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FAVENI FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE DIREITO ADMINISTRATIVO NILCILENE SOARES IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA: BREVE ANÁLISE DA LEI 8.429/92 SÃO JOSÉ/SC 2021 IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA: BREVE ANÁLISE DA LEI 8.429/92 Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso . Declaro também que o mesmo foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por mim realizadas para fins de produção deste trabalho. Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de violação aos direitos autorais. “Deixar este texto no trabalho conforme se apresenta, fonte e cor vermelha”. RESUMO- A corrupção sistêmica e histórica entranhado nos órgãos da administração pública, entendida como atos de gestores e agentes como ações ímprobas onde se prevaleça do cargo para obter vantagens, enriquecer ilicitamente ou lesar o erário, pautou a criação da Lei nº 8.429 de 1992, conhecida por Lei da Improbidade Administrativa. Sendo assim, o presente artigo tem como objetivo realizar uma breve análise acerca da Lei n° 8.429/92, bem como sobre alguns aspectos da possível banalização de ações de improbidade administrativa. Para tanto, esse estudo se vale de uma revisão bibliográfica da literatura, com uma abordagem qualitativa para análise dos dados. Conclui-se que a lei da improbidade administrativa é um relevante instrumento de controle judicial da Administração Pública. PALAVRAS-CHAVE: Lei n° 8.429/92. Improbidade Administrativa. Legislação aplicável. Banalização. INTRODUÇÃO O assunto, pertinente ao combate a improbidade administrativa, é sempre atual e discutido em meios acadêmicos, jurídicos e também no seio da sociedade civil, devido aos constantes delitos cometidos pelos agentes da administração pública. Tenta-se, continuamente, moralizar as ações e atos da administração pública e, com isso combater a corrupção que se estabelece a partir dos atos desprovido de integridade e honestidade, cometidos pelos agentes públicos. A lei n° 8.429/92 - da Improbidade Administrativa (BRASIL, 1992), aprovada em 2 de junho de 1992, foi criada com a finalidade de combater a conduta ímproba. A importância dessa lei se dá, justamente por prover sanções capazes de punir os atores e administradores públicos, quando esses, de forma ilícita, enriqueceram durante o exercício de mandato, cargo, emprego ou função na Administração pública, direta, indireta ou fundacional. Sendo assim, esse estudo elegeu a seguinte problemática: A lei da improbidade administrativa é suficiente para coibir os crimes cometidos pelos agentes públicos, contra o patrimônio do Estado? Para dar conta de responder a pergunta problema, esse estudo elaborou o seguinte objetivo: Realizar uma breve análise sobre a importância da Lei 8.429/92 enquanto instrumento legal capaz de coibir ou punir os ilícitos contra à administração pública. A Lei 8.429/92 já suscitou dúvidas sobre a sua eficiência no combate à corrupção dentro da administração pública (BRASIL, 1992). Uma das divergências em relação à referida lei, seria a possibilidade de banalização. Ou seja, os gestores que, comprovadamente possam ter agido de boa-fé, mas foram maus administradores e, também, de agentes probos, portadores de pareceres técnicos, elaborados por órgãos competentes que responderam por esse tipo de ação, poderiam ser punidos ou não com base nessa lei. Assim, há que se examinar essa lei, à luz da Constituição Federal (BRASIL, 1988) e seus princípios da razoabilidade, da idoneidade, considerando que a pena deverá ser sempre proporcional, adequada e necessária ao mal causado pelo agente e aos fins objetivados pelo direito penal brasileiro. Devido aos constantes casos de corrupção, tanto ativos, quanto passivos, cometidos pelos agentes envolvidos na administração pública, a Lei 8.429/1992, também conhecida como Lei de Improbidade Administrativa, vem sendo discutida na doutrina e jurisprudência, bem como sua aplicação pelo Poder Judiciário brasileiro. Sendo assim, esse estudo se justifica pela importância de se ter, cada vez mais, pesquisas que envolvem o tema, além da relevância que esse tipo de estudo possui para comunidade acadêmica, profissionais operadores do direito e sociedade em geral. 