Buscar

peticao-amicus-curiae-degase

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 28 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL 
DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
 
 
 
 
 
Processo n. 0026457-45.2015.8.19.0000 
 
 
A DEFENSORIA PÚBLICA GERAL DO ESTADO DO RIO DE 
JANEIRO, órgão público com sede na Avenida Marechal Câmara n. 314, Centro, Rio de 
Janeiro – RJ, devidamente presentada pelo Defensor Público-Geral do Estado, bem como 
pelos demais membros signatários da presente, vem requerer sua habilitação na qualidade de 
 
AMICUS CURIAE 
 
na representação de inconstitucionalidade em epígrafe, proposta pelo Deputado estadual 
Flavio Nantes Bolsonaro, na forma do art. 7°, § 2°, da Lei n. 9.868/1999, aqui aplicável por 
analogia, nos termos a seguir: 
 
 
1. Possibilidade de manifestação da Defensoria Pública como amicus 
curiae em processo objetivo de constitucionalidade: 
 
A figura do amicus curiae constitui um instrumento processual que se destina à 
ampliação do espaço de discussão em ações de controle concentrado de constitucionalidade, 
permitindo que órgãos, entidades e especialistas contribuam com argumentos de fato e de 
direito na construção da solução jurídica a ser feita pela Corte. 
 
O Ministro Celso de Mello, ao proferir seu voto na ADI-MC n. 2130, bem 
pontuou o papel do amicus curiae no processo de constitucionalidade das leis e atos 
normativos: 
 
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. 
INTERVENÇÃO PROCESSUAL DO AMICUS CURIAE. 
POSSIBILIDADE. LEI Nº 9.868/99 (ART. 7º, § 2º). SIGNIFICADO 
 
 
 
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
POLÍTICO-JURÍDICO DA ADMISSÃO DO AMICUS CURIAE NO 
SISTEMA DE CONTROLE NORMATIVO ABSTRATO DE 
CONSTITUCIONALIDADE. PEDIDO DE ADMISSÃO 
DEFERIDO. 
- No estatuto que rege o sistema de controle normativo abstrato de 
constitucionalidade, o ordenamento positivo brasileiro processualizou 
a figura do amicus curiae (Lei nº 9.868/99, art. 7º, § 2º), permitindo 
que terceiros – desde que investidos de representatividade adequada - 
possam ser admitidos na relação processual, para efeito de 
manifestação sobre a questão de direito subjacente à própria 
controvérsia constitucional. 
- A admissão de terceiro, na condição de amicus curiae, no processo 
objetivo de controle normativo abstrato, qualifica-se como fator de 
legitimação social das decisões da Suprema Corte, enquanto Tribunal 
Constitucional, pois viabiliza, em obséquio ao postulado democrático, 
a abertura do processo de fiscalização concentrada de 
constitucionalidade, em ordem a permitir que nele se realize, sempre 
sob uma perspectiva eminentemente pluralística, a possibilidade de 
participação formal de entidades e de instituições que efetivamente 
representem os interesses gerais da coletividade ou que expressem os 
valores essenciais e relevantes de grupos, classes ou estratos sociais. 
Em suma: a regra inscrita no art. 7º, § 2º, da Lei nº 9.868/99 - que 
contém a base normativa legitimadora da intervenção processual do 
amicus curiae – tem por precípua finalidade pluralizar o debate 
constitucional. 
 
Este instituto está expressamente regulamentado no art. 7°, § 2°, da Lei n. 
9.868/1999, in verbis: 
 
Art. 7o Não se admitirá intervenção de terceiros no processo de ação 
direta de inconstitucionalidade. 
§ 1o (VETADO) 
§ 2o O relator, considerando a relevância da matéria e a 
representatividade dos postulantes, poderá, por despacho irrecorrível, 
admitir, observado o prazo fixado no parágrafo anterior, a 
manifestação de outros órgãos ou entidades. 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/Mensagem_Veto/1999/Mv1674-99.htm
 
 
 
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
A admissão de uma pessoa como amicus curiae, conforme previsto no 
dispositivo supra, depende da relevância da questão a ser analisada e de representatividade 
adequada do requerente, entendida essa como a existência de “razões que tornem desejável e 
útil a sua atuação processual na causa, em ordem a proporcionar meios que viabilizem uma 
adequada resolução do litígio constitucional”
1
. 
 
Não há dúvida que a requerente cumpre esse requisito. 
 
A Defensoria Pública é instituição originalmente criada para a defesa dos 
interesses judiciais das pessoas comprovadamente hipossuficientes, tendo como uma das 
primeiras leis regulamentadoras a Lei n. 1.060/1950, que cuida do direito à assistência 
judiciária gratuita. 
 
Com o movimento processual de ampliação do acesso à justiça, o papel da 
Defensoria Pública foi naturalmente ampliado no ordenamento, passando a lhe ser assegurada 
a orientação jurídica dos necessitados, além da defesa do regime democrático e a promoção 
dos direitos humanos, função essa de reforço na construção de uma sociedade livre, 
igualitária, justa e de valorização da dignidade da pessoa humana (art. 3° da Constituição da 
República). 
 
Esse é o conteúdo do art. 134 da Constituição da República, norma primária do 
regime jurídico da Defensoria Pública: 
 
Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à 
função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e 
instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação 
jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os 
graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de 
forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV 
do art. 5º desta Constituição Federal. 
 
 
1 
 STF, ADI 3045, Relator Ministro Celso de Mello, julgamento em 10.08.2005, DJe 
01.06.2007. 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm#art5lxxiv
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm#art5lxxiv
 
 
 
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
Entretanto, a definição de “necessitado” vai além do conceito de 
hipossuficiente econômico para abranger também outros interesses que denotem fragilidade. 
Dessa forma, cabe a Defensoria Pública a defesa das pessoas ou grupo de pessoas que 
denotem alguma fragilidade de ordem econômica, técnica ou jurídica: 
 
(...) o sistema jurídico e a realidade social contemporânea demonstram 
que a necessidade nem sempre se encontra relacionada à incapacidade 
econômica. Muitas vezes, a necessidade também pode constituir 
sinônimo de vulnerabilidade jurídica ou de fragilidade na estrutura 
organizacional. Esse caráter multifacetário da carência pode ser 
identificado, por exemplo, no caso da defesa do réu sem advogado na 
área criminal, na atuação da curadoria especial na área cível e na tutela 
dos interesses coletivos lato sensu. 
Por essa razão, o termo “necessitados” (art. 134 da CRFB) deve ser 
compreendido como verdadeira chave hermenêutica, capaz de 
englobar toda a amplitude do fenômeno da carência, em suas diversas 
concepções. Isso porque a atuação institucional motivada pela 
necessidade econômica (art. 134 c/c art. 5º, LXXIV da CRFB) 
representa para a Defensoria Pública apenas o mínimo constitucional, 
não podendo ser afastada a tutela objetiva de direitos fundamentais em 
razão da necessidade social, cultural, organizativa ou processual. 
Justamente por isso, através de uma interpretação teleológica do texto 
constitucional, foram legalmente atribuídas à Defensoria Públicafunções institucionais voltadas para a tutela dos direitos e interesses de 
sujeitos em situação de vulnerabilidade jurídica ou de grupos 
organizacionalmente frágeis. (ESTEVES, Diogo; SILVA, Franklyn 
Roger Alves. Princípios institucionais da Defensoria Pública. Rio de 
Janeiro: Editora Forense, 2014, p. 355) 
 
Dessa forma, a tutela de pessoas ou grupos vulneráveis justifica a atuação da 
Defensoria Pública em favor dos direitos das crianças e dos adolescentes, eleito como um dos 
grupos de especial atenção pela Constituição em razão de sua peculiar situação de 
desenvolvimento e consequente de fragilidade. 
 
