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1 Universidade Salgado de Oliveira Curso de Direito BRUNA COUTO LELLIS BACCI JAMESDEAM VIEIRA DOS SANTOS PEDRO HENRIQUE FERNANDES DE DEUS AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA: ADMISSÃO A CELEBRAÇÃO DE ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO CÍVEL GOIÂNIA 2021 2 BRUNA COUTO LELLIS BACCI JAMESDEAM VIEIRA DOS SANTOS PEDRO HENRIQUE FERNANDES DE DEUS AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA: ADMISSÃO A CELEBRAÇÃO DE ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO CÍVEL Projeto de pesquisa apresentado à Disciplina Orientação Metodológica para Trabalho de Conclusão de Curso,visando à elaboração de artigo científico, requisito imprescindível à obtenção do grau de Bacharel em Direito pela Universidade Salgado de Oliveira. Orientador: Me. Antônia de Lourdes Batista Chaveiro Martins. GOIÂNIA 2021 3 AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA: ADMISSÃO A CELEBRAÇÃO DE ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO CÍVEL. Bruna Couto Lellis Bacci ¹ Jamesdeam Vieira Dos Santos ² Pedro Henrique Fernandes De Deus ³ ORIENTADOR: ME Antônia de Lourdes Batista Chaveiro Martins RESUMO A Lei de Improbidade Administrativa foi sancionada com o objetivo de punir o agente público desonesto. Trata-se de um regime sancionatório que visa proteger a probidade no trato com a coisa pública. Considerando-se, que a forma de de apurar uma improbidade administrativa face aos entes públicos, é através da ação civil pública. O que é improbidade administrativa ? “1. A configuração de qualquer ato de improbidade administrativa exige a presença do elemento subjetivo na conduta do agente público, pois não é admitida a responsabilidade objetiva em face do atual sistema jurídico brasileiro, principalmente considerando a gravidade das sanções contidas na Lei de Improbidade Administrativa. 2. Assim, é indispensável a presença de conduta dolosa ou culposa do agente público ao praticar o ato de improbidade administrativa, especialmente pelo tipo previsto no art. 11 da Lei 8.429/92” (STJ – EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RESP Nº 875.163 - RS (2009/0242997-0) - RELATOR: MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES - DJe 30/06/2010 – Decisão: 23/06/2010) Sendo assim o trabalho objetiva a pesquisa sobre a admissibilidade a acordo de não persecução cível em crimes de Improbidade Administrativa conforme a lei n. 13.964/19 – Lei Anticrime. A lei também conhecida como pacote anticrime trouxe uma atualização no ato de sua promulgação em dezembro de 2019, realizando mudanças substanciais na Lei de Improbidade Administrativa, a tal atualização passou a admitir o método primitivo de resolução de conflitos entre pessoas, a autocomposição, que denominou-se de “acordo de não persecução cível”. Ponto significativo levado ao questionamento central reporta-se à lacuna deixada pelo legislador quanto aos aspectos procedimentais e materiais do acordo, considerando que os dispositivos que os disciplinavam foram vetados. Para isso, o 4 trabalho demonstra que o acordo de não persecução cível, se apresenta como possibilidade viável e segura de autocomposição em matéria de improbidade administrativa. Entretanto, deve ser aplicado com cautela ante as circunstâncias do caso concreto, visto que indubitável é a preservação do interesse público, não podendo a celeridade ser um fim em si mesmo e absoluto. Palavras-chave: Improbidade Administrativa. Lei Anticrime. Autocomposição. Acordo de não persecução cível. INTRODUÇÃO A responsabilidade dos agentes públicos, principalmente dos titulados agentes políticos, no trato da res publica é assunto da ordem do dia em nosso cenário sociopolítico atual. A capacidade do Estado de assegurar e garantir o cumprimento de suas leis e ratificar normas constitucionais é questionada constantemente, haja vista a sensação de impunidade experimentada pelos cidadãos em face das ações desonestas, perpetradas por agentes públicos ímprobo. Nesse contexto, mostra-se atualíssima a frase de Machado de Assis, que diz: Há uma série de fatores, que a lei não substitui, e esses são, o estado mental da nação, os seus costumes, a