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CADERNOS ODS TORNAR AS CIDADES E OS ASSENTAMENTOS HUMANOS INCLUSIVOS, SEGUROS, RESILIENTES E SUSTENTÁVEIS O QUE MOSTRA O RETRATO DO BRASIL? 11 ODS © Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – ipea 2019 Equipe técnica Enid Rocha Andrade da Silva ( coordenadora) Anna Maria Peliano José Valente Chaves As publicações do Ipea estão disponíveis para download gratuito nos formatos PDF (todas) e EPUB (livros e periódicos). Acesse: http://www.ipea.gov.br/portal/publicacoes As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ou do Ministério da Economia. É permitida a reprodução deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas. Governo Federal Ministério da Economia Ministro Paulo Guedes Fundação pública vinculada ao Ministério da Economia, o Ipea fornece suporte técnico e institucional às ações governamentais – possibilitando a formulação de inúmeras políticas públicas e programas de desenvolvimento brasileiros – e disponibiliza, para a sociedade, pesquisas e estudos realizados por seus técnicos. Presidente Carlos von Doellinger Diretor de Desenvolvimento Institucional, Substituto Manoel Rodrigues dos Santos Junior Diretor de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia Alexandre de Ávila Gomide Diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas José Ronaldo de Castro Souza Júnior Diretor de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais Aristides Monteiro Neto Diretor de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação e Infraestrutura André Tortato Rauen Diretora de Estudos e Políticas Sociais Lenita Maria Turchi Diretor de Estudos e Relações Econômicas e Políticas Internacionais Ivan Tiago Machado Oliveira Assessora-chefe de Imprensa e Comunicação Mylena Fiori Ouvidoria: http://www.ipea.gov.br/ouvidoria URL: http://www.ipea.gov.br 3 Apresentação APRESENTAÇÃO A publicação Cadernos ODS foi criada pelo Ipea para divulgar estudos e pesquisas que vi- sam contribuir para o esforço nacional de alcançar os desafios lançados durante a Cúpula de Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Geral das Nações Unidas, da Organização das Nações Unidas (ONU), de 2015, na qual 193 Estados-membros aprovaram o documento Transformando nosso mundo: a Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável. Essa agenda, proposta para ser implementada a partir de 2016, é um plano de ação que parte do reconhecimento de que a erradicação da pobreza, em todas as suas formas e dimensões, é o maior desafio global ao desenvolvimento sustentável. Nela foram estabelecidos dezessete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas, cujo alcance requererá uma parceria global com o engajamento de todos – governos, sociedade civil, setor privado, academia, mídia e ONU. Para coordenar a implementação da Agenda 2030 no Brasil, foi criada Comissão Nacional dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, da Secretaria de Governo da Presidência da República (Segov/PR), que atribuiu ao Ipea a função de assessoramento técnico permanente aos seus trabalhos. Foi no cumprimento dessa atribuição que o instituto coordenou, em 2018, o processo de adequação das metas globais à realidade brasileira, considerando as estraté- gias, os planos e as políticas nacionais que podem promover a garantia do desenvolvimento sustentável na próxima década. Merece destaque o pioneirismo dessa iniciativa, que coloca o Brasil em um grupo seleto de países do mundo que passam a dispor de um instrumento que contribui para a incorporação dos ODS às políticas e prioridades nacionais, mantendo a abrangência e a ambição da proposta da ONU. Dando continuidade aos seus trabalhos para a comissão nacional, o Ipea divulga agora, por meio dos Cadernos ODS, uma série de análises sobre as linhas de base dos indicadores de monitoramento das metas e uma breve avaliação dos principais desafios que o país precisa enfrentar para implementar a Agenda 2030 no período previsto. Neste documento, que ora se divulga, é apresentado um diagnóstico sobre a situação do país em relação ao ODS 11: Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. O trabalho foi elaborado a partir dos indicadores disponí- veis para os anos mais recentes, cuidando-se para informar sobre a sua evolução no período imediatamente anterior à vigência da Agenda 2030. Ademais, destacaram-se políticas pú- blicas relevantes para os resultados observados, buscando, sempre que possível, identificar as lacunas existentes no campo da atuação governamental. Com esta publicação, o Ipea reafirma o seu compromisso com a agenda do desenvol- vimento sustentável em linha com os princípios da prosperidade compartilhada e de não deixar ninguém para trás. Enid Rocha Andrade da Silva Representante do Ipea na Comissão Nacional dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – Segov/PR 5 ODS 11: Tornar as Cidades e os Assentamentos Humanos Inclusivos, Seguros, Resilientes e Sustentáveis 1 INTRODUÇÃO1 Rafael H. M. Pereira2 Vanessa G. Nadalin3 Caio N. Gonçalves4 Igor F. Nascimento5 No ano de 2015, o Brasil assumiu, perante a Organização das Nações Unidas (ONU), o compromisso de canalizar seus esforços de políticas públicas para que o país atinja, até 2030, as metas estabelecidas na Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável. Em conjunto com os dezessete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o objetivo do ODS 11 – Cidades e comunidades sustentáveis – oferece uma agenda de desenvolvimento compartilhada globalmente para “tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis”. Em ocasiões anteriores, o Brasil também participou de esforços semelhantes da ONU, como os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODMs). No caso dos ODMs, no entanto, a questão urbana recebia pouca ênfase e se limitava à questão da inadequação habitacional, muito semelhante à questão dos assentamentos precários (Ipea, 2014). Já no esforço dos ODS, a questão urbana ganhou destaque, conformando um objetivo próprio que articula inúmeras metas relacionadas às questões de habitação, mobilidade urbana, urbanização sustentável, planejamento e gestão urbana e ambiental. Mais recentemente, o Brasil também teve importante atuação nas discussões sobre a Nova Agenda Urbana (NAU), no âmbito da conferência Habitat III, em 2016, em Quito (Costa, Magalhães e Favarão, 2018). Tudo indica que o ODS 11 terá o papel de direcionar, com metas concretas, o processo de implementação dos princípios e das diretrizes da NAU. O Brasil tem um histórico de contribuições às discussões internacionais sobre moradia devido ao Estatuto da Cidade, legislação que se tornou referência internacional e que teve sua origem em movimentos sociais que reivindicam o direito à moradia. A participação social e o direito à cidade constituem elementos-chave da visão dos problemas urbanos na sociedade bra- sileira. Tal visão não se consolidou completamente na NAU da Habitat III e menos ainda no ODS 11. Um ponto com muita ênfase na NAU é o do desenvolvimento urbano sustentável. Houve, no âmbito da ONU, uma aproximação dos temas urbanos às questões ambientais, particularmente relacionadas a ações de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Apesar desta interface aparecer claramente na formulação do ODS 11 e de suas metas, definições objetivas acerca do que seria uma urbanização sustentável ainda não são con- sensuais e tampouco há clareza em relação à formulação de ações focadas em promover e medir essa forma de urbanização. O avanço do Brasil e dos demais países no cumprimento das metas em cada um dos objetivos da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável será avaliado a partir de indicadores de monitoramento da situação dos países em relação a cada meta dos ODS. Ainda,a avaliação relativa ao cumprimento ou não das metas do ODS 11 por determinado 1. Os autores agradecem os comentários de Marco Aurélio Costa. 2. Técnico de planejamento e pesquisa na Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais (Dirur) do Ipea. 3. Técnica de planejamento e pesquisa na Dirur/Ipea. 4. Assistente de pesquisa da Assessoria de Métodos Quantitativos na Dirur/Ipea. 5. Assistente de pesquisa da Assessoria de Métodos Quantitativos na Dirur/Ipea. 6 Cadernos ODS país tomará como referência uma linha de base sobre como aqueles indicadores refletiam as condições de desenvolvimento das cidades no ano de 2016, ou para o último ano anterior para o qual há informações disponíveis. Este documento tem dois objetivos. O primeiro deles é traçar essa linha de base, apre- sentando um diagnóstico das condições de desenvolvimento das cidades brasileiras no ano de 2016. O documento analisa tanto as metas e os indicadores globais do ODS 11 acordados internacionalmente por todos países, quanto as metas e os indicadores nacionais. Essas metas e indicadores nacionais são resultado de um esforço coletivo dos grupos de trabalho coordenados pelo Ipea em colaboração com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para adequar os ODS e seus indicadores à realidade brasileira (Ipea, 2018). Esse esforço buscou dar maior adesão das metas do ODS aos desafios enfrentados nas cidades brasileiras e aprimorar os indicadores de cumprimento das metas, trazendo maior riqueza e desagregação da informação, levando em consideração os dados disponíveis no país. Cabe salientar que os indicadores nacionais considerados neste documento serão objeto de discussões mais amplas, pois ainda estão em desenvolvimento. A decisão sobre a versão definitiva destes indicadores ainda não aconteceu e está sendo liderada pelo IBGE. O segundo objetivo deste documento é apresentar um breve levantamento e uma discussão de alguns dos principais programas e ações governamentais do governo federal que deverão contribuir diretamente para o alcance das metas do ODS 11. O governo federal