRESSÃO
CENTRAL
Jaguarão
400 /
200
o~----------~----------------~
+-SUL------------------------
o ESPAÇO RIO-GRANDENSE
Principais formas de relevo do Rio Grande do Sul
Fonte: Adaptado de Atlas nacional do Brasil. Rio de Janeiro, IBGE, 2000.
OCEANO
ATLÂNTICO
ESCALA
O 75 150km
! I !
1 em - 75 km
o magma subiu e se derramou pela superfície
através de extensas fraturas abertas na crosta.
Ao se consolidar, a lava vulcânica formou ro-
chas basálticas que cobriram grande parte da
bacia do Paraná, incluindo o que é hoje o
norte do estado e a maior parte do planalto
Meridional do Brasil, também chamado de
planalto da Bacia do Paraná.
Mais tarde, quando ocorreu a orogenia
andina, isto é, a formação da cordilheira dos
Andes, na era Cenozóica, a bacia do Paraná
foi soerguida, sofrendo em conseqüência inú-
meras juntas ou diáclases (fissuras) e grandes
falhas em suas bordas; Sobre as juntas muitos
rios se encaixaram e, graças à erosão facilita-
da, deram origem a gargantas e vales pro-
fundos. Nos terrenos sedimentares periféricos
ao planalto da Bacia do Paraná, ocorreu a se-
guir intenso processo de erosão (chamado de.
circundenudação periférica), rebaixando
acentuadamente o terreno e formando uma
larga faixa de depressão.
Desde então os sedimentos oriundos dos
planaltos são transportados, sobretudo por
rios, e depositados no leste do território.
Ali, juntamente com uma intensa sedimen-
tação de origem marinha, vão formar uma
larga faixa de terras baixas, com um gran-
de número de lagoas e lagunas de variadas
dimensões.
Dessa maneira o relevo do Rio Grande do
Sul possui diferentes unidades, cada qual com
suas altitudes, tipos de rocha e formas pre-
dominantes: o planalto Sul-Rio-Grandense, o
planalto Norte-Rio-Grandense, a depressão
Central e a planície Litorânea.
o RELEVO E OS SOLOS
o planalto Sul-Rio-Grandense
No centro-sul do estado encontramos
uma área de rochas muito antigas, que se for-
maram na primeira fase da história da Terra.
Trata-se do escudo cristalino, que constitui o
planalto Sul- Rio-Grandense.
Por serem muito amigas as rochas desse
planalto já foram bastante atacadas pela ero-
são. Por esse motivo as paisagens geralmente
apresentam morros arredondados e somente
em alguns lugares as altitudes ultrapassam
300 metros.
Nessas partes mais altas os morros são
mais salientes e aparecem agrupados, for-
mando serras - são as serras Sul-Rio-Gran-
denses. Por estarem localizadas no sudeste do
estado, elas são conhecidas como serras de
Sudeste. Planalto Sul-Rio-Grandense, serras
de Sudeste ou simplesmente escudo são ex-
pressões usadas para designar a mesma uni-
dade geomorfológica.
As principais serras de Sudeste são: de
Caçapava, de Encruzilhada, dos Tapes e do
Herval.
Os solos do escudo não são muito bons
para a agricultura, pois geralmente são are-
nosos e pouco férteis. Por isso seu aproveita-
mento agrícola exige o emprego de adubos.
No entanto, alguns vales fluviais da-região
têm solo de melhor qualidade.
Se, por um lado, os solos não são muito
favoráveis, por outro, o subsolo da região das
serras de Sudeste oferece alguns minerais me-
tálicos: cobre, ouro, estanho, chumbo, zinco
e prata. Esses minerais, porém, aparecem em
pequena quantidade e misturados às rochas.
Por isso sua exploração não desperta grande
interesse.
Entre os minerais metálicos do estado, o
cobre é o mais importante, pois aparece em
maior quantidade que os outros. Ele é en-
contrado sobretudo no município de Caça-
pava do Sul.
111m O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
o planalto
Norte-Rio-Grandense
A parte norte do Rio Grande do Sul é
constituída por terrenos mais ou menos ele-
vados, que formam o planalto Norte-Rio-
Grandense. Esse planalto nada mais é que a
extremidade sul do planalto Meridional do
Brasil, que se estende desde o sul de Goiás
até o Rio Grande do Sul. Em classificação
moderna essa grande unidade do relevo bra-
sileiro é denominada planaltos e chapadas da
Bacia do Parand.
O planalto Norte-Rio-Grandense é for-
mado por rochas sedimentares relativamente
antigas, principalmente o arenito, que estão
cobertas por espessas camadas de rochas vul-
cânicas, sobretudo o basalto. Por isso dize-
mos que esse planalto é arenítico-basáltico.
As maiores elevações do planalto estão na
sua parte leste e nordeste, onde chegam' a
mais de mil metros de altitude. É nessa parte
que se encontra o pomo mais elevado do ter-
ritório rio-grandense: o monte Negro, com
1 398 metros, localizado em um trecho da
serra Geral conhecido como serra do Realen-
go, no município de São José dos Ausentes,
próximo à divisa com Santa Catarina.
As altitudes do planalto Norte-Rio-Cran-
dense diminuem aos poucos de leste para
oeste.Na sua parte leste e sudeste o planalto
termina em uma descida brusca, isto é, em
uma encosta.
Devido a antigas fraturas e sobretudo à
intensa erosão sob clima úmido, a encosta
apresenta-se muito acidentada, notadamente
em sua parte leste. Aí aparecem escarpas
abruptas e morros com declives acentuados
que oferecem belas paisagens. É nessa área
que está localizado o famoso Itaimbezinho
- um profundo e escarpado vale (um canyon),
de grande atração turística.
•
A encosta do planalto Norte-Rio-Cran-
dense tem o nome de serra Geral. Ela repre-
senta o relevo mais acidentado do Rio Gran-
de do Sul.
Os solos do planalto Norte-Rio-Gran-
dense - formados pela decomposição do
basalto - são os melhores do estado para o
aproveitamento agrícola. Hoje em dia, po-
rém, eles estão empobrecidos, devido à ex-
ploração continuada, à compactação causada
pelo peso das máquinas agrícolas e, princi-
palmente, ao emprego excessivo de fertili-
zantes químicos.
Em numerosos vales da serra Geral os so-
los também são propícios para a agricultura.
No entanto, estão muito desgastados pela
erosão, sobretudo nos terrenos inclinados
onde a mata foi derrubada.
Além do basalto, usado na construção ci-
vil e no calçamento de ruas, o principal re-
curso mineral do planalto são as gemas, isto
é, cristais de rocha que constituem pedras
preciosas e semipreciosas. Formaram-se pela
cristalização de minerais no interior de pe-
quenas cavidades, originadas por gases conti-
dos na lava vulcânica que se derramou sobre
a bacia do Paraná na era Mesozóica.
O Rio Grande do Sul é um dos maiores
produtores nacionais de gemas, destacando-
se os municípios de Encantado, Soledade e
Salto do Jacuí. Guaporé notabilizou-se por
sua indústria de lapidação de pedras.
Aspecto do relevo da serra Geral no planalto Norte-Rio-Crandcnse. Na foto o Parque Nacional da Serra Geral, no
nordeste do estado.
Nas partes central e sul, porém, a planície
Litorânea é bastante larga.
No interior de toda a planície Litorânea
existem numerosas lagoas, cuja água é salo-
bra, isto é, salgada. Por se comunicarem dire-
tamente com o oceano algumas delas têm o
nome de lagunas, em vez de lagoas. Esse é o
caso da laguna dos Patos, a maior do Brasil,
que se comunica com o Atlântico através do
canal de Rio Grande.
Além da laguna dos Patos, a lagoa Mirim
e a lagoa Mangueira também merecem
destaque por sua extensão. A lagoa Mirim
serve de fronteira com o Uruguai, pois parte
de suas águas pertence a esse país vizinho.
Por serem muito arenosos os solos da pla-
nície Litorânea não são favoráveis à agricul-
tura. Perto do mar a paisagem apresenta
muitas dunas ou côrnoros de areia. No en-
tanto, graças ao uso de fertilizantes, uma boa
produção de cebola é obtida no município
litorâneo de São José do Norte.
______ ~~==I~~ __O_R_E_L_E_V_O __ E_O_S__ S_O_L_O_S _
A depressão Central
Separando as terras altas do planalto
Norte-Rio-Crandense dos terrenos menos
elevados do planalto Sul-Rio-Crandense há
uma faixa de terras relativamente baixas, pla-
nas ou levemente onduladas, que constitui a
depressão periférica Sul-Rio-Grandense. Ao
contrário do que ocorre no sudoeste do esta-
do, na conhecida Campanha, onde as altitu-
des e formas exteriores não apresentam gran-
des diferenças em relação aos planaltos contí-
guos, essa unidade de relevo é mais indivi-
dualizada e facilmente perceptível na faixa
central do estado. Por isso ela é mais co-
nhecida como depressão Central.
A depressão Central assemelha-se a uma
planície, que se estende de leste a oeste e
sobre a qual corre o rio mais importante do
estado: o Jacuí. É formada por rochas sedi-
mentares antigas, nas quais são encontrados o
calcário, o xisto e o principal recurso mineral
do Rio Grande do Sul: o carvão mineral.
A planície litorânea
o litoral rio-grandense, isto é, a faixa de
terra que fica junto ao oceano Atlântico, é
uma planície, pois seus terrenos são baixos e
planos. É a planície Litorânea ou planície
Costeira, formada por sedimentos recentes,
depositados sobretudo pelo trabalho do mar.
