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ARTIGO_FINAL__2021 Direito Administrativo - Nilcilene Soares

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FAVENI 
FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
NILCILENE SOARES 
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA: BREVE ANÁLISE DA LEI 8.429/92 
SÃO JOSÉ/SC 
2021 
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA: BREVE ANÁLISE DA LEI 8.429/92 
Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso . Declaro também que o mesmo 
foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou 
integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente 
referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por 
mim realizadas para fins de produção deste trabalho. 
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e 
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de violação aos direitos 
autorais. “Deixar este texto no trabalho conforme se apresenta, fonte e cor vermelha”. 
RESUMO- A corrupção sistêmica e histórica entranhado nos órgãos da administração pública, entendida 
como atos de gestores e agentes como ações ímprobas onde se prevaleça do cargo para obter 
vantagens, enriquecer ilicitamente ou lesar o erário, pautou a criação da Lei nº 8.429 de 1992, conhecida 
por Lei da Improbidade Administrativa. Sendo assim, o presente artigo tem como objetivo realizar uma 
breve análise acerca da Lei n° 8.429/92, bem como sobre alguns aspectos da possível banalização de 
ações de improbidade administrativa. Para tanto, esse estudo se vale de uma revisão bibliográfica da 
literatura, com uma abordagem qualitativa para análise dos dados. Conclui-se que a lei da improbidade 
administrativa é um relevante instrumento de controle judicial da Administração Pública. 
PALAVRAS-CHAVE: Lei n° 8.429/92. Improbidade Administrativa. Legislação aplicável. Banalização. 
INTRODUÇÃO 
O assunto, pertinente ao combate a improbidade administrativa, é sempre atual e 
discutido em meios acadêmicos, jurídicos e também no seio da sociedade civil, devido 
aos constantes delitos cometidos pelos agentes da administração pública. Tenta-se, 
continuamente, moralizar as ações e atos da administração pública e, com isso 
combater a corrupção que se estabelece a partir dos atos desprovido de integridade e 
honestidade, cometidos pelos agentes públicos. 
A lei n° 8.429/92 - da Improbidade Administrativa (BRASIL, 1992), aprovada em 
2 de junho de 1992, foi criada com a finalidade de combater a conduta ímproba. A 
importância dessa lei se dá, justamente por prover sanções capazes de punir os atores 
e administradores públicos, quando esses, de forma ilícita, enriqueceram durante o 
exercício de mandato, cargo, emprego ou função na Administração pública, direta, 
indireta ou fundacional. Sendo assim, esse estudo elegeu a seguinte problemática: A lei 
da improbidade administrativa é suficiente para coibir os crimes cometidos pelos 
agentes públicos, contra o patrimônio do Estado? 
Para dar conta de responder a pergunta problema, esse estudo elaborou o 
seguinte objetivo: Realizar uma breve análise sobre a importância da Lei 8.429/92 
enquanto instrumento legal capaz de coibir ou punir os ilícitos contra à administração 
pública. 
A Lei 8.429/92 já suscitou dúvidas sobre a sua eficiência no combate à corrupção 
dentro da administração pública (BRASIL, 1992). Uma das divergências em relação à 
referida lei, seria a possibilidade de banalização. Ou seja, os gestores que, 
comprovadamente possam ter agido de boa-fé, mas foram maus administradores e, 
também, de agentes probos, portadores de pareceres técnicos, elaborados por órgãos 
competentes que responderam por esse tipo de ação, poderiam ser punidos ou não 
com base nessa lei. Assim, há que se examinar essa lei, à luz da Constituição Federal 
(BRASIL, 1988) e seus princípios da razoabilidade, da idoneidade, considerando que a 
pena deverá ser sempre proporcional, adequada e necessária ao mal causado pelo 
agente e aos fins objetivados pelo direito penal brasileiro. 
Devido aos constantes casos de corrupção, tanto ativos, quanto passivos, 
cometidos pelos agentes envolvidos na administração pública, a Lei 8.429/1992, 
também conhecida como Lei de Improbidade Administrativa, vem sendo discutida na 
doutrina e jurisprudência, bem como sua aplicação pelo Poder Judiciário brasileiro. 
