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Centro Universitário de Brasília Disciplina: Teoria dos Direitos Fundamentais Professor(a): Eduardo Bastos Fichamento A dignidade da pessoa humana no direito constitucional contemporâneo: natureza jurídica, conteúdos mínimos e critérios de aplicação Introdução São apresentadas diversas situações concretas, como por exemplo, arremesso de anões, que geram questionamentos acerca da necessidade de se fixar o sentido e alcance do conceito de dignidade da pessoa humana. Muito utilizada em documentos internacionais, Constituições, leis e decisões judiciais, dificilmente se consegue chegar a uma ideia exata e unânime, uma vez que frequentemente, é vista como um espelho, onde cada um projeta sua opinião acerca do que venha a ser. Entendemos que a dignidade humana, é um conceito aberto, tendo em vista, poder ser interpretada como princípio, como valor, ou como norma jurídica. Concordamos que a dignidade humana é difícil de ser reduzida a um conceito exato e unânime, e que se consegue identificar com maior facilidade o que não é compatível com a dignidade humana. O texto possui 4 finalidades principais: destacar a importância que a dignidade da pessoa humana ganhou, tendo em vista estar presente no cenário nacional, internacional e transnacional; analisar qual seria a natureza jurídica da dignidade da pessoa humana, se direito fundamental, valor absoluto ou princípio jurídico; delinear um conteúdo mínimo para a dignidade humana; e por fim, fixar critérios para sua utilização. Origem e evolução Na acepção contemporânea, conforme o autor, a dignidade da pessoa humana possui origem bíblica. Posteriormente, sua origem passa a ser a filosofia, e ter como fundamento a razão, a capacidade pelo indivíduo de valoração moral e sua autodeterminação. Se tornou um objetivo político, durante o século XX. Gradativamente, após a Segunda Guerra Mundial, a dignidade da pessoa humana adentra o cenário jurídico, em razão do surgimento de uma cultura pós-positivista e da inclusão em diversos documentos internacionais e Constituições de Estados democráticos. Entendemos que com relação a origem da dignidade humana, é importante mencionar a sentença condenatória proferida pelo Tribunal de Nuremberg, tendo condenado diversos membros de regime nazista, que simbolizou, no âmbito jurídico, o surgimento de uma nova ordem mundial, reconhecendo a dignidade da pessoa humana como um valor suprapositivo, o que significa estar acima da lei e do próprio Estado. Acrescentamos que, a partir do Julgamento de Nuremberg, qualquer violação à dignidade humana praticada como política de governo passou a constituir desrespeito à humanidade como um todo, uma vez que passou-se a entender como significado de tal julgamento que os direitos do homem estão acima dos direitos do Estado. Em relação ao surgimento de uma cultura pós-positivista, entendemos que o seu propósito principal foi inserir na ciência jurídica os valores éticos indispensáveis para a proteção da dignidade humana, haja vista que se a atividade jurídica não contiver um forte conteúdo humanitário, o direito poderia servir para justificar a brutalidade praticada em nome da lei. Acrescentamos ainda que o pós-positivismo se caracteriza justamente por aceitar que os princípios constitucionais, especialmente o da dignidade da pessoa humana, devem ser tratados como verdadeiras normas jurídicas, por mais abstratos que sejam os seus textos, bem como por exigir que a norma jurídica, para se legitimar, deve tratar todos os seres humanos com igual consideração, respeito e dignidade. Lembramos que nesse período do pós-positivismo, a norma, para o operador do direito, deixa de ser “neutra”, passando a conter uma forte carga axiológica, de modo que princípios como o da dignidade da pessoa humana seriam tão vinculantes quanto qualquer outra norma jurídica. A observância desses princípios não seria meramente facultativa, mas tão obrigatória quanto a observância das regras ou leis, reforçando uma ideia atualmente aceita de que os princípios possuem uma função de fundamentação e de legitimação do ordenamento jurídico. Por fim, ressaltamos que a partir daí, a ordem jurídico-constitucional de diversos países tornou-se centrada na dignidade da pessoa humana, tendo como premissa