No litoral norte a planície é estreita, já
que as escarpas da serra Geral estão a poucos
quilômetros de distância do oceano. Bem ao
norte aparecem junto ao mar elevações
rochosas que são blocos remanescentes dos
grandes falhamentos sofridos no passado
geológico pela bacia do Paraná. No lado do
Atlântico essas elevações têm encostas com a
forma de grandes paredões, que se parecem
com torres. Foram elas que deram nome ao
município de Torres.
o ESPAÇO RIO-GRANDENSE
As torres do litoral norte gaúcho são formadas por
fragmentos e blocos remanescentes da antiga bacia
sedimentar do Paraná.
•
As coxilhas são uma característica marcante do relevo rio-grandense, particularmente na região da Campanha.
A Campanha
A região do oeste e do sudoeste do Rio
Grande do Sul tem o nome de Campanha.
Embora pertençam a distintas unidades do
relevo - ao planalto arenítico-basãltico e à
depressão periférica -, seus terrenos têm
certa semelhança, pois neles predominam
elevações suaves e alongadas.
Vistas de longe essas elevações se asseme-
lham à curva que existe perto da ponta de
um facão. Antigamente essa parte do facão
era chamada de coxilha, e por isso as eleva-
ções suaves e compridas do estado receberam
o nome de coxilhas.
As coxilhas, primitivamente cobertas por
uma vegetação rasteira, de campos limpos,
são os elementos predominantes nas paisa-
gens da Campanha. Mas elas também apare-.
cem, embora com menor freqüência, em ou-
tras áreas do estado: nos terrenos cristalinos
do sul e até nas partes elevadas do norte. Por
serem encontradas em quase todo o território
rio-grandense as coxilhas são a forma mais
conhecida do relevo do Rio Grande do Sul.
Os solos da Campanha são mais propí-
cios à pecuária, embora possam ser cultiva-
dos, particularmente lias vales dos rios e nas
baixadas, onde a lavoura de arroz tem grande
destaque. Em terrenos onde aflora um deter-
minado arenito da era Mesozóica - da épo-
ca chamada de série Botucatu - há grandes
áreas intensamente desertificadas. Ali solos
originalmente arenosos sofreram uso inade-
quado, com ação continuada de máquinas
agrícolas, adubos químicos em excesso e
pisoteio do gado. As áreas mais conhecidas
são o deserto de São João, em Alegrete, e o
deserto de Puitã, em São Borja.
o CLIMA
No Rio Grande do Sul o ar atmosférico
varia muito no decorrer do ano. Isso acon-
tece devido à posição geográfica do estado,
que o torna ora dominado por massas de ar
tropicais, ora por massas de ar polares.
Osventos e a temperatura
do ar
Nos meses de verão o território rio-grau-
dense é geralmente dominado por ventos
vindos do norte. Por se originarem em lati-
tudes baixas esses ventos são quentes e, em
conseqüência, ocasionam altas temperaturas,
sobretudo nos meses de dezembro e janeiro.
Nos meses de inverno o estado é freqüen-
temente invadido por ventos frios de origem
polar. Eles provocam baixas temperaturas,
sobretudo nos meses de junho e julho. Quan-
do é seco o vento frio vindo do sul é chama-
do de minuano.
Desse modo o ar atmosférico no Rio
Grande do Sul é quente no verão e frio no
inverno. Mas nem todos os dias de inverno
./
são frios, pois em alguns períodos dessa
estação a influência de ventos vindos do
norte ocasiona temperaturas moderadas e,
em algumas ocasiões, até elevadas. Por ter
verões quentes e invernos nem sempre frios o
clima do Rio Grande do Sul é classificado
como subtropical.
Na primavera e no ourono as tempera-
turas são variáveis, dependendo da origem
do ar que chega ao estado: se faz frio é por-
que o ar é de origem polar; se faz calor ele
certamente veio do norte. No entanto, essas
estações apresentam em grande parte tem-
peraturas amenas, embora quase sempre a-
I· • r-'" I •corram sensrveis vanaçoes terrrucas entre o
dia e a noite.
Verão Inverno
SANTA
CATARINA
Fonte: Adaptado de Atlas geogrdfico escolar. Rio de Janeiro, IBGE, 2002.
o 112km'--------J
o ESPAÇO RIO-GRANDENSE
•
As chuvas
Ocorrem chuvas em todos os meses do
ano. Na maior parte das vezes elas se devemà influência do ar polar.
A superfície de descontinuidade ou zona
de contato entre o ar quente, de origem tro-
pical, e o ar frio, de origem polar, chama-se
frente. Ela se caracteriza geralmente pela
ocorrência de chuvas, pois o ar frio provoca
o resfriamento, a condensação e a conse-
qüente precipitação do vapor de água conti-
do no ar quente.
Por isso, ao se deslocarem, as frentes ocasio-
nam chuvas nos lugares por onde passam -
são as chuvasfrontais. Se o ar frio estiver avan-
çando e o ar quente estiver recuando, como
acontece no Rio Grande do Sul, a frente será
fria. Se ocorrer o contrário, a frente será quente.
Em grande parte do ano, sobretudo nos
meses de inverno, o Rio Grande do Sul é se-
guidamente atingido por frentes frias, que
provocam chuvas e, em seguida, a diminui-
ção da temperatura. No verão, porém, mui-
tas chuvas são causadas pela grande umidade
trazida por ventos quentes, geralmente de
origem tropical atlântica, eventualmente de
origem equatorial continental.
Por apresentar chuvas bem distribuídas
por todo o ano o clima do estado é classifi-
ar fria -_ ••••~
••• ••• ••• Frente fria
cada como úmido. Portanto, o clima do Rio
Grande do Sul é subtropical úmido.
Os fatores regionais
Embora seja semelhante em toda a exten-
são do território, o clima do estado apresen-
ta algumas pequenas diferenças, devido à
influência dos chamados fatores regionais: a
latitude, o relevo, a distância do mar e prin-
cipalmente a altitude.
Assim, por causa da latitude, as temperatu-
ras do litoral norte são ligeiramente mais altas
que as temperaturas registradas no litoral sul.
O município de Torres, por exemplo, de lati-
tude mais baixa, tem temperatura mais alta
que o de Chuí, que fica bem ao sul do estado.
Devido à influência do relevo chove um
pouco mais nas partes elevadas da serra Geral
que nas demais regiões do estado, já que a
encosta aumenta a turbulência dos ventos
úmidos vindos do oceano.
A distância do mar, por sua vez, é respon-
sável pelos verões muito quentes e pelos dias
de inverno muito frios que ocorrem no oeste
do estado; no litoral as variações de tempe-
ratura não são tão grandes. Isso acontece
A frente provoca chuvas na área por onde passa.
Fonte: Adaptado de Manual de meteorologia para aeronavegantes. Ministério da Aeronáutica, 1969.
______________ lfi:.i.'"'",;~"-,,,:I__
o CLIMA
porque as diferenças de temperatura entre o
inverno e o verão variam na mesma pro-
porção que aumenta a distância do mar. Esse
fator é chamado continentalidade.
O fator regional que mais influi no clima
do Rio Grande do Sul é a altitude. Como se
sabe, a temperatura do ar é mais baixa nos
lugares mais altos. Por isso, nas partes ele-
vadas do planalto Norte-Rio-Crandense, no
nordeste do estado, registram-se tempera-
turas muito baixas no inverno, com fre-
qüente formação de geada ou até mesmo
ocasionais quedas de neve. Na mesma região
os verões são menos quentes que no resto do
estado. Também devido à altitude, os inver-
nos são mais frios e os verões menos quentes
nos lugares mais altos do escudo.
Por esses motivos podemos identificar
dois subtipos de clima subtropical úmido no
estado: um, nas regiões de relevo mais alto,
com invernos muito frios e verões brandos;
outro, na maior parte do território, com
verões quentes e invernos menos frios.
Rio Grande do Sul: clima
OCEANO
ATLANTICO
o 102 kmL....--.....J
Clima subtropical
úmido com:c:=J Verões quentes
c:=J Verões brandos
Fonte: Adaptado de Atlas geográfico escolar.Rio de Janeiro, IBGE, 2002.
:1 O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
A influência do clima
A existência de duas estações climáticas
bem diferentes representa um fator favorável
à agricultura no Rio Grande do Sul. Assim,
o calor do verão e do fim da primavera
favorece o cultivo de muitos produtos tropi-
cais, cujo desenvolvimento exige altas tem-
peraturas: arroz, milho, soja, fumo e outros.
Também são praticadas no estado algu-
mas culturas de inverno, como a do centeio,
do linho e, sobretudo, do trigo.
Nos declives menos acentuados da encos-
ta do nordeste, onde a geada é fenômeno ra-
ro, cultivam-se cana-de-açúcar e banana, que
são plantas tropicais semipermanentes (que
permitem sucessivas colheitas durante alguns
anos, sem necessidade de replantio). A cultu-
ra do pêssego, planta permanente de clima
temperado, tem destaque na parte oriental do
escudo, particularmente na área de Pelotas,
Alguns acontecimentos climáticos cau-
sam efeitos negativos. É o caso, por exemplo,
do granizo (chuva de pedra), da geada e even-
tualmente da neve, que podem danificar as
plantações. Às vezes chove demais no inver-
no ou no início da primavera, em conse-
qüência de frentes estacionárias. Outras ve~
zes a pluviosidade excessiva ocorre na prima-
vera e início do verão, provocada pelo EI Ni-
fioz. Nessas ocasiões os rios podem transbor-
dar e provocar enchentes, que trazem sérios
prejuízos. .
