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ARTIGO PSICOLOGIA HOSPITALAR CASO CLINICO PAPEL DO PSICOLOGO

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REVISTA DA SOCIEDADE DE
PSICOLOGIA DO RIO
GRANDE DO SUL
SEÇAO 1 | Artigos
Psicoterapia de apoio no contexto
do atendimento do psicólogo em
ambiente hospitalar
Psychotherapy of support in the context of the
psychologist’s care in a hospital environment
Roberta Baechtold1 e Prof. Dr. João Trois2
Resumo: O presente trabalho é um exercício
descritivo e reflexivo sobre a atuação do
psicólogo em ambientes hospitalares. Trata-se
de um estudo realizado com base em
experiências oriundas de estágio
profissionalizante realizado em hospital geral,
no âmbito da formação em psicologia. O
objetivo deste trabalho é descrever o papel da
psicoterapia de apoio na atuação do psicólogo
hospitalar e destacar as principais
características desta abordagem. As
experiências utilizadas para o desenvolvimento
deste trabalho são descritas na forma de
vinhetas clínicas, descrições técnicas dos
casos acompanhados e instrumentos
mobilizados como forma de ilustrar e meio para
refletir sobre a aplicação da terapia de apoio no
âmbito hospitalar. Utiliza-se também
comparação com a bibliografia especializada
sobre o tema. Considerou se que a psicoterapia
de apoio constitui em uma importante
modalidade de tratamento psicológico no
contexto hospitalar para auxiliar o paciente a
lidar com o processo de adoecimento, em
função de abordar eventos críticos de maneira
focalizada.
Palavras-chave: Psicologia da saúde; Hospital;
Psicoterapia de apoio.
1 Psicóloga. E-mail: robertabaechtold@hotmail.com
Abstract: This study is a descriptive and
reflexive exercise on the performance of the
psychologist in hospital environments. This is a
study based on experiences from a professional
internship conducted in a general hospital,
within the scope of graduation in psychology.
The aim of this paper is to describe the role of
supportive psychotherapy in the hospital
psychologist performance and to highlight the
main characteristics of this approach. The
experiences used to develop this paper are
described in the form of clinical vignettes,
technical descriptions of the cases and
instruments mobilized as a way of illustrating
and reflecting on the application of supportive
therapy in the hospital setting. Comparison with
the specialized literature on the subject is also
used Supportive psychotherapy was considered
an important modality of psychological
treatment in the hospital context to help the
patient to deal with the illness process, because
of the approach of critical events in a focused
manner.
Keywords: Health Psychology; Hospital;
Supporting Psychoterapy.
2 Psicólogo, Mestre em Antropologia Social e Psicolinguística, Doutor e Pós-doutor em Psicolinguística. E-mail:
joaotrois@yahoo. com.br
44
Introdução
O presente trabalho constitui um exercício
descritivo e reflexivo sobre a atuação do
psicólogo em ambientes hospitalares. A partir
da realização de estágio profissionalizante
para o curso de Bacharel em Psicologia,
desenvolvido em um hospital geral particular
da cidade de Porto Alegre3, este estudo aborda
o papel da terapia de apoio no contexto do
atendimento do psicólogo em hospitais. Para
tal, irá se recorrer a vinhetas clínicas,
descrições técnicas dos casos acompanhados
pela autora durante a experiência de estágio do
curso de psicologia, como forma de ilustrar e
meio para refletir sobre a aplicação da terapia
de apoio no âmbito hospitalar.
Ao longo da formação acadêmica em
Psicologia foi desenvolvido maior interesse
pela área da Psicologia Hospitalar, o que
acarretou na realização de um estágio
profissionalizante em um hospital geral.
Trata-se de um hospital particular de Porto
Alegre, em que os pacientes são conveniados
por meio de adesão a planos de saúde. Este é
um hospital de alta complexidade, que
apresenta um Centro de Tratamento Intensivo
(CTI), formado por cinco Unidades de
Tratamento Intensivo. A experiência do estágio
centrou-se nas áreas de emergência,
hemodiálise e CTI, ambiente este acessado
somente na medida em que algum paciente da
emergência era para ali encaminhado.
A experiência do estágio possibilitou a
observação, no campo da aplicação prática, da
realização do trabalho do psicólogo no contexto
da instituição hospitalar. Na medida em que
esta área ainda não possui um campo
acadêmico consolidado e, portanto, as
publicações são escassas, as observações da
atuação de profissionais do campo da
psicologia neste contexto foram de suma
importância, tanto para a formação acadêmica
quanto para a realização do presente trabalho.
Nesse sentido, no curso desta experiência
tornou-se perceptível que a terapia de apoio
constitui a principal forma de trabalho do
psicólogo nestas instituições. Tratava-se da
terapia de maior utilização no cotidiano do
hospital que serviu de base para a elaboração
deste estudo. Esta importância se deve ao fato
de a psicoterapia de apoio apresentar, como
uma de suas características principais, o fato
de ser breve e focal. Assim, esta terapia se
ajusta às necessida des dos pacientes e
contingências do atendimento. Diferentemente
da prática clínica tradicional, no contexto da
internação hospitalar o trabalho do psicólogo é
desenvolvido, na maior parte das vezes, em um
curto período de tempo, visto que as
internações dos pacientes são, em grande
medida, de curto prazo.
O presente trabalho busca responder aos
seguintes questionamentos: Como acontece
ou como é realizado o trabalho do psicólogo
hospitalar? A partir desse questionamento
pretende-se destrinchar a terapia de apoio:
Qual o funcionamento da terapia de apoio no
hospital? Quais suas características principais?
Qual sua importância como ferramenta de
trabalho no hospital?
Tais questões serão desenvolvidas a partir
de revisão bibliográfica sobre o tema, bem
como por meio de reflexões empreendidas com
base na experiência prática vivida na atuação
como psicóloga em ambiente hospitalar,
descritas em vinhetas clínicas.