está atualmen- te envolvido nas discussões do novo ciclo de planejamento governamental plurianual de suas diretrizes e metas, referente aos anos de 2020 a 2023 (Plano Plurianual – PPA 2020-2023). Assim, julga-se pertinente incluir as discussões das políticas referentes ao alcance do ODS 11 nas discussões referentes ao novo PPA. A tabela 1 faz um balanço quantitativo do trabalho de adequação das metas do ODS 11 propostas pela ONU para a realidade brasileira. Todas as dez metas tiveram alguma modifi- cação em sua redação. Estas alterações, bem como suas justificativas, podem ser consul- tadas em relatório publicado anteriormente (Ipea, 2018). Todas as metas globais acordadas na ONU se mostraram pertinentes à realidade brasileira, o que atesta como os desafios de desenvolvimento urbano são em larga medida compartilhados em menor ou maior grau entre diversos países. Entre as dez metas do ODS 11, seis são metas finalísticas (tabela 1), isto é, são metas que buscam especificar ou dimensionar os resultados esperados, incluindo aí as metas 1, 2, 3, 5, 6, 7. As demais metas (4, a, b, c) são consideradas metas de implementa- ção, ou seja, referem-se aos recursos humanos, financeiros, tecnológicos e de governança necessários ao alcance dos resultados esperados do ODS 11. TABELA 1 Resumo da proposta de adequação das metas Total de metas Metas que se aplicam ao Brasil Metas que foram adequadas à realidade nacional Metas finalísticas Metas de implementação Metas criadas 10 10 10 6 4 0 Fonte: Ipea (2018). Na tabela 2, se apresenta o panorama geral dos indicadores de acompanhamento das metas globais e nacionais. Entre os quinze indicadores globais, um número muito pequeno, apenas três, já estão calculados, e outros três indicadores estão em análise e construção (IBGE, 2019). Isso se deve, em larga medida, ao fato de que a maioria dos indicadores glo- bais não tem metodologia definida (quatro indicadores) ou não há dados disponíveis para 7 ODS 11: Tornar as Cidades e os Assentamentos Humanos Inclusivos, Seguros, Resilientes e Sustentáveis cálculo no Brasil (cinco indicadores). O monitoramento de indicadores de desenvolvimento urbano em escala global tem ganhado ímpeto na pauta dos acordos internacionais, mas ainda enfrenta dificuldades, uma vez que, geralmente, as políticas urbanas e a coleta de dados estão sob responsabilidade de entes locais e são feitas de maneira descentralizada. Nota- -se, por exemplo, que os indicadores globais 11.1.1 (acesso à habitação adequada) e 11.5.1 (pessoas afetadas por desastres) são os únicos para os quais há informações prontamente disponíveis no Brasil. O indicador 11.1.1 é o único que, de certa maneira, já estava presente nos ODMs, e trata-se de um indicador que tem recebido atenção no Brasil pelo menos desde a criação do Ministério das Cidades (MCidades), em 2003, e nas discussões concernentes ao Plano Nacional de Habitação, desde 2009. O processo de implementação do Estatuto da Cidade e o desenvolvimento de políticas capitaneadas pelo MCidades, ao ocuparem parte importante da agenda governamental, contribuíram para a disponibilidade de informações sobre a realidade urbana, na escala nacional. TABELA 2 Quadro-resumo dos indicadores globais e nacionais1 Indicadores globais (ONU) Indicadores nacionais Propostos Calculados Propostos do Ipea Calculados 15 3 22 18 Fonte: Ipea (2018). Nota: 1 Ver indicadores globais mensurados em: <www.indicadoresods.ibge.gov.br>. O IBGE é o representante do Brasil no Grupo Inte- ragencial e de Peritos sobre os Indicadores dos ODS, e é responsável pela mensuração dos indicadores globais no Brasil. Ver, no anexo A deste documento, a lista dos indicadores nacionais propostos e os mensurados. A adaptação das metas globais para a realidade nacional permitiu uma flexibilidade maior na proposição de indicadores que, ao mesmo tempo, utilizem os dados prontamente disponíveis no país e tragam maior nível de detalhe e desagregação para as condições de desenvolvimento nas cidades brasileiras. Assim, dos 22 indicadores nacionais propostos, 17 foram calculados e serão apresentados neste documento. Entre os indicadores nacionais já calculados e prontamente disponíveis para a construção da linha de base, destacam-se os referentes à política habitacional, à política nacional de mobilidade urbana, à existência de instâncias participativas no planejamento urbano municipal e metropolitano e ao gerencia- mento de riscos de desastres naturais. Em paralelo, cabe relatar rapidamente a dificuldade em compreender a definição de cidade no contexto brasileiro. O enunciado do ODS 11 menciona comunidades ou assen- tamentos humanos, além de cidades. Assim, ficou acordado que as cidades se referiam aos municípios e às regiões metropolitanas (RMs), titulares oficiais das políticas urbanas às quais o ODS se refere. Ficaram fora desse escopo formas de gestão comunitária existentes em assentamentos humanos, como favelas ou comunidades quilombolas e outras escalas territoriais intramunicipais. Considerando o entendimento prevalecente para o caso brasi- leiro, o ideal seria que os indicadores para as cidades brasileiras fossem desagregados por municípios e RMs, o que nem sempre foi possível. Isto posto, este documento analisa somente as metas globais e nacionais com indicadores que puderam ser calculados pelas equipes do Ipea e do IBGE a partir de dados prontamente disponíveis. As fichas técnicas com metadados dos indicadores nacionais discutidos ao longo do texto são apresentadas no anexo A. Por sua vez, o anexo B traz tabelas com os valores calculados para todos os indicadores, com suas desagregações. O restante do texto está organizado da seguinte forma: a seção 2 elabora o diagnóstico da situação das metas com base nos indicadores disponíveis; a seção 3 aborda programas e políticas existentes relacio- nados ao décimoprimeiro objetivo dos ODS; e a seção 4 resume as principais conclusões deste documento. Os anexos A e B detalham as metas e os indicadores globais e nacionais. 8 Cadernos ODS 2 ODS 11: SITUAÇÃO E INDICADORES DE BASE Meta 11.1 (ONU) – Até 2030, garantir o acesso de todos à habitação segura, adequada e a preço acessível, e aos serviços básicos e urbanizar as favelas. Meta 11.1 (Brasil) – Até 2030, garantir o acesso de todos à moradia digna, adequada e a preço acessível; aos serviços básicos e urbanizar os assentamentos precários de acordo com as metas assumidas no Plano Nacional de Habitação, com especial atenção para grupos em situação de vulnerabilidade. A habitação é um direito humano reconhecido na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e crucial para o bem-estar das pessoas. No contexto da ONU, o conceito de moradia adequada abarca não só a sua estrutura física, mas também outras dimensões que influenciam na manutenção da saúde dos moradores e seu acesso às oportunidades presentes nas cidades. A tabela 3 aponta quais são as dimensões necessárias para que uma moradia seja considerada adequada e indica quais destas dimensões são mensuradas pelo indicador global 11.1.1, que busca medir a proporção de população urbana vivendo em domicílios inadequados. TABELA 3 Dimensões de habitação inadequada propostas pela ONU Mensuradas no indicador global 11.1.1 Abastecimento de água x Esgotamento sanitário x Tamanho adequado x Segurança física e estrutural x Segurança da posse x Ônus excessivo de aluguel x Localização - Acessibilidade - Adequação cultural - Fonte: Metadados do indicador global 11.1.1. Disponível em: <https://unstats.un.org/sdgs/metadata/>. O indicador global 11.1.1 cobre as dimensões de: abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de lixo, densidade de moradores por cômodos servindo como dormitório, ônus excessivo de aluguel no orçamento familiar e condição de domicílio subnormal – o IBGE classifica um domicílio como subnormal se não há regularidade na posse do imóvel e se ele possui carência de serviços ou apresenta irregularidade no desenho urbano do seu entorno.6 O gráfico 1 aponta que, em 2010, 41% da população urbana do país vivia em domicílios inadequados. Segundo a metodologia do indicador global, o domicílio é conside- rado inadequado se ele apresenta deficiência em pelo menos um componente do indicador. O gráfico 1 ilustra ainda como este é um problema com diferenciação marcante nas Unidades da Federação (UFs), com estados das regiões Norte e Nordeste sendo mais amplamente atingidos que os estados do Sul e Sudeste. 6. Ver metadados. Disponível em: <https://bit.ly/2Ks1lA4>. 9 ODS 11: Tornar as Cidades e os Assentamentos Humanos Inclusivos, Seguros, Resilientes e Sustentáveis GRÁFICO 1 Indicador nacional BR 11.1.1: proporção da população urbana vivendo em domicílios inadequados – Brasil e UFs (2010) (Em %) 0 20 40 60 80 100 M in as G er ai s S ão P au lo D is tri to F ed er al S an ta C at ar in a Es pí rit o S an to R io G ra nd e do S ul P ar an á R io d e Ja ne iro B ra si l S er gi pe P ar aí ba B ah ia P er na m bu co R io G ra nd e do N or te G oi ás R or ai m a C ea rá M at o G ro ss o do S ul M at o G ro ss o P ia uí To ca nt in s Al ag oa s Am az on as M ar an hã o Ac re P ar á R on dô ni a Am ap á Fonte: IBGE. Disponível em: <https://bit.ly/2Ks1lA4>. Por razões de disponibilidade de informações e metodológicas, foram propostos indi- cadores nacionais que apresentam de maneira desagregada os componentes do indicador global. O gráfico 2 mostra o indicador nacional BR 11.1.1: Proporção da população urbana vivendo em domicílios com ônus excessivo de aluguel no orçamento familiar. Para o cálcu- lo, foram utilizadas as informações da primeira visita da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua). A primeira versão da PNAD Contínua com informa- ções sobre os domicílios é de 2016, e a mais recente de 2017. Este é um indicador de alta incidência: 28,5% da população brasileira que vive em domicílios alugados gasta mais que 30% da renda familiar com o aluguel (19% da população vivia em aluguel em 2017). Neste indicador, a diferença entre estados é menos marcada. O ônus excessivo de aluguel vem aumentando nos últimos anos e contribuindo para o crescimento do número de domicílios inadequados no país. Na primeira década dos anos 2000, houve um boom no mercado imobiliário brasileiro, resultando em alta nos valores dos aluguéis. Na década seguinte, houve desaquecimento econômico, com aumento do desem- prego. O mercado imobiliário, no entanto, costuma diminuir mais lentamente seus preços em períodos de retração econômica, o que explica o aumento da proporção do aluguel na renda familiar. Mais recentemente, os dados da PNAD apontam que o ônus com aluguel no Brasil cresceu de 23,2% para 30,8% no período 2011-2015.7 O gráfico 3 ilustra o crescimento anual médio do ônus excessivo de aluguel, entre 2011 e 2015. 