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A REPRESENTAÇÃO DA MORTE NAS REPORTAGENS DA CAPA DA REVISTA VEJA SILVANIA DAL BOSCO

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Prévia do material em texto

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO 
PUC-SP 
 
 
 
 
 
 
 SILVANIA DAL BOSCO 
 
 
 
 
A REPRESENTAÇÃO DA MORTE NAS REPORTAGENS DE CAPA 
DA REVISTA VEJA 
 
 
MESTRADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2013 
 
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO 
PUC-SP 
 
 
 
 
 
 
SILVANIA DAL BOSCO 
 
 
 
 
A REPRESENTAÇÃO DA MORTE NAS REPORTAGENS DE CAPA 
DA REVISTA VEJA 
 
Dissertação apresentada à Banca Examinadora 
da Pontifícia Universidade Católica de São 
Paulo, como requisito parcial para a obtenção do 
título de MESTRE em Comunicação e Semiótica 
sob orientação do Professor Dr. José Luiz Aidar 
Prado, na Área de Concentração-Signo e 
Significação nas Mídias e Linha de Pesquisa - 
Análise das Mídias. 
 
 
 
São Paulo 
2013 
 
 
 
 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
___________________________________________ 
 
___________________________________________ 
 
____________________________________________ 
 
___________________________________________ 
 
___________________________________________ 
 
 
 
 
 
São Paulo, _______de_____________________de 2013. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedicatória 
Ao Pedro e Edmundo 
 e a todos aqueles que 
têm alegria de viver. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Epígrafe 
 
 
E tolerar a vida continua a ser, afinal de contas, o 
primeiro dever de todos os seres vivos. A ilusão 
perde todo o seu valor quando nos obstrui esse 
enfrentamento. Lembremo-nos do velho ditado: Si 
vis pacem, para bellum. Se queres preservar a 
paz, arma-te para a guerra. Estaria de acordo com 
o tempo em que vivemos alterá-lo para: Si vis 
vitam, para mortem. Se queres suportar a vida, 
prepara-te para a morte. 
 
(Freud, 1915 in Reflexões para tempos de 
Guerra e Morte) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agradecimentos 
 
 
 
Ao meu filho Pedro, que nasceu em meio a esse trabalho e reforçou minha crença 
em viver bem cada momento, mesmo quando a vida mostra sua face mais escura. 
 
Ao meu marido Edmundo pelo amor e parceria. 
 
Ao meu orientador, Professor Dr. José Luiz Aidar Prado, pela sua dedicação, 
compreensão e estímulo que foram fundamentais para a realização desta pesquisa. 
 
Aos Professores José Salvador Faro e Mayra Rodrigues Gomes, pelas valiosas 
contribuições que deram a este trabalho no exame de qualificação. 
 
Aos professores, colegas e funcionários do Programa de Pós-Graduação em 
Comunicação e Semiótica, pela partilha de experiências académicas. 
 
Aos amigos e colegas de trabalho, pela compreensão e colaboração incondicional. 
 
Ao Universo da forma que cada um o tem, pois “é bom lembrar que cada uma das 
verdades científicas é devida à afinidade da alma humana com a alma do universo, 
por imperfeita que seja esta afinidade” (CP, 5 p.47). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
A pesquisa analisa os tipos de contratos comunicacionais construídos pelos 
enunciadores da revista Veja em suas reportagens de capa que tematizam a morte 
em diversas situações, com o intuito de se identificar os interesses implícitos ou 
explícitos que envolvem as estratégias de construção destes textos. Com base nos 
fundamentos teóricos de Ernesto Laclau e Norman Fairclough em suas teorias do 
discurso, busca-se compreender, de forma geral, a dinâmica das práticas 
discursivas na imprensa semanal, com ênfase nos procedimentos discursivos que 
Veja mobiliza para estabelecer contratos comunicacionais (Patrick Charaudeau) 
com os seus leitores. A teoria do discurso oferece bases para a compreensão da 
relação intrínseca entre texto e contexto social no âmbito das relações sociais. 
Nesse horizonte, por um lado, a pesquisa parte dos conceitos centrais sustentados 
por esta teoria, como discurso, ponto nodal em suas conexões com os contratos 
comunicacionais, a teoria do agendamento e critérios de noticiabilidade (Mauro 
Wolf), que fazem parte das articulações discursivas que a revista empreende em 
sua atividade jornalística. Por outro, entende-se que não é possível analisar a morte 
sem abordar o Real traumático, que será sustentado pelos ensinamentos de Slavo 
Zïzëk. O estudo tem como bases metodológicas a análise do discurso, buscando 
investigar as formas de organização dos enunciados sobre a morte. Estas 
estratégias possibilitam a instauração de uma relação fiduciária entre enunciadores 
e enunciatários da revista, garantindo, dessa forma, a fidelização do leitor. O corpus 
da pesquisa compreende as reportagens de capa de Veja cuja temática é a 
representação da morte, no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2010. Os 
resultados da pesquisa indicam diferenciações no tratamento da morte do Mesmo e 
do Outro, no aqui e acolá, pelo enunciador. A forma de organização do discurso de 
Veja é baseada em oposições que remetem ao leitor à percepção de que em cada 
tipo de morte existem causas e culpados. Esse recurso é materializado com base 
em dicotomias que são apresentadas em forma de duelo entre Bem e Mal; entre 
Mesmo e Outro; entre o Ocidente e Oriente; entre civilizado e bárbaro; entre o 
mundo desenvolvido e atrasado. 
 Palavras-chave: morte, revista Veja, jornalismo, análise do discurso. 
ABSTRACT 
The research analyzes the types of communicational contracts drafted by publishers 
of Veja magazine in their cover stories that had a death theme of various situations, 
in order to identify the interests that involve implicit or explicit strategies for building 
these texts. Based on the theoretical foundations of Ernesto Laclau and Norman 
Fairclough in their theories of discourse, seeks to understand generally, the 
dynamics of discursive practices in the weekly press, with emphasis on the 
discursive procedures that mobilizes Veja to establish communication contracts 
(Patrick Charaudeau ) with their readers. Discourse theory provides a foundation for 
understanding the intrinsic relationship between text and social context within social 
relations. In this horizon, on one hand, the research part of the central concepts 
supported by this theory, such as speech, nodal point in their connections with the 
communication contracts, which are part of the discursive articulations that the 
magazine embarks on its journalistic activity. On the other hand, it’s understood that 
it is not possible to analyze the death without addressing the real trauma, which will 
be supported by the teachings of Slavo Zizek. The study has methodological bases 
of the discourse analysis in order to investigate the forms of organization of 
statements about death. These strategies enable the establishment of a fiduciary 
relationship between speaker and magazine reader, thus ensuring their loyalty. The 
body of the research comprises of the cover stories of Veja whose theme is the 
representation of death in the period from January 2000 to December 2010. The 
survey results indicate differences in the treatment of death of the same and the 
other, here and there, by the publisher. The organizational form of speech is based 
on oppositions that give reader the perception that in each type of death there are 
causes and culprits. This feature is materialized based on dichotomiesthat are 
presented in a battle between good and evil; between Same and Other; between 
East and West, between civilized and barbarian, between the developed and under 
developed. 
Keywords: death, Veja, journalism, speech analysis. 
 
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS 
 
AIDS Síndrome da Imunodeficiência Adquirida 
CSI Crime Scene Investigation 
EUA Estados Unidos da América 
GOL Companhia Aérea do Brasil 
IAMCR Associação lnternacional de Pesquisa em Mídia e Comunicação 
IVC Instituto Verificador de Circulação 
MBA Master of Business Administration (Mestrado em Administração de 
Empresas) 
MTV Music Television 
OCA Pavilhão de Exposições do Parque Ibirapuera em São Paulo 
ONG Organização Não Governamental 
ONU Organização das Nações Unidas 
PMDB Partido do Movimento Democrático do Brasil 
PSDB Partido da Social Democracia Brasileira 
PT Partido dos Trabalhadores 
UNESCO Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura 
UTI Unidade de Terapia Intensiva 
TAM Companhia Aérea do Brasil 
LISTA DE GRÁFICOS 
Gráfico 1: Classificação do corpus por eixos temáticos........................................... 21 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
Introdução .............................................................................................................. 11 
1. Corpus, delimitação da temática e justificativa .................................................... 14 
2. Justificativa e metodologia da pesquisa .............................................................. 16 
 
Capitulo 1: Fundamentação teórica e principais conceitos da pesquisa ........ 22 
1.1. Os contratos de comunicação e a lógica no discurso de Veja sobre o tema da 
morte ................................................................................................................. 22 
1.2. Do ponto nodal à articulação discursiva nas reportagens de capa .................. 31 
 
Capítulo 2: Formas de representação da morte do Mesmo e do Outro no Aqui e 
Acolá ................................................................................................................. 34 
2.1. Regimes de visibilidade e afirmação de valores ideológicos em Veja ............. 34 
2.2. Agendamentos temáticos, enquadramentos e critérios de noticiabilidade ..... 36 
2.3. A morte hoje ..................................................................................................... 42 
2.4. A morte na sociedade ....................................................................................... 45 
2.5. A morte na mídia e as diferentes formas de abordagem .................................. 50 
 
Capítulo 3: Da construção da morte às mortes em Veja ................................... 60 
3.1. O perfil editorial de Veja e constituição da identidade ...................................... 60 
3.2. Análise das reportagens por eixos temáticos .................................................. 63 
3.2.1. Morte de autoridades/celebridades...................................................... 63 
3.2.1.1. Conclusão do eixo das capas de Covas, Jackson e Eller...... 80 
3.2.1.2. A presentificação da dor do papa João Paulo II..................... 81 
3.2.1.3. Conclusão sobre a morte do papa......................................... 85 
3.2.1.4. Conclusão do eixo temático sobre morte de autoridades/ 
celebridades........................................................................... 86 
3.2.2. Morte por assassinato.......................................................................... 87 
3.2.2.1. As fotos mostram os rostos dos bandidos.............................. 92 
3.2.2.2. O caso Isabella Nardoni......................................................... 94 
3.2.2.3. Conclusão do eixo temático de morte por assassinato.......... 99 
 
