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Recurso Inominado - Adicional Local de Trabalho

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AO JUÍZO DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL DA COMARCA DE 
ALPINÓPOLIS/MG. 
 
 
 
 
 
AUTOS Nº: 0024655-15.2018.8.13.0019. 
 
 
 
 WILLIAM DUARTE TEIXEIRA vem interpor RECURSO 
INOMINADO, consoante os fatos e argumentos que serão aduzidos a seguir: 
 
 
 
 
Nestes termos, 
 Pede e espera por deferimento. 
 
Alpinópolis, 12 de maio de 2021. 
 
 
Luiz Frederico Paulino Cunha do Nascimento 
OAB/MG 183.180 
 
À COLENDA TURMA RECURSAL 
 
 
RAZÕES DO RECURSO 
 
 
 Eméritos Julgadores, 
 
 Não pode a parte Recorrente corroborar com a r. sentença 
prolatada às fls., que julgou IMPROCEDENTES os pedidos iniciais, por destoar 
das reiteradas decisões proferidas por este Egrégio Tribunal de Justiça, bem 
como da legislação pátria. 
 
 Assim, estando presentes todos os pressupostos necessários 
para a interposição do presente recurso, vem a parte Recorrente apresentar 
sua fundamentação, pugnando pela reforma da sentença vergastada em 
primeira instância. 
 
BREVE RELATO 
 
 A presente demanda trata-se de Ação Declaratória c/c 
Condenatória, na qual a parte Recorrente requer a declaração do direito de 
receber o Adicional de Local de Trabalho, além de ser condenada a parte 
Recorrida a pagar as diferenças pretéritas dos últimos cinco anos, com reflexos 
no 13º salário e férias. 
 
 Ocorre que, o i. Magistrado singular julgou improcedente o 
pedido inicial sob o argumento que a eventual nulidade da contratação veda o 
direito à percepção do Adicional de Local de Trabalho, o que não merece 
prosperar. 
 
 Desta forma, com o entendimento supracitado, merece análise 
por esta Eminente Turma, de modo a modificar as questões tratadas em sede 
recursal, conforme será demonstrado a seguir. 
 
PRELIMINARMENTE 
DA NULIDADE CONTRATUAL E INOBSERVÂNCIA DO ART. 489/CPC: 
 
 Inicialmente, é mister ressaltar que, ainda que os contratos temporários 
tenham sido declarados nulos, o direito à percepção do Adicional de Local de 
Trabalho é mantido. 
 
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA - SERVIDOR 
MUNICIPAL - CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA - JULGAMENTO DO RE N.º 
596.478/RR E DO RE N.º 705.140/RS PELO SUPREMO TRIBUNAL 
FEDERAL- PAGAMENTO DE ADICIONAL DE LOCAL DE TRABALHO 
DEVIDO - PROCEDÊNCIA - SENTENÇA CASSADA 
- Eventual reconhecimento da nulidade do contrato firmado com o ente 
público a título precário não tem o condão de afastar o direito do servidor 
ao adicional de local de trabalho, desde que o servidor esteja em efetivo 
exercício em estabelecimento prisional ou unidade socioeducativa 
expondo-se a situações de desgaste psíquico ou de risco de agressão física. 
- As vantagens que decorrerem de determinada situação fática, ainda que não 
se apresentem de natureza permanente, devem ser pagas, sob pena de 
locupletamento ilícito da Administração. 
- Por força da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal na ADI n.º 
4.357/DF, com a respectiva modulação dos efeitos em Questão de Ordem, a 
correção monetária deve ser calculada com base em índice que melhor reflete 
a inflação acumulada no período (IPCA-E), desde a data em que deveria ter 
sido efetuado o pagamento, até a quitação respectiva. (TJMG - Apelação 
Cível 1.0024.14.305687-7/001, Relator(a): Des.(a) Luís Carlos Gambogi , 5ª 
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 22/09/2016, publicação da súmula em 
04/10/2016) 
 
Elucida-se ainda que a o julgamento do RE 765.320 em nada alterou o direito 
ao Adicional pleiteado vez que discute única e exclusivamente o direito à 
percepção de FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) nos contratos 
nulos. 
 
O julgamento supramencionado não pode ser utilizado como fundamento 
exclusivo de direito sobre tudo por tratar-se de ação que em sua origem não se 
refere a trabalhador que seria beneficiário da Lei 11.717/94. 
 
Ora, se a percepção de Adicional de Local de trabalho sequer foi objeto da 
ação, é crível que o direito a sua percepção não foi abrangido por tal julgado. A 
parte Autora do citado julgado sequer trabalhou em estabelecimento 
penitenciário. 
 
