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Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 1 MÓDULO DE: PRINCÍPIOS E MÉTODOS DE ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL AUTORIA: MARIZINHA COQUEIRO BORGES Copyright © 2008, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 2 Módulo de: Princípios e Métodos de Orientação Educacional Autoria: Marizinha Coqueiro Borges Primeira edição: 2009 CITAÇÃO DE MARCAS NOTÓRIAS Várias marcas registradas são citadas no conteúdo deste Módulo. Mais do que simplesmente listar esses nomes e informar quem possui seus direitos de exploração ou ainda imprimir logotipos, o autor declara estar utilizando tais nomes apenas para fins editoriais acadêmicos. Declara ainda, que sua utilização tem como objetivo, exclusivamente na aplicação didática, beneficiando e divulgando a marca do detentor, sem a intenção de infringir as regras básicas de autenticidade de sua utilização e direitos autorais. E por fim, declara estar utilizando parte de alguns circuitos eletrônicos, os quais foram analisados em pesquisas de laboratório e de literaturas já editadas, que se encontram expostas ao comércio livre editorial. Todos os direitos desta edição reservados à ESAB – ESCOLA SUPERIOR ABERTA DO BRASIL LTDA http://www.esab.edu.br Av. Santa Leopoldina, nº 840/07 Bairro Itaparica – Vila Velha, ES CEP: 29102-040 Copyright © 2008, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 3 Apresentação Tem-se a Orientação Educacional como o desenvolvimento das relações interpessoais que envolvem os componentes da equipe Escolar, as famílias e a comunidade. Compete a este profissional, estratégias de atuação tendo como pressuposto de preliminar a realidade Escolar e extra-Escolar e dos relacionamentos humanos existentes na Escola e entre esta e a comunidade. Logo, teoricamente, diz-se que os conceitos educacionais e a Orientação Educacional estão interligados por ser uma caracterização da comunidade, onde a Escola está inserida, ocorrendo por meio de Planejamento, Organização do Serviço de Orientação Educacional, além da Orientação para a Vida Social. Objetivo Preparar o profissional da Pedagogia para o exercício profissional em Instituições Educacionais de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, de modo que seja capaz de exercer uma liderança intelectual, social, econômica e política na área educacional e partir do conhecimento da realidade social, econômica e cultural da região interligado às questões de natureza pedagógica e de orientação, bem como fazê-lo conhecer as legalidades e práticas de sua função. Adequar o Orientador Educacional para as diversas situações ocorrentes não só no âmbito Escolar, mas também nas mais variadas Instituições de Ensino e Empresarial, de forma a alargar o seu campo e fazer, através de atuação efetiva no sentido de efetuar mudanças qualitativas nas condições do sistema educativo vigente. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 4 Ementa Os princípios e métodos da OE; Os métodos aplicados em Orientação Educacional; Técnicas com alunos e Professores; Direitos e deveres dos alunos, Professores e demais profissionais na Instituição Escolar - O trabalho do Professor, a organização e a legislação do Magistério, atividades profissionais do Pedagogo, do Supervisor Escolar. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 5 Sobre o Autor Mestrado em Educação pela Universidade São Marcos Pós-Graduação em: Administração Escolar pela Universidade Salgado de Oliveira Filho Psicopedagogia pela Parceria UVV/Universidade Estácio de Sá Planejamento Educacional pela Universidade Salgado de Oliveira Filho Supervisão Escolar pela Universidade Salgado de Oliveira Filho Inspeção Escolar pela Faculdade Ulisses Boyd Educação Infantil pela Faculdade Ulisses Boyd Educação Inclusiva Faculdade Ulisses Boyd Tecnologia Educacional Aplicada ao Ensino de 1º Grau pela Associação Brasileira de Tecnologia Educacional Graduação em Pedagogia, com Especialização em Orientação Educacional, pela Universidade Federal do Maranhão Educadora dos cursos de graduação na área Pedagógica; Professora de cursos de Pós- graduação; Consultora Educacional e Palestrante: motivacional e educacional. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 6 SUMÁRIO UNIDADE 1 ........................................................................................................... 9 Significado Histórico da Orientação Educacional: mestre e orientador, indissociados na História ................................................................................... 9 UNIDADE 2 ......................................................................................................... 13 Passos da Orientação Profissional no Brasil ................................................... 13 UNIDADE 3 ......................................................................................................... 22 Ainda Sobre os Passos da Orientação Profissional no Brasil ......................... 22 UNIDADE 4 ......................................................................................................... 26 A Atuação do Orientador Educacional ............................................................. 26 UNIDADE 5 ......................................................................................................... 31 Ainda Sobre a Atuação do Orientador Educacional ........................................ 31 UNIDADE 6 ......................................................................................................... 35 Das Competências do Orientador Profissional: eis uma proposta nacional centrada na formação e certificação ................................................................ 35 UNIDADE 7 ......................................................................................................... 41 Relações entre Diretor e Orientador ................................................................ 41 UNIDADE 8 ......................................................................................................... 45 Relações entre Inspetor, Supervisor, Professores e Orientador Educacional 45 UNIDADE 9 ......................................................................................................... 48 Diretrizes Nacionais para a Formação em Orientação Profissional e de Carreira ............................................................................................................ 48 UNIDADE 10 ....................................................................................................... 52 Direitos e Deveres do Orientador Educacional Segundo a Cartilha dos Direitos e Deveres na Educação .................................................................................. 52 UNIDADE 11 ....................................................................................................... 57 Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 7 Ainda sobre os Direitos e Deveres do Orientador Educacional, Segundo a Cartilha dos Direitos e Deveres na Educação ................................................. 57 UNIDADE 12 ....................................................................................................... 62 Ética e Competência na Formação de Professores ........................................ 62 UNIDADE 13 ....................................................................................................... 70 Quanto a Formação de Professores. Qual a Ética e Competência Ideal à Formação do Profissional da Educação? ........................................................ 70 UNIDADE14 ....................................................................................................... 77 Princípios Éticos na Atuação do Orientador Educacional ............................... 77 UNIDADE 15 ....................................................................................................... 79 Dez Momentos de Intervenção: a Orientação Educacional na Infância e Adolescência. ................................................................................................... 79 UNIDADE 16 ....................................................................................................... 81 Orientação Educacional e Ação Educativa...................................................... 81 UNIDADE 17 ....................................................................................................... 84 Orientação Educacional e Ideais Normativos .................................................. 84 UNIDADE 18 ....................................................................................................... 86 Papéis Desempenhados pelo Orientador na Escola e o Orientador Educacional como Assessor do Professor ...................................................... 86 UNIDADE 19 ....................................................................................................... 90 Orientação Educacional como Serviço Autônomo .......................................... 90 UNIDADE 20 ....................................................................................................... 95 Orientação Educacional como Tarefa Complementar ..................................... 95 UNIDADE 21 ....................................................................................................... 98 O Orientador Educacional fora do Âmbito Escolar .......................................... 98 UNIDADE 22 ..................................................................................................... 100 Técnicas e Especialização: divisão das funções educacionais .................... 100 UNIDADE 23 ..................................................................................................... 