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Mecanismo de produção da fala APRESENTAÇÃO Você sabia que a Fonética e a Fonologia, apesar de se caracterizarem como ciências distintas, estão fortemente relacionadas? De fato, o foco de ambas está nas distinções entre os sons, nos seus aspectos físicos (Fonética) e nas suas propriedades funcionais em uma dada língua (Fonologia). Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar a diferença entre Fonética e Fonologia, e descobrir a importância dessas disciplina para a sua formação profissional. Você também vai identificar os mecanismos físicos de produção da fala, estudando o processo de produção dos sons, ao acompanhar a trajetória da corrente de ar desde os pulmões até o trato vocal. Ao percorrer esse caminho, vai estudar o importante papel da laringe e da propriedade de vozeamento para diferenciar os sons surdos (sem vibração de pregas vocais) dos sonoros (com vibração de pregas vocais). Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir os objetos de estudo das áreas de Fonética e de Fonologia, apontando aspectos convergentes entre as duas. • Reconhcer os mecanismos físicos de produção da fala, a fim de diferenciar vogais, consoantes e semivogais. • Identificar a propriedade de vozeamento e diferenciar segmentos surdos de sonoros.• DESAFIO A área da Fonética e Fonologia de Línguas Estrangeiras corresponde a um dos campos de estudo mais tradicionais da Linguística. Entretanto, são muitos os questionamentos que seus colegas e futuros alunos poderão ter a respeito da importância desta área. Além disso, opiniões sobre o papel do acento estrangeiro variam entre alunos e professores. Imagine que, em sua futura sala de aula, você tem três alunos de perfis completamente diferentes: Com base sobre o que você sabe sobre a importância e os objetivos do estudo da Fonética e da Fonologia do inglês como língua estrangeira, elabore as respostas que você daria para cada um desses alunos. INFOGRÁFICO No infográfico a seguir, aprenda sobre cada um dos quatro componentes principais do mecanismo de produção da fala. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! CONTEÚDO DO LIVRO No trecho selecionado a seguir, você vai aprender ainda mais sobre as diferenças entre Fonética e Fonologia, acessando mais informações sobre os mecanismos físicos de produção da fala. Você irá se concentrar, sobretudo, no processo de fonação, a partir do qual se diferenciam os segmentos surdos e sonoros. Leia o capítulo Mecanismos de produção da fala, do livro Fonética e Fonologia do Inglês, que embasa esta Unidade de Aprendizado. Boa leitura. FONÉTICA E FONOLOGIA DO INGLÊS Ubiratã Kickhöfel Alves Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 Revisão técnica: Monica Stefani Bacharela em Letras – habilitação português/inglês Mestra em Letras – Literaturas de língua inglesa/literatura australiana Doutora em Letras – Literaturas de língua inglesa/estudos de tradução A474f Alves, Ubiratã Kickhöfel. Fonética e fonologia do inglês / Ubiratã Kickhöfel Alves, Andressa Brawerman-Albini, Mariza Lacerda ; [revisão técnica: Monica Stefani]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 164 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-162-4 1. Fonética. 2. Fonologia. I. Língua inglesa. II. Brawerman-Albini, Andressa. III. Lacerda, Mariza. IV. Título. CDU 37 Iniciais_Fonética e fonologia do inglês.indd 2 10/09/2017 12:31:37 Mecanismo de produção da fala Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: De� nir os objetos de estudo das áreas de Fonética e Fonologia, apontan do aspectos convergentes entre as duas áreas. Identi� car os mecanismos físicos de produção da fala, a � m de dife- renciar vogais, consoantes e semivogais. Caracterizar a propriedade de vozeamento e diferenciar segmentos surdos de sonoros. Introdução Você sabia que a Fonética e a Fonologia, apesar de se caracterizarem como ciências distintas, estão fortemente relacionadas? De fato, o foco de ambas está nas distinções entre os sons, nos seus aspectos físicos (Fonética) e nas suas propriedades funcionais em uma dada língua (Fonologia). Então, para