Neste diapasão, elucida-se que a segurança jurídica consiste em julgamentos 
iguais em casos análogos, que possuam mesma causa de pedir e mesmo 
pedido. Logo, carece de amparo legal a utilização de um julgamento que não 
guarnece similitude ao caso dos autos como fundamento para sua 
improcedência. 
 
Nesta esteira, tem-se que o art. 489/CPC é claro ao determinar que a 
sentença deve ser devidamente fundamentado: 
 
Art. 489. São elementos essenciais da sentença: 
(omissis) 
§ 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela 
interlocutória, sentença ou acórdão, que: 
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem 
explicar sua relação com a causa ou a questão decidida; 
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo 
concreto de sua incidência no caso; 
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; 
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes 
de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; 
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar 
seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento 
se ajusta àqueles fundamentos; (grifamos) 
 
Neste diapasão, elucida-se que o referido artigo é preciso ao determinar que é 
necessária a análise de todos os argumentos relevantes deduzidos no 
processo. Nesta ótica, tem-se que a r. sentença sequer analisou o 
embasamento legal suscitado pela parte Recorrente como os ensejadores do 
direito ao Adicional de Local de Trabalho. 
 
ADICIONAL POR LOCAL DE TRABALHO E DA REDAÇÃO DA LEI 
21.333/14 
 
 O direito a receber Adicional por Local de Trabalho foi instituído 
pelo art. 1º da Lei Estadual nº 11.717/94 que assim estabelece: 
 
Art. 1º - Fica instituído o Adicional de Local de Trabalho para o servidor em 
efetivo exercício em estabelecimento penitenciário que, no desempenho de 
suas funções, exerça atividade permanente junto à população carcerária 
de sentenciados e adolescentes infratores, expondo-se a situações de 
desgaste psíquico ou de risco de agressão física. 
 
Parágrafo único - O Adicional de Local de Trabalho incide sobre o 
vencimento básico do servidor de acordo com os seguintes índices 
percentuais, observada a classificação de que trata o art. 10 desta lei: 
 
I - 95% (noventa e cinco por cento) para os servidores em exercício em 
estabelecimento penitenciário de porte especial; 
II - 75% (setenta e cinco por cento) para os servidores em exercício em 
estabelecimento penitenciário de grande porte; 
III - 60% (sessenta por cento) para os servidores em exercício em 
estabelecimento penitenciário de porte médio; 
IV - 40% (quarenta por cento) para os servidores em exercício em 
estabelecimento penitenciário de pequeno porte. [Grifamos] 
 
Dúvidas não restam quanto ao direito de receber o Adicional por Local de 
Trabalho, pelos funcionários públicos que laboram em estabelecimento 
penitenciário, sendo que tal entendimento é do Egrégio Tribunal de Justiça de 
Minas Gerais, conforme jurisprudência: 
 
Processo: Ap Cível/Reex Necessário 
1.0702.11.042823-3/001 Relator(a): Des.(a) Armando Freire 
Data de Julgamento: 16/07/2013 Data da publicação da súmula: 24/07/2013 
EMENTA: REEXAME NECESSÁRIO. AÇÃO DE COBRANÇA. ADICIONAL 
NOTURNO. AGENTE DE SEGURANÇA PENITENCIÁRIO. LEI 10.745/92. 
AUTO APLICABILIDADE. ADICIONAL LOCAL DE TRABALHO. LEI 
ESTADUAL 11.717/94. DECRETO 45.870/2011. 
O artigo 7º, IX, da Constituição Federal, aplicável aos servidores públicos 
estatutários por força do artigo 39, § 3º, também da Carta Constitucional, 
assegura a remuneração do trabalhonoturno superior ao diurno. Comprovado 
o exercício da função no horário compreendido entre 22:00 horas e 05:00 horas 
do dia seguinte, resta devido o adicional noturno à autora, na condição de 
servidora contratada ocupante de cargo de Agente de Segurança Penitenciário. 
Outrossim, constatado que a autora labora em estabelecimento 
penitenciário de grande porte, possui direito ao adicional de local de 
trabalho, no percentual de 75% sobre o vencimento básico, 
independentemente de seu vínculo não ser efetivo, conforme Lei Estadual 
nº 11.717/94 e Decreto nº 45.870/2011. [Grifamos] 
 
Frisa-se que o Adicional por Local de Trabalho é propter laborem, ou seja, é 
devido em razão das condições do estabelecimento de trabalho, decorrente do 
próprio local, sem questionamento sobre a comprovação dos danos efetivos. 
 