No mesmo sentido é a Constituição do Estado do Rio de Janeiro, em seu art. 
179 e inciso V, alínea “g”: 
 
 
 
 
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
Art. 179 - A Defensoria Pública é instituição essencial à função 
jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e 
instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação 
jurídica integral e gratuita, a postulação e a defesa, em todos os graus 
e instâncias, judicial e extrajudicialmente, dos direitos e interesses 
individuais e coletivos dos necessitados, na forma da lei. 
(...) 
V - patrocinar: 
(...) 
g) a defesa do interesse do menor e do idoso, na forma da lei; 
 
No plano legislativo infraconstitucional, a defesa dos direitos de crianças e 
adolescentes pela Defensoria Pública vem expressa no art. 4°, XI, da Lei Complementar n. 
80/1994: 
 
Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre 
outras: 
(...) 
XI – exercer a defesa dos interesses individuais e coletivos da criança 
e do adolescente, do idoso, da pessoa portadora de necessidades 
especiais, da mulher vítima de violência doméstica e familiar e de 
outros grupos sociais vulneráveis que mereçam proteção especial do 
Estado; 
 
Se as disposições constitucionais e a lei orgânica da Defensoria Pública já 
instituíam a defesa dos direitos das crianças e adolescentes como função institucional, a Lei n. 
8.069/1990 ratifica o sistema protetivo da infância e inclui a instituição no Sistema de 
Garantias dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes, ou seja, como parte da articulação e 
organização interinstitucional para promover a efetivação dos direitos infanto-juvenis. 
 
O art. 86 do Estatuto da Criança e do Adolescente inaugura o sistema de 
garantias ao dispor que “a política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-
se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não governamentais, da 
União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios”, e o art. 88, inciso V, traz como 
diretriz da política de atendimento a “integração operacional de órgãos do Judiciário, 
Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e Assistência Social, preferencialmente em 
 
 
 
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
um mesmo local, para efeito de agilização do atendimento inicial a adolescente a quem se 
atribua autoria de ato infracional”. 
 
Por compor o Sistema de Garantias dos Direitos da Criança e do Adolescente e 
possuir a função institucional de proteção e promoção dos direitos infanto-juvenis, individual 
ou coletivamente, a Defensoria Pública possui representatividade adequada para ingressar no 
presente feito na qualidade de amicus curiae. 
 
Igualmente presente se revela o requisito da relevância do caso, porque a 
presente representação de inconstitucionalidade visa a invalidar lei que proíbe a revista íntima 
ou vexatória nas unidades de sociointernação do Estado do Rio de Janeiro, temática direta e 
imediatamente associada aos direitos e garantias fundamentais. 
 
Não fosse isso, convém esclarecer que o Defensor Público-Geral do Estado é 
órgão legitimado para deflagração do processo objetivo de controle de constitucionalidade em 
nível estadual, como se infere do art. 162 da Carta Estadual
2
. 
 
Nessa ordem de ideias, se podia a Defensoria Pública, por meio de seu chefe 
institucional que esta subscreve, iniciar o processo, por maioria de razão deve ser admitida a 
oficiar como amigo da corte, municiando o tribunal de dados e argumentos, enfim, 
contribuindo para o amplo debate a respeito da interpretação das normas constitucionais 
estaduais. 
 
Deve, portanto, ser admitido o ingresso da requerente como amicus curiae nos 
autos da presente representação de inconstitucionalidade. 
 
2. O objeto da representação de inconstitucionalidade: 
 
2 
 Art 162: “A representação de inconstitucionalidade de leis ou de atos normativos 
estaduais ou municipais, em face desta Constituição, pode ser proposta pelo Governador do 
Estado, pela Mesa, por Comissão Permanente ou pelos membros da Assembléia Legislativa, 
pelo Procurador-Geral da Justiça, pelo Procurador-Geral do Estado, pelo Defensor Público 
Geral do Estado, por Prefeito Municipal, por Mesa de Câmara de Vereadores, pelo Conselho 
Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil, por partido político com representação na 
Assembléia Legislativa ou em Câmara de Vereadores e por federação sindical ou entidade de 
classe de âmbito estadual”. 
 
 
 
 
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
A representação de inconstitucionalidade tem por objeto a Lei n. 7.011, de 25 
de maio de 2015, que dispõe sobre o sistema de revista de visitantes nos estabelecimentos de 
atendimento ao cumprimento das medidas socioeducativas privativas de liberdade no Estado 
do Rio de Janeiro, e tem o seguinte teor: 
 
Art. 1º - A revista de visitantes, necessária à segurança interna das 
unidades do Departamento Geral de Ações Sócio-Educativas 
(DEGASE) do Estado, será realizada com respeito à dignidade 
humana e segundo o disposto nesta Lei. 
Parágrafo único - Considera-se visitante todo aquele que ingressa em 
unidade do DEGASE para manter contato direto ou indireto com 
adolescente interno ou para prestar serviço de administração ou de 
manutenção, na condição de funcionário terceirizado. 
Art. 2º - Todo visitante que ingressar em unidade do DEGASE será 
submetido à revista mecânica, para a qual é proibido o procedimento 
de revista manual. 
§1º O procedimento de revista mecânica é padrão e deve ser 
executado através da utilização de equipamentos necessários e capazes 
de garantir a segurança de unidade do DEGASE, tais como detectores 
de metais, aparelhos de raio-x, entre outras tecnologias que preservem 
a integridade física, psicológica e moral do revistado. 
§2° O disposto no caput deste artigo não se aplica a Chefe de Poder, 
Ministro, Secretário de Estado, magistrado, parlamentar, membro da 
Defensoria Pública e do Ministério Público, Delegado de Polícia, 
advogado regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil 
(OAB), representantes do Conselho Regional de Serviço Social 
(CRESS), representantes do Conselho Regional de Psicologia (CRP), 
membros dos Conselhos Municipais de Defesa dos Direitos da 
Criança e do Adolescente, membros do Conselho Estadual de Defesa 
dos Direitos da Criança e do Adolescente, membros dos Conselhos 
Tutelares e representantes do Sindicado dos Servidores do 
Departamento Geral de Ações Sócio-Educativas (Sind-DEGASE), 
quando estiverem no exercício de suas funções. 
§3° Ficam dispensados da revista mecânica as gestantes e os 
portadores de marca passo. 
Art. 3º - Fica proibida, no âmbito das unidades do DEGASE do 
Estado do Rio de Janeiro, a revista íntima.Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
Parágrafo único - Considera-se revista íntima toda e qualquer inspeção 
corporal que obrigue o visitante a despir-se parcial ou totalmente, 
efetuada visual ou manualmente, inclusive com auxílio de 
instrumentos. 
Art. 4º - Admitir-se-á, excepcionalmente, a realização de revista 
manual em caso de fundada suspeita de que o visitante traga consigo 
objetos, produtos ou substâncias cuja entrada seja proibida por lei e/ou 
exponha a risco a segurança da unidade do DEGASE. 
§1° Para efeito desta Lei, a revista manual é equivalente ao 
procedimento de busca pessoal, nos termos do Código de Processo 
Penal. 
§2º A fundada suspeita deverá ter caráter objetivo, diante do fato 
identificado e de reconhecida procedência, registrado pela 
administração em livro próprio da unidade do DEGASE e assinado 
pelo revistado e duas testemunhas. O registro deverá conter a 
identificação do funcionário e a descrição detalhada do fato. 
§3° Previamente à realização da busca pessoal, o responsável pelo 
estabelecimento fornecerá, ao visitante, declaração escrita sobre os 
motivos e fatos objetivos que justifiquem o procedimento, dando-lhe a 
opção de recusa a se submeter ao procedimento, no caso de 
desistência da visita. 
§4º A busca pessoal será efetuada de forma a garantir a privacidade do 
visitante, em local reservado, por agente socioeducativo do mesmo 
sexo, obrigatoriamente acompanhado de duas testemunhas. 
§5º Da busca pessoal estão dispensadas as autoridades mencionadas 
no parágrafo 2°, do artigo 2° desta Lei, quando estiverem no exercício 
de suas funções, bem como crianças e adolescentes. 
Art. 5° - Após a visita, o adolescente interno poderá ser submetido, 
excepcionalmente, à busca pessoal. 
§1° Em hipótese nenhuma será admitida a revista íntima no 
adolescente interno. 
§2° A busca pessoal no adolescente interno será realizada conforme o 
disposto no artigo 4° desta Lei. 
Art. 6° - O Poder Executivo adotará as providências cabíveis e 
necessárias para a publicidade do disposto nesta Lei, divulgando-a 
para os adolescentes internos e afixando cópias na entrada das 
unidades do DEGASE. 
 