Sendo assim, esse estudo se justifica pela importância de se ter, cada vez mais, 
pesquisas que envolvem o tema, além da relevância que esse tipo de estudo possui 
para comunidade acadêmica, profissionais operadores do direito e sociedade em geral. 
1 A PROBIDADE E A IMPROBIDADE ADMINSTRATIVA NO DIREITO BRASILEIRO: 
CONCEITOS 
A doutrina diverge quanto ao sentido de probidade e moralidade. A probidade 
pode ser entendida como sendo um subprincípio da moralidade e também pode 
assumir um conceito mais amplo, ou seja, o administrador público tem o dever ético, 
moral e probo, no zelo com o bem público (CARVALHO, 2017; PORTO; EBERHARD, 
2019). Já a noção de improbidade não se confunde com a de imoralidade, sendo esta 
uma espécie daquela e sempre ligada aos atos antiéticos (AGUIAR, 2016). 
A definição de ímprobo exprime o sentido de mau, perverso, corrupto, desonesto 
e unir ao tal conceito com significado de imoralidade Marques (2018), leciona que a 
improbidade revela uma ação eivada de má qualidade e malícia, podendo, também, ser 
imoral. No conceito intuitivo e popular, Rodrigues (2016, p. 13) diz que “a alusão mais 
comum seria relacionar este instituto jurídico à ideia de corrupção, de alguém 
desonesto”. No mesmo sentido, Silva (2010, Apud SILVA NETO, 2016, p. 17), afirma 
que: “o ímprobo administrativo é o devasso da Administração Pública”. Essas atitudes 
erradas, no trato da coisa pública e pautadas por uma conduta imoral, pode ser 
explicada assim: 
O agente ímprobo sempre se qualificará como violador do princípio da 
moralidade, contudo, nem todo ato de improbidade tipificado em lei corresponde 
a violação ao princípio da moralidade (CARVALHO, 2017, p. 960). 
A improbidade administrativa tem base na Constituição Federativa do Brasil de 
1988 que trouxe, expressamenteno caput do art. 37, os princípios constitucionais 
regentes da Administração Pública. Quais sejam, impessoalidade, moralidade, 
publicidade, legalidade (BRASIL, 1988) e, 10 anos depois, com o a aprovação da 
Emenda constitucional n.º 19/98, o princípio da eficiência, com a reforma administrativa 
(BRASIL, 1998). 
No entendimento de Carvalho (2017, p. 959) “esse dispositivo constitucional 
enumera algumas sanções a serem aplicadas pela prática de ato de improbidade”, 
como será visto ao longo deste estudo. Contudo, trata-se de um rol meramente 
exemplificativo, e que encontra respaldo no entendimento majoritário da doutrina, o que 
não esgota as sanções a serem aplicadas como punição do crime de improbidade 
administrativa. 
Por fim, vale lembrar que a improbidade não é uma perversão que afeta somente 
o setor público. Atos de corrupção, deslealdade e desonestidade abrangem também o 
setor privado, seja no campo civil, comercial ou trabalhista. De acordo com os 
ensinamentos de Simão Neto (2011) um exemplo disso está na preocupação com a 
corrupção no setor privado, pois, o artigo 482, da Consolidação das Leis do Trabalho, 
prevê o ato de improbidade como uma das condutas que podem provocar a demissão 
por justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo patrão. 
1.1 Os regimes jurídicos punitivos contra agentes públicos, anteriores a lei de 
improbidade 
O poder de um Estado Constitucional Democrático de Direito deve ser delimitado 
por uma lei superior, fruto da vontade popular, isso ocorre em todos os regimes que se 
pretendem democráticos. Esta lei máxima, qual seja percebida como sendo a 
Constituição Federal de um país deve ser compreendida como um código normativo 
composto por princípios, implícitos e explícitos, e preceitos jurídicos. Dentre essas 
normas está a regulamentação da administração pública (CONPEDI, 2015). 