7. O valor de ônus com aluguel estimado com a PNAD 2015 não é comparável com o valor calculado a partir da PNAD Contínua 2017, pois as metodologias de ambas as pesquisas não são comparáveis. 10 Cadernos ODS GRÁFICO 2 Indicador nacional BR 11.1.1: proporção da população urbana vivendo em domicílios com ônus excessivo de aluguel no orçamento familiar – Brasil e UFs (2017) (Em %) Fonte: IBGE (2017b). Obs.: Gráfico cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e revisados em virtude das condições técnicas dos originais (nota do Editorial). GRÁFICO 3 Crescimento anual médio da proporção da população urbana vivendo em domicílios com ônus excessivo de aluguel no orçamento familiar – Brasil e UFs (2011-2015) (Em %) 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 Am az on as Pi au í To ca nt in s R io G ra nd e do S ul M at o G ro ss o do S ul R io G ra nd e do N or te R on dô ni a Es pí rit o S an to B ah ia Al ag oa s M at o G ro ss o Pe rn am bu co D is tri to F ed er al G oi ás Pa ra íb a B ra si l Pa rá M ar an hã o S ão P au lo M in as G er ai s Ac re R or ai m a Pa ra ná S an ta C at ar in a R io d e Ja ne iro C ea rá Am ap á S er gi pe Fontes: PNADs séries históricas (2011 a 2015). Disponíveis em: <https://bit.ly/2PDNpSM>. 11 ODS 11: Tornar as Cidades e os Assentamentos Humanos Inclusivos, Seguros, Resilientes e Sustentáveis No indicador nacional BR 11.1.2 – Proporção da população urbana vivendo em domicílios precários –, foram consideradas apenas as dimensões de água, esgotamento sanitário, den- sidade de moradores por dormitório e coleta de lixo. Aqueles domicílios que não satisfazem pelo menos uma dessas dimensões são denominados de domicílios precários.8,9 O gráfico 4 indica como a amplitude da incidência desse indicador desagregado por UF é grande (varia de 9,8% a 90,8%) e a questão regional salta aos olhos. Como os estados mais populosos do Sudeste apresentam os índices mais baixos, grande parte das UFs está acima da média nacional (31,8%). Neste grupo, predominam estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Santa Catarina é a exceção, apresentando valor de 37,2%. Destacamos o grupo Piauí, Pará, Rondônia e Amapá, com valores próximos a 90% da população vivendo em domicílios precários. GRÁFICO 4 Indicador nacional BR 11.1.2: proporção da população urbana vivendo em domicílios precários – Brasil e UFs (2017) (Em %) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 M in as G er ai s S ão P au lo D is tri to F ed er al Es pí rit o S an to R io d e Ja ne iro Pa ra ná R io G ra nd e do S ul B ra si l B ah ia S er gi pe S an ta C at ar in a Pe rn am bu co Pa ra íb a G oi ás C ea rá Al ag oa s M at o G ro ss o do S ul To ca nt in s Am az on as M at o G ro ss o R io G ra nde do N or te R or ai m a Ac re M ar an hã o Pi au í Pa rá R on dô ni a Am ap á Fonte: IBGE (2017b). Obs.: Consideradas as dimensões abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de lixo e densidade de moradores por cômodos servindo como dormitório. Para compreender melhor como os dois indicadores nacionais (BR 11.1.1 e BR 11.1.2) se sobrepõem, o gráfico 5 mostra o comportamento da dimensão de capacidade de pa- gamento para os domicílios que não são precários. Mostramos a proporção de pessoas vivendo em domicílios com alguma das quatro dimensões de precariedade (água, esgo- tamento sanitário, lixo ou tamanho) e aquelas vivendo em domicílios que não apresentam nenhuma dessas dimensões inadequadas, mas que apresentam ônus excessivo com o aluguel. O gráfico 5 deixa claro como a sobreposição entre os dois fenômenos é pequena. 8. Ver tabela de metadados no anexo B. 9. No que diz respeito ao esgotamento sanitário, cabe destacar uma importante diferença metodológica entre a meto- dologia global e a nacional para se classificar se o esgotamento sanitário do domicílio pode ser considerado adequado. Segundo a definição do indicador global, o esgotamento sanitário é adequado quando o domicílio está ligado à rede coletora ou possui fossa séptica. No entanto, em áreas urbanas, cada vez mais densas, para que o esgotamento sa- nitário seja adequado, é necessário que também as fossas estejam ligadas à rede. Isso é particularmente importante porque a ligação com a rede coletora é necessária para que o esgoto seja coletado e tratado adequadamente. Essa questão é destacada como a nova meta nacional 6.2 do ODS para o Brasil. Para adequar esta questão à realidade brasileira, o indicador nacional BR 11.1.2 considera esgotamento sanitário adequado aquele ligado à rede. 12 Cadernos ODS A proporção de população urbana vivendo em domicílios com ônus excessivo por aluguel, mas sem alguma precariedade é 21%. Lembrando que o valor do indicador de ônus com aluguel para 2017 é de 28,6%, e o de precariedade é 31,8%. Ou seja, apenas 7,6% dos domicílios com ônus também possuem algum tipo de precariedade. À exceção da região Sudeste, onde o ônus por excesso do aluguel é mais expressivo, todas as regiões apresentam maior incidência do problema de serviços urbanos e tamanho adequados em comparação à capacidade de pagamento. GRÁFICO 5 Proporção de população urbana vivendo em domicílios precários e domicílios com ônus excessivo de aluguel sem precariedade – Brasil e Grandes Regiões (2017) (Em %) 80,1 49,4 12,9 28,8 45,5 31,8 6,8 17,4 26,5 17,2 15,3 21,0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Brasil Precariedade Ônus com aluguel, sem precariedade Fonte: IBGE (2017b). Obs.: Consideradas as dimensões: abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de lixo, densidade de moradores por cômodos servindo como dormitório e ônus excessivo de aluguel no orçamento familiar (quando este não é acompanhado de nenhuma das condições anteriores). O gráfico 6 detalha a diferenciação regional de três dimensões do indicador nacional BR 11.1.2 e apresenta de maneira separada a importância relativa de cada componente na precariedade dos domicílios. Salta aos olhos a maior incidência de esgotamento sanitário sem ligação à rede coletora em praticamente todas as regiões. As três dimensões têm maior incidência na região Norte. No Sudeste, a questão da densidade de moradores por cômodo servindo como dormitório é a bastante expressiva, provável influência dos maiores preços e aluguéis dos imóveis nessa região. O gráfico 5 já mostrava que é no Sudeste que o compo- nente de ônus excessivo de aluguel é mais forte. 13 ODS 11: Tornar as Cidades e os Assentamentos Humanos Inclusivos, Seguros, Resilientes e Sustentáveis GRÁFICO 6 Proporção da população urbana vivendo em domicílios sem abastecimento de água, esgotamento sanitário e tamanho adequados – Brasil e Grandes Regiões (2017) (Em %) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Brasil Água Densidade por dormitório Esgotamento sanitário Fonte: IBGE (2017b). GRÁFICO 7 Indicador BR 11.1.3: proporção da população urbana vivendo em aglomerados subnormais – Brasil e UFs (2010) (Em %) Fonte: IBGE (2010). Tabelas 1425 e 1378. Obs.: Gráfico cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e revisados em virtude das condições técnicas dos originais (nota do Editorial). 14 Cadernos ODS Por fim, a informação sobre aglomerados subnormais pôde ser mensurada para 2010 com base nos dados censitários coletados em todo o território nacional (gráfico 7). A natureza do problema urbano nas favelas, e do suprimento de infraestrutura nesses assentamen- tos, é diferenciada das demais áreas, sendo mais desafiadora. Também é uma questão de incidência alta (7,1% da população urbana do país) e de grandes disparidades regionais, destacando-se a região Norte e os estados do Rio de Janeiro e Pernambuco. Meta 11.2 (ONU) – Até 2030, proporcionar o acesso a sistemas de transporte seguros, acessíveis, sustentáveis e a preço acessível para todos, melhorando a segurança ro- doviária por meio da expansão dos transportes públicos, com especial atenção para as necessidades das pessoas em situação de vulnerabilidade, mulheres, crianças, pessoas com deficiência e idosos. Meta 11.2 (Brasil) – Até 2030, melhorar a segurança viária e o acesso à cidade por meio de sistemas de mobilidade urbana mais sustentáveis, inclusivos, eficientes e justos, priorizando o transporte público de massa e o transporte ativo, com especial atenção para as necessidades das pessoas em situação de vulnerabilidade, como aquelas com deficiência e com mobilidade reduzida, mulheres, crianças e pessoas idosas. A meta 11.2 ressalta o papel das políticas de transporte e mobilidade urbana como peça-chave para promoção de cidades mais seguras, socialmente mais inclusivas e am- bientalmente mais sustentáveis. O indicador global (indicador 11.2.1) de acompanhamento desta meta busca medir a: Proporção de população que tem acesso adequado a transporte público, por sexo, idade e pessoas com deficiência. Segundo os metadados dos indicado- res globais,10 o acesso ao transporte público pode ser considerado adequado quando uma parada ou estação está a uma distância de 0,5 