Considera-se que uma boa maneira de
compreender o funcionamento de modelos
teóricos da psicologia é por meio da utilização
em sua dimensão prática. Angerami-Camon
(2010) argumenta que o aprendizado pela
prática é de fundamental importância no
âmbito da psicologia hospitalar:
Assumir que o verdadeiro
aprendizado foi aquele realizado com o
paciente em seu leito hospitalar é talvez
a nossa maior conquista. Não estamos
desprezando o aprendizado acadêmico,
tampouco as tantas horas de reflexão e
leitura, apenas querendo enfatizar que
se existe algo a ser propagado, é o fato
de que aprendemos aprendendo a
angústia, a dor e tantas outras coisas e
sentimentos de nosso paciente.
(AngeramI-Camon, 2010, p.12)
O autor destaca a dimensão vivida do
aprendizado, localizada na capacidade do
psicólogo de apreender e empatizar com os
sentimentos de seu paciente. Nesse sentido, o
aprendizado na prática constitui um espaço de
intersecção entre o psicólogo e o paciente.
Deste modo, o presente trabalho se
desenvolverá na forma de ensaio, a partir de
reflexões desenvolvidas com base na
experiência prática vivenciada em estágio
profissionalizante. Irá se exemplificar o uso da
terapia de apoio no contexto hospitalar, bem
como discutir as diferenças desta abordagem
em relação à prática clínica tradicional, através
do recurso dos registros dos casos clínicos
experienciados.
Destaca-se que o presente trabalho não
apresenta riscos éticos, visto que dados que
coloquem em riscos a privacidade e identidade,
tanto do hospital quanto dos pacientes citados,
foram omitidos. O foco do presente trabalho é
explicar a teoria em questão com exemplos
práticos de sua aplicação, e não o de explorar
o caso clínico específico das pessoas
envolvidas.
Este trabalho apresenta sua relevância
devido aos escassos estudos sobre o assunto
na literatura acadêmica brasileira de Psicologia.
Objetiva-se contribuir para a maior
compreensão da aplicação da terapia de apoio
em contextos hospitalares.
A psicologia no contexto hospitalar
Por mais que os hospitais contemporâneos,
principalmente aqueles localizados em
grandes cidades urbanas, sejam em grande
medida resolutivose eficazes em administrar
os problemas das pessoas que para ali são
encami nhadas para cuidarem de seus
problemas de saúde, o imaginário coletivo em
torno destes lugares ainda os associa ao
adoecimento, ao sofrimento e à morte. São
instituições que nos remetem à fragilidade
humana e à sua finitude. Há uma quebra nas
crenças de onipotência dos indivíduos, em que
o seu corpo outrora saudável passa a
necessitar de cuidados e intervenções
médicas.
Uma internação hospitalar desloca o
indivíduo dos seus papéis sociais
convencionais: ele deixa de ser filho, irmão, pai,
trabalhador, esportista, para se tornar um
paciente, o portador de um determinado caso
clínico. O funciona mento habitual do indivíduo,
adaptado à sua rotina, fica mais intenso e vêm
à tona os medos e fantasias, principalmente
quanto ao seu diagnóstico clínico e à morte.
Junto a isso, o paciente se encontra em um
ambiente diferente, muitas vezes
desconhecido e amedrontador. Nas palavras de
Filho e Burd (2010):
Embora todos saibam que um dia
vão morrer, vive-se como se a morte
fosse sempre um acontecimento
distante. Enfrentar uma situação real
de possibilidade de morte pode
representar um
3 Os dados da Instituição e dos pacientes serão suprimidos para resguardar o sigilo. Tais referências serão utilizadas
apenas com fim ilustrativo.
Diaphora | Porto Alegre, v. 19 (1) | jan/jun 2019 45
momento de angústia e insegurança. (Filho;
Burd, 2010, p. 345)
Tendo em vista o prolongamento da vida
decorrente de transformações nos aparatos
tecnológicos da medicina, se torna cada vez
mais comum que as pessoas morram em
hospitais. Nos Hospitais encontramos esta
proximidade real da morte, vivida tanto pelos
pacientes quanto pelos seus familiares, que
nos coloca, enquanto psicólogos, o desafio de
simbolizar os efeitos de angústia decorrentes
deste enfrentamento.
A Psicologia Hospitalar é o campo de
atendimento e tratamento dos aspectos
psicológicos em torno de enfermidades em
contexto hospitalar. Gorayeb (2001) destaca
algumas especificidades da psicologia
hospitalar e da atuação do psicólogo no
interior deste campo, em contraposição ao
atendimento clínico:
Deve-se ressaltar que o paciente
hospitalizado não é semelhante ao
cliente de consultório, visto que não
procurou o psicólogo por demanda
espontânea e não apresenta quadros
clássicos de psicopatologia. Acometido
de uma doença orgânica, grave ou
aguda, tem uma demanda psicológica
específica. Necessita comunicar-se
bem com seu médico, ou colocado de
uma forma correta, necessita que seu
médico se comunique adequadamente
consigo, necessita informações e apoio.
Se por decorrência de suas
características psicológicas anteriores
ou por excessiva pressão da situação,
apresenta um distúrbio psicológico
transitório é fundamental para os
participantes da equipe de atendimento
entender que este distúrbio é
situacional, específico e, na maior parte
das vezes, relacional. Neste contexto, o
papel do psicólogo hospitalar é
essencial para apoiá-lo, esclarecê-lo,
informá-lo, levar a equipe a se
relacionar efetivamente com ele.
(Gorayeb, 2001, p.1)
O autor argumenta que o paciente, quando
se encontra em ambiente hospitalar, adquire
uma particularidade própria deste contexto.