 
 
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
Art. 7º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. 
 
Da análise da petição inicial da representação, verifica-se que seu autor 
argumenta que a lei padeceria de vício de inconstitucionalidade formal, por vício de iniciativa 
do projeto de lei, e material, porque viola a segurança pública, o direito à vida e à integridade 
física. 
 
2.1. Preliminar: a inépcia da petição inicial 
 
O art. 3°, I, da Lei n. 9.868/1999 determina que a petição inicial em ação de 
controle de constitucionalidade deverá indicar “o dispositivo da lei ou do ato normativo 
impugnado e os fundamentos jurídicos do pedido em relação a cada uma das impugnações”, a 
qual será considerada inepta, caso descumprida essa exigência, na forma do art. 4° da lei. 
 
A propósito, veja-se a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal: 
 
(...) É necessário lembrar que a Lei n. 9.868, de 10 de novembro de 
1999, estabelece que a peça inaugural das ações diretas indicará o 
dispositivo da lei ou do ato normativo atacado e os fundamentos 
jurídicos do pedido em relação a cada uma das impugnações [artigo 
3º]. Não tendo sido prestado o devido acatamento a essa exigência da 
lei, a ação não pode ser conhecida. A inicial não se reveste das 
formalidades a ela inerentes, ensejando a declaração da inépcia da 
peça por falta de requisitos essenciais, consoante dispõe o artigo 295, 
parágrafo único, inciso II, do Código de Processo Civil, combinado 
com o artigo 4º, da Lei n. 9.868/99. (ADI 2989-CE. Relator Ministro 
Eros Grau. DJ 04.05.2005) 
 
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. INEPCIA DA 
INICIAL. - E NECESSARIO, EM AÇÃO DIRETA DE 
INCONSTITUCIONALIDADE, QUE VENHAM EXPOSTOS OS 
FUNDAMENTOS JURIDICOS DO PEDIDO COM RELAÇÃO AS 
NORMAS IMPUGNADAS, NÃO SENDO DE ADMITIR-SE 
ALEGAÇÃO GENERICA DE INCONSTITUCIONALIDADE SEM 
QUALQUER DEMONSTRAÇÃO RAZOAVEL, NEM ATAQUE A 
QUASE DUAS DEZENAS DE MEDIDAS PROVISORIAS EM SUA 
TOTALIDADE COM ALEGAÇÕES POR AMOSTRAGEM. AÇÃO 
 
 
 
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE QUE NÃO SE 
CONHECE. 
 
(ADI 259. Relator Ministro Moreira Alves. DJ 19.02.1993) 
 
A exigência de fundamentação individualizada de cada uma das normas 
justifica-se pelas diferentes causas que motivaram suas aprovações, além de permitir o efetivo 
contraditório e defesa de constitucionalidade da norma. Sem o cumprimento deste requisito, 
não há como a Assembleia Legislativa ou os demais atores habilitados a participarem do 
processo de inconstitucionalidade terem conhecimento amplo da motivação do autor ao 
ajuizar a ação. 
 
No caso, percebe-se que o autor impugna a totalidade da Lei n. 7.011/2015, 
mas deixa de apresentar os fundamentos em relação a cada uma das normas, fazendo 
referência genérica de violação à segurança pública e ao direito a vida. 
 
Sendo assim, requer a V. Exa. que a representação de inconstitucionalidade não 
seja conhecida por inépcia da petição inicial. 
 
 
2.2. Preliminar: ausência de interesse de agir por impossibilidade de 
o Tribunal de Justiça analisar representação de 
inconstitucionalidade justificada em violação à Constituição da 
República 
 
A representação de inconstitucionalidade não deve ser conhecida porque tem 
como objeto lei estadual – Lei n. 7.011/2015 – e como parâmetro a Constituição da 
República, invocando expressamente a dignidade da pessoa humana (art. 1°, III) e a segurança 
pública (art. 144), conforme se observa de fl. 12 da petição inicial. 
 
O art. 125, § 2°, da Constituição da República atribui aos Tribunais de Justiça 
competência para analisar a “inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou 
municipais em face da Constituição Estadual”, razão pela qual a pretensão deduzida não pode 
vir a ser julgada por esta eg. Corte. 
 
Neste sentido: 
 
 
 
 
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE ¿ LEI ESTADUAL 
QUE INSTITUIU O FUNDO DE COMBATE À POBREZA E ÀS 
DESIGUALDADES SOCIAIS (LEI N4056/02 e DECRETO 
ESTADUAL Nº 33.123/2003. DIPLOMAS LEGAIS VALIDADOS 
PELA EMENDA CONSTITUCIONAL FEDERAL Nº42/2003 ¿ 
AUSENCIA DECONDIÇÃO DA AÇÃO¿ PROCESSO QUE SE 
EXTINGUE. Alegada inconstitucionalidade da Lei e do Decreto 
referidos ao argumento de ser inconstitucional o adicional do ICMS 
sobre as alíquotas normais de produtos e serviços em circulação no 
Estado do Rio de Janeiro em confronto com art. 82 dos Ato das 
Disposições Constitucionais Transitórias¿. Incompetência 
do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro para apreciar a alegação 
de inconstitucionalidade de normas estaduais tendo por paradigma 
ementa constitucional federal. Desimportante a argumentação que se 
invoque para contornar tal impossibilidade. 
(TJRJ. Representação de inconstitucionalidade n. 0056557-
51.2013.8.19.0000. relatora Desembargadora Gizelda Leitão Teixeira. 
Julgamento em 14.07.2014) 
 
 
2.3. Da inexistência de inconstitucionalidade formal 
 
A Lei n. 7.011/2015 tem por objeto proibir a realização de revista íntima ou 
vexatória nas unidades de socioeducação do Estado do Rio de Janeiro.Desse modo, 
diversamente do afirmado, o ato normativo prescreve normas sobre proteção à infância e 
juventude, de sorte que é livre a iniciativa para proposição legislativa. 
 