Esta lei máxima, qual seja percebida como sendo a Constituição Federal de um 
país, deve ser compreendida como um código normativo composto por princípios, 
implícitos e explícitos, e preceitos jurídicos. Dentre essas normas está a 
regulamentação da administração pública. Administração essa que, “mesmo no 
exercício do seu poder discricionário, têm que estar de acordo com seus princípios 
reguladores, sejam expressos ou implícitos, e demais normas jurídicas deles 
decorrentes” (MARQUES, 2018, p. 3). 
A Constituição Federal de 1937, alcunhada de “A Polaca”, por ter sido inspirada na 
Constituição da Polônia, diferenciou a moralidade administrativa e a integridade do 
erário, definiu a punição dos crimes de responsabilidade contra a probidade 
administrativa (PORTO; EBERHARD, 2019). No entanto, foi a Constituição Federal de 
1824 o importante marco inicial para o controle do ato administrativo via judicial. Essa 
Constituição previu a possibilidade de ressarcimento ao erário, em caso de atos 
ímprobos e de desvios cometidos no exercício da administração pública (SÁ, 2020). 
Contudo, os maiores avanços acerca do tema vieram com a Constituição Federal 
de 1946. Esse Diploma Maior previu art. 141, § 31, que fosse elaborada uma lei 
infraconstitucional com o propósito de combater a corrupção: “A lei disporá o sequestro 
e o perdimento de bens, no caso de enriquecimento ilícito, por influência ou abuso do 
cargo ou função pública, ou emprego em entidade autárquica” (BRASIL, 1946). 
Onze anos após a promulgação do texto constitucional essas medidas foram 
efetivamente regulamentadas através da Lei nº 3.164/57: 
Art. 1º São sujeitos a sequestro e à sua perda em favor da Fazenda Pública os 
bens adquiridos pelo servidor público, por influência ou abuso de cargo ou 
função pública, ou de emprego em entidade autárquica, sem prejuízo da 
responsabilidade criminal em que tenha aquele incorrido (BRASIL, 1957). 
Apenas um ano depois, a regulamentação das sanções aos dolo ao erário 
continuaram com a Lei nº 3.502/58, conhecida como Lei Bilac Pinto, que tratou do 
sequestro e perdimento de bens: 
Art. 1º O servidor público, ou o dirigente, ou o empregado de autarquia que, por 
influência ou abuso de cargo ou função, se beneficiar de enriquecimento ilícito 
ficará sujeito ao sequestro e perda dos respectivos bens ou valores (BRASIL, 
1958). 
Importa lembrar que, até a aprovação da Lei 8.429/92, as Leis 3.164/57 e 
3.502/58 continuaram em vigor, sendo expressamente revogadas pelo art. 25 da nova 
lei. 
Mais tarde, a Carta Constitucional de 1967 recebeu a Emenda Constitucional n.º 
01/69, que ampliou na o espectro da incipiente tutela administrativa, aludindo à 
Administração direta e indireta: 
Art. 153 [...] § 11. Não haverá pena de morte, de prisão perpétua, de banimento, 
ou confisco, salvo nos casos de guerra externa, psicológica adversa, ou 
revolucionária ou subversiva, nos termos que a lei determinar. Esta disporá, 
também, sobre o perdimento de bens por danos causados ao erário, ou no caso 
de enriquecimento ilícito no exercício do cargo, função ou emprego na 
Administração Pública, direta ou indireta (BRASIL, 1969). 
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, o principal símbolo do 
processo de redemocratização nacional e apelidada de “Constituição Cidadã”, a 
improbidade administrativa surgiu como um modelo vinculado ao direito administrativo 
possuindo como centro o princípio da moralidade (SÁ, 2020). 
O art. 37, § 4º elencou as sanções em caso da prática de atos enumerados como 
ímprobos: 
Art. 37. [...] § 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão 
dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e 
o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo 
da ação penal cabível (BRASIL, 1988). 