Fundamental, neste sentido, é o fato do
paciente hospitalar não apresentar
necessariamente quadros de psicopatologia e,
portanto, não haver procurado previamente o
atendimento psicológico. Outras diferenças
também são importantes, como a significação
de si partir do diagnóstico, a alteração de
hábitos e a adaptação a uma rotina hospitalar,
o momento liminar interpretado como decisivo
em sua história de vida, o estabelecimento de
relações positivas entre o paciente e os
profissionais de saúde da equipe que está o
supervisionando. Garcia et al. (2005) também
fazem referência à importância dessas
relações:
O psicólogo hospitalar se diferencia
muito do psicólogo clínico, porque
atuar nesse contexto é estar atento a
todas as relações que o paciente
desenvolve com a equipe multiprofissio
nal, com ele mesmo e com a família,
dentro de uma fragilidade física. É
nessa teia relacional que as
intervenções são realizadas e
acontecem em um espaço de tempo
muito breve, enquanto o
paciente está no contexto hospitalar. (Garcia et
al., 2005, p. 475)
Para a produção de uma relação positiva
entre pacientes e a equipe de saúde é
necessária uma comunicação efetiva e
transparente entre as partes. Nesse sentido,
especial importância deve ser dada à qualidade
da informação que chega ao paciente. Como
Carvalho et al. argumenta:
Quanto mais informada a pessoa
está sobre sua condição física e
mental, sobre seu funcionamento
(cognitivo, emocional e
comportamental) e sobre a forma como
pode ser conduzido seu tratamento,
mais ela está pronta para participar do
tratamento (Carvalho et al., 2019, p.
15)
Assim, com o auxílio da psicoeducação –
ferramenta da psicoterapia de apoio, que
possui como objetivo enfocar as satisfações e
ambições relacionadas às finalidades
almejadas pelo paciente (Authier, 2012) – a
ansiedade do paciente, frente a situação que
enfrenta, diminuirá.
A transição demográfica no Brasil, relativa
ao fenômeno contínuo do envelhecimento da
população, faz com que, cada vez mais, o
psicólogo que trabalha em ambiente hospitalar
se depare com casos clínicos de paciente
idosos. Nesse sentido, é importante que este
profissional esteja atento às particularidades
desta fase da vida, como por exemplo, risco de
queda, risco de delirium, depressão, entre
outros.
No contexto de desestabilização e ruptura
da ordem cotidiana que envol ve uma
internação hospitalar, o psicólogo é um
importante profissional para a criação de uma
situação de bem-estar para o paciente. Tal
como descreve Gorayeb (2001) com relação
ao paciente cirúrgico, condição recorrente do
paciente internado e um hospital:
Um tipo de paciente para quem é
fundamental a ação do Psicólogo no
ambiente hospitalar é o paciente
cirúrgico. Além dos desconfortos de ter
uma doença, estar hospitalizado e
longe de seus afazeres e sua família,
este paciente ainda tem a ameaça de
algo desconhecido e arriscado. Os
pacientes têm receio do desconhecido
e medo que a cirurgia e/ou a anestesia
deem problema. Aqui, como em todas
as outras áreas de atendimento a
pacientes hospitalizados, informação
adequada, no momento certo, na dose
certa, é elemento vital para reduzir
ansiedade e depressão. (Holmes,
1987, apud Gorayeb, 2001, p.5).
O psicólogo entra nesse contexto como um
agente que busca reduzir a ansiedade,
acompanhando o paciente durante sua
internação, tanto antes da cirurgia, criando um
espaço onde o paciente possa trazer suas
dúvidas e anseios, quanto posteriormente ao
procedimento, acompanhando o progresso e
sondando as expectativas e dificuldades
vivenciadas pelo paciente. A presen ça do
psicólogo contribui significativamente para o
sentimento de amparo e segurança para
enfrentar a situação da cirurgia, que provoca
medo da morte. Esse acompanhamento
permite ao paciente uma melhor elaboração e
preparo para lidar com o procedimento, como
podemos analisar na vinheta a seguir:
Diaphora | Porto Alegre, v. 19 (1) | jan/jun 2019 46
Vinheta 1 – o manejo da angústia
A paciente estava aberta ao atendimento
e bastante comunicativa. Trouxe sua história
pregressa. Havia trabalhado 25 anos como
enfermeira e, portanto, dizia, estava
familiarizada com o ambiente hospitalar. Não
se assustava com os procedimentos
invasivos feitos pelas enfermeiras e
técnicos: além de já ter se internado antes,
não seria sua primeira cirurgia. Em
contrapartida, a ansiedade estava bastante
presente por ter que esperar para a
realização da cirurgia. Achava que podia
estar passando por uma espera
desnecessária, criada pelo hospital para ficar
mais tempo internada. Tempo esse que ela
não tinha a perder, de acordo consigo.
Comentava também que tinha certo medo
de, caso conseguisse fazer a cirurgia,
acabar morrendo no processo. Escutei seus
anseios e angústias e, então, fiz
questionamentos e colocações, a fim de
fazê-la refletir sobre os fatosda realidade e,
a partir disso, possibilitar um alívio de sua
ansiedade. Expliquei que essa espera fazia
parte do processo do plano de saúde, que
demorava de cinco a dez dias em média
para aprovar. Já haviam se passado cinco
dias desde a solicitação de seu médico para
a colocação do marca-passo, logo estava
cada vez mais perto dessa aprovação
acontecer. Conversamos sobre a previsão
de um curto período de tempo de vida que
seu médico men cionou a ela. Seu coração
precisava desse auxilio para funcionar
melhor e era isso que ela estava buscando
no hospital. Ela estava fazendo sua parte
buscando por essa ajuda e justamente por
isso estava para realizar esse procedimento
cirúrgico. A paciente ficou pensativa e por fim
concordou. Verbalizou que estava buscando
o que precisava para melhorar e que se
conseguisse realizar a cirurgia, sua qualidade
de vida deveria melhorar. Externalizou sua
insegurança com o procedimento cirúrgico:
“Sabe me dizer se é um procedimento muito
complicado? Perigoso de fazer?”. Respondi
que qualquer cirurgia tem seu risco, mesmo
as menos complexas. Apontei que seu
médico realizava rotineiramente esse
procedimento, que tinha bastante
experiência em colocação de marca passo e
que ela se encontrava em um hospital muito
bem equipado. Ela ficou pensativa e
respondeu: “Verdade, ele me disse que
colocava muitos marca passos por mês. E eu
já fiz outras cirurgias e fiquei bem, não sou
tão fraquinha quanto pareço.” Pensamos
juntas que apesar de já ter esperado
bastante, a previsão para a aprovação da
cirurgia era breve e, que estava em um lugar
controlado, onde a estavam monitorando e
tinham os equipamentos adequados. Ela
estava no melhor espaço que poderia estar
para esperar pelo procedimento.
