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Ordem econômica e financeira Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar a ordem econômica e financeira na sistemática constitucional. Explicar os princípios constitucionais regedores da ordem econômica e financeira. Reconhecer as hipóteses de intervenção do Estado na ordem econômica. Introdução A ordem econômica está presente na Constituição Federal e regula as relações dos indivíduos com o sistema econômico adotado pelo Estado. No Brasil, é assegurada a todos a livre iniciativa de qualquer atividade econômica, independentemente da autorização de órgãos públicos, desde que observadas as regras legais. Neste capítulo, você estudará a ordem econômica e financeira na sistemática constitucional, bem como os princípios constitucionais que a regem. Para finalizar, você conhecerá as hipóteses de intervenção do Estado nessa ordem. Sistemática constitucional A constituição econômica é o conjunto de preceitos e instituições jurídicas que garantem os elementos defi nidores de determinado sistema econômico para, assim, estabelecer uma forma de organização e funcionamento da economia. Devido a isso, tais preceitos e instituições jurídicas constituem uma ordem econômica, que é a parte da norma constitucional responsável por regular as relações dos indivíduos com o sistema econômico adotado pelo Estado. Cap_16_Ordem_economica_fincanceira.indd 1 23/03/2018 14:51:14 A República Federativa do Brasil, como Estado Democrático de Direto que é, possui características de Estado liberal e também de Estado social, mantendo a harmonia entre livre iniciativa e justiça social e impondo con- dições para a estrutura jurídica pátria. Dessa maneira, a ordem econômica e financeira é fundamentada pela valorização do trabalho humano e pela livre iniciativa, assegurando a todos vida digna, conforme os ditames da justiça social. No Brasil, é assegurada a todos a livre iniciativa de qualquer atividade econômica, independentemente da autorização de órgãos públicos, desde que observadas as regras legais. Todavia, os investimentos de capitais estrangeiros são disciplinados na legislação, e a exploração da atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária à segurança nacional ou ao inte- resse coletivo. Cabe ao Estado exercer as funções de fiscalização, incentivo e planejamento do desenvolvimento nacional. No Brasil, a ordem econômica é disciplinada por um conjunto de princípios (Figura 1) previstos na Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), cujo art. 170 afirma que: A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I — soberania nacional; II — propriedade privada; III — função social da propriedade; IV — livre concorrência; V — defesa do consumidor; VI — defesa do meio ambiente; VII — redução das desigualdades regionais e sociais; VIII — busca do pleno emprego; IX — tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. Tendo o Estado o objetivo de normatizar e regular as atividades econômicas, podemos inferir que a atuação estatal na economia se legitima apenas para a proteção dos princípios constitucionais dessa ordem. Logo, a intervenção do poder público é fundamental para sanar dúvidas que possam futuramente afetar a ordem econômica do País. Ordem econômica e financeira2 Cap_16_Ordem_economica_fincanceira.indd 2 23/03/2018 14:51:14 Figura 1. Princípios da ordem econômica. Fonte: Lenza (2016, p. 1519). Princípios constitucionais que regem a ordem econômica e financeira No seu art. 170, a Constituição Federal do Brasil (BRASIL, 1988) traz as características da ordem econômica brasileira. De acordo com esse artigo, a ordem econômica é fundamentada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, assegurando a existência digna em conformidade com os ditames da justiça social. Para garantir esses direitos, a Constituição impõe o cumprimento dos seguintes princípios (BRASIL, 1988): 1. Soberania nacional — garantindo a não intervenção do sistema econô- mico no Estado, esse princípio visa impedir a intervenção em assuntos da economia nacional. 2. Propriedade privada — é um dos principais direitos defendidos pelo sistema jurídico pátrio e, além de ser um princípio da ordem econômica, o direito de propriedade privada é respaldado como direito fundamental e garantido pelo art. 5º, XXII, da Constituição. 