sua infância constitucional. O país está sempre atrelado a polêmicas, ligando a impunidade e indiferença com relação às atitudes praticadas por seus administradores públicos. A corrupção, a falta de ética e a má gestão pública são exemplos de atitudes comuns na sociedade brasileira. A corrupção, que é apenas uma das faces da improbidade, é um fenômeno social que se desenvolve com muita rapidez no país. Esse fenômeno não é atual, mas pelo contrário, existe há muito tempo em nossa sociedade. Oferecer algo para obter vantagem em negociata onde se favorece uma pessoa e se prejudica outra dentro da administração pública, é definição clássica da palavra corrupção, derivada do latim 'corruptus' que significa “tornar pútrido”. Os atos ilícitos cadenciados na Administração Pública são atrativos em capas de jornais, e tem destaque no jornalismo Brasileiro. 5 A Lei de Improbidade Administrativa é um dos instrumentos de suma importância para o combate à corrupção, que rege sobre normas e sanções aplicáveis com o objetivo de punir maus gestores e agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito, que causem dano ao erário ou violação aos princípios que norteiam a administração pública no exercício do mandato, cargo, emprego ou função. Mesmo sendo considerada uma ação ilícita, esta não é um crime, conforme definido através da Lei nº 8.429, de 02 de junho de 1992, conhecida como "Lei da Improbidade Administrativa (LIA)", que apresenta as sanções que os agentes públicos devem ser submetidos caso estejam envolvidos em atos de improbidade. O artigo 17, §1º, da Lei 8.429/1992, em sua redação originária, vedava a celebração de qualquer espécie de transação, acordo ou conciliação em ações de improbidade administrativa, mas a partir do dia 23 de janeiro de 2020, entrou em vigor o Pacote Anticrime com o reconhecimento da força dos instrumentos de autocomposição. Desta forma, a possibilidade da realização de acordos em matéria de improbidade administrativa, que por longo tempo foi fato controverso, foi alterada pela Lei Anticrime (Lei nº 13.964/2019), que revogou o artigo supracitado e inseriu a autorização à celebração do que denominou “acordo de não persecução cível”. A proposta definida para o estudo busca trazer a breve compreensão da Lei Anticrime, alteração promovida na Lei de Improbidade Administrativa, a compreensão da mudança de paradigma sobre a vedação da autocomposição na lei de improbidade administrativa, que corroborou para o reconhecimento da revogação tácita da vedação à autocomposição até o seu reconhecimento normativo. 1 O CONCEITO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA Conforme preceitua Marcelo Figueiredo, improbidade vem do latim improbitate, que significa desonestidade. Entende ele que a probidade é espécie do gênero “moralidade administrativa”, a que alude o art. 37, caput e seu § 4º, da Constituição Federal 4 : “A Administração Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:§ 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade de bens e ressarcimento ao erário, na forma e na gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.” Probidade administrativa é uma forma de moralidade administrativa que mereceu consideração especial da CRFB, que pune o ímprobo com a suspensão de direitos políticos, assimdescreve José Afonso da Silva e Segundo ele: 6 “possuindo natureza civil e devidamente tipificados em lei federal, ferem direta ou indiretamente os princípios constitucionais e legais da administração pública, independentemente de importarem enriquecimento ilícito ou decausarem prejuízo material ao erário.” Assim, é correto definir quais são os princípios tipificados na CRFB como normas constitucionais e legais que, se lesados, importam em improbidade administrativa. Parece-nos que o único princípio que rege a probidade é o da moralidade. Todavia, não é o único, podendo-se dizer que a probidade absorve a moralidade. Improbidade é, em verdade, um conceito negativo. É a ausência de probidade, palavra que deriva do vocábulo latino probitas, que significa retidão, honradez, honestidade, integridade de caráter. Ímprobo é, portanto, o comportamento desprovido destas qualidades. Quando um comportamento