Como visto na vinheta, a paciente trazia
angústias referentes à sua internação e
situação clínica. Foi possibilitado um espaço
seguro para ela externalizar suas
preocupações, por meio de uma escuta
qualificada e, a partir de seus anseios, foi
realizada uma clarificação – uma das
intervenções presentes dentro da psicoterapia
de apoio – possibilitando uma reflexão que
transformou suas preocupações disfuncionais
em pensamentos produtivos. A paciente
passou a analisar a realidade com menos
distorção e se acalmou frente ao
conhecimento do contexto e capacidade do
hospital de lidar com sua situação clínica.
A psicoterapia de apoio é um dos modelos
de atuação muito utilizados
contemporaneamente para casos de
exacerbação emocional temporária, mo tivada
por algum evento específico. O modelo é muito
utilizado por psicólogos hospitalares,
justamente porque o ambiente hospitalar,
somada à fragilidade do paciente, lhe desperta
uma forte intensidade emocional.
A psicoterapia de apoio (PA) é um
modelo de psicoterapia bastante
utilizado em momentos de crise ou
descompensações temporárias, com o
objetivo de restaurar e reforçar defesas
e integrar capacidades que foram
prejudicadas. Caracteriza-se por uma
modalidade de tratamento na qual o
terapeuta mantém um relacionamento
terapêutico e uma aliança de trabalho
baseados na realidade, oferecendo
apoio, esclarecimento e auxilio na
solução de problemas. (Cordioli, 2008,
p. 188)
Por vezes, devido a condição de saúde
física, o paciente tem que per manecer
internado por longos períodos de tempo,
situação que favorece o aparecimento do
delirium. Esta é uma situação comum,
principalmente com idosos, que são mais
vulneráveis a este distúrbio por já possuírem,
na grande maioria dos casos, transtornos
neurocognitivos leves ou maiores. Assim, um
paciente internado há vários dias em um
ambiente fechado, como é o caso da
Emergência e do Centro de Tratamento
Intensivo (ambiente que representa um fator
de risco por si só) (Faria; Moreno, 2013) se
encontra em uma situação propicia para o
aparecimento de delirium. Nessas ocasiões,
muitas vezes o paciente não sabe afirmar se é
dia ou noite, o dia da semana, sua localização,
entre outras informações básicas de sua
orientação. Neste quadro é comum que os
pacientes confundam suas imaginações e
sonhos com a realidade, acreditando que suas
fantasias realmente aconteceram.
Vinheta 2 – delirium
Retornei para CTI e A.C continuava
receptiva e comunicativa, porém por vezes
apresentou confusão, em delirium.
Contou-me que não conse guiu dormir de
noite, que as crianças do colégio ficaram
fazendo muito barulho no pátio. Perguntei a
que pátio ela se referia e ela me apontou o
posto de enfermagem.
Povinelli et. al define o delirium da seguinte
maneira:
Delirium é um distúrbio mental
agudo, de etiologia orgânica,
precipitado por qualquer condição leve
a alterações no metabo lismo cerebral,
sendo bastante freqüente entre
pacientes idosos hospitalizados. Seu
desenvolvimento inicia uma série de
eventos que pode culminar com perda
de independência, aumento de
morbilidade e de mortalidade, além de
aumentar o tempo e custos de
internação e de cuidados após alta
hospitalar. Trata-se de uma condição
potencialmente previsível e tratável,
porém pouco reconhecida e,
consequentemente, subdiagnosticada.
(Povinelli et.al, 2008, p.1)
No delirium ocorre uma perturbação na
atenção e consciência, que pode ser percebida
através de perguntas repetidas, uma menor
orientação do ambiente e de si esmo, como
também uma perturbação no cognitivo, como
alucinações e ilusões, normalmente visuais. Há
uma piora dos sintomas no período da noite
por haver uma diminuição de estímulos e
mobilidade,
Diaphora | Porto Alegre, v. 19 (1) | jan/jun 2019 47
características essas que estão presentes
durante a maior parte da internação. O manejo
adequado diminui a duração do delirium,
diminuindo seus sintomas, riscos e
consequências, como uma dependência maior
por parte do paciente. (DSM V, p. 596-601)
Vinheta 2.1 – manejo do delirium
Para manejar a confusão em que se
encontrava A.C, comecei a tentar trazê-la
para a realidade. Perguntei se ela sabia onde
estava e há quanto tempo estava internada.
Ela pareceu voltar à orientação. Falei que ali
na frente se encontrava o posto das
enfermeiras e que elas passam a noite
monitorando os pacientes e talvez esses
barulhos possam a ter incomo dado. A.C
pensou e concordou que elas entravam
bastante no leito para verificar as suas
condições.
Nesta situação, a paciente deve ser
sondada sobre a realidade em que se
encontra. É importante elaborar questões
referentes à sua localização e contexto, tanto
no tempo quanto no espaço. As questões têm o
objetivo de conferir suas suposições acerca
das condições em que se encontra. No caso
mencionado, estimulou-se à paciente uma
reflexão sobre sua situação presente, de
maneira provocar seu retorno à realidade.
O delirium é uma consequência fisiológica
direta de outra condição médi ca, ou seja, os
sintomas psicológicos veem de uma causa
orgânica e à medida que essa causa física for
solucionada o delirium desaparece,
diferentemente do delírio, que está associado
a uma psicopatologia.