3Ordem econômica e financeira Cap_16_Ordem_economica_fincanceira.indd 3 23/03/2018 14:51:14 3. Função social da propriedade — esse princípio destaca à prevalência do interesse social sobre o individual, podendo o Estado impor limi- tações ao direito de propriedade como forma de garantir a supremacia do interesse social. Está presente no art. 5º, XXIII, da Constituição. 4. Livre concorrência — tem por objetivo equilibrar a concorrência desleal, impondo limites ao sistema capitalista. Está presente no art. 173, § 4º, da Constituição e garante que a lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros, permitindo a geração de patrimônio e renda pela iniciativa privada. Sem liberdade de iniciativa o Estado tende a ficar estagnado. 5. Defesa do consumidor — previsto pelo art. 5º, XXXII, da Constituição, é direito fundamental que o Estado promová , na forma da lei, a defesa do consumidor. É regulado pelo Código de Defesa do Consumidor e estabelece normas de proteção e defesa de ordem pública e interesse social, impedindo assim a sobreposição do interesse mais forte na relação consumerista. 6. Defesa do meio ambiente — visa à proteção do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e dos seus processos de elaboração e prestação. A defesa do meio ambiente é uma condicionante da ordem econômica. 7. Redução das desigualdades regionais e sociais — está no art. 3º, III, da Constituição, sendo o princípio que prima pela igualdade social, tornando um dos princípios parâmetros a serem seguidos pela ordem econômica. Corroborada pela seguridade social, a redução das desi- gualdades é a principal característica do Estado social na busca de uma existência mais igualitária. Assim, a economia deve operar como ferramenta de redistribuição das riquezas e da diminuição das dife- renças sociais. 8. Busca do pleno emprego — previsto pelo ar. 7º da Constituição, pre- coniza a valorização do trabalho humano como forma de possibilitar o acesso ao mercado de trabalho a todos os que possuam condições de exercer alguma atividade laborativa. É um dos princípios fundamen- tais, pois defende os valores sociais do trabalho e a proteção dada aos trabalhadores contra os interesses econômicos individualistas. 9. Tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte — empresas de pequeno porte devem ser protegidas com incentivos específicos para que não sejam suplantadas pelas empresas de grande porte em Ordem econômica e financeira4 Cap_16_Ordem_economica_fincanceira.indd 4 23/03/2018 14:51:15 um ambiente capitalista de concorrência, observando os requisitos do art. 170, IX, da Constituição. 10. Empresas públicas, sociedades de economia mista e monopólio — previstos do art. 170 ao art. 181 da Constituição, a ordem econômica assegura que o Estado delimite certas áreas de exploração, monopólios e concessões, garantindo, assim, a necessidade de exploração direta pelo Estado de atividade econômica vinculada à segurança nacional ou a relevante interesse coletivo. O Sistema Financeiro Nacional (SFN) é um conteúdo obrigatório do marco regulatório constitucional. A nossa Constituinte regulou várias limitações ao SFN que o poder constituinte derivadoalterou em seguida com a edição da Emenda Constitucional nº. 40, de 29 de maio de 2003 (BRASIL, 2003). Com a referida emenda, restou apenas o texto do caput do art. 192, sendo revogados todos os seus incisos e parágrafos. Esse texto dispõe que o SFN está estruturado de maneira a promover o desen- volvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade (BRASIL, 2003). Para que isso ocorra, ele deverá ser regulado por leis complementares que tratem de todas as partes que integram esse sistema, abrangendo as cooperativas de crédito e, inclusive, a participação do capital estrangeiro nas instituições que integram o SFN. A maior mudança apresentada foi a exclusão do § 3º, que limitava em 12% ao ano a taxa de juros. Como não houve lei complementar para regular tal norma, ela nunca foi aplicada. Hipóteses de intervenção do Estado na ordem econômica e financeira Ainda que a Constituição Federal de 1988 tenha previsto uma economia des- centralizada, regulada pelo mercado, ela também autorizou a intervenção do Estado no domínio econômico sob a condição de agente normativo e regulador, direta ou indiretamente. Dessa maneira, o Estado pode intervir com a fi nalidade de exercer as funções de fi scalização, incentivo e planejamento indicativo ao setor privado, de acordo com a observância aos princípios constitucionais da ordem econômica. A ordem econômica pode, assim, estar sujeita a uma ação de caráter normativo e regulador do Estado. 