3.2.3. Morte por desastres naturais............................................................. 102 
3.2.3.1. O relato da tragédia Aqui e Acolá......................................... 110 
3.2.3.2. As imagens da tragédia no Brasil e no exterior.................... 118 
3.2.3.3. Conclusão do eixo temático de morte por desastres 
naturais................................................................................. 124 
3.2.4. Morte por acidentes tecnológicos...................................................... 126 
3.2.4.1. As imagens dos acidentes.................................................... 138 
3.2.4.2. Conclusão do eixo temático de morte por acidentes 
tecnológicos.......................................................................... 141 
3.2.5. Morte por guerras e terrorismo.......................................................... 144 
3.2.5.1. Conclusão do eixo temático de morte por guerras e 
terrorismo.............................................................................. 156 
3.2.6. Configuração plástica, visual e sincretismo de linguagem nas 
capas................................................................................................. 159 
 
CONCLUSÕES...................................................................................................... 162 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 171 
 11 
Introdução 
 
O objetivo principal deste estudo é examinar o tipo de contratos comunicacionais 
que a principal revista de opinião do país, Veja, estabelece com os seus leitores para 
tratar do tema da morte. Busca-se compreender como esse assunto é construído e 
reconstruído, tematizado e figurativizado pelos meios de comunicação, mais 
especificamente nas reportagens de capa1 da revista, considerando-se o contexto 
particular do período em estudo, de 2000 a 2010, marcado por grandes transformações 
políticas, econômicas e sociais no mundo e, especialmente, no Brasil. 
O contrato de comunicação possibilita a fidelização dos leitores, uma vez que 
estes se mantêm ligados à revista por meio da relação de confiança que se estabelece 
entre os interlocutores do discurso. É fundamental, portanto, desvendar como o tema 
da morte é enunciado por Veja, pois, por um lado, a forma como o enunciador aborda o 
assunto pode revelar o seu posicionamento político em relação aos eventos, enquanto 
por outro, pode também fazer com que a “vivência” da morte relatada seja mais ou 
menos intensa, respeitosa ou sofrida. 
Ao mobilizar as mais diversas estratégias discursivas, o enunciador de Veja 
pretende imprimir no leitor as marcas do seu discurso, deixando pistas ou 
direcionamentos de interpretação para o enunciatário. O objetivo desse procedimento é 
provocar efeitos de sentido com a finalidade de conduzir o olhar e a atenção do leitor 
para as suas (do enunciador) convicções ou para os interesses da empresa que ele 
representa. Essas marcas são recursos usados pelos meios para fidelizar seus leitores 
e conquistar novos públicos. 
 
Quando as pessoas compram uma revista, jornal ou televisão, 
elas não estão comprando “textos” para se informar, mas para se 
enquadrar ao se informar, para se localizar, para ter narrativas de 
enquadramento no mundo, para saber qual é o seu espaço no 
mundo, como ele funciona, como se pode pertencer melhor a esse 
que já é o meu mundo. Que realidade é essa à qual pertenço e 
devo pertencer como ser, como me transformar para melhor ser 
esse que gostaria de ser? Essas questões são exemplo de 
modalizações de ser, de saber, de fazer, de poder que a mídia de 
forma estratégica se utiliza para captar a atenção do leitor 
(PRADO, 2009)2. 
 
 
1 É a matéria central da revista antecipada na capa. Trata-se do tema central de cada edição. 
2
 Convocação nas revistas e construção do “a mais” nos dispositivos midiáticos – artigo apresentado pelo 
Prof. Dr. José Luiz Aidar Prado no encontro da SBOJor de 2009 na ECA-USP. 
 12 
A conquista do leitor de Veja se dá por um regime de veridicção que, 
diferentemente de um valorde verdade, se baseia na convicção de um grupo ao qual 
se pretende oferecer um saber de opinião e que só pode ser apreendida 
empiricamente, por meio dos textos portadores de juízos. O efeito de verdade não 
existe, pois, fora de um dispositivo enunciativo de veridicção que busca exercer 
influência psicossocial, no qual cada um dos parceiros da troca verbal tenta fazer com 
que o outro dê sua adesão a seu universo de pensamento e de verdade. O que está 
em causa, aqui, não é tanto a busca de uma verdade em si, mas a busca de 
“credibilidade”, isto é, aquilo que determina o “direito a palavra” dos seres que 
comunicam, e as condições de validade da palavra emitida (CHARAUDEAU, 2009, 
p.49). Daí se falar em regimes de veridicção. 
 Com a análise dessas reportagens, pretende-se também compreender as 
significações e implicações sociais que as diversas abordagens sobre o tema sugerem 
aos enunciatários, bem como identificar os interesses “ideológicos” implícitos ou 
explícitos envolvidos nas estratégias de construção dos textos sincréticos (notícia, 
fotografia, espaços ocupados, cores, símbolos, grafia) referentes à morte. 
 Os objetivos específicos desta pesquisa são: (1) compreender os regimes de 
sentido e regimes de visibilidade construídos em torno das figuras do Mesmo e do 
Outro nas reportagens de capa; (2) analisar como o enunciador apresenta o Real 
traumático causado pelo corte da morte diante de um discurso euforizado levando o 
leitor a se espelhar em arquétipos de sucesso, de beleza, de bem estar, e como 
conduz o seu enunciatário a compreender essa visão de mundo; (3) examinar os 
agendamentos temáticos e os tipos de enquadramentos recorrentes nas reportagens 
de capa, para detectar se apresentam um padrão, se seguem uma receita ou se variam 
de acordo com o tipo de “morte” representada em cada reportagem; (4) em termos de 
visualidade e espacialidade pretende-se desvendar como o enunciador apresenta para 
o enunciatário as mortes que são próximas, em território brasileiro, e as que estão 
acolá, em território estrangeiro (distante e próximo). 
Nesta pesquisa, assumiu-se o significado de Mesmo na concepção de Prado 
(2007), referindo-se a modelos aceitos, objetivados pelas classes médias, em geral, 
criadores de dispositivos de identificação por meio da valorização do crescimento 
pessoal, profissional e social. Prado denomina Mesmo aos espaços sociais em que 
são construídos e distribuídos valores dos usuários de dispositivos comunicacionais 
sistêmicos, espectadores de diversas mídias. Existem “estratégias para a visibilidade 
 13 
da figura do Mesmo, dependendo da agenda temática das mídias” (PRADO e 
BAIRON, 2007). Chama-se ‘Outro’ às séries de paisagens culturais e políticas frente às 
quais a mídia estabelece distâncias relativas, calculadas, homólogas ao afastamento 
mantidos por seus públicos. Assim sendo, 
 
frente ao ‘Outro’ é preciso resguardar-se, qualificando-o de 
exótico, ao exibi-lo para o display, mas em outros casos, é 
preciso ocultá-lo do holofote, deixá-lo às margens, assim, ele 
pode ser assimilado, admitido ou segregado (conf. Landowski, 
2003); em certos casos, será necessário inscrevê-lo como 
inimigo, excluindo-o (PRADO e BAIRON, 2007). 
 
 Para a pesquisa, trabalhou-se com as seguintes hipóteses: 
 
1. Veja tematiza em suas capas a representação da morte do “aqui” de forma 
diferente do “lá/acolá”, ou seja, nos eventos com morte ocorridos dentro do país 
não são evidenciados os elementos que tratam do Real, entendido aqui no 
conceito de Žižek, como um núcleo duro, algo traumático impossível de ser 
simbolizado por palavras. Nas reportagens sobre acontecimentos com mortes 
em outras partes do mundo são escancaradas fotografias com corpos sem vida, 
ensanguentados, e isso cria certa curiosidade por parte do leitor pelo interesse 
em relação ao chocante; 
2. Em suas capas, Veja valoriza o regime de visibilidade do Mesmo (vitorioso, 
saudável, bem-sucedido) que funciona como um dispositivo de diferenciação 
social, dando a ver ao leitor figuras do seu mundo constituído por pessoas da 
chamada classe média alta brasileira, com instrução e formadora de opinião, 
como a própria revista revela em suas pesquisas na conquista de anunciantes. 
No caso das mortes, o enunciador propõe ao enunciatário que assuma junto 
com ele uma causa política e/ou social que vai além da morte física ocorrida 
dentro e fora do país. 
3. O enunciador de Veja assume sempre um posicionamento político e ideológico 
sobre cada tema apresentado ao leitor. No caso de morte, geralmente sentencia 
e aponta, em seu discurso, os prováveis responsáveis pelas “mortes em 
questão”, quase que justificando as causas e fatores que levaram à morte 
descrita na reportagem. 
 14 
 No primeiro capítulo, será apresentada a fundamentação teórica e discussões 
sobre os principais conceitos norteadores da pesquisa, tais como contrato de 
comunicação, discurso, articulação discursiva e ponto nodal, com intuito de 
compreender a ligação entre o objeto de pesquisa e o arcabouço teórico de Ernesto 
Laclau, Norman Fairclough, Patrick Charaudeau e Slavoj Žižek . 
 No segundo capítulo, serão discutidas as formas de representação da morte do 
Mesmo e do Outro, aqui e acolá, que os enunciadores mobilizam a fim de “capturar” a 
atenção dos enunciatários. Serão abordados também os agendamentos temáticos, os 
enquadramentos, além dos critérios de noticiabilidade que orientam a atividade 
jornalística da revista. 
 No terceiro capítulo, será desvelado o corpus com base na análise do discurso, 
com aporte de alguns elementos da psicanálise com o objetivo de se compreender as 
escolhas do enunciador de Veja para a organização do discurso sobre a morte, nos 
contextos e situações específicas ligadas ao Mesmo e Outro, aqui e acolá. 
 É importante compreender os procedimentos discursivos de organização dos 
enunciados para identificar os efeitos de sentido produzidos pelos textos propostos 
pelo enunciador de Veja. Analisar a enunciação implica compreender o discurso como 
resultante da conversão de estruturas narrativas em estruturas discursivas: ato de um 
enunciador que faz uma série de escolhas, como de pessoa, de tempo, de espaço, de 
figuras e “conta ou passa a narrativa, transformando-a em discurso”, como explica 
Barros (1990, p. 53). 
 