Essa norma objetivou atender aos anseios da sociedade como forma de combate 
à corrupção, bem como aos eventuais abusos praticados pelos agentes públicos e 
preservar a probidade administrativa (CALIXTO, 2010). Com essa revisão normativa, 
passa-se, enfim, à análise da Lei de Improbidade Administrativa. 
2 A LEI 8.429/1992: LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 
Os danos que a corrupçãoe a gravidade que os atos ímprobos causam à 
sociedade, suscitou a necessidade de uma lei específica para tratar de tais atos 
(CALIXTO, 2010). Antes do exame da lei, propriamente dita, importa entender a 
diferença entre corrupção e improbidade administrativa. 
Entende-se como corrupção como sendo “é o uso indevido das atribuições 
públicas para obter benefícios privados” (SOARES; PEREIRA, 2015, p. 3). A corrupção 
é um fenômeno atemporal que afeta toda a sociedade, entretanto, os seus efeitos 
atingem de forma mais direta a população de baixa renda, que depende dos recursos e 
investimentos do Estado. Os desvios de verbas, que advém dos atos corruptivos, 
prejudicam o acesso à saúde, à educação, à moradia popular e ao transporte público, 
por exemplo, justamente os serviços e programas de governo, dos quais as classes 
socioeconômicas desfavorecidas dependem para a sua sobrevivência (COSTA, 2006; 
SILVA; MARCANTÔNIO, 2014). 
A Lei de Improbidade Administrativa apresenta sua escritura dividida em 8 
capítulos, nesta ordem: (I) Das disposições Gerais; (II) Dos atos de improbidade 
administrativa; (III) Das penas; (IV) Da declaração de bens; (V) Do procedimento 
administrativo e do processo judicial; (VI) Das disposições penais; (VII) Da prescrição; 
(VIII) Das disposições finais (BRASIL, 1992). A doutrina jurídica brasileira divide a 
improbidade em cinco tipos: “improbidade trabalhista, improbidade disciplinar, 
improbidade penal, improbidade civil e improbidade político-administrativa” (BARACHO, 
2002, p. 211). 
Sob pena de banalização da norma, não se pode olvidar que a Lei de 
Improbidade Administrativa, objeto desse estudo, deve ser empregada somente nos 
casos em que há digressões por parte do agente, e tal conduta apresente significativa 
repercussão à administração pública. Sobre quando a aplicabilidade da lei não se faz 
necessária, Rubens Elias Calixto preleciona: 
[...] punição com as sanções da Lei 8.429/92 constitui evidente exagero [...] 
quando é o caso de um ato reconhecidamente esporádico do agente público e 
sem grandes consequências ao patrimônio material ou moral do ente público, 
hipótese em que a falta fica sujeita, em última análise, a uma reprimenda mais 
branda e proporcional à sua gravidade (CALIXTO, 2010, p. 114). 
Em um conceito mais amplo, a improbidade político-administrativa, ou, 
meramente, improbidade administrativa, é o ato que violenta a moralidade pública. 
Conforme as lições de Soares e Pereira (2015, p. 5) “a improbidade é tida como 
espécie de má gestão pública que comporta atuações dolosas e culposa”. Com 
definições tão próximas pode-se dizer que: 
[...] a corrupção é o comportamento mais gravoso que o administrador pode 
cometer; ela é a faceta mais grave da improbidade, que, por seu turno, 
encontra-se inserida na esfera maior da má gestão da coisa pública (SOARES; 
PEREIRA, 2015, p. 5). 
Nada obstante, observa-se que toda ação de corrupção é também um ato de 
improbidade, pois decorre da desonestidade e da inidoneidade do administrador público 
no desempenho de suas atividades funcionais (CALIXTO, 2010; AGUIAR, 2016). 
A inclusão do princípio da moralidade administrativa na Constituição Federal 
(BRASIL,1988) foi um indício da preocupação dos legisladores constituintes com a ética 
na Administração Pública, com o combate à corrupção e à impunidade. A Lei 8.429/92, 
também conhecida como Lei de Improbidade Administrativa, regulamentou o art. 37º, § 
4º da Constituição Federal, já citada nesse estudo, enfatizando a natureza 
constitucional desse preceito. Logo no primeiro artigo da Lei 8.429/92, têm-se o 
conceito jurídico: 
Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor 
ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos 
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de 
Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para 
cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de 
cinquenta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na forma 
desta lei (BRASIL, 1992). 