ímprobo agride a Administração Pública, tem-se caracterizada a improbidade administrativa No plano infraconstitucional, a Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, define o procedimento da Ação Civil por Atos de Improbidade Administrativa, instrumento para a persecução de ilícitos deste jaez, bem como minudencia a gradação das sanções aplicáveis, em cumprimento ao comando constitucional. Um dos focos da improbidade são os atos, as condutas. Os atos de improbidade administrativa encontram-se tipificados em três tipos: atos que causam enriquecimento ilícito (art. 9º da Lei 8.429/92), atos que causam prejuízo ao erário (art. 10); e atos que atentam contra os princípios da administração pública (art. 11). 2 PRINCÍPIOS QUE REGEM A PROBIDADE 2.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE Importante para a verificação da improbidade, o princípio da legalidade é a diretriz da conduta dos agentes da Administração Pública. Emerson Garcia diz que: não obstante o extenso rol de princípios, expressos e implícitos, que norteiam a administração pública, os princípios da legalidade e da moralidade são os que merecem maior realce. Hely Lopes Meirelles completa, dizendo que: “Além de atender à legalidade, o ato do administrador público deve conforma- se com a moralidade e a finalidade administrativas para dar plena legitimidade à sua atuação. Administração legítima só é aquela que se reveste de legalidade e probidade administrativas, no sentido de que tanto atende às exigências da lei como os preceitos da instituição pública . 7 2.2 PRINCÍPIO DA MORALIDADE Sendo a base para a aferição da probidade o princípio da moralidade, ele não so rege como impõe ao administrador o respeito a preceitos éticos obrigatórios na conduta. Diogo de Figueiredo Moreira Neto explica que: “a moralidade administrativa enquadra-se em um sistema de moral fechada, própria da Administração Pública, que exige de seus agentes absoluta fidelidade à produção de resultados que sejam adequados a satisfação dos interesse públicos, assim por lei caracterizados e a ela cometido." Hely Lopes Meirelles explica: “A moralidade administrativa constitui, hoje em dia, pressuposto de validade de todo ato da Administração Pública (CF, art. 37, caput). Não se trata – diz Hauriou, o sistematizador de tal conceito – de moral comum, mas sim de uma moral jurídica, entendida como ‘o conjunto de regras de conduta tiradas da disciplina interior da Administração’. Desenvolvendo sua doutrina, explica o mesmo autor que o agente administrativo, como ser humano dotado de capacidade de atuar, deve, necessariamente, distinguir o Bem do Mal, o honesto do desonesto. E, ao atuar, não poderá desprezar o elemento ético de sua conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, mas também entre o honesto e o desonesto." Resumindo a dizer que, a falta da moralidade afeta diversas atividades da Administração publica e importa em improbidade administrativa. 2.3. PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE José dos Santos Carvalho Filho diz : “a igualdade de tratamento que a Administração deve dispensar aos administrados que se encontrem em idêntica situação jurídica. Nesse ponto representa uma faceta do princípio da isonomia. Por outro lado, para que haja verdadeira impessoalidade, deve a Administração voltar-se exclusivamente para o interesse público, e não o privado, vedando-se, em consequência, sejam favorecidos alguns indivíduos em detrimento de outros e prejudicados alguns para favorecimento de outros. Aqui reflete a aplicação do princípio da finalidade, sempre estampado na obra dos tratadistas da matéria, segundo o qual o alvo a ser alcançado pela Administração é somente o interesse público, e não se alcança o interesse público se for perseguido o interesse particular, porquanto haverá nesse caso sempre uma atuação discriminatória." Emerson Garcia acredita que este princípio deve ser entendido em uma dupla perspectiva, pois entende ele que, que o autor dos atos estatais é o órgão ou a entidade, e não a pessoa do agente (acepção ativa), ja em outro sentindo acredita ter deve ser concebido sob a ótica de que 8 os atos praticados devem gerar os mesmos efeitos e atingir a todos os administrados. 