1. Corpus, delimitação da temática e justificativa 
 
 O corpus desta pesquisa é constituído por reportagens de capa da revista Veja, 
cuja temática é a morte e suas representações. O período selecionado compreende o 
início do mês de janeiro de 2000 até o final de dezembro de 2010. A escolha das 
edições desse período se deu por tratar-se da primeira década do século XXI, época 
em que ocorreram grandes tragédias pelo mundo. A virada do ano 2000 foi marcada 
por algumas incertezas típicas dos tempos atuais. Período marcado pela rapidez da 
informação, veiculada em abundância para o mundo acirrando cada vez mais a 
competição entre os veículos de comunicação de massa. Nesse contexto sociopolítico, 
as dinâmicas de produção de notícias passaram a ser orientadas sob o signo da 
 15 
velocidade e da concorrência e, por essas razões, há o imperativo do refinamento das 
estratégias discursivas para capturar o interesse do público-alvo. 
 Circulava na internet, e chegou a ser assunto em outros veículos de 
comunicação, que um vírus potente invadiria os computadores ceifando dados 
pessoais, podendo desestabilizar os grandes sistemas de segurança e causar mortes 
com queda de aviões, em plataformas de operação no mar e em operações de 
segurança. Nada disso aconteceu naquele momento e, provavelmente, tratava-se de 
mais uma das tantas ameaças apocalípticas próprias do período. Porém, essas 
notícias, relidas anos depois, suscitaram o questionamento de como e quais foram as 
mortes retratadas na mídia nos primeiros 10 anos do novo século. 
 Por um lado, a escolha da revistaVeja se dá em razão de ser um dos principais 
veículos de comunicação do país, por outro, pelo fato do seu enunciador assumir um 
posicionamento político claro em relação aos problemas levantados na maioria de suas 
reportagens. 
 Mesmo sabendo não haver respostas e explicações sobre o fim da vida, a morte é 
algo que preocupa todo o ser humano. Assim, a revista Veja tem se constituído como 
referência e espaço privilegiado de circulação de informações ao produzir suas versões 
sobre os acontecimentos visando influenciar a maneira de o enunciador viver e 
perceber a morte. 
 Ao assumir posicionamento claro na opinião que emite, o enunciador de Veja se 
diferencia do das demais revistas, tornando-se protagonista na construção de suas 
“verdades” evitando pautar-se pela imparcialidade, uma das exigências da atividade 
jornalística. É nessa perspectiva que se escolheu Veja. Por ela possuir características 
dicotômicas e moralizadoras, que modalizam certo e errado. Para Orlandi (2003, p. 42 
e 43), o sentido não existe em si, mas é determinado pelas posições ideológicas 
colocadas em jogo no processo sócio-histórico em que as palavras são produzidas. As 
palavras mudam de sentido segundo as posições daqueles que as empregam e 
segundo os contextos discursivos conflituais, em que posições antagônicas disputam a 
validade dos sentidos. 
 Para este estudo foram analisadas todas as capas da revista no período 
referenciado e 25 integraram o corpus, somando mais de 650 páginas de textos, 
fotografias, desenhos, infográficos e tabelas, entre outros elementos, que foram 
analisados em blocos, de acordo com temáticas da morte mais recorrentes no período 
em estudo. 
 16 
 As capas são “janelas” que se abrem para as reportagens das revistas, que, por 
sua vez, pontuam e organizam, de acordo com seus princípios, as maneiras pelas 
quais a recepção deve olhar aquilo a que é remetido (Fausto Neto, 1991, p. 19). Por 
este motivo, as capas terão um peso grande na avaliação, mas as reportagens também 
serão objeto de análise para possibilitar a identificação das posições políticas, 
econômicas e sociais assumidas pelo veículo em seus textos. 
 Analisadas de forma mercadológica, embora a maioria das cerca de um milhão e 
200 mil revistas impressas semanalmente chegue aos leitores por meio de assinaturas, 
vários autores entendem que as reportagens de capa devem seduzir os seus 
leitores/consumidores de tal forma que eles venham a querer consumir o “produto” 
revista. As capas são espaços híbridos entre a publicidade e o jornalismo, pois não se 
reduzem a somente informar (pressuposto do jornalismo de revista) – mesmo que este 
seja o intuito – ao passo que anunciam (pressuposto da publicidade) o conteúdo da 
revista (CARDOSO, 2007). É suposto que o assinante de Veja foi seduzido pela 
revista, ou por suas capas, ao ponto de firmar um contrato semanal de recebê-la em 
casa, sem confrontá-la com a concorrência. 
 O estudo transita na interface entre comunicação e psicanálise. E, embora a 
morte seja motivo de angústia, perseguindo o homem, consciente ou 
inconscientemente, durante toda a sua existência, não há maneira de conhecer o ser 
humano sem pensar nas complexidades envolvidas em sua morte, pois, de acordo com 
Morin (1997, p. 10 e 11), é na postura diante da finitude que o indivíduo compreende a 
consciência de si mesmo e de seu papel no mundo e a sociedade só se constitui na e 
com a morte. 
 