o compromisso com os valores constitucionais, especialmente com a dignidade humana. A dignidade humana no Direito Comparado e no discurso transnacional A dignidade humana esteve presente em textos com pouco teor democrático antes de viver sua exaltação como símbolo humanista, tais como o Projeto de Constituição do Marechal Pétain e em Lei Constitucional decretada por Francisco Franco, em 1945. No plano constitucional, a primazia de inclusão da dignidade humana tocou à Constituição alemã (Lei Fundamental de Bonn, 1949), tendo alcançado o status de valor fundamental e centro axiológico de todo o sistema constitucional. Embora não seja mencionada expressamente no texto constitucional de alguns países, como Estados Unidos e França, tem sido invocada pela jurisprudência em decisões importantes. Desde então, iniciou-se um diálogo transnacional entre diferentes países, que se utilizam de precedentes e argumentos de outras cortes. No plano do direito comparado, merecem destaque a atuação do Tribunal Constitucional Federal alemão, onde a dignidade humana sempre figurou no centro das discussões de inúmeros casos, como por exemplo proibição de derrubada de aviões sequestrados por terroristas e em menor intensidade, nos Estados Unidos, onde a dignidade é crescentemente utilizada na argumentação jurídica dos tribunais, entretanto diluída em outros fundamentos e sob intensa polêmica. Acrescentamos que, tendo em vista a constitucionalização de valores ligados à dignidade da pessoa humana, o que ocasionou o surgimento dos direitos fundamentais, tem havido, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, um movimento mundial em favor da internacionalização desses valores, com base na crença de que eles seriam universais. Em razão disso, é cada vez mais frequente o aparecimento de tratados internacionais, assinados por inúmeros países, proclamando a proteção internacional de valores ligados à dignidade da pessoa humana e buscando a construção de um padrão ético global. Críticas à utilização da ideia de dignidade da pessoa humana no direito Segundo o texto, muitos autores defendem a inutilidade da tentativa de conceituar a dignidade da pessoa humana, em razão da plasticidade no tempo e no espaço e da ambiguidade encontrada. Há críticas também quanto a utilização da dignidade em nome de uma moral religiosa ou paternalista. Entendemos que a dignidade humana é um princípio com sentido amplo, abarcando diversos outros princípios, e que constitui o fundamento do ordenamento jurídico vigente, e que, não é possível chegar a um conceito exato e unânime, mas é possível estabelecer parâmetros em sua utilização. Natureza jurídica da dignidade humana A dignidade da pessoa humana caracteriza-se como valor fundamental que foi convertido em princípio jurídico de estatura constitucional. Pode ser utilizada tanto como justificação moral quanto como fundamento normativo para os direitos fundamentais. Reconhecendo-se a dignidade humana como princípio, é possível ordenar as modalidades de eficácia dos princípios em três grandes categorias: direta, interpretativa e negativa. A modalidade de eficácia direta significa que, no caso da dignidade humana, que do conteúdo desse princípio podem ser retiradas regras específicas e objetivas que se aplicam ao caso concreto. Quanto à modalidade de eficácia interpretativa, significa que a dignidade humana servirá como critério para valoração de situações e atribuição de pesos em casos que envolvam ponderação. Acrescente-se ainda o papel integrativo desempenhado pelos princípios constitucionais, que permite à dignidade ser fonte de direitos não-enumerados e critério de preenchimento de lacunas normativas. Já a modalidade de eficácia negativa, significa a paralisação da aplicação de qualquer norma ou ato jurídicoque seja incompatível com o princípio constitucional em questão, no caso, a dignidade da pessoa humana, podendo resultar na declaração de inconstitucionalidade do ato, seja em ação direta ou em controle incidental. Condutas privadas também podem ser consideradas violadoras da dignidade humana e, consequentemente, ilícitas. E por fim, a dignidade da pessoa humana não se confunde, com um direito materialmente fundamental, tampouco pode ser considerado um direito fundamental em si, ponderável com os demais. A