1 A PROBIDADE E A IMPROBIDADE ADMINSTRATIVA NO DIREITO BRASILEIRO: CONCEITOS A doutrina diverge quanto ao sentido de probidade e moralidade. A probidade pode ser entendida como sendo um subprincípio da moralidade e também pode assumir um conceito mais amplo, ou seja, o administrador público tem o dever ético, moral e probo, no zelo com o bem público (CARVALHO, 2017; PORTO; EBERHARD, 2019). Já a noção de improbidade não se confunde com a de imoralidade, sendo esta uma espécie daquela e sempre ligada aos atos antiéticos (AGUIAR, 2016). A definição de ímprobo exprime o sentido de mau, perverso, corrupto, desonesto e unir ao tal conceito com significado de imoralidade Marques (2018), leciona que a improbidade revela uma ação eivada de má qualidade e malícia, podendo, também, ser imoral. No conceito intuitivo e popular, Rodrigues (2016, p. 13) diz que “a alusão mais comum seria relacionar este instituto jurídico à ideia de corrupção, de alguém desonesto”. No mesmo sentido, Silva (2010, Apud SILVA NETO, 2016, p. 17), afirma que: “o ímprobo administrativo é o devasso da Administração Pública”. Essas atitudes erradas, no trato da coisa pública e pautadas por uma conduta imoral, pode ser explicada assim: O agente ímprobo sempre se qualificará como violador do princípio da moralidade, contudo, nem todo ato de improbidade tipificado em lei corresponde a violação ao princípio da moralidade (CARVALHO, 2017, p. 960). A improbidade administrativa tem base na Constituição Federativa do Brasil de 1988 que trouxe, expressamenteno caput do art. 37, os princípios constitucionais regentes da Administração Pública. Quais sejam, impessoalidade, moralidade, publicidade, legalidade (BRASIL, 1988) e, 10 anos depois, com o a aprovação da Emenda constitucional n.º 19/98, o princípio da eficiência, com a reforma administrativa (BRASIL, 1998). No entendimento de Carvalho (2017, p. 959) “esse dispositivo constitucional enumera algumas sanções a serem aplicadas pela prática de ato de improbidade”, como será visto ao longo deste estudo. Contudo, trata-se de um rol meramente exemplificativo, e que encontra respaldo no entendimento majoritário da doutrina, o que não esgota as sanções a serem aplicadas como punição do crime de improbidade administrativa. Por fim, vale lembrar que a improbidade não é uma perversão que afeta somente o setor público. Atos de corrupção, deslealdade e desonestidade abrangem também o setor privado, seja no campo civil, comercial ou trabalhista. De acordo com os ensinamentos de Simão Neto (2011) um exemplo disso está na preocupação com a corrupção no setor privado, pois, o artigo 482, da Consolidação das Leis do Trabalho, prevê o ato de improbidade como uma das condutas que podem provocar a demissão por justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo patrão. 1.1 Os regimes jurídicos punitivos contra agentes públicos, anteriores a lei de improbidade O poder de um Estado Constitucional Democrático de Direito deve ser delimitado por uma lei superior, fruto da vontade popular, isso ocorre em todos os regimes que se pretendem democráticos. Esta lei máxima, qual seja percebida como sendo a Constituição Federal de um país deve ser compreendida como um código normativo composto por princípios, implícitos e explícitos, e preceitos jurídicos. Dentre essas normas está a regulamentação da administração pública (CONPEDI, 2015). Esta lei máxima, qual seja percebida como sendo a Constituição Federal de um país, deve ser compreendida como um código normativo composto por princípios, implícitos e explícitos, e preceitos jurídicos. Dentre essas normas está a regulamentação da administração pública. Administração essa que, “mesmo no exercício do seu poder discricionário, têm que estar de acordo com seus princípios reguladores, sejam expressos ou implícitos, e demais normas jurídicas deles decorrentes” (MARQUES, 2018, p. 3). A Constituição Federal de 1937, alcunhada de “A Polaca”, por ter sido inspirada na Constituição da Polônia, diferenciou a moralidade administrativa e a integridade do erário, definiu a punição dos crimes de responsabilidade contra a probidade administrativa (PORTO; EBERHARD, 2019). No entanto, foi a Constituição Federal de 1824 o importante marco inicial para o controle do ato administrativo via judicial. Essa Constituição previu a possibilidade de ressarcimento ao erário, em caso de atos ímprobos e de desvios cometidos no exercício da administração pública (SÁ, 2020). Contudo, os maiores avanços acerca do tema vieram com a Constituição Federal de 1946. Esse Diploma Maior