2. Justificativa e metodologia da pesquisa 
 
Para a realização do estudo, adotou-se o método de análise do discurso, pois o 
objetivo era compreender os tipos de contratos comunicacionais e os regimes de 
visibilidade construídos pelos enunciadores de Veja com intenção de garantir 
credibilidade e fidelidade por parte dos seus leitores quando o tema é morte. 
 Partindo-se do princípio de que não são os documentos os objetos de pesquisa, 
mas a sociedade, como nos ensina o historiador Ulpiano Bezerra de Meneses: “não se 
estudam fontes para melhor conhecê-las, identificá-las, analisá-las, interpretá-las e 
compreendê-las, mas elas são identificadas, analisadas, interpretadas e 
 17 
compreendidas para que daí se consiga um entendimento maior da sociedade, na sua 
transformação” (1993, p. 26); assim, o objeto de estudo desse trabalho são as 
estratégias discursivas de construção do tema da morte e os modos pelos quais é 
tematizada e representada na atualidade nos meios de comunicação (em particular, em 
Veja) com a intenção de entender que papel tem a morte na sociedade. 
 Mesmo que o leitor de Veja represente uma parcela pequena da população e um 
grupo abastado (nem todos), esse grupo é considerado como potencial formador de 
opinião, portanto, dele haverá reverberação de pensamento e posição para outros 
setores da sociedade. 
A pesquisa privilegiou também outros aspectos relevantes merecedores de 
análise, como questões ligadas à visualidade, espacialidade e plasticidade das capas, 
o tamanho da foto e seus traços, por exemplo, podem ser ou não ser mostrados em 
close. O uso dos recursos visuais permite ao enunciador provocar efeitos de sentido 
nos interlocutores, pois ajuda na tarefa de transmitir credibilidade aos conteúdos. 
Para a análise imagética do texto e dos percursos discursivos o estudo buscou o 
suporte da semiótica discursiva, especialmente por meio dos textos de autores como 
Vicente Pietroforte (2004), Diana Barros (1994), Eric Landowski (2002) e Ana Claudia 
Oliveira (2004), que seguem os princípios de Algirdas Julien Greimas. Além desses 
autores, a pesquisa valeu-se também das contribuições de Diana Barros para examinar 
os processos de enunciação dos textos a partir de sua organização em planos de 
expressão e planos de conteúdo nas referidas reportagens. 
 A pesquisa foi desenvolvida em etapas. A revisão de literatura foi o processo 
inicial para a realização deste trabalho, tendo imprimido maior conhecimento sobre o 
tema, sobre o corpus e, especialmente, sobre a fundamentação teórica, base essencial 
para qualificar essa produção. Nesta etapa, realizou-se vasta pesquisa sobre o estado 
da arte da temática e foram encontrados diversos trabalhos, como de Ernest Becker 
(2007), Susan Sontag (2003), Folker Hanusch (2010), Ariès Philippe (1977a; 1977b), 
José Barros e Félix Neto (2004), Mayra Rodrigues Gomes (2008), Tereza Oliveira 
(2001), John Bowlby (2002a; 2006), Žižek Slavoj (2003), Oscar Cesarotto (1999) que 
serviram de suporte teórico da pesquisa. 
 Algumas teses foram relevantes para a compreensão do objeto de pesquisa, 
como a que analisa a representação da morte nas capas das revistas semanais (Veja e 
Istoé), de Antônio Aílton Ferreira de Cerqueira, que estabelece como tempo de estudo 
um período entre 2004 e 2005; a pesquisa de Heloisa Helena A. L. Barbosa, da 
 18 
Universidade de Taubaté, que aborda o uso mercadológico da imagem infantil e o 
julgamento sumário em duas capas da revista Veja sobre o caso Isabella Nardoni; e a 
tese de José Carlos Marques, da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP), com foco 
na morte de João Paulo II nas capas de veículos de referência brasileira. 
 Outras teses são as que analisam a morte de Cássia Eller, Mário Covas e os 
ataques de 11 de setembro, entre várias, porém, a maioria delas ou analisava um 
recorte muito curto, um único caso de morte ou fazia estudo comparativo entre Veja e 
outras revistas de circulação nacional, também por pequenos períodos. 
 A revisão da literatura trouxe maior conhecimento e profundidade de como o 
enunciador de Veja dá a ver esse tema ao seu enunciatário e em que tipo de 
estratégias discursivas investe na construção de seus textos. 
 A escolha de um período mais longo, uma década, englobando a análise de 
diversos casos de morte reportados por Veja, objetiva aprofundar a compreensão sobre 
o tema na principal revista do país. 
 O fato de a revista ter destinado apenas 5% de suas capas parao tema morte 
suscitou a curiosidade para se entender melhor a visão de mundo criada pelo 
enunciador. Nos últimos 43 anos (completados no dia 11 de setembro de 2012), foram 
publicadas 2.322 edições (até 22 de maio de 2013) e, se consideradas as capas que 
reportam guerras, desastres, assassinatos e mortes de personalidades, chega-se a 
pouco mais de uma centena, ou seja, 5% do total de assuntos abordados. Os números 
evidenciam não haver uma pré-disposição editorial acentuada para o assunto. Por esse 
motivo, questionam-se as possíveis motivações de Veja em reportar a morte e a forma 
como a revista propõe este assunto aos seus leitores. 
 Considera-se o tema morte bastante relevante tanto na vida das pessoas como 
na vida em sociedade, por isso, por si só justificaria este estudo. Sobre a morte, é 
importante considerar que em uma sociedade líquida (BAUMAN, 2001), dromocrática 
(VIRILÍO, 1996) ou pós-moderna (BAUDRILLARD, 1991), o homem perdeu os antigos 
parâmetros e vive em um sistema estruturado para que não perca tempo com 
devaneios sobre a existência e sobre a morte, muito menos sobre a própria morte. 
Outro foco importante era compreender o ponto nodal a partir do qual os 
enunciadores de Veja constroem e articulam seus textos com a finalidade de captar o 
interesse dos leitores. Certamente, fazem isso a partir dos processos de edição das 
informações obtidas na cobertura dos acontecimentos envolvendo morte. A construção 
das reportagens de capa busca figurativizar a morte e projetá-la na mente dos leitores, 
 19 
produzindo determinados efeitos de sentido sobre o significado da morte. Além dessas 
ações, nesta etapa foram feitas a seleção e coleta das capas a serem averiguadas a 
partir do acervo digital do site da revista, no qual são disponibilizadas todas as 
publicações desde o seu lançamento em 1968. 
 Na segunda etapa, foi investigado o discurso dos meios de comunicação e, mais 
especificamente, o discurso de Veja sobre a cobertura do tema morte. Vale ressaltar 
que não se trata de analisar apenas as representações da morte, pois se busca 
também compreender a ação da linguagem do enunciador no ato de fazer crer o 
enunciatário. 
 Em sua atividade como veículo de comunicação, Veja segue uma rotina de 
trabalho jornalístico que envolve não só a cultura organizacional, mas, também, as 
tarefas de apuração dos fatos, coleta e consolidação das informações, edição e 
divulgação da notícia. No processo, de acordo com os critérios de noticiabilidade, são 
escolhidos os temas a serem desenvolvidos e oferecidos ao leitor. A morte, algumas 
vezes, ganha espaço na revista com diferentes abordagens de acordo com as 
circunstâncias em que ocorre. Nesse sentido é importante desvendar quais mortes são 
dadas a ver nas reportagens de Veja e porque esses temas tornaram-se, por decisão 
editorial, assunto de capa. 
 Além da tematização, o enunciador de Veja também se faz valer do 
procedimento de figurativização que se insere na dimensão da visibilidade midiática. 
Nesse contexto, considera-se interessante explorar quais figuras são dadas a ver nas 
capas e reportagens de Veja? De quais regimes de visibilidade a revista lança mão? 
 Na terceira etapa, foram analisadas as reportagens de capa com base no 
método de análise do discurso. A classificação das reportagens foi feita em função do 
eixo temático, de acordo com a natureza e as causas das mortes construídas na 
revista. A tipificação foi fundamental para a compreensão do objeto (a morte), pois é 
uma forma de sistematizar o estudo para seu amplo entendimento. Assim, foi 
construída a seguinte classificação temática: 
 
1. Morte de Autoridades/Celebridades – fizeram parte da análise as capas 
sobre a morte do político Mário Covas (março de 2011), do Papa João Paulo 
II (abril de 2005), da cantora Cássia Eller (janeiro de 2002) e do ícone pop 
Michael Jackson (julho de 2009); 
 20 
2. Morte por Assassinato – são analisadas as capas do assassinato de João 
Hélio, 6 anos, cometido por jovens da classe média (fevereiro de 2007) e da 
menina Isabella Nardoni, também de 6 anos, efetuado pelo pai e pela 
madrasta (abril de 2008). 
 
3. Morte por Desastres Naturais – são investigadas as reportagens de capa 
sobre o tsunami no Índico (janeiro de 2005), a tragédia com o alagamento em 
Santa Catarina (dezembro de 2010) e as duas capas sobre o terremoto no 
Haiti (ambas em janeiro de 2010); 
 
4. Morte por Desastres Tecnológicos – são averiguados os acidentes com o 
submarino russo Kursk (agosto de 2000), a queda do avião da TAM (julho de 
2007), duas capas da queda do Air France (ambas em julho de 2009) e a 
queda do avião de João Paulo Diniz (agosto de 2001); 
 
5. Morte por Guerras e Terrorismo – entram nessa análise as duas edições 
especiais sobre a queda das Torres Gêmeas (ambas em setembro de 2011), 
as três capas sobre a invasão ao Iraque (uma em março e duas em abril de 
2003) a invasão a um colégio russo por terroristas chechenos e árabes 
(setembro de 2004), e ataque de Israel a Gaza (junho de 2009). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 21 
O gráfico abaixo sintetiza o corpus analisado: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gráfico 1: Classificação do corpus por eixos temáticos 
 Fonte: adaptação da autora, 2013. 
 
 
O objetivo primordial foi compreender a organização do discurso de Veja, as 
formas de figurativização e tematização da morte nas reportagens de capa. Por fim, 
relatam-se as conclusões com os resultados da pesquisa. 
A seguir, será apresentado o desenvolvimento do primeiro capítulo, com a 
fundamentação teórica da pesquisa. 
 
 
 
 
 22 
Capítulo 1 
 
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E PRINCIPAIS CONCEITOS DA PESQUISA 
 
1.1. Os contratos de comunicação e a lógica do discurso de Veja 
 sobre o tema da morte 
 
Neste capítulo, serão discutidos os contratos de comunicação construídos por 
Veja, um dos principais periódicos semanais do Brasil. O interesse é entender como, 
ao longo de sua existência, a revista tem construído em suas reportagens de capa a 
temática da morte, um assunto que assombra o cotidiano das pessoas. Embora o ser 
humano saiba de sua finitude, sempre que o assunto está em voga, ele o trata como se 
a morte só ocorresse com os outros, nunca com ele mesmo. Mas é na coragem de 
encarar a própria morte como parte da vida ou mesmo a finitude como algo inevitável 
que o indivíduo toma consciência de si mesmo e de seu papel no mundo e na 
sociedade, como muito bem pontua Morin (1997, p. 10). Sob essa perspectiva acredita-
se que falar da morte, tratar da morte é também falar da vida, tratar da vida. Com a 
consciência de que apenas o momento presente pertence ao homem e a morte está 
sempre à espreita é possível aproveitar melhor cada momento que se tem para viver. 
Os contratos de comunicação foram analisados a partir dos textos de Patrick 
Charaudeau (2009) e de José Luiz Aidar Prado (2006). Há contrato quando um 
enunciador apresenta a um público um texto no qual certas modalizações são 
propostas para que o leitor se informe, se capacite e se transforme a partir do que se 
aventa no texto. Uma vez examinadas as várias totalizações, é possível entender que 
"mortes" são efetivamente construídas em cada tipo de contrato, dado nas capas e 
reportagens de Veja: 
 
o sentido nunca é dado antecipadamente. Ele é construído pela 
ação linguageira do homem em situação de troca social. O sentido 
só é perceptível através de formas. Toda a forma remete a 
sentido, todo sentido remete a forma. O sentido se constrói ao 
término de um duplo processo de semiotização: de transformação 
e de transação (CHARAUDEAU, 2009, p.67). 
 