km de um ponto de referência, por exemplo, a casa da pessoa; quando essa parada/estação é segura, quando os serviços são frequen- tes e acessíveis para pessoas com deficiência, pessoas idosas e crianças. Um dos desafios para mensuração deste indicador é a falta de dados disponíveis. Essas informações sobre localização de paradas e estações de transporte não são coletadas de maneira sistemática pela grande maioria das cidades no Brasil, e mesmo as cidades que levantam esse tipo de informação não necessariamente compartilham seus dados abertamente. Além disso, trata-se de um único indicador que não consegue sozinho abarcar as diversas questões de mobilidade urbana que são suscitadas por uma meta tão abrangente. Foram então propostos quatro indicadores nacionais para lidar com essas diferentes questões. O indicador nacional BR 11.2.1 é a: Proporção da população vivendo próxima (num raio de 1 km) a terminais e estações de transporte de média e alta capacidade. Esse indicador é o que mais se aproxima do indicador global 11.2.1, trazendo alguma informação sobre a proximidade da população ao sistema de transporte público. No entanto, esta proposta de indicador nacional foca-se apenas nos corredores de média e alta capacidade, para os quais se tem dados mais facilmente disponíveis no país. Esse indicador foi calculado pelo MCida- des (Brasil, 2018) para 2010, utilizando informações de população do Censo Demográfico 2010/IBGE e informações de geolocalização dos corredores de transporte fornecidas pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP). O gráfico 8 apresenta este indicador para as sete RMs que, em 2010,possuíam ao menos um corredor de transporte de média e alta capacidade, conforme os padrões estabelecidos nos metadados. 10. Disponíveis em: <https://unstats.un.org/sdgs/metadata/>. 15 ODS 11: Tornar as Cidades e os Assentamentos Humanos Inclusivos, Seguros, Resilientes e Sustentáveis GRÁFICO 8 Indicador nacional BR 11.2.1: proporção da população vivendo num raio de 1 km a ter- minais e estações de transporte de média e alta capacidade – RMs (2010) (Em %) Fonte: Brasil (2018). Obs.: Gráfico cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e revisados em virtude das condições técnicas dos originais (nota do Editorial). Na RM de Belo Horizonte, por exemplo, apenas 8% da população residia a menos de 1 km de estações de transporte de média/alta capacidade. Esse indicador chegava a mais de 20% em áreas metropolitanas como Porto Alegre, Curitiba e Rio de Janeiro. Pode-se esperar grande avanço neste indicador quando sua estimativa for atualizada com os dados do Censo Demográfico 2020. Isso se deverá, em parte, aos significativos investimentos em transporte de média e alta capacidade realizados nos últimos anos, particularmente em Salvador, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo. Cabe observar, no entanto, que o desafio para avanço deste indicador diz respeito não somente à expansão de capilaridade de infraestrutura de transporte, mas também à maior integração entre políticas de transporte e uso do solo que estimulem adensamento urbano ao longo desses corredores de transporte. Outro indicador nacional (BR 11.2.2) é o: Percentual de viagens feitas por meio de transporte público, a pé ou de bicicleta. Este indicador busca captar a proporção de viagens feitas em meios de transporte que sejam ambientalmente mais sustentáveis. Atualmente, não existe no Brasil uma pesquisa regular com uma metodologia consistente e de cobertura nacional que levante informações sobre distribuição de modos de viagem. Há a possibilidade de que essa informação seja coletada na próxima edição do censo demográfico, em 2020. A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) conduzida pelo IBGE, no entanto, permite estimar qual a proporção de pessoas que fazem o deslocamento casa-trabalho utilizando modos de transporte ativo (a pé ou de bicicleta). Uma nova edição da pesquisa está planejada para ir a campo em 2019, e o dado mais recente disponível é para 2013. Em 2013, cerca de 24% de todos os deslocamentos casa-trabalho nas cidades do país eram realizados com algum modo ativo de transporte, observando-se ainda grande heterogeneidade entre os estados brasileiros (gráfico 9). Um dos desafios nessa meta do ODS será justamente 16 Cadernos ODS implementar medidas concretas que incentivem o aumento da participação do transporte ativo nas cidades brasileiras. Políticas de suporte à mobilidade a pé e de bicicleta devem ter papel de destaque no ODS 11, uma vez que esses meios de transporte, ao mesmo tempo, trazem ganhos ambientais e de saúde, por serem mais sustentáveis, e ganhos sociais, por serem mais intensamente utilizados pela população de baixa renda como alternativa mais financeiramente acessível. Nesse tema, o Brasil ainda terá o desafio de adotar medidas que possibilitem mensurar a participação do transporte público nas cidades brasileiras. GRÁFICO 9 Indicador nacional BR 11.2.2: proporção de deslocamentos casa-trabalho realizados a pé ou de bicicleta em áreas urbanas – Brasil (2013) (Em %) Fonte: IBGE (2014b). Obs.: Gráfico cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e revisados em virtude das condições técnicas dos originais (nota do Editorial). O terceiro indicador nacional (BR 11.2.3) é a: Proporção do orçamento familiar com- prometido com transporte público. Este indicador busca refletir em que medida os serviços de transporte público são financeiramente acessíveis à população. O indicador pode ser calculado a partir dos dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE. A edição mais recente da pesquisa (2017-2018) ainda não foi publicada, e os dados mais recentes disponíveis são da edição de 2008-2009 da POF (IBGE, 2011). Nessa pesquisa, os dados apontam que, em 2008-2009, as famílias que utilizavam transporte público nas cidades brasileiras comprometiam em média cerca de 9% da renda domiciliar com transporte pú- blico. Os gráficos 10 e 11 mostram ainda como o comprometimento da renda das famílias com transporte público varia significativamente entre as UFs e mesmo entre as principais RMs do país. Alguns desafios nessa área incluem repensar mecanismos de financiamento do transporte público para torná-lo mais barato, e adotar políticas que estimulem o aumento desse transporte, particularmente nas médias e grandes cidades, sem que isso comprometa significativamente o orçamento das famílias. 17 ODS 11: Tornar as Cidades e os Assentamentos Humanos Inclusivos, Seguros, Resilientes e Sustentáveis GRÁFICO 10 Indicador nacional BR 11.2.3: proporção do orçamento familiar comprometido com transporte público nas áreas urbanas – Brasil e UFs (2008-2009) (Em %) Fonte: IBGE (2011). Obs.: Gráfico cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e revisados em virtude das condições técnicas dos originais (nota do Editorial). GRÁFICO 11 Indicador nacional BR 11.2.3: proporção do orçamento familiar comprometido com transporte público – Brasil e RMs (2007-2008) (Em %) Fonte: IBGE (2011). Obs.: Gráfico cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e revisados em virtude das condições técnicas dos originais (nota do Editorial). 18 Cadernos ODS Finalmente, o quarto indicador nacional (BR 11.2.4) para acompanhamento desta meta é a: Taxa de óbitos em acidentes de trânsito por 100 mil habitantes nas áreas urbanas. Este indicador é muito semelhante ao indicador global do ODS 3 (3.6.1) de: Taxa de mortalidade por acidentes de trânsito; com a diferença de que o indicador global do ODS 3.6.1 se foca em acidentes nas estradas e rodovias, enquanto o indicador nacional BR 11.2.4 se foca somente nos acidentes em áreas urbanas. O principal desafio para mensuração destes indicadores, no entanto, é que os dados dos registros de óbito do Ministério da Saúde (MS), que estão publicamente disponíveis pelo Datasus, não trazem informação se o acidente ocorreu em área urbana ou não. É possível que uma análise mais detalhada dos dados sigilosos de loca- lização dos registros de óbito permita que se faça noutra oportunidade uma estimativa mais precisa desses indicadores. Meta 11.3 (ONU) – Até 2030, aumentar a urbanização inclusiva e sustentável, e as ca- pacidades para o planejamento e gestão de assentamentos humanos participativos, integrados e sustentáveis, em todos os países. Meta 11.3 (Brasil) – Até 2030, aumentar a urbanização inclusiva e sustentável, aprimorar as capacidades para o planejamento, para o controle social e para a gestão partici- pativa, integrada e sustentável dos assentamentos humanos, em todas as Unidades da Federação. A meta nacional 11.3 não muda a essência da meta global, mas busca dar destaque à participação no planejamento e na gestão das políticas voltadas para urbanização sustentá- vel. Como comentado anteriormente, não há consenso sobre como mensurar a urbanização sustentável. No contexto global, a preocupação parece estar centrada no espraiamento urbano, ou seja, cidades com grandes extensões territoriais e com baixa densidade, cujas características tendem a aumentar a dependência de transporte individual motorizado e os custos de construção de redes de infraestrutura e prestação de serviços públicos. Essa no- ção de sustentabilidade urbana sugere que, se as áreas urbanas já construídas fossem mais intensamente ocupadas/adensadas, as cidades seriam mais compactas e os deslocamentos menores e menos poluentes. O indicador global 11.3.1 busca parcialmente captar essa questão ao medir a: Razão da taxa de consumo do solo pela taxa de crescimento da população. Este indicador compara o crescimento das áreasurbanizadas em relação ao crescimento populacional nessas áreas. Um crescimento urbano espraiado seria aquele em que há um aumento da área urbanizada maior que o aumento da população, indicando um uso não eficiente da infraestrutura urba- na. Apesar da falta de informações prontamente disponíveis para mais cidades, a tabela 4 apresenta uma estimativa aproximada do indicador global 11.3.1 apenas para as oito cidades brasileiras de diferentes portes populacionais que são monitoradas pelo projeto Atlas da Expansão Urbana (Angel et al., 2012).11 Esses dados indicam que, entre as cidades de maior porte, Florianópolis seria aquela em que a área urbanizada cresceu mais que a população (indicador maior que 1). De fato, a densidade média desta cidade caiu de 36,1 para 33,6 habitantes por hectare. Outra informação importante é a necessidade de se considerar a hierarquia de cidades na análise. Jequié e Ilhéus, que são cidades de menor porte e posição inferior na hierarquia, perderam população no período analisado, apesar de terem ganhado mais área urbanizada. Este fato sugere que estas cidades não estariam utilizando de maneira eficiente sua área urbanizada já consolidada. 