que estudamos Fonética e Fonologia do inglês? Você poderá se surpreender que, ao contrário do que muitos podem pensar, não é para “soar como um falante nativo”. Neste capítulo, você vai estudar a diferença entre Fonética e Fonologia. Ao estudar essa diferença, vai descobrir a importância desta disciplina para a sua formação profissional. Você também vai identificar os mecanismos físicos de produção da fala, estudando o processo de produção dos sons, ao acompanhar a trajetória da corrente de ar desde os pulmões até o trato vocal. Ao percorrer esse caminho, estudará o papel importante da laringe e da propriedade de “vozeamento” para diferenciar sons surdos (sem vibração de pregas vocais) de sonoros (com vibração de pregas vocais). U1_C01_Fonética e fonologia do inglês.indd 13 10/09/2017 10:21:17 Fonética e Fonologia: duas ciências altamente relacionadas Talvez até um leigo saiba, ao ouvir as palavras “fonética” e “fonologia”, que ambas se tratam de áreas da Linguística (a ciência que estuda os sistemas linguísticos) que se relacionam, em linhas gerais, aos sons de uma língua. Entretanto, qual é a diferença entre Fonética e Fonologia? Se ambas lidam com os sons, existem diferenças entre essas duas ciências? Ou elas constituem uma única ciência com dois nomes? Para que você consiga diferenciar as duas ciências, vale a pena pensarmos em um exemplo. Pense na palavra “tia”, do português brasileiro. Como você a pronuncia na sua variedade de português? O som inicial dessa palavra, representado pela letra <t>, pode ser pronunciado diferentemente em função do dialeto do português brasileiro em que ela é falada. Na variedade do Rio de Janeiro (capital), o // inicial é pronunciado como [ʃ] (ou seja, como um segmento africado, produzido com um ponto de articulação palatoalveolar). Por sua vez, na cidade de Recife, ele é, quase categoricamente, produzido como [] (ou seja, como uma plosiva alveolar). Independentemente da produção que ouvir, você, como falante nativo do português, saberá a que se refere essa palavra: à irmã do seu pai ou de sua mãe. No que diz respeito às características articulatórias, de produção do som, não há dúvida de que temos produções diferentes. Entretanto, na língua portuguesa, essas duas produções apresentam o mesmo status funcional, pois não diferenciam significado. Agora vamos pensar nesses dois segmentos, [] e [ʃ], na língua inglesa. Será que a troca de um por outro causaria alterações de significado no inglês? Pense em palavras como tip (produzido com []) e chip (produzido com [ʃ]). Trata-se dos mesmos sons utilizados nas duas variantes de “tia”; porém, na língua inglesa, eles apresentam um status diferente: eles são capazes de diferenciar significado. A partir desse exemplo, fica clara a distinção entre Fonética e Fonologia. A Fonética se preocupa em descrever as propriedades físicas dos sons, indepen- dentemente do caráter distintivo/não distintivo de tais sons em um determinado sistema linguístico. Nesse exemplo, caberia à Fonética apontar que o segmento [t] é produzido com a obstrução total da passagem de ar nos alvéolos, seguido de uma explosão; caberia também à Fonética dizer que [ʃ] é produzido com uma obstrução total da passagem de ar na região palatoalveolar, seguido de uma soltura de ar com fricção. Por sua vez, a Fonologia se volta ao funcionamento dos sons da língua: cabe a esta área do conhecimento dizer que, enquanto no Mecanismo de produção da fala14 U1_C01_Fonética e fonologia do inglês.indd 14 10/09/2017 10:21:18 português tais sons não têm caráter distintivo, o mesmo não ocorre no inglês. À Fonologia também cabe dizer que, no inglês, esses dois sons são distintivos tanto em posição inicial(tip – chip) quanto final (cat – catch) de palavras. Dada essa diferença, você já deve ter notado que ambas as ciências estão fortemente relacionadas. Ainda que a Fonética tenha um caráter mais físico e a Fonologia apresente um caráter mais abstrato, é praticamente impossível entender Fonologia sem compreender minimamente um pouco de Fonética, e vice-versa. É por isso que, neste curso, você estudará Fonética e Fonologia de