Explica-se. 
 
De acordo com a Constituição da República, Estados, Distrito Federal e União 
compartilham competência legislativa no tocante à proteção à infância e juventude, cabendo 
 
 
 
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
àqueles a edição de regras específicas, destinadas a atender as peculiaridades regionais (art. 
24, XV
3
). 
 
Nessa ordem de ideias, editou-se a Lei Federal 12.594/2012, que instituiu o 
SINASE, Sistema Nacional Socioeducativo, especificando a competência de cada um dos 
entes federados na política de atendimento a adolescentes em conflito com a Lei. 
 
Aos Estados, por força da norma constitucional e também da legislação federal, 
compete “editar normas complementares para a organização e funcionamento do seu sistema 
de atendimento e dos sistemas municipais”. 
 
Exercendo essa competência legislativa, os nobres parlamentares Jorge 
Picciani e Marcelo Freixo deflagraram o processo que resultou na Lei questionada, a qual, 
repita-se, cuida da proteção de adolescentes privados da liberdade e, portanto, de livre 
iniciativa. 
 
Ademais, a leitura do ato legislativo impugnado revela que não se tratou de 
criar, estruturar ou alterar as atribuições do Departamento Geral de Ações Socioeducativas, 
doravante DEGASE, que segue, exatamente com as mesmas tarefas: gerir unidades destinadas 
à execução de medidas de internação e semiliberdade, controlando o ingresso de pessoas 
naqueles locais. 
 
A novidade foi, tão-só, suplantar um estado inconstitucional de coisas – adiante 
o tema será abordado com maior precisão – que expunha desnecessária e injustificadamente 
visitantes e adolescentes privados da liberdade a constrangimento, este consistente na revista 
íntima e, portanto, vexatória. 
 
No ponto, consoante nos foi informado pela Direção do DEGASE (ofício 48 de 
17 de outubro de 2014), todos os visitantes deveriam ser submetidos “aos procedimentos de 
revista de acordo com o Plano de Segurança” Socioeducativa, editado pelo DEGASE em 
2013. Tal plano previa que: 
 
 
3 
 Art. 24: “Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente 
sobre: XV - proteção à infância e à juventude”. 
 
 
 
 
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
Art. 118: O visitante deverá identificar-se na portaria, apresentando 
documento de identificação. Ele receberá, então, o crachá de visitante, 
sendo encaminhado para os demais procedimentos Departamento 
Geral de Ações Socioeducativas de revista e acompanhamento. 
Parágrafo único. A unidade deverá fornecer carteira de identificação 
para autorização da visita. 
Art. 119. O visitante será conduzido ao local definido para a 
realização da visita com o acompanhamento do agente socioeducativo 
designado para tal função. 
Art. 120. Todas as visitas devem ser submetidas aos procedimentos de 
revista e orientadas sobre as normas previstas nessa resolução. 
Art. 124. Os socioeducandos deverão passar por revista minuciosa 
antes e depois da realização das visitas. 
 
Note-se que, mesmo sem expressa autorização legal e/ou infralegal (em 
momento algum o ato normativo secundário editado pela Direção do DEGASE – a produção 
coube, dentre outros, a Alexandre Azevedo de Jesus, Diretor-Geral – dispõe sobre a 
necessidade de parentes e adolescentes despirem-se das roupas), a Administração Pública 
estadual submetia os visitantes e internos a verdadeiro tratamento vexatório. 
 
A Lei em comento veio, portanto, proteger a infância e adolescência contra 
essa prática desconforme à lei, normas de direitos humanos, e até mesmo dos atos infra-legais 
editados pela própria administração. Não se imiscuiu, portanto, em tarefas de cunho 
eminentemente administrativos, cuja competência para iniciar o processo legislativo caberia 
ao chefe de poder, o Governador do Estado. 
 
A se admitir a tese autoral, a iniciativa de quase todas as leis estaduais caberá 
ao chefe do executivo, afinal, num cenário de federalismo assimétrico e centrípeto, em que 
são concentradas quase todas as matérias no seio de competência da União, ao estado-
membro resta pouco a legislar. E, daquele reduzido âmbito atribuído ao Estado, tudo 
dependerá da iniciativa do Governador. A Assembleia Legislativa converter-se-ia em mero 
órgão de figuração! 
 
Enfim, porque a lei em comento não cuida de regime jurídico de servidores, 
não trata de atribuições de Secretarias de Estado, criação de órgãos ou sua reestruturação, mas 
sim de proteção à infância e juventude, deve a representação ser julgada improcedente no 
ponto. 
 
 
 
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
 
2.4. Da inexistência de inconstitucionalidade material 
 
Rejeitada a alegação de inconstitucionalidade formal, a Defensoria 
Pública passa a enfrentar a alegação de inconstitucionalidade material. De acordo com a 
parte autora, esta se verificaria uma vez que a Lei vulnera a segurança pública, pois a 
medida poderia permitir o ingresso de materiais perigosos no interior de unidades de 
internação, passíveis de utilização contra outros internos, agentes de segurança, e até 
mesmo magistrados e representantes do Ministério Público, que rotineiramente têm 
contato com os adolescentes nas inúmeras audiências ocorridas em todo o estado. 
 
Sem razão como adiante se exporá. 
 
Inicialmente, convém esclarecer que, conforme consta do relatório da 
organização Humans Rights Watch, “O Brasil atrás das grades”
4
 (1998), “o primeiro 
obstáculo às visitas dos presos é o tratamento humilhante pelo qual passam os 
visitantes, que podem estar sujeitos a revista, mal regulamentadas, nas quais são 
forçados a se despirem e até mesmo, segundo alegam vários presos, a exame de toque 
vaginal”. 
 
Embora se referindo a presos, portanto, pessoas imputáveis condenadas 
por crimes e privadas de liberdade, a mesma ideia é aplicável, por analogia, aos 
adolescentes que cumprem medida socioeducativa com restrição de liberdade, seja em 
unidades de internação ou mesmo em unidades de semiliberdade. 
 
Nessa ordem de ideias, a Lei n. 7.011/2015, ao contrário do alegado, 
confere efetividade aos princípios da dignidade da pessoa humana, da prioridade 
absoluta, da proteção integral e ao direito à convivência familiar e comunitária, todos 
ponderados com o direito coletivo à segurança pública, em autêntica e lícita 
concordância prática. 
 