Especificamente sobre o contrato comunicacional, Charaudeau (2009) refere 
que todo discurso depende, para a construção de seu interesse social, das condições 
 23 
especificas da situação de troca na qual surge.A situação de comunicação constitui um 
quadro de referência ao qual se reportam os indivíduos de uma comunidade social 
quando iniciam uma comunicação. Como poderiam trocar palavras, influenciar-se, 
agredir-se, seduzir-se se não existisse um quadro de referência? 
O mesmo acontece com todo interlocutor ou leitor de um texto. Ele deve supor 
que aquele que se dirige a ele tem consciência dessas restrições. Assim se constrói o 
que os filósofos da linguagem designam por “co-intencionalidade”: toda troca 
linguageira se realiza num quadro de co-intecionalidade, cuja garantia são as restrições 
da situação de comunicação. 
A modalização tem o papel de exprimir a posição do enunciador em relação 
àquilo que diz (FIORIN, 2000, p.1). Para Charaudeau (1990), modalização é o 
sustentáculo da enunciação na medida em que ela permite explicitar as posições do 
sujeito falante em relação a seu interlocutor, a ele mesmo e a seu propósito. É a marca 
que o sujeito deixa no seu discurso. As expressões modalizadoras são elementos 
linguísticos diretamente ligados ao evento de produção do enunciado, funcionando 
como indicadores de intenções, sentimentos e atitudes do locutor com relação a seu 
discurso e, ao mesmo tempo, revelam o grau de engajamento do falante em relação ao 
conteúdo proposicional veiculado. Para Barros (2003, p. 88), modalizações ou 
modalidades são a “determinação que modifica a relação do sujeito com os valores 
(modalização do ser) ou que qualifica a relação do sujeito com o seu fazer 
(modalização do fazer) dentro da narrativa textual”. 
O processo de mudança consiste em transformar o “mundo a significar” em 
“mundo significado”, estruturando-o segundo certo número de categorias que são 
próprias, expressas por formas. Toda a forma, de acordo com Charaudeau (2009, p. 
41), remete a sentido e todo sentido remete a forma, numa relação de troca. O sentido 
é construído quando há um duplo processo de semiotização, o de transformação e de 
transação. 
Ainda de acordo com o autor, as categorias que identificam os seres no mundo 
os nomeiam, aplicam a esse ser propriedades que o qualificam, descrevem ações nas 
quais esse ser está engajado (narrando-as) e, além disso, elas fornecem os motivos 
dessas ações (argumentos), que avaliam esse ser, avaliam essas propriedades, essas 
ações e esses motivos, modalizando-o. 
 24 
O ato de informar está inserido no processo pela circunstância de que deve 
descrever, identificar e qualificar os fatos, contar o que aconteceu e explicar porque os 
mesmos aconteceram: 
 
o processo de transação consiste, para o sujeito que produz um 
ato de linguagem, em dar uma significação psicossocial a seu ato, 
isto é, atribuir-lhe um objetivo em função de um certo número de 
parâmetros: as hipóteses sobre a identidade do outro, o 
destinatário-receptor, quanto ao seu saber, sua posição social, 
seu estado psicológico, suas aptidões, seus interesses etc..; o 
efeito que pretende produzir nesse outro; o tipo de relação que 
pretende instaurar com esse outro; o tipo de regulação que prevê 
em função dos parâmetros precedentes. O ato de informar 
participa desse processo de transação, fazendo circular entre os 
parceiros um objeto de saber que, em principio, um possui e o 
outro não, estando um deles encarregado de transmitir e o outro 
de receber, compreender, interpretar sofrendo ao mesmo tempo 
uma modificação com relação a seu estado inicial de 
acontecimento (CHARAUDEAU, 2009, p.41). 
 
O necessário reconhecimento recíproco das restrições da situação pelos 
parceiros da troca linguageira leva a dizer que estes estão ligados por uma espécie de 
acordo prévio sobre os dados desse quadro de referência. Eles se encontram na 
situação de dever subscrever, antes de qualquer intenção e estratégia particular, a um 
contrato de reconhecimento das condições de realização da troca linguageira em que 
estão envolvidos: um contrato de comunicação (CHARAUDEAU, 2009, p. 68). Este 
resulta das características próprias à situação de troca, os dados externos, e das 
características discursivas decorrentes, os dados internos: 
 
cada texto midiático traz um contrato de comunicação proposto, 
em que o enunciador se dirige a um enunciatário, criado por meio 
de uma interpelação discursiva, em que uma modalização é 
proposta. Dizendo de modo mais simples: todo texto oferece ao 
potencial leitor algo em termos de direção à ação, para que ele se 
transforme, se informe para aprender, melhorar sua existência, 
consuma, tenha sucesso, se divirta, ou tudo isso em conjunto. 
Existe em cada texto uma proposição performática do tipo 
imperativo: faça isso para ser aquilo (consuma cremes de quinta 
geração para ser jovem até os cem anos, por exemplo) (PRADO, 
2011, CD Regime de visibilidade em revistas). 
 
 25 
O contrato de comunicação possibilita a fidelização dos leitores, uma vez que 
estes se mantêm ligados à revista por meio dessa relação de confiança estabelecida 
entre os interlocutores do discurso, no caso, entre enunciadores e leitores de Veja. 
 Na visão de Baccega (1995, p.10), “os discursos são a base na qual se 
assentam os meios de comunicação social. São vozes e pontos de vista escolhidos 
para a divulgação, que nos dão a base para nos inserirmos no mundo”. A autora 
defende a ideia de que a comunicação é uma das instituições que “levam a pensar”, 
sobretudo pela aura de conhecimento agregada à informação. 
Esse ponto de vista é reforçado por Crato (1992, p.163), para quem a notícia 
não é um reflexo puro do acontecimento, mas uma “representação comunicada ao 
público, é ao mesmo tempo objetiva e subjetiva. É objetiva, na medida em que traduz o 
acontecimento, e necessariamente subjetiva na medida em que o representa e codifica 
segundo normas sociais de comunicação”. 
Em semiótica discursiva, o conjunto dessas estratégias desenhadas pela 
imprensa na divulgação deste programa constitui o contrato de comunicação, também 
designado contrato de veridicção ou de leitura ou fiduciário. É por meio deste contrato 
que o enunciador estabelece uma relação de confiança e de credibilidade com seus 
enunciatários. De acordo com Verón op cit (FERREIRA, 2002) apud (FRANÇA, 2002, 
p. 269), a noção de contrato evidencia as condições que unem a mídia aos seus 
consumidores, por isso, o objetivo do contrato nada mais é do que a busca de 
preservação do hábito de consumo, neste caso, do consumo de um suporte de 
imprensa. 
O contrato de comunicação torna-se efetivo a partir da articulação do discurso 
cuja finalidade é informar, convencer, mas, ao mesmo tempo, precisa captar o 
interesse e a atenção do leitor, seduzi-lo a acreditar no discurso posto como 
verdadeiro. 
 Para esclarecer ainda mais os contratos de comunicação e melhor se entender 
os percursos passionais, as representações e figurativizações ou os regimes de 
visibilidade que são dados nas reportagens de capas da revista Veja, vale buscar o 
conhecimento exposto no projeto “Regimes de Visibilidade em Revistas – Análise 
multifocal dos contratos de comunicação”, realizado pelo Grupo de Pesquisa em Mídia 
Impressa da PUC/SP, coordenado pelo Prof. Dr. José Luiz Aidar Prado (2011), que 
explica que o capitalismo globalizado da modernidade tardia se ancora nos sistemas de 
comunicação para divulgar suas ofertas de produtos e serviços. A produção está a 
 26 
serviço da comunicação sistêmica. Ela atua por meio de uma racionalidade estratégica-
instrumental, contruindo pacotes discursivos tecnologizados formados por especialistas 
(ou peritos) com o fim de atingir públicos específicos. Tal racionalidade constitui 
regimes de signos (ou de sentidos) que orientam a construção semiótica dos textos, 
estabelecendo contratos de comunicação entre enunciadores e enunciatários, sejam 
espectadores, ouvintes, leitores ou internautas. 
 As modalizações ocorrem por meio dos percursos passionais, entendidos como 
meios para se fazer identificar peloafeto, pelo sensível do corpo. A grande maioria dos 
textos midiáticos produz a aproximação, via interpelação, a partir de estratégias como 
nos mapas cognitivos do sucesso e da qualidade de vida, com imagens eufóricas. A 
passionalização pode ser construída a partir de inúmeros sentimentos como o medo, a 
alegria e a esperança. O homem utiliza a estratégia simbólica para elaborar suas 
crises, seus medos, e se informa para tentar superar a sua impotência ou seu sentir-se 
impotente. Os enunciadores atuam nessa direção, de trazer informação para o sujeito 
auto-superar-se. 
Ainda tratando-se de visibilidade, Veja, como a maioria dos veículos de 
comunicação, tem espaço para as representações e figurativizações de pessoas e 
grupos sociais com os quais ela estabelece uma relação de afinidade, de identificação. 
São entendidas como figuras do Mesmo, “as séries de paisagens socioculturais e 
políticas construídas (de modo euforizado) pelas mídias e homólogas a valorização 
média de seus públicos” (PRADO, 2006, p. 4). Na figura do Mesmo há uma 
identificação, uma aproximação pelas características que levam os leitores a se 
identificar, admirar ou aprender. Isso faz o leitor sentir-se parte do grupo ou querer 
pertencer a ele. Essas são as figuras que têm destaque na mídia, não apenas em Veja. 
O objetivo do enunciador é fazer com que o leitor se interesse e, de alguma 
forma, se identifique com as cenas trazidas pelas revistas. Para isso, parte do prévio 
conhecimento sobre os gostos do seu público-alvo. No caso de Veja, o enunciador fala 
a um público de classe média que se identifica com a linha editorial da revista. Em 
alguns casos, no entanto, não há apenas identificação - a mídia vai falar do que a 
pessoa não tem e gostaria de ter, daquilo que perdeu. Vai sensibilizar pela projeção do 
poder ter um dia, do quero ser, do “se eu fosse como alguém famoso, com certeza 
minha vida seria diferente”, ou seja, na cena midiática, o leitor pode experimentar-se 
como aquele que poderia vir a ser ou que gostaria de ser. 
 27 
De toda forma, as cenas trazidas pelas revistas interferem diretamente na vida 
das pessoas, seja pela identificação/projeção, seja por pautar os assuntos que farão 
parte das discussões em determinado momento. As revistas têm a capacidade de 
informar e formar o seu público alvo. 
 
