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ACP EXEC_PENAL_

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Página 1 de 58 
 
 
EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE 
RESENDE/RJ (competência fazendária) 
 
“Que vai fazer agora o governo? Vai demitir o 
administrador da Casa de Detenção? Daqui a 
pouco será obrigado a demitir o cidadão que o 
substituir, e as coisas continuarão no mesmo pé 
– porque a causa dos abusos não reside na 
incapacidade de um funcionário, mas num vício 
essencial do sistema, num defeito orgânico do 
aparelho penitenciário. E não há de ser a 
demissão de um administrador que há de 
consertar o que já nasceu torto e quebrado” 
(Olavo Bilac) 
 
 
 A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO 
DO RIO DE JANEIRO, através do Núcleo do Sistema Penitenciário -
NUSPEN (Avenida Rio Branco nº 147, 12º andar, Centro, Rio de Janeiro/RJ; tel: 
2332-6663; fax: 2332-6666; email: coordenacao.nuspen@gmail.com), do Núcleo 
de Defesa dos Direitos Humanos - NUDEDH (Rua México nº 58, 11º andar, 
sala 1501, Centro, Rio de Janeiro/RJ; tel: 2332-6344/6355/6356; email: 
nudeh@gmail.com), e da Coordenação de Defesa Criminal, com espeque no 
art. 128, inciso VII, da Lei Complementar nº 80/94, art. 81-A e 81-B, inciso VI, da 
Lei de Execução Penal, art. 12 Lei nº 7347/85 e art. 303 do Código de Processo 
Civil, ajuíza 
 
AÇÃO CIVIL PÚBLICA 
COM PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA 
DE URGÊNCIA ANTECIPADA 
 
em face do ESTADO DO RIO DE JANEIRO, pessoa jurídica de direito 
público, com representação legal situada na Rua do Carmo nº 27, Centro, Rio de 
Janeiro/RJ, aduzindo para tanto o seguinte: 
LEONARDO ROSA MELO DA CUNHA:03808863757 Assinado em 26/09/2016 10:21:21
mailto:coordenacao.nuspen@gmail.com
mailto:nudeh@gmail.com
 
Página 2 de 58 
 
 
1. i) Introdução. UP de Resende. Defensoria 
Pública. Inspeção Preventiva. 
 
2. Como é notório, o Estado do Rio de Janeiro – ora 
posto no polo passivo da demanda – edificou, no perímetro territorial da 
municipalidade de Resende, um novo estabelecimento penal, agregando mais 
um local de privação de liberdade destinado à retenção carcerária de pessoas ao 
seu parque prisional. A unidade - ainda não inaugurada pelo poder público - 
localiza-se na Avenida Egídio Fontanez, com acesso pela Estrada Bulhões 
Resende s/nº, Bulhões. Até o presente, o estabelecimento não foi oficialmente 
contemplado com designativo próprio, motivo pelo qual será, no bojo 
contextual desta peça isagógica, nominado como “UP de Resende”. 
 
3. O Núcleo do Sistema Penitenciário (NUSPEN) e o 
Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (NUDEDH) da Defensoria Pública, 
no desempenho das funções institucionais hospedadas no art. 4º, inciso XVII, da 
LC nº 80/94, e art. 81-B, inciso V, da LEP, realizaram inspeção na UP de 
Resende no dia 07.06.16. A visita da equipe da Defensoria Pública – que contou 
com assessoramento técnico do Departamento de Engenharia Legal da 
instituição e com o concurso participativo de membros do Mecanismo Estadual 
de Prevenção e Combate à Tortura (MEPCT) - foi acompanhada e guiada pelo 
ISAP Demetrio Pereira Júnior, já alçado ao cargo de Diretor1 da unidade 
prisional, além de outros 02 ISAP´s, os quais, de forma solícita, prestaram todas 
as informações postuladas pelo staff das instituições fiscalizadoras. 
 
4. As vistorias levadas a cabo por diversos órgãos e 
instituições afetas à questão penitenciária – incluindo a própria Defensoria 
Pública – normalmente ocorrem em estabelecimentos penais já povoados por 
 
1 Extraoficialmente, à Defensoria Pública informou-se que houve troca superveniente de Diretor da unidade. 
 
Página 3 de 58 
 
pessoas privadas de liberdade. Estas fiscalizações, exatamente porque miram 
unidades que já abrigam detentos em suas dependências, ostentam natureza 
nitidamente repressiva, vale dizer, os órgãos escrutinadores das condições de 
habitabilidade e do funcionamento do cárcere atuam precipuamente com o 
objetivo de sanar e estancar as inúmeras ilegalidades e irregularidades já 
instaladas nos estabelecimentos. 
 
5. O “estado de coisas inconstitucional” que 
negativamente singulariza o sistema penitenciário brasileiro – tal como 
recentemente o Supremo Tribunal Federal o predicalizou no contexto da ADPF 
nº 347 – constitui uma situação fática lamentavelmente já consolidada e cuja 
remoção esbarra em uma gama infindável de barreiras e obstáculos. Sequer a 
atuação interventiva-repressiva do Poder Judiciário decorrente de postulações 
judiciais movidas pelos órgãos de fiscalização tem se mostrado eficaz e capaz 
de amenizar e/ou erradicar as terríveis e assombrosas agruras a que são 
coativamente submissas as pessoas privadas de liberdade que habitam os 
medievalescos estabelecimentos ergastulares país afora. 
 
6. Bem por estas particulares razões, o NUSPEN e o 
NUDEDH da Defensoria Pública decidiram alterar radicalmente o eixo 
inspecionário comumente empregado: ao revés de postergar a missão 
fiscalizatória da instituição em relação à UP de Resende para o futuro, quando 
o estabelecimento já estará em pleno funcionamento e provavelmente 
densamente habitado de detentos, os órgãos optaram por antecipar 
temporalmente a atuação e realizar fiscalização prévia à inauguração da 
unidade, de cariz preventiva, com o intuito de prevenir e evitar que o “estado 
de coisas inconstitucional” também se consolide no referido estabelecimento 
carcerário. 
 
 
 
Página 4 de 58 
 
 
7. Assim, como enunciado, o NUSPEN e o NUDEDH 
compareceram à UP de Resende no dia 07.06.16 e procederam à vistoria da 
unidade. Fruto da inspeção preventiva ao estabelecimento, o NUDEDH 
confeccionou relatório circunstanciado (doc. anexo) sobre a visita, apontando 
alguns problemas já existentes na UP de Resende que, caso persistam e não 
sejam remediados pelo poder público, certamente constituirão fatores de 
degradação qualitativa das condições de habitabilidade carcerária idôneos a 
afetar não somente as pessoas privadas de liberdade, mas também os servidores 
públicos que lá exercerão suas funções. 
 
8. A Defensoria Pública não pretende, no bojo desta 
demanda, por sob escrutínio judicial todos os pontos realçados no citado 
relatório. Porém, há 02 questões particularmente caras e inerentes à qualidade 
do encarceramento da pessoa privada de liberdade e ao regular funcionamento 
do próprio estabelecimento que merecem (rectius: impõem) a performance 
profilática da instituição em caráter precedente ao início das atividades 
prisionais da UP de Resende, a saber: 
 
 1) a real capacidade ocupacional da nova unidade; 
 
 2) a probabilidade concreta e real de sobrelotação 
populacional do estabelecimento. 
 
09. Tendo em vista a independência subjetiva destes 
específicos pontos – embora ambos contendam diretamente com direitos de 
pessoas postas coativamente sob a retenção carcerária do Estado – a petição 
divide-se tematicamente em 02 capítulos estanques e objetivamente 
compartimentados conforme àquelas 02 matérias. 
 
 
Página 5 de 58 
 
 
1º Capítulo 
Capacidade Legal vs. Capacidade Nominal 
Minimum Living Space 
1,17 m2 per capta 
 
10. Geneticamente, a UP de Resende foi idealizada para 
funcionar como estabelecimento penal destinado ao abrigo de presos 
provisórios. O art. 4º, inciso I, do Decreto 44.130, de 20.03.13, emanado do 
Chefe do Poder Executivo Estadual, criou “06 (seis) Cadeias Públicas a serem 
instaladas nos municípios de São Gonçalo, Magé, Rio Claro, Resende, Região dos 
Lagos e de Carmo”, evidenciado a orientação finalística-penalógica da nova 
unidade prisional. 
 
11. No entanto, conforme consta do relatório 
circunstanciado do NUDEDH e também do relatório do MEPCT (doc. anexo), o 
ISAP Demetrio relatou que o perfil do contingente prisional da UP de Resende 
será de condenados a cumprir a pena privativa de liberdade em regime 
fechado que não “pertençam” a facções ou grupos criminosos e que sejamoriundos de localidades ou regiões adjacentes à municipalidade de Resende. 
Todos os detentos serão do sexo masculino, embora inicialmente tenha se 
cogitado alocar mulheres no anexo menor do complexo (§ 14, infra). 
 
12. Seja como for, a UP de Resende ostenta 
características estruturais e carcerárias que a perfilham a apenas 02 tipos de 
estabelecimento prisional legalmente previstos. Dentre o catálogo de 
classificação tipológica da LEP, exclui-se prontamente a sua categorização 
taxionômica das seguintes espécies de unidades: 
 
 
Página 6 de 58 
 
 - Colônia agrícola/industrial/similar (art. 91 e 92 da 
LEP): sua concepção arquitetônica escapa totalmente de algo minimamente 
semelhante a uma colônia agrícola ou industrial; sequer uma qualquer 
manipulação semântica da cláusula analógica-extensiva “similar” é apta a 
aproximá-lo à essência funcional daquelas espécies de unidades; 
 
 - Casa do Albergado (art. 93, 94 e 95 da LEP): a 
localização distante do centro urbano e a proliferação de inúmeros obstáculos 
físicos contra fuga tornam o estabelecimento totalmente inadequado do regime 
aberto e à pena restritiva de direito de limitação de fim de semana, 
descaracterizando-o como uma casa do albergado; 
 
 - Centro de Observação (art. 96, 97 e 98): a toda 
evidência, a UP de Resende não se presta a servir de local exclusivo para 
realização de exames; 
 
 - Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico 
(art. 99, 100 e 101 da LEP): a unidade não se destina à execução de medidas de 
segurança detentiva e de tratamento ambulatorial, e suas linhas arquitetônicas 
em nada se assemelham a um hospital. 
 