 
4 Disponível em http://hrw.org/portuguese/reports/presos/prefacio.htm. 
 
http://hrw.org/portuguese/reports/presos/prefacio.htm
 
 
 
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
Analisemos cada um dos princípios que a Defensoria Pública entende 
terem aplicação ao caso em exame, ao se confrontarem com o direito à segurança 
pública (art. 144 da CF/88 e 183 da CERJ). 
 
a) O princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1, III da CF/88 e art. 8º da 
CERJ) 
 
O conceito de dignidade da pessoa humana tem como marcos a doutrina 
de São Tomás de Aquino, Pico della Mirandola e de Kant, embora já fosse conhecido e 
discutido desde a antiguidadeclássica. 
 
Na doutrina de São Tomás de Aquino a noção de dignidade da pessoa 
humana funda-se na identificação entre Deus e homem, este criado à imagem e 
semelhança daquele, bem como na capacidade de autodeterminação inerente à natureza 
humana, de modo que o ser humano, livre por natureza, em razão de sua dignidade, 
existe por sua própria vontade. 
 
Mas é o pensamento de Immanuel Kant, também despido de 
religiosidade, que mais influenciaria na conceituação do instituto. Partindo da 
autonomia ética do ser humano e de sua racionalidade, Kant assinala que a autonomia 
da vontade, entendida como a faculdade de autodeterminação e atuação em 
conformidade com a representação de certas leis, é característica encontrada apenas nos 
seres racionais, de modo que
5
 
 
(...) o Homem, e, duma maneira geral, todo o ser racional, existe 
como um fim em si mesmo, não simplesmente como meio para 
o uso arbitrário desta ou daquela vontade. Pelo contrário, em 
todas as suas ações, tanto nas que se dirigem a ele mesmo como 
nas que se dirigem a outros seres racionais, ele tem sempre de 
ser considerado simultaneamente como um fim... 
 
5 
 KANT, Immanuel. Fundamentos da metafísica dos costumes. Apud: SARLET, Ingo 
Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 
1988. 6ª ed. rev. e atual Porto Alegre: Livraria do Advogado, 6ª ed. rev. e atual., 2008, pp. 33-
34. 
 
 
 
 
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
E complementa sua tese afirmando que
6 
 
(...) no reino dos fins tudo tem ou um preço ou uma dignidade. 
Quando uma coisa tem um preço, pode pôr-se em vez dela 
qualquer outra como equivalente; mas quando uma coisa está 
acima de todo o preço, e portanto não permite equivalente, então 
tem ela dignidade... Esta apreciação dá pois a conhecer como 
dignidade o valor de uma tal disposição de espírito e põe-na 
infinitamente acima de todo o preço. Nunca ela poderia ser posta 
em cálculo ou confronto com qualquer coisa que tivesse um 
preço, sem de qualquer modo ferir a sua santidade. 
 
Maria Celina Bodin de Moraes, tomando a concepção kantiana para 
concretização jurídica da dignidade, afirma que a dignidade pode ser decomposta em 
quatro substratos ou subprincípios: a) o sujeito moral que reconhece a existência dos 
outros como sujeitos iguais a ele; b) merecedores do mesmo respeito à integridade 
psicofísica; c) dotado de autodeterminação; d) parte de um grupo social no qual não 
pode ser marginalizado
7
. 
 
Outra não foi a conclusão do Tribunal Constitucional alemão ao definir o 
conteúdo dessa cláusula, prevista no Art. 1 I do GG. Como afirmado pelo Tribunal em 
julgamento em dezembro de 1970, “para estar presente uma violação da dignidade 
humana o atingido precisa ter sido submetido a um tratamento que coloque em xeque, 
 
6 
 Ibid., loc. cit. 
 
 
7 
 “São corolários desta elaboração os princípios jurídicos da igualdade, da integridade 
física e moral – psicofísica – , da liberdade e da solidariedade. De fato, quando se reconhece a 
existência de outros iguais, daí dimana o princípio da igualdade; se os iguais merecem idêntico 
respeito à sua integridade psicofísica, será preciso construir o princípio que protege tal 
integridade; sendo a pessoa essencialmente dotada de vontade livre, será preciso garantir, 
juridicamente, esta liberdade; enfim, fazendo a pessoa, necessariamente, parte do grupo social, 
disso decorrerá o princípio da solidariedade social.” (MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos 
à pessoa humana: uma leitura civil-constitucional dos danos morais. Rio de Janeiro: Editora 
Renovar, 3ª tiragem, 2007, p. 85) 
 
 
 
 
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
de antemão, sua qualidade de sujeito [de direitos], ou haver no caso concreto um 
desrespeito arbitrário à sua dignidade”
8
. 
 
A partir dessa delimitação do conceito de dignidade, outra não é a 
conclusão senão que a Lei n. 7.011/2015 garante efetividade a esse princípio, impedindo 
a exposição pública das pessoas a agentes estatais. 
 
b) O princípio da prioridade absoluta e a doutrina da proteção integral (art. 227 da 
CF/88 e art. 45 da CERJ) 
 
O artigo 227 da Constituição da República, o art. 45 da Constituição do 
Estado do Rio de Janeiro instituem o princípio da prioridade absoluta ao estabelecer a 
primazia em favor de crianças e adolescentes em todas as esferas de interesse. Seja no 
campo judicial, extrajudicial, administrativo, social ou familiar, o interesse infanto-
juvenil deve preponderar. Leva-se em conta a condição de pessoa em desenvolvimento, 
pois a criança e o adolescente possuem uma fragilidade peculiar de pessoa em 
formação, correndo mais riscos do que um adulto, por exemplo. 
 
Ressalte-se que a prioridade tem um objetivo claro: realizar a proteção 
integral, assegurando primazia e a concretização dos direitos fundamentais enumerados 
no artigo 227, caput, da Constituição da República e enumerados no caput do artigo 4º 
do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 
Ao Poder Público, em todas as suas esferas – legislativa, judiciária ou 
executiva –, é determinado o respeito e resguardo, com primazia, dos direitos 
fundamentais infanto-juvenis. 
 
A Lei n. 7.011/2015, portanto, constitui reforço às garantias 
constitucionais do adolescente, ao proibir que o visitante ou o próprio sancionado sejam 
submetidos ao procedimento indigno de violação. 
 
 
8 
 MARTINS, Leonardo (Org.). Cinquenta Anos de Jurisprudência do Tribunal 
Constitucional Federal Alemão, Montevidéu: Fundação Konrad Adenauer, 2005, p. 181. 
 
 
 
 
 
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
Destaque-se o art. 5° do Estatuto da Criança e do Adolescente que 
reforça a impossibilidade de submissão do adolescente visitante ou do adolescente em 
conflito com a lei em serem submetidos à revista íntima ou vexatória, prescrevendo que 
“nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, 
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei 
qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais”. 
 
c) O direito à convivência familiar (art. 227 da CF/88 e art 45 e 58 da CERJ) 
 
A proibição legal cumpre igualmente a ordem constitucional de garantia 
à prioridade absoluta dos direitos da criança e do adolescente ao favorecer o direito de 
convivência familiar, que vem elencado no art. 227 da Constituição da República e art. 
4° do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
O art. 19 do Estatuto traz disposição específica sobre o adolescente em 
conflito com a lei e o direito à convivência familiar: 
 
Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e 
educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família 
substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em 
ambiente livre da presença de pessoas dependentes de 
substâncias entorpecentes. 
(...) 
§ 4º. Será garantida a convivência da criança e do adolescente 
com a mãe ou o pai privado de liberdade, por meio de visitas 
periódicas promovidas pelo responsável ou, nas hipóteses de 
acolhimento institucional, pela entidade responsável, 
independentemente de autorização judicial. 
 