Um dos riscos que o delirium traz é o
aparecimento de memórias ilusórias e
traumáticas. A estadia na CTI por si só remete
a fragilidade da vida e ao medo da morte, por
ser um ambiente reconhecido como de alto
cuidado, para onde são encaminhados
pacientes em condições bastante severas. Se
não prevenido com o acompanhamento
psicológico, esse medo e essa fragilidade física
e emocional passam a constitui um fator de
risco para o desenvolvimento de um transtorno
de ansiedade ou de depressão posterior. Tal
como afirma Andrea Caiuby (2009):
A presença de memórias ilusórias
decorrente da internação em UTI
revelou correlação significativa com o
aumento do TEPT agudo e crônico,
transtorno de ansiedade,
comportamentos fóbicos e transtornos
de pânico, independente do instrumento
de avaliação e do momento em que a
avaliação foi realizada. (Caiuby, 2009,
p. 81)
Segundo Lucia Freitas e Simone Jung
(2014, p. 421), a psicoterapia de apoio é
amplamente indicada para pacientes com
psicopatologias graves e crônicas – como
transtornos de personalidades e transtornos
psiquiátricos maiores. Estes possuem
dificuldade para se relacionare prejuízos no
teste de realidade, ou seja, ocorre distorções
em seu pensamento crítico referente ao que
está acontecendo em seu contexto, o que
consequentemente gera angústias emocionais.
Para além destes pacientes, a psicoterapia
de apoio é recomendada ainda “para pacientes
que vivem sob o impacto emocional de
condições médicas crônicas ou irreversíveis,
como câncer, diabetes, leucemia, transplantes,
in suficiência renal, amputações, doenças
terminais e reações diante da morte” (Eizirik, et
al. 2007).
De acordo com Chiattone (2000), nos casos
de sobrecarga emocional crônica decorrente
de processos orgânicos irreversíveis, a
psicoterapia de apoio trata de auxiliar o
paciente a atravessar a sua situação crítica,
consequente do processo de adoecimento e
internação hospitalar, o que lhe permite
elaborar e subjetivar os acontecimentos.
Carvalho et al. (2019), também argumenta que
o processo de contração de uma doença
demanda uma reorganização complexa por
parte do paciente, tanto em suas dimensões
objetivas, relativa às próprias condições de
vida, quanto subjetiva, referente às suas
perspectivas futuras e entendimento de si
O adoecimento traz uma série de
mudanças para a vida do indivíduo e
exige adaptação à condição que se
apresenta, ou seja, é necessário que a
pessoa se perceba na nova situação e
que se adapte à mesma, inclusive
procurando ajustar suas expectativas
pessoais e buscando alterar alguns
aspectos de seu modo de vida.
(Carvalho et al., 2019, p. 23)
Muitas vezes, contudo, a estadia na CTI é
apenas um procedimento padrão para que se
efetue um cuidado mais minucioso por parte do
aparato médico sobre o paciente, como por
exemplo em casos de pós-operatório. A
terapia de apoio surge então como importante
ferramenta para esclarecer e explicar ao
paciente a situação em que se encontra,
atuando como apazi guadora da ansiedade
decorrente de fantasias do desconhecido,
geradoras de sentimentos como medo, receio,
angustia e temor. A próxima vinheta aborda a
importância deste esclarecimento como meio
de mitigar a ansiedade do paciente.
Vinheta 3 – informação
Estava cruzando a sala de espera,
quando a familiar de uma paciente, agitada e
chorando, me chamou a atenção. Me
aproximei sutilmente, me apresentei e
perguntei o que havia acontecido. Ela
verbaliza que seu pai foi internado para
realizar uma cirurgia em uma artéria na
virilha, que o médico avisou que havia dado
tudo certo, mas que naquele momento o
paciente havia sido levado para a CTI. Falei
sobre os procedimentos padrões em caso de
cirurgia e contei que em qualquer
procedimento cirúrgico os pacientes eram
levados para a CTI para ficarem em
observação durante o pós-operatório. Que
era mais uma questão de cuidado do que de
gravidade do caso clínico. Prometi, contudo,
que averiguaria sobre o estado do paciente
e que retornaria para conversar com ela. A
partir disso, a familiar se acalmou.
A falta de entendimento do paciente acerca
do que está acontecendo ao seu redor é um
dos fatores que mais gera ansiedade durante a
internação. O medo do desconhecido gera a
construção de “monstros”, suposições e
angústias. Tudo aquilo que é novidade ou
hostil, causa aflição. Quando o paciente toma
conhecimento acerca de seu quadro clínico, o
mesmo sente-se mais seguro, calmo e sua
ansiedade diminui, mesmo que seu diagnóstico
seja relativo a uma doença grave e seu
prognóstico não seja promissor.
Nesse sentido, uma intervenção da
psicoterapia de apoio bastante recorrente é a
psicoeducação, que de acordo com Carvalho et
al. (2019) constitui uma técnica “importante
para a redução da sintomatologia da do ença”
(Carvaho et al., 2019). A psicoeducação
contextualiza o paciente e seus
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familiares acerca do que está acontecendo
durante a sua internação, explica o que é
determinada doença, a importância de
determinadas ações para o curso do
tratamento, bem como sobre o que esperar do
tratamento em questão. A psicoeducação é um
importante recurso utilizado no tratamento de
pacientes crônicos, como também no auxílio à
adesão ao tratamento.
Outra tarefa do psicólogo hospitalar
relacionada à psicoeducação é trabalhar para
facilitar a comunicação entre a equipe de
profissionais do hospital e o paciente. Muitas
vezes a equipe deduz que o paciente atravessa
uma crise psicológica ou, em termos leigos,
esteja “sendo difícil” por chorar e gritar muito,
quando é natural apresentar tal comportamento
tendo em vista o que vivencia, como por
exemplo o recebimento de um diagnóstico
severo. Outras vezes, contudo, o psicólogo
hospitalar serve como uma ferramenta de
tradução para auxiliar o paciente a entender o
que a equipe quer transmitir. O paciente muitas
vezes relata que não entendeu a informação
que o médico lhe passou sobre a gravidade de
sua situação clínica. Cabe então ao psicólogo
investigar, conversar com a equipe e clarificar
para o paciente.
Frequentemente também se faz necessário
realizar um teste de realidade com o paciente,
a fim de saber se o mesmo compreendeu as
condições de saúde em que se encontra. O
paciente pode apresentar tanto tranquilidade
frente a um prognóstico negativo, com a
expectativa de que logo voltará para casa,
quanto desespero em uma situação facilmente
contornável. Estas não são reações naturais e
por isso é necessário avaliar a compreensão e
o funcionamento do paciente em questão. O
teste de realidade é esta avaliação da
compreensão do paciente sobre seu caso
clínico, criando um espaço de escuta de suas
colocações e dúvidas. Como Marcele Carvalho,
Lucia Malagris e Bernard Rangé apontam “é
fundamental dar espaço para o cliente se
expressar a respeito de suas dificuldades, e
também sobre como toda a informação nova
que está recebendo se aplica à vida dele
(Carvalho et al., p. 19).