2 El Nino: fenômeno que consiste no
aquecimento acima do normal das águas
do Pacífico equatorial, o que provoca
alterações no clima de várias partes do
mundo, como chuvas excessivasno sul do
Brasil.
~~_OS_R_IO_S _
Graças a uma pluviosidade intensa e bem
distribuída por todo o ano, o Rio Grande do
Sul tem uma farta rede hidrográfica. É um
dos estados brasileiros mais bem servidos de
águas internas, já que, além dos rios, possui
um número considerável de lagoas e lagunas
costeiras, algumas de grande extensão.
Devido à influência decisiva do relevo, os
rios do território rio-grandense correm em
duas direções. Uns dirigem-se para o rio Uru-
guai, formando seu conjunto a bacia do Uru-
guai. Outros encaminham-se para leste, desa-
guando nas lagoas costeiras ou indo diretamen-
te para o oceano: eles formam a bacia Aclântica.
Rio Grande do Sul: hidrografia
ARGENTINA
URUGUAI
ESCALA
o 54 108km
! I f
1 cm-54km
SANTA CATARINA
-'9/0 Canoas
OCEANO
ATLÂNTICO
c=:J Bacia do Uruguai
c=:J Bacia Atlântica
Fonte: Adaptado de Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro, IBGE, 2002.
__________________________________________~IIIIIIIII~---
OS RIOS
A bacia do Uruguai
É formada pelo rio Uruguai e seus afluentes.
No Rio Grande do Sul encontramos apenas
afluentes da margem esquerda.
O rio Uruguai é o mais extenso do esta-
do. É formado pela junção dos rios Pelotas e
Canoas, e seu curso serve de limite com o
estado de Santa Catarina e, mais adiante,
com a Argentina. Depois separa a Argentina
do Uruguai e, por fim, desemboca no
estuário do rio da Prata, cujas águas vão para
o oceano Atlântico.
Em seu curso médio e superior o Uruguai
é um rio de planalto. Daí o seu bom poten-
cial hidráulico, que está sendo aproveitado
pelas usinas hidrelétricas de há e
Machadinho.
Na época das cheias o rio Uruguai torna-
se navegável em grande extensão. Com a
construção de barragens, paralelamente ao
aproveitamento do seu potencial hidrelétri-
co, ele poderá constituir-se numa grande via
permanentemente navegável.
Entre os numerosos afluentes do rio Uru-
guai destacam-se no território rio-grandense
os rios Passo Fundo, Ijuí e Ibicuí. Este últi-
mo, o mais extenso, é um rio de planície.
A bacia Atlântica
Na verdade, a bacia Atlântica (ou do
Leste) é um conjunto de bacias hidrográficas
que têm em comum o fato de suas águas cor-
rerem em direção ao Atlântico.
O Jacuí é o rio mais importante dessa
bacia e também do estado. Nasce no planal-
to Norte-Rio-Grandense, nas proximidades
de Passo Fundo. Inicialmente corre para o
sul como um rio de planalto. Para aproveitar
o potencial hidráulico dessa parte inicial do
curso foram construídas diversas usinas
hidrelétricas, cada qual abastecidapor uma
___ ----'_ O ESPAÇO RIO·GRANDENSE
represa. A maior hidrelétri~a do Jacuí é a de
Itaúba.
Depois de descer a encosta do planalto o
Jacuí dirige-se para leste, correndo sobre a
depressão Central. Torna-se então um rio de
planície, sendo navegável por barcos de por-
te médio e pequeno. Além disso fornece água
para a irrigação de numerosas lavouras de
arroz da região.
Os principais afluentes do Jacuí são o rio
Pardo e o rio Taquari, que tambémdescem
do planalto em direção à depressão Central.
Este último é navegável a partir de Estrela.
O rio Jacuí deságua no lago Guaíba, onde
três outros rios também despejam suas águas:
o rio Caí, o rio dos Sinos e o rio GravataÍ. O
lago Guaíba tem ampla ligação com a laguna
dos Patos, que por sua vez se comunica com
o oceano Atlântico através do canal de Rio
Grande.
Além do Jacuí e dos demais rios que con-
vergem para o Guaíba, merecem referência
os rios Camaquã e Jaguarão. O Camaquã de-
ságua diretamente na laguna dos Patos, vin-
do do planalto Sul-Rio-Grandense; o Jagua-
râo desemboca na lagoa Mirim. O canal São
Gonçalo, que recebe as águas do rio Piratini,
liga a lagoa Mirim à laguna dos Patos.
o lago Guaíba é marca característica da paisagem de
Porto Alegre.
•
AS PAISAGENS VEGETAIS
A vegetação natural depende das caracte-
rísticas do solo e do clima.
Por exemplo, as matas ou florestas neces-
sitam de solos mais ou menos profundos
para que as raízes das árvores possam se de-
senvolver. Os solos rasos normalmente são
cobertos por plantas de pequeno porte, que
em geral constituem os campos. Ao mesmo
tempo, as matas precisam de boa quantidade
de água, suficiente para satisfazer as necessi-
dades vitais das árvores. Por isso ocorrem flo-
restas em regiões de clima úmido com chu-
vas abundantes. .
No Rio Grande do Sul as condições de
clima e solo favoreceram tanto a formação de
matas quanto a de campos. No litoral, po-
rém, a vegetação é escassa e pobre devido à
presença de solos arenosos e com muito sal.
A vegetação litorânea é formada por plantas
baixas e arbustos, adaptados ao ambiente em
que VIvem.
Os campos
Antigamente mais da metade do ter-
ritório rio-grandense era coberta por cam-
pos. Hoje em dia a atividade humana
transformou grande parte dos campos em
lavouras.
Há dois tipos de campos no Rio Grande
do Sul: as campinas e os campos do planalto.
As campinas são campos limpos, que
cobriam quase toda a metade sul e o oeste do
estado. Nas áreas remanescentes dessa vege-
tação no Rio Grande do Sul forma-se um
verdadeiro tapete de gramíneas, que se
estende pelas terras onduladas das coxilhas.
As campinas dominam a paisagem da região da Campanha.
________________________---------------------IIIIIIIII~---
______ AS PAISAGENS VEGETAIS
A ocorrência das campinas está ligada à exis-
tência de solos rasos e à ação do vento frio do
inverno (o minuano), que dificulta o desen-
volvimento de uma vegetação de maior porte.
A paisagem natural da região das campi-
nas é diferente nas proximidades do leito dos
rios; aí geralmente aparecem as chamadas
matas-galerias.
Nos lugares mais baixos do terreno, onde
a umidade do solo também é maior, ocorrem
manchas de mata, conhecidas como capões
de mato.
As campinas representam a maior área
contínua de campos do Brasil. Elas são uma
continuação dos campos da Argentina e do
Uruguai, cujo conjunto é chamado de pampa.
As campinas têm grande valor para a cria-
ção de gado, particularmente no oeste do es-
tado, onde estão as melhores pastagens natu-
rais do Brasil.
Os campos do planalto, ou de cima da ser-
ra, aparecem em solos relativamente pobres,
em comparação aos solos rico~'de origem vul-
cânica do planalto Norte-Rio-Grandense. No
nordeste do estado, nos campos de Bom Jesus
e de Vacaria, os solos são arenosos. Além
disso o frio rigoroso do inverno contribui pa-
ra a ocorrência de vegetação campestre.
Por possuírem muitos arbustos mistura-
dos às gramíneas os campos do planalto
eram chamados de campos sujos; eles sempre
tiveram uma qualidade pastoril inferior às
campinas. Atualmente a maior parte desses
campos foi transformada em lavouras de
trigo e soja, especialmente na área de Passo
Fundo, e em plantações de frutas (maçã) na
zona de Vacaria.
As matas
Há dois tipos de florestas no Rio Grande do
Sul: a mata Subtropical e a mata dos Pinhais.
Rio Grande do Sul: vegetação natural
ARGENTINA
URUGUAI
ESCALA
o 83 166km
ti!
1cm-83km
Fonte: Atlas nacional do Brasil. IBGE. Rio de Janeiro, 2000.
OCEANO
ATLÂNTICO
CJ Campos
CJ Mata Subtropical
CJ Mata dos Pinhais
CJ Vegetação litorânea
_____ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
•
•
Exemplares remanescentes da mata de Araucária, ou dos Pinhais, outrora predominante na paisagem do planalto
Norte-Rio-Grandense.
A mata Subtropical ocupava a encosta do
planalto e o alto vale do rio Uruguai, onde a
pluviosidade é farta e o inverno não é muito
frio. Ela é parecida com as florestas tropicais:
possui grande variedade de árvores, de folhas
largas e perenes, que estão entrelaçadas por
cipós. No entanto, as árvores são de menor
porte que as das florestas tropicais, e algumas
delas perdem as folhas durante o inverno.
Por isso é do tipo subtropical.
Na encosta nordeste do estado a mata
Subtropical é uma continuação da mata
Atlântica, que antigamente cobria as escar-
pas orientais do planalto Brasileiro, desde o
Rio Grande do Norte até o Rio Grande do
Sul, no município de Osório.
A mata Subtropical possui muitas árvores
de grande valor econômico, pois servem para
a extração de madeiras de lei, isto é, madeiras
duras e resistentes, ótimas para a fabricação
de móveis. Entre elas destacam-se o cedro, a
cabreúva, o ipê e a canela.