maneira integrada. Produções fonéticas são representadas com colchetes: [ ]. Fonemas, por sua vez, são representados por barras / /. A importância do estudo da Fonética e Fonologia do inglês Ao estudar Fonética e Fonologia, você aprenderá como articular os sons do inglês, bem como poderá entender as possibilidades de variação e as distinções de signifi cado que podem ocorrer, em sua produção em língua inglesa, a partir de diferentes pronúncias. Uma vez que o inglês é uma língua não nativa para os brasileiros, é natural que o sistema fonológico do português exerça influência sobre as produções nesse novo idioma. É por esse motivo que o aprendiz estrangeiro apresenta sotaque. Falar com acento estrangeiro (ou sotaque) é algo frequente e natural. Conforme apontam Derwing e Munro (2015), o objetivo do estudo da Fonética e Fonologia da língua estrangeira não é fazer com que o aprendiz fale como um “nativo”. De fato, ter sotaque não é problema; o problema é quando o sotaque afeta a “inteligibilidade em língua estrangeira”. Retomando o exemplo da seção anterior, é possível que falantes de dialetos como o do Rio de Janeiro ou Porto Alegre, por exemplo – por produzirem o // como [] em sua língua materna –, acabem produzindo a palavra cat como catch, soando como se estivessem produzindo outra palavra. O mesmo 15Mecanismo de produção da fala U1_C01_Fonética e fonologia do inglês.indd 15 10/09/2017 10:21:18 pode acontecer na produção, em inglês, da letra “D” [] como “G” [], que também pode ocasionar problemas de inteligibilidade. Podemos definir inteligibilidade como “[...] o grau de relação entre a men- sagem pretendida pelo falante e o conteúdo compreendido pelo ouvinte [...]” (DERWING; MUNRO, 2015, p. 5). Isso é diferente de se ter acento estrangeiro. Pode-se ter acento estrangeiro e, ao mesmo tempo, ser inteligível, contanto que o ouvinte consiga “decodificar” o que estamos falando. Ou seja, nem todo acento estrangeiro pode causar problemas de inteligibilidade, mas problemas de inteligibilidade da fala surgem, em grande parte, em função do grau de acento estrangeiro. Fica clara, assim, a importância do estudo da disciplina de Fonética e Fo- nologia da língua inglesa. O objetivo desta disciplina não é fazer o aluno falar como um “falante nativo” do inglês (até porque, assim como no português, há diferentes variedades da língua, cada uma com suas peculiaridades fonéticas). Ao estudar da Fonética e Fonologia do inglês, a intenção é que você apresente uma fala mais inteligível não somente para ouvintes nativos do idioma, mas, também, para qualquer usuário de língua inglesa, independentemente de sua língua materna. Pelo estudo desta disciplina, você conhecerá as diferenças de sons entre os sistemas de L1 (português) e de L2 (inglês) e aprenderá mais sobre as articulações dos sons da língua estrangeira. Além disso, você será capaz de prever as dificuldades enfrentadas pelo aprendiz brasileiro de inglês na aquisição de sons, sobretudo aquelas que podem implicar problemas de inteligibilidade da fala. Trata-se, pois, de uma disciplina fundamental para todo profissional que trabalhará com a língua inglesa. Para saber mais sobre inteligibilidade e a sua relação com grau de acento estrangeiro, leia Pronunciation Fundamentals (DERWING; MUNRO, 2015). Os mecanismos físicos de produção da fala Ao iniciar seu estudo de Fonética e Fonologia da língua inglesa, você deverá ser capaz de responder algumas das mais basilares questões da Fonética: “O Mecanismo de produção da fala16 U1_C01_Fonética e fonologia do inglês.indd 16 10/09/2017 10:21:19 que é o som?”, “Como o produzimos?”, “Qual é o caminho da corrente de ar para a produção dos sons do português e do inglês?”