105 Educação e Democratização de Oportunidades ........................................... 105 Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 8 UNIDADE 24 ..................................................................................................... 108 Escola e Reorganização Social ..................................................................... 108 UNIDADE 25 ..................................................................................................... 113 A Orientação e as demais Funções Educativas ............................................ 113 UNIDADE 26 ..................................................................................................... 116 As 10 Novas Competências para Ensinar, Segundo Perrenoud .................. 116 UNIDADE 27 ..................................................................................................... 119 Das Bases Teóricas da Orientação Educacional às Novas Conquistas do Pedagogo na Área Socioeconômica ............................................................. 119 UNIDADE 28 ..................................................................................................... 125 Relativizando as Bases Teóricas da Orientação Educacional ás Novas Conquistas do Pedagogo na Área Socioeconômica ..................................... 125 UNIDADE 29 ..................................................................................................... 132 A UNESCO e a Educação Profissional ......................................................... 132 UNIDADE 30 ..................................................................................................... 136 A Escola e a Ascensão Social da Classe Trabalhadora ............................. 136 CONSIDERAÇÃO FINAL ................................................................................. 140 GLOSSÁRIO ..................................................................................................... 141 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 142 Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 9 UNIDADE 1 Significado Histórico da Orientação Educacional: mestre e orientador, indissociados na História Objetivo: Compreender o processo de assimilação social que influencia a construção de comportamentos e a sua influência na aprendizagem e assimilação do caráter. Nas sociedades arcaicas, onde não havia, obviamente, o ensino da escrita ou da leitura, a função docente distinguia-se de maneira nítida. Importava muito a confidência feita pelos mais velhos acerca das tradições, ritos e valores, para que desta forma a sociedade pudesse garantir sua continuidade. No entender de Gusdorf, os mestres dos rituais de iniciação: o xamã, o feiticeiro, o curandeiro, foram os primeiros mestres-Escolas do gênero humano, já que sua função consistia tanto em ensinar aos jovens valores e modos de vida de sua comunidade, como em orientá-los na busca de sua efetivação como seres pertencentes a essa comunidade. Nesses tempos remotos, e mesmo durante todo o transcorrer da História, as funções do Orientador Educacional e do Mestre eram indissociáveis. Desde a antiguidade, o ideal almejado por aqueles que se preocupavam com a Educação era levar o educando, por meio do conhecimento que se propunham a ensinar, à procura do significado de si mesmo, de seu universo e do destino que lhe era reservado. Tanto nas sociedades arcaicas onde, ao lado dos modos de conduta, ensinavam-se valores aceitos pelas gerações anteriores, até os educadores como Pestalozzi, Froebel, Salzmann e Basedow (discípulos de Rousseau), a Educação constituiu-se numa tomada de consciência daquele que se educa diante de seu destino. No século XX, essa situação modificou-se. O mestre que no passado ensinava conhecimentos e vida tornou-se, tão somente, um transmissor de conhecimentos, Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 10 especializando-se numa área concentrada, perdendo a perspectiva global dos conhecimentos adquiridos e acumulados pela humanidade. Por outro lado, cresceram em importância as funções a serem desempenhadas pelas Escolas, quer por força das funções sociais a elas atribuídas, quer pela falta de convivência entre pais e filhos. Se estes novos fatores transformaram a fisionomia da Escola, o papel que o mestre possa ter, na efetivação dos valores a serem assumidos por cada um, torna-se vital. As condições objetivas, entretanto, nem sempre facilitam. Quer no tempo disponível, quer na compensação concreta, aos mestres, essas funções antes exercidas pela família. Ao se comparar os papéis desempenhados pelo mestre, ao longo do desenvolvimento da humanidade e na atualidade, percebe-se, de imediato, ser a situação bem diversa. Graças ao progresso científico, o mestre conta hoje com grande número de recursos que antes sequer sonhava. Esse século assiste a constantes reformas no plano educacional, procurando, continuamente, melhores meios que possam levar à melhores resultados. Essas reformas, provocando constantes alterações nos programas Escolares dos diversos países, parecem refletir grande insegurança, dando a impressão de um esforço desesperado para salvar, a todo custo, uma unidade cultural, num mundo de transição, para um período de reorganização. Cada vez em maior escala a competição parece tornar-se o elemento chave que impulsiona o desenvolvimento das diversas nações, dividindo-as em si mesmas sem, no entanto, se chegar a um ideal cultural único, como na antiga Grécia (a Paidéia), na Idade Média (a Universidade) e na Renascença (as humanidades clássicas). Segundo Gusdorf, sente-se cada vez mais a faltade um "ecumenismo da cultura" que consiga de alguma forma superar a diversidade de todos os valores atualmente existentes e definir uma base comum para todos os sistemas educativos, único meio que se tem, segundo o autor, de assegurar a unidade do gênero humano. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 11 Muitos acreditaram que a ciência e a técnica seriam fatalmente as herdeiras culturais do século XX, já que as humanidades clássicas seriam necessariamente substituídas pelas humanidades científicas. Os matemáticos, físicos e engenheiros são talvez, hoje, os únicos que conseguem se entender através das diversas nações e, por isso, seriam eles que representariam os mestres do futuro. Em virtude da universalidade da linguagem matemática e da simbologia científica, a ciência é, talvez, nos dias de hoje, o único setor da cultura que pode garantir uma universalidade de valores. De acordo com Kilpatrick, o fator constante que explica o mundo moderno é o pensamento baseado na experimentação, o desenvolvimento da ciência e suas aplicações à atividade humana, e "pela simples razão de basear o pensamento na experimentação, a ciência parece-nos apresentar a causa diferenciadora do mundo moderno: ela nos dá o como e o porquê de nossa civilização." Desde o aparecimento do espírito científico, com Bacon, Descartes, Galileu, gradativamente a ciência assume maior importância no que se refere à explicação do homem, baseando-se exclusivamente em observações empíricas e princípios lógicos gerais. Na medida em que a ciência procura explicar o Homem em toda sua complexidade, começam a surgir certos pontos de interrogação: Enquanto a ciência dedica-se a fornecer verdades exatas, rigorosas e universais, o Homem continua a ser em sua essência um ser aproximativo, inexato, contraditório, surpreendente e por isso mesmo difícil de ser totalmente previsível. O que caracteriza o homem, diz Cassirer "é a riqueza e a sutileza, a variedade e a versatilidade de sua natureza. Por isto mesmo, a Matemática nunca poderá vir a ser o instrumento de uma verdadeira doutrina do homem, de uma Antropologia Filosófica. Ê ridículo falar do homem como se tratasse de uma proposição geométrica". Daí, a grande dificuldade que encontram as ciências humanas, de forma geral, quando se propõem a prever o comportamento humano, social e até mesmo cultural. Pode admitir-se, disse Kant, "que se nos fosse possível ter do modo de pensar de um homem, tal como se mostra por atos interiores e exteriores, uma visão tão profunda que resultassem conhecidos todos os motivos, até o mais insignificante, e todas as circunstâncias Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 12 exteriores em ação sobre eles, chegaríamos, então, a calcular com segurança a conduta futura de um homem, como os eclipses do sol ou da lua, e sustentar, no entanto, que o homem é livre". Por esses motivos, a tarefa presente em uma cultura concentra-se cada vez mais na difícil tentativa de colocar em ordem um mundo desequilibrado pelo avanço incontrolável da ciência. Hoje, esta tarefa parece complicar-se. Como representar um quadro valorativo no sentido existencial, se este é marcado pela incerteza e constante busca de novas respostas? A própria reflexão pedagógica simboliza esta incerteza. A preocupação em procurar respostas para: o que é preciso ensinar, a quem se deve ensinar e como se deve ensinar, parece ser maior do que em outras épocas. E para responder a tais questões, escrevem-se manuais, programas Escolares, publicam-se revistas, enfim, parece que os meios se tornam cada vez mais importantes, como se com eles estivessem garantidas todas as soluções necessárias. É o que, no dizer do Prof. Roque Spencer Maciel de Barros, pode chamar-se de "imperialismo" científico, levando os educadores a esquecerem-se de que a ciência é apenas indicativa, fornece os meios com os quais o educador vai atuar; determinados por uma opção ética e filosófica anterior. Lembrando Ortega y Gasset, "(...) nosso tempo se caracteriza por uma estranha presunção de ser mais do que qualquer tempo passado; (...) vivemos num tempo que se sente fabulosamente capaz de realizar, porém não sabe o que realizar. Domina todas as coisas, porém não é dono de si mesmo. (...) Com mais meios, mais saber, mais técnicas do que nunca, o mundo atual, vai, no entanto, completamente à deriva". Portanto, a ciência e suas aplicações técnicas podem responsabilizar-se quanto aos meios necessários para o alcance dos objetivos propostos, mas nunca pela proposição desses objetivos. Isto vai além de suas possibilidades. "Vive-se com a técnica, mas não de técnica!". Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 13 UNIDADE 2 Passos da Orientação Profissional no Brasil Objetivo: Refletir o itinerário e especificidade da Orientação Educacional Brasileira como processo de comportamento, vigente aos inusitados problemas sociais, educacionais e familiar dos alunos. A Orientação Profissional nasceu como uma prática cujos objetivos estavam diretamente ligados ao aumento da eficiência industrial. Ela tem suas origens situadas na Europa do início do século XX, mais precisamente com a criação do Centro de Orientação Profissional de Munique, no ano de 1902 (Carvalho, 1995). Neste momento inicial, o objetivo da Orientação Profissional era o de detectar, na indústria florescente, trabalhadores inaptos para a realização de determinadas tarefas e, assim, evitar acidentes de trabalho. O marco oficial de início da Orientação Profissional situa-se entre os anos de 1907 e 1909, com a criação do primeiro Centro de Orientação Profissional norte-americano, o Vocational Bureau of Boston, e a publicação do livro Choosing a Vocation, ambos sob responsabilidade de Frank Parsons (Carvalho, 1995; Rosas, 2000; Santos, 1977; Super & Bohn Junior, 1970/1976). Parsons teve o grande mérito de acrescentar à Orientação Profissional ideias da Psicologia e da Pedagogia e a preocupação com a escolha profissional dos jovens de seu país. Em seu livro, Parsons definia três passos a serem seguidos durante o processo de Orientação Profissional: a análise das características do indivíduo, a análise das características das ocupações e o cruzamento destas informações. Desta forma, a Orientação Profissional baseava-se na promoção do autoconhecimento e no fornecimento de informação profissional. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 14 Nas décadas de 1920 e 1930, a Psicologia Diferencial e a Psicometria passaram a influenciar fortemente a prática da Orientação Profissional, o que se deu devido ao grande desenvolvimento dos testes de inteligência, aptidões, habilidades, interesses e personalidade durante a Primeira e a Segunda, guerras mundiais (Brown & Brooks, 1996; Carvalho, 1995; Super & Bohn Junior, 1970/1976). A Orientação Profissional passou a ser um processo fortemente diretivo, em que o Orientador tinha como objetivos fazer diagnósticos e prognósticos do orientando e, com base nesses procedimentos, indicar ao mesmo, profissões ou ocupações apropriadas. Até este momento ainda não havia uma teoria propriamente dita que embasasse a prática da Orientação Profissional, mas o modelo acima descrito, preocupado com a adequação do homem à profissão, costuma ser identificado como Teoria do Traço e Fator. Importantes mudanças começaram a ocorrer na prática da Orientação Profissional a partir da década de 1940 (Brown & Brooks, 1996; Super & Bohn Junior, 1970/1976). Em 1942 foi publicado o livro Counseling and Psychotherapy: Newer Concepts in Practice, de Carl Rogers. Neste livro, Rogers (1942) lançou as bases de sua Terapia Centrada no Cliente, que aproxima os conceitos de Psicoterapia e Aconselhamento Psicológico e valoriza a participação do cliente no processo de intervenção, que passa a sernão diretivo. As ideias de Rogers influenciaram enormemente a Psicologia, a Psicoterapia, o Aconselhamento Psicológico e a Orientação Profissional da época, tendo sido um importante marco de transformação das práticas de Orientação Profissional. A partir da década de 1950, começaram a surgir diversas teorias sobre a escolha profissional, que vieram dar continuidade à mudança de paradigma iniciada na década anterior. Em 1951 foi publicado o livro Occupational Choice, de Ginzberg, Ginsburg, Axelrad e Herma (Brown & Brooks, 1996; Crites, 1969/1974; Pelletier, Noiseux & Bujold, 1974/1985), livro este que trouxe à luz a primeira Teoria do Desenvolvimento Vocacional. De acordo com esta teoria, a escolha profissional não é um acontecimento específico que ocorre num momento determinado da vida, mas é um processo evolutivo que ocorre entre os últimos anos da infância e os primeiros anos da idade adulta. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 15 Dois anos mais tarde, foi publicada a Teoria do Desenvolvimento Vocacional de Donald Super (Brown & Brooks, 1996). Tal teoria definiu a escolha profissional como um processo que ocorre ao longo da vida, da infância a velhice, através de diferentes estágios do desenvolvimento vocacional e da realização de diversas tarefas evolutivas (Super, 1957, 1963; Super, Savickas & Super, 1996). Em 1959, foi publicada a Teoria Tipológica de John Holland (Brown & Brooks, 1996). Para Holland (Spokane, 1996; Holland, 1966/1975) os interesses profissionais são o reflexo da personalidade do indivíduo e, sendo assim, podem servir de base para a definição de diferentes tipos de personalidade, cujas características definem diferentes grupos laborais e correspondem a diferentes ambientes de trabalho. Ainda nas décadas de 1950 e 1960, foram publicadas Teorias Psicodinâmicas da escolha profissional, baseadas fundamentalmente na Teoria Psicanalítica e na Teoria de Satisfação das Necessidades, e Teorias de Tomada de Decisão, mais preocupadas com o momento da escolha do que com processo em si (Brown & Brooks, 1996; Crites, 1969/1974; Pelletier e colaboradores, 1974/1985). Internacionalmente, as teorias de Super e Holland estão entre as mais pesquisadas e mais utilizadas em processo de intervenção na atualidade (Brown & Brooks, 1996). No Brasil, a Orientação Profissional tem como marco de origem a criação, em 1924, do Serviço de Seleção e Orientação Profissional para os alunos do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, sob responsabilidade do engenheiro suíço Roberto Mange (Carvalho, 1995; Rosas, 2000; Santos, 1977). A Orientação Profissional brasileira nasceu ligada à Psicologia Aplicada, que vinha desenvolvendo-se no país, na década de 1920, junto à Medicina, à Educação e à Organização do Trabalho (Antunes, 1998; Carvalho, 1995; Massimi, 1990; Rosas, 2000). Nas décadas de 1930 e 1940, a Orientação Profissional ligou-se à Educação. Em 1934, foi introduzida no Serviço de Educação do Estado de São Paulo, por iniciativa de Lourenço Filho (Freitas, 1973). No ano de 1942, a lei Capanema, sobre a organização do Ensino Secundário, estabeleceu a atividade de Orientação Educacional e atribuiu a ela o auxílio na escolha profissional dos estudantes (Lourenço Filho, 1955/1971a). Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 16 A Orientação Profissional brasileira deu um grande salto de desenvolvimento a partir da década de 1940. No ano de 1944, foi criada a Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, que estudava a Organização Racional do Trabalho e a influência da Psicologia sobre a mesma (Freitas, 1973; Instituto Superior de Estudos e Pesquisas: ISOP, 1990). Em 1945 e 1946, ofereceu, com o auxílio do governo brasileiro, o curso de Seleção, Orientação e Readaptação Profissional, ministrado pelo Psicólogo e Psiquiatra espanhol Emílio Mira y López (Freitas, 1973; Rosas, 2000). O objetivo de tal curso foi a formação de técnicos brasileiros nestas áreas de atuação. No ano seguinte, em 1947, foi fundado o Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP), junto à Fundação Getúlio Vargas na cidade do Rio de Janeiro, instituto que reuniu técnicos e estudiosos da Psicologia Aplicada, muitos deles formados pelo curso ministrado por Mira y López, que foi seu primeiro diretor (Carvalho, 1995; Freitas, 1973; ISOP, 1990; Rosas, 2000; Seminário, 1973). Criado, em 1947, os objetivos do ISOP eram: o desenvolvimento de métodos e técnicas da Psicologia Aplicada ao Trabalho e à Educação, o que foi feito principalmente através da adaptação e da validação de instrumentos psicológicos estrangeiros e da criação de instrumentos psicológicos brasileiros; o atendimento ao público através dos processos de Seleção e Orientação Profissional; e a formação de novos especialistas (Freitas, 1973; ISOP, 1990; Seminário, 1973). No ano de 1948, foi oferecido o primeiro curso de formação em Seleção e Orientação Profissional pelo ISOP, cuja aula inaugural foi proferida por Lourenço Filho (Lourenço Filho, 1971b). Em 1949, o ISOP passou a publicar a revista Arquivos Brasileiros de Psicotécnica, que veiculava muitas das pesquisas realizadas dentro da própria instituição (Freitas, 1973; Instituto Superior de Estudos e Pesquisas Psicossociais, 1990; Lourenço Filho, 1955/1971a). Entre as décadas de 1940 e 1960, o ISOP foi referência não só para os modelos de Seleção e Orientação Profissional, mas também para o desenvolvimento da Psicologia brasileira, principalmente da Psicometria. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 17 Desde o seu nascimento, na década de 1920, a Orientação Profissional brasileira pautou-se pelo modelo da Teoria do Traço e Fator; isto é, pelas ideias de que o processo de Orientação Profissional é diretivo e o papel do orientador profissional é o de fazer diagnósticos, prognósticos e indicações das ocupações certas para cada indivíduo, o que foi feito, desde o início, com base na Psicologia Aplicada, especialmente na Psicometria. Na década de 1960, as mudanças ocorridas na Orientação Profissional e as críticas à Teoria do Traço e Fator, que despontavam no ambiente internacional desde a década de 1940, eram conhecidas no Brasil (Scheeffer, 1966). No entanto, a mudança de paradigma da Orientação Profissional brasileira seguiu um caminho diverso e se baseou em referenciais teóricos próprios. O surgimento dos cursos de Psicologia e a regulamentação da profissão de psicólogo não modificaram apenas os objetivos do ISOP, mas influenciou a Orientação Profissional ao vincular esta atividade à Psicologia Clínica e ao transferir o processo de intervenção para consultórios particulares (Carvalho, 1995; Melo-Silva & Jacquemin, 2001; Rosas, 2000). Em termos teóricos, o processo de Orientação Profissional realizado por psicólogos brasileiros nesta época não foi influenciado pela Teoria do Desenvolvimento Vocacional de Super, pela tipologia de Holland ou pelas Teorias Psicodinâmicas da escolha ou de Tomada de Decisão profissionais. A Orientação Profissional brasileira realizada por psicólogos foi influenciada diretamente pela Psicanálise e, especialmente, pela Estratégia Clínica de Orientação Vocacional do psicólogo argentino Rodolfo Bohoslavsky (1977/1996), introduzida no Brasil na década de 1970 por Maria Margarida de Carvalho (1995; 2001). A Estratégia Clínica de Bohoslavsky e o processo de intervenção grupal desenvolvido por Carvalho deram origem a um modelo brasileiro de Orientação Profissional, que vem sendo largamente utilizado até os dias de hoje por todo o país. O próprio SOP da USP continua utilizando este modelo como base para seus trabalhos teóricos e práticos e para a formação de novos orientadores profissionais (Lehman & Uvaldo, 2001). De acordo com Carvalho (2001), este modelo de Orientação Profissional, baseado na Psicologia Clínica, na Psicanálisee em Teorias de Dinâmica de Grupo, assemelha-se à Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 18 Terapia Breve Focal, cujo foco de trabalho é a escolha profissional. Vários autores brasileiros aceitam esta definição da Orientação Profissional como uma Terapia Breve Focal (Levenfus, 1997; Oliveira, 2000), o que acaba por subestimar o seu caráter pedagógico, restringir sua prática aos psicólogos e limitar o seu alcance de intervenção. A Estratégia Clínica de Orientação Profissional foi desenvolvida por Bohoslavsky (1977/ 1996) como alternativa ao modelo da Teoria do Traço e Fator, chamado por ele de Estratégia Estatística. Ela foi influenciada pela ideia de não diretividade da Terapia Centrada no Cliente de Rogers, pela Psicanálise da Escola Inglesa, especialmente por Melanie Klein, e pela Psicologia do Ego norte-americana. A entrevista clínica aparece como o principal instrumento durante o processo de orientação e a primeira entrevista tem por objetivo alcançar o diagnóstico de orientabilidade, que permitirá a realização de um prognóstico de orientabilidade e a definição de estratégias de trabalho. Bohoslavsky aceita a utilização de testes para a realização do diagnóstico, contanto que sejam utilizados apenas em seu caráter instrumental. Atualmente, dois testes projetivos vêm sendo estudados no Brasil com o objetivo de servir como instrumento para o diagnóstico de orientabilidade. São eles o Teste de Fotos de Profissões (BBT) e o Teste Projetivo Ômega (TPO). O BBT vem sendo largamente estudado por André Jacquemin e Lucy Leal Melo-Silva na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto. Criado pelo suíço Achtnich, o BBT pretende clarificar inclinações profissionais com base em oito fatores de inclinação profissional definidos previamente (Achtnich, 1979/1991; Jacquemin, 1982; Jacquemin, 2000; Jacquemin, Melo-Silva & Pasian, 2002). O teste é composto por cerca de cem fotos de pessoas exercendo atividades profissionais e cada foto é identificada por dois fatores. Um primário, que corresponde à função ou atividade representada, e um secundário, que corresponde ao ambiente profissional representado. O resultado do teste permite a clarificação da inclinação profissional do orientando e o sucesso profissional é garantido através da concordância desta inclinação com a estrutura da profissão escolhida. O TPO vem sendo bastante estudado por Inalda Oliveira no curso de Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 19 Psicologia da Faculdade de Filosofia do Recife (FAFIRE). O TPO é um teste de apercepção temática que foi criado em 1966 no Departamento de Psicologia da Universidade do Rio de Janeiro e seu autor é João Villas-Boas Filho (Villas-Boas Filho, s.d.; Oliveira, 1997, 2002). O mesmo é composto por quatro cartões estímulos que representam conflitos básicos da dinâmica da escolha. Seu uso auxilia no entendimento dinâmico dos conflitos relacionados ao processo de escolha profissional do orientando. Ambos os testes são comercializados, o BBT pelo Centro Editorial de Testes e Pesquisas em Psicologia e o TPO pelo Centro de Psicologia Aplicada (CEPA). Apesar da prevalência da Abordagem Clínica de Orientação Profissional proposta por Bohoslavsky, outros modelos teóricos também vêm trazendo grandes contribuições para a Orientação Profissional brasileira. Entre eles estão os modelos baseados na Teoria do Desenvolvimento Vocacional de Donald Super. Maria Célia Lassance na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) vem desenvolvendo a Abordagem Integrada em Orientação Profissional (Lassance, 1999), com base nas ideias de Super (Super, 1957; Super, 1963; Super e colaboradores, 1996) e no Modelo de Ativação do Desenvolvimento de Pelletier e colaboradores (1974/1985). A Abordagem Integrada parte destes autores como referenciais de base, mas está aberta a contribuições de outras teorias que possam enriquecer os processos de intervenção. Maria da Glória Hissa e Marita Pinheiro desenvolveram a Metodologia de Ativação de Aprendizagem, com base nestes mesmos autores, em Bohoslavsky, Pichon-Rivière, Perls, Piaget & Paulo Freire (Hissa & Pinheiro, 1997; Hissa & Pinheiro, 2002). Ambas as abordagens possuem um caráter psicopedagógico e têm por objetivo central a aprendizagem da escolha. Ainda dentro deste referencial teórico foram desenvolvidos trabalhos sobre o conceito de maturidade vocacional. A maturidade vocacional mede o grau de desenvolvimento vocacional do indivíduo, o lugar que este ocupa no continuum do desenvolvimento vocacional (Super, 1957; Super, Crites, Hummel, Moser, Overstreet & Warnath, 1957; Super e colaboradores, 1996). Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 20 No Brasil, desde a década de 1970, houve diversas tentativas de adaptação ou criação de um instrumento para mensuração da maturidade vocacional (Fernandes, 1975; Fernandes & Scheeffer, 1986). Em 1994, foi construída, por Kátia Neiva, a primeira versão de uma escala brasileira para mensuração da maturidade vocacional, a Escala de Maturidade para Escolha Profissional (EMEP) (Neiva, 2002). Tal escala, que foi construída para aplicação específica em alunos do ensino médio, com base nos modelos de maturidade vocacional de Super e Crites, foi publicada comercialmente no ano de 1999 pela Vetor Editora (Neiva, 1998; Neiva, 1999). Outros construtos afins a este paradigma que vêm sendo pesquisados são os de exploração e indecisão vocacionais. A exploração vocacional é um comportamento de solução de problemas, experimentação, descoberta, que promove o autoconhecimento e o conhecimento do mundo do trabalho, requisitos fundamentais para a escolha profissional (Jordaan, 1963). O Career Exploration Survey, instrumento multidimensional para mensuração da exploração vocacional, de Stumpf, Colarelli & Hartman (1983), foi traduzido e vem sendo adaptado para alunos do ensino médio brasileiro (Frischenbruder, 1999; Frischenbruder, Teixeira, Sparta & Sarriera, 2002, Sparta, 2003). Teixeira & Magalhães (2001) desenvolveram a Escala de Indecisão Vocacional, que tem por objetivo a mensuração da indecisão vocacional enquanto um construto unidimensional contínuo. Ela se propõe a realizar uma avaliação genérica do nível de indecisão de adolescentes que estejam cursando o ensino médio. Atualmente, tal escala vem sendo aperfeiçoada (Teixeira, Bardagi, Sparta & Gomes, 2002). Outro referencial teórico trabalhado no Brasil é a Tipologia de Holland. Armando Marocco na Universidade do Vale dos Sinos (UNISINO), no Rio Grande do Sul, adaptou para o Brasil um instrumento canadense baseado na teoria de Holland: o Teste Visual de Interesses, de Tétreau e Trahan (Marocco, Tétreau & Trahan, 1984). O TVI é um teste não-verbal para medida de interesses, composto por 102 diapositivos de atividades profissionais que representam os seis tipos de personalidade do modelo de Holland. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 21 Este teste foi publicado pela UNISINOS e é comercializado na própria Universidade. Recentemente, foi construído o Inventário de Levantamento das Dificuldades da Decisão Profissional (IDDP) (Primi e colaboradores, 2000). Tal instrumento é baseado na teoria de Holland e prevê que quanto mais indiferenciado o perfil tipológico do orientando, maior sua indecisão vocacional. Jorge Sarriera, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), desenvolveu o Paradigma Ecológico em Orientação Profissional (Sarriera, 1998; Sarriera, 1999). De acordo com esta perspectiva, o ambiente é tão importante quanto o indivíduo no processo de escolha profissional, já que esta ocorre na relação do indivíduo com o meio sociocultural em que está inserido. O objetivo da Orientação Profissional é o de prover o orientando de habilidades pessoais que permitam queele enfrente as demandas ambientais no momento de transição entre a Escola e o mundo do trabalho. É a promoção de comportamentos adaptativos. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 22 UNIDADE 3 Ainda Sobre os Passos da Orientação Profissional no Brasil Objetivo: Pensar o itinerário e especificidade da Orientação Educacional brasileira como processo elucidante de comportamento, vigente aos inusitados problemas sociais, educacionais e familiar dos alunos. Todas estas perspectivas teóricas, mesmo as de cunho psicopedagógico, foram desenvolvidas com base em teorias psicológicas, em geral por psicólogos, em instituições psicológicas. Porém, paralelamente, a prática de Orientação Profissional se desenvolveu dentro das Escolas, próxima à Pedagogia, especialmente da Orientação Educacional. Tal prática foi discutida por pedagogos e novas teorias foram propostas por este campo do conhecimento. Desde 1942, com a promulgação da lei Capanema, a Orientação Educacional foi incluída nas Escolas e a ela foi incumbida à tarefa de auxiliar a escolha profissional dos alunos (Lourenço Filho, 1955/1971a). No entanto, foi com a promulgação da Lei 5.692 de 11 de agosto de 1971, que determinou as novas diretrizes e bases para os ensinos de primeiro e segundo graus, que a Orientação Educacional e o Aconselhamento Vocacional, sob responsabilidade dos Serviços de Orientação Educacional (SOE), tornaram-se obrigatórios nas Escolas (Brasil, 1971). Esta lei tornou a profissionalização no Segundo Grau obrigatória e determinou a sondagem de aptidões no Primeiro Grau. A forma como o processo de Orientação Profissional passou a ser realizado nas Escolas possui poucos registros. De acordo com Ferretti (1980), no final da década de 1970, era prevista uma disciplina chamada Programa de Orientação Ocupacional, cujo objetivo era auxiliar os alunos na escolha profissional. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 23 O próprio Ministério da Educação e Cultura (MEC) elaborou um documento que indicava a concepção operatória do desenvolvimento vocacional de Pelletier e colaboradores (1974/1985), como base para a disciplina. No entanto, segundo esse autor, na prática tais programas baseavam-se apenas em informação profissional. A partir da década de 1980, alguns autores, no âmbito da Educação, começaram a teorizar sobre os processos de escolha e Orientação Profissional. Foi neste momento que Celso Ferretti e Selma Pimenta passaram a tecer uma série de críticas às teorias psicológicas de escolha profissional com base no agrupamento de tais teorias feito por John Crites (1969/1974). Ferretti (1980; 1988) apontou a função ideológica de manutenção da sociedade de classes capitalista subjacente às teorias psicológicas da escolha profissional e propôs um novo modelo de Orientação Profissional dentro do processo de ensino-aprendizagem, capaz de suplantar tal ideologia. O objetivo do seu modelo é a reflexão sobre o próprio processo de escolha profissional e sobre o trabalho. O método de trabalho proposto é o Modelo de Ativação do Desenvolvimento de Pelletier e seus colaboradores (1974/1985). Apesar de fazer uma grande crítica às teorias psicológicas da escolha profissional, inclusive às Teorias de Desenvolvimento Vocacional, Ferretti acaba por aderir a elas, já que este modelo de intervenção é uma operacionalização do modelo teórico de Super. Pimenta (1981) discutiu a insuficiência das teorias psicológicas da escolha profissional para a compreensão da decisão vocacional e propôs a fenomenologia existencial como alternativa para esta compreensão. Mais recentemente, Silvio Bock (2002), com base nas críticas realizadas por Ferretti e Pimenta, propôs uma nova abordagem de Orientação Profissional que definiu como além da crítica e chamou de Abordagem Sócio-histórica. Sua base teórica são as ideias de Vygotsky de que o indivíduo desenvolve-se através de uma relação dialética com o ambiente sociocultural em que vive. Tal abordagem tem um cunho educativo e visa à promoção de saúde, conforme o proposto por Ana Bock (Bock & Aguiar, 1995). Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 24 No ano de 1993, foi fundada a Associação Brasileira de Orientadores Profissionais (ABOP) durante o I Simpósio Brasileiro de Orientação Vocacional Ocupacional (Carvalho, 1995; Lisboa, 2001; Melo-Silva & Jacquemin, 2001; Soares, 1999). A ABOP foi criada com os objetivos de unificação e desenvolvimento da Orientação Profissional no Brasil. Desde então, vem promovendo simpósios nacionais bienais. O último ocorreu na cidade de Valinhos, São Paulo, em 2001. O próximo ocorrerá na cidade de Florianópolis, Santa Catarina, neste ano de 2003. Em 1997, foi publicado o primeiro número da Revista da ABOP e, o quarto e último número foram publicados em 1999, cuja revitalização é de suma importância para o desenvolvimento da Orientação Profissional no país. No Brasil, a Orientação Profissional pode ser realizada por psicólogos e pedagogos, mas infelizmente, como afirmou Soares (1999), a formação de orientadores profissionais brasileiros ainda não possui regulamentação ou lei que determine conteúdos mínimos a serem ministrados. Esta formação fica a cargo de universidades e cursos livres, mas a falta de uma regulamentação mais específica da profissão acaba por diluir boas iniciativas e não oferece poder para que a ABOP possa fiscalizar os cursos oferecidos em território nacional. Uma das consequências desta situação foi a não inclusão da Orientação Profissional no rol de especialidades para psicólogos, de acordo com as determinações da Resolução 014/00 do Conselho Federal de Psicologia, que dispõe sobre o título de profissional especialista em Psicologia (Conselho Federal de Psicologia, 2000). Na prática, psicólogos e orientadores educacionais podem exercer a atividade de Orientação Profissional sem qualquer formação específica na área, o que, infelizmente, retarda o seu desenvolvimento e a desqualifica. Apesar da existência de diversas iniciativas que pretenderam e pretendem promover o crescimento teórico e prático desta área de atuação de psicólogos e pedagogos, muito ainda falta ser feito para o aprimoramento da competência de pesquisadores e profissionais, bem como para a adequação metodológica dos processos de investigação e intervenção, para que a Orientação Profissional constitua-se como uma área do conhecimento autônoma e devidamente regulamentada. O desenvolvimento teórico e técnico e a formação adequada de orientadores profissionais são os grandes desafios para a Orientação Profissional brasileira nos próximos anos. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 25 É importante ressaltar que a influência peculiar da Psicologia Clínica e da Psicanálise, que leva muitas vezes à equiparação dos processos de Orientação Profissional aos processos de Terapia Breve Focal, merece ser futuramente estudada com maior rigor. Por hora, fica apenas a ressalva de que é preciso, acima de tudo, que os profissionais da Orientação Profissional. É importante destacar que a escolha de uma profissão, bem como a dúvida e a indecisão, fazem parte do desenvolvimento normal dos indivíduos e que o papel do Orientador Profissional é o de servir como instrumento para este desenvolvimento. APRIMORAR: Associação Brasileira de Orientadores Profissionais (lucileal@ffclrp@usp.br) Av. Bandeirantes, 3900 - Monte Alegre. 14040-901 Ribeirão Preto - SP Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 26 UNIDADE 4 A Atuação do Orientador Educacional Objetivo: Perceber o fazer do Orientador Educacional como elo de mediação entre Escola, família e sociedade. A equipe técnica-pedagógica que trabalha nas Escolas é constituída pelos especialistas em Educação, egressos das diferentes habilitaçõesdo Curso de Pedagogia, o fato de terem formação acadêmica semelhante, de atuarem no mesmo espaço físico e de visarem objetivos comuns torna, não só difícil como, sobretudo, necessária a delimitação clara das atribuições de cada profissional, contribuindo para a melhor compreensão dos respectivos papéis, maior facilidade na execução, controle e avaliação das tarefas e melhoria na integração da equipe técnica. Em contrapartida, os desconhecimentos das atribuições e de seus limites claros podem gerar expectativas infundadas quanto ao desempenho de cada especialista. Dadas a necessidade e a importância da explicitação das atribuições dos profissionais da área de Educação, os sistemas públicos de Ensino, por meio de decretos que estatuem o Regimento Interno para as Escolas, de cada rede — Federal Estadual ou Municipal precisam definir o rol das atribuições de cada profissional em Educação. Já os estabelecimentos particulares de ensino têm autonomia para incluir, em seus regimentos internos, as atribuições que pretendem conferir, a cada um, na respectiva Escola. É importante ressaltar que tanto numa situação, como na outra é necessário que seja observado o decreto que regulamenta a profissão do Orientador Educacional e que estabelece, entre outras coisas, as atribuições privativas, isto é, as que competem a ele coordenar e aquelas das quais deve participar, juntamente com os demais membros da equipe Escolar. Isso não significa que o Orientador Educacional vá cumprir todas as Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 27 atribuições mencionadas no decreto, obrigatoriamente, o tempo todo; quaisquer que sejam as circunstâncias. Dessa forma, conhecer o conteúdo da lei que regulamentou sua profissão, dentro dos limites impostos pela mesma e de acordo com a realidade na qual esteja atuando, dará subsídios ao Orientador Educacional para selecionar e hierarquizar o que será realizado a cada ano. Durante o planejamento ele deverá ter disponível a legislação específica que, ao regulamentar a profissão, delimitou suas atribuições da Lei n° 55 de 21.12.1968, regulamentada pelo Decreto n° 72846 de 26.09.1973. Segundo GIACAGLIA e PENTEADO (2000, p.4), o decreto n° 72846 de 26.09.1973 que regulamenta a lei n° 5564 de 21.12.1968, traz, em seus artigos 8º e 9º, a definição mais específica, na abrangência nacional, dos encargos do Orientador Educacional Artigo 8.