A devastação da floresta Subtropical co-
meçou no início do século XIX, para· a ex-
tração da madeira, e prosseguiu com a vinda
dos imigrantes europeus, que passaram a cul-
tivar as áreas que receberam para colonizar.
A mata dos Pinhais é formada pelo pi-
nheiro-do-paraná, cujo nome científico é
Araucaria angustifolia. Por isso ela é também
chamada de floresta ou mata de Araucária.
Os pinheiros são árvores que preferem as
baixas temperaturas. Por esse motivo, sua
área de ocorrência é o planalto, no norte e no
nordeste do estado.
A mata de Araucária era um dos muitos
recursos naturais do Rio Grande do Sul,
pois a madeira do pinheiro é utilizada para a
fabricação de instrumentos musicais, mó-
veis, casas; na produção de celulose, papel e
______~ ~BIIIIIII~_
_------ AS PAISAGENS VEGETAIS
papelão. Além do uso da madeira, o fruto da
araucária, mais conhecido como pinhão, e
bastante apreciado na culinária de toda a
região Sul do Brasil.
Antigamente os pinhais cobriam boa par-
te do território rio-grandense. No entanto,
devido ao intenso desmatamento para explo-
ração madeireira, restam hoje poucos lugares
onde as araucárias podem ser encontradas.
Na região dos pinheirais havia também a
erva-mate - pequena árvore de cujas folhas
se produz a erva para o chimarrão. Atual-
mente não existem mais ervais nativos no es-
tado: a produção rio-grandense de erva-mate
é obtida de ervais cultivados.
o desmatamento
As florestas têm um papel importantíssi-
mo no chamado equilíbrio ecológico. O des-
matamento de grandes áreas provoca enor-
mes alterações no meio ambiente e traz mui-
tas conseqüências negativas ao homem. Po-
demos destacar as seguintes:
• as chuvas tornam-se irregulares, havendo
períodos secos seguidos de dias com plu-
viosidade excessiva;
• a erosão torna-se mais intensa, sobretu-
do quando o desmatamento é feito nas
encostas;
• os solos, antes mantidos pelas raízes das
plantas, são carregados pelas enxurradas;
• o material transportado pelas enxurradas
- os solos - acaba sendo depositado em
grandes quantidades nos leitos dos rios,
que se tornam mais rasos e, em época de
chuvas excessivas, transbordam com mais
facilidade, provocando enchentes de con-
seqüências desastrosas.
Quando os primeiros europeus chegaram
ao extremo sul do Brasil cerca de 40% do ter-
ritório rio-grandense era coberto por florestas.
A partir do século XIX, com o povoamento e
______ o ESPAÇO RIO-GRANDENSE
a colonização, as matas começaram aser der-
rubadas para a produção de madeira e princi-
palmente para a ocupação agrícola. Devido ao
contínuo desmatamento o Rio Grande do Sul
chegou a uma grave situação: no início da
década de 1980, pouco mais de 6% do seu
território estava coberto por florestas.
A recuperação florestal
Nas duas últimas décadas houve uma no-
tável recuperação das áreas florestais do esta-do. O desmatamento praticamente cessou e,
sobretudo, o abandono de terras original-
mente florestadas permitiu que a vegetação
nativa aos poucos se reconstituísse: nos solos
desprezados surge a capoeira, que ganha por-
te e se transforma em mata secundária com o
passar dos anos.
A causa principal da recuperação florestal
do Rio Grande do Sul reside nas dificuldades
de cultivo e na impossibilidade de mecaniza-
ção dos minifúndios em terrenos acidenta-
dos, levando pequenos produtores rurais a
renunciar à prática agrícola. Mas outros fa-
tores contribuíram para o ressurgimento de -
matas no estado:
• o êxodo rural reduziu significativamente a
mão-de-obra no campo, diminuindo a
pressão por terras para a subsistência;
• o advento de uma legislação ambiental ri-'
gorosa, inibindo ações predatórias;
• o despertar da consciência dos proprietá-
rios sobre a importância das florestas.
Por esses motivos as áreas de mata do es-
tado triplicaram em vinte anos: no início do
novo milênio mais de 18% do território rio-
grandense aparece coberto por florestas,
em sua maior parte com espécies nativas.
Essa restauração ocorreu principalmente na-
região da encosta do planalto Norte-Rio-
Grandense.
Rio Grande do Sul: uso do solo
ARGENTINA
o mapa mostra que mais de
18% do território
rio-grandense está coberto
por matas, das quais menos
de 1% é plantado.
Destaca-se a área de
campos e pastagens,
refletindo a tradição pastoril
do estado. Merece referência
a extensão das lagunas e
lagoas, cujo conjunto forma o
que já foi chamado de
"segundo litoral" ou "costa
doce".
URUGUAI
ESCALA
O 55
, !
1cm-55km
Fonte: Adaptado de Zero Hora, 6 jun. 2001, p. 34.
SANTA CATARINA
OCEANO
ATLÂNTICO
c::::J Florestas ( 18.49%)
c=:J lavouras (25,25%)
c=:J Campos e pastagens (46,73%)
c=:J lâminas de água (7.09%)
_ Dunas, banhados e outros (2,44%)
o reflorestamento
Simultaneamente à restauração de matas
nativas, e graças sobretudo aos incentivos go-
vernamentais concedidos ao reflorestamen-
to, houve o desenvolvimento da silvicultura,
voltada para a produção de matéria-prima
. para as fábricas de papel, papelão, resinas,
madeira aglomerada e móveis. Geralmente o
plantio de árvores é feito em terrenos desfa-
voráveis à agricultura, como encostas de va-
les e áreas de solos pobres, pedregosos ou a-
renosos. As espécies preferidas para o reflo-
restamento têm sido o euca1ipto, o Pinus eliot-
ti e a acácia-negra, diferentes das que forma-
vam as antigas matas gaúchas.
Do ponto de vista econômico o reflo-
restamento tem trazido bons resultados. O
Pinus eliotti, por exemplo, cresce mais rapi-
damente que o pinheiro-do-paraná e sua
madeira dá bons lucros aos produtores. O
município de Encruzilhada do Sul destaca-se
por seu pólo madeireiro. A acácia-negra, ár-
--------------------------
. ---'_ AS PAISAGENS VEGETAIS
Reflorestamento com Pinus eliotti. A silvicultura
ocasiona matas homogêneas que, embora de inegável
importância econômica, não restauram o antigo
ambiente natural.
vore da qual se extrai o tanino, empregado
para curtir couro, é uma das principais ri-
quezas dos municípios de Brochier e Maratá,
no vale do Rio Caí.
No entanto, esse tipo de reflorestamento
não restaura o antigo ambiente ecológico, ri-
co em espécies vegetais e animais. Numa
grande área de plantação de eucaliptos, por
exemplo, não se ouve o canto de passarinhos.
A preservação ambiental
Depois de mais de um século de devasta-
ção o poder público, tanto federal quanto es-
tadual, começou a se preocupar com a pre-
servação do meio ambiente. A partir dos
anos 1940, mais precisamente em 1947, foi
criada a primeira unidade de conservação da
natureza no Rio Grande do Sul: o Parque
Estadual do Turvo.
As unidades de conservação da natureza
são áreas onde a ação humana sofre restrições
legais, de forma parcial ou total.
Há diversos tipos de unidades de conser-
vação, que podem ser federais, estaduais ou
municipais, cuja denominação varia confor-
_____ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
me o alcance da restrição' estabelecida: par-
que, reserva, estação ecológica, etc.
No Rio Grande do Sul há diversas uni-
dades de conservação criadas pela União e
outras, em maior número, pelo governo esta-
dual. O maior parque federal é o Parque Na-
cional da Lagoa do Peixe, com 34 400 hec-
tares de área. Essa enorme área está localizada
na restinga que separa a laguna dos Patos do
oceano Atlântico, entre os municípios de
Tavares, Mostardas e São José do Norte.
Entre as unidades de conservação esta-
duais as mais extensas são o recém-criado
Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos
Pachecos, com 2 543 hectares, e o Parque
Estadual do Turvo, com 17 491 hectares, à
semelhança do Parque Estadual do Delta do
Jacuí, com mais de 17 mil hectares.
Algumas dessas unidades ainda não saíram
do papel, como é o caso do Parque Nacional da
Serra Geral, com 17 300 hectares, nos municí-
pios de Cambará do Sul e São Francisco de
Paula, no Rio Grande do Sul, e Jacinto
Machado e Praia Grande, em Santa Catarina.
O parque foi criado em 1992, mas até
hoje nada foi feito para que se tornasse reali-
dade, já que as terras não foram desapropria-
das e os proprietários continuam residindo
na área. Outras, no entanto, como o pionei-
ro Parque Estadual do Turvo, localizado no
município de Derrubadas, estão devidamen-
te regularizadas.
O mapa a seguir mostra um expressivo
número de unidades de conservação locali-
zadas no nordeste do estado. Isso reflete as
preocupações com uma área complexa do
ponto de vista ambiental, pois nela a passagem
abrupta do planalto Norte-Rio-Crandense
para a planície Litorânea permite o contato
muito próximo entre diferentes ecossistemas,
Com efeito, a mata Atlântica, de característica
subtropical, ocupa as encostas da serra Geral,
confrontando-se a oeste com os antigos dorní-
nios dos campos de cima da serra e da mata de
Araucária, hoje praticamente extinta. A leste,
•
••
Rio Grande do Sul: unidades federais e estaduais de conservação da natureza
SANTA CATARINA
'1 em - 67 km
13, Turvo
14, Delta do
Jacuí
15, Rondinha
16, Espigão Alto
17. Itapuã
18. Espirilho
19. Tainhas
20. Camaquã
21. Itapeva
22, Podocarpus
23. Ibiritiá
24, Guarita
25. Nonoai
•25•15 .5
Passo
Fundo
Bento.