13. Logo, a UP de Resende apresenta perfil carcerário 
compatível tão somente com 02 espécies de estabelecimentos: penitenciária (art. 
87 a 90 da LEP) e cadeia pública (art. 102 a 104 da LEP). Assim, a unidade pode 
ser funcionalizada para o recolhimento de pessoas criminalmente condenadas 
ao regime fechado ou para a custódia cautelar de acusados, tal como 
inicialmente concepcionou o respectivo ato normativo de sua criação2. 
 
2 Inexiste qualquer impedimento para que a UP de Resende funcione como uma penitenciária. Não é incomum que o 
poder público, tendo em conta a volatilidade do sistema penitenciário, altere o perfil carcerário de um dado 
estabelecimento. A título exemplificativo, a Casa do Albergado Coronel PM Francisco Spargoli Rocha foi 
transformada em Instituto Penal Francisco Spargoli Rocha pelo Decreto nº 44458, de 01.11.13 (segundo o art. 92, 
inciso II, do Decreto nº 8897/86, “instituto penal” é o estabelecimento, ao lado das colônias agrícola e industrial, para 
 
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14. Estruturalmente, a UP de Resende foi originalmente 
concebida para operacionalizar simultaneamente 02 estabelecimentos 
distintos e funcionalmente autonomizados. Topograficamente inseridos no 
mesmo perímetro carcerário, estes 02 compartimentos prisionais – dorovante 
denominados Módulo 01 e Módulo 02 para fins didáticos expositivos – 
constituem reprodução fiel um do outro, diferenciando-se entre si tão somente 
pela espacialidade: o Módulo 01 é dimensionalmente maior do que o Módulo 
02, ostentando o dobro da capacidade ocupacional: 
 
UP de 
Resende 
Galerias Celas 
por 
Galeria 
Beliches 
por Cela 
Detentos 
por Cela 
Capacidade 
do Módulo 
Módulo 
01 
04 12 03 06 288 
Módulo 
02 
02 12 03 06 144 
 
15. A simples operação matemática de adição da 
quantidade de vagas disponíveis nos Módulos 01 e 02 – 288 e 144, 
respectivamente – estampa, a priori, a capacidade ocupacional máxima 
suportada pela UP de Resende: 432 detentos. 
 
16. Porém, conforme demonstrar-se-á, há uma abissal 
discrepância entre a capacidade nominal (o ser) e a capacidade legal (o dever 
ser) do estabelecimento. 
 
17. Recepcionada com manifestações apologéticas, a Lei 
de Execução Penal, no longínquo ano de 1984, colmatou um incômodo hiato 
legal na temática de Direito de Execução Penal até então existente. Primeiro ato 
normativo unicamente vocacionado à matéria execucional-penal, a LEP 
 
o regime semiaberto), e, posteriormente, convolado para Penitenciária Coronel PM Francisco Spargoli Rocha, 
“passando a abrigar presos em regime fechado” (art. 5º do Decreto nº 45345, de 18.08.15). 
 
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estipulou importantes diretrizes referenciadas ao tema, sem, no entanto, 
aventurar-se em um ponto crucial: a prévia definição da capacidade dos 
estabelecimentos penais, relegando esta tarefa ao Conselho Nacional de Política 
Criminal e Penitenciária – CNPCP - (art. 85, parágrafo único). 
 
18. O CNPCP – relevante órgão da execução penal 
previsto no art. 61, inciso I, da LEP – desincumbiu-se daquela determinação 
legal por meio da edição da Resolução nº 03, de 23.09.05, através da qual fixa, 
de forma genérica, as capacidades mínima e máxima que cada espécie de 
estabelecimento há-de respeitar. Pertinente aos 02 tipos de estabelecimentos 
penais afinados às características da UP de Resende, tem-se o seguinte: 
 
 - penitenciária de segurança máxima especial: 
capacidade máxima de 300, e mínima de 60; 
 
 - penitenciária de segurança média ou máxima: 
capacidade máxima de 800, e mínima de 300; 
 
 - cadeia pública: capacidade máxima de 800, e 
mínima de 30. 
 
19. A UP de Resende, globalmente perspectivada ou 
considerando-se os Módulos 01 e 02 isoladamente destacados, alinha-se 
idealmente aos parâmetros numéricos concernentes aos quantitativos mínimo e 
máximo no que pertine à capacidade de penitenciárias e cadeias públicas 
estipulados na norma de regência formatada pelo CNPCP. 
 
20. No entanto, ainda que respeite as capacidades 
máxima e mínima estipuladas pela Resolução nº 03/05 do CNPCP, a UP de 
Resende não detém, legalmente, capacidade para custodiar mais do que 144 
 
Página 9 de 58 
 
detentos em simultaneidade temporal – 96 no Módulo 01, e 48 no Módulo 02. 
Em boa verdade, a sua capacidade legal corresponde a 1/3 de sua capacidade 
nominal. 
 
21. A redução quantitativa ora explicitada decorre da 
estrita observância do minimum living space. Explica-se. 
 
22. Embora não tenha se atrevido a quantificar a 
capacidade dos estabelecimentos penais, a LEP optou pela rígida normatização 
do dimensionamento geométrico do local de vivência da pessoa privada de 
liberdade no interior de unidades prisionais. Assim, a lei de regência fixou o 
tamanho mínimo legalmente admissível do habitáculo em que o condenado 
deverá resgatar a pena de prisão ou deverá permanecer o preso provisório no 
curso da constrição cautelar. 
 
23. Tratando-se de penitenciária – estabelecimento 
penal finalisticamente voltado ao cumprimento de sanção reclusiva em regime 
fechado (art. 87 da LEP) - determina o art. 88 da LEP que “o condenado será 
alojado em cela individual que contenha dormitório, aparelho sanitário e lavatório”. A 
unidade celular de recolhimento da pessoa privada de liberdade, para além da 
“salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e 
condicionamento térmico adequado à existência humana”, deverá possuir “área 
mínima de 6,00m2 (seis metros quadrados)” (art. 88, parágrafo único, alíneas 
“a” e “b”, da LEP; respectivamente). Em razão da remissão expressa do art. 104 
da LEP, o preso provisório alocado em cadeia pública deve ser recolhido em 
recinto espacialmente parametrizado àquele previsto para as penitenciárias. 
 
24. Portanto, a lei estabeleceu, há mais de 32 anos atrás, 
a metrificação espacial mínima do habitáculo destinado ao condenado alojado 
em uma penitenciária e ao preso provisório em uma cadeia pública: 06,00 m² 
 
Página 10 de 58constitui a menor área legalmente permitida para a insular vivência humana 
digna da pessoa privada de liberdade durante o cumprimento da sanção 
detentiva ou no período de custódia cautelar. 
 
25. Embora não contenda diretamente com a capacidade 
de um estabelecimento penal, a disciplina normativa constitui relevante 
parâmetro dimensional direcionado a 02 distintos propósitos, a saber: 
 
 (a) serve de referência legal impositiva em relação às 
penitenciárias e cadeias públicas a serem edificadas pelo poder público, as 
quais devem ser conceptualizadas com celas espacialmente adequadas àquela 
área mínima; 
 
 (b) configura paradigma metrificador da capacidade 
ocupacional de penitenciárias e cadeias públicas já construídas e em pleno 
funcionamento. 
 
26. O parâmetro (a), no presente caso, não restou 
minimamente observado pelo Réu. 
 
27. De fato, o tamanho das celas coletivizadas3 rompe, 
com sobras, a dimensão mínima legalmente estipulada. Conforme estampam o 
Relatório de Vistoria e a Planta de Galeria confeccionados pelo Departamento 
de Engenharia Legal da Defensoria Pública por ocasião da visita inspecionária 
do dia 07.06.16 (docs. anexos), cada cela do estabelecimento mede 13,65 m². 
 
28. Ora, considerando que cada recinto é provido com 03 
beliches e, portanto, idealizado para o recolhimento simultâneo de 06 pessoas 
 
3 Neste ponto específico, tem-se outra grave violação à lei: as celas deveriam ser destinadas ao acolhimento de apenas 
01 pessoa privada de liberdade, conforme expressamente determina o art. 88, caput, e art. 104, ambos da LEP; porém, 
optou-se pela coletivização dos recintos prisionais, em clara e despudorada afronta ao cogente comando normativo. 
 
Página 11 de 58 
 
privadas de liberdade, as celas deveriam medir, mantendo-se a 
proporcionalidade aritmética normatizada, no mínimo 36,00 m² (06 detentos X 
6,00 m2). 
 
29. A defasagem espacial das celas da UP de Resende é 
assustadora: o habitáculo conta com apenas 1/3 da área que legalmente 
deveria ostentar para abrigar 06 detentos em concomitância temporal, 
aproximadamente. Ao recinto faltam notáveis 23,37 m² para atingir o 
parâmetro dimensional mínimo, devendo desconsiderar-se, neste cômputo, a 
área ocupada pelos dispositivos componentes do “banheiro” (1,02 m²). Assim, 
como ressaltado no relatório circunstanciado do NUDEDH, constatou-se “nas 
celas vistoriadas uma diminuição de 62,1% do tamanho mínimo permitido”. 
. 
 
 
30. Mas não é só. 
 
31. A utilização das celas em sua capacidade nominal 
implica a disponibilização de míseros 2,275 m² para cada detento no interior 
do habitáculo (13,65 m²/06 detentos). Porém, se for considerada apenas a área 
de circularidade (floor space) do recinto equivalente ao espaço efetivamente útil 
 
Página 12 de 58 
 
que permite que o detento se desloque na parte interna das celas, a situação 
agrava-se sensivelmente. 
 
32. Com efeito, consoante documenta a Planta da 
Galeria sem Nomenclatura elaborada pelo setor de Engenharia Legal da 
Defensoria Pública (doc. anexo), as celas da UP de Resende ofertam 7,03 m² de 
área interna de circulação. Deste modo, remanescem exíguos 1,17 m² per capta 
como espaço útil de mobilidade corporal no interior das celas do 
estabelecimento (7,03 m2/06 detentos). 
 
33. A luta pelo espaço entre detentos certamente 
marcará a convivência forçada nas celas da UP de Resende. Com 1,17 m² 
disponíveis, cada pessoa privada de liberdade disputará incessantemente cada 
milímetro eventualmente desocupado pelo companheiro de infortúnio, 
potencializando a ocorrência de conflitos interpessoais propiciada pela 
inevitável promiscuidade corporal. 
 