Vinheta 4 - comunicação
Fui solicitada pela equipe da Emergência
a atender um paciente que, segundo eles,
estava “muito ansioso e agitado”. Cheguei no
leito, me apresentei e perguntei o que lhe
trazia à Emergência. Ele disse que estava
com um problema no pulmão, que precisaria
se operar, mas não fazia ideia sobre qual a
gravidade de seu problema e nem se a
cirurgia era de alto risco. Contou que era
isso que o estava deixando ansioso, que
ninguém explicava nada para ele.
Conversei com a equipe de enfermagem
que me informou da situação clínica do
paciente. Me informaram que a médica que
estava res ponsável pelo caso havia
conversado com ele, porém fez isso
enquanto ele estava sob o efeito de
remédios fortes para dor, ou seja, ele
provavelmente não lembrava de nada. Fui
conversar com sua médica. Ela me falou que
a questão no pulmão dele era facilmente
resolvida com a cirurgia e que não entendia
porque o paciente estava tão agitado, pois
ela havia conversado com ele mais cedo,
logo após a realização dos exames feitos
depois de ser internado. Apontei a questão
de que o paciente estava sob o efeito de
remédios na hora da conversa e que não se
lembrava da mesma. Perguntei se ela
poderia ir de novo conversar com ele para
esclarecer suas dúvidas, pedido este que a
doutora aceitou.
Mais tarde retornei ao leito. Perguntei ao
paciente sobre a conversa com a médica,
sobre suas dúvidas e como ele estava se
sentindo com a
situação. Ele me contou sobre o que foi
informado e explicou como seria o
procedimento da cirurgia. Disse que a
doutora respondeu todas as suas dúvidas e
com isso se sentia mais calmo e preparado
para passar pela cirurgia.
O atendimento no hospital é breve e focal e,
assim, difere da prática clínica tradicional. Não
se trata de elaborar os conflitos do paciente, ou
seja, trazer ao consciente o inconsciente, uma
vez que o ego não está capacitado para
resolvê-los no momento da internação. Este
tipo de intervenção, inclusive, aumenta a
ansiedade do paciente. Nesse sentido, o foco
do atendimento hos pitalar é na situação atual
de internação e na ruptura que a mesma causa
na vida do paciente. É breve, pois se destina a
controlar crises agudas que ocorrem
isoladamente, próprias de situações de
internaçõeshospitalares, em que o sujeito se
encontra desestabilizado, em uma quebra de
seu funcionamento normal em que cumpre
seus papéis sociais, visto que está deslocado
de sua rotina e vida cotidiana.
A realidade do hospital é grave, o confronto
com o medo da morte e suas fantasias podem
gerar diferentes transtornos psicológicos. O
atendimento é breve, mas consistente. O
objetivo da terapia de apoio é o alivio de
sintomas e a eliminação de comportamentos
desadaptativos. Afastar pressões ambientais
desnecessárias e trabalhar visando a aquisição
de maturidade emocional. Objetiva-se fazer o
indivíduo voltar ao seu funcionamento prévio,
melhorar sua desadaptação e o desconforto
emocional (Cordioli, 2008). Como afirmam
José Teixeira e Isabel Leal (1990, p. 457), a
psicoterapia de apoio tem como objetivo
principal “promover o melhor funcionamento
psicológico possível, reforçando as
capacidades do sujeito para lidar com os vários
aspectos da sua vida e com a adversidade”.
Vinheta 5 – acompanhamento focal
Cheguei na Emergência e com a lista do
round em mãos busco o leito de uma
adolescente de 17 anos. Encontro uma
menina com os olhos arregalado encarando
um ponto fixo, enquanto sua mãe fala ao
telefone ao lado. Me aproximo e a mãe,
percebendo minha presença, desliga o
telefone. Me apresento e pergunto o que
aconteceu para estarem na Emergência. A
paciente me conta que estava na aula de
ballet quando caiu no chão. Não percebeu
nada de diferente e voltou a dançar. Mais
tarde, parte de sua perna estava inchada. No
hospital descobriu que estava com
trombose. Comentou que estava apreensiva
em perder as provas da escola por ter sido
internada. Falei que entraria em contato com
a escola para discutir a possibilidade dela
realizar as provas no hospital, com isso, a
paciente ficou mais tranquila. A mãe pede
para conversar comigo no corredor,
verbaliza toda sua angústia com a situação
da filha. Conta que é uma menina muito
ansiosa e que por um período, alguns anos
antes, apresentou muitos sintomas de TOC
e que por um tempo realizou acom
panhamento psicológico. Trouxe seus medos
sobre o emocional da filha ante a situação
de seu abatimento orgânico, já que era uma
situação com causa desconhecida.
Conversamos sobre todos os procedimentos
que a paciente iria passar para buscar a
causa da trombose e que acompanharia ela
durante sua internação. Mais tarde, quando a
paciente já estava nos andares, fui chamada
para atende-la. Ela queria conversar sobre
suas ansiedades. Contou que o médico
disse que o anticoncepcional que ela tomava
poderia ter sido a causa da trombose, mas
trouxe questões referen tes a problemas
vasculares de nascença. Conversamos sobre
seus temores e sobre os procedimentos que
realizou e ainda realizaria. A paciente me
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perguntou, então, técnicas para auxiliá-la
com a ansiedade quando estives se sozinha.
Ensinei-lhe sobre a respiração
cardiovascular. Posteriormente conversei
com sua mãe e com a paciente juntas,
reforçando os potenciais que a paciente
tinha e sugerindo um acompanhamento
psicológico fora do hospital para tratar
também questões internas, independentes
de sua internação e questões orgânicas.