previu art. 141, § 31, que fosse elaborada uma lei infraconstitucional com o propósito de combater a corrupção: “A lei disporá o sequestro e o perdimento de bens, no caso de enriquecimento ilícito, por influência ou abuso do cargo ou função pública, ou emprego em entidade autárquica” (BRASIL, 1946). Onze anos após a promulgação do texto constitucional essas medidas foram efetivamente regulamentadas através da Lei nº 3.164/57: Art. 1º São sujeitos a sequestro e à sua perda em favor da Fazenda Pública os bens adquiridos pelo servidor público, por influência ou abuso de cargo ou função pública, ou de emprego em entidade autárquica, sem prejuízo da responsabilidade criminal em que tenha aquele incorrido (BRASIL, 1957). Apenas um ano depois, a regulamentação das sanções aos dolo ao erário continuaram com a Lei nº 3.502/58, conhecida como Lei Bilac Pinto, que tratou do sequestro e perdimento de bens: Art. 1º O servidor público, ou o dirigente, ou o empregado de autarquia que, por influência ou abuso de cargo ou função, se beneficiar de enriquecimento ilícito ficará sujeito ao sequestro e perda dos respectivos bens ou valores (BRASIL, 1958). Importa lembrar que, até a aprovação da Lei 8.429/92, as Leis 3.164/57 e 3.502/58 continuaram em vigor, sendo expressamente revogadas pelo art. 25 da nova lei. Mais tarde, a Carta Constitucional de 1967 recebeu a Emenda Constitucional n.º 01/69, que ampliou na o espectro da incipiente tutela administrativa, aludindo à Administração direta e indireta: Art. 153 [...] § 11. Não haverá pena de morte, de prisão perpétua, de banimento, ou confisco, salvo nos casos de guerra externa, psicológica adversa, ou revolucionária ou subversiva, nos termos que a lei determinar. Esta disporá, também, sobre o perdimento de bens por danos causados ao erário, ou no caso de enriquecimento ilícito no exercício do cargo, função ou emprego na Administração Pública, direta ou indireta (BRASIL, 1969). Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, o principal símbolo do processo de redemocratização nacional e apelidada de “Constituição Cidadã”, a improbidade administrativa surgiu como um modelo vinculado ao direito administrativo possuindo como centro o princípio da moralidade (SÁ, 2020). O art. 37, § 4º elencou as sanções em caso da prática de atos enumerados como ímprobos: Art. 37. [...] § 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível (BRASIL, 1988). Essa norma objetivou atender aos anseios da sociedade como forma de combate à corrupção, bem como aos eventuais abusos praticados pelos agentes públicos e preservar a probidade administrativa (CALIXTO, 2010). Com essa revisão normativa, passa-se, enfim, à análise da Lei de Improbidade Administrativa. 2 A LEI 8.429/1992: LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA Os danos que a corrupçãoe a gravidade que os atos ímprobos causam à sociedade, suscitou a necessidade de uma lei específica para tratar de tais atos (CALIXTO, 2010). Antes do exame da lei, propriamente dita, importa entender a diferença entre corrupção e improbidade administrativa. Entende-se como corrupção como sendo “é o uso indevido das atribuições públicas para obter benefícios privados” (SOARES; PEREIRA, 2015, p. 3). A corrupção é um fenômeno atemporal que afeta toda a sociedade, entretanto, os seus efeitos atingem de forma mais direta a população de baixa renda, que depende dos recursos e investimentos do Estado. Os desvios de verbas, que advém dos atos corruptivos, prejudicam o acesso à saúde, à educação, à moradia popular e ao transporte público, por exemplo, justamente os serviços e programas de governo, dos quais as classes socioeconômicas desfavorecidas dependem para a sua sobrevivência (COSTA, 2006; SILVA; MARCANTÔNIO, 2014). A Lei de Improbidade Administrativa apresenta sua escritura dividida em 8 capítulos, nesta ordem: (I) Das disposições Gerais; (II) Dos atos de improbidade administrativa; (III) Das penas; (IV) Da declaração de bens; (V) Do procedimento administrativo e do processo judicial; (VI) Das disposições penais; (VII) Da prescrição; (VIII) Das disposições finais (BRASIL, 1992). A doutrina jurídica brasileira divide a improbidade em cinco tipos: “improbidade trabalhista, improbidade disciplinar, improbidade penal, improbidade civil e improbidade político-administrativa” (BARACHO, 2002, p. 211). Sob pena de banalização da norma, não se pode olvidar que a Lei de Improbidade