34. Neste diapasão, consigne-se que as 06 pessoas 
privadas de liberdade permanecerão aglutinadas coativamente durante 23 
horas diárias nos habitáculos celulares. Isto porque, em recente decisão, a 
Décima Câmara Cível do Tribunal de Justiça, apreciando recurso de agravo de 
instrumento manejado pela Defensoria Pública em face de decisão indeferitória 
de pedido de antecipação de tutela, determinou, com fulcro no art. 144 da 
Resolução nº 14/94 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária e 
Regra 21.15 das Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos da ONU, ao 
Estado do Rio de Janeiro – réu no bojo da pertinente ação civil pública (Processo 
 
4 “O preso que não se ocupar de tarefa ao ar livre deverá dispor de, pelo menos, uma hora ao dia para a realização de 
exercícios físicos adequados ao banho de sol”. 
5“O preso que não se ocupar de tarefa ao ar livre deverá dispor de, pelo menos, uma hora ao dia para a realização de 
exercícios físicos adequados ao banho de sol”; a atualização do conjunto de diretrizes consubstanciado nas Regras 
Mínimas para o Tratamento de Reclusos foi aprovada pela Assembleia Geral da ONU em 17.12.15; agora conhecidas 
pelo epíteto de Regras de Mandela, semelhante previsão consta da Regra 23.1 (“Todo preso que não trabalhar a céu 
aberto deve ter pelo menos uma hora diária de exercícios ao ar livre, se o clima permitir”). 
 
Página 13 de 58 
 
nº 0410810-73.2014.8.19.0001) - a implementação de “banho de sol diário, por no 
mínimo 1 (uma) hora, em local adequado à prática de atividade física, na parte 
externa integrante das unidades prisionais6”. 
 
35. Ademais, o regime fechado e a prisão provisória são 
modalidades ergastulares que não são normativamente contempladas com 
hipóteses de saídas da pessoa privada de liberdade do estabelecimento 
prisional, ao contrário dos regimes semiaberto (art. 122 da LEP) e aberto (art. 
115 da LEP), de modo que os detentos passam o tempo, dia após dia, 
trancafiados nas celas, deixando-as apenas para o banho de sol e também para 
outra eventual atividade intracarcerária. 
 
36. Como se percebe, caso 06 pessoas privadas de 
liberdade sejam inseridas nas celas da UP de Resende ao mesmo tempo, cada 
detento poderá usufruir de no máximo 1,17 m² para se movimentar durante 23 
horas por dia, salvo se os respectivos ocupantes convencionarem entre si um 
nefasto rodízio corporal no interior dos habitáculos, com alguns “caminhando” 
pelo solo enquanto outros repousam candidamente nas camas. 
 
37. Há, ainda, um importante e inafastável vetor de 
compressão redutora do espaço celular e, conseguintemente, da circularidade 
interna dos habitáculos da UP de Resende que deve ser devidamente 
considerado. 
 
38. Não se deve olvidar que cada pessoa inserida num 
ambiente de vivência coletiva não representa, para o próprio espaço 
disponibilizado, tão somente 01 objeto corporal. Cada detento, como é óbvio, 
 
6 Recurso de Agravo de Instrumento nº 0014521-23.2015.8.19.0000, Rel. Des. Patrícia Ribeiro Serra Vieira, julgado 
em 10.06.15. O órgão fracionário baseou-se no (O preso que não se ocupar de tarefa ao ar livre deverá dispor de, pelo 
menos, uma hora ao dia para a realização de exercícios físicos adequados ao banho de sol) e 
 
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retém em seu domínio pertences pessoais que são indispensáveis à vida 
doméstica do cárcere. 
 
39. A posse de objetos constitui um direito titularizado 
pela pessoa privada de liberdade e, correlatamente, uma necessidade inerente a 
qualquer ser humano. Por tais motivos, a Secretaria de Estado de 
Administração Penitenciária editou, recentemente, novo ato normativo 
referenciado à permissibilidade de recepção e retenção de pertences pelos 
detentos. Conforme viabiliza o art. 1º da Resolução SEAP nº 610, de 18.03.16, 
cada pessoa privada de liberdade alocada em seu parque prisional pode receber 
o seguinte de seus respectivos visitantes (doc. anexo): 
 
“I- frutas diversas, alimentos cozidos, leiteem pó 
acondicionado em embalagem tipo saco, biscoitos, bolos, 
e doces acondicionados em sacos ou vasilhames 
plásticos transparentes; 
II - cigarros; 
III - material de higiene pessoal (escova e pasta de dente, 
sabonete, papel higiênico, shampoo e absorvente 
higiênico); 
IV - lençóis e toalhas; 
V- calçados; e 
VI - peças de vestuário”. 
 
40. Em relação aos objetos enumerados nos incisos IV, V 
e VI, o art. 2º do referido ato normativo especifica a quantidade exata de cada 
objeto que o detento pode remanescer consigo: 
 
 02 toalhas; 
 02 lençóis; 
 03 camisas e/ou camisetas; 
 01 casaco; 
 
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 01 par de tênis; 
 01 par de sapatos; 
 02 pares de meias; 
 02 bermudas e/ou shorts; 
 01 calça; 
 02 pares de chinelos; 
 04 unidades de peças íntimas 
 
41. Assim, em cada unidade celular da UP de Resende, 
as 06 pessoas privadas de liberdade confinadas nos recintos vão reunir 
simultaneamente – sem computar no mínimo 06 escovas e 06 pastas de dente, 
06 rolos de papel higiênico, 06 sabonetes, 06 tubos de shampoo, alimentos 
variados et coetera – o seguinte quantitativo: 
 
 12 toalhas; 
 12 lençóis; 
 18 camisas e/ou camisetas; 
 06 casacos; 
 06 pares de tênis; 
 06 pares de sapatos; 
 12 pares de meias; 
 12 bermudas e/ou shorts; 
 12 calças; 
 12 pares de chinelos; 
 24 unidades de peças íntimas 
 Total: 132 peças de vestuário 
 
42. Deve adicionar-se a este conglomerado 
multitudinário de objetos, produtos e alimentos, o direito atribuído à pessoa 
privada de liberdade de possuir 01 ventilador/circulador de ar do tamanho 
 
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máximo de 30 cm e 01 rádio portátil, além de 02 televisores de até 14 
polegadas por cela de habitação coletivizada (art. 5º da resolução citada). 
 
43. Como se é capaz de visualizar, o espaço interior das 
celas, já deveras reduzido para o abrigo concorrente de 06 pessoas privadas de 
liberdade, sofrerá, irremediavelmente, substancial minoração dimensional em 
virtude da coexistenciabilidade dos pertences dos detentos no cotidiano 
carcerário, circunstância agravada pela total ausência de repositórios 
específicos para a guarda dos objetos nas celas7-8 (armários, guarda-roupas et 
coetera), conforme percebe-se claramente pelos registros fotográficos. 
 
44. Assim sendo, exsurge a funcionalidade 
instrumental do art. 88, parágrafo único, alínea “b”, da LEP, como paradigma 
metrificador da capacidade ocupacional de penitenciárias já existentes 
(parâmetro b, § 25, supra). 
 
45. Com efeito, a quantificação legal de tamanho mínimo 
representa a irredutível área espacial do habitáculo celular. Trata-se de um 
valor geométrico que condiz com a qualidade de vida do detento no interior do 
aparelho carcerário, de modo que a cada pessoa recolhida no ergástulo há-de 
destinar-se o espaçamento mínimo de 06,00 m2. 
 
46. A eleição pela coletivização dos alojamentos da UP 
de Resende – repise-se, opção absolutamente confrontante com o art. 88, caput, 
art. 92, caput e art. 104, todos da LEP – não dessencializa a imperatividade 
 
7 A Cruz Vermelha Internacional, ao versar sobre a questão espacial, recomenda que os detentos, além de 
acomodação adequada para dormir e área para deslocaram-se livremente nos dormitórios, “have space for their 
personal effects” (Water, Sanitation, Hygiene and Habitat in Prisons, International Committee of the Red Cross. 
ICRC, august 2005, p. 20). 
8 Ainda sobre o assunto, a Corte Europeia de Direitos Humanos, em alguns julgamentos, considerou, dentre outros 
fatores cumulativos, que a falta de mobiliário adequado constitui violação do art. 3º da Convenção Europeia de 
Direitos Humanos (Case of Drăgan v. Romania, Application nº 65158/09, 2 february 2016, § 72; e Case of Iacov 
Stanciu v Romania, Application nº 35972/05, 24 july 2012, § 175). 
 
 
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normativa vincada à oferta do minimum living space legalmente desenhado a 
cada pessoa privada de liberdade. Em outras palavras: ainda que as celas 
tenham sido (ilegalmente) formatadas para a recepção prisional de mais de uma 
pessoa em seu perímetro limitativo, a área mínima de 06,00 m2 permanece 
hígida e numericamente inflexível como espaço reservado a cada detento. 
 
47. Desta forma, conclui-se que a capacidade nominal 
da UP de Resende não encontra correspondência matemática com a sua 
capacidade legal. O ser não espelha o dever ser no mundo naturalístico. 
 
48. De fato, as 72 celas de convivência concorrencial 
totalizam 432 camas (216 beliches), aparentemente indicando que a unidade 
detém competência espacial para abrigar igual número de pessoas privadas de 
liberdade. No entanto, aplicando-se a regra do espaço mínimo por detento 
(06,00 m2), cada cela metrificada em 13,65 m2 pode recepcionar, no máximo, 02 
detentos em seu interior. Qualquer excedente quantitativo a esta 
intransponível barreira numérica configura irremediável situação de 
ilegalidade. 
 
49. Logo, a capacidade legal da UP de Resende, a serem 
rigorosamente incidentes os parâmetros legais internos e externos já 
exaustivamente explicitados, equivale à terça parte (1/3) de sua capacidade 
nominal, vale dizer, o estabelecimento, que somente pode abrigar 02 detentos 
por cela, ostenta capacidade legal de 144 pessoas privadas de liberdade. 
 
50. Consequentemente, os Módulos 01 e 02 da UP de 
Resende - cujas capacidades nominais equivalem a 288 e 144 pessoas privadas 
de liberdade – ostentam capacidade legal notadamente inferior: somente 
podem recepcionar em suas celas coletivizadas 96 e 48 detentos cada qual, 
respectivamente. 
 