dignidade humana é o parâmetro da ponderação, em caso de concorrência entre direitos fundamentais. Além disso, não possui caráter de valor ou princípio fundamental absoluto, e se aplica nas relações entre indivíduo e Estado como também nas relações privadas. Entendemos que a dignidade humana é a base axiológica dos direitos fundamentais, ou seja, a dignidade da pessoa humana é um elemento intrínseco ao conceito de direitos fundamentais. Dessa forma, qualquer comportamento que vá em direção oposta, ou seja, que contribua para a destruição dessa dignidade, não merecerá ser considerado como direito fundamental, em observância ao princípio da proibição de abuso. O que significa que nenhuma pessoa pode invocar direitos fundamentais para justificar a violação da dignidade de outros seres humanos. Ressaltamos que a positivação constitucional da dignidade da pessoa humana, aliada à previsão da cláusula de abertura, representa um avanço considerável na proteção institucional dos direitos fundamentais, mas por outro lado, contribui para o aumento da dificuldade de se definir com precisão o que venha a ser dignidade humana, e qual seria sua natureza jurídica. Acrescentamos, por fim, que a dignidade humana caracteriza-se como a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos. Conteúdo mínimo da ideia de dignidade humana - Nota preliminar: a influência do pensamento kantiano Na visão Kantiana, a dignidade tem por fundamento a autonomia. Ainda segundo Kant, as coisas que têm preço podem ser substituídas por outras equivalentes. Mas quando uma coisa está acima de todo o preço, e não pode ser substituída por outra equivalente, ela tem dignidade. Portanto, as coisas têm preço, mas as pessoas têm dignidade. Consequentemente, pode se extrair desse raciocínio que toda pessoa, todo ser racional existe como um fim em si mesmo, e não como meio para o uso arbitrário pela vontade alheia. Entendemos que, na visão Kantiana, o homem, pelo simples fato de sua condição humana, é titular de direitos que devem ser reconhecidos e respeitados por seus semelhantes e pelo Estado, o que configura a ideia básica de dignidade da pessoa humana. Acrescentamos que, ainda segundo Kant, a dignidade humana é violada sempre que o indivíduo seja rebaixado a objeto, a mero instrumento, tratado como uma coisa, em outras palavras, sempre que a pessoa venha a ser descaracterizada e desconsiderada como sujeito de direitos. Entretanto, a crítica que se apresenta é a de que tal ideia revela-se muito aberta e insuficiente, uma vez que não traduz todos os aspectos da dignidade da pessoa humana. - Plasticidade e universalidade Segundo o autor, a dignidade deve ser pensada como um conceito aberto, o que vai de encontro ao desejo de atores jurídicos, que anseiam definições abrangentes e detalhadas. Aos poucos, foi consolidado o consenso de que a dignidade humana é o grande fundamento dos direitos humanos, constituindo idéia-símbolo do valor inerente da pessoa humana e da igualdade de todos. Na contemporaneidade, a dignidade humana tem sido invocada em cenários distintos e complexos, o que denota a universalidade desse princípio. Na determinação de conteúdos mínimos da dignidade humana, deve-se adotar a laicidade, o máximo de neutralidade política possível, sendo de suma importância a existência de um regime democrático. E ainda, que os conteúdos básicos da dignidade sejam universalizáveis, multiculturais, de modo que possam ser compartilhados e desejados por qualquer indivíduo. A fim de cumprir tais propósitos, destaca-se a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) como base, cujo conteúdo condensa o que passou a ser considerado como o mínimo ético a ser assegurado para a preservação da dignidade humana. Entendemos que, atualmente, existe uma semelhança cada vez maior no conteúdo das declarações constitucionais, provocada justamente por uma tendência de universalização do princípio da dignidade da pessoa humana. - Três elementos essenciais à dignidade humana Segundo o autor, restou nítido o estreito vínculo entre a dignidade da pessoa humana e os direitos humanos (ou fundamentais). Em verdade, dignidade humana e direitos humanos são duas faces de uma só moeda, seria a moral sob a forma de Direito. Os três conteúdos essenciais da dignidade são: valor