Gonçalves
.o?"" carflaquã
OCEANO
ATLÂNTICO
Fontes: Ibama e Sema-RS.
o sistema mata Atlântica está em contato com
o delicado sistema litorâneo.
Além das áreas públicas de preservação
ambiental, existem também as reservas par-
ticulares do patrimônio natural (RPPNs). As
RPPNs - como também são conhecidas-
representam hoje um importante instrumen-
to no esforço para envolver a sociedade na
conservação do meio ambiente.
Segundo o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Reno-
váveis (Ibama), no início de 2003 o total das
áreas protegidas por essas reservas no Rio
Grande do, Sul chegou a 3 944 hectares.
26. Mata
Paludosa
27, Serra Geral
28. Ibirapuitã
29. Banhado
São Donato
30. Ibicuí-
Mirim
31. Mato
Grande
32, Aratinga
33. Banhado dos
Pachecos
34. Litoral
Norte
_______________________________________________EIIIIIIII~ _
CAPíTULO
__ IIL-A_FO_RM_A_Ç_ÃO_S_O_CI_OE_S_PA_C_IA_L _
o território rio-grandense era habitado
primitivamente por povos indígenas. A par-
tir do' século XVII começou a ser ocupado
por europeus, sobretudo portugueses.
No início o território que começava a ser
ocupado pelos europeus deveria pertencer à
Espanha, pois ficava a oeste da linha de Tor-
desilhas. Mas aos poucos, e depois de muitas
disputas com os espanhóis estabelecidos na
região do Prata, os portugueses conquista-
ram o território rio-grandense, formando o
estado mais meridional do Brasil.
o extermínio dos índios
Antes da chegada dos europeus calcula-se
que havia cerca de 300 mil índios no terri-
tório rio-grandense, pertencentes a três anti-
gas etnias, cada uma com vários grupos -
ao norte, os jês (kaingangs, guaianás, etc.): na
faixa central, os tapes; no sul e no oeste, os
chands (minuanos, charruas, guenoas, etc.)
-, bem como à grande nação guarani, cujos
grupos haviam invadido aregião e "guarani-
zado" muitas tribos nativas.
Depois de quase três séculos de domina-
ção branca, durante os quais os índios foram
submetidos a variadas formas de extermínio,
restam hoje cerca de 13 mil remanescentes
daqueles que eram os donos originais da terra.
A maior parte deles é do grupo kaingang;
os demais são guaranis.
Os índios atuais vivem em áreas especiais,
oficialmente denominadas terras indígenas,
Rio Grande do Sul: terras indígenas-~ SANTA CATARINA I-rg-. If.
ARGENTINA 10.
16• ·11-2
• 12. • .4 Terra indigen • Etnia Municipio Área (em hectares)13 24 22 ·20
7· • 21
1. Agua Grande Guarani Camaquã 165
2, Barra do Ouro Guarani Maquiné; Riozinho 2266
·14 3. Borboleta Espumoso A definir• 4, Cacique Doble Kaingang/Guarani Cacique Doble 4426• 3 5, Canta Galo Guarani Vlamão 28623 -'7
2 6. Capivari Guarani Pai mares do Sul 43• 7. Carreteiro Kaingang Água Santa 23925.
·15 8. Nonoai Kaingang Nonoai 149095
9, Coxilha da Cruz Guarani Barra do Ribeiro 2029. 6
Tenente Portei.; Redentora;27. 10. Guarita KainganglGuarani Erval Seco 23406
17\-1 11. Guarani Votouro Guarani Ben'amin Constant do Sul 7171 t2. Rio da Várzea Kainoano Liberato Salzano 16415
13.lnhacorá Kainoana São Valéria do Sul 2843
URUGUAI 14.lnhacapetum Guarani São Miguel das Missões 36
15.lrapuá Guarani Cachoeira do Sul 220o
16.1. Kainoana lrai 279N
OCEANO 17,Pameca Guarani Camaquã 18520+' ATLÂNTICO 18. Riozinho Kainoano Camaquã 12]; 19. Rio dos Indios Kaingang Camaauã A definir20. Ligeiro Kainaana Charrua 455221. Monte Caseiros Kainaana Mulitemo; Ibiraiaras 1112
S 22. Ventara Kaingang Erebango 772
23. Safio Grande do Jacui Guarani Safio do Jacul 234
24. Serrinha Kaingang Ronda Alta; Três Palmeiras; 11950
Áreas demareadas Constantina; Engenho Velho• ESCALA 25. Varzinha/Três Forquilhas Guarani Caraá 795ou homologadas
O 130 260 km 26, Votouro Kaingang Benjamin Constant do Sul 3361• Áreas não demareadas , , , Palmares do Sul; Barra do1 em -130 km 27. Acampamentos Guarani Guarani Ribeiro; São Miguel; Tapes -
Fonte: Funai, 2002.
_____ '----=-O--=-:ES~PA Ç~O~R .;I O_-_G_R_A_N_D_E_N_S_E ._-------
que no Rio Grande do Sul são em número
de 27; mas apenas treze delas estão devida-
mente demarcadas.
Os indígenas deixaram sua contribuição
na formação étnica e cultural do Rio Grande
do Sul, especialmente na região das campi-
nas. Os charruas, por exemplo, índios cava-
leiros que viviam no sudoeste do estado, co-
miam carne assada no espeto e usavam indu-
mentária de couro, constituíram o principal
contingente do qual foi recrutada a mão-de-
obra necessária ao estabelecimento da ativi-
dade pecuária na região.
Talvez seja na toporiímia, isto é, na deno-
minação de lugares e acidentes fisiográficos,
que a influência indígena é mais facilmente
identificada: lbicuí, Coroados, ltaimbé e
inúmeros outros nomes remetem aos habi-
tantes originais do estado.
As Missões dos jesuítas
A ocupação do Rio Grande do Sul pelos
europeus começou com padres jesuítas vin-
dos do Paraguai. Eles se estabeleceram na
margem oriental (leste) do rio Uruguai com
a finalidade principal de catequizar os índios.
Os jesuítas fundaram várias aldeias ou
povoados, que eram chamados de Missões
ou reduções. A primeira delas foi fundada
em 1626 pelo padre Roque Gonzales. O
conjunto de povoados de maior importância
histórica foram os Sete Povos das Missões:
São Nicolau, São Miguel, São Luís Gonzaga,
São Borja, São Lourenço, São João Batista e
Santo Ângelo. Localizavam-se no noroeste
do atual Rio Grande do Sul, numa área que
ficou conhecida como região das Missões.
Rio Grande do Sul: região das Missões
ARGENTINA
São Luís
Gonzaga
1" t
São
Nicolau
URUGUAI
SANTA CATARINA
T Santo Ângelo
t São Lourenço
1" São João Batista
T São Miguel Arcanjo
OCEANO
ATLÂNTICO
ESCALA
O 71 142 km
t r !
Fonte: Adaptado de Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro, MEC, 1988.
1 em -71 km
----------------------~--
/'
____ -'_ A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL
Os jesuítas introduziram a criação de ani-
mais no Rio Grande do Sul: ovinos, muares,
eqüinos e principalmente bovinos. Junto
com a pecuária e valendo-se do trabalho in-
dígena, desenvolveram também a agricultura
e a extração da erva-mate.
Sob a direção dos jesuítas, as Missões reu-
niam milhares de índios em uma vida comu-
nitária, na qual as atividades eram distribuí-
das entre todos, que trabalhavam tendo em
vista o bem comum.
Ainda no século XVII as Missões come-
çaram a ser invadidas por bandeirantes -
homens vindos de São Paulo, que atacavam
as aldeias com a finalidade de aprisionar os
índios para vendê-Ias como escravos. Devido
aos seguidos ataques dos bandeirantes as
Missões entraram em decadência.
Em 1750, pelo Tratado de Madri, Portu-
gal e Espanha determinaram que a popula-
ção dos Sete Povos - cerca de 30 mil índios
deveria deixar a áre;, que passaria ao
domínio dos portugueses, e transferir-se para
o outro lado do rio Uruguai, que pertencia
aos espanhóis. Liderados pelo cacique Sepé
Tiaraju, os índios missioneiros recusaram-se
a abandonar suas aldeias e perder suas terras.
Seguiu-se então uma longa resistência arma-
da contra tropas portuguesas e espanholas -
as Guerras Guaraníticas.
Embora o Tratado de Madri tenha sido
anulado em 1761, e os índios missioneiros
tenham obtido o direito de permanecer na
região, as guerras causaram a destruição dos
Sete Povos. Os habitantes das Missões que
não morreram em combate fugiram para ou-
tros lugares ou foram escravizados por ban-
deirantes. Os rebanhos de sua criação sol-
taram-se pelos campos do estado.
Em 1768 os jesuítas abandonaram o Rio
Grande do Sul.
Detalhe das ruínas de São Miguel, no interior do município de mesmo nome. As ruínas das Missões são testemunhos
históricos da atuação dos jesuítas no território rio-grandense.