. Acusticamente, o som é um deslocamento das partículas de ar (LADEFO- GED, 1996). Dessa forma, ao produzirmos sons da fala, estamos realizando deslocamentos das colunas de ar. O mecanismo de produção da fala tem quatro componentes principais que acarretam quatro processos: (i) o processo de saída de ar; (ii) o processo de fonação; (iii) o processo oronasal; e (iv) o processo articulatório (LADEFOGED; JOHNSON, 2011). No que diz respeito ao primeiro processo, o ar em movimento tem início nos pulmões, no processo de expiração do processo de respiração, e percorre o aparelho fonador; A principal fonte de energia da produção dos sons é, portanto, o sistema respiratório. Em outras palavras, expulsamos ar dos pulmões para produzir os sons distintivos tanto do português quanto do inglês. Existem, em outras línguas do mundo, sons que não são produzidos com a expulsão do ar dos pulmões. Para saber mais sobre esses sons, leia o Capítulo 6 do livro A course in phonetics (LADEFOGED; JOHNSON, 2011). O processo de fonação diz respeito à ação das pregas vogais. É nessa etapa que se caracterizam as diferenças entre os sons surdos (sem vibração das pregas vogais) e sonoros (com vibração das pregas vocais). Ao sair dos pulmões, o ar vai se deslocando pela traqueia até chegar à laringe (Figura 1). A laringe se encontra na parte superior da tranqueia, sendo composta por cartilagens que constituem as pregas vocais (ou, popularmente, “cordas” vocais), que se parecem com dois lábios. Além da função clássica de válvula, impedindo a passagem de ar durante a deglutição e impedindo que alimentos caiam na via respiratória (GUYTON, 2000), tal órgão tem importante papel na produção dos sons. 17Mecanismo de produção da fala U1_C01_Fonética e fonologia do inglês.indd 17 10/09/2017 10:21:19 Figura 1. O aparelho vocal humano Fonte: Bear, Connor e Paradiso (2017, p. 687). O espaço entre as duas pregas vocais é chamado de glote, e as cordas vogais podem assumir configurações distintas para as formações dos sons. Quando as cordas vogais estão distanciadas entre si, o ar dos pulmões poderá passar sem maiores dificuldades pela glote, passando dos pulmões para a faringe e a boca. Nessa configuração, são produzidos os sons surdos. Por outro lado, se houver apenas uma estreita distância entre as pregas, o ar que estiver vindo dos pulmões, ao ter que atravessar tal passagem estreita, fará com que as pregas vibrem. Essa vibração ocorre por um jogo aerodinâmico. A propriedade de vozeamento é bastante importante para a caracterização dos sons e fonemas de uma língua; por isso, estudaremos essa característica a fundo na próxima seção. Mecanismo de produção da fala18 U1_C01_Fonética e fonologia do inglês.indd 18 10/09/2017 10:21:20 Os caminhos para o fluxo de ar acima da laringe (supraglotais) formam parte do trato vocal. É nessa parte que ocorrem os últimos dois processos: (iii) o processo oronasal e (iv) o processo articulatório. O trato vocal é caracterizado pelo trato (ou cavidade) oral ou pelo trato (ou cavidade) nasal (Figura 1). Dessa forma, o ar tem duas opções de passagem. Se o véu palatino estiver abaixado, o ar poderá sair pelo trato nasal – disso resultarão consoantes e nasais velares. Por sua vez, se o véu palatino estiver levantado, a saída de passagem de ar pelo nariz é impedida, e o ar seguirá pelo trato oral, de modo a formar os chamados sons orais (não nasais). É importante salientar que a forma do trato vocal é importantíssima para a produção dos sons. A forma do trato varia em função das posições dos articuladores. Dessa forma, o local do trato em que é feita a obstrução à passagem da corrente de ar, bem como o modo pelo qual tal corrente de ar será liberada, ocasionam as diferenças entre os sons das línguas do mundo. Otrato vocal funciona como uma caixa de ressonâncias para a produção dos sons. Assim, a depender das articulações, essa caixa de ressonância pode assumir diferentes formas, o que exercerá efeitos nas propriedades acústicas dos sons produzidos. No capítulo seguinte, verificaremos cada um desses lugares (pontos) e modos de articulação. Diferenciando vogais de consoantes Ao considerar a produção de sons no trato oral, você também poderá fazer outra distinção fundamental em Fonética: diferenciar sons consonantais de vocálicos. Em princípio, tal tarefa pode parecer óbvia – sobretudo se consi- derarmos o sistema alfabético. Entretanto, qual seria a diferença, em termos fonéticos, entre uma consoante e uma vogal em inglês? Acesse o link ou código a seguir e assista ao vídeo das