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Puericultura Lupébhia Tarlé Puericultura é a consulta periódica de uma criança feita com o propósito de avaliar seu crescimento e desenvolvimento de maneira próxima. A puericultura consiste na consulta médica periódica de uma criança onde devem estar presentes: orientações educativas, ações de promoção da saúde, ações relacionadas à prevenção de doenças e observação dos riscos e vulnerabilidades sob a qual está submetida a respectiva criança. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) consideram como adolescentes aqueles que têm de 10 a 20 anos incompletos, ou seja, entre 10 e 19 anos 11 meses e 29 dias de idade. ETAPAS DA INFÂNCIA o Recém-nascido (0 a 28 dias de vida) o Lactente (29 dias a 2 anos de idade) o Pré-escolar (2 a 7 anos de idade) o Escolar (7 a 10 anos de idade) o Adolescente (10 aos 20 anos incompletos) Além disso, é papel da puericultura observar fatores de risco e vulnerabilidades que cercam as diferentes fases do processo de crescimento e desenvolvimento da criança. CONSULTA COMPLETA: A anamnese deve ser completa, com todos os itens de uma anamnese comum, mas devendo também abordar: 1. Antecedentes pessoais da criança com informações desde a sua concepção, com ênfase nos antecedentes patológicos e alimentares, questionando acerca da gestação, nascimento e período neonatal. 2. Desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) onde é preciso colher um relato da família sobre o aparecimento de habilidades motoras, aquisição de linguagem gestual e falada, controle esfincteriano e desenvolvimento socioafetivo da criança com membros da família e amigos. 3. Antecedentes vacinais devendo além de registrar as vacinas tomadas e períodos em que foram realizadas, registrar eventos adversos (locais ou sistêmicos) caso tenham ocorrido. 4. História de formação da família, relacionamento dos pais e aceitação da criança neste processo. 5. Habitação é um ponto importante para a compreensão do profissional acerca das condições de vida e saúde da criança e sua família, de modo a conseguir compreender se existem fatores de risco para doenças respiratórias, infecto-parasitárias e dermatológicas. 6. Hábitos atuais da criança também devem ser questionados à família, abarcando seus respectivos hábitos: alimentares, intestinais, urinários, sono, higiene corporal e bucal, lazer e atividade física. Neste ponto, é relevante também questionar, quanto tempo a criança fica exposta a telas de telefone, tablets, televisão, etc. EXAME FÍSICO PESO: O peso da criança deve ser analisado em relação ao peso ideal ao nascer (baixo peso ao nascer: < 2.500g; macrossomia: > 4.000g), sendo considerado normal uma perda de até 10% ao nascer e recuperação até o 15º dia de vida. Puericultura Lupébhia Tarlé FACE: Pesquisar assimetria, malformação, deformidade ou aparência sindrômica. PELE: Observar a presença de: edema (se for generalizado: pense em doença hemolítica perinatal, iatrogenia por uso de coloides ou cristaloides em excesso, insuficiência cardíaca, sepse; se for localizado: sugere trauma de parto); palidez (sangramento, anemia, vasoconstrição periférica ou sinal de arlequim – palidez em um hemicorpo e eritema do lado oposto, por alteração vasomotora e sem repercussão clínica); cianose (se for generalizada: pense em doenças cardiorrespiratórias graves; se for localizada nas extremidades ou na região perioral, pense em hipotermia); icterícia atentar-se caso a icterícia tenha se iniciado nas primeiras 24 horas ou depois do 7º dia de vida, caso tenha > 1 semana no RN a termo, > 2 semanas no prematuro e se a tonalidade for amarela com matiz intenso ou se espalha pelo corpo, atingindo pernas e braços. Pesquise a possível presença de assaduras, pústulas (impetigo) e bolhas palmo-plantares (sífilis). Esclareça a família quanto à benignidade do eritema tóxico. CRÂNIO: Realizar exame das fontanelas: a fontanela anterior mede de 1 - 4cm, tem forma losangular, fecha-se do 9º ao 18º mês e não deve estar fechada no momento do nascimento. A fontanela posterior é triangular, mede cerca de 0,5cm e fecha-se até o segundo mês. Não devem estar túrgidas, abauladas ou deprimidas. Em caso de presença de bossa serossanguínea, a mesma desaparece espontaneamente. OLHO: Em caso de secreção purulenta é importante fazer coleta do material com swab e enviar para análise bacteriológica (importante descartar infecção por gonococo, clamídia e herpes vírus). Após a coleta deve-se iniciar imediatamente tratamento com colírio de tobramicina ou ofloxacina e, após o resultado da análise deve-se tratar de acordo com o agente etiológico. Estrabismo e nistagmo lateral são normais nos RN, pois a visão binocular só fica bem desenvolvida entre 3-7 meses. TÓRAX: Importante observar presença de assimetrias que possam sugerir malformações cardíacas, pulmonares ou óssea. Observar se há sinais de sofrimento respiratório (tiragem intercostal, estridor, retração xifoidiana, batimento de asa de nariz). Verificar os pulsos, frequência cardíaca (FC) e se há presença de sopros cardíacos. ABDOME: Como nesta fase a respiração é basicamente abdominal, deve-se realizar a contagem