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Victoria K. L. Cardoso Câncer de ovário Introdução Lesões mais comuns no ovário: ● Cistos benignos. ● Cistos funcionais. ● Tumores: ○ Epitélio mulleriano. ○ Células germinativas. ○ De células estromais do cordão sexual. Obs: não são comuns as inflamações primárias de ovário (ooforite), mas quando presentes costumam ser de causa autoimune (ooforite autoimune), afetando os folículos ovarianos, o que pode causar infertilidade. Cistos funcionais e não neoplásicos Cistos foliculares e luteínicos: muito comuns; tem origem nos folículos graafianos não rompidos ou em folículos que foram rompidos e imediatamente fechados. ● Morfologia: ○ Geralmente são cistos múltiplos, preenchidos por líquido seroso claro e revestidos por uma membrana cinza-brilhante. ○ Se for uma alteração é pronunciada: pode estar associada ao aumento na produção de estrogênio e a anormalidades endometriais. ○ Cistos luteínicos: estão nos ovários normais de mulheres em idade reprodutiva; são revestidos por uma borda amarelo-brilhante com células da granulosa luteinizadas. ■ Podem se romper e causar uma reação peritoneal. Síndrome do ovário policístico (SOP): distúrbio endócrino, com hiperandrogenismo, anormalidades menstruais, ovários policísticos, anovulação crônica e diminuição de fertilidade. ● Associações: obesidade, DM 2 e aterosclerose prematura. ● É marcada por: desregulação das enzimas da biossíntese de andrógenos e produção excessiva de andrógenos - característica central do distúrbio. Victoria K. L. Cardoso ● Mulheres com SOP mostram resistência à insulina e alterações no metabolismo do tecido adiposo. ● Anormalidades morfológicas centrais: folículos císticos numerosos, cistos foliculares e aumento do ovário. Hipertecose estromal ou hiperplasia estromal cortical: distúrbio do estroma ovariano, mais comum em mulheres na pós-menopausa, mas pode ter sobreposição com a SOP em mulheres mais jovens. ● Caracterização: aumento uniforme do ovário, com aspecto branco a marrom claro e geralmente é bilateral, exibindo um estroma hipercelular e luteinização das células estromais. ● A clínica e os efeitos endometriais são semelhantes ao da SOP, mas com virilização ainda mais notável. Tumores ovarianos Tipos de tumores: ● Benigno: mais comum em mulheres mais jovens, entre 20-45 anos. ● Borderline: mais comum em idades um pouco mais avançadas (não tanto quanto os malignos). ● Maligno: mais comum em mulheres mais velhas. Obs: a maioria dos cânceres de ovário é detectada quando já houve disseminação além do ovário. Classificação: geralmente tem origem de um dos 3 componentes ovarianos. ● Epitélio tubário ou superfície e endometriose. ● Células germinativas: migram para o ovário a partir do saco vitelino e são pluripotenciais. ● Células estromais e cordão sexual: são precursores do aparato endócrino do ovário pós-natal. Características gerais dos tumores: ● Geralmente não são funcionais. ● Tendem a causar sintomas relativamente leves, até atingirem um grande tamanho. ● Sintomas mais comuns: dor e distensão abdominal, sintomas dos tratos urinários e gastrointestinais por compressão causada pelo tumor ou invasão pelo câncer e sangramento vaginal. Tumores epiteliais: ● Costumam surgir do epitélio mulleriano. ● Classificação: baseada na diferenciação e na proliferação do epitélio. ● Principais tipos histológicos: tumores serosos, mucinosos e endometrióides; podendo ser um benigno, borderline ou maligno. ● Tumores benignos: inclui áreas císticas (cistadenomas), áreas císticas e fibrosas (cistadenofibromas) e áreas predominantemente fibrosas (adenofibromas). Victoria K. L. Cardoso ● Tumores borderline ou malignos: podem ter um componente cístico e quando malignos costumam ser chamados de cistoadenocarcinomas. Tumores serosos: ● Inclui os tumores malignos dos ovários mais comuns. ● Os tumores mais comuns: benignos e borderline - entre os 20-45 anos. ○ De forma geral, esses tumores ocorrem em mulheres um pouco