5Ordem econômica e financeira Cap_16_Ordem_economica_fincanceira.indd 5 23/03/2018 14:51:15 Quando a atuação Estatal for direta, quer dizer que atuará na economia do País, seja em regime de monopólio ou de atuação com empresas do setor privado. Quando a intervenção for indireta, o Estado atuará de maneira a prevalecer o princípio da livre concorrência, evitando abusos como os decorrentes de cartéis, dumping, etc. O art. 173 da Constituição (BRASIL, 1988) trata das hipóteses em que se autoriza o Estado a atuar diretamente na área econômica em atividades co- merciais ou industriais. Deve-se perceber que a atuação do Estado nessa esfera é sempre atípica, uma vez que o domínio econômico é o reino da iniciativa privada e a atuação típica do Estado é de caráter regulatório e fiscalizatório, como esclarece o art. 174 (BRASIL, 1988). Esse artigo versa sobre as funções próprias do Estado na esfera econômica, afirmando que ele pode atuar em caráter excepcional diretamente no domínio econômico por meio de entidades da administração indireta quando a sua intervenção for necessária devido a imperativos de segurança nacional ou de interesse público relevante. Posto isso, a União apresenta algumas restrições sobre o regime de mo- nopólio, estabelecidas pelo art. 177 da Constituição (BRASIL, 1988). Esse regime pode ser instaurado por ela apenas sobre (BRASIL, 1988): a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo, gás natural e outros hidro- carbonetos fluidos; a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro; a importação e a exportação dos produtos e derivados básicos resultantes das atividades anteriormente previstas; o transporte marítimo do petróleo bruto de origem nacional ou de derivados básicos de petróleo produzidos no País; o transporte por meio de conduto do petróleo bruto, seus derivados e gás natural de qualquer origem; a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o reprocessamento, a industrializa- ção e o comércio de minérios e minerais nucleares e seus derivados, com exceção dos radioisótopos cuja produção, comercialização e utilização poderão ser autorizadas sob regime de permissão, conforme o caput do art. 21, XXIII, b e c, da Constituição. Ordem econômica e financeira6 Cap_16_Ordem_economica_fincanceira.indd 6 23/03/2018 14:51:15 No entanto, em determinadas atividades, o monopólio da União é permitido caso contrate as atividades com empresas estatais ou privadas, não havendo exceção do monopólio quanto aos minérios e minerais nucleares e derivados, já que o caput do art. 177, V, que a eles se refere, não foi mencionado no § 1º (BRASIL, 1988). Essas hipóteses de atuação permitem ao Estado intervir na iniciativa privada. Todavia, a atuação estatal só se justifica como exceção à liberdade individual nos casos expressamente permitidos pela Constituição e na forma que a lei estabelecer. O modo de atuação varia conforme o objeto, o motivo e o interesse público a amparar. A interferência pode ir desde a repressão a abuso do poder econômico até as medidas mais atenuadas de controle do abastecimento e de tabelamento dos preços, sem excluir outras formas de atuação que o Poder Público julgar adequadas a cada caso. O essencial é que as medidas interventivas estejam previstas em lei e sejam executadas pela União ou por seus delegados legalmente autorizados. Assim, o Estado poderá ser um agente econômico e também disciplinador da economia, intervindo com duas formas de ingerência na ordem econômica: a participação e a intervenção. É assim que se constituem os instrumentos pelos quais o poder público ordena, coordena e atua na observância dos princípios da ordem econômica. A atuação do Estado como agente normativo ou regulador deve respeitar os princípios regedores da ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, visando assim assegurar a todos uma existência digna, conforme os ditames da justiça social. Dentro dessa possibilidade de regulação da ordem econômica, o texto constitucional estabeleceu, no art. 149 (BRASIL, 1988), a competência exclusiva da União de instituir contribuições de intervenção no domínio econômico, cuja natureza jurídica é tributária. A intervenção do Estado no domínio econômico, apresentada nos arts. 173 e 174 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), é de caráter excepcional, sendo a ideologia adotada pelo texto constitucional a definição de como essa intervenção deverá operar. 