11. Este projeto monitorou imagens de satélite de duzentas cidades a partir de uma amostra estratificada de todas as cidades do mundo e produziu as informações sobre consumo do solo e crescimento da população necessárias para o cálculo do indicador global 11.3.1. Dados disponíveis em: <http://www.atlasofurbanexpansion.org/data>. Acesso em: 12 fev. 2019. 19 ODS 11: Tornar as Cidades e os Assentamentos Humanos Inclusivos, Seguros, Resilientes e Sustentáveis TABELA 4 Razão da taxa de consumo do solo pela taxa de crescimento da população – Brasil, cidades selecionadas (2000-2014) População na área urbanizada (milhares) Área urbanizada (ha) T1 T2 T1 T2 Crescimento anual (%) A T1 T2 Crescimento anual (%) B B/A Belo Horizonte 2000 2013 3,480 4,038 1,15 57,852 64,552 0,85 0,74 Curitiba 2000 2014 2,106 2,728 1,92 49,222 64,027 1,95 1,02 Florianópolis 2000 2014 375 533 2,57 10,375 15,850 3,1 1,21 Ilhéus 2001 2013 121 98 -1,68 1,845 2,083 0,97 -0,57 Jequié 2001 2014 131 128 -0,18 2,930 3,470 1,3 -7,35 Palmas 2000 2013 88 155 4,28 4,810 6,172 1,89 0,44 Ribeirão Preto 2001 2014 468 607 2 11,931 15,044 1,78 0,89 São Paulo 2000 2014 16,866 19,609 1,06 194,990 211,908 0,58 0,55 Fonte: Atlas of Urban Expansion. Disponível em: <http://www.atlasofurbanexpansion.org/data>. O indicador global 11.3.2 busca captar a: Proporção de cidades com uma estrutura de participação direta da sociedade civil no planejamento e gestão urbana que opera de forma regular e democrática. Este indicador global ainda não foi medido e, segundo os metada- dos da ONU, ele deverá ser medido por meio de um questionário qualitativo de pesquisa de opinião e respondido por cinco experts locais, que atestarão não somente a existência de estruturas de participação, mas também se há participação efetiva. GRÁFICO 12 Indicador nacional BR 11.3.1: percentual de municípios com plano diretor participativo – Brasil e UFs (2015) (Em %) Fonte: IBGE (2015). Obs.: Gráfico cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e revisados em virtude das condições técnicas dos originais (nota do Editorial). 20 Cadernos ODS Como alternativa, foram propostos três indicadores nacionais para captar essa dimen- são a partir dos dados prontamente disponíveis no Brasil utilizando-se as informações da Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic) do IBGE. Os indicadores nacionais BR 11.3.1, 11.3.2 e 11.3.3 indicam, respectivamente, a proporção de municípios que possuem planos diretores participativos, conselhos ou fóruns municipais, e que realizam orçamento participativo (gráficos 12, 13 e 14). Diferentemente do indicador global, estes indicadores nacionais são puramente quantitativos e atestam a existência de estruturas de participação dos cidadãos no processo do planejamento e da gestão das cidades, sem informação mais detalhada sobre a qualidade e efetividade dessa participação. O gráfico 12 mostra que, em 2015, apenas metade dos municípios do Brasil tinha plano diretor participativo, e que essa proporção varia substancialmente entre as UFs. Já a presença de conselhos e fóruns municipais setoriais alcança ampla cobertura (gráfico 13). Cerca de 92% dos municípios brasileiros possuíam, em 2017, ao menos um conselho mu- nicipal de habitação, transporte ou de desenvolvimento rural e meio ambiente. No entanto, cabe mais uma vez salientar que isto não significa necessariamente que os cidadãos tenham de fato ingerência sobre os processos de planejamento e gestão das cidades. GRÁFICO 13 Indicador nacional BR 11.3.2: percentual de municípios com conselhos municipais e fóruns municipais setoriais¹ – Brasil e UFs (2017) (Em %) Fonte: IBGE (2017a). Nota: ¹ Considerando a presença de ao menos um conselho de habitação, transporte ou de meio ambiente. Obs.: Gráfico cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e revisados em virtude das condições técnicas dos originais (nota do Editorial). Outro importante instrumento para participação social é a realização de orçamento participativo, que dá poder de decisão para os habitantes sobre a alocação de parte do or- çamento do município. O gráfico 14 mostra, no entanto, que esse instrumento é utilizado em parcela muito pequena dos municípios. Em 2014, menos de 1% dos municípios brasileiros tinham orçamento participativo e várias UFs não tinham sequer um município que adotasse esse instrumento. 21 ODS 11: Tornar as Cidades e os Assentamentos Humanos Inclusivos, Seguros, Resilientes e Sustentáveis GRÁFICO 14 Indicador nacional BR 11.3.3: percentual de municípios que fazem orçamento participativo – Brasil e UFs (2014) (Em %) Fonte: IBGE (2014a). Obs.: Gráfico cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e revisados em virtude das condições técnicas dos originais (nota do Editorial). Meta 11.4 (ONU) – Fortalecer esforços para proteger e salvaguardar o patrimônio cul- tural e natural do mundo. Meta 11.4 (Brasil) – Fortalecer as iniciativas para proteger e salvaguardar o patrimônio natural e cultural do Brasil, incluindo seu patrimônio material e imaterial. No enunciado da meta 11.4, é expresso o reconhecimento da interdependência entre a proteção ao patrimônio natural e cultural e o curso que se dá ao ordenamento do território urbano. Várias cidades brasileiras buscam preservar o patrimônio histórico dos seus cen- tros urbanos, algo que depende de investimentos para manter o espaço público e os sítios históricos em boas condições. Nesta meta, o indicador global 11.4.1 visa medir o: Total da despesa (pública e privada) per capita gasta na preservação, proteção e conservação de todo o patrimônio cultural e natural, por tipo de patrimônio (cultural, natural, misto e por designação do Centro do Patrimônio Mundial), nível de governo (nacional, regional e local), tipo de despesa (despesas correntes/de investimento) e tipo de financiamento privado (do- ações em espécie, setor privado sem fins lucrativos e patrocínios). Trata-se de um indicador que a ONU reconhece como Tier III, ou seja, um indicador para o qual não há dados nem metodologia para sua mensuração. O indicador nacional proposto busca complementar o indicador global e limita-se a captar a presença de conselho municipal de cultura e patrimônio histórico. Em 2012, menos de um terço dos municípios brasileiros (32%) possuíam conselho municipal de cultura ou patrimônio histórico (gráfico 15). Ressalta-se, ainda, que a presença desses conselhos por si só pode não ser suficiente para promover a proteção deste tipo de patrimônio. Além disso, seria interessante ponderar a despesa gasta na preservação, proteção e conservação pelo volume de patrimônio existente em cada cidade. 22 Cadernos ODS GRÁFICO 15 Indicador nacional BR 11.4.1: percentual de municípios com conselho municipal de cultura e patrimônio histórico– Brasil e UFs (2012) (Em %) Fonte: IBGE (2012). Obs.: Gráfico cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e revisados em virtude das condições técnicas dos originais (nota do Editorial). Meta 11.5 (ONU) – Até 2030, reduzir significativamente o número de mortes e o número de pessoas afetadas por catástrofes e substancialmente diminuir as perdas econômi- cas diretas causadas por elas em relação ao produto interno bruto global, incluindo os desastres relacionados à água, com o foco em proteger os pobres e as pessoas em situação de vulnerabilidade. Meta 11.5 (Brasil) – Até 2030, reduzir significativamente o número de mortes e o número de pessoas afetadas por desastres naturais de origem hidrometeorológica e climatoló- gica, bem como diminuir substancialmente o número de pessoas residentes em áreas de risco e as perdas econômicas diretas causadas por esses desastres em relação ao produto interno bruto, com especial atenção na proteção de pessoas de baixa renda e em situação de vulnerabilidade. O indicador global estabelecido pela ONU (11.5.1) é o: Número de mortes, pessoas desaparecidas e pessoas diretamente afetadas atribuído a desastres por 100 mil habitan- tes. Este indicador é anualmente calculado pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil. Como se pode notar no gráfico 16, este é um indicador um tanto volátil e que, no curto prazo, pode apresentar grandes oscilações devido a eventos extremos. Esse foi o caso, por exemplo, dos estados do Acre e do Amazonas, onde foram registradas, em 2015, enchentes históricas devido a cheias em alguns dos principais rios destes estados. Ao todo, no Brasil, o número de pessoas mortas, desaparecidas ou afetadas por desastres em 2015 e 2017 foi, respectivamente, de 333,7 e 232,7 mortes para cada 100 mil habitantes. 