____ ---'_ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
•
o surgimento das estâncias
Encontrando condições favoráveis de
clima, de relevo e principalmente de vege-
tação, o gado missioneiro dispersou-se pelos
campos rio-grandenses, reproduziu-se livre-
mente e tornou-se bravio. No século XVIII
numerosos rebanhos vagavam pelos campos
do planalto Norte-Rio-Grandense, conheci-
dos como Vacaria dos Pinhais, e sobretudo
pelas campinas, chamadas de Vacaria do Mar.
A notícia da existência no Rio Grande do
Sul de rebanhos sem dono atraiu o interesse
de muitas pessoas, principalmente de São
Paulo. As reses eram abatidas em pleno cam-
po e delas se aproveitavam apenas o couro e
o sebo.
Em 1737, para garantir os interesses dos
portugueses instalados na região, foi cons-
truído o forte Jesus-Maria-José, junto ao ca-
nal que liga a laguna dos Patos ao oceano
Atlântico. Ao lado do forte formou-se uma
povoação, que deu origem à atual cidade de
Rio Grande. O domínio português se expan-
diu pelas áreas vizinhas, que no seu conjun-
to eram chamadas de Continente do Rio
Grande de São Pedro. Esse foi o primeiro
nome do atual estado do Rio Grande do Sul.
Nessa época - ainda no século XVIII -
desenvolveu-se a mineração em Minas Ge-
rais, atraindo milhares de pessoas para a re-
gião. Assim se formou um mercado de consu-
mo para os produtos da pecuária: couro, car-
ne, leite e animais para transporte. Em conse-
qüência a atividade de caça foi sendo substi-
tuída pela criação de gado, pois os animais
passaram a ser reunidos em locais destinados
a tal finalidade - as estâncias ou fazendas.
Estimulada pelo mercado do sudeste do
país, principalmente de Minas Gerais, desen-
volveu-se a pecuária no Rio Grande do Sul.
Portugueses, paulistas e catarinenses - estes
Estância no município de Bagé onde a principal atividade econômica é a pecuária.
________________________________________~IIIIIIIIL_ _
____ -'_ A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAl
particularmente de Laguna - ganhavam do
governo grandes extensões de campo, onde
instalavam suas fazendas de criação de gado.
Muitos dos novos fazendeiros tinham com-
batido contra os platinas, que eram os inimi-
gos dos portugueses na disputa pela posse da
região. Com o passar do tempo as áreas cam-
pestres, principalmente as da Campanha,
ficaram povoadasde fazendeiros. Junto a al-
gumas estâncias surgiram povoados, que mais
tarde se tornaram cidades.
Portanto, a formação do Rio Grande do
Sul teve início com o surgimento das estân-
cias. Foi na atividade pastoril, particularmente
na Campanha, que surgiu a figura do gaúcho,
originalmente o homem que trabalhava na
fazenda, cuidando do gado. Bem mais tarde
todas as pessoas nascidas no Rio Grande do
Sul passaram a ser chamadas de gaúchos.
Os tropeiros
A tarefa de conduzir o gado dos campos
rio-grandenses para ser vendido no sudeste
do Brasil era feita pelos tropeiros, vindos de
São Paulo e principalmente de Laguna, no
litoral catarinense.
As tropas de gado eram conduzidas a pé e
levavam meses até chegar ao seu destino. Na
Os caminhos do gado
MS
5
ESCALA
o 153 306km
! I !
1cm-153 km
Fonte: Adaptado de Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro, MEC, 1988.
OCEANO
ATLÂNTICO
----. Caminhos do gado
D Vacaria dos Pinhais
D Vacaria do Mar
____ -'_ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
•
zaaior parte das vezes o gado era vendido na
~ de Sorocaba, perto da capital paulista, de
de era levado para as áreas de consumo,
sobretudo em Minas Gerais. No início os tro-
~os apanhavam o gado sem dono, que vivia
campinas. Depois muitos tropeiros orga-
nizaram estâncias e tornaram-se fazendeiros.
O gado era conduzido pelo litoral. Em
~s lugares do caminho dos rebanhos sur-
ziram povoados, como São José do Norte,
ivari, Santo Antônio da Patrulha e ou-
. Alguns povoados cresceram e se torna-
cidades.
Mais tarde foram abertos caminhos pelo
alto Norte-Rio-Grandense. Esses novos
caminhos permitiram que o gado da região
Missões e da Vacaria dos Pinhais também
esse ser vendido em São Paulo. Pelos ca-
os do planalto começaram a surgir es-
cias, chácaras e povoados. Alguns povoa-
transformaram-se em cidades: São Borja,
ruz Alta e Vacaria.
Desse modo os tropeiros contribuíram
bastante para o povoamento do estado e para
que o Rio Grande do Sul ficasse integrado a
São Paulo e demais regiões do Brasil.
As charqueadas
A mineração provocou a transferência do
centro econômico do nordeste para o sudeste
do Brasil, ocasionando a mudança da capital
do país, de Salvador para o Rio de Janeiro .
Devido a migrações a população de Mi-
nas Gerais, do Rio de Janeiro e de São Paulo
cresceu bastante. À medida que essa popula-
ção crescia aumentava o mercado de con-
sumo para os produtos da pecuária gaúcha
- o couro e principalmente a carne.
Aos poucos o transporte do gado passou a
ser feito também por barcos e navios, pois
desenvolveu-se a navegação pelo rio jacuí, pe-
la laguna dos Patos e pelo oceano Atlântico,
queada no início do século XX no interior do Rio Grande do Sul. Nas charqueadas onde o gado era abatido se
ricava o charque, ou seja, a carne bovina era salgada e seca em fatias e, posteriormente, comercializada.
-------------------------------v.
______ A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAl
até o Rio de Janeiro. Só bem mais tarde fo-
ram construídas as primeiras ferrovias em ter-
ritório rio-grandense, cujo traçado obedeceu
aos interesses do transporte de gado.
Mesmo após o surgimento da navegação,
o Rio Grande do Sul continuou vendendo os
animais vivos, pois naquela época não havia
maneira de conservar a carne fresca por mui-
to tempo. No entanto, como a parte vendida
era somente o couro e a carne, os fazendeiros
resolveram enviar, em vez de bois vivos, a
carne já seca e salgada, que se chama charque.
Dessa forma barateavam o transporte e
aumentavam seus ganhos. Foi assim que sur-
giram as charqueadas, estabelecimentos onde
se fabricava o charque.
A primeira charqueada foi fundada em
1780, junto ao arroio Pelotas, próximo a Rio
Grande. Em seguida, muitas outras foram
criadas na mesma região e também junto a
diversas fazendas.
O Rio Grande do Sul tornou-se grande
vendedor de charque. Sua produção e seu co-
mércio atraíram muitas pessoas ao estado.
Grandes levas de escravos negros foram trazi-
das para trabalhar na atividade saladeiril, isto
é, na indústria do charque. Junto a muitas
charqueadas surgiram povoações, algumas
das quais mais tarde se tornaram cidades.
Dessa forma pode-se dizer que o Rio
Grande do Sul "nasceu com as estâncias e
cresceu com as charqueadas".
A contribuição do negro
Embora tenha sido usado como carrega-
dor por bandeirantes e tropeiros e aproveita-
do como serviçal doméstico nas fazendas, foi
com o desenvolvimento das charqueadas que
se deu o ingresso mais expressivo do negro
no Rio Grande do Sul.
Para trabalhar na atividade saladeiril fo-
ram trazidas para o estado grandes e sucessi-
vas levas de escravos de origem africana, cujo
-,-- __ --"_ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
número chegou a ser esti~ado em 80 mil
indivíduos, por volta de 1860.
A dispersão espacial do negro deu-se do
litoral para o interior, atingindo a Campa-
nha e a depressão Central a partir de dois ei-
xos de irradiação com base em Rio Grande.
No principal deles os escravos eram levados
para Pelotas, Canguçu, Piratini e Jaguarão.
O outro incluía São José do Norte, Viamão,
Triunfo e Taquari.
A influência do negro na formação étni-
co-cultural do Rio Grande do Sul freqüente-
mente tem sido subestimada. No entanto,
ela aparece de modo significativo em alguns
aspectos da vida rio-grandense, como o es-
porte, a música e de modo especial a religião.
Os açorianos
O povoamento oficial do Rio Grande do
Sul teve início em 19 de fevereiro de 1737,
com a fundação do forte ou presídio (na ver-
dade uma praça de guerra) que deu origem à
atual cidade de Rio Grande e foi o núcleo
irradiado r da ocupação do território.
O governo português percebia a necessi-
dade de garantir a posse das áreas em dispu-
ta com os platinas, mediante uma ocupação
em bases estáveis através do uso agrícola do
solo. Para isso promoveu a vinda de habi-
tantes dos Açores, arquipélago localizado em
pleno oceano Atlântico, que ainda hoje per-
tence a Portugal.
A partir de 1751 centenas de casais de
açorianos foram encaminhados para o sul do
Brasil. Cada um recebeu um lote de terra
para cultivar, com o propósito de expandir o
povoamento a partir de Rio Grande. Os aço-
rianos participaram do desenvolvimento ini-
cial de povoados, vilas e cidades, principal-
mente no litoral e na depressão Central: São
José do Norte, Tavares, Mostardas, Gravataí,
Santo Antônio da Patrulha e Osório, em um
primeiro momento, e posteriormente Triun-
•
..
fo, General Câmara, Rio Pardo e Cachoeira
do Sul. Nessas cidades percebe-se a influência
dos açorianos, especialmente na arquitetura.