A lei supracitada relaciona quatro modalidades de atos de improbidade 
administrativa, os quais encontram-se tipificados nos artigos 9°, 10°, 10°-A e 11° do 
referido diploma legal. O artigo 9º, considera os atos de improbidade administrativa que 
importam enriquecimento ilícito: 
Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento 
ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do 
exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades 
mencionadas no art. 1° desta lei [...] (BRASIL, 1992, grifo nosso). 
O artigo 10º, contempla os atos de improbidade administrativa que causam 
prejuízo ao erário com a seguinte redação: 
Art. 10 . Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário 
qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, 
desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das 
entidades referidas no art. 1º desta lei [...] (BRASIL, 1992, grifo nosso). 
O artigo 10º-A incluiu a Lei Complementar nº 157, de 29/12/16 que trata dos atos 
de improbidade administrativa provenientes de concessão ou aplicação indevida de 
benefício financeiro ou tributário: 
Art. 10-A . Constitui ato de improbidade administrativa qualquer ação ou 
omissão para conceder, aplicar ou manter benefício financeiro ou tributário 
contrário ao que dispõem o “caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei Complementar nº 
116, de 31 de julho de 2003. (Incluído pela Lei Complementar nº 157, de 2016)” 
(BRASIL, 1992, grifo nosso) . 
Já o artigo 11º se refere aos atos de improbidade administrativa que atentam 
contra os princípios da Administração Pública: 
Art. 11 . Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os 
princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os 
deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições 
[...] (BRASIL, 1992, grifo nosso). 
A doutrina e a jurisprudência têm empregado as vias adotadaspela interpretação 
sistêmica, ou seja, sem incompatibilidades, para definir a natureza jurídica da Lei nº 
8.429/92 nos limites estatuídos pelo ordenamento jurídico brasileiro, de forma 
harmoniosa e interdependente . O ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) 
José Augusto Delgado, explica as três correntes que definem a natureza jurídica da lei: 
a) A primeira entende que os seus efeitos são de natureza administrativa e 
patrimonial , isto é, cível no sentido lato. 
b) A segunda defende que ela encerra, preponderantemente, conteúdo de 
Direito Penal , pelo que assim deve ser considerada. 
c) A terceira adota posição eclética. Firma compreensão no sentido de que, 
dependendo da autoridade que for chamada para integrar o polo passivo, ela 
terá a natureza de espelhar crimes políticos, de responsabilidade ou de 
responsabilidade patrimonial e administrativa (DELGADO, 2002, p. 21, grifo 
nosso). 
Vale lembrar que que a materialização do ato de improbidade administrativa 
exige a presença do elemento subjetivo, não podendo ser admitida somente à 
responsabilidade objetiva (FAZZIO JUNIOR, 2015). Ainda, o escopo da Lei de 
Improbidade Administrativa, é punir o administrador público que agiu com má-fé, 
consciente da ilegalidade que estava cometendo, ou seja, sendo desonesto. 
Corroborando no exame da lei e na análise de quem é sujeito e a configuração da 
improbidade administrativa, Aluízio Bezerra Filho elucida que: 
[...] provém de um ato ilegal que traz na sua índole a falta de boa-fé ou a má fé, 
a desonestidade, a deslealdade institucional ou a vontade manifesta e 
intencional de realizar o comportamento normativo que redunde em dano ao 
erário para obtenção de vantagem ilícita para si ou outrem; é quando o agente 
quis o resultado em detrimento do interesse público, é a forma de dolo direto 
(BEZERRA FILHO, 2014, p. 50). 
Nesse sentido, a obtenção de vantagens patrimoniais indevidas às expensas do 
erário, pelo exercício nocivo das funções e empregos públicos, pelo tráfico de influência 
nas esferas da Administração Pública e pelo favorecimento da poucos em detrimento 
dos interesses da sociedade, mediante a concessão de obséquios e privilégios ilícitos, 
configura crime de improbidade (MESQUITA, 2011). 