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51. Caso o Réu almejasse de fato inserir 432 pessoas no 
perímetro carcerário da UP de Resende, incumbia-lhe idealizar e edificar o 
prédio de acordo com as normas espaciais pertinentes, estruturando os locais 
de vivência – ou convivência - de acordo com o tamanho legal previsto para as 
celas e, assim, assegurar à pessoa privada da liberdade o minimum living space 
normativamente estipulado. 
 
52. Como não o fez, mister adequar o estabelecimento 
aos parâmetros normativos pertinentes e, consequentemente, operar a 
adequabilidade quantitativa da capacidade nominal à capacidade legal, 
fixando-se judicialmente a ocupação máxima da unidade em 144 pessoas 
privadas de liberdade em simultaneidade temporal – 96 detentos no Módulo 
01, e 48 no Módulo 02. 
 
Módulo 01 
UP de 
Resende 
Galerias Celas 
por 
Galeria 
Beliches 
por Cela 
Detentos 
por Cela 
Capacidade 
do Módulo 
Capacidade 
Nominal 
04 12 03 06 288 
Capacidade 
Legal 
04 12 03 02 96 
 
Módulo 02 
UP de 
Resende 
Galerias Celas 
por 
Galeria 
Beliches 
por Cela 
Detentos 
por Cela 
Capacidade 
do Módulo 
Capacidade 
Nominal 
02 12 03 06 144 
Capacidade 
Legal 
02 12 03 02 48 
 
 
 
 
 
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2º Capítulo 
Capacidade da UP de Resende 
Superlotação Carcerária 
 
53. É um lugar-comum já enfadonhamente propalado e 
repetido afirmar-se que o sistema penitenciário ostenta altíssimas taxas de 
superlotação. Dados, números, gráficos, pesquisas, estatísticas e outros 
instrumentos informativos já foram suficientemente produzidos sobre o assunto 
e evidenciam a robustez fática da asserção. Mas é sempre necessário volver ao 
clichê do lugar-comum com o escopo de firmar o superpovoamento dos 
estabelecimentos prisionais como uma realidade dada indiscutível. 
 
54. De acordo com compilação sintetizada pelo 
Conselho Nacional de Justiça9, a população carcerária do Brasil é composta por 
963.296 pessoas aprisionadas em unidades para o cumprimento de pena 
privativa de liberdade em regime fechado, semiaberto e aberto, além daqueles 
postos sob a modalidade de prisão domiciliar10. Deste quantitativo, 261.344 
pessoas privadas de liberdade ostentam acondição jurídico-penal de “presos 
provisórios”. 
 
55. Ainda conforme referida pesquisa, há, no país, 2777 
estabelecimentos penais que hospedam 649.159 pessoas privadas de liberdade e 
392.898 vagas disponíveis. O sistema prisional apresenta, portanto, um déficit 
numérico de 256.261 vagas. 
 
 
9 Acessível pela ferramenta “Geopresídios” ofertada no sítio do CNJ na rede mundial de computadores (disponível 
em http://www.cnj.jus.br/inspecao_penal/mapa.php; capturado em 20.09.16). 
10 Há, ainda, 3532 internadas sob medida de segurança estacionária. 
http://www.cnj.jus.br/inspecao_penal/mapa.php
 
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56. Este dramático panorama nacional, 
lamentavelmente, reproduz-se fiel e simetricamente no Estado do Rio de 
Janeiro. 
 
57. Com efeito, de acordo com dados referenciados ao 
efetivo carcerário de 20.09.1611 (doc. anexo), as unidades prisionais fluminenses 
encontram-se inchadas e abarrotadas de detentos. Um quantitativo totalizado 
no patamar de 50.742 pessoas privadas de liberdade espreme-se em apenas 
27.242 vagas disponibilizadas nos 53 estabelecimentos penais – penitenciárias, 
institutos penais, casa do albergado, hospitais de custódia e tratamento 
psiquiátrico e cadeias públicas. 
 
58. A atual quadra de superlotação regional – cuja 
exuberante taxa de superlotação alcança a marca de 86% - decorre diretamente 
da conjugação sistemática de 02 fatores: 
 
 a - a exponencial majoração quantitativa dos índices 
de aprisionamento e/ou de retenção carcerária; e 
 
 b - a exígua criação de novas vagas no parque 
prisional fluminense. 
 
59. De fato, extrai-se do gráfico evolutivo concebido pelo 
Promotor de Justiça Tiago Joffily12 e gentilmente cedido à Defensoria Pública 
(doc. anexo), que, no mês de dezembro de 2003, havia 18.562 pessoas privadas 
de liberdade em cárceres regionais e 27.721 vagas existentes nos 
estabelecimentos. Há mais de uma década, portanto, o sistema já não detinha 
 
11 Fornecido pelo Conselho Penitenciário do Estado do Rio de Janeiro. 
12 Titular da Promotoria de Tutela Coletiva do Sistema Prisional e Direitos Humanos do Ministério Público até o mês 
de junho de 2016. 
 
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vagas suficientes para recepcionar e absorver a população prisional que se 
propunha a custodiar. 
 
60. O transcurso do tempo revela substancial 
agudização deste quadro. Em pouco mais de 12 anos, o efetivo carcerário 
experimentou um aumento próximo a 30.000 detentos, alcançando, no mês de 
setembro de 2016, mais de 50.000 detentos, ao passo que a quantidade de 
vagas não acompanhou o crescimento progressivo do incremento do 
contingente carcerário: no mesmo período temporal, adicionou-se ao parque 
prisional um pouco menos do que 10.000 novas vagas, totalizando 27.242. 
 
61. Os números estatísticos revelam uma perversa 
tendência das práticas penal e penitenciária no curso dos anos no âmbito do 
Estado do Rio de Janeiro: o aprisionamento massivo de pessoas representado 
por exorbitantes alíquotas de encarceramento13 , por um lado, e a correlata 
exiguidade na concepção de vagas no sistema, por outro. O resultado, por 
óbvio, é o inexorável desequilíbrio quantitativo no binômio detento-vaga e a 
consequencial superlotação dos estabelecimentos prisionais. 
 
62. A título exemplificativo cita-se 09 paradigmáticos 
estabelecimentos penais fluminenses em que o percentual ocupacional rompe 
a barreira de 100% (efetivo carcerário de 20.09.16; doc. anexo): 
 
UP ESPÉCIE CAPACIDADE EFETIVO EXCEDENTE TAXA 
Penitenciária 
Alfredo 
Fechado 
Masculino 
960 2894 1934 201% 
 
13 Consoante releva o INFOPEN/14, em 1990 o Brasil retinha 90.000 pessoas privadas de liberdade; passados 14 
anos, este quantitativo alcançou a marca de 607.700 detentos, num espantoso crescimento de 575%; a explosão da 
população prisional no país deve-se a um significativo aumento da taxa de encarceramento: em 2000, para cada 100 
mil habitantes havia 137 pessoas aprisionadas, ao passo que, em 2014, 299,7 pessoas estavam retidas em prisões para 
cada 100 mil habitantes; a se manter o crescimento experimentado neste período da taxa de aprisionamento (119%), 
em 2022 a população carcerária romperá a barreira de 1 milhão de detentos, e em 2075 uma em cada dez brasileiros 
estará em situação de privação de liberdade (INFOPEN/14). 
 
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Tranjan 
(Gericinó) 
Cadeia Pública 
Milton Dias 
Moreira 
(Japeri) 
Fechado 
Masculino 
884 2823 1939 219% 
Presídio João 
Carlos da Silva 
(Japeri) 
Provisório 
Masculino 
884 1870 986 112% 
Cadeia Pública 
Cotrim Neto 
(Japeri) 
Provisório 
Masculino 
750 1777 1027 137% 
Cadeia Pública 
Romeiro Neto 
(Magé) 
Provisório 
Masculino 
564 1455 891 158% 
Cadeia Pública 
Juíza de Direito 
Patrícia Acioli 
(São Gonçalo) 
Provisório 
Masculino 
616 1659 1043 169% 
Instituto Penal 
Plácido de Sá 
Carvalho 
(Gericinó) 
Semiaberto 
Masculino 
1699 3577 1878 111%14 
Instituto Penal 
Vi 
cente Piragibe 
(Gericinó) 
Semiaberto 
Masculino 
1444 2627 1183 82%15 
Presídio Ary 
Franco (Água 
Santa) 
Fechado 
Masculino 
968 2271 1303 135% 
 
 
14 Vide § 72, infra. 
15 Vide § 73, infra. 
 
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63. Neste contexto tenebroso de estabelecimentos penais 
absolutamente superpovoados, surpreendentemente há unidades que não 
apresentam um quadro crônico de overcrowding, destacando-se positivamente 
no dantesco parque prisional fluminense. 
 
64. Descontando-se os locais de privação de liberdade 
que apresentam perfil nosocomial16, remanescem 44 unidades prisionais sob o 
julgo da SEAP/RJ voltadas ao cumprimento de pena privativa de liberdade – 
penitenciárias e presídios para regime fechado; colônia agrícola/industrial e 
institutos penais para regime semiaberto; casa do albergado para regime aberto 
- e para o recolhimento de presos provisórios – cadeias públicas. 
 
65. Deste quantitativo de estabelecimentos, o efetivo 
carcerário de 20.09.16 demonstra que 36 locais de privação de liberdade estão 
com a capacidade ocupacional acima do limite numérico máximo, ao passo 
que apenas 10 unidades não apresentam situação inflacionária de superlotação 
carcerária 17 . Assim, aproximadamente 82% dos estabelecimentos penais 
administrados pela SEAP/RJ apresentam índices de ocupação superiores à 
capacidade de abrigamento concorrencial de detentos. 
 
66. É relevante explicitar o porquê de algumas unidades 
ergastulares não serem atingidas pelo quadro de superlotação prisional no 
Estado do Rio de Janeiro, já que a prática penitenciária aponta justamente 
reversa tendência. Ver-se-á que a explicação deste raro fenômeno carcerário 
escora-se em 02 distintas vertentes: 
 
 
16 Hospital Dr. Hamilton Agostinho Vieira de Castro, Instituto de Perícias Heitor Carrilho, Instituto de Perícias Heitor 
Carrilho-FEM, Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Henrique Roxo, Hospital Penal Fábio Soares Maciel, 
Hospital Penal Fábio Soares Maciel-FEM, Hospital Psiquiátrico Roberto Medeiros, Sanatório Penal e Sanatório 
Penal-FEM. 
17 O descompasso numérico ora constatado deve-se ao fato de que a Penitenciária Joaquim Ferreira de Souza aloja 03 
categorias diversas de pessoas privadas de liberdade do sexo feminino – “provisória comum”, “provisória federal” e 
“outros” – sendo que o extravasamento da capacidade ocorre em 02 setores da unidade. 
 