pregas vocais vibrando. https://goo.gl/BfnN2c 19Mecanismo de produção da fala U1_C01_Fonética e fonologia do inglês.indd 19 10/09/2017 10:21:21 Um segmento consonantal é aquele caracterizado por alguma forma de obstrução da passagem de ar no trato vocal. Essa obstrução pode ser: total (como no caso das plosivas [], [], [], [], [], []), em que o ar é impedido completamente de sair até o momento da explosão; ou parcial (como nos seg- mentos fricativos [], [], [], [], [], [], [], [], []), em que há uma estreita passagem pela qual o ar ainda consegue escapar. Por outro lado, em termos fonéticos, segmentos vocálicos são aqueles nos quais o ar sai pelo trato vocal praticamente sem impedimentos. O sistema de vogais do inglês é bem maior do que o do português. É, portanto, um desafio para o aprendiz de inglês fazer a distinção entre as vogais das palavras sheep [] e ship [], bed [] e bad [] ou pool [] e pull [], por exemplo. Letras e fonemas não são a mesma coisa! No sistema alfabético, temos 5 grafemas vocálicos. Entretanto, em português, por exemplo, temos 7 fonemas vocálicos: //, //, //, //, //, //, //. Há, também, as semivogais (também chamados de glides). As semivogais são foneticamente semelhantes às vogais, mas tendem a ser mais curtas. Ape- sar de serem foneticamente muito semelhantes às vogais, elas se comportam como consoantes, em termos de distribuição dentro da palavra. No inglês, elas sempre antecedem uma vogal, como // em yet, //, e // em one, //. Semivogais são consideradas segmentos consonantais. É por isso que, em inglês, dizemos an umbrella, mas a university. Isso ocorre porque o fonema inicial de umbrela, //, é vocálico. Entretanto, em university, //, o fonema inicial é justamente o do glide // (consonantal). Mecanismo de produção da fala20 U1_C01_Fonética e fonologia do inglês.indd 20 10/09/2017 10:21:22 O vozeamento: diferenciando segmentos surdos e sonoros Nas línguas do mundo, conforme já visto, existem segmentos consonantais surdos (sem a vibração das pregas) e sonoros (com a vibração), distinção que é importantíssima para diferenciarmos os sons. É possível que dois sons tenham exatamente a mesma articulação e se distingam unicamente em fun- ção da propriedade de sonoridade. Em muitos casos, não é difícil identifi car a diferença entre surdos e sonoros – podemos sentir a diferença entre eles! Tente fazer um som de [] bastante longo. Agora, faça um som de [] com a mesma articulação. Você perceberá que ambos foram produzidos com a mesma articulação, mas [] tem a vibração das pregas vocais, e [] não tem. Logo, [z] é um som sonoro, enquanto [] é um som surdo. É bastante fácil verificar a diferença de fonação em pares de segmentos fricativos (produzidos com fricção e com continuidade ao longo do tempo). Tente comparar os membros dos pares [] e []: você perceberá que os membros de cada par têm exatamente a mesma articulação, mas o primeiro membro do par é sempre surdo, e o segundo elemento, sonoro. Já nos pares de segmentos plosivos (produzidos por um fechamento total da passagem de ar, seguido por uma explosão), diferenciar os segmentos surdos [], [] e [] dos sonoros [], [] e [], ao tentarmos reparar a vibração de nossas pregas vocais, pode vir a ser uma tarefa mais difícil. Em português, a vibração das pregas vocais que caracteriza os segmentos sonoros nesses segmentos ocorre durante o bloqueio total da passagem de ar pelos articula- dores (e, portanto, não é audível). Já no inglês, considerando-se as plosivas em posição inicial de palavra, tal como em bat, a vibração das pregas vocais é opcional. Há, entretanto, uma outra pista acústica que leva os ouvintes nativos do inglês a diferenciarem sons surdos de sonoros nessa posição: a presença de aspiração em consoantes surdas. A aspiração pode ser definida como uma soltura forte de ar após a explosão de um segmento plosivo e ocorre somente em sons surdos, em inglês. É importante que, ao produzir palavras como pet, você produza com aspiração para não ser interpretado como bet. 21Mecanismo de produção da fala U1_C01_Fonética e fonologia do inglês.indd 21 10/09/2017 10:21:22 A aspiração não ocorre