Administrativa, objeto desse estudo, deve ser empregada somente nos casos em que há digressões por parte do agente, e tal conduta apresente significativa repercussão à administração pública. Sobre quando a aplicabilidade da lei não se faz necessária, Rubens Elias Calixto preleciona: [...] punição com as sanções da Lei 8.429/92 constitui evidente exagero [...] quando é o caso de um ato reconhecidamente esporádico do agente público e sem grandes consequências ao patrimônio material ou moral do ente público, hipótese em que a falta fica sujeita, em última análise, a uma reprimenda mais branda e proporcional à sua gravidade (CALIXTO, 2010, p. 114). Em um conceito mais amplo, a improbidade político-administrativa, ou, meramente, improbidade administrativa, é o ato que violenta a moralidade pública. Conforme as lições de Soares e Pereira (2015, p. 5) “a improbidade é tida como espécie de má gestão pública que comporta atuações dolosas e culposa”. Com definições tão próximas pode-se dizer que: [...] a corrupção é o comportamento mais gravoso que o administrador pode cometer; ela é a faceta mais grave da improbidade, que, por seu turno, encontra-se inserida na esfera maior da má gestão da coisa pública (SOARES; PEREIRA, 2015, p. 5). Nada obstante, observa-se que toda ação de corrupção é também um ato de improbidade, pois decorre da desonestidade e da inidoneidade do administrador público no desempenho de suas atividades funcionais (CALIXTO, 2010; AGUIAR, 2016). A inclusão do princípio da moralidade administrativa na Constituição Federal (BRASIL,1988) foi um indício da preocupação dos legisladores constituintes com a ética na Administração Pública, com o combate à corrupção e à impunidade. A Lei 8.429/92, também conhecida como Lei de Improbidade Administrativa, regulamentou o art. 37º, § 4º da Constituição Federal, já citada nesse estudo, enfatizando a natureza constitucional desse preceito. Logo no primeiro artigo da Lei 8.429/92, têm-se o conceito jurídico: Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na forma desta lei (BRASIL, 1992). A lei supracitada relaciona quatro modalidades de atos de improbidade administrativa, os quais encontram-se tipificados nos artigos 9°, 10°, 10°-A e 11° do referido diploma legal. O artigo 9º, considera os atos de improbidade administrativa que importam enriquecimento ilícito: Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1° desta lei [...] (BRASIL, 1992, grifo nosso). O artigo 10º, contempla os atos de improbidade administrativa que causam prejuízo ao erário com a seguinte redação: Art. 10 . Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei [...] (BRASIL, 1992, grifo nosso). O artigo 10º-A incluiu a Lei Complementar nº 157, de 29/12/16 que trata dos atos de improbidade administrativa provenientes de concessão ou aplicação indevida de benefício financeiro ou tributário: Art. 10-A . Constitui ato de improbidade administrativa qualquer ação ou omissão para conceder, aplicar ou manter benefício financeiro ou tributário contrário ao que dispõem o “caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003. (Incluído pela Lei Complementar nº 157, de 2016)” (BRASIL, 1992, grifo nosso) . Já o artigo 11º se refere aos atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da Administração Pública: Art. 11 . Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições [...] (BRASIL, 1992, grifo nosso). A doutrina e a jurisprudência têm empregado as vias adotadaspela interpretação sistêmica, ou seja, sem incompatibilidades, para definir a natureza jurídica da Lei nº 8.429/92 nos limites estatuídos pelo ordenamento jurídico brasileiro, de forma harmoniosa e interdependente . O ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) José Augusto Delgado, explica as três correntes que definem a natureza jurídica da lei: a) A primeira entende que os seus efeitos são de natureza administrativa e patrimonial , isto é, cível no sentido lato. b) A segunda defende que ela encerra, preponderantemente, conteúdo de Direito Penal , pelo que assim deve ser considerada. c) A terceira adota posição eclética. Firma compreensão no sentido de que, dependendo da autoridade que for chamada para integrar o polo passivo, ela terá a natureza de espelhar crimes políticos, de responsabilidade ou de responsabilidade patrimonial e administrativa (DELGADO, 2002, p. 21, grifo nosso). Vale lembrar que que a materialização do ato de improbidade administrativa