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 - peculiaridades da população prisional de 
determinados estabelecimentos; 
 
 - limitação quantitativa imposta por atuação 
interventiva do Poder Judiciário. 
 
67. No primeiro grupo, constamas seguintes unidades: 
 
 - Penitenciária Coronel PM Francisco Spargoli da 
Rocha: situado no município de Niterói, o estabelecimento acolhe pessoas 
privadas de liberdade que cumpriam pena na extinta Penitenciária Vieira 
Ferreira Neto, a qual, por seu turno, passou a denominar-se Unidade Prisional 
da Polícia Militar (art. 4º do Decreto nº 45345/15); de acordo com o Anexo I, 
inciso XV, da Resolução SEAP nº 338/10, a composição carcerária congloba 
condenados à pena de até 08 anos que não possuam outros processos criminais 
pendentes, condenados a qualquer quantum punitivo que sejam maiores de 60 
anos ou que sejam portadores de deficiência física grave que diminua a 
capacidade de locomoção, e condenados enquadrados nas hipóteses do art. 15 
da Lei nº 9807/99; 
 
 - Cadeia Pública José Frederico Marques: criada 
pelo Decreto nº 40152/06, a unidade é utilizada pela SEAP/RJ como “porta de 
entrada” do sistema penitenciário na capital do Estado do Rio de Janeiro; isto 
significa que a pessoa privada de liberdade permanece retida no 
estabelecimento apenas o tempo necessário para ser transferida para 
estabelecimento adequado ao seu perfil; é intensa a rotatividade de detentos, 
razão pela qual não possui efetivo carcerário fixo e estabilizado; 
 
 - Cadeia Pública Constantino Cokotós: segundo o 
art. 3º do Decreto 45345/15, o estabelecimento abriga população prisional 
 
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singular: “servidores de órgãos da segurança pública 18 e Inspetores de 
Segurança e Administração Penitenciária, quando sujeitos à prisão antes de 
condenação definitiva”, fator que explica a baixa densidade carcerária da 
unidade; 
 
 - Colônia Agrícola Marco Aurélio Vergas Tavares 
de Mattos: na conformidade do Anexo I, inciso VII, da Resolução SEAP nº 
338/140, a unidade comporta condenados ao regime semiaberto que já gozem 
de saída temporária de visita à família e que tenham aptidão para o 
desempenho de atividades agrícolas, sendo a admissão precedida de 
entrevista; 
 
 - Penitenciária Talavera Bruce: sede de concorridos 
concursos de beleza, a unidade abriga pessoas do sexo feminino condenadas ao 
cumprimento de pena em regime fechado, independentemente do quantum 
sancionatório (Anexo I, inciso XVII, da Resolução SEAP nº 338/10); 
 
 - Penitenciária Laercio da Costa Pellegrino: 
certamente um dos estabelecimentos penais mais famosos do país, o Bangu I é 
uma unidade de pequena capacidade, contando com apenas 48 celas 
individuais distribuídas em 04 galerias; vocacionado ao recolhimento de 
condenados a regime fechado e ao abrigo de presos provisórios (Anexo I, inciso 
XII, da Resolução SEAP nº 338/140), Bangu I acolhe pessoas privadas de 
liberdade que cumprem punição disciplinar e que, a juízo da administração 
penitenciária, não devem permanecer em outros estabelecimentos, assim como 
detentos que aguardam ingresso no sistema penitenciário federal; devido ao 
peculiar perfil da unidade, raramente Bangu I atinge a sua lotação máxima; 
 
 
 
18 Excluem-se os Policiais Militares, os quais, até o eventual advento de decisão penal condenatória provida de 
definitividade, permanecem custodiados na Unidade Prisional da Polícia Militar (art. 4º do Decreto nº 45345/15). 
 
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 - Instituto Penal Cândido Mendes: localizando no 
centro da cidade do Rio de Janeiro, a unidade abriga pessoas privadas de 
liberdade condenadas a cumprir a sanção em regime semiaberto que possuam 
autorização judicial de trabalho externo (Anexo I, inciso III, da Resolução SEAP 
nº 338/140); o reduzido número de detentos em relação à capacidade deve-se 
justamente à exigência de que a pessoa privada de liberdade ostente 
permissibilidade autorizativa para trabalhar, fato raro no mundo prisional; 
 
 - Cadeia Pública Pedrolino Werling de Oliveira: a 
notoriedade midiática deste estabelecimento – mais conhecido como Bangu 8 – 
deita raízes na categoria de detentos que abriga: “custodiados diplomados em 
nível superior e aqueles sob ordem de prisão por inadimplência de pensão 
alimentícia” (art. 5º do Decreto nº 45345/15); segundo dados estatísticos 
divulgados pelo INFOPEN/14, apenas 1% da população carcerária brasileira 
possui ensino superior completo, o que explica a baixa densidade prisional da 
unidade. 
 
68. Consoante demonstrou-se, os referidos 
estabelecimentos não padecem de um quadro de superlotação em razão das 
específicas peculiaridades que apresentam em relação ao contingente 
prisional. Como são finalisticamente voltadas à recolha de grupos de detentos 
com características próprias e bem destacadas da parcela amplamente 
majoritária da população carcerária, referidas unidades dificilmente alcançam 
ou ultrapassam a lotação máxima e, quando raramente tal fenômeno ocorre, o 
extravasamento quantitativo da capacidade ocupacional não instala 
propriamente uma crônica situação de superpovoamento. 
 
69. Por outro lado, os demais estabelecimentos que 
igualmente escapam à regra prisional da sobrelotação de detentos devem 
 
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tributo unicamente à intervenção performática do Poder Judiciário. São 
unidades que não ostentam qualquer particularidade especial referenciada às 
características das pessoas privadas de liberdade que abrigam: ao reverso, tais 
estabelecimentos são destinados ao recolhimento de presos que ou pertencem a 
alguma facção criminosa – Comando Vermelho (CV), Terceiro Comando Puro 
(TCP), Amigo dos Amigos (ADA) e Milícia – ou que são membros dissidentes 
daqueles grupos e/ou são condenados por delitos que os impedem de conviver 
com segurança no seio das facções (“presos de seguro”). 
 
70. Vejamos a parca lista dos estabelecimentos penais 
em que a superlotação carcerária somente não se faz presente exclusivamente 
em virtude da existência de decisões judiciais limitativas do quantitativo 
prisional: 
 
 - Cadeia Pública Hélio Gomes (Processo nº 0010759-
77.2013.8.19.0029, 1º Vara Cível da Comarca de Magé): a capacidade 
ocupacional da unidade foi inicialmente limitada por decisão liminar proferida 
em 20.09.13 no bojo de ação civil pública manejada pelo Ministério Público; o 
decisum antecipatório da tutela foi consolidado na sentença de 02.12.14 e 
confirmado em sede recursal pela Nona Câmara Cível; atualmente, o feito 
encontra-se no aguardo de apreciação de agravos de instrumentos interpostos 
alvejando decisões de inadmissão de recursos especial e extraordinário; 
 
 - Cadeia Pública Franz de Castro Holzwarth 
(Processo nº 0016621-49.2012.8.19.0066, 4º Vara Cível da Comarca de Volta 
Redonda): também em ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público, o 
patamar número ocupacional da unidade restou liminarmente limitado em 
21.06.12 e preservado no julgamento de recurso de agravo em 14.12.12 pela 
Sexta Câmara Cível (em 04.09.12 a Presidência do Tribunal de Justiça havia 
concedido pedido de suspensão da medida liminar); a sentença meritória de 
 
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04.04.13, que igualmente fixou limite à capacidade da cadeia pública, foi 
mantida no julgamento de recurso de apelação em 23.07.14; diante do insucesso 
das impugnações excepcionais manejadas, já se consolidou materialmente o 
trânsito em julgado; 
 
 - Instituto Penal Benjamim de Moraes Filho 
(Procedimento Especial nº 2012/0120311-2, VEP/RJ): situado no complexo 
penitenciário de Gericinó e vocacionado a condenados ao regime intermediário 
que não possuam saída temporária de visita e/ou trabalho externo (Anexo I, 
inciso IV, da Resolução SEAP nº 338/140), a demarcação quantitativa da 
população prisional advém de decisão do juízo da execução penal fluminense 
em procedimento especial (doc. anexo). 
 
71. Como se vê, de todo o parque prisional fluminense, 
apenas 03 unidades prisionais não são negativamente atingidas pelo 
overcrowdingem função de atuações interventivas do Poder Judiciário, o que 
evidencia que, caso não haja a interferência jurisdicional nos 
estabelecimentos, a superlotação é um fenômeno inevitável no sistema 
penitenciário estadual. 
 