23 ODS 11: Tornar as Cidades e os Assentamentos Humanos Inclusivos, Seguros, Resilientes e Sustentáveis GRÁFICO 16 Indicador global 11.5.1: número de mortes, pessoas desaparecidas e pessoas direta- mente afetadas atribuído a desastres por 100 mil habitantes – Brasil e UFs (2015 e 2017) Fonte: Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil. IBGE. Disponível em: <https://bit.ly/2D7Zqe2>. Obs.: Gráfico cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e revisados em virtude das condições técnicas dos originais (nota do Editorial). O segundo indicador global proposto pela ONU (indicador 11.5.2) busca medir as: Perdas econômicas diretas em relação ao PIB, incluindo danos causados por desastres em infraestruturas críticas e na interrupção de serviços básicos. Este indicador ainda não pode ser calculado devido à indisponibilidade de dados. GRÁFICO 17 Indicador nacional BR 11.5.1: proporção da população brasileira residente em áreas de risco – Brasil e UFs (2010) (Em %) Fonte: IBGE. Disponível em: <https://bit.ly/2Ks1lA4>. Obs.: Gráfico cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e revisados em virtude das condições técnicas dos originais (nota do Editorial). 24 Cadernos ODS Um novo indicador nacional proposto (BR 11.5.1) visa acompanhar a proporção da população brasileira residente em áreas de risco, isto é, áreas suscetíveis à ocorrência de desastres naturais associados à ocupação de encostas íngremes, topos de morros e mar- gens de corpos d’água. Esse indicador foi calculado pelas equipes do IBGE e do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), a partir dos dados do Censo Demográfico 2010 (IBGE, 2018) e considerando as informações de áreas de risco de 872 municípios monitorados pelo Cemaden. Em 2010, cerca de 3,7% da população nas áreas monitoradas do Brasil residia em áreas de risco. Essa proporção, no entanto, alcançava níveis substancialmente maiores em alguns estados, chegando a aproximadamente 12% e 14% em Santa Catarina e Espírito Santo (gráfico 17). Outro indicador nacional proposto (BR 11.5.2) registra o número de óbitos provocados por desastres. Comparado ao indicador global 11.5.1, esse indicador nacional foca-se apenas nos casos de óbitos, desconsiderando o número de pessoas desaparecidas ou afetadas por desastres. Segundo os dados do Ministério da Saúde, foram 73 os casos de óbito causados por desastres em todo o Brasil em 2016 (tabela 5). TABELA 5 Indicador nacional BR 11.5.2: número de óbitos atribuído a desastres¹ – Brasil e UFs (2014-2016) Unidade da Federação Ano 2014 2015 2016 Rondônia 1 - - Amazonas - - 4 Pará 4 5 1 Amapá - - 2 Maranhão 2 1 2 Piauí - 2 - Ceará 1 1 1 Rio Grande do Norte 1 2 1 Pernambuco 2 1 - Bahia 3 3 6 Minas Gerais 9 25 11 Espírito Santo 1 - 1 Rio de Janeiro 1 - 11 São Paulo 10 14 25 Paraná 8 2 - Santa Catarina 4 4 4 Rio Grande do Sul 2 1 - Mato Grosso 1 1 2 Goiás 6 1 2 Distrito Federal - 1 - Total 56 64 73 Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM)/MS. Disponível em: <http://svs.aids.gov.br/dantps/cgiae/sim/>. Nota: ¹ Foram considerados óbitos com as seguintes classificações do CID-10: X36 - vítima de avalanche, desabamento de terra e outros movimentos da superfície terrestre; X37 - vítima de tempestade cataclísmica; e X38 - vítima de inundação. 25 ODS 11: Tornar as Cidades e os Assentamentos Humanos Inclusivos, Seguros, Resilientes e Sustentáveis Por fim, foi proposto ainda um terceiro indicador nacional (BR 11.5.3) que traz informação sobre o: Percentual da população que recebe alerta de risco de desastres elaborado pelo MCTIC ou via SMS pela Defesa Civil. Este é um indicador cuja fonte de dados são registros administrativos, mas que não estavam publicamente disponíveis até a data de redação deste caderno, mas deverá estar disponível em breve. Cabe destacar que, assim como o indicador 11.5.1 sobre proporção de pessoas em áreas de risco, o indicador 11.5.3 busca refletir os esforços das políticas nacionais e locais para prevenção e mitigação de desastres. O avanço nessa meta precisa considerar uma sé- rie de políticas e ações que envolvam tanto projetos de mitigação de risco em áreas críticas quanto políticas de prevenção de novas ocupações em áreas de risco, bem como a remoção e o reassentamento da população que atualmente vivem em áreas de risco quando a sua permanência for inviável. Meta 11.6 (ONU) – Até 2030, reduzir o impacto ambiental negativo per capita das ci- dades, inclusive prestando especial atenção à qualidade do ar, gestão de resíduos municipais e outros. Meta 11.6 (Brasil) – Até 2030, reduzir o impacto ambiental negativo per capita das cida- des, melhorando os índices de qualidade do ar e a gestão de resíduos sólidos; e garantir que todas as cidades com acima de 500 mil habitantes tenham implementado sistemas de monitoramento de qualidade do ar e planos de gerenciamento de resíduos sólidos. Essa meta foca-se em duas questões ambientais nas cidades, a qualidade do ar e a ges- tão de resíduos sólidos. No que se refere especificamente à questão dos resíduos sólidos, o indicador global (11.6.1) busca medir a: Proporção de resíduos sólidos urbanos regularmente coletados e com destino final adequado no total de resíduos sólidos urbanos gerados por cidades. Não há dados oficiais prontamente disponíveis para medir o indicador de maneira completa, captando, por exemplo, o tipo de destinação dos resíduos sólidos. Uma aproximação com dados não oficiais, no entanto, foi produzida pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) e publicada no seu Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil (Abrelpe, 2017).12 Segundo a Abrelpe, foram geradas 214.868 toneladas di- árias de resíduos sólidos urbanos (RSUs) no país no ano de 2017. Destes, 91% são coletados e 75% são coletados e destinados a aterro sanitário ou aterro controlado. Ou seja, 16% dos RSUs produzidos são coletados e destinados a lixão. O indicador nacional (BR 11.6.1): Proporção do volume de resíduos sólidos urbanos regularmente coletados e com descarga final adequada sobre o total de resíduos sólidos urbanos gerados utiliza as informações daAbrelpe e é apresentado na última coluna da tabela 6, que também quantifica especificamente a necessidade de avanço na coleta dos RSUs. Mais uma vez, há uma disparidade regional importante, a região Norte apresenta proporção baixa de RSU com destino adequado, além de ter uma baixa cobertura de coleta. A situação também é ruim no Nordeste e no Centro-Oeste. 12. Para mais informações, consulte: <https://bit.ly/2zCTb0a>. Acesso em: 12 fev. 2019. 26 Cadernos ODS TABELA 6 Indicador nacional BR 11.6.1: resíduos sólidos urbanos produzidos, coletados e coletados com destinação adequada (t/dia) – Brasil e Grandes Regiões (2017) Região Volume produzido (A) Volume coletado (B) B/A (%) Volume coletado com destino em aterro sanitário ou aterro controlado (C) C/A (%) Norte 15.634 12.705 81 8.182 52 Nordeste 55.492 43.871 79 29.876 54 Centro-Oeste 15.519 14.406 93 10.783 69 Sudeste 105.794 103.741 98 92.986 88 Sul 22.429 21.327 95 18.855 84 Brasil 214.868 196.050 91 160.682 75 Fonte: Abrelpe (2018). Para complementar o indicador global, foi proposto o indicador nacional BR 11.6.2, que aponta o percentual de municípios com planos municipais de gestão integrada de resíduos só- lidos. Vale destacar o arcabouço da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei no 12.305/2010), que estabelecia que todos lixões deveriam ter sido extintos até 2014 e que todos municípios teriam até 2012 para criar seus planos de gestão de resíduos sólidos. Estes prazos se esgota- ram, mas, mesmo assim, o indicador nacional BR 11.6.2 mostra como em diversos municípios esta meta não se cumpriu (gráfico 18). Em 2017, apenas 55% dos municípios possuíam plano de gestão integrada de resíduos sólidos. Em alguns estados, como Piauí e Bahia, menos de um terço dos municípios tinha algum plano. GRÁFICO 18 Indicador nacional BR 11.6.2: percentual de municípios com planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos – Brasil e UFs (2017) (Em %) Fonte: IBGE (2017a). Obs.: Gráfico cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e revisados em virtude das condições técnicas dos originais (nota do Editorial). 27 ODS 11: Tornar as Cidades e os Assentamentos Humanos Inclusivos, Seguros, Resilientes e Sustentáveis No que se refere especificamente à questão da qualidade do ar, o ODS tem como refe- rência o indicador global 11.6.2: Nível médio anual de partículas inaláveis (ex: com diâmetro inferior a 2,5 µm/m3 e 10 µm/m3) nas cidades (população ponderada). Cabe observar que ainda não há no Brasil um sistema de monitoramento sistemático de dados de qualidade do ar em todas cidades brasileiras. A base de dados sobre a qualidade do ar da Organização Mundial da Saúde (OMS), no entanto, dispõe de informação para apenas quinze cidades brasileiras, concentradas nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo.13 A tabela 7 mostra que a qualidade do ar nas cidades monitoradas pode ser considerada ruim, pois o nível de material particular nessas cidades em geral estava acima da recomendação da OMS, que é de 10 µm/m3 material particulado (MP) 2,5 e de 50 µm/m3 MP 10. Nota-se, no entanto, que houve em geral uma redução no nível de MP 10 entre 2010 e 2015 em praticamente todas as cidades, com exceção de Duque de Caxias. TABELA 7 Indicador global 11.6.2: nível médio anual de partículas inaláveis (ex: com diâmetro in- ferior a 2,5 µm e 10 µm) – cidades brasileiras selecionadas Município MP 2,5 MP 10 Ano Valor1 Ano Valor1 Ano Valor1 Campos dos Goitacazes 2015 9 2010 22 2015 20 Duque de Caxias 2015 16 2010 41 2015 58 Itaboraí 2015 8 2010 46 2015 32 Niterói 2015 9 2011 91 2015 50 Piracicaba 2016 13 2010 38 2016 37 Resende 2015 9 2010 28 2015 27 Rio de Janeiro 2015 11 2010 46 2015 42 Santos 2016 15 2012 38 2016 25 São Bernardo do Campo 2016 17 2010 41 2014 36 São Caetano do Sul 2016 17 2010 39 2014 37 São João de Meriti 2015 12 2013 66 2015 65 São José do Rio Preto 2016 15 2010 33 2016 29 São Paulo 2016 17 2010 37 2016 28 Seropédica 2014 15 2010 34 2014 31 Volta Redonda 2014 14 2010 33 2015 29 Fonte: WHO. Disponível em: <https://www.who.int/airpollution/data/cities/en/>. Acesso em: 12 fev. 2019. Nota: 1 Valor em microgramas de material particulado por metro cúbico. Obs.: Esta base de dados está em conformidade com os metadados do indicador global 11.6.1. Por fim, cabe salientar que, dado que a redação da meta nacional 11.6 explicita a neces- sidade de ampliar o sistema de monitoramento do ar, é necessária a criação de um indicador específico para captar o avanço de ações nesse sentido. No entanto, não há dados pron- tamente disponíveis para a mensuração deste indicador, uma vez que os dados dos órgãos estaduais de meio ambiente são divulgados por estação de monitoramento e não por cidade. 