° -São atribuições privativas do Orientador Educacional: a) Planejar e coordenar a implantação e funcionamento do Serviço de Or. Educacional em nível de: 1. Escola 2. Comunidade b) Planejar e coordenar a implantação e funcionamento do Serviço de Orientação Educacional dos Órgãos de Serviço Público Federal, Estadual, Municipal e Autárquico; das sociedades de Economia Mista, Empresas Estatais, Paraestatais e Privadas; c) Coordenar a Orientação Vocacional do educando, incorporando-a no processo educativo global; d) Coordenar o processo de sondagem de interesses aptidões e habilidades do educando; Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 28 e) Coordenar o processo de informação educacional e profissional com vistas a Orientação vocacional; f) Sistematizar o processo de intercâmbio das informações necessárias ao conhecimento global do educando; g) Sistematizar o processo de acompanhamento dos alunos, encaminhando a outros especialistas aqueles que exigirem assistência especial; h) Coordenar o acompanhamento pós-Escolar; i) Ministrar disciplinas de Teoria Prática da Orientação Educacional, satisfeitas a exigências da legislação especifica do ensino; j) Supervisionar estágios na área da Orientação Educacional; k) Emitir pareceres sobre matéria concernente à Orientação Educacional. Artigo 9º- Compete ainda ao Orientador Educacional, as seguintes atribuições: a) Participar no processo de identificação das características básicas da comunidade; b) Participar no processo de caracterização da clientela Escolar; c) Participar no processo de elaboração do currículo pleno da Escola; d) Participar na composição, caracterização e acompanhamento de turmas e grupos; e) Participar do processo de avaliação e recuperação dos alunos; f) Participar no processo de encaminhamento dos alunos estagiários; g) Participar no processo de integração Escola/família/comunidade; h) Realizar estudos e pesquisas na área da Orientação Educacional. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 29 Ao dividir as atribuições em “privativas e participativas”, pretendeu o legislador, por meio de tal distinção, assegurar ao Orientador Educacional a especificidade de suas funções, principalmente no que se refere ao SOE, ao processo de Orientação Vocacional e ao acompanhamento pós-Escolar, caracterizando-se como funções de coordenação. Desse modo, não só está previsto que o Orientador Educacional execute tais tarefas como, também, que as coordene. Ao fazê-lo, entretanto, deverá envolver os demais elementos da Escola, a família e a comunidade na realização das mesmas, pois seria impraticável e provavelmente ineficaz tentar realizá-las sozinho, em toda a sua extensão. Em contrapartida, prevê o artigo 9.° que ele participe das demais atividades Escolares, colaborando para a sua boa execução. Tais atividades, entretanto, devem ser coordenadas por outros profissionais como: Diretor, Assistente de Direção, Coordenador Pedagógico, Coordenadores de áreas de séries, etc. Por atuar como coordenador das atividades que lhe são privadas e, como participante de inúmeras outras tarefas desenvolvidas na Escola; se umas e outras não forem delimitadas com clareza, a atuação do Orientador Educacional pode se tornar confusa e complicada e o seu relacionamento com os demais profissionais ficar prejudicado. Por esse motivo serão discutidos, a seguir, problemas usuais de relacionamento com diferentes especialistas que trabalham nas Escolas, principalmente aqueles que normalmente o fazem de modo mais integrado com o Orientador Educacional. Evidentemente, é importante, também, que as atribuições de cada um sejam do conhecimento de todos. O Orientador Educacional, como os demais funcionários, está subordinado, hierarquicamente, ao Diretor que é, portanto, a autoridade máxima na Escola. Como visto anteriormente, ambos são pedagogos, ainda que tenham concluído habilitações especificas diferentes: Administração Escolar e Orientação Educacional, respectivamente, não obstante entre eles pode haver tanto identidade como diferenças ou até antagonismos em relação a concepções, pontos de vista e estratégias educacionais, além de níveis diferentes de conhecimentos e de experiência bem como características compatíveis ou não de personalidade. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 30 Quanto ao estilo administrativo cada Diretor poderá se situar em qualquer ponto entre os extremos de máxima centralização ou de máxima delegação, ou ainda em um desses extremos. Evidentemente, as posições radicais e extremadas acabam por prejudicar o desenho das atribuições do Orientador Educacional, pois, nesses casos não haveria respeito pelo espaço próprio para que ele assumisse as tarefas que lhes são pertinentes. Por sua vez, este poderá descumprir ou questionar indevidamente determinações da direção gerando atritos entre ambos. Embora não haja diferença hierárquica entre as funções do Orientador Educacional e do Coordenador Pedagógico a proximidade entre suas funções, costuma gerar dificuldades no relacionamento entre ambos e confusão quanto às atribuições de cada um perante a comunidade Escolar. Contribui para essa confusão, mesmo sendo contra indicado, quando em uma Escola não há Coordenador Pedagógico. O mesmo ocorre com o Orientador Educacional em relação ao corpo docente que poderá ser: fácil, harmoniosa e agradável, ou vir a serdificultada e até hostilizada pelos Professores, as vezes a equipe docente tem certas características que facilitam ou dificultam o relacionamento com o Orientador e, consequentemente, influenciarem positiva ou negativamente no trabalho dele. Por exemplo, Escolas em que o corpo docente é mais antigo, experiente e fechado e nas quais há muito tempo não existia um Orientador Educacional. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 31 UNIDADE 5 Ainda Sobre a Atuação do Orientador Educacional Objetivo: Perceber o fazer do Orientador Educacional como elo de mediação entre Escola, familia e sociedade. A chegada deste profissional, principalmente se ele for jovem, inexperiente e inseguro, poderá ser recebida com certas reservas e até antagonismo, tal situação agravar-se-á se ele não der a conhecer com clareza suas atribuições e se começar a interferir indevidamente no trabalho docente introduzindo, mudanças radicais e tarefas adicionais para os Professores, sem que estes percebam sua utilidade, provavelmente, eles não só não aceitarão tal interferência como, também, poderão tentar obstruir o trabalho do Orientador, de forma a sonegar informações essenciais, atrasando a entrega de dados, descumprindo solicitações ou determinações do SOE (Serviço de Orientação Educacional). Em alguns casos chegam à falta de respeito profissional e pessoal ou ainda, pode ocorrer de educadores mais jovens ficar esperando que os Orientadores resolvam todos os seus problemas na Escola e às vezes até na própria vida. Para ambos os casos este profissional deve agir com cautela, diplomacia e habilidade e é claro que a definição de suas atribuições e a elaboração de um bom plano o ajudará no estabelecimento de seus limites de atuação. Destacando ainda que sempre que necessário o Orientador deverá fazer contato com psicólogos e outros especialistas, quando preciso, devendo sempre ter a consciência daquilo que lhe compete, destacando ainda, que a este profissional não cabe fazer intervenções clinicas, médicas assim como: recolher alunos; fazer chamadas; carimbar carteirinhas ou entregá-las; cuidar da disciplina, em sala de aula, nos corredores ou nos recreios; cobrir, sistematicamente, as ausências do Diretor, a não ser que seja afastado do cargo e for designado a assumir a Direção, ou de qualquer outro profissional atuante da Escola. Portanto, para que o SOE, exerça suas funções com presteza e qualidade, faz-se necessário espaço fixo, horários para as diversas classes e este espaço não deve ser transformado em Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 32 sala de visitas para alunos, pais ou outras pessoas e, muito menos, em sala de punições, assim como não deve dar ensejo a que se incorpore a sua imagem o papel de bonzinho, da tia, do Professor, de disciplinador, bem como de controlador e delator de Professores, de funcionários ou de alunos. As funções e a competência do Orientador Educacional estão previstas em legislação específica. De acordo com Simeray, um agrupamento de atividades torna-se uma função quando seu responsável tiver recebido delegação de autoridade sobre uma determinada área. Portanto, a função é caracterizada pela noção que traz consigo e não pela importância em si do agrupamento de atividades. A simples leitura do texto legal apresentado demonstra que, embora este faça referência a um serviço, na realidade a função do Orientador, na estrutura Escolar, é uma função típica de assessoria. Seu dever é aconselhar, não comandar. Muitas divergências têm surgido quanto aos conceitos de linha e assessoria, de serviços e assessoria na área administrativa. Os conceitos mais difundidos são aqueles que determinam como funções de linha aquelas com responsabilidade direta sobre a realização dos objetivos da organização e funções de assessoria como aquelas que ajudam a linha a trabalhar mais eficientemente na realização de objetivos propostos. Os serviços representam, por sua vez, o agrupamento de atividades com o propósito de controle ou economia decorrente da especialização. As funções do Orientador enquadram-se tipicamente entre aquelas de assessoria e, como tal, o que a desempenha aconselha, mas não comanda. A essência da assessoria é o aconselhamento e a orientação, sobretudo na fase de planejamento. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 33 A natureza da sua autoridade é a que deriva da sua capacitação profissional. O seu conselho, a orientação que dá, depende em alto grau da confiança que inspira e da compreensão que as autoridades de linha tenham do seu papel no Sistema Escolar. A assessoria que fornece dirige-se principalmente aos Professores, porém, é uma assessoria de tipo global, atuando quando solicitada em todos os níveis do sistema. Assim, assessora a Direção, quando exerce as funções previstas nas alíneas f e l do Artigo 89 e alíneas a, b, c, d e g do Artigo 99. Também aconselha os alunos nos casos do Artigo 89, alíneas c, d, e, h, g e alínea e do Artigo 99. Estas funções previstas não esgotam o repertório de atividades do Orientador; portanto, seu trabalho de assessoria implica a consideração de problemas emergentes, onde atua diretamente em contato com as pessoas afetadas, ou propõe sugestões de como evitar possíveis dificuldades e muitas vezes realizam, com vista à solução desses problemas, trabalhos escritos e pareceres. Auxilia os Professores, levando-os a compreender melhor seus alunos, responsabiliza-se pela criação de um bom clima de relacionamento pessoal, favorável à realização dos objetivos da Escola. Para isso necessita da melhor colaboração de que puder desfrutar, cooperação que cabe ao Diretor, como líder do sistema, assegurar. Cabe ao Orientador conquistar e conservar a confiança de seus colegas, graças à sua atividade eficiente. Precisa demonstrar que seu principal interesse reside na realização perfeita dos objetivos de seus colegas, mesmo porque é graças à atuação destes que seu trabalho frutifica. O veículo de ação do Orientador é quase sempre o Professor, algumas vezes o Diretor. Somente em situações especialíssimas é requerida a sua atuação direta com os alunos. Caracteriza-se assim a Orientação Educacional como uma assessoria técnico-pedagógica, constituindo uma unidade de trabalho completa. Seu trabalho não se confunde com o de um Departamento de Serviços porque o Orientador não exerce autoridade efetiva, não agrupa especializações, não se relaciona diretamente com o objeto de seu trabalho: o aluno, a não ser quando especialmente solicitado. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 34 Essas funções, no cenário educacional, são recentes. Falta às vezes o conhecimento do que seja, qual o seu âmbito de atuação e como podem coordenar-se para facilitar a obtenção das metas propostas. Percebe-se, nos exemplos de Escolas, que os diversos orientadores delimitam sua atividade em função da filosofia defendida pela Escola e pela atuação dos demais especialistas. Na Escola, observa-se o Orientador Educacional, trabalhando sozinho como assessor dos Professores. Incorpora, em sua esfera de atuação, tarefas comumente atribuídas ao Supervisor Escolar, por não existir especialista desta função no estabelecimento. A tarefa específica desempenhada pelo Orientador Educacional distingue-se pelos objetivos particulares dentro da Escola e pelas técnicas especiais que utiliza. Como função do Sistema Escolar, a Orientação Educacional, em nossa realidade, não possui ainda características uniformes. Em algumas realidades Escolares ela desempenha uma função de assessoria, servindo como tal aos Professores e, de maneira secundária, aos alunos e diretores. Muitas vezes, ela apresenta-se como serviço, correndo o risco de tornar-se um grupo fechado dentro da Escola, com poder de decisão, e assimativar conflitos entre alunos e Professores, alunos e Escola, Escola e Professores e todos estes com a comunidade. Algumas Escolas apresentam tipos híbridos de organização da Orientação Educacional, conjugando assessoria e serviços, faltando uma concepção clara dos limites da atuação do Orientador e da natureza de sua autoridade. A natureza da autoridade do assessor deriva mais da confiança que possa inspirar do que da autoridade que se pretenda atribuir. Ter uma perspectiva correta da sua posição na estrutura da organização depende da compreensão que o Orientador possui das suas tarefas e dos seus motivos. Estas tarefas, por sua vez, devem refletir o papel desempenhado pelo Orientador no sistema Escolar. O papel é determinado pelas expectativas que o Orientador Educacional tenha da sua atuação e da dos demais especialistas, quais os comportamentos dele requeridos e a natureza da sua autoridade. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 35 UNIDADE 6 Das Competências do Orientador Profissional: eis uma proposta nacional centrada na formação e certificação Objetivo: Assinalar as competências do Orientador, como eixo norteador dos afazeres e conhecimento oferecido pela formação. As mudanças ocorridas nas formas de vida, desde o século passado, e o impacto da globalização e das tecnologias de informação e comunicação influenciaram sobremaneira a natureza do trabalho e das relações de emprego, trazendo novas exigências para os trabalhadores já inseridos no mercado de trabalho e às gerações de jovens que se preparam para o ingresso na força produtiva. Nas palavras de Carvalho (2005), “(...) o trabalho clássico cede espaço ao trabalho delineado pela atualização da competência, impossível de ser medido pelo tempo da hora regular de um relógio” (p.98). Mas, o que é competência? O conceito é polêmico e muitas vezes definido sob diferentes enfoques. O conceito de competência foi originalmente desenvolvido no contexto da administração, especificamente na área de recursos humanos. Assim, em uma das diversas definições “competência é o conjunto de qualificações (underlying characteristics) que permite à pessoa uma performance superior em seu trabalho ou situação” e que “as competências podem ser previstas e estruturadas de modo a estabelecer-se um conjunto ideal de qualificações” (Dutra, 2004, p. 29). O autor acima considera ainda que “muitas pessoas e alguns teóricos compreendem a competência como o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias para que a pessoa desenvolva suas atribuições e responsabilidades” (p. 28) &– o que, em sua opinião, é um entendimento pouco instrumental, porque não garante que as pessoas irão Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 36 realizar todas as competências que possuem (o que é conhecido como agregar valor à organização e realizar entrega profissional). Para Dutra (2004), o conceito de competência é um conceito em construção e que tem se mostrado muito efetivo para explicar a realidade vivida pelas empresas na gestão de pessoas. Por sua vez, na perspectiva educacional, Carvalho (2005) destaca que “... na era do ciberespaço o trabalhador expressa sua força de trabalho através da competência, entendendo-a como uma capacidade continuamente melhorada de aprender e inovar, atualizada de maneira imprevisível em contextos variáveis” (p. 98). Para Rios (1993), ser competente é saber fazer bem. E saber fazer bem tem um duplo caráter &– uma dimensão técnica e uma dimensão política: A dimensão técnica é a do saber e a do saber fazer, isto é, do domínio dos conteúdos que o sujeito necessita para desempenhar seu papel, aquilo que se requer dele socialmente, articulado com o domínio das técnicas, das estratégias que permitam que ele realize seu trabalho. A dimensão política vai ao encontro daquilo que é desejável, que está estabelecido valorativamente com relação à sua atuação, nesse caso, o bem responde a necessidades historicamente definidas pelos homens de uma determinada sociedade. (Rios, 1993, p. 47). Se competência é palavra de ordem no mundo do trabalho, também é útil o debate no contexto da formação dos trabalhadores de um modo geral e, em especial, do Orientador Profissional, uma vez que a prática da orientação e do aconselhamento de carreira sofre impacto direto de tais alterações do mercado e das formas de trabalho. Observa-se, portanto, a necessidade de se estabelecer, no contexto brasileiro, parâmetros para a formação e desenvolvimento de competências mínimas para o exercício profissional que resulte em oferta de serviços cada vez mais qualificados (Melo-Silva, 2003). Ainda, as mudanças sofridas pela própria área da orientação profissional e de carreira, sobretudo no Brasil, implicam em reformulações da estrutura formativa dos profissionais inseridos nesse contexto de trabalho, sejam eles psicólogos, educadores, ou outros profissionais que atuam em áreas de interface com a orientação. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 37 A Orientação Profissional e de carreira, no Brasil, desenvolveu-se como uma prática voltada ao público adolescente, cujas intervenções objetivam primordialmente auxiliar adolescentes que aspiram ao ingresso no Ensino Superior. Desta forma, a atuação tem sido circunscrita, muitas vezes, ao alunado de Escolas privadas do Ensino Médio. Nesse contexto de atuação, a formação do orientador está voltada a uma capacitação para o trabalho em grupos, o entendimento das questões da adolescência e o conhecimento do mundo profissional marcado pela formação superior. No cenário atual, entretanto, além das mudanças contextuais que afetam o trabalho e a inserção profissional, vive-se um período de expansão e redefinição dos propósitos e do alcance da orientação profissional e de carreira. De forma geral, se concebe o desenvolvimento de carreira como um processo contínuo e dinâmico que não se inicia nem se encerra na adolescência ou em um contexto exclusivo de transição, por exemplo, a transição Escola/trabalho. O indivíduo relaciona-se com o trabalho e vivencia o papel de trabalhador ao longo de sua vida e essa relação sofre inúmeras transformações e reorganizações nas trajetórias de carreira. Além disto, é importante assumir que o indivíduo que trabalha também desempenha outros papéis relevantes ao longo da vida, e está inserido simultânea ou sequencialmente em diversos papéis e cenários, como o da Educação formal, do lar e família, dos serviços comunitários e do lazer, delineando um estilo de vida próprio (Super, 1980; Super & Nevill, 1986; Super & Sverko, 1995). O papel da orientação profissional e de carreira, como campo teórico e prático, é relevante e deve acompanhar a relação dinâmica entre o indivíduo, o trabalho e outros papéis de vida. Intervenções de carreira são possíveis com crianças, adolescentes, adultos inseridos ou não no mundo produtivo, pré-aposentados, indivíduos com necessidades especiais, jovens em situação de risco e com grupos profissionais específicos, entre outros. Nesse sentido, é natural pensar que este alargamento do escopo da orientação implique em mudanças significativas na formação do profissional e, indubitavelmente, na definição de políticas públicas que visem à implementação e à avaliação de serviços em diferentes cenários e contextos. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 38 A preocupação com a formação dos profissionais que atuam na área é uma questão recorrente e bastante antiga no contexto internacional, no qual, desde a década de 1950 recomenda-se o treinamento e o exercício da profissão de orientador (counselor). Em países desenvolvidos, a orientação educacional e vocacional tem sido política de Estado. Observam-se relações entre desenvolvimento social e econômico e a oferta de serviços de orientaçãoe Educação para a carreira. A UNESCO, por exemplo, recomenda que a Educação continuada seja uma política dos governos para o desenvolvimento de uma sociedade do conhecimento e centrada na inclusão universal ao direito de participação qualificada no sistema produtivo. A União Europeia, no “Memorando sobre Educação Continuada” de 2000, declara como princípio a Educação continuada e inclusiva, tornando a orientação uma ferramenta fundamental (Jenschke, 2003). Assim, assume-se a orientação de carreira e o aconselhamento como “da maior importância para todos os clientes que estão em Educação e treinamento”. “Seu papel deveria ser ampliado para a preparação de estudantes e adultos, para enfrentar a possibilidade real de frequentes mudanças, o que poderia incluir períodos de desemprego e emprego no setor informal” (Jenschke, 2003, p. 38). A partir destas considerações, a International Association for Educational and Vocational Guidance (IAEVG, AIOSP, sigla em francês) propôs uma contribuição para o Programa Internacional da UNESCO e a Formação e Educação Técnica e Vocacional, com uma retomada das propostas e da conceituação de orientação e carreira. Em 2001, a AIOSP, ao comemorar seus 50 anos de existência, discutiu, em duas conferências, a necessidade de se estabelecer critérios de excelência na prestação de serviços de orientação profissional e de carreira, para que sejam efetivamente úteis para indivíduos, economias e sociedades em um trabalho de cooperação internacional. Naquele ano, adotou a “Declaração da AIOSP sobre orientação vocacional e profissional” em 17 de setembro, na conferência de Paris. Nessa declaração, sete pontos são definidos como centrais para o desenvolvimento da orientação educacional e vocacional, estabelecendo: Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 39 a) O direito universal de acesso à orientação; b) Que os provedores de serviços devem ter um padrão de qualidade reconhecido em formação profissional; c) Que as necessidades dos clientes devem ser respeitadas e o atendimento deve ser realizado por um orientador competente e profissionalmente credenciado, com a formação alicerçada no respeito aos diferentes modos de vida; d) A necessidade de formação continuada aos orientadores para desenvolvimento de competências específicas e atualização; e) Que o treinamento e o desempenho dos orientadores sejam supervisionados e os serviços avaliados sistematicamente; f) Que as pessoas com necessidades especiais e desvantagens sociais devem receber orientação com métodos apropriados, que levem em conta suas particularidades; g) Que os orientadores e provedores de serviços de orientação devem comprometer-se com padrões de qualidade reconhecidos e endossar e seguir um código de ética, como o estabelecido em 1995 (Jenschke, 2003). A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) - Comunidade Europeia publicou em 2004 uma obra que resultou de um conjunto de revisões, realizadas entre 2001 e 2003, de políticas nacionais de Orientação Escolar e Profissional de 48 países. “Em cada país, as revisões avaliaram a forma como a organização, a gestão e a prestação dos serviços de Orientação Escolar e Profissional contribuíram para a implementação da aprendizagem ao longo da vida e de políticas pró-ativas para o mercado de trabalho” (OCDE, 2004, p. 5). Essa publicação é um guia para decisões e aborda, entre outros temas, as possibilidades de oferta de serviços de orientação em diferentes contextos e cenários e também focaliza a formação e qualificação do orientador, assim como defende a garantia da qualidade da Orientação. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 40 A publicação apresenta, em cada capítulo, os problemas e desafios, as perguntas chave, medidas de política e exemplos de boas práticas. No que se refere à formação e qualificação, registra-se que os governos, e aí estão incluídos os países desenvolvidos, têm sido pouco ativos na definição do conteúdo e do processo de formação dos técnicos da Orientação. Destaca-se que poucas ações são efetivadas para propiciar a ligação dessa matéria aos objetivos das políticas públicas de Educação, formação e emprego. Se este debate é atual em países desenvolvidos, ele também é atual e necessário nos demais países. No Brasil, a discussão sobre critérios de competência para a formação e qualificação do orientador profissional tem sido restrita a iniciativas isoladas e pontuais. Porém, ela foi institucionalmente desencadeada pela ABOP por meio de uma versão preliminar deste ensaio no sítio da ABOP (www.abopbrasil.org.br). Em função do crescimento da área no país e da maior oferta de cursos de formação, cria-se um contexto no qual uma discussão mais aprofundada torna-se fundamental. O estabelecimento de diretrizes nacionais criará a oportunidade de maior consistência nos parâmetros mínimos para a qualidade da formação do orientador de carreira e, consequentemente, dos serviços prestados à população. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 41 UNIDADE 7 Relações entre Diretor e Orientador Objetivo: Entender a correlação dos papéis entre Diretor e Orientador Educacional. O administrador, no caso o Diretor, pode levantar certas objeções mostrando, por exemplo, que determinada orientação reduzirá o número de alunos, ameaçando as finanças das Escolas de iniciativa particular. Mas é o Professor, na sala de aula, que detém o poder de levar em consideração essas ponderações administrativas. Nesse aspecto, é muito comum os diretores serem criticados por acentuarem aspectos de economia e finanças das Escolas, perdendo de vista o objetivo principal da organização que dirigem. A máxima autoridade administrativa na Escola é exercida pelo Diretor. Sua posição oferece alto "status" no sistema e ele utiliza-se desse poder e influência para atingir os objetivos previstos para a Escola. O poder do Diretor é normativo e resume-se na habilidade de movimentar os indivíduos para a realização de certos fins. Baseia-se no controle de símbolos e pode favorecer o aparecimento de compromisso com a pessoa que o possui. O controle em organizações normativas é muito mais dependente das qualidades pessoais daquele que está no poder do que nas organizações coercitivas. Por isso, graças a diversos processos de seleção e socialização, as organizações normativas procuram preencher, na medida do possível, as posições da organização de onde se exerce o controle, com indivíduos que detenham a autoridade de linha. Assim, como todo administrador, o Diretor deve saber, de maneira clara, o desempenho esperado dos diversos setores da organização que administra, utilizando-se dos meios mais eficazes para se chegar à meta proposta. O Diretor deve conhecer seus objetivos e os objetivos de cada função, para poder reunir os recursos necessários, aliá-los aos fatores emergentes, para a execução dos planos de seu estabelecimento. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 42 “Direção é a função administrativa de gerir a organização à medida que esta ativamente executa os planos”. Um diretor é comparável a um piloto dirigindo seu avião para um objetivo, ou a um capitão na ponte de comando do navio, à medida que este navega em direção ao porto. Do mesmo modo, na fase operatória, a administração empenha-se em dirigir e motivar a organização, à medida que esta procura ativamente converter os planos em resultados. Existem, genericamente, três grandes planos de atuação por parte do Diretor: 1. O Diretor deve o campo em que é líder. Deve saber como ministrar uma aula, os objetivos gerais da Escola, as funções dos diversos órgãos, as tarefas dos especialistas. Não se pode coordenar o que se desconhece. A direção de uma organização especializada, como a Escola, tem constituído um dilema
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