Já as representações e figurativizações do Outro são dadas para 
se falar de certos grupos sociais e suas séries de paisagens 
culturais e políticas frente às quais a mídia estabelece distâncias 
relativas e homologa o afastamento que seus públicos mantêm 
frente ao Outro, pois desse é preciso resguardar-se, marcando-o 
como exótico, ocultando-o do holofote midiático ou mesmo 
deixando-o às margens do sistema, assim ele pode ser 
assimilado, admitido ou segregado; em certos casos, ele é inscrito 
como inimigo e excluído. Na construção simbólica do Mesmo, o 
significante da vitória é sempre construído nas revistas a partir da 
apresentação de figuras de sucesso no mundo do dinheiro, 
empresários, artistas, desportistas. Raramente tornam-se visível 
nas capas do Outro, modelos de vitória e sucesso. Desta forma, 
quando o discurso midiático se refere ao Outro há uma carga de 
desvirtudes, assim a mídia procura construí-lo reduzindo-o ao 
Mesmo, ou seja, as imagens aceitas no imaginário da classe 
média; é o empresário homossexual ou o empresário de sucesso; 
a bissexual que diz ser desnecessário levantar bandeiras. Não faz 
parte da agenda a discussão sobre esses movimentos, a luta, a 
atuação coletiva; não se mostra o pobre que por esforço próprio 
conseguiu melhorar suas condições de vida e é um exemplo para 
os demais. Porque melhorou sua vida, mas continua pobre e o 
imaginário não aceita menos que rico ou milionário (PRADO, 
2009, CD). 
 
Na verdade, a mídia constrói seus valores ou mostra como se deve ocupar o 
lugar do Mesmo, do poder, do bem sucedido, protegendo o cidadão comum 
leitor/telespectador do seu próprio despreparo para enfrentar a vida. Também se 
propõe a ajudá-lo a superar a sua falta de conhecimento para tomar decisões 
importantes, para posicionar-se politicamente e para não se perder em caminhos 
inadequados para uma pessoa que quer fazer parte dessa sociedade que segue as 
regras dos que estão bem posicionados, sabem o que querem e como vão obter 
sucesso. “A mídia se constrói como farol da ordem Mesma”, diz PRADO em seu artigo 
“O Corpo do Poder” (2008), no qual analisa a campanha presidencial de Luis Inácio 
Lula da Silva X Fernando Collor e, embora a análise seja específica, os ensinamentos 
podem ser trazidos para ajudar a exemplificar como a mídia age na representação do 
Outro, no caso, Lula. Diz o enunciador de Veja: “O patrimônio da nação não pode cair 
na mão de gente despreparada, de radicais ligados a um povo inculto”. Na verdade, 
 28 
Lula-Outro marca a alteridade estabelecida na construção de oposições entre Mesmo e 
Outro, entendidos como espaços materializadores dos valores de classes médias (o 
Mesmo) e pobres (o Outro). 
Ainda de acordo com a pesquisa realizada pelo Grupo de Mídia Impressa, falar 
em regime de visibilidade de revistas implica em considerar que os enunciadores 
constroem cenários e narrativas materializados em encenações, embebidos em fortes 
percursos passionais para situar seus contratos de comunicação. Em tais regimes, 
certas figuras e temas alcançam o primeiro plano e não outros, permanecendo 
invisíveis ou em segundo plano. 
Este estudo teve ainda a fundamentação teórica ancorada nos postulados de 
Ernesto Laclau (1985) e Norman Fairclough (2001), cujo argumento é de que o 
discurso não deve ser entendido como o simples reflexo de conjuntos de textos. 
Discurso é uma categoria que une palavras e ações, tem natureza material e não 
mental e/ou ideal. Discurso é prática – daí a ideia de prática discursiva – uma vez que 
quaisquer ações empreendidas por sujeitos, identidades ou grupos sociais são ações 
significativas. O social, portanto, é um social significativo, hermenêutico. Não aparece 
como algo a ser simplesmente desvendado, desvelado, mas compreendido a partir de 
sua miríade de formas, das várias possibilidades de se alcançar múltiplas verdades, 
sempre contingentes e precárias. 
Ainda seguindo os postulados de Laclau, em termos analíticos mais precisos, 
um discurso ou uma totalidade estruturada relacional é o resultado de uma prática 
articulatória que constitui e organiza as relações sociais. A prática articulatória, por sua 
vez, consiste na articulação de elementos num sistema discursivo a partir de um ponto 
nodal – um ponto discursivo privilegiado – que fixa parcialmente os sentidos desse 
sistema (LACLAU e MOUFFE, 2004, p.154). É a partir desse ponto nodal ou palavra de 
ordem (DELEUZE e GUATTARI, 1995, p.16) que uma totalização discursiva parcial se 
constitui, criando uma visão de algo do mundo, que será abordado no capítulo de 
análise do objeto de estudos não apenas para desvendá-lo, mas para entendê-lo como 
propõe o autor. 
Também sustentarão a pesquisa os princípios que ajudam a determinar porque 
alguns assuntos, por decisão editorial, são escolhidos para ocupar a capa de uma 
revista, a manchete de um jornal ou a chamada de um telejornal. São os chamados 
agendamentos e critérios de noticiabilidade seguidos, de forma mais ou menos rígida, 
 29 
pela mídia. Nesse caso, os ensinamentos de Mauro Wolf (2006), encontrados 
especialmente em seu livro Teorias da Comunicação, serão importantes para a análise. 
As notícias publicadas não necessariamente conseguem fazer o leitor assumir o 
pensamento do enunciador, mas são eficazes em determinar o cardápio de temas 
sobre os quais o leitor poderá pensar. A mídia, nesse sentido, dita a pauta dos 
assuntos a serem discutidos, prioriza os mais importantes, os urgentes, os necessários, 
os irrelevantes, e a tendência de seu público é seguir esse agendamento. 
 
Em consequência daação dos jornais, da televisão e dos outros 
meios de informação o público sabe ou ignora, presta atenção ou 
descura, realça ou negligencia elementos específicos dos 
cenários públicos. As pessoas têm tendência para incluir ou 
excluir dos seus próprios conhecimentos aquilo que os mass 
media incluem ou excluem do seu próprio conteúdo. Além disso, o 
público tende a atribuir àquilo que esse conteúdo inclui uma 
importância que reflete de perto a ênfase atribuída pelos mass 
media aos acontecimentos, aos problemas, ás pessoas (SHAW, 
1979, p.76) (WOLF, 2006, p. 144). 
 
O jornalista tem, ainda, a tarefa de eleger, em meio a milhares de sugestões de 
matérias que surgem diariamente nas redações, quais delas serão de fato publicadas e 
se tornarão notícias. Wolf (2006, p.177 a 197) definiu seis critérios que auxiliam os 
profissionais a decidir quais acontecimentos serão notícia: proximidade, atualidade, 
identificação social, intensidade, ineditismo e identificação humana. Além disso, Rosa e 
Cunha (1999) apontam que é necessário clareza, precisão, objetividade e rapidez, cuja 
meta maior é integração entre a instituição e seu público. 
A noticiabilidade é constituída pelo conjunto de requisitos “exigidos” dos 
acontecimentos do ponto de vista da estrutura de trabalho dos veículos e dos 
jornalistas que trabalham neles e que darão corpo ou existência às notícias publicadas. 
Tudo o que não preencher esses requisitos, e que, embora sejam objetivos na 
definição de Wolf, são carregados de subjetividade, ficam fora da pauta. Os critérios 
subjetivos são determinados pela cultura de cada veículo, pela posição política 
assumida, pela sua relação com o mercado, pela classe social de seus profissionais. 
Essas características podem ter influência direta em alguns assuntos. Essa marca 
pode ser verificada nas eventuais capas ou manchetes destoantes de um dos grandes 
veículos comparado aos demais. 
 30 
Ainda, por ser o tema estudado a morte, não é possível fazer a análise sem falar 
do Real traumático, do corte provocado pela perda que não é recuperada. Todo o 
sistema leva o ser humano a viver sem pensar na morte e também na própria vida. A 
velocidade (sociedade dromocrática) em que se vive coloca as pessoas sempre em 
atraso em relação às informações, às atualizações, aos aprendizados e, por estarem 
sempre “devendo”, sem tempo, não pensam na morte e quando o fazem é sempre na 
do outro. Como vários autores já abordaram, inclusive os citados, a “espuma” midiática 
distrai o ser humano da realidade, do Real. 
Para abordar esse aspecto, serão utilizados alguns dos conceitos da psicanálise 
sob a ótica de Slavoj Žižek (2003). É preciso ter presente certos aspectos (pontos 
indeterminados) relacionados com o antagonismo social, a vida, a morte e a 
sexualidade. Na visão de Žižek, o Real não é nenhuma espécie de realidade atrás da 
realidade, mas sim o vazio que deixa a própria realidade incompleta e inconsistente: 
 
o real não é o abismo da Coisa que escapa para sempre à nossa 
apreensão e que faz com que toda a simbolização do Real seja 
parcial e inapropriada; é antes aquele obstáculo invisível, aquele 
ecrã deformador que ‘falsifica’ sempre o nosso acesso a realidade 
exterior, aquela ‘espinha na garganta’ que imprime uma vertente 
patológica a toda a simbolização, ou seja, devido ao qual toda a 
simbolização falha o seu objeto (ŽIŽEK, 2006, p. 84). 
 
É comum pensar que a psicanálise tem como pressuposto libertar as pessoas 
dos seus fantasmas, permitindo-as confrontar-se com a realidade como ela é. Nada é 
mais errado, pois de acordo como Žižek (2006), Lacan pretendia, pelo contrário, dar a 
ver como a existência cotidiana encontra-se imersa na realidade, estruturada e 
sustentada pelo fantasma (ou fantasia), sendo esta imersão perturbada pelos sintomas 
que testemunham o fato de outro nível da psique humana, reprimido, resistente a essa 
imersão. Atravessar o fantasma significa, então, paradoxalmente, identificar-se 
completamente com ele, isto é, com esse fantasma estruturador do excesso que resiste 
à plena imersão na realidade cotidiana e distinguir claramente o que é realidade do que 
é “a nossa ficção, o nosso fantasma”. “Temos de conseguir distinguir, naquilo que 
apreendemos como ficção, o núcleo sólido do Real, que só podemos enfrentar se o 
‘ficcionarmos’ (ŽIŽEK, 2003)”. Para o autor, 
 
é preciso ter a capacidade de discernir, naquilo que percebemos 
como ficção, o núcleo duro do Real que só temos condições de 
 31 
suportar se o transformarmos em ficção. (...) É necessário ter a 
capacidade de distinguir qual parte da realidade é 
‘transfuncionalizada’ pela fantasia de forma que, apesar de ser 
parte da realidade, seja percebida num modo ficcional. Muito mais 
difícil do que denunciar ou desmascarar como ficção (o que 
parece ser) a realidade é reconhecer a parte da ficção na 
realidade ‘real’ (ŽIŽEK, 2003, p. 34). 
 