13. Estes dados foram fornecidos para a OMS pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), que consolida as informações oficiais dos órgãos estaduais de meio ambiente. 28 Cadernos ODS Além disso, julgamos necessária uma discussão mais aprofundada com relação ao recorte territorial do indicador, uma vez que municípios menores que 500 mil habitantes que fazem parte de Grandes Regiões metropolitanas e próximas a regiões agrícolas com queimadas também deveriam ser monitorados por compartilhar níveis de poluição do ar semelhantes aos dos demais municípios de sua região. Meta 11.7 (ONU) – Até 2030, proporcionar o acesso universal a espaços públicos se- guros, inclusivos, acessíveis e verdes, particularmente para as mulheres e crianças, pessoas idosas e pessoas com deficiência. Meta 11.7 (Brasil) – Até 2030, proporcionar o acesso universal a espaços públicos seguros, inclusivos, acessíveis e verdes, em particular para as mulheres, crianças e adolescentes, pessoas idosas e pessoas com deficiência, e demais grupos em situação de vulnerabilidade. A redação da meta 11.7 destaca a importância dos espaços públicos na promoção da vida urbana saudável e próspera. A ideia por trás da meta é promover o melhoramento e a construção de novos espaços públicos, incluindo ruas, praças e parques. O primeiro indicador global (11.7.1) visa medir a: Parcela média da área construída das cidades que é espaço aberto para uso público de todos, por sexo, idade e pessoas com deficiência. Por sua vez, o segundo indicador global (11.7.2) deve trazer informações sobre o: Percen- tual de pessoas vítimas de assédio físico ou sexual, por sexo, idade, tipo de deficiência e local de ocorrência, nos últimos doze meses. Conjuntamente, esses indicadores buscam captar tanto a disponibilidade de espaços públicos quanto o grau de segurança destes espaços nas cidades, o que é uma condição necessária para que esses espaços sejam efetivamente acessíveis e utilizáveis pela população. Infelizmente, no entanto, não há dados prontamente disponíveis que permitam medir esses indicadores de maneira direta nas cidades brasileiras. Uma aproximação incompleta para o indicador global 11.7.1, no entanto, pode ser obtida pelos resultados do projeto Atlas da Expansão Urbana (Angel et al., 2012), que é indicado como uma fonte de dados para o indicador global 11.7.1 em seus metadados.14 Esse projeto analisou oito cidades brasileiras de diferentes portes populacionais a partir de imagens de satélite e mapeou suas áreas urbanizadas e áreas de espaços livres. Idealmente, o indicador deveria também considerar a área que ocupam as ruas no total da área urbanizada e incluir também pesquisa de campo para avaliar a qualidade desses espaços, análise que não foi feita pelo projeto Atlas da Expansão Urbana (Angel et al., 2012). A informação quantitativa sem a informação qualitativa não mensura completamente o objeto da meta, pois não há informa- ções sobre se de fato o espaço é público, se é ou não verde, se é de qualidade e se é seguro. A tabela 8 indica que em termos de porcentagem é grande a cobertura da área urba- nizada que foi mantida livre. Mas essa é só a primeira informação para se chegar ao âmago daquilo que o indicador pretende medir.Note-se que, além de uma pesquisa qualitativa, o indicador requer pesquisas nas administrações locais para saber quantos espaços são praças, parques, reservas naturais, clubes privados ou terrenos baldios, por exemplo. De maneira a trazer alguma informação sobre o tema dos espaços públicos para a re- alidade brasileira, os indicadores nacionais propostos no contexto da meta 11.7 propõem a mensuração da quantidade de domicílios cujo entorno possui rampa de acesso nas calça- das (BR 11.7.1) e arborização nas ruas (BR 11.7.2). Estas características estão, em alguma medida, em sintonia com a necessidade de captar a qualidade urbanística das ruas e de tornar as cidades mais inclusivas e com melhor qualidade ambiental. Os dados de presença 14. Disponível em: <https://unstats.un.org/sdgs/metadata/>. Acesso em: 19 fev. 2019. 29 ODS 11: Tornar as Cidades e os Assentamentos Humanos Inclusivos, Seguros, Resilientes e Sustentáveis de rampas e arborização no entorno dos domicílios têm caráter censitário, pois trata-se de informação levantada para todas as faces de quadra nas quais há domicílios particulares no Censo Demográfico 2010/IBGE. TABELA 8 Indicador global 11.7.1: espaços livres urbanizados e área urbanizada – Brasil, cidades selecionadas Município Ano de referência Área dos espaços livres urbanizados (A) Área urbanizada (B) A/B (%) Ano 1 Ano 2 Ano 1 Ano 2 Ano 1 Ano 2 Ano 1 Ano 2 Belo Horizonte 2000 2013 14,8 15,9 57,9 64,6 25,6 24,6 Curitiba 2000 2014 18,1 19,5 49,2 64,0 36,7 30,5 Florianópolis 2000 2014 3,7 5,6 10,4 15,9 35,2 35,6 Ilhéus 2001 2013 595,0 570,0 1,8 2,1 32,3 27,4 Jequié 2001 2014 680,0 959,0 2,9 3,5 23,2 27,6 Palmas 2000 2013 1,6 1,9 4,8 6,2 33,2 31,5 Ribeirão Preto 2001 2014 3,0 4,1 11,9 15,0 25,1 27,4 São Paulo 2000 2014 38,6 39,5 195,0 211,9 19,8 18,6 Fonte: Atlas of Urban Expansion. Disponível em: <http://www.atlasofurbanexpansion.org/data>. Obs.: Áreas em hectares. Como mostra o gráfico 19, menos de 5% da população urbana brasileira vivia, em 2010, em domicílios cujo entorno apresentava calçadas com rampas de acesso para cadeiras de rodas. No Distrito Federal e no Mato Grosso do Sul, que apresentavam os maiores valores desse indicador no país, a proporção ficava em torno de 15%. Esses dados apontam que as cidades brasileiras em geral apresentam nível muito baixo de acessibilidade dos espaços públicos às pessoas cadeirantes e com dificuldades de locomoção. GRÁFICO 19 Indicador nacional BR 11.7.1: percentual da população urbana residentes em domicílios cujo entorno possui calçadas com rampas de acesso – Brasil e UFs (2010) (Em %) Fonte: IBGE (2010). Obs.: Gráfico cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e revisados em virtude das condições técnicas dos originais (nota do Editorial). 30 Cadernos ODS O indicador nacional BR 11.7.2, por sua vez, traz informações sobre a proporção da po- pulação urbana brasileira que mora em domicílios cujo entorno possui arborização em vias públicas (gráfico 20). Segundo os dados do IBGE, cerca de 64% da população urbana tinha alguma arborização no entorno de seu domicílio em 2010. GRÁFICO 20 Indicador nacional BR 11.7.2: percentual de pessoas residentes em domicílios cujo entorno possui arborização (2010) (Em %) Fonte: IBGE (2010). Obs.: Gráfico cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e revisados em virtude das condições técnicas dos originais (nota do Editorial). De acordo com essas informações, a população brasileira em sua grande maioria vive em localidades com poucas calçadas com rampas, com cobertura baixa inclusive nos estados mais ricos. Já a questão da arborização dessas ruas atinge uma proporção maior de pessoas. Mesmo assim, não há maior detalhe qualitativo desses dados, e não há consenso de que qualquer tipo de arborização seja um elemento indispensável para a qualidade urbanística da rua como local promotor da vida urbana. Meta 11.a (ONU) – Apoiar relações econômicas, sociais e ambientais positivas entre áreas urbanas, periurbanas e rurais, reforçando o planejamento nacional e regional de desenvolvimento. Meta 11.a (Brasil) – Apoiar a integração econômica, social e ambiental em áreas metro- politanas e entre áreas urbanas, periurbanas, rurais e cidades gêmeas, considerando territórios de povos e comunidades tradicionais, por meio da cooperação interfederativa, reforçando o planejamento nacional, regional e local de desenvolvimento. O indicador global para acompanhamento desta meta (indicador 11.a.1) é a: Proporção de população que reside em cidades que implementam planos de desenvolvimento urbano e regional que incluem projeções de população e avaliação de recursos, por tamanho da cidade. Este indicador também é classificado como Tier III pela ONU, por não possuir uma metodologia global claramente definida, e não foi mensurado. Os indicadores nacionais desenvolvidos até o presente momento propõem a mensuração da presença de órgãos de 31 ODS 11: Tornar as Cidades e os Assentamentos Humanos Inclusivos, Seguros, Resilientes e Sustentáveis gestão metropolitana e de planos de desenvolvimento urbano integrado instituídos. As RMs seriam entidades supramunicipais capazes de fazer a integração do planejamento em dife- rentes recortes territoriais. No entanto, estes indicadores ainda estão em discussão. Além de não haver clareza com relação à definição de aglomeração urbana e região metropolitana, há desafios com relação à definição daquilo que deva compor a sua gestão que ainda não foram superados. Salientamos também a necessidade de propor outros indicadores nacionais complementares a estes, de forma a captar melhor o escopo desta meta. Meta 11.b (ONU) – Até 2020, aumentar substancialmente o número de cidades e as- sentamentos humanos adotando e implementando políticas e planos integrados para a inclusão, a eficiência dos recursos, mitigação e adaptação às mudanças climáticas, a resiliência a desastres; e desenvolver e implementar, de acordo com o Marco de Sendai para a Redução do Risco de Desastres 2015-2030, o gerenciamento holístico do risco de desastres em todos os níveis. Meta 11.b (Brasil) – Até 