Ao tratar do direito à convivência familiar em relação aos adolescentes 
em conflito coma lei, Andrea Rodrigues Amin, na obra “Curso de direito da criança e 
do adolescente: aspectos práticos e teóricos”, menciona que: 
 
Com a promulgação da Lei n. 12.594 de 18 de janeiro de 2012, 
que instituiu o Sistema Nacional de Atendimento 
Socioeducativo (Sinase) e regulamentou a execução das medidas 
socioeducativas destinadas a adolescentes que pratiquem ato 
infracional, pode-se observar a preocupação em identificar a 
 
 
 
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
situação e a perspectiva familiar daqueles na avaliação dos 
resultados desta execução, notadamente porque a nova lei 
elencou como um de seus princípios norteadores a 
convivencialidade, ou seja, o fortalecimento dos vínculos 
familiares e comunitários no processo socioeducativo (art. 35, 
IX), corroborando com o ditame do art. 113 do ECA que 
preceitua o incentivo e a manutenção da relação familiar durante 
o cumprimento da medida. 
Ademais, para o cumprimento do Plano Individual de 
Atendimento do adolescente infrator (PIA), devem ser levadas 
em consideração atividades de integração e apoio à família e as 
formas de participação do núcleo familiar para efetivo 
cumprimento daquele plano individual. 
Como corolário da convivência familiar e comunitária, a 
permissão de visitas ao adolescente em cumprimento de medida 
de internação pelo cônjuge, companheiro, pais, responsáveis, 
filhos, parentes e amigos daquele, além do direito à visita 
íntima, quando comprovadamente estiver o(a) adolescente 
casado(a) ou em união estável (arts. 67 a 69), denota o papel 
fundamental na família na ressocialização do adolescente a 
respeito ao que dispõe o art. 16, V, do ECA (direito de participar 
da vida familiar e comunitária, sem discriminação). 
 
d) A aplicação da técnica da concordância prática ao caso em exame 
 
Uma vez verificados quais princípios da Constituição Estadual – todos 
repetidos, é bem verdade, da Constituição da República – devem orientar a solução da 
questão, mister verificar se, à luz da concordância prática, a solução legislativa é 
inconstitucional, por aniquilar por completo o direito à segurança de agentes 
socioeducativos, demais visitantes, autoridades que ingressam nas unidades de 
internação, e até mesmo dos adolescentes que ali se encontram privados da liberdade. 
 
A técnica da concordância prática consiste em método tópico de 
interpretação constitucional segundo o qual “impõe-se a coordenação e combinação dos 
bens jurídicos em conflito, de forma a evitar o sacrifício total de uns em relação aos 
 
 
 
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
outros”
9
. Subjacente a essa ideia está a de unidade constitucional e igual hierarquia e 
valor dos bens em conflito, o que impede o sacrifício total de um em relação aos outros, 
impondo-se o estabelecimento de limites e condicionamentos recíprocos
10
. 
 
A referida técnica, de utilização recorrente no direito português
11
, não é 
desconhecida entre nós, como se vê do julgamento da ADPF 101, em que se discutia a 
(im)possibilidade de importação de pneus usados e efeitos da decisão prolatada (se 
atingiam ou não decisões acobertadas pelo manto da coisa julgada). Naquele julgado, o 
STFafirmou que: 
 
“Não se trata nem de abolir a garantia constitucional da coisa 
julgada, nem de torná-la absoluta temporalmente. Por um 
imperativo de segurança jurídica e de máxima efetividade 
constitucional, deve-se prestigiar, no presente caso, uma 
interpretação balizada pelos vetores hermenêuticos da 
concordância prática e da eficácia integradora da Constituição. 
Isto porque o problema a ser aqui enfrentado não se refere à 
existência da coisa julgada, mas ao alcance de seus efeitos, para 
 
9 
 GOMES CANOTILHO, J.J. Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 7ª. edição 
(5ª. reimpressão), Coimbra: Almedina, 2003, p. 1225. 
 
10 
 Ibidem. 
 
11 
 À exemplo do acórdão 288/98, em que se discutia a constitucionalidade de decisão da 
Assembleia da República que convocou referendo para que fosse respondida a indagação: 
Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por 
opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente 
autorizado. Ali afirmou-se que: “De todo o modo, de acordo com esta leitura, o legislador 
ordinário estará vinculado a estabelecer formas de protecção da vida humana intra-
uterina, sem prejuízo de, procedendo a uma ponderação de interesses, dever 
balancear aquele bem jurídico constitucionalmente protegido com outros direitos, interesses 
ou valores, de acordo com o princípio da concordância prática”. 
 
 
 
 
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
que se preserve a eficácia circunscrita ao âmbito específico de 
um caso já transitado em julgado”
12
. 
 
Pois bem, sopesados os bens constitucionais em conflito, verifica-se que 
o legislador estadual adotou solução (a única, é bem verdade, suscetível de ser tomada) 
compromissória entre segurança pública e a dignidade dos indivíduos habilitados a 
realizar visitas a adolescentes privados de liberdade. 
 
De um lado verifica-se a preocupação legislativa, à vista da obrigação 
estatal de guarda assumida a partir da privação da liberdade de jovens em unidades de 
internação, com a segurança de todos aqueles que ingressam nesses equipamentos. 
Tanto assim que determina que todos os sujeitos serão submetidos à revista, à 
exceção de certas autoridades, revistados mecanicamente. 
 
Entretanto, em vista dos abusos cometidos pela Administração 
Pública, que, sem fundamento em lei formal e até mesmo ato infralegal (o Plano de 
Segurança Socioeducativo não era expresso a determinar a revista vexatória) expunha 
os visitantes a constrangimento exagerado, fez-se necessária a atuação legislativa. 
 
Com efeito, essa prática aniquilava o direito a dignidade pessoal de que 
são titulares os parentes e amigos de adolescentes e jovens privados de liberdade, afinal 
a revista consistia na desnudação de seu corpo, realização de agachamentos, etc. 
 
Ademais, desprotegia, desnecessária e inutilmente, esses sujeitos 
especiais de direitos, afinal muitos desses não tinham o direito à convivência familiar 
respeitado, em razão da humilhação pela qual seus parentes eram obrigados a passar. 
 
A desnecessidade dessa prática ressai evidente, a medida que as técnicas 
atuais existentes (portais metálicos e máquinas de scanner) permitem identificar – com 
maior precisão inclusive – a presença de artigos proibidos na posse daquele que 
pretende ingressar no estabelecimento. 
 