7Ordem econômica e financeira Cap_16_Ordem_economica_fincanceira.indd 7 23/03/2018 14:51:15 Um exemplo de apoio às empresas de pequeno porte foi a edição da Lei Complementar nº. 123, de 14 de dezembro de 2006 (BRASIL, 2006), que institui o Estatuto Nacional da Microempresa (ME) e da Empresa de Pequeno Porte (EPP). Especificamente, essas empresas devem ser constituídas sob as leis brasileiras e ter a sua sede e administração no País. Isso porque o art. 179 da Constituição (BRASIL, 1988) dispõe que a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios dispensarão às microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado, visando incentivá-las por meio da simplificação das suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias ou pela eliminação ou redução dessas pela lei. É o caso, por exemplo, do Simples Nacional, regime tributário simplificado instituído para as micro e pequenas empresas. 1. Assinale a alternativa que contém um princípio da ordem econômica e financeira. a) Princípio da legalidade. b) Função social da propriedade. c) Princípio da irretroatividade. d) Princípio da intervenção mínima. e) Princípio da ofensividade. 2. A nossa Constituinte determinou diversas limitações ao sistema financeiro, que foram depois alteradas pelo poder constituinte derivado. Qual norma editou essas alterações? a) Lei nº. 7.942, de 16 de junho de 1986. b) Emenda Constitucional nº. 40, de 29 de maio de 2003. c) Lei nº. 8.137, de 27 de dezembro de 1990. d) Código Tributário Nacional. e) Código Civil. 3. O conjunto de preceitos e instituições jurídicas que garantem os elementos definidores de um determinado sistema econômico é: a) o Estado liberal. b) o Estado social. c) o Ministério da Fazenda. d) o Comitê de Política Monetária. e) a Constituição econômica. 4. A intervenção do Estado no domínio econômico possui caráter: a) habitual. b) excepcional. c) regular. d) de competência privativa. e) de competência derivada. 5. O princípio das empresaspúblicas, das sociedades de economia mista e do monopólio é: a) a ordem econômica assegura que o Estado delimite certas áreas de exploração, monopólios e concessões, garantindo, assim, a necessidade de exploração direta pelo Estado de atividade econômica vinculada Ordem econômica e financeira8 Cap_16_Ordem_economica_fincanceira.indd 8 23/03/2018 14:51:17 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 14 dez. 2016. BRASIL. Emenda Constitucional nº. 40, de 29 de maio de 2003. Brasília, DF, 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc40.htm>. Acesso em: 08 mar. 2018. BRASIL. Lei Complementar nº. 123, de 14 de dezembro de 2006. Brasília, DF, 2006. Dis- ponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/LCP/Lcp123.htm>. Acesso em: 08 mar. 2018. LENZA, P. Direito Constitucional esquematizado. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. Leituras recomendadas MORAES, A. Direito Constitucional. 33. ed. São Paulo: Atlas, 2017. SARLET, I. W.; MARINONI, L. G.; MITIDIERO, D. Curso de Direito Constitucional. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. SZEZERBICKI, A. S. Os princípios gerais da ordem econômica brasileira: avanços e efetivi- dade desde a Constituição Federal de 1988. [S.l.]: Eptic, 2014. Disponível em: <http:// eptic.com.br/wp-content/uploads/2014/12/textdisc6.pdf>. Acesso em: 07 mar. 2018. TORRES, R. L. Tratado de Direito Constitucional, Financeiro e Tributário: o orçamento na Constituição. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. v. V. TRINDADE, A. Manual de Direito Constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. à segurança nacional ou a relevante interesse coletivo. b) o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor. c) a prevalência do interesse social sobre o individual, podendo o Estado, impor limitações ao direito de propriedade como forma de garantir a supremacia do interesse social. d) a garantia da não intervenção do sistema econômico no Estado, este princípio visa impedir a intervenção em assuntos da economia nacional. e) o equilíbrio da concorrência desleal, impondo limites ao sistema capitalista. 9Ordem econômica e financeira Cap_16_Ordem_economica_fincanceira.indd 9 23/03/2018 14:51:18 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc40.htm http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/LCP/Lcp123.htm http://eptic.com.br/wp-content/uploads/2014/12/textdisc6.pdf Cap_16_Ordem_economica_fincanceira.indd 10 23/03/2018 14:51:18 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo:
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