2.4. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE Publicidade é a divulgação oficial do ato para conhecimento público e início de seus efeitos externos, este principio notório da Administração Pública tem por finalidade mostrar ao Poder Público o deve agir com o máximo de transparência possível, para o conhecimento de todos da população, sendo claro com as suas atuações e decisões, salvo os casos previstos na própria Constituição Federal. Devendo ser respeitado por todos os entes da administração pública, direta ou indireta, de qualquer dos poderes e de todas as esferas da Federação, podendo ser reclamado através do direito de petição (art. 5º, XXXIV, “a”, CF) e direito às certidões (art. 5º, XXXIV, “b”, CF). 2.5. PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA É o mais recente dos princípios constitucionais da Administração Pública, vindo de a Emenda Constitucional nº 19, de 1998, quando se diz em eficiência, resumimos a administração com base em efetividade, economicidade, transparência e moralidade, cumprindo sempre metas pré estabelecidas. Celso Antônio Bandeira de Melo nos diz : "Quanto ao princípio da eficiência, não há nada a dizer sobre ele. Trata- se, evidentemente, de algo mais do que desejável. Contudo, é juridicamente tão fluido e de tão difícil controle ao lume do Direito, que mais parece um simples adorno agregado ao art. 37 ou o extravasamento de uma aspiração dos que burilam no texto. De toda sorte, o fato é que tal princípio não pode ser concebido (entre nós nunca é demais fazer ressalvas obvias) senão na intimidade do princípio da legalidade, pois jamais suma suposta busca de eficiência justificaria postergação daquele que é o dever administrativo por excelência. Finalmente, anote-se que este princípio da eficiência é uma faceta de um princípio mais amplo já superiormente tratado, de há muito, no Direito italiano: o princípio da ‘boa administração’". [7] 3 DOS SUJEITOS DOS ATOS DE IMPROBIDADE 3.1 SUJEITO PASSIVO O sujeito passivo da ação de improbidade administrativa estará sempre ligado a administração pública direta e indireta, desde que componha qualquer um dos entes 9 federados, quais sejam, a união, os estados, o Distrito Federal e os Municípios. Sendo assim toda e qualquer forma de lesão ao erário resguarda-se por este instituto, seja lesão de maneira direta ou indireta, praticada em face da administração direta e indireta, ampliando, de forma a englobar todo e qualquer bem ou recurso envolvendo o erário. Desta forma, revela o artigo 1º, § único da lei 8.429 de 02 de junho de 1992. Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou não, contra aadministração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na forma desta lei, Desta forma, revela o artigo 1º, § único da lei 8.429 de 02 de junho de 1992. Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades desta lei os atos de improbidade praticados contra o patrimônio de entidade que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem como daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes casos, a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos. (BRASIL, Vade Mecum, 2010,p. 1.477) 3 .2 SUJEITO ATIVO Já o sujeito ativo, que segue sobre investigação de improbidade, é o agente público, conceituado no art. 327 do Código Penal, que diz em seu caput, “Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.” (BRASIL, Vade Mecum, 2010, p.576) O rol é abrangido em seu parágrafo primeiro, considerando equiparado ao funcionário público: § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. (BRASIL, Vade Mecum, 2010, p.576). 