Além do tipo de construção os açorianos
legaram ao Rio Grande alguns costumes e tra-
dições que perduram em certas comunidades
das áreas por eles colonizadas. O sotaque ca-
racterístico e o linguajar do litoral, por exem-
plo, são uma herança cultural dos ilhéus.
A fundação de Porto Alegre
Em 1732 Jerônimo de Ornelas Menezes e
Vasconcelos ganhou uma grande extensão de
terras do governo português. Situadas a leste do
lago Guaíba, essas terras pertenciam ao municí-
pio de Viamão, que na época era um dos prin-
cipais povoados do Rio Grande do Sul.
Jerônimo de Ornelas organizou uma es-
tância, cuja sede ficava no morro Santana,
hoje um bairro de Porto Alegre. Para servir
ao comércio de Viamão, havia sido construí-
do um pequeno porto sobre o Guaíba - o
porto de Viamão. Marinheiros, comerciantes
e outras pessoas fixaram-se junto a esse
porto. A população cresceu e o lugar passou
a ser chamado de Porto do Dorneles (que
vem de Ornelas).
Em 1752 dezenas de casais açorianos de-
sembarcaram no Porto do Dorneles e recebe-
ram terras do governo, nas quais começaram
a plantar trigo e outros produtos. Eles orga-
nizaram um povoado, onde hoje fica o bair-
ro Gasômetro, e construíram uma capela em
homenagem a São Francisco. Depois da che-
gada dos açorianos o Porto do Dorneles pas-
sou a ser chamado de Porto dos Casais.
A posição do Porto dos Casais era muito
favorável ao comércio, e ali eram embarcados
e desembarcados numerosos produtos. As ati-
vidades comerciais e portuárias atraíam rnui-
Porto Alegre, a capital gaúcha,antigo Porto dos Casais, é uma das metrópoles mais importantes do Brasil.
____ - A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL
Caxias do Sul, fundada por imigrantes italianos, conta atualmente com mais de 360 mil habitantes, sendo um destaca-
do pólo industrial e comercial do Rio Grande do Sul.
tas pessoas, fazendo com que a população do
povoado crescesserapidamente. No dia 26 de
março de 1772 o povoado foi separado do
município de Viamão, com o nome de São
Francisco do Porto dos Casais. Esse dia é con-
siderado a data oficial da fundação de Porto
Alegre.
No ano seguinte o povoado recebeu o
nome de Freguesia de Nossa Senhora Madre
de Deus de Porto Alegre e tornou-se a capi-
tal do Rio Grande do Sul. Antes disso a capi-
tal tinha sido Rio Grande e, por pouco tem-
po, Viamão.
Em 1810 Porto Alegre foi elevada à cate-
goria de vila e, em 1822, tornou-se cidade.
Atualmente, segundo o Censo Demográfico
2000, a cidade ocupa o nono lugar em popu-
lação no Brasil com mais de 1,3 milhão de
habitantes.
_____ O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
Os imigrantes
São consideradas imigrantes as pessoas
que vieram para o Brasil depois da Indepen-
dência. Em 1822 os campos do Rio Grande
já estavam ocupados, mas as áreas de mata
do planalto Norte-Rio-Grandense e da serra
Geral permaneciam despovoadas. Para po-
voá-Ias, o governo brasileiro resolveu promo-
ver a imigração.
Com o correr dos anos, milhares de imi-
grantes vieram para o Rio Grande do Sul.
Com base na agricultura eles ocuparam áreas
de mata, ou seja, colonizaram lugares despo-
voados do estado. Por isso foram chamados
de colonos, e as áreas por eles ocupadas fica-
ram conhecidas como zonas coloniais. Ainda
hoje, mesmo depois de grandes transforma-
•
ções socioespaciais, o conjunto dessas zonas
não raro é chamado de região colonial do
Rio Grande do Sul.
Ao chegar ao estado cada colono recebeu
um lote de terra, que passou a cultivar com a
ajuda dos membros da família. Os colonos
introduziram a policultura no estado, pois
dedicavam-se ao cultivo de vários produtos:
trigo, milho, batata, frutas, verduras e legu-
mes. Juntamente com a agricultura, criavam
animais: vacas leiteiras, porcos e galinhas.
Por serem donos das terras que ocupavam
e por ficarem com toda a produção obtida, os
colonos sentiam-se estimulados a trabalhar e a
produzir cada vez mais. Dessa forma, as zonas
coloniais do estado progrediram bastante.
No início os colonos produziam para sua
subsistência, mas logo passaram a obter exce-
dentes. Com o dinheiro ganho na venda des-
ses excedentes podiam comprar outros pro-
dutos. Dessa forma desenvolveu-se o comér-
cio, ao mesmo tempo que se formavam mer-
cados de consumo nas zonas coloniais.
Rio Grande do Sul: áreas de colonização
Fonte: Adaptado de Brasil: 500 anos de povoamento. IBGE, 2003.
SANTA CATARINA
OCEANO
ATLÂNTICO
c:J Alemã
D Italiana
c:J Mista (expansão)
O Poloneses
Açorianos (século XVIII)
____________________________________________IIIIIIIII~-----
lIIIIIí,iijJ!i . J A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL----
Entre os imigrantes vieram muitos arte-
sãos, que instalaram pequenas oficinas, co-
mo tecelagens, serralherias, marcenarias, cur-
tumes, etc. Havendo compradores para seus
produtos, muitas oficinas cresceram e, mais
tarde, transformaram-se em indústrias: têx-
teis, mecânicas, de móveis, de calçados, etc.
Diversos grupos de imigrantes vieram
para o Rio Grande do Sul: os principais fo-
ram alemães, italianos e poloneses. Os que
vieram em maior número foram os alemães e
os italianos.
Os alemães começaram a chegar ao esta-
do em 1824, desembarcando no lugar onde
hoje fica a cidade de São Leopoldo. Eles co-
lonizaram a parte inferior da encosta do pla-
nalto Norte-Rio-Crandense, sobretudo os
vales dos rios Caí, dos Sinos, Pardo e Taqua-
ri. Fundaram vários povoados, alguns dos
quais se tornaram cidades, como Novo
Hamburgo, São Leopoldo, Lajeado e São Se-
bastião do Caí, entre outras. Hoje em dia o
vale do Rio dos Sinos é famoso por sua in-
dústria de produtos de couro, com destaque
para o setor de calçados. A maior cidade da
-.
região é Novo Hamburgo, que também pos-
sui muitas outras indústrias.
Quando as primeiras zonas ocupadas já
estavam bastante povoadas os alemães subiram
o planalto e foram para o norte e noroeste do
estado. Aí também se estabeleceram colonos
poloneses e imigrantes de outras origens.
Em 1875 chegaram ao Rio Grande do
Sul os primeiros italianos, que colonizaram a
parte superior da encosta e a borda do pla-
nalto. O primeiro povoado organizado pelos
italianos transformou-se na maior cidade do
interior do estado: Caxias do Sul. Os italia-
nos fundaram outros povoados, que origina-
ram as cidades de Bento Gonçalves, Farrou-
pilha, Garibaldi, entre outras.
Junto com a policultura os italianos in-
troduziram no Rio Grande do Sul o cultivo
da uva e a fabricação do vinho - a vitivini-
cultura. A região colonial italiana é famosa
no Brasil inteiro pela qualidade das uvas e
dos vinhos que produz. As cidades que eles
fundaram, em particular Caxias do Sul,'
possuem muitas indústrias: metalúrgicas,
mecânicas, malharias, fábricas de móveis, etc.
Grupo de danças típicas em Dois Irmãos (RS), município de colonização alemã.
O ESPAÇO RIO·GRANDENSE
Assim, os imigrantes europeus, sobretudo
alemães e italianos, contribuíram de maneira
significativa para a formação do estado. Tal
contribuição ocorreu especialmente nas zo-
nas coloniais, onde a maioria da população
atual é formada por descendentes de imi-
grantes. Na parte inferior da encosta do pla-
nalto, por exemplo, a influência alemã é visí-
vel nas características étnicas e culturais da
maioria das pessoas; ela está presente nos há-
bitos, nas tradições e até na maneira de falar.
A influência italiana é marcante nos habitan-
tes da parte superior da encosta.
A evolução municipal
A unidade básica da organização político-
administrativa do Brasil é o município, dota-
do de autonomia e poderes próprios, nos ter-
mos da Constituição federal. A sede de um
município é, por definição, uma cidade. Por
conveniência administrativa, o município
pode dividir-se em subunidades, os distritos.
No início do século XIX o Rio Grande
do Sul tinha apenas quatro municípios: Rio
Grande (o mais antigo), Santo Antônio da
Patrulha, Rio Pardo e Porto Alegre. Em
1900 tinha 64 e, em meados do século XX,
esse número chegava a 112. A partir do fim
dos anos 1980 ocorreu um surto de emanci-
pações municipais no estado, como em todo
o país. Nem sempre em condições recomen-
dáveis, mas favorecidos por uma legislação
pouco exigente, inúmeros distritos consegui-
ram se emancipar, tornando-se municípios.
Em 1987, quando o estado tinha 244
municípios, ocorreram 29 emancipações.
o ano seguinte, mais sessenta, perfazendo
333. Com mais 94 emancipações em 1992,
outras 40 em 1996 e 30 em 2001, o estado
chegou a 497 municípios.