Para classificar a improbidade administrativa como dolosa ou culposa, ates é 
preciso uma breve definição de culpa e dolo. Para tanto, pode se recorrer aos 
penalistas como Greco (2009) por exemplo, que ao doutrinar sobre o tema quanto ao 
dolo, leciona: 
O agente deve ter consciência, isto é, deve saber exatamente aquilo que faz, 
para que se lhe possa atribuir o resultado lesivo a título de dolo [...] dolo é uma 
vontade determinada que, como qualquer vontade, pressupõe um conhecimento 
determinado (Greco, 2009, 185). 
Observa-se que é imperativo a plena compreensão do agente, na execução de 
seus atos e do que os efeitos advindos deles podem causar. Sem esse entendimento 
por parte do agente, não se pode considerar o dolo para fins de responsabilização 
pelas consequências danosas. Sendo assim, entende-se que é o desejo de agir, 
conscientemente, de determinada forma, que caracteriza o dolo. 
Vale mencionar aqui, o dolo eventual. Esse tipo de ardil se configura quando, 
segundo a doutrina, o agente mesmo que não desejando o resultado danoso, assume o 
risco de produzi-lo (GRECO, 2009; SOARES; PEREIRA, 2015; RIBEIRO; PINTO, 
2018). 
Já crime culposo é caracterizado pela conduta humana voluntária, podendo ser 
comissiva ou omissiva (GRECO, 2009), e a inobservância de um dever objetivo de 
cuidado, entendido como sendo uma negligência, uma imprudência ou pela imperícia 
por parte do agente. O delito culposo, como se pode ver, está muito próximo do dolo 
eventual, pois, a negligência e a não observação de um dever cuidado é entendida pela 
doutrina como sendo a culpa consciente, que ocorre quando o agente prevê o resultado 
danoso, mesmo acreditando que não acontecerá. Assim, considera-se que em ambos 
os institutos o resultado é previsível e a diferença reside no fato de o agente se importar 
ou não com a ocorrência do dano (FAZZIO JUNIOR, 2015; SILVA NETO, 2016). 
Destarte, nos crimes de improbidade administrativa que importa enriquecimento 
ilícito, deve-se observar que só pode ser praticado dolosamente, isso pois, como 
preleciona Silva Neto (2016, p. 31) “não se pode imaginar como uma conduta desta 
natureza poderia se dar por mera culpa, sem que houvesse o animus do agente”. O 
autor complementa dizendo que: 
Todo aquele que, aproveitando-se de cargo, mandato, emprego ou função 
pública, aufere vantagem patrimonial indevida, certamente o faz 
deliberadamente. Evidentemente, o dolo aqui discutido é o direto, uma vez que 
o agente tem plena consciência da antijuridicidade de seus atos e deseja o 
resultado (SILVA NETO, 2016, p. 31). 
Observa-se, nesse sentido, que o agente ao receber vantagem indevida, sabe o 
resultado da ação, portanto, crime doloso. Ademais, o enriquecimento ilícito, advindo da 
vantagem indevida, não acontece, conforme a concordância de Mesquita (2011), 
Rodrigues (2015) Silva Neto (2016) e Marques (2018) por imprudência, imperícia e 
negligência, o que configuraria um delito culposo, pois o agente tem consciência do ato 
e dos resultados. 
2.1 A Ação de Improbidade Administrativa: Breves notas 
Para que se configure um ato de improbidade, independe da expressa 
manifestação de dano patrimonial ao erário público, podendo estar configurada pela 
simples violação a princípios administrativos (BARACHO, 2002). Em uma ação de 
improbidade administrativa, o conflito que se situa entre o direito de liberdade, em 
sentido amplo, e a defesa do patrimônio público, bem constitucionalmente protegido. 