4 A LEI ANTICRIME A Lei Anticrime (n. 13.964/2019) foi promulgada em dezembro de 2019, e entrou em vigor em 23 de janeiro de 2020, fazendo com que tivéssemos mudanças significativas alterando a legislação penal e processual penal, com um único objetivo 10 de dar mais punição a corrupção, ao crime organizado e ao crime violento. Não obstante, no âmbito do direito administrativo sancionador, realizou mudanças substanciais na LIA, ao autorizar expressamente a possibilidade da autocomposição na forma da nova redação do §1º do artigo 17 da Lei n. 8.429/1992, do que denominou “acordo de não persecução cível” (ANPC), à semelhança do que já ocorre no processo penal. Com a Lei Anticrime, o acordo de não persecução cível é uma possibilidade de punição eficaz e célere, mas com o diferencial de ostentar o caráter consensual, seguindo a mesma premissa aplicada na seara criminal para delitos de diversas potencialidades 4.1. A ALTERAÇÃO PROMOVIDA PELA LEI ANTICRIME NA LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA: A AUTORIZAÇÃO À AUTOCOMPOSIÇÃO A protagonista principal nesse cenário é a LIA, concebida como principal instrumento garantindo o interesse público, aperfeiçoando a tutela do patrimônio público, notadamente na esfera administrativa e política, com intuito de coibir a impunidade dos agentes ímprobos, com a implantação de formas eficazes de proteção da moralidade administrativa. Artigo 17, § 1º, da LIA acontecia em decorrência da imposição existente na esfera penal, que afastava qualquer possibilidade de celebração convencional. Conseguinte, a possibilidade da realização de acordos nas ações de improbidade administrativa, que por longo tempo foi vedada pelo artigo 17, §1º foi modificada pela Lei Anticrime, que inseriu a autorização à autocomposição e denominou de “acordo de não persecução cível”, revogando, por fim, o antigo instituto. Pode-se dizer que a Lei n. 13.964/2019 concretizou, de uma vez por todas, o princípio da consensualidade punitiva no Direito Brasileiro. Com a Lei Anticrime, o acordo de não persecução cível surge como mais uma possibilidade de punição, mas com o diferencial de ostentar o caráter consensual, seguindo a mesma premissa aplicada na seara criminal para delitos de diversas potencialidades. 5 ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO CÍVEL Após a contextualização histórica da evolução da consensualidade no âmbito da 11 Administração Pública, realizada no capítulo anterior, observa-se que a legislação brasileira possui um microssistema jurídico composto por uma série de normas jurídicas difusas e esparsas que sofreram alterações consideráveis em busca de um funcionamento harmônico e eficiente. Entre as mais diversas alterações, a LIA com o advento da Lei Anticrime, passou a admitir no bojo dos procedimentos administrativos e judiciais transações ou acordos, através do denominado “acordo de não persecução cível”, com notória concretização do princípio da consensualidade punitiva. A modificação que era aguardada há certo tempo por parte da doutrina e bem-vinda ao cenário atual, seja de reflexão e comprometimento para aplicação condizente com a importância deliberada no cenário da probidade administrativa, haja vista que através da autorização à celebração do denominado “acordo de não persecução cível”, a possibilidade de realização de acordos em matéria de improbidade administrativa tornou-se reconhecidamente viável, pela modificação do dispositivo de lei. André Cavalcante, com base na análise e integração de todas as normas do sistema brasileiro anticorrupção, conclui: A celebração do acordo por parte da pessoa jurídica lesada pressupõe procedimento administrativo formal, que poderá ser para investigar/punir ou especifico para resolução consensual, suspendendo a prescrição e retroagindo à data da formalização da resolução consensual; No caso de tratativa para acordo extrajudicial entre a pessoa jurídica de natureza pública lesada pelo ato de improbidade e seu autor/responsável, deve garantir a participação obrigatória do Ministério Público em toda o contexto da negociação; Ultimado o acordo extrajudicial, o mesmo terá eficácia título executivo extrajudicial, dispensando a homologação judicial; No caso de acordo a ser celebrado pelo Ministério Público no bojo de procedimento formal (notícia de fato, inquérito civil público etc), deve-se utilizar a sistemática do TAC [...]