No hospital em que foi realizado o estágio
profissionalizante, o fato de um paciente ser
menor de idade se configura em um fator para
realizar uma avaliação, visto que comumente
esta faixa de idade se desestabiliza em uma
internação. A ansiedade gerada na internação é
natural, todavia por vezes é sentida em
demasiado frente ao medo e anseios
despertados. Para auxiliar pacientes mais
sensíveis e ansiosos podemos ensinar
habilidades como a respiração diafragmática,
que proporciona um relaxamento e diminuição
das ansiedades. Esta técnica consiste em “uma
respiração lenta e profunda, na qual o ar deve
ser inspirado pelo nariz e expirado pela boca no
dobro do tempo utilizado na inspiração”,
expandindo o abdômen, não o tórax (Carvalho
et al., 2019). Como afirmado anteriormente,
questões complexas e próprias do
funcionamento e vida do paciente não são
trabalhadas durante a inter nação, sendo
possível ao psicólogo hospitalar sugerir e
encaminhar para um acompanhamento
psicológico externo ao hospital com um
psicólogo clínico.
Setting terapêutico
Para além da diferença de objetivos entre a
prática clínica e a hospita lar, o setting
diferenciado é um ponto importante na atuação
do psicólogo em ambiente hospitalar. De
acordo com Angerami (1997), o trabalho do
psicólogo em âmbito hospitalar é determinado
pelos limites da instituição em que atua, o que
se dá na forma de normas, protocolos, rotinas,
itinerários específicos. Em comparação com a
psicologia clínica tradicional, esta é uma
limitação das possibilidades da psicologia
hospitalar. O setting é um exemplo dos
imperativos do trabalho do psicólogo em
hospitais e da necessidade de adaptação à
estrutura da instituição.
Na clínica tradicional é o consultório que
define o setting. Duas poltronas em um
ambiente agradável e protegido do mundo
externo. No hospital a realidade é
completamente diferente. O setting, na maioria
das vezes, é o leito. Este se adapta à situação
do atendimento e ao ambiente disponível. Na
Emergência, por exemplo, o leito está em uma
sala em que se encontram outros vários
pacientes. Um leito é extremamente perto de
outro. Já na CTI há um pouco mais de
privacidade. Neste caso, o leito se assemelha
ao espaço de um quarto. Nos aposentos de
internação, por sua vez, é comum que o quarto
seja compartilhado, então para aqueles
pacientes que não conseguem se le vantar do
leito, o atendimento possível é realizado com
outro paciente a alguns metros de distância.
Na Hemodiálise, o atendimento acontece nas
poltronas onde se encontram os pacientes em
meio ao procedimento de transfusão de
sangue, ao lado das maquinas, tubos e bolsas
de sangue. Com os familiares, o atendimento
pode ocorrer no corredor, na capela e até
mesmo nas escadas.
É de suma importância que o familiar
receba atendimento, visto que o mesmo se
desestabiliza com a internação de um ente
querido. Para além do que já foi dito, a
psicoterapia de apoio também visa “vir a
transferir a fonte de apoio (pelo menos em
parte) para a família e rede social de apoio”
(TEIXEIRA e LEAL, 1990, p. 457).
Vinheta 6 – rede de apoio
Entrei na Emergência para checar a lista
de pacientes, como de costume. Enquanto
mexia no computador a paciente no leito ao
meu lado começou a chorar. Me levantei e
me aproximei dela. Me apresentei e
entreguei uns lenços que estavam em cima
da mesa. Ela quase me interrompeu,
iniciando um diálogo sobre o que estava
acontecendo em sua vida. Seus planos de
viagens com o marido foram interrompidos
pela internação. Ela precisava de transfusão
e seu plano só cobria o tratamento mediante
internação. Chorava muito e tremia.
Enquanto ela falava comigo, a equipe de
enfermagem interrompeu e a preparou para
ida para CTI, onde seria melhor monitorada.
A paciente segurou firme em minha mão e
demonstrou que precisava que eu a
acompanhasse no trajeto, não
interrompendo o seu discurso. No trajeto
para CTI ela externalizou suas angústias em
relação ao marido, que ficaria muito
preocupado com ela. Pediu para eu
conversar com ele para “ver como ele
estava”. Legitimei seu sofrimento e
conversamos sobre como o tratamento era
necessário e que a fortaleceria para novos
planos com seu marido. Ao deixar o leito, a
paciente aparentava estar mais tranquila e
segura. Segui em busca de seu familiar.
Localizei-o na sala de espera. Me apresentei
e começamos a conversar sobre a
internação de sua esposa. Ele verbalizou
sobre suas preocupações referentes a
internação e sua ansiedade em deixar a
esposa sozinha na CTI. Respondi sobre a
segurança do procedimento e de como ela
estava sendo bem cuidada e monitorada na
CTI. No fim da conversa, o marido da
paciente agradeceu por estar os
acompanhando, verbalizou que isso o
deixava mais calmo por sentir que estava
recebendo apoio e que não estava sozinho.
Orientei que ficasse um pouco com sua
esposa antes dosprocedimentos para
também passar-lhe seu apoio, já que a visita
era permitida.
O setting no hospital é múltiplo e é
necessário que o psicólogo saiba lidar com as
diferentes situações que se apresentam em
sua prática profissional. Deve-se sempre zelar
o sigilo e se adaptar as possibilidades
disponíveis. No hospital, a depender das áreas
pelas quais o paciente se desloca, a equipe de
profissionais muda, de maneira que quase
sempre o psicólogo se torna o único “rosto
conhecido” que acompanha o paciente para
onde o mesmo é encaminhado. O psicólogo
deve reforçar que o paciente possui apoio para
lidar com a situação difícil em que se encontra.
Este apoio se estende para além do psicólogo:
uma rede de apoio social é um fator importante
para enfrentar o tratamento, e pode significar
uma melhora mais rápida e sadia.
Vinheta 7 – fechamento
Fui atender A.C na Unidade de
Internação, no quinto andar – trans ferida da
CTI. Estava organizada, com a memória
preservada e humor modulado. Externalizou
suas emoções e sentimentos referentes ao
sucesso da cirurgia realizada e aos
resultados positivos dos exames. Estava
extre mamente feliz com a alta hospitalar
prevista para o dia seguinte. Trouxe uma
retrospectiva de sua internação, tudo que
passou no Hospital, como uma forma de
elaborar o fechamento daquela internação.