2030, aumentar significativamente o número de cidades que possuem políticas e planos desenvolvidos e implementados para mitigação, adaptação e resiliência a mudanças climáticas e gestão integrada de riscos de desastres de acordo com o Marco de Sendai. O primeiro indicador global de monitoramento desta meta (11.b.1) é o: Número de paí- ses que adotam e implementam estratégias nacionais de redução de risco de desastres em linha com o Marco de Sendai para a Redução de Risco de Desastres 2015-2030. O Brasil é signatário do Marco de Sendai e adota medidas para aprimorar suas políticas e estratégias nacionais de redução de risco de desastres, por exemplo, o país expandiu a identificação de setores de risco alto e muito alto a inundações, enxurradas e deslizamentos, assim como estruturou um sistema de monitoramento e alerta, com a criação, em 2011, do Cemaden. Foi criado também o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (Lei no 12.608, de 10 de abril de 2012). No campo da prevenção, foram investidos recursos em intervenções estruturais, por exemplo, a contenção de encostas. O segundo indicador global (11.b.2) monitora a: Proporção de governos locais que adotam e implementam estratégias locais de redução de risco de desastres em linha com as estratégias nacionais de redução de risco de desastres. O dado mais recente sobre este indicador no Brasil é a pesquisa Munic 2017 (IBGE, 2017a). Naquele ano, pouco mais de um terço dos municípios (34%) adotavam ações e/ou instrumentos de gerenciamento de riscos. Esta situação apresenta grande heterogeneidade entre as UFs, pois em oito UFs este indicador não ultrapassava a marca de 25% dos municípios (gráfico 21). Um indicador nacional proposto para complementar essa informação é o 11.b.2, que traz informações sobre a proporção de municípios que possuem plano municipal de redução de riscos.Ainda com base nos dados do IBGE, a pesquisa Munic 2017 (IBGE, 2017a) aponta que menos de 12% dos municípios do Brasil possuíam um plano municipal de redução de riscos (gráfico 22). 32 Cadernos ODS GRÁFICO 21 Indicador 11.b.1: percentual de municípios com ações e/ou instrumentos de gerenciamento de riscos – Brasil e UFs (2017) (Em %) Fonte: IBGE (2017a). Obs.: Gráfico cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e revisados em virtude das condições técnicas dos originais (nota do Editorial). GRÁFICO 22 Indicador nacional BR 11.b.2: percentual de municípios com plano municipal de redução de riscos – Brasil e UFs (2017) (Em %) Fonte: IBGE (2017a). Obs.: Gráfico cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e revisados em virtude das condições técnicas dos originais (nota do Editorial). Meta 11.c (ONU) – Apoiar os países menos desenvolvidos, inclusive por meio de as- sistência técnica e financeira, para construções sustentáveis e resilientes, utilizando materiais locais. 33 ODS 11: Tornar as Cidades e os Assentamentos Humanos Inclusivos, Seguros, Resilientes e Sustentáveis Meta 11.c (Brasil) – Apoiar os países menos desenvolvidos, inclusive por meio de as- sistência técnica e financeira, para construções sustentáveis e robustas, priorizando recursos locais. O indicador global de acompanhamento desta meta (11.c.1) é a: Proporção do apoio financeiro aos países menos desenvolvidos destinado à construção e modernização de edifícios sustentáveis, resistentes e eficientes em termos de recursos, utilizando materiais locais. Trata-se de um indicador que a ONU reconhece como Tier III, ou seja, um indicador para o qual não há fontes de dados ou metodologia estabelecida para sua mensuração. A proposta de indicador nacional que poderia complementar o acompanhamento desta meta seria o: Número de projetos de construção e modernização de edifícios sustentáveis em países em desenvolvimento que receberam assistência técnica ou financeira do governo federal brasileiro. Este indicador ainda não está disponível. 3 PRINCIPAIS PROGRAMAS E POLÍTICAS EXISTENTES QUE CONTRIBUEM PARA O ALCANCE DESTE ODS A redação do ODS 11 explicita com quais agendas internacionais a temática do desenvol- vimento urbano deve passar a ter interconexões para além da Nova Agenda Urbana: a do Marco de Sendai para a redução do risco de desastres; a Agenda 2030 de desenvolvimento sustentável; e a do Acordo de Paris para mitigação dos efeitos da mudança do clima. Naturalmente, tamanha transversalidade ainda não é comumente encontrada nas políticas públicas e nos programas existentes no Brasil. No âmbito do governo federal, destacam-se algumas experiências, como a do programa de provisão habitacional Minha Casa Minha Vida (MCMV), o Programa de Urbanização de Assentamentos Precários, e o Programa de Prevenção de Riscos e Desastres, o financiamento de projetos de mobilidade urbana e de projetos de saneamento ambiental. Como iniciativas de incentivo a ações municipais que contribuem com o ODS 11, destacamos os marcos legais no Brasil que fazem a exigência de Plano Diretor Participativo; Plano de Mobilidade; Plano de Gestão de Resíduos Sólidos; Plano de Gerenciamento de Riscos; extinção dos, assim chamados, lixões. De modo geral, além do desafio da transversalidade, o pós-Constituição Federal de 1988 (CF/1988) gerou uma grande descentralização de competências para os municípios sem que houvesse capacidade destes para a consecução de algumas dessas políticas. A execução das políticas necessárias para o país avançar no cumprimento do ODS 11 é, em sua grande maioria, responsabilidade dos municípios. O papel dos estados e do governo federal é apoiar as ações desses municípios. Sabemos que muitos municípios, principalmente os de menor porte e menos ricos, não teriam capacidade de implementar essas políticas sozinhos, sem a colaboração de órgãos estaduais e federais. Um grande desafio é estabelecer quem são os agentes promotores da transformação implícita no ODS 11. O fenômeno urbano apresenta natureza preponderantemente local. Um bom planejamento e a gestão urbana não podem prescindir de detalhado conhecimento da realidade local, inclusive no nível do bairro. Daí a necessidade e o tamanho do papel da participação social no planejamento e na implementação das ações do ODS 11. Como se destaca em algumas metas e em alguns indicadores neste ODS, a participação social no planejamento urbano tem papel fundamental no desenvolvimento de cidades mais justas e inclusivas. Entrando em pontos específicos do desenvolvimento urbano, a criação do Ministério das Cidades, em 2003, retomou uma estratégia nacional para a questão da habitação de interesse social. O MCMV e o Programa de Urbanização de Assentamentos Precários foram grandes marcos da aplicação de vultosos recursos federais nessa área. De 2009 a junho de 34 Cadernos ODS 2018, foram entregues 3,95 milhões de unidades habitacionais, tendo sido contratadas 5,31 milhões de unidades, representando R$ 430 bilhões de investimentos. Já no Programa de Urbanização de Assentamentos Precários, foram concluídas obras no valor de R$ 6,4 bilhões, atingindo mais de 470 mil famílias, lembrando que o Censo Demográfico 2010 encontrou 11,4 milhões de pessoas vivendo em aglomerados subnormais.15 Ambas as políticas devem ser continuadas pois estão diretamente ligadas à meta 11.1. Mesmo assim, recomenda-se o aprimoramento delas de maneira que seu escopo consiga abarcar a transversalidade necessária à completude das diversas dimensões do ODS 11. A provisão de moradias e a reurbanização devem acontecer com qualidade urbanística, in- clusive em espaços públicos, verdes e vias de circulação, e abarcar diversidade de modos de provisão, como locação social e produção autogerida. Deve-se priorizar a ocupação de terrenos bem localizados e/ou vazios, de maneira a contribuir para cidades mais compactas e com altas densidades. Deve-se constituir alternativa concreta à ocupação de áreas de risco. Cabe ressaltar que esses dois programas (MCMV e Programa de Urbanização de Fave- las) contaram com Projetos de Trabalho Técnico Social em seus desenhos, visando promo- ver a participação da população e de organizações da sociedade civil. Mesmo assim, esta participação social deve ser aprimorada e aprofundada, principalmente na escolha de onde investir o dinheiro – por exemplo por meio de orçamentos participativos – e quais projetos desenvolver, ou seja, a participação deve contemplar todo o ciclo das políticas públicas, incluindo o desenho do projeto. A participação social no planejamento e na gestão urbanos ganhou impulso a partir do Estatuto da Cidade (Lei no 10.257/2001), que estabeleceu condições para elaboração de planos diretores participativos, instrumentos esses indutores da expansão urbana e do or- denamento territorial que, a princípio, devem buscar representar os interesses dos diversos segmentos da sociedade. No entanto, é notório o limite à representação dos interesses das camadas sociais menos favorecidas nesse processo. Este rumo deve ser corrigido e deve- -se continuar buscando mecanismos de inclusão dos interesses de toda a sociedade. Com atuação nacional, o recentemente instalado Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano deve cumprir o papel do extinto Conselho das Cidades, sendo um órgão do atual Ministério do Desenvolvimento Regional de articulação da sociedade e do poder público, contribuindo nas discussões referentes às diretrizes do desenvolvimento urbano. Em outro nível (menos na ponta) de definição das políticas, este conselho também deve ser aprimorado para garantir a correta participação popular. As políticas de investimento em mobilidade urbana, por sua vez, também têm papel central para a promoção do ODS 11 no Brasil. Na última década, houve importante avanço na criação de marcos legais que reafirmam que políticas governamentais devem priorizar meios de transporte coletivo e não motorizados. Em larga medida,
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