 
12 
 Trecho do voto do Senhor Ministro Gilmar Mendes, DJe n. 108, Divulgação 
01/06/2012, ementário 2654-1, p. 269. 
 
 
 
 
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
Assim, para coordenar o direito à segurança, dignidade, convivência 
familiar, na sua ampla margem de conformação, o legislador estadual houve por bem 
banir a prática vexatória. Sua conduta é, portanto, irreprovável, não cabendo ao Poder 
Judiciário substituir-se o congressista eleito pelo povo nessa tarefa de compatibilização 
de valores e bens em conflitos. 
 
Se há confronto entreo direito à segurança pública e dos adolescentes e 
seus visitantes em não serem destinatários de revistas íntimas ou vexatórias, esse 
conflito deve ser solucionado à luz do princípio da proporcionalidade, sendo que o 
resultado obtido não pode representar a prevalência absoluta de um princípio sobre o 
outro e sua consequente exclusão. Há que se obter uma solução intermediária que 
compatibilize ambas as situações. 
 
Revela-se plenamente possível garantir a segurança pública a partir do 
uso de equipamentos de segurança capazes de identificar objetos cuja entrada é proibida 
nas unidades socioeducativas, mesmo tipo de controle que é realizado em aeroportos, 
por exemplo, dentre outros locais, sem que seja veiculado o argumento da ineficácia 
desses equipamentos. 
 
A solução propugnada pelo Autor não atende a esse critério, na medida 
em que promove a exclusão do direito à dignidade dos adolescentes e de seus visitantes. 
 
Reafirma-se, por outro lado, que a circunstância de o adolescente estar 
privado de liberdade não lhe retira o direito fundamental à dignidade e a seus 
consectários, mas apenas autoriza a restrição do direito de locomoção, na forma e 
limites legalmente estabelecidos, devendo o Estado, durante esse período, respeitar os 
demais direitos fundamentais da pessoa. Portanto, mesmo incluído em unidade 
socioeducativa, faz jus o adolescente a garantia de respeito a sua integridade psicofísica 
e a não sujeição a procedimentos degradantes, dentre os quais a revista íntima. 
 
Nota-se, ademais, que os argumentos elencados na petição inicial e que 
se destinariam a comprovar que a lei atenta contra a dignidade são lastreados em ilações 
e presunções desprovidas de comprovação científica ou sequer documental. 
 
Aduz a parte autora que a lei em análise desconsidera a realidade do 
sistema socioeducativo (fl. 10); que nem todos os equipamentos de segurança detectam 
 
 
 
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
objetos de imenso potencial ofensivo (fl. 10); e reduz o nível de segurança dentro das 
unidades (fl. 13). 
 
Afora o fato de que nenhum desses argumentos está devidamente 
comprovado por estudos idôneos, tratando-se, portanto, de ilações feitas a partir de 
concepções individuais da parte autora, elas não atacam o núcleo central da lei, mas sim 
temas atinentes à segurança estatal e seu aparelhamento. 
 
 
2.5 O estado inconstitucional/ilegal de coisas e o direito internacional 
dos direitos humanos 
 
Não fosse a ampla margem de conformação legislativa para solucionar o 
conflito entre segurança e dignidade, verifica-se que a disciplina instaurada pela Lei 
7.011/2015 era a única possível e conforme com o direito internacional dos direitos humanos. 
 
Com efeito, como já se afirmou, havia uma prática disseminada de 
realização de revistas vexatórias em todos os visitantes de adolescentes e jovens adultos 
privados de liberdade em unidades de internação gerenciadas pelo DEGASE. A legislação 
impugnada veio proteger a infância e adolescência, obstruindo esse comportamento. 
 
Mas, em verdade, essa prática sempre foi vedada pelo direito internacional, 
uma vez que o art. 11, 2 do Pacto de São José da Costa Rica
13
 proibe ingerências arbitrárias a 
vida privada do indivíduo. Sobre o tema, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos já 
se debruçou ao examinar a petição 10.506, apresentada contra a República da Argentina. 
 
Naquele caso, esposa e filha de pessoa privada da liberdade, insurgiram-se 
contra revistas vaginais a que eram submetidas antes de ingressar na unidade 1 do Serviço 
Penitenciário Federal. Ao decidir o caso a Comissão afirmou que: 
 
 
13 
 Art. 11, 2: “Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou abusivas em sua vida 
privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à 
sua honra ou reputação”. 
 
 
 
 
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
a) existem certos aspectos da vida de uma pessoa e especialmente "certos 
atributos invioláveis da pessoa humana" que vão mais além da esfera de 
ação do Estado e que "não podem ser legitimamente desprezados pelo 
exercício do poder público". 
b) para que exista congruência com a Convenção, as restrições devem ser 
justificadas por objetivos coletivos de importância tal que exerçam 
claramente maior peso do que a necessidade social de garantir o pleno 
exercício dos direitos consagrados na Convenção e que não sejam mais 
limitadores do que o estritamente necessário; 
c) A medida que afete de certa forma os direitos protegidos pela Convenção 
deve necessariamente: 1. ser prescrita por lei; 2. ser necessária para a 
segurança de todos e guardar relação com as justas demandas de uma 
sociedade democrática; e 3. ter sua aplicação estritamente limitada às 
circunstâncias específicas enunciadas no artigo 32.2 e ser proporcionais e 
razoáveis a fim de alcançar esses objetivos. 
 
Assentadas essas premissas, e transposto o raciocínio para o caso em exame, 
verifica-se que não havia no direito interno brasileiro lei que autorizasse a realização de 
revistas íntimas nos visitantes. Nem mesmo regulamento fora expedido contendo tal previsão, 
como se vê da leitura do Plano de Segurança acima mencionado, que apenas afirmava, no 
tocante aos indivíduos privados da liberdade, ser necessária a realização de minuciosa revista 
ao fim dos encontros. 
 
Destaque-se, outrossim, que o estado de coisas verificado nas unidades de 
internação geridas pelo DEGASE, para além de não guardar correspondência com ato 
legislativo, também impunha injusta restrição ao direito dos visitantes, porquanto 
inadmissível numa sociedade democrática. 
 
Com efeito, a prática generalizada e indistinta de que eram alvo todos os 
visitantes, acabava por convertê-los em suspeitos de ilícitos. A sanção penal juvenil imposta a 
seus parentes terminava por surtir efeitos contra si, já que, sistemática e independentemente 
da presença de indícios, são eles obrigados a despirem-se, agacharem e ter suas regiões 
genitais observadas, a fim de verificar se algum objeto é trazido naquela cavidade. 
 
Por outro lado a restrição também é desconforme com o direito internacional 
dos direitos humanos, porquanto há outras alternativas tão ou mais seguras para assegurar o 
objetivo de proteção da segurança das unidades de internação. Com efeito, o desenvolvimento 
 
 
 
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
tecnológico fez aparecer aparelhos que permitem a fácil detecção de objetos proibidos, sem 
que o indivíduo deva submeter-se ao constrangimento de desnudar-se! 
 
Curiosa é a preocupação com segurança manifestada pela parte autora, quando, 
de antemão, é sabido que as revistas íntimas e vexatórias não produzem o resultado esperado 
na totalidade das vezes, afinal é realizada por seres humanos e, portanto, sujeita a todos os 
equívocos e entraves decorrentes da imperfeição que lhe é natural. O mesmo defeito, 
entretanto, não se verifica no tocante às revistas mecânicas, que permitem com muito maior 
credibilidade/menor falibilidade, a detecção e encontro de artigos proibidos. Sem pestanejar, 
portanto, conclui-se que a medida antes de prejudicar a segurança, a reforça! 
 