Disse que ia sentir saudades minha e da
equipe da CTI.
Na perspectiva da psicologia, para que o
paciente tenha alta é necessária a diminuição
da ansiedade e compreensão de suas causas,
melhoramento dos sintomas perturbadores,
elaboração dos conflitos, resiliência a
frustrações, entre outros.
Diaphora | Porto Alegre, v. 19 (1) | jan/jun 2019 50
Em ambiente hospitalar nem sempre é
possível realizar um fechamento do
atendimento psicoterapêutico junto ao paciente.
Isto se deve a diversos fatores, como a alta
rotatividade dos pacientes no hospital, altas
repentinas, falecimento do paciente, entre
outros. Todavia, sempre que possível, deve-se
realizar o fechamento, possibilitando um
espaço para elaboração da experi ência do
paciente durante sua internação no hospital
para, assim, evitar que essa vivência se
configure em trauma.
O acompanhamento psicoterapêutico é
muito importante no curso desta vivência. O
apoio intrínseco ao vínculo terapêutico é
fundamental para o progresso do tratamento
psicológico, independentemente da linha
teórica utilizada. Cordioli (2008) afirma que se
deve diferenciar o apoio próprio de qualquer
relação terapêutica, daquele exercido pela
terapia de apoio:
Deve-se distinguir a psicoterapia de
apoio do apoio intrín seco e inerente a
todas as psicoterapias, que existe em
maior ou menor intensidade em
decorrência da própria relação
terapêutica e que se inclui nos
chamados fatores inespecíficos,
considerados por alguns autores (...)
como os principais responsáveis pela
influência que o terapeuta exerce sobre
o paciente. (CORDIOLI, 2008, p.190).
A psicoterapia de apoio utiliza intervenções
a partir das técnicas da sugestão, controle
ativo, reasseguramento, aconselhamento,
ventilação (desa bafo), educação, clarificação,
confrontação (Cordioli, 2008). A psicoterapia de
apoio visa estruturar e organizar o paciente
para que este esteja preparado para enfrentar
o ciclo que se inicia em sua entrada no hospital.
Considerações finais
O presente trabalho constituiu um exercício
reflexivo e descritivo acerca da atuação do
psicólogo em ambiente hospitalar. Nesse
sentido, foram uti lizados casos clínicos
oriundos de experiência de estágio
profissionalizante realizado em hospital geral
para desenvolver a importância e descrever os
principais aspectos da psicoterapia de apoio,
considerada um método indicado no
atendimento de pacientes internados em
hospitais. Os casos clínicos, expostos a partir
de vinhetas, foram articulados com referências
bibliográficas sobre a temática, de modo a
caracterizar a aplicação da psicoterapia de
apoio em ambiente hospitalar.
O atendimento psicológico em hospital
apresenta uma série de es pecificidades. Os
pacientes que lá se encontram, na maioria das
vezes, não solicitaram o apoio profissional de
um psicólogo. O tempo do atendimento
também é breve em contexto hospitalar,
limitado pelo período que o paciente se
encontra em internação dentro da instituição. A
rede de pessoas em torno do paciente também
é diferente: envolve médicos, enfermeiros,
técnicos. Os objetivos em relação à prática
clínica tradicional também diferem: no caso do
atendimento hospitalar trata-se,
fundamentalmente, de auxiliar o paciente a
lidar com o processo de adoecimento que é a
causa de sua estadia no hospital.
Ao longo do presente trabalho
argumentou-se que a psicoterapia de apoio é
recomendada para o contexto de atendimento
psicológico em hospital em função de consistir
em uma psicoterapia com eficácia de curta
duração, com abordagem focalizada, voltada
para auxiliar o paciente a lidar
com a irrupção de eventos críticos, tais como
os processos de adoecimento, por meio de
intervenções em crises.
Assim, entram em questão a retirada do
fator estressante e o afastamento do paciente
de uma situação de conflito. Neste processo, o
terapeuta assume papel ativo, presente e
apoiador, por meio da utilização de
intervenções tais como ventilação, procura de
alternativas, confrontação, sugestão e
orientação. Técnicas de respiração e
relaxamento também são importantes para o
controle da ansiedade. O objetivo é o retorno
do paciente à situação de equilíbrio anterior.
Evidentemente, a psicoterapia de apoio não
deve ser utilizada como uma “receita pronta”
nos casos de atendimento psicológico em
contextos hospitalares. O psicólogo sempre
deve fazer a avaliação individual dos casos
que atende, e mobilizar as técnicas que julgar
adequadas tendo em vista as especificidades
das situações. A fim de que os profissionais da
psicologia que venham a atuar em ambiente
hospitalar possam estar melhor preparados
para lidar com as particularidades deste
trabalho, é preciso maior dedicação e
investimento dos cursos de formação no ensino
da área da psicologia da saúde e, em
específico, da psicologia hospitalar.
Ismael (2005) argumenta que, atualmente,
há um aumento do nú mero de profissionais na
área da psicologia hospitalar, o que não
acarreta em um investimento de formação
correspondente. Uma das dificuldades
enfrentadas é a resistência dos hospitais em
inserir a Psicologia, outra é o despreparo dos
psicólogos em atuar nestes ambientes. Uma
das causas deste despreparo é a formação
universitária dos cursos de psicologia,
deficiente na área da psicologia hospitalar, o
que gera mão de obra inexperiente, sem os
recursos teóricos e conhecimentos
necessários. Este fato acaba por gerar uma
dificuldade, por parte dos hospitais, em aceitar
psicólogos em seus quadros profissionais
(ISMAEL, 2005).
Com o presente trabalho, espera-se ter
contribuído para a melhor com preensão dos
usos possíveis da psicoterapia de apoio no
contexto da atuação do psicólogo em ambiente
hospitalar, e assim destacar a importância da
presença deste profissional no
acompanhamento dos pacientes que se
encontram em determinado período de suas
vidas nestas instituições.
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