72. Ainda sob esse propósito, consigna-se que em outras 
situações o Poder Judiciário foi convocado a atuar no que pertine ao quadro de 
superlotação. Porém, a renitência da intervenção judicial viabilizou o 
incremento da população carcerária em várias unidades prisionais. Sem 
pretensão alguma de exaustividade, inventariam-se exemplos paradigmáticos 
de superpovoamento decorrentes diretamente da não intervenção judicante: 
 
 - Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho 
(Procedimentos Especiais nº 2012/0021501-8, 2014/0184116-6 e 2015/0002112-4, 
VEP/RJ): desde o longínquo ano de 2012, a Defensoria Pública e o Ministério 
 
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Pública tentam obter decisão judicial referente ao estabelecimento penal no que 
toca às condições degradantes de habitabilidade e a superlotação; em fevereiro 
de 2012 – data do propositura do 1º procedimento especial – a unidade contava 
com 1542 detentos e, passados mais de 04 anos, abriga 3577; em virtude da 
acinesia judicial – nenhuma decisão, positiva ou negativa, restou proferida pelo 
juízo da execução penal fluminense quanto aos reclamos das instituições – a 
Defensoria Pública recorreu ao sistema interamericano de direitos humanos 
(doc. anexo) e obteve, em 18.07.16, a decretação de medidas cautelares da 
Comissão Interamericana de Direitos Humanos, dentre as quais a 
impositividade ao Estado do Brasil para que “tome ações imediatas para reduzir 
substancialmente a superlotação dentro do Instituto Penal Plácido de Sá 
Carvalho, de acordo com padrões internacionais” (doc. anexo); 
 
 - Presídio Diomedes Vinhosa Muniz (Processo nº 
0009272-81.2013.8.19.0026, 2ª Vara Cível da Comarca de Itaperuna): em 30.08.13, 
a capacidade do estabelecimento foi judicialmente limitada em 455 detentos por 
decisão liminar proferida em ação civil pública; no entanto, decisões proferidas 
pelo Tribunal de Justiça em sede de pedido de suspensão e agravos de 
instrumento cassaram a eficácia da decisão antecipatória da tutela; assim, 
diante da não interferência judicial, atualmente a unidade, cuja capacidade 
máxima é de 466 detentos, abriga 782 pessoas privadas de liberdade, com taxa 
de superlotação de 68%; 
 
 - Cadeia Pública Dalton Crespo de Castro (Processo 
nº 0059535-27.20118.19.0014, 1ª Vara Cível da Comarca de Campos dos 
Goytacazes): também em sede de ação civil pública, decisão antecipatória de 
tutela limitou a capacidade da unidade ao patamar de 500 detentos em 17.11.11; 
porém, em 10.09.12, a Presidência do Tribunal de Justiça acolheu pedido de 
suspensão e cassou a liminar então concedida; como consequência, a unidade 
 
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ostenta, atualmente, contingente prisional de 864 detentos, ou seja, 
superlotação de 73% de sua capacidade; 
 
 - Cadeia Pública Milton Dias Moreira (Processo nº 
0001642-89.2016.8.19.0083, 2ª Vara da Comarca de Japeri): em 29.03.16, o 
Ministério Público ajuizou ação civil pública postulando, dentre outras 
providências, a concessão de liminar limitativa da capacidade da unidade em 
884 detentos e a transferência do excedente prisional (a respectiva peça 
isagógica evidencia exponencial incremento quantitativa da população 
carcerária: 899 presos em janeiro de 2015; 1676 em março de 2015; 1771 no mês 
de junho e 2286 em setembro de 2015; e 2619 em fevereiro de 2016; doc. anexo); 
em 30.05.16, o pedido de antecipação de tutela foi indeferido; assim, face à não 
intervenção jurisdicional, o estabelecimento comporta hoje 2823 pessoas 
privadas de liberdade (excesso de 219%); 
 
 - Cadeia Pública Pedro Melo da Silva 
(Procedimento Especial n° 2014/0190795-9, Vara de Execuções Penais): este 
pedido de providências foi despoletado pela Defensoria Pública em 30.10.14, 
ocasião em que o estabelecimento retinha 971 detentos (taxa 29% superior à sua 
capacidade); transcorrido 01 ano e 05 meses sem que a autoridade judicial 
tenha adotado qualquer medida contra a superlotação – transferência do 
excedente prisional e proibição do ingresso de novos detentos em número 
superior à capacidade – a unidade atualmente conta com 1467 “hóspedes”; em 
08.03.16, o juízo da execução penal determinou o arquivamento do 
procedimento. 
 
73. Há, ainda, 02 outros casos que merecem especial 
menção pelas especificidades que apresentam no que concerne à relação que se 
estabelece entre superlotação carcerária X intervenção judicial. Veja-se: 
 
 
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 - Presídio Evaristo de Moraes (Procedimento 
Especial nº 2012/0162032-3, VEP/RJ): em 19.10.12, o juízo da execução penal 
promoveu a interdição gradual do estabelecimento – à época, 1900 detentos 
superpovoavam a unidade, com capacidade para 1490 – e, posteriormente, em 
12.04.13, reverteu a decisão anterior e fixou a capacidade em 1437 pessoas 
privadas de liberdade; por fim, atendendo pleito da administração 
penitenciária, o juízo da execução penal fluminense permitiu um aumento 
provisório da capacidade ocupacional em mais 250 detentos (docs. anexos); no 
entanto, apesar das referidas decisões judiciais, o estabelecimento alberga 
atualmente 2146 detentos (43% acima do limite máximo); 
 
 - Instituto Penal Vicente Piragibe (Processo nº 
0358308-65.2011.8.19.0001, 6ª Vara de Fazenda Pública da Comarca da Capital): 
em outubro de 2011, a unidade prisional – destinada ao abrigo de condenados a 
cumprir pena privativa de liberdade em regime semiaberto que não detêm 
saída temporária de visita à família e trabalho externo (Anexo I, inciso I, da 
Resolução SEAP nº 338/140) – ostentava população carcerária de 1999 detentos 
para capacidade máxima de 1444, sendo que o juízo fazendário, em 06.10.11, 
deferiu parcialmente pedido liminar e proibiu o ingresso de novos presos até 
que se atingisse o patamar ocupacional adequado; esta decisão, porém, foi 
revogada pelo próprio juízo apenas 05 dias depois; em razão da ausência de 
decisão judicial limitativa, o contingente prisional experimentou majoração 
exponencial, atingindo a exuberante marca de 3539 detentos em 16.05.16; 
atendendo a pedido formulado pela Defensoria Pública – autora da ação civil 
pública – o juízo fazendário repristinou, em 30.05.16, a limitação judicial 
referente à capacidade da unidade e proibiu o ingresso de novas pessoas 
privadas de liberdade no estabelecimento; em razão desta recente decisão, o 
contingente prisional vem sendo paulatinamente reduzido mediante a saída 
de detentos, encontrando-se atualmente no patamar de 2627. 
 
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74. Estes 02 últimos casos denotam que nem sempre a 
pronta atuação intervencionista do Poder Judiciário se mostra capaz de evitar a 
instalação da superlotação carcerária (Presídio Evaristo de Moraes), e que, 
ainda que temporalmente tardia, a intromissão judicial desponta como o único 
recurso apto a estancar e reverter o atômico crescimento demográfico de um 
estabelecimento penal (Instituto Penal Vicente Piragibe). 
 
75. A anamnese realizada sobre o panorama dos 
estabelecimentos prisionais do Estado do Rio de Janeiro e a necessária conexão 
equacionada pela relação superlotação carcerária X intervenção judicial permite a 
firmação dos seguintes diagnósticos: 
 
- o Estado do Rio de Janeiro, ao longo dos anos, 
experimenta uma majoração exponencial das taxas de 
encarceramento; 
 
- à curva ascendente e contínua de aprisionamento não 
corresponde, proporcionalmente, a velocidade de criação 
de novas vagas no sistema penitenciário; 
 
- a superlotação dos estabelecimentos é a regra e a prática 
penitenciária no parque prisional estadual; 
 
- a não atuação judicial é causa direta da consequencial 
explosão demográfica em vários estabelecimentosprisionais fluminenses; 
 
 
 
 
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- somente a intervenção judicial detém aptidão para 
prevenir, brecar e/ou desinstalar quadro de 
superpovoamento em determinada unidade prisional. 
 
76. Estas premissas diagnosticais permitem 
perspectivamente prognosticar que a transposição da caoticidade do sistema 
penitenciário do Estado do Rio de Janeiro para a UP de Resende é uma 
probabilidade concreta e real, calcada em dados estatísticos enunciadores que 
a superlotação certamente se replicará no novo estabelecimento prisional. 
 
77. Acima de mera suposição profética e abstrata 
desconexão da realidade, a instauração do quadro de superpovoação carcerária 
na UP de Resende conta com um indesejado e incômodo aliado, aliado este, 
aliás, já “transitado em julgado”. 
 
78. Com efeito, com a edificação do novo 
estabelecimento, o Sul do Estado do Rio de Janeiro passa a contar com 02 locais 
de privação de liberdade: a UP de Resende e a Cadeia Pública Franz de Castro 
Holzwarth. Assim, a região sul fluminense começará a recepcionar mais 
detentos em razão do aumento da capacidade de recolhimento compulsório de 
pessoas privadas de liberdade propiciado justamente pela UP de Resende. 
 
79. No entanto, a Cadeia Pública Franz de Castro 
Holzwarth, como já se avançou, foi objeto de ação civil pública em que se fixou 
judicialmente a capacidade máxima de ocupação do estabelecimento. Somente 
em virtude desta decisão, a administração penitenciária não aloca na unidade 
detentos além do patamar judicialmente estipulado, respeitando rigorosamente 
os parâmetros quantitativos estabelecidos pelo Poder Judiciário. A preclusão 
 
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formal e material da decisão meritória proferida no bojo contextual da ação 
coletiva impede qualquer possibilidade de reversão do atual quadro. 
 
80. Em virtude da conformação jurídico-processual da 
coisa julgada no Processo nº 0016621-49.2012.8.19.0066, remanesce, na Região 
Sul, apenas a UP de Resende como insular estabelecimento de privação de 
liberdade para receber os novos detentos da região, uma vez que sobre a outra 
unidade prisional - Cadeia Pública Franz de Castro Holzwarth - já recai a 
limitação judicial referida. Assim, a UP de Resende, dada a tendência prática e 
concreta de superlotação de estabelecimentos penais no Estado do Rio de 
Janeiro decorrente do progressivo incremento dos índices de encarceramento, 
desponta como único local passível de absorver a massa carcerária da região. 
 
81. Registre-se, por oportuno, que nos meses de 
novembro e dezembro de 2015 e janeiro de 2016, as cidades de Volta Redonda, 
Barra Mansa, Barra do Piraí, Pinheiral, Porto Real/Quatis, Resende, Itatiaia, Rio 
das Flores e Valença registraram, conjuntamente, 352 prisões em flagrante (doc. 
anexo19). Operando-se com esta média de prisões - 117 novos detentos por mês 
-, em pouco mais de 03 meses a UP de Resende já estaria com sua capacidade 
ultrapassada, evidenciando a vocação que a Região Sul apresenta para 
sobrelotar o estabelecimento penal em voga. 
 