1.2. Do ponto nodal à articulação discursiva nas reportagens de capa 
 
Os meios de comunicação tornaram-se referenciais de mundo, servindo de 
parâmetro de valores e de comportamentos para os indivíduos. Na atualidade, 
configuram-se como espaço e dispositivos comunicacionais privilegiados de articulação 
dos campos sociais, onde os mais variados discursos buscam visibilidade. 
Compreender as formas de articulação dos discursos sociais na e pela mídia é 
uma necessidade fundamental cuja dimensão é equiparada à importância do processo 
comunicacional na sociedade contemporânea. Por isso, para se entender a amplitude 
do conceito de discurso é preciso voltar a atenção para a relação dos mesmos com a 
ideologia e os pontos nodais a que estão intimamente ligados. 
A articulação se inscreve no interior do contrato de comunicação, levando em 
consideração a instância de produção (emissor ou enunciador), a instância de 
recepção (receptor ou enunciatário) e o produto final (a notícia). Discurso é prática – 
daí a ideia de prática discursiva – uma vez que quaisquer ações empreendidas por 
sujeitos, identidades, grupos sociais são ações significativas. O social, portanto, é 
significativo, hermenêutico. Não aparece como algo a ser simplesmente desvendado, 
desvelado, mas compreendido, a partir de sua miríade de formas, das várias 
possibilidades de se alcançar múltiplas verdades, sempre contingentes e precárias. 
No entender de Laclau (1985) “os discursos lutam por estabelecer verdades e 
por excluírem do campo da significação outros significados”. Assim, o trabalho de 
significação pressupõe três noções fundamentais: a de elemento, a de momento e a de 
prática articulatória. O texto fundador da teoria: 
 
chamaremos de articulação qualquer prática que estabeleça a 
relação entre elementos tal que suas identidades sejam 
modificadas como um resultado da prática articulatória. À 
totalidade estruturada resultante da prática articulatória, nós 
chamaremos de discurso. As posições diferenciais na medida em 
que elas aparecem articuladas dentro do discurso, nós 
chamaremos de momentos. Por contraste, nós chamaremos 
 32 
elementos qualquer diferença que não seja discursivamente 
articulada (LACLAU e MOUFFE, 1985, p. 105). 
 
Para Fairclough, qualquer prática discursiva envolve processos de produção, 
distribuição e consumo textual, e a natureza desses processos varia entre diferentes 
tipos de discurso de acordo com os fatores sociais. Esse pensamento também se 
apresenta em Greimas para quem o sentido de qualquer texto dá-se na sociedade 
através da cultura. Em outras palavras, “o texto encontra seu lugar entre os objetos 
culturais, inserido numa sociedade (de classes) e determinado por formações 
ideológicas específicas” (BARROS, 2005 p. 7). 
Ao observar a construção das reportagens é possível perceber como os textos 
são construídos a partir da articulação dos significantes ao redor do ponto nodal. Para 
Laclau (1985, p. 113), 
 
a prática da articulação, portanto, consistena construção de 
pontos nodais que parcialmente fixam significados, e o caráter 
parcial desta fixação procede da abertura do social, um resultado, 
por sua vez, do constante transbordamento de todo o discurso 
pela infinitude do campo da discursividade. 
 
Assim, a articulação discursiva é uma prática estabelecida entre elementos que, 
em um primeiro momento, não estão articulados entre si. Nesse sentido, Žižek (1991) 
identifica o ponto nodal como “elemento-Um que totaliza os outros, que os “desdobra” e 
faz com que sofram uma espécie de “transubstanciação”, começando a funcionar como 
expressão de um Princípio subjacente...”. Em outro aporte, Žižek (idem), designa o 
ponto nodal de ponto de basta ou basteamento como ponto de fechamento de um 
determinado discurso ou ideologia. “O basteamento é um ato essencialmente 
contingente pelo qual o campo ideológico-simbólico determina retroativamente suas 
“razões”, sua necessidade”. 
Ao definir o discurso como uma totalidade estruturada pela prática articulatória, 
Laclau e Mouffe (1985 p.107) reconhecem que é uma tentativa de dominar o campo da 
discursividade: “se contingência e articulação são possíveis, isto ocorre porque 
nenhuma formação discursiva é totalmente saturada e a transformação de elementos 
em momentos nunca é completa”. 
O caráter aberto do discurso implica na formação constante de novos sentidos, 
ou seja, na emergência de novos discursos. Prado (2005 p.95) comentando as teses 
 33 
de Laclau sobre esse tema, diz que “a operação de fechamento é impossível, mas ao 
mesmo tempo necessária; impossível devido ao deslocamento constitutivo que há no 
coração de qualquer arranjo estrutural, e, necessária, porque sem essa fixação fictícia 
do sentido não haveria nenhum sentido”. 
Fairclough (2001), ao analisar o discurso em relação ao poder e à ideologia, o 
situa numa perspectiva de hegemonia, na qual se entendem as relações de poder 
como lutas hegemônicas. No caso de Veja, a luta é por estabelecer de forma 
hegemônica os sentidos relacionados à construção da realidade cotidiana e é assim 
que a noção de ideologia assume formas complexas na estrutura social. É nesse 
sentido que é importante desvendar como Veja busca dominar o campo do discurso 
por meio de suas reportagens para pautar a conversa dos leitores nos seus contextos 
de convivência. 
A credibilidade emerge como um dos imperativos para o estabelecimento da 
confiança entre o enunciador de Veja e o enunciatário. É em função dessa lógica 
contratual que o enunciador, por um lado, adota as suas fontes de notícias como 
sujeitos competentes do saber em suas áreas de especialidade e, por outro, utiliza, 
quando possível, o recurso testemunhal, ou seja, o relato de personagens - vítimas 
sobreviventes - dos eventos trágicos que levaram à morte outros personagens. 
Portanto, o lugar de fala é fundamental na organização discursiva e sua relação direta 
com o plano social traz implicações como conflitos, reconhecimentos e relações de 
poder que fazem parte, em seu conjunto, da significação. No segundo capítulo, por 
meio de análise, pretende-se compreender como esses aspectos se materializam nas 
reportagens de capa. 
 34 
Capítulo 2 
 
FORMAS DE REPRESENTAÇÃO DA MORTE DO MESMO E DO OUTRO 
NO AQUI E ACOLÁ 
 
2.1. Regimes de visibilidade e afirmação de valores ideológicos em Veja 
 
A revista Veja tem representado a morte de várias formas. Por um lado, a 
diversidade em termos de construção discursiva visa a provocar efeitos de sentido de 
proximidade do leitor com o tema e o objetivo último é captar o interesse do 
enunciatário de forma a levá-lo a acreditar no discurso do enunciador da revista. Por 
outro, a diversidade tem a ver com a caracterização do Mesmo e do Outro e, também, 
da localização de ambos no aqui e acolá, ou seja, em uma localização próxima ou 
distante do leitor. 
A construção das capas, com todos os recursos discursivos, passa pela 
compreensão da lógica que guia o mercado dos veículos de comunicação. Há 
necessidade de as mesmas serem capazes de “capturar” a atenção e o interesse dos 
leitores. Essas são exigências da visibilidade, ou seja, a revista precisa ser vista e ser 
adquirida (consumida). 
De acordo com Trivinho (2007), “visibilidade midiática diz respeito a tudo o que é 
visível, que comparece na esfera pública, que é percebido pelo público e produz 
sentido capaz de ser compartilhado entre os diversos interlocutores que têm acesso à 
mídia”. Portanto, é a visibilidade midiática que possibilita o compartilhamento de 
sentido no âmbito da experiência coletiva que produz o efeito de inclusão. 
Ainda na visão de Trivinho, visibilidade midiática é, na atualidade, uma das 
estratégias fundamentais dos meios de comunicação de massa. Por meio dela marca-
se presença ou ausência de certos acontecimentos, de determinados produtos, de 
mapas de consumo, de personagens, quer individuais ou coletivos, cuja presença ou 
ausência no espaço público, em um primeiro instante, fala por si mesma e gera 
repercussões na sociedade. Na mesma linha de pensamento, Mayra Rodrigues Gomes 
(2003, p. 103) argumenta que 
 
é por conta da visibilidade que as mídias assumem um papel 
crucial como disciplina e controle, portanto, como promotoras/ 
 35 
mantenedoras de escalas de valores, como vigilante. Temos que 
pensá-las em seu duplo papel: aquele pelo qual ela expõe, a todo 
o momento, os conflitos é também aquele pelo qual ela define a 
esfera de equilíbrio em que esses conflitos se diluiriam. Enquanto 
mostra, ela disciplina pela maneira do mostrar, enquanto mostra, 
ela controla pelo próprio mostrar. É em relação à disciplina que se 
diz que se não passou pela mídia não há poder de reivindicação; 
é em relação a controle que se diz que se não passou pelas 
mídias não existe. 
 
Ao avaliar alguns procedimentos jornalísticos compreende-se como isso opera 
no cotidiano das redações. A começar pelas escolhas textuais dos assuntos retratados, 
Adriano Rodrigues afirma que os títulos da imprensa representam manifestações 
constantes do trabalho plástico da linguagem no mundo moderno. 
 