Devido é o pagamento do Adicional por Local de Trabalho aos que laboram em 
ambientes penitenciários, por estarem expostos ao risco físico, emocional e 
psíquico que o ambiente de trabalho proporciona. Entendimento igual 
novamente possui o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, senão vejamos: 
 
Ap Cível/Reex Necessário 1.0702.13.044504-3/001 
Relator(a): Des.(a) Marcelo Rodrigues 
Data de Julgamento: 13/11/2014 
Data da publicação da súmula: 26/11/2014 
Ementa: 
Reexame necessário - ação ordinária - contrato administrativo temporário - 
http://www4.tjmg.jus.br/juridico/sf/proc_resultado2.jsp?listaProcessos=10702130445043001
direitos sociais - art. 37, inciso IX, e art. 39, § 3º, da Constituição da República - 
férias - terço constitucional - 13º salário - adicional por local de trabalho - 
extensão - efetivo exercício em estabelecimento penitenciário - Lei 11.717, de 
2004 e Decreto 45.870, de 2011 - adicional noturno - juros e correção 
monetária - sentença parcialmente reformada - apelação principal à qual se dá 
parcial provimento. 
1 - O contrato temporário de trabalho por excepcional necessidade de interesse 
público tem natureza de direito administrativo, com regime estatutário, 
consoante art. 37, inciso IX, da Constituição da República. 
2 - Os direitos sociais estabelecidos no art. 7º, da Constituição da República 
são estendidos à função pública de caráter temporário, por manifesta ordem do 
art. 39, § 3º. 
3 - Tem direito ao adicional de local de trabalho o 
servidor contratado para o exercício de função em estabelecimento 
penitenciário, uma vez constatadas as condições estabelecidas na Lei 
11.717, de 2004, incidente no cálculo de férias e décimo terceiro. 
[Grifamos] 
 
Ressalta-se que a redação ao art.1º da Lei 11.717/94 e consequente vedação 
ao recebimento do Adicional de Local de Trabalho para Agentes Penitenciários, 
ocorreu com o advento da edição da Lei 21.333/14, que começou a vigorar em 
junho de 2014. 
 
Salienta que tal fato somente reafirmou o direito ao recebimento da referida 
verba, portanto, nada mais justo que ser declarado o direito da parte 
Embargante a receber os valores retroativos à data da vedação imposta por 
força de Lei. 
 
Em caso análogo e recente, manifestou o Eg. Tribunal no mesmo sentido: 
 
Ap Cível/Reex Necessário 1.0702.11.079332-1/001 
Relator(a) Des.(a): Audebert Delage 
Data de Julgamento: 09/09/2014 
Data da publicação da súmula: 19/09/2014 
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL/REEXAME NECESSÁRIO - AÇÃO DE 
COBRANÇA - ADICIONAL DE LOCAL DE TRABALHO - LEI ESTADUAL Nº 
11.717/1994 - AGENTE PENITENCIÁRIO - CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA - 
ESTADO DE MINAS GERAIS - PAGAMENTO DEVIDO ATÉ A PUBLICAÇÃO 
http://www4.tjmg.jus.br/juridico/sf/proc_resultado2.jsp?listaProcessos=10702110793321001
DA LEI Nº 21.333/2014 - JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA - 
ENTENDIMENTO PACIFICADO NO STJ PELO RITO DO ART. 543-C DO CPC 
- RESP 1.270.439/PR - COMPENSAÇÃO DOS HONORÁRIOS 
ADVOCATÍCIOS - CABIMENTO - RESP Nº 963.528/PR - SÚMULA Nº 306/STJ 
- DISTRIBUIÇÃO DOS ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA - MANUNTENÇÃO. 
[Grifamos] 
 
Deste modo, necessário se torna a declaração do direito da parte Autora a 
receber o devido Adicional por Local de Trabalho por exercer as atividades em 
local previsto na legislação como penitenciário, com consequente reflexo em 
sua remuneração, independente da natureza jurídica do contrato de trabalho 
celebrado. 
 
DOS PEDIDOS 
 
 Diante dos argumentos apresentados, a parte Recorrente 
REQUER: 
 1 – Seja o presente Recurso recebido em ambos os efeitos, 
quais sejam: devolutivo e suspensivo; 
 2 - Seja concedida a justiça gratuita a parte Recorrente; 
 3 – Seja cassada a sentença tendo em vista a inobservância do 
art.489/CPC; 
 4 – Sucessivamente, caso não seja cassada a r. sentença, seja 
dado provimento ao presente Recurso Inominado modificando a sentença, a 
fim de condenar a parte Recorrida a declarar o direito da parte Recorrente a 
receber o Adicional por Local de Trabalho de acordo com o porte do local 
trabalhado, com consequente pagamento das diferenças atrasadas relativas 
aos últimos cinco anos laborados até a vigência da Lei 21.333/14, com os 
devidos reflexos. 
 5 – Requer também seja a parte Recorrida condenada ao 
pagamento de honorários sucumbenciais. 
 
Termos em que pede e espera por deferimento. 
 
Alpinópolis, 12 de maio de 2021. 
 
 
Luiz Frederico Paulino Cunha do Nascimento 
OAB/MG 183.180

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