somente na posição inicial (ainda que, nessa posi- ção, a sua ausência possa causar problemas de inteligibilidade). Os segmentos plosivos surdos devem ser aspirados, também, em posição medial de palavra, desde que tal segmento plosivo esteja iniciando uma sílaba tônica (forte). Preste atenção à pronúncia de /p/ nas palavras rapid e rapidity. O que você nota? Em rapidity, /p/ é produzido com aspiração ([]), pois tal consoante se encontra em início de sílaba tônica. Em rapid, não há aspiração. Caso tenha dúvidas, ouça os áudios dessas palavras em um dicionário on-line. A distinção entre consoantes sonoras e surdas, em inglês, ocorre nos seg- mentos plosivos (caracterizados pelo bloqueio total da passagem de ar, seguido de uma explosão), fricativos (produzida com uma saída de ar caracterizada como uma fricção) e africados (cujo início da produção lembra um segmento plosivo, e o final, um segmento fricativo). Esses três grupos de sons formam uma classe chamada de “obstruentes”. Dentre as consoantes obstruintes, //, //, //, //, //, //, //, //, // são surdas, e //, //, //, //, //, //, //, // são sonoras. Cabe ressaltar, por fim, que todas as vogais do inglês são produzidas com a vibração das pregas vocais (sonoros), bem como as consoantes nasais (//, //, //) e líquidas (// e //). Na página do famoso foneticista Peter Ladefoged, você pode comparar a produção de // inicial em espanhol (sem aspiração, como no português) e em inglês (com aspiração). Ouça os áudios e verifique a diferença! https://goo.gl/XW27J1 Mecanismo de produção da fala22 U1_C01_Fonética e fonologia do inglês.indd 22 10/09/2017 10:21:23 1. Escolha a alternativa correta. a) A fala com acento estrangeiro deve ser erradicada, pois acarreta problemas de inteligibilidade da fala. b) Quando estudamos Fonética e Fonologia do Inglês, devemos estudar ou o dialeto norte- americano ou o dialeto britânico. c) O foco do estudo da Fonética e Fonologia do Inglês é a percepção das variedades nativas da língua. d) O estudo de Fonética e Fonologia do Inglês é importante para que os alunos possam soar como falantes nativos desta língua. e) O estudo da Fonética e Fonologia do Inglês inclui não somente a produção por parte dos nativos, mas, também, as dificuldades de aprendizes de Inglês de diferentes nacionalidades. 2. Considerando que sons e letras não são a mesma coisa, quantos sons têm as palavras ‘have’, ‘brought ’, ‘chip’ e ‘thank ’, respectivamente? a) 4 – 7 – 4 – 5 b) 4 – 3 – 4 – 4 c) 3 – 3 – 3 – 4 d) 3 – 4 – 3 – 4 e) 3 – 4 – 4 – 4 3. Qual alternativa apresenta as três sequências corretas? a) a one-week course – a young boy – a university b) an one-week course – a young boy – a university c) a one-week course – an young boy – a university d) a one-week course – a young boy – an university e) an one-week course – an young boy – an university 4. Em qual das alternativasos sons consonantais iniciais de todas as palavras são surdos? a) tank, those, pat, kill b) nose, limb, rat, watch c) think, them, thought, thumb d) knife, pneumonia, cart, physics e) chair, case, tear, kill 5. Em qual das alternativas todos os fonemas /p/ devem ser aspirados? a) computation – computer – rapidity b) rapid – rapidity – report c) computer – rapidity – report d) computation – rapitidy – report e) computer – rapid – report 23Mecanismo de produção da fala U1_C01_Fonética e fonologia do inglês.indd 23 10/09/2017 10:21:24 BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências: desvendando o sistema nervoso. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. DERWING, T.; MUNRO, M. J. Pronunciation fundamentals: evidence-based perspectives for l2 teaching and research. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2015. GUYTON, A. C. Fisiologia humana. São Paulo: Saraiva, 2000. LADEFOGED, P. Elements of acoustic phonetics. 2nd ed. Chicago: The University of Chicago Press, 1996. LADEFOGED, P.; JOHNSON, K. A course in phonetics. 6th ed. Boston: Wadsworth Cen- gage Learning, 2011. Leituras recomendadas CALLOU, D.; LEITE, Y. Iniciação à fonética e à fonologia. 11. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2011. CRISTÓFARO-SILVA, T. Pronúncia do Inglês: para falantes do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2012. LAMPRECHT, R. R. et al. Consciência dos sons da língua: subsídios teóricos e práticos para alfabetizadores, fonoaudiólogos e professores de língua inglesa. 2. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2012. Mecanismo de produção da fala24 U1_C01_Fonética e fonologia do inglês.indd 24 10/09/2017 10:21:24 Conteúdo: DICA DO PROFESSOR Neste vídeo, de forma resumida, você receberá mais detalhes sobre a fonação, processo através do qual se diferenciam os segmentos surdos e sonoros. Você vai poder verificar vários exemplos de pares mínimos diferenciados apenas em função da sonoridade dos seus segmentos iniciais. Preste atenção nos exemplos, ouça-os e repita-os caso julgue necessário. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Escolha a alternativa correta: A) A fala com acento estrangeiro deve ser erradicada, pois acarreta problemas de inteligibilidade na fala. B) Quando se estuda a Fonética e a Fonologia do inglês, é preciso estudar ou o dialeto Norte- Americano ou o dialeto Britânico. C) O foco do estudo da Fonética e da Fonologia do inglês é a percepção das variedades nativas da língua. D) O estudo de Fonética e Fonologia do inglês é importante para que os alunos possam soar como falantes nativos dessa língua. E) O estudo da Fonética e da Fonologia do inglês inclui, não somente a produção por parte dos nativos, mas também as dificuldades de aprendizes de inglês de diferentes nacionalidades. Considerando que sons e letras não são a mesma coisa, quantos sons têm as palavras 2) have, brought, chip e thank, respectivamente? A) 4, 7, 4, 5. B) 4, 3, 4, 4. C) 3, 3, 3, 4. D) 3, 4, 3, 4. E) 3, 4, 4, 4. 3) Qual alternativa apresenta as três sequências corretas? A) A one-week course – a young boy – a university. B) An one-week course – a young boy – a university. C) A one-week course – an young boy – a university. D) A one-week course - a young boy - an university. E) An one-week course - an young boy - an university. 4) Em qual das alternativas os sons consonantais iniciais de todas as palavras são surdos? A) Tank, those, pat, kill. B) Nose, limb, rat, watch. C) Think, them, thought, thumb. D) Knife, pneumonia, cart, physics. E) Chair, case, tear, kill. 5) Em qual das alternativas todos os fonemas /p/ devem ser aspirados? A) Computation, computer, rapidity. B) Rapid, rapidity, report. C) Computer, rapidity, report. D) Computation, rapidity, report. E) Computer, rapid, report. NA PRÁTICA A definição de segmentos surdos (sem vibração de pregas vocais) e sonoros (com vibração) é bastante simples. Entretanto, ensinar esta diferença com exemplos do inglês é uma tarefa desafiadora. Aqui, você vai ver um passo-a-passo de como ensinar esta diferença. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Phonemes and Allophones Para revisar os conceitos de Fonema e Alofone, veja este vídeo, que deixará ainda mais clara a diferença entre as áreas da Fonética e da Fonologia. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Speech-Language Pathology: The Vocal Cords in Action Nesta Unidade, você estudou a ação das pregas vocais. Mas você já as viu em ação? Neste vídeo, você poderá ver as pregas vocais vibrando, na produção da fala! Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! A comparison of English and Spanish /b/ e /p/ Na página do Professor Peter Ladefoged, você poderá ouvir produções das plosivas iniciais em Inglês e em Espanhol. Note que, em Inglês, as plosivas surdas são produzidas com aspiração. Em Espanhol, assim como em Português, as plosivas iniciais surdas não são aspiradas. Ouça e repita as produções em Inglês! Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Voiced and Voiceless Consonants Leia este texto, que lhe ajudará a revisar a diferença entre consoantes surdas e sonoras. Após isso, assista ao vídeo, que vai lhe ajudar a entender a diferença entre os artigos 'a' e 'an', que você estudou nesta unidade. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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