Como visto anteriormente, a Constituição Federal aponta os princípios que devem ser 
observados pelo administrador público no exercício de sua função, entre esses está a 
moralidade (BRASIL, 1988). Assim, a ação de improbidade administrativa busca, 
principalmente, à preservação, pelo caminho jurídico do princípio da moralidade 
administrativa. 
Das condiçõesda ação: são aquelas necessárias a que o juiz declare existente e 
atue a vontade concreta da lei invocada pelo autor ou para que este possa obter um 
pronunciamento favorável. 1) a existência de uma vontade da lei que assegure a 
alguém um bem, obrigando o réu a uma prestação; 2) a qualidade, isto é, a identidade 
da pessoa do autor com a pessoa favorecida pela lei e da pessoa do réu com a pessoa 
obrigada; 3) o interesse em conseguir o bem por obra dos órgãos públicos. O 
ajuizamento de uma ação importa na formação de uma relação jurídico-processual que 
estará completa e estabilizada a partir do momento em que o réu for citado para 
defender-se em juízo (GRECO, 2009; SIMÃO NETO, 2011; CARVALHO, 2017). 
Quanto à sanção, parte essencial no sistema jurídico, como em qualquer outro 
tipo de processo, poderá a sentença ser terminativa ou definitiva na ação por 
improbidade. As condutas ímprobas descritas na Lei 8.42/92 constituem em sanções de 
natureza civil e política. Importa lembrar que a improbidade administrativa, ainda que 
não seja propriamente um crime, está localizada no campo do Direito Punitivo, “onde 
residem o Direito Penal e também o Direito Administrativo Sancionador, o que a 
aproxima imensamente da noção de crime” (SILVA NETO, 2016, p. 41). 
Entre as sanções previstas na lei para os atos de improbidade administrativa 
estão: a perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio; ressarcimento 
integral do dano; perda da função pública; suspensão dos direitos políticos (oito a dez 
anos); pagamento de multa civil (até três vezes o valor do dano); proibição de contratar 
com o Poder Público (dez anos) (SOARES; PEREIRA, 2015). 
Quando da aplicação das sanções, o Conselho Nacional do Ministério Público 
atenta para observância dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, pois 
esses integram o ordenamento jurídico constitucional brasileiro. O princípio da 
razoabilidade desempenha o papel de controlar a aplicação do princípio da 
proporcionalidade. Esse último, por seu turno, traz a ideia de proporcionalidade, que é 
inerente a qualquer conceito jurídico possível de poder em um Estado Democrático de 
Direito (CNMP, 2019). 
Por ser uma breve análise, não se tem espaço para abordar temas que fazem 
parte de uma ação de improbidade, como foro privilegiado, das provas e indícios do ato 
ímprobo, prazos prescricionais e a atuação do Ministério Público na ação por 
improbidade administrativa e execução da sentença, por exemplo. O aprofundamento 
dessas matérias, não obstante a importância, se dará em trabalhos futuros. 
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
A Lei 8.429/92 foi incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro com a digna 
finalidade de combater um mal causador de grandes problemas à sociedade e 
preocupação mundial, a corrupção. Destarte, a Lei da Improbidade Administrativa 
adquire inegável importância, na medida em que contribui para a efetivação dos 
princípios da administração pública, descrito no caput do artigo 37, da Carta Maior do 
Brasil. 
Com uma breve análise dos aspectos fundantes na Lei da Improbidade 
Administrativa, conceitos, legislação anterior à lei e a forma de uma ação de 
improbidade, foi possível responder a problemática desse estudo. 
Conclui-se que a lei da improbidade administrativa é um relevante instrumento de 
controle judicial da Administração Pública. Nada obstante, a redução dos crimes 
cometidos pelos agentes públicos, contra o patrimônio do Estado e enriquecimento 
ilícito, dependerá da correta aplicação das sanções legalmente previstas e do 
cumprimento da pena. 
4 REFERÊNCIAS 
AGUIAR, Frank Rodrigues. A improbidade administrativa e a corrupção no serviço 
público. Rev. Jurídica do Curso de Direito da Faculdade CESCAGE , 6ª Edição, vol. 
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