. Ou seja, quando o acordo for feito para evitar o ajuizamento da respectiva ação de improbidade, não há qualquer necessidade de homologação pelo Poder Judiciário, seguindo o mesmo trâmite do TAC, ou seja, a homologação pelo CSMP. 5.1 A CONSTITUCIONALIDADE DO ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO CÍVEL Em analise do artigo 37, §4º da CRFB, no qual diz que: “os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível” Seguimos a linha de que não há qualquer tipo de vedação ao acordo punitivo no texto constitucional em vigor, delegando claramente ao legislador escolher a forma e o modo de punição, sendo, o consenso uma opção valida e viável. A regra com grau de importância é aquela que autoriza a celebração do ANPC visando 12 uma representação que seja vantajosa- não somente econômica - para o desfecho da ação, como estatui o art. 2º da a resolução 1.193/20 - CPJ, que editou o Colégio dos Procuradores de Justiça de São Paulo, por seu Órgão Especial: "Constitui pressuposto do acordo em matéria de improbidade administrativa a verificação de que este meio é mais vantajoso ao interesse público do que o ajuizamento da ação civil por ato de improbidade administrativa ou seu prosseguimento, levando-se em consideração, dentre outros fatores, a possibilidade de duração razoável do processo, a efetividade das sanções aplicáveis e a maior abrangência de responsabilização de agentes públicos, de terceiros envolvidos no ilícito ou que dele tenham auferido vantagem indevida de qualquer natureza" Sendo assim, o art. 5º, inciso V obrigao acordante a assumir sua responsabilidade pelos atos ilícitos praticados ate então e deverá constar descrito no ANP, obrigações certas e líquidas (art. 1º, § 4º) pois deverão ser exigidas em caso de não cumprimento justificado pelo acordante, seja total ou parcial (art. 5º, § 4º). 5.2 LEGITIMIDADE PARA CELEBRAÇÃO Em observância ao artigo 17, §1°, em sua nova redação, dispõe que “as ações de que trata este artigo admitem a celebração de acordo de não persecução cível, nos termos desta Lei”. Porém na Lei Anticrime no artigo 17-A da Lei 8.429/1992 (LIA), houve um veto pelo Presidente da Republica. Esse vetou gerou preocupação, pois a norma que por ora vigorava vetada a exclusividade ao MP para a celebração do acordo, por fim gerou uma incógnita em lógica com o artigo 17, caput, da LIA, que se mantém inalterado prevendo então legitimidade tanto para o MP quanto para pessoas jurídicas interessadas ajuizarem ação de improbidade administrativa. Em preocupação com a vetação, o CNMP pode regulamentar a tal matéria, em nível nacional, sendo feito as edições de normas a serem complementadas pelos Ministérios Públicos dos Estados e da União. Sendo assim, por ora entendemos que, também, a própria Administração Pública poderá definir procedimentos e matérias sendo observados sempre por seus entes na celebração dos acordos de não persecução cível. 5.6 A LIMITAÇÃO DAS SANÇÕES NO ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO CÍVEL 13 A doutrina deixa lacunas que levam a questionamentos ainda não resolvidas, pondera-se questionar, se haveria a existência de critérios para a celebração no que concerne ao menor potencial ofensivo no acordo versus o cabimento irrestrito do TAC. Podemos levar em conta tal questionamento com base no estudo que o Conselho da Moralidade Administrativa do Ministério Público de Santa Catarina realizou, este anterior à promulgação da Lei Anticrime, concluindo: A Resolução CNMP 179/2017 e o Ato PGJ 395/2018 não vinculam de forma explícita o cabimento do TAC à reduzida gravidade do ato ímprobo. Dentre os atos regulamentares estaduais pesquisados, apenas o ato produzido no Estado do Paraná associa ao TAC ao conceito de ato de “menor potencial ofensivo”, conquanto praticamente todos os outros atos estaduais condicionem a assinatura do termo à avaliação quanto à “gravidade” ou a “repercussão” do ato, o que de certa forma restringe o cabimento do TAC. [...]sobre a defesa do cabimento do TAC em face da improbidade “bagatelar”, nos artigos pesquisados, os defensores da tese relacionam a resolução do conflito na fase pré-processual como antídoto necessário à morosidade característica das demandas deduzidas perante o Poder Judiciário [...]Para os atos ímprobos graves, restaria a ação punitiva da Lei 8.429/92. CONCLUSÃO Este trabalho de conclusão de curso objetivou a verificação de autocomposição em crimes de improbidade administrativa, denominado de “acordo de não persecução cível”, as matérias em que divergem sobre a possibilidade de acordos em crimes de improbidade