O arranjo gráfico da página do jornal associa-se, aliás, à 
disposição fonética, sintática e semântica das formas linguísticas 
para constituírem em conjunto uma manifestação particularmente 
complexa, ao mesmo tempo estética e estratégica, assegurando 
uma multiplicidade de funções comunicacionais, nomeadamente 
poéticas, fáticas, referenciais, apelativas e metalingüísticas 
(RODRIGUES, 1990, p. 108). 
 
Isso fica patente nos títulos de várias edições de Veja. Algumas palavras, 
expressões e/ou verbos são apelativos, pois convocam o leitor a um movimento, a uma 
ação, a um julgamento, a uma conclusão. 
Os títulos podem ser considerados o grande dispositivo de nomeação do mundo 
moderno, de acordo com Rodrigues, “(...) a manifestação e a significação acabam, 
assim, por servir de âncora neste trabalho generalizado da nomeação, subordinando-
lhe estrategicamente as outras dimensões discursivas”. Para o autor, entre as 
estratégias de subordinação destacam-se os processos da citação ou de relato do 
discurso de outrem identificados, muitas vezes, por marcas supra-segmentais como 
aspas (de distanciamento ou de simples sinalização), os dois pontos, os sublinhados 
ou a distinção de caracteres tipográficos. 
As estratégias de Veja na construção de suas reportagens são usadas pela 
mídia em geral. O diferencial é a forma mais ampla ou restrita utilizada para marcar o 
posicionamento do veículo em relação àquele assunto. Geralmente, posicionamento 
traz na sua composição o agendamento temático, assim como os enquadramentos e 
critérios de noticiabilidade. 
 
 36 
2.2. Agendamentos temáticos, enquadramentos e critérios de noticiabilidade 
 
A hipótese de Agenda Setting faz parte de uma corrente de estudos 
desenvolvida pelo norte-americano McCombs na década de 60 e sustenta a tese deque “os meios de comunicação de massa não dizem ao público o que pensar, mas 
dizem sobre o que pensar”, ou seja, quanto maior a ênfase da mídia sobre um tema, 
maior será o incremento da importância atribuída pelos membros da audiência aos 
temas enquanto orientadores da atenção pública. 
A teoria se constituiu em uma ferramenta de estudos das relações da mídia, 
sobretudo da televisão com o poder político, em especial na época de eleições. Apesar 
do viés político que a hipótese de Agenda Setting adquiriu inicialmente, com o passar 
do tempo, constatou-se que o fenômeno de agendamento também acontece em outros 
temas considerados importantes para a formação da opinião pública. 
As matérias jornalísticas são um meio importante para o agendamento do 
público a respeito de assuntos considerados de relevância social. É por meio delas que 
alguns temas passam a compor os principais debates na esfera pública. No caso de 
Veja, além de propor o agendamento, a revista cria um significado para os eventos, 
oferecendo certas formas de interpretação. 
Na visão de Shaw apud Wolf (2003, p. 96), a hipótese de Agenda Setting 
enfatiza os efeitos da mídia no público-alvo. Em consequência da ação dos jornais, da 
televisão e dos outros meios de informação, o público é ciente ou ignora, dá atenção ou 
descuida, enfatiza ou negligencia elementos específicos dos cenários públicos. As 
pessoas tendem a incluir ou a excluir do próprio conhecimento o que a mídia inclui ou 
exclui no seu conteúdo. Além disso, o público tende a conferir ao que ele inclui em seu 
conhecimento uma importância, que reflete de perto a ênfase atribuída pelos meios de 
comunicação de massa aos acontecimentos, aos problemas, às pessoas. 
Outra estratégia de construção do discurso jornalístico de Veja sempre presente 
é o enquadramento, ou seja, o direcionamento dado às reportagens de capa. A 
tendência por opções de determinados tipos de enquadramento das notícias pode ser 
facultada pelas narrativas jornalísticas, que são as escolhas textuais e discursivas das 
quais os jornalistas se utilizam no desenvolvimento de suas tarefas. As escolhas são 
influenciadas tanto pela formação profissional dos jornalistas quanto pela cultura 
organizacional dos veículos de informação em que trabalham. 
 37 
O enquadramento ou frame é uma das estratégias discursivas cujo início deu-se 
nos trabalhos de Goffman apud Wolf (2003) sendo definido como conjunto de 
“construções mentais que permitem aos seus utilizadores localizar, perceber, identificar 
e catalogar um número infinito de ocorrências concretas”. Considera-se, assim, que a 
vida pública é organizada por meio de frames através dos quais as pessoas percebem 
os eventos ao seu redor. 
 No entender de Porto (2004, p. 78), enquadramentos “são marcos interpretativos 
mais gerais construídos socialmente que permitem as pessoas fazer sentido dos 
eventos e das situações sociais”. Na prática jornalística, um enquadramento é 
construído por meio de procedimentos como seleção, exclusão ou ênfase de 
determinados aspectos e informações, de forma a compor perspectivas gerais pelas 
quais os acontecimentos e situações do dia são dados a conhecer. Trata-se de uma 
ideia central que organiza a realidade dentro de determinados eixos de apreciação e 
entendimento, e envolvem, entre outros recursos, o uso de expressões, estereótipos, 
sintagmas. 
Ao investigar as reportagens de capa de Veja é importante compreender 
algumas de suas características específicas. Uma delas é a disputa pelo público leitor. 
Essa disputa determina as condições de suas produções simbólicas, em virtude de a 
imprensa estar inserida em um mercado no qual a concorrência entre o que é 
produzido dentro e fora do país é grande. Outra característica é o fato de a revista 
constituir-se em espaço privilegiado de visibilidade de opiniões, de pessoas e de 
grupos diversos cujos interesses são variados. Nos espaços também circulam modelos 
de identificação que influenciam os modos de compreensão da realidade. Esses 
aspectos fazem os temas das reportagens funcionarem, muitas vezes, como agentes 
propagadores de ideias, possibilitando a articulação discursiva por meio de debate 
público de temas variados, por razões e circunstâncias diversas, como é o caso da 
morte. 
A partir da arquitetônica conceitual de discurso, entende-se o jornalismo como 
atividade cotidiana em que, por meio de seus textos, circulam discursos sociais 
vinculados a determinados ideários políticos pelo alcance tido na sociedade, pois, “a 
imprensa (a mídia em geral) não vive apenas dos episódios ocorridos num determinado 
dia, mas também da discussão, do debate e da análise de acontecimentos ou 
situações intemporais (...), e não simplesmente que aconteceram” (ROSSI, 1998, p.17). 
 Esses conceitos significam que, ao atuar privilegiadamente no cotidiano da 
 38 
sociedade, o jornalismo edita o mundo, agenda temas e entra no processo permanente 
de produção de significado em todas as suas manifestações. O jornalismo é capaz de 
concentrar e orientar a atenção do público leitor para determinados temas. 
De acordo Mauro Wolf (2009), uma das críticas à teoria de Agenda Setting, ou, 
simplesmente, teoria do agendamento, era o fato de a mesma se limitar à análise dos 
aspectos que incluiriam determinada notícia na agenda do público. A teoria do 
enquadramento complementa esses estudos ao observar como o jornalismo pauta a 
maneira da audiência refletir sobre o tema, delimitando-o, recortando-o. O autor afirma 
que com o enquadramento é possível atuar politicamente, definir problemas, 
diagnosticar causas, fazer um julgamento moral e sugerir remediações. 
Os critérios de noticiabilidade, enquanto critérios de valoração do que é 
suscetível de se tornar notícia, ajudam a desvelar os elementos que influenciaram o 
agendamento das capas. Foram consideradas situações como importância, 
oportunidade, atualidade, novidade, frequência, interesse dos leitores, interesse 
público, impacto, consequências e repercussão, controvérsias, conflitos, negatividade, 
dramatização, crise, desvio, sensacionalismo, emoção, proeminência das pessoas 
envolvidas e excentricidade, entre outros (WOLF, 2006). 
O agendamento temático é relevante na imprensa. Nas capas de Veja, percebe-
se que são privilegiadas as notícias mais recentes e importantes, também 
consideradas, por decisão editorial, as que terão maior repercussão entre os leitores. 
 Ao contrário do entusiasmo que a revista demonstra em realizações bem 
sucedidas, na abordagem política, Veja se mostra “mal humorada” (PRADO, 2006), 
mas tem nesse posicionamento um dos seus principais pilares de credibilidade, 
segundo editoriais da mesma, que se vangloriam por já ter derrubado presidente e 
ministros. Seus últimos feitos, nesse sentido, foram a queda do deputado Renan 
Calheiros (outubro de 2007) como presidente do Senado, após denúncia de desvio de 
dinheiro, feita pela revista, a queda do ministro da Agricultura, Wagner Ross (agosto de 
2011), também por desvio de recursos públicos no Ministério e, mais recentemente, o 
ministro dos Esportes, Orlando Silva (outubro de 2011), por desvios de recursos do 
Governo para ONGs. Nos três casos, Veja pautou a mídia e a política. As capas 
responsáveis pela queda Calheiros: 
 39 
 
 
 
 Outro vetor de sustentação de capas da revista é a saúde, não apenas como 
ideal de beleza, mas para se manter o corpo saudável e poder viver mais e com melhor 
qualidade de vida. As novas descobertas da medicina, seguidas por uma bem montada 
“receita” de como viver bem, também fazem parte desse imaginário ideal construído e 
proposto pela revista. 
 As temáticas mais presentes nas capas de Veja, nos seus 43 anos de 
existência, falam de riqueza, de milhões e bilhões ganhos por personalidades dos mais 
diversos mundos, além das reportagens que propõem aos leitores formas de vida que 
levam ao sucesso ou a ganhar

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