intrínseco, autonomia e valor social da pessoa humana. Entendemos que onde não houver respeito pela vida e pela integridade física e moral do ser humano, onde as condições mínimas para uma existência digna não forem asseguradas, onde não houver uma limitação do poder, enfim, onde a liberdade e a autonomia, a igualdade em direitos e dignidade e os direitos fundamentais não forem reconhecidos e assegurados, não haverá espaço para a dignidade da pessoa humana. A partir de tal premissa, entendemos ser possível identificar alguns atributos da dignidade humana, quais sejam: (a) respeito à autonomia da vontade, (b) respeito à integridade física e moral, (c) não coisificação do ser humano e (d) garantia do mínimo existencial. Acrescentamos que os atributos supracitados estão ligados a noção básica de respeito ao outro, que sintetiza com perfeição todo o conteúdo do princípio da dignidade da pessoa humana. Ressalte-se que esse respeito ao outro independe de quem seja o outro, tendo em vista que a dignidade não é privilégio de apenas alguns indivíduos escolhidos por razões étnicas, culturais ou econômicas, mas sim um atributo de todo e qualquer ser humano, pelo simples fato de ser humano. Valor intrínseco da pessoa humana É a afirmação de sua posição especial no mundo, que gera distinção entre a pessoa humana e outros seres vivos, e entre a pessoa humana e coisas. É um valor que não possui preço. Se refere a um valor objetivo, que independe das circunstâncias pessoais de cada um, embora tenha se dado crescente importância ao sentimento de auto valor e autorrespeito. Desse conteúdo da dignidade humana decorre a afirmação de que o homem é um fim em si mesmo, e não um meio para a realização de metas coletivas ou de projetos sociais de outros; e de que é o Estado que existe para o indivíduo, e não o contrário. A dignidade humana ao possuir como conteúdo essencial o valor intrínseco da pessoa, independe de concessão, não pode ser subtraída e não é perdida mesmo diante de uma conduta individual indigna do seu titular. A dignidade independe até mesmo da própria razão, uma vez que está presente em bebês recém-nascidos, ou em pessoas com qualquer grau de incapacidade mental, como por exemplo. Dentro do campo jurídico, o valor intrínseco da pessoa humana impõe a inviolabilidade de sua dignidade e origina uma série de direitos fundamentais, tais como direito à vida, direito à igualdade, direito à integridade física e direito à integridade moral ou psíquica. A proteção da pessoa contra si mesma, no intuito de impedir condutas que ferem sua dignidade também é fundada no valor intrínseco da pessoa humana. Entendemos que esse elemento deve ser protegido por si mesmo, uma vez que a sociedade entende ser essencial.O valor intrínseco da pessoa humana é o valor mais relevante. A limitação utilizada para proteger esse valor é legítima, ainda que não gere risco para terceiro. O fundamento em que Estado se baseia para proteger a vida humana contra o próprio titular, como, por exemplo, no suicídio ou eutanásia, é de que o valor intrínseco da pessoa humana não se resume à autonomia moral de cada um, é o valor intrínseco da dignidade humana, oponível ao próprio titular. Pode-se citar como exemplos da afirmação desse elemento da dignidade humana, a obrigatoriedade do uso do cinto de segurança, a discussão sobre propaganda de cigarros e bebidas alcoólicas, já que são nocivas à saúde. Autonomia da vontade A autonomia da vontade enquanto conteúdo da dignidade humana pressupõe a capacidade de autodeterminação do indivíduo, o direito deste de decidir os rumos da própria vida e de desenvolver livremente sua personalidade. Significa o poder de fazer valorações morais e escolhas existenciais sem imposições externas indevidas, tais como decisões sobre religião, vida afetiva, trabalho, ideologia etc. Por trás do conceito de autonomia, está a ideia de pessoa, qual seja, de um ser moral consciente, dotado de vontade, livre e responsável. A autonomia tem uma dimensão privada e outra pública. A autonomia privada está presente no conteúdo da liberdade, que é o direito de autodeterminação sem interferências externas ilegítimas. Enquanto a autonomia pública seria o direito de cada um participar no processo democrático, não apenas do ponto de vista eleitoral, mas também