dos movimentos respiratórios abdominais que variam de 40-60 mrm. Observar se há presença de hérnia inguinal, a qual indica cirurgia imediatamente devido ao risco de estrangulamento/ encarceramento e, em caso de hérnia umbilical deve-se aguardar sua regressão espontânea até os 12 meses. AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA: Observe os reflexos de: sucção, preensão palmo-plantar e Moro que são atividades próprias do recém- nascido a termo, sadio. A postura de flexão generalizada e a lateralização da cabeça costumam permanecer até o final do primeiro mês. Vale ressaltar que, o tônus normal é de semiflexão generalizada. A hiperbilirrubinemia indireta costuma manifestar- se clinicamente como icterícia atingindo níveis séricos de 5mg/dL, acontecendo em até 60% dos RN a termo e até 80% dos prematuros. Na maioria das vezes trata-se de uma adaptação fisiológica do organismo ao metabolismo da bilirrubina, mas pode também significar um processo patológico levando ao quadro de encefalopatia bilirrubínica aguda. Quando fisiológica, costuma ocorrer após 24h de vida, com pico entre 3º e 4º dias e bilirrubina total (BT) de 12mg/dL porém, se houver presença de ictéricia nas primeiras 24h ou valores de BT ≥ 12mg/dL, deve-se investigar processos patológicos. Puericultura Lupébhia Tarlé DADOS ANTROPOMÉTRICOS: o Peso, o comprimento/altura, o índice de massa corpórea (IMC), o perímetro cefálico, o perímetro torácico (até os 3 anos de idade) o circunferência abdominal. As informações do peso, altura, IMC e perímetro cefálico devem ser transpostas para as curvas disponíveis na Caderneta de Saúde da Criança e as informações devem ser compartilhadas com os pais. O peso pode ser aferido por meio da balança pediátrica que deve ser utilizada para crianças de até 25 kg ou 2 anos ou até a criança poder ficar em pé, quando então poderá ser pesada na balança em pé. A medida do comprimento é realizada com a régua antropométrica com haste fixa que deve ficar na cabeça e a haste móvel é colocada logo abaixo do pé da criança, mais uma vez é fundamental o auxílio dos pais neste momento; em crianças a partir dos 2 anos é possível medir a altura da criança com estadiômetro onde a mesma em pé e cabeça retificada. Puericultura Lupébhia Tarlé O perímetro cefálico (PC) deve ser medido em todas as consultas até os 2 anos de vida. Mensuração do perímetro cefálico AUSCULTA CARDÍACA FAIXA ETÁRIA FC MÉDIA ESPECTRO DA FC RN145 bpm 90-180 bpm 6 meses 145 bpm 105-185 bpm 1 anos 132 bpm 105-170 bpm 2 anos 120 bpm 90-150 bpm 4 anos 108 bpm 72-135 bpm 6 anos 100 bpm 65-135 bpm 10 anos 90 bpm 65-130 bpm PRESSÃO ARTERIAL: Segundo o Ministério da Saúde, recomenda- se que a pressão arterial (PA) seja aferida em crianças uma primeira medida aos 3 anos de idade e segunda medida aos 6 anos, no entanto, outras referências não fazem menção a idades específicas para a medida. O manguito apropriado deve ter largura correspondente a 40% da circunferência do braço (no ponto médio entre o acrômio e olécrano). Caso não haja o manguito com nº ideal para a criança, deve-se escolher um imediatamente maior que deixe a fossa cubital livre e com cumprimento suficiente para circundar o braço da criança com o mínimo de superposição; manguitos menores podem falsear elevações na PA. A medida deve ser feita de preferência no braço direito, com a criança em repouso de 3 a 5 minutos. Os valores de PA sistólica e diastólica podem ser relacionados com o percentil da estatura da criança e o sexo da mesma em tabelas apropriadas. Tais tabelas com percentis constam com valores de idade de 1 a 17 anos (abaixo). A PA normal é inferior ao percentil 90, pré-hipertensão entre percentil 90-95 e hipertensão é definida por valores superiores ao percentil 95. Puericultura Lupébhia Tarlé REFERÊNCIAS: 1. Tratado de pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria. – 2.ed. – Barueri, SP: Manole, 2010. 2. Tratado de medicina de família e comunidade: princípios, formação e prática. Organizadores: Gustavo Gusso, José Mauro Ceratti Lopes, Lêda Chaves Dias– 2. ed. – Porto Alegre: Artmed, 2019. 2 vol. 3. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: crescimento e desenvolvimento. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. 272 p.: il. – (Cadernos de Atenção Básica, nº 33) DIAGNÓSTICOS Ao final de toda consulta de Puericultura devem ser elaborados no mínimo 6 diagnósticos (havendo outros diagnósticos estes devem ser elencados após). C Crescimento: Classificar se a estatura está adequada, baixa ou alta para a idade; E Estado nutricional: Classificar a criança como eutrófica ou distrófica (desnutrição, obesidade, deficiências ou excesso de vitaminas/minerais); V Vacinação: Se completa ou incompleta A Alimentação: Se adequada ou inadequada. Anotar alterações observadas. D Desenvolvimento: Classificar se adequado ou inadequado. Em caso de atraso, determinar se é de linguagem, motor ou socioafetivo. A Ambiente físico e emocional: Se adequado ou inadequado. Avaliar fatores de risco para doenças influenciadas pelo ambiente físico e considerar situações de proteção e/ou conflito.
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