exige a presença do elemento subjetivo, não podendo ser admitida somente à responsabilidade objetiva (FAZZIO JUNIOR, 2015). Ainda, o escopo da Lei de Improbidade Administrativa, é punir o administrador público que agiu com má-fé, consciente da ilegalidade que estava cometendo, ou seja, sendo desonesto. Corroborando no exame da lei e na análise de quem é sujeito e a configuração da improbidade administrativa, Aluízio Bezerra Filho elucida que: [...] provém de um ato ilegal que traz na sua índole a falta de boa-fé ou a má fé, a desonestidade, a deslealdade institucional ou a vontade manifesta e intencional de realizar o comportamento normativo que redunde em dano ao erário para obtenção de vantagem ilícita para si ou outrem; é quando o agente quis o resultado em detrimento do interesse público, é a forma de dolo direto (BEZERRA FILHO, 2014, p. 50). Nesse sentido, a obtenção de vantagens patrimoniais indevidas às expensas do erário, pelo exercício nocivo das funções e empregos públicos, pelo tráfico de influência nas esferas da Administração Pública e pelo favorecimento da poucos em detrimento dos interesses da sociedade, mediante a concessão de obséquios e privilégios ilícitos, configura crime de improbidade (MESQUITA, 2011). Para classificar a improbidade administrativa como dolosa ou culposa, ates é preciso uma breve definição de culpa e dolo. Para tanto, pode se recorrer aos penalistas como Greco (2009) por exemplo, que ao doutrinar sobre o tema quanto ao dolo, leciona: O agente deve ter consciência, isto é, deve saber exatamente aquilo que faz, para que se lhe possa atribuir o resultado lesivo a título de dolo [...] dolo é uma vontade determinada que, como qualquer vontade, pressupõe um conhecimento determinado (Greco, 2009, 185). Observa-se que é imperativo a plena compreensão do agente, na execução de seus atos e do que os efeitos advindos deles podem causar. Sem esse entendimento por parte do agente, não se pode considerar o dolo para fins de responsabilização pelas consequências danosas. Sendo assim, entende-se que é o desejo de agir, conscientemente, de determinada forma, que caracteriza o dolo. Vale mencionar aqui, o dolo eventual. Esse tipo de ardil se configura quando, segundo a doutrina, o agente mesmo que não desejando o resultado danoso, assume o risco de produzi-lo (GRECO, 2009; SOARES; PEREIRA, 2015; RIBEIRO; PINTO, 2018). Já crime culposo é caracterizado pela conduta humana voluntária, podendo ser comissiva ou omissiva (GRECO, 2009), e a inobservância de um dever objetivo de cuidado, entendido como sendo uma negligência, uma imprudência ou pela imperícia por parte do agente. O delito culposo, como se pode ver, está muito próximo do dolo eventual, pois, a negligência e a não observação de um dever cuidado é entendida pela doutrina como sendo a culpa consciente, que ocorre quando o agente prevê o resultado danoso, mesmo acreditando que não acontecerá. Assim, considera-se que em ambos os institutos o resultado é previsível e a diferença reside no fato de o agente se importar ou não com a ocorrência do dano (FAZZIO JUNIOR, 2015; SILVA NETO, 2016). Destarte, nos crimes de improbidade administrativa que importa enriquecimento ilícito, deve-se observar que só pode ser praticado dolosamente, isso pois, como preleciona Silva Neto (2016, p. 31) “não se pode imaginar como uma conduta desta natureza poderia se dar por mera culpa, sem que houvesse o animus do agente”. O autor complementa dizendo que: Todo aquele que, aproveitando-se de cargo, mandato, emprego ou função pública, aufere vantagem patrimonial indevida, certamente o faz deliberadamente. Evidentemente, o dolo aqui discutido é o direto, uma vez que o agente tem plena consciência da antijuridicidade de seus atos e deseja o resultado (SILVA NETO, 2016, p. 31). Observa-se, nesse sentido, que o agente ao receber vantagem indevida, sabe o resultado da ação, portanto, crime doloso. Ademais, o enriquecimento ilícito, advindo da vantagem indevida, não acontece, conforme a concordância de Mesquita (2011), Rodrigues (2015) Silva Neto (2016) e Marques (2018) por imprudência, imperícia e negligência, o que configuraria um delito culposo, pois o agente tem consciência do ato e dos resultados. 