através do debate público e da organização social. Podem ser encontradas várias decisões fundadas na autonomia como conteúdo da dignidade na jurisprudência de diversos países, como por exemplo na Suprema Corte canadense, Suprema Corte americana, na Constitucional da Colômbia, entre outros. Entendemos que a autonomia, ou autodeterminação, enquanto elemento da dignidade humana significa que, se o homem é um ser moralmente autônomo, se ele tem dignidade em si mesmo, se não é um objeto a serviço de outro, a autonomia moral é um traço distintivo de si mesmo. Permitir que terceiros utilizem o homem como objeto da sua vontade, é negar a dignidade intrínseca da pessoa, segundo Kant. O componente central é a autonomia moral, que pode ser limitada, mas não ser excluída. Estando ausente esse elemento da dignidade humana, ou seja, se não estiver presente a autonomia moral da pessoa humana, o homem passa a ser um objeto a serviço de outro, o que se denomina heterodeterminação. Acrescentamos que se a dignidade humana contivesse apenas esse componente, isto é, se a autonomia da vontade fosse o único elemento da dignidade humana, seu exercício seria pleno, não haveria limitação à autonomia da vontade. O limite ao exercício dessa autonomia da vontade intrínseca à dignidade humana é a proteção de terceiros, quando a ação individual interfira no direito de outro, o que se denomina princípio do dano, que trata-se de evitar o dano a terceiro. Valor comunitário O valor comunitário abriga o elemento social da dignidade humana. Se refere ao indivíduo em relação ao grupo, onde a questão tratada não são as escolhas individuais, mas as responsabilidades e deveres a elas associados. A liberdade não é o componente central da dignidade, de acordo com essa vertente. A dignidade como valor comunitário destina-se a promover objetivos diversos, dentre os quais se destacam: a) a proteção do próprio indivíduo contra atos autorreferentes; b) a proteção de direitos de terceiros; e c) a proteção de valores sociais, inclusive a solidariedade. Tem-se como exemplo, a proibição da atividade de entretenimento conhecida como arremesso de anão, na França. Deve-se observar que a imposição de valores comunitários deverá levar em conta (a) a existência ou não de um direito fundamental em jogo, (b) a existência de consenso social forte em relação à questão e (c) a existência de risco efetivo para direitos de terceiros. Entendemos que o valor comunitário enquanto elemento da dignidade humana significa que existem valores da comunidade, ou seja, referências políticas da comunidade e que são tratados como essenciais no modo de vida que essa comunidade quer adotar, que podem ser limitadores da autonomia moral. Pode-se citar como exemplo de valor comunitário o fato de que é vedado às pessoas andar nu em lugares públicos. Significa dizer que uma comunidade tem valores compartilhados que podem ser impostos devido ao fato de se entender como o que é correto. O uso da dignidade humana pela jurisprudência brasileira O uso da dignidade humana pela jurisprudência brasileira tem se dado como mero reforço argumentativo de algum outro fundamento ou como ornamento retórico, tendo em vista que muitas das situações já se encontram previstas em regras específicas de maior densidade jurídica. No constitucionalismo brasileiro, seu principal âmbito de incidência se dará em situações de ambiguidade de linguagem, de lacuna normativa, de colisões de normas constitucionais e direitos fundamentais e nas de desacordo moral razoável, como elemento argumentativo da construção justa. Entendemos que os juízes brasileiros não devem ter qualquer receio em imitar e aperfeiçoar as boas decisões e ideias desenvolvidas por tribunais de outros países, desde que em benefício da progressiva melhoria do princípio da dignidade humana. A dignidade como parâmetro para a solução de casos difíceis Por fim, a definição de conteúdos mínimos para a dignidade enquanto princípio jurídico contribui para estruturar os argumentos a serem utilizados na solução de casos difíceis, possibilitando a identificação de cada um dos elementos relevantes, organizando-os segundo cada conteúdo mínimo associado à dignidade, o que gera maior transparência ao processo decisório.
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