Rio Grande do Sul: evolução municipal
1809
____________________________________________~EIIIIIIII~ ~
4 municípios
/... . ... "
... . " ' .. .
" .
1900
64 municípios
~
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2001
497 municipios
Fonte: Governo do Rio Grande do Sul.
CAPíTULO
A POPULAÇÃO
Assim como a do Brasil, a população rio-
grandense foi formada por diferentes grupos
humanos, com predomínio de europeus. No
estado, contudo, esse predomínio é mais for-
te, principalmente porque houve expressiva
participação não só de portugueses -- o ele-
mento dominante --, mas também de outros
povos de origem européia, sobretudo ale-
mães e italianos.
A participação dos negros na formação da
população gaúcha não foi tão grande como a
que ocorreu, por exemplo, no litoral do Nor-
deste brasileiro. A contribuição dos índios
-- mesmo que modesta, principalmente se
for comparada com a que aconteceu em al-
gumas regiõesdo Brasil, como a Amazônia
-- foi significativa nas áreas de formação
pastoril do estado. Muitos gaúchos de hoje
têm sangue indígena.
De qualquer maneira, a miscigenação pro-
duziu uma razoável porcentagem de mesti-
ços, sobretudo mulatos. Juntamente com os
negros, a imensa maioria deles vive nos bair-
ros pobres dos maiores centros urbanos do
estado, principalmente na capital e nas cida-
des vizinhas. Isso acontece porque, de modo
mais evidente que no resto do Brasil, a con-
dição de cor está muito ligada à condição
econômica e social: por falta de melhores
oportunidades a população não-branca ge-
ralmente exerce atividades menos valorizadas
e, portanto, de remuneração mais baixa. Se-
gundo o Censo Demográfico 2000, conside-
rando as pessoas com 10 ou mais anos de
idade, enquanto o analfabetismo atinge 7%
da população branca, chega a 12% entre os
negros e a 15% entre os pardos ou mestiços.
A população do Rio Grande do Sul apre-
senta uma porcentagem de brancos bem mais
elevada do que a população brasileira em geral,
enquanto a proporção de negros e sobretudo
. tl O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
Brasil: composição étnica da população
0,5%
Negros
Indígenas
Brancos
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.
Rio Grande do Sul:
composição étnica da população
_0,04%
o Negros
III--AJn-=M--el-o-s-------------------------
Outros
Brancos
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000 .
Rio Grande do Sul: descendência européia
• Portuguesa
Italiana
Alemã
Outras
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.
de mestiçosé bem inferior. Estima-seque a po-
pulação branca do estado tenha aproximada-
mente a seguinte descendência: portuguesa:
35%; alemã: 25%; italiana: 25%; outras: 15%.
A distribuição espacial
Com cerca de 10,2 milhões de habitan-
tes, que representam 6% da população brasi-
leira, o Rio Grande do Sul é o quinto estado
mais populoso do país (depois de São Paulo,
Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia). Entre
os estados da região Sul, a população gaúcha
é levemente superior à do Paraná.
O Rio Grande do Sul tem uma média de
36 hab.zkrrr' - quase o dobro da densidade
demográfica do Brasil. Portanto, o estado é
relativamente bem povoado. Todavia, não é
dos mais povoados do país, estando abaixo
inclusive de Santa Catarina (55 hab.rkm") e
do Paraná (47 hab.Zkm-).
A distribuição da população pelo espaço
-o-grandense é irregular, pois a densidade
demográfica varia de uma região para outra.
Como se sabe" a distribuição espacial da po-
pulação depende de fatores naturais, históri-
cos e sobretudo econômicos. Assim, as áreas
menos povoadas são o litoral sul e médio,
onde a ocupação produtiva do solo é pouco
expressiva, e aquelas originalmente cobertas
por campos, onde se deu uma formação
socioespacial com base na criação de gado.
No oeste e no sudoeste do estado ainda
hoje a pecuária é predominante, praticada em
grandes propriedades. A agricultura, desen-
volvida nas últimas décadas, geralmente é
mecanizada. A lavoura com emprego de má-
quinas e principalmente a atividade criatória
não requerem muita mão-de-obra. Por isso a
região da Campanha é pouco povoada, com
menos de 10 hab.zkm': só as áreas em torno
das principais cidades apresentam densidades
um pouco maiores. Por motivos semelhantes
os antigos campos do planalto, no nordeste
do estado, hoje dominados pela agricultura
mecanizada e pela fruticultura, também têm
baixas densidades de população.
Por outro lado, as áreas do planalto e da
encosta, de formação socioespacial assentada
na agricultura, têm densidades médias, altas
ou muito altas. De modo geral as densidades
médias são encontradas no planalto, onde
Região Sul: distribuição da população
Santa Catarina
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.
A POPULAÇÃO
ciais e de serviços. A região metropolitana de
Porto Alegre concentra um terço da popula-
ção total do estado.
o crescimento demográfico
e a urbanização
Desde que a imigração no país foi subs-
tancialmente restringida, em 1934, a popu-
lação do Rio Grande do Sul cresce segundo
taxas menores que as verificadas na popula-
ção brasileira. Isso se deve fundamentalmen-
te a menores índices de natalidade ocorrentes
no estado, em conseqüência de um nível mé-
dio de vida mais elevado da população gaú-
cha em relação ao da população do país.
dominam lavouras mecanizadas em proprie-
dades também médias, e com uma rede de
cidades de razoável porte, nas quais se desta-
ca a agroindústria.
As densidades são maiores nos vales que
entalham a encosta devido ao histórico pre-
domínio da policultura realizada em peque-
nas propriedades, que empregam bastante
mão-de-obra. Hoje o desenvolvimento in-
dustrial e a conseqüente urbanização confe-
rem altas densidades demográficas aos vales
dos rios Caí, Taquari e Pardo.
De outra parte, a região industrial de Ca-
xias do Sul, na borda do planalto, e notada-
mente a de Porto Alegre, que inclui o vale do
rio dos Sinos, possuem densidades demográ-
ficas muito altas numa escala brasileira. São
espaços fortemente urbanizados, nos quais
dominam as atividades industriais, comer-
Rio Grande do Sul: densidade demográfica
ARGENTINA
URUGUAI
SANTA CATARINA
ESCALA
o 75 150 km
! ! ,
1 em - 75 km
Fonte: Adaptado de Atlas geogrdfico escolar. IBGE, Rio de Janeiro, 2002.
OCEANO
ATLÂNTICO
Habitantes por km2
[=:J 1-10
[=:J 11-25
26-100
100 ou mais
O ESPAÇO RIO-GRANDENSE
Comparando as taxas anuais de cresci-
mento verifica-se que tanto para a população
rio-grandense quanto para a brasileira os va-
lores máximos ocorreram no final da década
de 1950 e início dos anos 1960, quando se
deu o auge da explosão demo gráfica no país.
A desaceleração demo gráfica - a redu-
ção significativa do ritmo de crescimento po-
pulacional devido à diminuição da natalida-
de - iniciou-se primeiro no Rio Grande do
Sul, nos anos 1970. Apenas na década se-
guinte o fenômeno ocorreu no conjunto do
país. Isso significa que há mais tempo o esta-
do viu-se aliviado das pressões demo gráficas
que agravam muitos problemas do subdesen-
volvimento: carência alimentar, déficit habi-
tacional, analfabetismo, etc.
Atualmente, segundo estimativas do
IBGE, enquanto a população brasileira cres-
ce cerca de 1,4% ao ano, a população rio-
grandense aumenta 1,0%.
Como em todo o Brasil, o crescimento
populacional do estado nas últimas décadas
está associado à urbanização, isto é, à passa-
gem da população de atividades agrárias para
atividades urbanas.
Em quarenta anos - de 1940 a 1980 -
houve uma inversão completa da situação de
domicílio da população: de essencialmente
rural para flagrantemente urbana. Hoje, de
cada cinco rio-grandenses, apenas um vive
na zona rural.
Nos anos 1970 a urbanização do estado
ocorreu sem grandes distorções: apesar do
maior incremento de cidades próximas à ca-
pital, houve também um crescimento de ci-
dades médias e pequenas do interior.
No último período intercensitário, porém,
60% do crescimento demográfico aconteceu
em municípios com mais de 100 mil habi-
tantes. Os municípios com menos de 10 mil
residentes tiveram, no conjunto, um decrésci-
3 2,99
Taxa média de incremento anual da população (em %)
%
2,89
2,54
2
2,48
1,93
1,63
1,55 1,48
1,22
1950/1960 1960/1970 1991 /20001970/1980 1980/1991
Brasil
LI Rio Grande do Sul
"
Fontes: IBGE, Anuário Estatístico do Brasil 1999 e Censo Demográfico 2000,
A POPULAÇÃO
Brasil: distribuição da população
1940
1970
2000
1950
67%.:»
1980
Rio Grande do Sul; distribuição da população
1991 1970
1950
1980 1991
Fontes: IBGE, Anuário Estasistico do Brssi :999 e Censo Demográfico 2000.
mo de população. Isso quer dizer que os pe-
quenos centros já não atraem a população que
deixa o campo; ela prefere os centros maiores,
onde acredita haver melhores oportunidades
de ascensão econômica e social. Com isso o
crescimento e a urbanização ocorrem não só
na região que envolve a capital, mas essencial-
mente nas cidades médias e sobretudo gran-
des do interior. A contrapartida é que mais de
70% dos municípios gaúchos possuem menos
de 20 mil habitantes.
As migrações internas
Por ser uma

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