82. Este quantitativo de novos detentos provoca um 
fluxo migratório intenso e contínuo de pessoas privadas de liberdade da 
Região Sul para unidades prisionais da capital do Estado. A interdição 
ocupacional da Cadeia Pública Franz de Castro Holzwarth é causa direta da 
superlotação de outros estabelecimentos, tais como a Cadeia Pública Pedro 
Melo da Silva, localizada no complexo penitenciário de Gericinó. Esta unidade 
sistematicamente absorve detentos oriundos da Cadeia Pública Franz de 
 
19 Dados coletados pelo Núcleo de Cadeias Públicas e Apoio ao Preso Provisório da Defensoria Pública do Estado do 
Rio de Janeiro. 
 
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Castro Holzwarth, apresentando, atualmente, quadro de sobrelotação 
carcerária (§ 72, supra). Os dados numéricos 20 referentes ao ano de 2016 
estampam a exuberância da transposição de detentos de um estabelecimento a 
outro (docs. anexos): 
. Marco: 126 transferências; 
. Abril: 90 transferências; 
. Maio: 82 transferências; 
. Junho: 101 transferências; 
. Julho: 87 transferências; 
. Agosto: 98 transferências. 
 
83. Em apenas 06 meses, 584 pessoas privadas de 
liberdade da Cadeia Pública Franz de Castro Holzwarth foram transferidas 
para a Cadeia Pública Pedro Melo da Silva, contingente populacional que já 
seria suficiente para acarretar o extravasamento ocupacional da UP de 
Resende. Logo, a Região Sul fluminense ostenta a indesejável aptidão de 
“produzir” expressiva população carcerária acima dos limites de capacidade 
de seus 02 estabelecimentos penais. 
 
84. Nestes termos, a imposição de limitação judicial 
quantitativa em caráter preventivo constitui providência indispensável em 
virtude de 03 fatores: 
 
 - a Região Sul do Estado do Rio de Janeiro apresenta 
elevados índices de encarceramento que superam o número de vagas 
atualmente disponíveis na Cadeia Pública Franz de Castro Holzwarth e na UP 
de Resende; 
 
 
 
20 Informações fornecidas pela Defensora Pública Ana Lúcia Tavares Ferreira, do Núcleo do Sistema Penitenciário da 
Defensoria Pública. 
 
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- a UP de Resende, a exemplo de outros 
estabelecimentos penais, é forte candidata a ingressar no vergonhoso rol de 
unidades prisionais do Estado do Rio de Janeiro que apresentam quadro de 
superlotação carcerária marcada pela tendência inflacionária e expansionista 
que se anaboliza significativamente no transcurso do tempo; 
 
 - a superlotação da UP de Resende, diante dos 
dados e estatísticas apresentados, é uma probabilidade concreta, mormente 
porque a outra unidade prisional localizada na mesma região geográfica - 
Cadeia Pública Franz de Castro Holzwarth – já ostenta limitação judicial 
quanto à sua capacidade ocupacional e, portanto, não detém autorização para 
recepcionar novos detentos, remanescendo, conseguintemente, apenas a UP de 
Resende na condição de estabelecimento receptor de novas pessoas privadas de 
liberdade na Região Sul do Estado do Rio de Janeiro. 
 
85. Não custa rememorar que a historiografia 
penitenciária fluminense revela a existência de unidades prisionais com 
aberrantes índices de superlotação – abrangendo situações nas quais o Poder 
Judiciário, de um modo ou de outro, deixou de opor limites ocupacionais – e 
estabelecimentos cujo perímetro carcerário não comporta pessoas privadas de 
liberdade além do quantitativo máximo – incluem-se neste grupo os 03 
estabelecimentos em que a capacidade ocupacional decorre de intervenção do 
Poder Judiciário (§ 70, supra). 
 
86. A UP de Resende ainda não conta com o mesmo 
escudo imunizador impeditivo da instalação do quadro de superlotação 
carcerária. Já se evidenciou à exaustão que somente a intervenção preventiva 
da tutela jurisdicional detém aptidão para estancar e/ou remover o excesso do 
contingente populacional em um estabelecimento prisional. Os 
 
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paradigmáticos casos da Cadeia Pública Hélio Gomes (§ 70, supra), da Cadeia 
Pública Franz de Castro Holzwarth (§ 70, supra) e do Instituto Penal Benjamim 
de Moraes Filho (§ 70, supra) são os exemplos positivos que estampam a 
imprescindibilidade da prévia intervenção do Poder Judiciário também em 
relação à UP de Resende. 
 
87. ii) Privação de Liberdade. Condições de 
Detenção. Estado. Posição de Garante. Dever de Prevenção. 
 
88. A privação de liberdade de uma pessoa – e neste 
domínio desimporta a natureza jurídica do respectivo título prisional – a coloca 
sob controle total21 do Estado, que o exerce de forma hierarquizada durante o 
período temporal de durabilidade da detenção. Esta posição de 
vulnerabilidade decorrente do encarceramento acarreta para o ente estatal um 
especial dever de tutelaem virtude da posição de garante22-23-24 que assume 
em face dos direitos titularizados pelas pessoas privada de liberdade. 
 
89. A Constituição da República, tendo em mira justamente a 
relação de dominância que se estabelece na ambiência penitenciária e 
reconhecendo expressamente a condição de debilidade ôntica em que se 
encontram as pessoas privadas de liberdade, elegeu este seleto grupo 
 
21 Corte IDH, Caso Bulacio Vs. Argentina, sentencia de 18 de septiembre de 2003, fondo, reparaciones y costas, § 
126 e Caso Montero Aranguren y otros (Retén de Catia) Vs. Venezuela, sentencia de 5 de julio de 2006, excepcion 
preliminar, fondo, reparaciones y costas, § 87; no mesmo sentido, Corte EDH: “It must be further emphasised that the 
authorities exercise full control over a person held in custody and their way of treating a detainee must, in view of 
his or her vulnerability, be subjected to strict scrutiny under the Convention” (Case of Iwańczik v. Poland, 
Application nº 25196/94, 15 november 2001, § 53). 
22 Principio I (trato humano) dos Princípios e Buenas Práticas sobre la Protección de las Personas de Liberdad em las 
Americas (Resolución 01/08, CIDH). 
23 Corte IDH, Caso Neira Alegría y otros Vs. Perú. Fondo, sentencia de 19 de enero de 1995, § 60; Caso Yvon 
Neptune, § 130; Caso Montero Aranguren y otros (Retén de Catia) Vs. Venezuela, sentencia de 5 de julio de 2006, 
fondo, reparaciones y costas, §§ 85 y 87; e Caso Vélez Loor Vs. Panamá, sentencia de 23 de noviembre de 2010, 
excepciones preliminares, fondo, reparaciones, y costas, § 198. 
24 A posição de garante do Estado frente à pessoas privadas de liberdade conduziu a Corte IDH a estabelecer a 
presunção iuris tantum da responsabilidade estatal: “Que, en virtud de la responsabilidad del Estado de adoptar 
medidas de seguridad para proteger a las personas que estén sujetas a su jurisdicción, la Corte estima que este deber 
es más evidente al tratarse de personas recluidas en un centro de detención estatal, caso en el cual se debe presumir 
la responsabilidad estatal en lo que les ocurra a las personas que están bajo su custodia” (Medidas Provisionales no 
Caso de La Cárcel de Urso Branco/Brasil, de 18 de junio de 2002, § 8º). 
 
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vulnerável como destinatário específico de protetividade constitucional. Além 
do valor axiológico centrado na dignidade da pessoa humana, o texto 
constitucional expressamente normatiza que “é assegurado aos presos a 
integridade física e moral25”. 
 
90. No plano ordinário, a tutela constitucional 
direcionada à pessoa privada de liberdade é normativamente replicada pelo 
legislador: tanto o art. 38 do Código Penal26 quanto o art. 40 da LEP27 veiculam 
conjugadamente comandos legais de proteção à integridade física e moral 
daquele submetido à detenção compulsória. 
 
91. Na esfera adventícia, o panorama não é diferente. 
Inúmeros tratados, convenções e resoluções de organismos internacionais 
dedicam-se a promover e garantir a tutela da pessoa privada de liberdade. A 
título exemplificativo, a Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH) 
– a que o Brasil voluntariamente aderiu28 - defere tutela específica ao detento ao 
prever que “toda pessoa privada de liberdade deve ser tratada com o respeito 
devido à dignidade inerente ao ser humano 29 ”, orientação convencional 
igualmente constante do art. 10.130 do Pacto Internacional sobre Direitos Civis 
e Políticos31 e na Regra 132 das Regras de Mandela. 
 
92. Não se questiona, portanto, que à pessoa privada de 
liberdade o Estado há-de outorgar forma tratamental compatível com a 
 
25 Art. 5º, inciso XLIX. 
26 “O preso conserva todos os direitos não atingidos pela perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o 
respeito à sua integridade física e moral”. 
27 “Impõe-se a todas as autoridades o respeito à integridade física e moral dos condenados e dos presos provisórios”. 
28 Decreto nº 678 de 06.11.92. 
29 Art. 5.2 da CADH. 
30 “Toda pessoa privada de sua liberdade deverá ser tratada com humanidade e respeito à dignidade inerente à pessoa 
humana”. 
31 A internalização normativa do PIDCP deu-se pelo Decreto nº 592/92. 
32 “Todos os presos devem ser tratados com respeito, devido a seu valor e dignidade inerentes ao ser humano. 
Nenhum preso deverá ser submetido a tortura ou tratamentos ou sanções cruéis, desumanos ou degradantes e deverá 
ser protegido de tais atos, não sendo estes justificáveis em qualquer circunstância. A segurança dos presos, dos 
servidores prisionais, dos prestadores de serviço e dos visitantes deve ser sempre assegurada”. 
 
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dignidade existencial inerente a todo ser humano, incumbindo-lhe abster-se da 
prática de condutas que menoscabem e/ou ponham em risco de periclitação 
direitos fundamentais das pessoas que se encontram retidas coativamente em 
estabelecimentos prisionais. Em outras palavras: ao Estado, como decorrência 
da posição de garante, corresponde um dever de prevenção, o qual, conforme 
assentado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos – Corte IDH - no 
paradigmático Caso Velásquez Rodrigues Vs. Honduras, constitui uma 
obrigação do Estado consistente em “prevenir, investigar y sancionar toda 
violación de los derechos reconocidos por la Convención33”. 
 