 
2.6 A tese alternativa: a declaração de inconstitucionalidade sem efeito 
repristinatório: 
 
Na eventualidade de ser acolhido o pleito inicial, considerando a argumentaçãoapresentada no item 2.5 – dando conta da desconformidade da prática estatal de outrora em 
relação ao direito internacional dos direitos do homem – a Defensoria Pública requer seja 
declarada a inconstitucionalidade sem pronúncia de invalidade, recusando-se qualquer 
efeito repristinatório da situação antes verificada. 
 
Com efeito, a referida técnica de decisão encontra expressa previsão no art. 27 
da Lei 9.868/99
14
, e deverá ter lugar toda vez que a retirada da norma do ordenamento 
jurídico puder importar em resultado inconstitucional. 
 
Sobre o tema, Gilmar Ferreira Mendes ensina que em alguma situações muitas 
vezes não pode o Tribunal eliminar a lei do ordenamento jurídico. A preservação dessa 
situação, sem qualquer ressalva poderá importar, outrossim, no agravamento do quadro, de 
 
14 
 Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista 
razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal 
Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou 
decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que 
venha a ser fixado. 
 
 
 
 
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
modo que se recomenda o congelamento da situação jurídica existente, até o pronunciamento 
do legislador sobre a superação da situação inconstitucional
15
. 
 
Com efeito, se extirpada a Lei objurgada do ordenamento jurídico, corre-se o 
risco de ressurgir o estado de coisas inconstitucional, o que produzirá resultado tão 
inconstitucional quanto aquele provocado pela edição do ato legislativo. 
 
Ademais, convém esclarecer que, no tocante a pessoas adultas privadas de 
liberdade, a prática de revistas vexatórias foi proibida por decisão da 13ª. Câmara Cível desta 
Corte de Justiça, em acórdão assim ementado: 
 
Processo : 0008637-13.2015.8.19.0000 
 
1ª Ementa - AGRAVO DE INSTRUMENTO DES. GABRIEL 
ZEFIRO - Julgamento: 29/04/2015 - DECIMA TERCEIRA 
CAMARA CIVEL 
 
AÇÃO CIVIL PÚBLICA EM QUE SE BUSCA A PRESTAÇÃO 
JURISDICIONAL A FIM DE QUE CESSEM AS REVISTAS 
ÍNTIMAS VEXATÓRIAS NAQUELES QUE VISITAM OS 
DETENTOS NO SISTEMA CARCERÁRIO DO ESTADO DO RIO 
DE JANEIRO. ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA 
INDEFERIDA NO PRIMEIRO GRAU. DECISÃO REFORMADA 
POR MAIORIA. A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA É 
FUNDAMENTO DO ESTADO BRASILEIRO (ARTIGO 5º, INCISO 
III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL). É INADMISSÍVEL QUE, 
POR AÇÃO OU OMISSÃO, OS AGENTES DO ESTADO POSSAM 
EXPOR CIDADÃOS A SITUAÇÃO VEXATÓRIA, INDIGNA, 
DESRESPEITOSA, COMO A DE OBRIGAR MULHERES A SE 
DESPIREM E FICAREM DE CÓCORAS. COMO CONDIÇÃO 
PARA VISITAREM SEUS ENTES QUERIDOS QUE SE 
ENCONTRAM PRESOS. TAL EXIGÊNCIA, EM NOME DE UMA 
 
15 
 Curso de Direito Constitucional (Paulo Gustavo Gonet Branco co-autor), 7ª edição 
revista e atualizada, São Paulo: Sariava, 2012, p. 1427. 
 
 
 
 
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
SEGURANÇA QUE PODE SER BUSCADA POR MEIOS MAIS 
INTELIGENTES E HUMANOS, É HUMILHANTE, E SE 
DESINCOMPATIBILIZA COM A REGRA CONSTITUCIONAL 
DE QUE NINGUÉM SERÁ SUBMETIDO A TRATAMENTO 
DESUMANO OU DEGRADANTE (ARTIGO 5º, INCISO III, DA 
CF). ALÉM DO MAIS, A PUNIÇÃO A QUE SE SUBMETE O 
DETENTO NÃO PODE SER ESTENDIDA AOS SEUS ENTES 
QUERIDOS, CONSOANTE O DISPOSTO NO ARTIGO 5º, 
PARÁGRAFO XLV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 
COMANDO JURISDICIONAL QUE DEVE MOSTRAR-SE 
DIDÁTICO QUANTO À ADEQUAÇÃO DA CONDUTA 
ESTATAL AOS DITAMES CONSTITUCIONAIS: O QUE É 
PROIBIDO Pela presente decisão, fica proibida a revista íntima 
vexatória nos visitantes dos presídios e casas de detenção do estado. O 
QUE É PERMITIDO É permitido que os visitantes sejam submetidos 
ao detector de metais, bem como à determinação de que exibam o que 
trazem em bolsas, pastas, carteiras, mochilas etc. É permitida a revista 
pessoal, não vexatória, consoante o previsto no artigo 244 do CPP, 
que independe de mandado. É permitida a revista nos detentos, os 
quais se encontram submetidos à disciplina carcerária, em obediência 
às normas administrativas pertinentes. 
 
Desse modo, se admitida a repristinação do estado de coisas, as pessoas em 
condição peculiar de desenvolvimento serão tratadas de forma mais gravosa do que adultos, o 
que provocará resultado absolutamente anti-isonômico. 
 
3. PEDIDO 
 
Ante o exposto, é a presente para requerer: 
 
a) A habilitação da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro como 
amicus curiae, na forma do art. 7°, § 2°, da Lei n. 9.868/1999; 
b) Em consequência, a intimação da Defensoria Pública para acompanhar os 
atos processuais a serem praticados; 
c) Que o pedido formulado na presente representação não seja conhecido e, 
ultrapassada as preliminares seja julgado improcedente, reconhecendo-se a 
constitucionalidade da Lei 7.011/2015. Na eventualidade de ser acolhida a 
 
 
 
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro – Sede - Avenida Marechal Câmara, 314, Castelo, Centro, 
CEP: 20020-080, Rio de Janeiro – RJ. Telefones: (21) 2332-6354/6190 /6224 Fax:2332-6217 
 
 
 
representação, pugna-se pela utilização da técnica de declaração de 
inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade, obstando a repristinação 
do estado de coisas inconstitucional, com fundamento no art. 27 da Lei 
9868/99. 
 
Nestes termos, 
Pede deferimento. 
 
Rio de Janeiro, 06 de julho de 2015. 
 
 
 
ANDRÉ LUIS MACHADO DE CASTRO 
Defensor Público-Geral do Estado do Rio de Janeiro 
 
 
EUFRÁSIA MARIA SOUZA DAS VIRGENS 
Coordenadora da CDEDICA 
 
 
ELISA COSTA CRUZ 
Subcoordenadora da CDEDICA 
 
 
RODRIGO AZAMBUJA MARTINS 
Subcoordenador da CDEDICA

Continue navegando