2.1 A Ação de Improbidade Administrativa: Breves notas Para que se configure um ato de improbidade, independe da expressa manifestação de dano patrimonial ao erário público, podendo estar configurada pela simples violação a princípios administrativos (BARACHO, 2002). Em uma ação de improbidade administrativa, o conflito que se situa entre o direito de liberdade, em sentido amplo, e a defesa do patrimônio público, bem constitucionalmente protegido. Como visto anteriormente, a Constituição Federal aponta os princípios que devem ser observados pelo administrador público no exercício de sua função, entre esses está a moralidade (BRASIL, 1988). Assim, a ação de improbidade administrativa busca, principalmente, à preservação, pelo caminho jurídico do princípio da moralidade administrativa. Das condiçõesda ação: são aquelas necessárias a que o juiz declare existente e atue a vontade concreta da lei invocada pelo autor ou para que este possa obter um pronunciamento favorável. 1) a existência de uma vontade da lei que assegure a alguém um bem, obrigando o réu a uma prestação; 2) a qualidade, isto é, a identidade da pessoa do autor com a pessoa favorecida pela lei e da pessoa do réu com a pessoa obrigada; 3) o interesse em conseguir o bem por obra dos órgãos públicos. O ajuizamento de uma ação importa na formação de uma relação jurídico-processual que estará completa e estabilizada a partir do momento em que o réu for citado para defender-se em juízo (GRECO, 2009; SIMÃO NETO, 2011; CARVALHO, 2017). Quanto à sanção, parte essencial no sistema jurídico, como em qualquer outro tipo de processo, poderá a sentença ser terminativa ou definitiva na ação por improbidade. As condutas ímprobas descritas na Lei 8.42/92 constituem em sanções de natureza civil e política. Importa lembrar que a improbidade administrativa, ainda que não seja propriamente um crime, está localizada no campo do Direito Punitivo, “onde residem o Direito Penal e também o Direito Administrativo Sancionador, o que a aproxima imensamente da noção de crime” (SILVA NETO, 2016, p. 41). Entre as sanções previstas na lei para os atos de improbidade administrativa estão: a perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio; ressarcimento integral do dano; perda da função pública; suspensão dos direitos políticos (oito a dez anos); pagamento de multa civil (até três vezes o valor do dano); proibição de contratar com o Poder Público (dez anos) (SOARES; PEREIRA, 2015). Quando da aplicação das sanções, o Conselho Nacional do Ministério Público atenta para observância dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, pois esses integram o ordenamento jurídico constitucional brasileiro. O princípio da razoabilidade desempenha o papel de controlar a aplicação do princípio da proporcionalidade. Esse último, por seu turno, traz a ideia de proporcionalidade, que é inerente a qualquer conceito jurídico possível de poder em um Estado Democrático de Direito (CNMP, 2019). Por ser uma breve análise, não se tem espaço para abordar temas que fazem parte de uma ação de improbidade, como foro privilegiado, das provas e indícios do ato ímprobo, prazos prescricionais e a atuação do Ministério Público na ação por improbidade administrativa e execução da sentença, por exemplo. O aprofundamento dessas matérias, não obstante a importância, se dará em trabalhos futuros. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A Lei 8.429/92 foi incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro com a digna finalidade de combater um mal causador de grandes problemas à sociedade e preocupação mundial, a corrupção. Destarte, a Lei da Improbidade Administrativa adquire inegável importância, na medida em que contribui para a efetivação dos princípios da administração pública, descrito no caput do artigo 37, da Carta Maior do Brasil. Com uma breve análise dos aspectos fundantes na Lei da Improbidade Administrativa, conceitos, legislação anterior à lei e a forma de uma ação de improbidade, foi possível responder a problemática desse estudo. Conclui-se que a lei da improbidade administrativa é um relevante instrumento de controle judicial da Administração Pública. Nada obstante, a redução dos crimes cometidos pelos agentes públicos, contra o patrimônio do Estado e enriquecimento ilícito, dependerá da correta aplicação das sanções legalmente previstas e do cumprimento da pena. 4 REFERÊNCIAS AGUIAR, Frank Rodrigues. A improbidade administrativa e a corrupção no serviço público. Rev. Jurídica do Curso de Direito da Faculdade CESCAGE , 6ª Edição, vol. 1, 2016. p. 307-323. 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