93. A contextualização tematizada do dever de 
prevenção referenciado à privação de liberdade resulta na consequencial 
obrigação de respeito e garantia dos direitos dos detentos, que, não obstante a 
apartação compulsória inerente à supressão temporária do direito ambulatorial, 
preservam “todos os direitos não atingidos pela perda da liberdade 34 ” e “não 
atingidos pela sentença ou pela lei35”. Neste sentido, na tutela da higidez física e 
moral da pessoa privada de liberdade, o Estado deve garantir que “la manera y 
el método de privación de libertad no exceda el nivel inevitable de sufrimiento 
inherente a la detención36-37”. 
 
94. Ora, a convivência forçada de 06 pessoas nas celas 
da UP de Resende – Capítulo 1 – e a concreta e real probabilidade da 
 
33 Caso Velásquez Rodrigues Vs. Honduras, sentencia de 29 de julio de 1988, fondo, § 166; assim também, Caso 
González y otras (“Campo Algodonero”) Vs. México. excepción preliminar, fondo, reparaciones y costas, sentencia de 16 
de noviembre de 2009, § 252, Caso Ibsen Cárdenas e Ibsen Peña, fondo, reparaciones y costas, sentencia de 1 de 
septiembre de 2010, § 63, e Caso Gomes Lund y otros (“Guerrilha do Araguaia”) Vs. Brasil, sentencia de 24 de 
noviembre de 2010, excepciones preliminares, fondo, reparaciones y costas, § 106. 
34 Art. 40 do Código Penal. 
35 Art. 3º da LEP. 
36 Caso Boyce y otros Vs. Barbados, sentencia de 20 de novimebre de 2007, excepción preliminar, fondo, 
reparaciones y costas, § 88, e Caso Vélez Loor Vs. Panamá, sentencia de 23 de noviembre de 2010, excepciones 
preliminares, fondo, reparaciones y costas, § 198. 
37 Na jurisprudência europeia, a Corte EDH caminha na mesma direção: “Nevertheless, under this provision the State 
must ensure that a person is detained in conditions which are compatible with respect for his human dignity, that the 
manner and method of the execution of the measure do not subject him to distress or hardship of an intensity 
exceeding the unavoidable level of suffering inherent in detention and that, given the practical demands of 
imprisonment, his health and well-being are adequately secured” (Case of Kalashnikov v. Russia, Application nº 
47095/99, 15 july 2002, § 95); ainda, Case of Karalevičius v. Lithuania, Application nº 53254/99, 7 april 2005, § 34, 
e Case Drăgan v. Romania, Application nº 65158/09, 2 february 2016, § 69. 
 
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instalação de quadro de superlotação carcerária no estabelecimento– Capítulo 
2 – caracterizam situações de lesão e conspurcação da dignidade da pessoa cuja 
privação da liberdade será executada na unidade prisional. 
 
95. ii.a) Celas. Dimensão Espacial. Circularidade 
Interna. 
 
96. A questão atinente ao minimum living space insere-se 
na pauta de organismos internacionais afetos à temática penitenciária. O 
Comitê para a Prevenção da Tortura do Conselho da Europa e Cruz Vermelha 
Internacional e outros órgãos externos – alguns providos de poder jurisdicional 
no âmbito internacional de protetividade de direitos humanos – veiculam 
regras e decisões atinentes à matéria espacial dos locais de privação de 
liberdade. 
 
97. No final do ano de 2015, o Comitê para a Prevenção 
da Tortura do Conselho da Europa expediu recomendação em que estipula, 
para alojamentos coletivizados, 06,00 m2 de espaço mínimo para 01 detento e, a 
cada detento adicionado ao mesmo local, mais 04,00 m2, sem computar a área 
dos banheiros. Assim, se o local abrigar 06 pessoas privadas de liberdade – tal 
como se pretende em relação à UP de Resende -, o espaço deverá ser de 26,00 
m2, no mínimo 38 (6+4+4+4+4+4). Significa dizer que as celas coletivas do 
estabelecimento estão com aproximadamente 13,00 m2 a menos do que o 
padrão fixado pelo CPT. 
 
98. Aliás, segundo o CPT, as celas da UP de Resende 
não devem comportar simultaneamente mais do que 02 pessoas privadas de 
liberdade. Veja-se: 
 
 
38 Living space per prisioner in prison establishmentes: CPT standards. European Committee for the Prevention of 
Torture and Inhuman or Degrading Treatment of Punishment, Council of Europe, CPT/Inf (2015) 44, p. 04. 
 
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“In other words, it would be desirable for a cell of 8 to 9m² to 
hold no more than one prisoner, and a cell of 12m² no more 
than two prisoners39”. 
 
99. Por seu turno, a Cruz Vermelha Internacional 
também recomenda especificações mínimas para o tamanho de celas: tratando-
se de habitáculo individual, o recinto deve ter 05,4 m2, não se computando o 
banheiro; em caso de recintos de habitação compartida, cada “condômino” 
deve dispor de 3,4 m2-40-41, de modo que as celas da UP de Resende deveriam 
ter sido engendradas com área espacial não inferior a 20,4 m2. 
 
100. Transcorridos 60 anos desde a sua primeva edição, a 
Assembleia Geral da ONU aprovou, em 17.12.15, a atualização das Regras 
Mínimas para o Tratamento de Reclusos (United Nations Standard Minimum 
Rules for the Treatment of Prisioners), conjunto de modernas diretrizes a serem 
observadas pelos Estados aderentes na questão penitenciária. 
 
101. Sob o epíteto de Regras de Mandela (The Nelson 
Mandela Rules), as Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos da ONU 
veiculam relevantes paradigmas normativos de Direito de Execução Penal e, 
pertinente ao propósito específico ora deduzido, diretivas conformadoras 
mínimas sobre os ambientes de inserção da pessoa privada de liberdade em 
estabelecimentos penais. Neste contexto, a Regra 13 impõe a garantia de 
“espaço mínimo” no interior dos locais de vivência dos detentos: 
 
“Todos os ambientes de uso dos presos e, em particular, todos 
os quartos, celas e dormitórios, devem satisfazer as exigências 
 
39 op.cit., p. 04. 
40 Water, Sanitation, Hygiene and Habitat in Prisons: supplementary guidance. International Committee of the Red 
Cross. ICRC, april 2012, p. 32/33. 
41 Segundo a Cruz Vermelha Internacional, mesmo em situações de marcada excepcionalidade, a área espacial de 
circulação das celas não deve ser inferior a 02,00 m2: “Even in exceptional crisis situations, the floor space in cells 
and dormitories must never be less than 2m2 per person” (Water, Sanitation, Hygiene and Habitat in Prisons, 
International Committee of the Red Cross. ICRC, august 2005, p. 21). 
 
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de higiene e saúde, levando-se em conta as condições 
climáticas e, particularmente, o conteúdo volumétrico de ar, o 
espaço mínimo, a iluminação, o aquecimento e a ventilação42-
43”. 
 
102. No âmbito do sistema interamericano de direitos 
humanos o panorama normativo não é diferente. O Princípio XII.1 do conjunto 
de Princípios e Boas Práticas para a Proteção das Pessoas Privadas de 
Liberdade 44 da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) 
igualmente assegura à pessoa privada de liberdade área espacial mínima: 
 
“As pessoas privadas de liberdade deverão dispor de 
espaço suficiente, com exposição diária à luz natural, 
ventilação e calefação apropriadas, segundo as condições 
climáticas do local de privação de liberdade. Receberão a 
cama individual, roupa de cama adequada e às demais 
condições indispensáveis para o descanso noturno. As 
instalações deverão levar em conta, entre outras, as 
necessidades especiais das pessoas doentes, das portadoras 
de deficiência, das crianças, das mulheres grávidas ou mães 
lactantes e dos idosos”. 
 
103. Na esfera da jurisdição da Corte Europeia de 
Direitos Humanos - Corte EDH - o tamanho espacial das celas e a falta de 
espaço nos recintos de privação de liberdade ocupam centralidade temática em 
inúmeros julgados da corte acerca de violações ao art. 3º da Convenção 
Europeia de Direitos Humanos. Assim, no Case of Karalevičius v. Lithuania, 
assentou o tribunal de Estrasburgo o seguinte: 
 
 
42 “All accommodation provided for the use of prisoners and in particular all sleeping accommodation shall meet all 
requirements of health, due regard being paid to climatic conditions and particularly to cubic content of air, 
minimum floor space, lighting, heating and ventilation”. 
43 Versão em língua portuguesa disponibilizada pelo Conselho Nacional de Justiça (disponível em 
http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2016/05/39ae8bd2085fdbc4a1b02fa6e3944ba2.pdf). 
44 Disponível em http://www.oas.org/pt/cidh/mandato/Basicos/principiosPPL.asp. (captura em 20.09.16). 
http://www.oas.org/pt/cidh/mandato/Basicos/principiosPPL.asp
 
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“Hence, as in those cases, the Court considers the extreme 
lack of space as a central factor in its analysis of 
compliance of the applicant's detention conditions with 
Article 3. The fact of the applicant being obliged to live, sleep 
and use the toilet in the same cell with so many other inmates 
was itself sufficient to cause distress or hardship of an intensity 
exceeding the unavoidable level of suffering inherent in 
detention, and arouse in the applicant the feelings of fear, 
anguish and inferiority capable of humiliating and debasing 
him45”. 
 
104. A Corte EDH, ainda sobre o assunto, já se deparou 
com concretas situações em que a metragem de celas não atendia aos 
parâmetros espaciais fixados pelo Comitê para a Prevenção da Tortura do 
Conselho da Europa. No caso Case of Ostrovar v. Moldova, apurou-se que a 
pessoa privada de liberdade foi alocada em 02 celas distintas que ofertavam 
ínfimo espaço a cada detento – entre 1,78 e 2.02 m2 em um habitáculo, e entre 
1,5 e 1,93 m2 em outro46. A conclusão da Corte EDH é enfática: 
 
“The Court considers that such accommodation cannot be 
regarded as attaining acceptable standards. In this 
connection it recalls that the CPT has stated in a report, drafted 
following a visit to Azerbaijan between 24 November and 4 
December 2002, that 4 m² per prisoner was an appropriate and 
desirable guideline for a detention cell47-48”. 
 
 
45 Case of Karalevičius v. Lithuania, Application nº 53254/99, 7 april 2005, § 39; no mesmo sentido, Case of Drăgan 
v. Romania, nota 10, supra, § 71. 
46 “It is noted that the two cells in which the applicant was detained measured 25 m² and 15 m² (according to the 
applicant) and 28.4 m² and 19.3

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