administrativa estariam em sua completude, sanadas. Para estruturação do trabalho em conclusão foram abordados métricas influenciadores da Lei Anticrime na Lei de Improbidade Administrativa e reconhecimento legislativo da possibilidade de autocomposição nesta matéria, tão almejada e desejada por doutrinadores e aplicadores do fato em si. No sentindo de uma compreensão melhor foi feito um alinhamento dos vetos realizados no projeto de lei, que trouxeram controvérsias e deixou um ponto de interrogação quanto a atuação do Ministério Público, deixando lacunas no que tange à aplicação do Acordo de Não Persecução Cível e a legislação que modificou o dispositivo de lei, possibilitando a concretização da autocomposição em matéria de improbidade administrativa Em meio a um judiciário sobrecarregado, as ações que tramitam em possibilidade de ANPC promove uma celeridade processual, obedecendo princípios norteadores, como razoabilidade, eficiência, legalidade e proporcionalidade das sanções que podem caminhar para uma recusa de homologação. Concluindo-se, que, ANPC ta consolidado jurisdicionalmente que a matéria primitiva de autocomposição, ainda é eficaz, segura e célere. 14 Aponta-se por fim que não houve esgotamento da matéria controvertida, apenas enfase para abordagem a temas de maiores destaque. Sendo indicado a continuidade de estudos e pesquisas a respeito de novos estudos doutrinários e jurisprudenciais da matéria. REFERÊNCIAS ANJOS NETO, Francisco Chaves dos. Princípio da probidade administrativa: regime igualitário no julgamento dos agentes políticos. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. 238 p. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: Informação e documentação – referências – elaboração. Rio de Janeiro: 2002. 24 p. BRASIL. Ministério Público Federal. Acordo de não persecução cível e penal. Núcleo de combate à corrupção. 2020 BERTONCINI, Mateus. Crise da Jurisdição e a Resolução n. 179/2017 do Conselho Nacional do Ministério Público: é possível o ajustamento de conduta em matéria de improbidade administrativa? Revista Sequência online. n.79. Florianópolis BITENCOURT NETO, Eurico. Improbidade administrativa e violação de princípios. Belo Horizonte: Del Rey. 2005. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: [s. n.], 1988. 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Centro de Apoio Operacional da Defesa do Patrimônio Público e da Moralidade Administrativa. Apoio Operacional da Defesa do Patrimônio Público e da Moralidade Administrativa. FÁZZIO JÚNIOR, Waldo. Improbidade administrativa. 3. ed. São Paulo: Atlas S.A., 2015. MORAES, Alexandre de. direito Constitucional administrativo. 4. Ed. São Paulo: Atlas, 2007. MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. sociedade, estado e administração. Rio de Janeiro: Topbooks, 1995. 169 p. MP CONECTA. Acordo de Não Persecução Cível na Área da moralidade Administrativa. Florianópolis: MP CONECTA – Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional Do Ministério Publico De Santa Catarina, 2020. NEVES, Daniel Amorim Assumpção; OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. manual de Improbidade Administrativa. 4 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016 OSÓRIO, Fabio Medina. Teoria da Improbidade Administrativa: má gestão: corrupção: ineficiência. São Paulo: Editora Revista dos tribunais. 2007. PERNAMBUCO. Ministério Público. Resolução no 01/2020. Regulamenta o §2o do art. 39 da Resolução CSMP no 003/2019, que dispõe sobre a possibilidade de realizar Acordo de Não Persecução Cível nas hipóteses configuradoras de improbidade administrativa e estabelece parâmetros procedimentaise materiais serem observados para a celebração, nos termos das Leis no 7.347/1985, 8.429/1992, 12.850/2013 e 13.964/2019, no âmbito do Ministério Público do Estado de Pernambuco. p. 08 SANTOS, Carlos Frederico Brito dos. Improbidade Administrativa: reflexões sobre a lei n. 8.429/92. 2. ed. rev., ampl. e com jurisprudência. Rio de Janeiro: Forense, 2007. 16 SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional positivo. 22ª ed.. São Paulo: Editora Malheiros, 2003. 878 p.
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