mais velhas. ○ Os casos mais recentes estão relacionados com histórico familiar de mesmo tumor. ● Fatores de risco para malignidade: nuliparidade, histórico familiar e mutações hereditárias. ○ Mulheres entre 40-59 anos que tomaram contraceptivos orais ou que fizeram ligação tubária têm menor risco de ter câncer ovariano. ○ Mutações hereditárias de BRCA1 e de BRCA2 aumentam as chances desse câncer. ● Divisão dos grupos do carcinoma ovariano seroso: com base no grau de atipia nuclear e tem relação com o grau de sobrevida dos pacientes. ○ Carcinoma de baixo grau - carcinomas tipo I: bem diferenciados - podem surgir em associação com tumores borderline. ■ Cistoadenoma → borderline → carcinoma tipo I (baixo grau). ■ Possuem vários subtipos histológicos diferentes, incluindo serosos, endometrióides e mucinosos de baixo grau. ■ Oncogenes com mutações: KRAS, BRAF e ERBB2. ■ Geralmente possuem os genes TP53 selvagem. ■ Os tumores borderline surgem na superfície peritoneal ou se estendem até lá como implantes não invasivos, permanecendo localizados e não causando sintomas. Obs: os tumores borderline podem se disseminar lentamente, causando obstrução intestinal. ○ Carcinoma de alto grau: moderadamente a pouco diferenciados - surgem a partir de lesões in situ nas fímbrias das tubas uterinas ou a partir de cistos de inclusão serosas no ovário. ■ Cisto de inclusão → carcinoma tipo II (alto grau). Victoria K. L. Cardoso ■ Maior frequência de mutação: TP53. ■ Não tem mutações no KRAS ou no BRAF. ■ Desequilíbrios genômicos: amplificações de PIK3CA, que codifica a subunidade catalítica do PI3K e deleções de genes supressores de tumor, como o RB. Obs: os carcinomas intraepiteliais tubários serosos (CITS) estão associadas a cânceres ovarianos serosos de alto grau esporádicos, ou seja, alguns desses cânceres surgem a partir das tubas uterinas. Obs: os cistos também podem surgir por implantações de epitélio desconectados das tubas uterinas, onde a ovulação rompeu a superfície do ovário. ● Morfologia: lesões multicísticas, com epitélio papilar e paredes fibrosas. ○ Tumores benignos: parede cística lisa e brilhante, sem espessamento epitelial e com pequenas projeções papilares. ○ Tumores borderline: têm mais projeções papilares. Victoria K. L. Cardoso ○ Tumores malignos: grande área de massa tumoral sólida ou de projeções papilares, irregularidades de massa e fixação ou nodulações da cápsula. Obs: os tumores serosos ovarianos, de baixo e alto grau, podem se disseminar para a superfície peritoneal e para o omento, assim estão muito associados à presença de ascite. ● Tratamento: salpingo-ooforectomia. ● Estadiamento: está relacionado com a disseminação fora do ovário. ● Prognóstico: está relacionado ao aspecto histológico do tumor e ao seu padrão de crescimento no peritônio. Carcinoma de células claras: ● É um tipo pouco comum, composto por células epiteliais grandes e com citoplasma claro abundante, podendo ser sólidos ou císticos. ○ Nas células sólidas: as células claras estão na forma de lençóis ou de túbulos. ○ Nas células císticas: as células neoplásicas revestem os espaços. ● Alterações genéticas mais comuns: PIK3CA, ARID1A, KRAS, PTEN e TP53 (os mesmos do carcinoma endometrióide). Cistoadenofibroma: ● São variantes pouco comuns, com proliferação pronunciada do estroma fibroso subjacente ao epitélio de revestimento colunar. ● Costumam ser tumores benignos, pequenos, multiloculares e com processos papilares simples, menos complexos que no cistadenoma comum. ● Contém epitélio mucinoso, seroso, endometrióide e transicional (tumores de brenner). ● A disseminação metastática é extremamente rara. Tumores de células transicionais = tumor de Brenner: ● São células epiteliais neoplásicas semelhantes ao urotélio, sendo geralmente benignos e com atividade hormonal. ○ Detectados incidentalmente. ● Morfologia: são sólidos ou císticos, geralmente unilaterais. ● Estroma fibroso: apresentam ninhos bem demarcados de células epiteliais que lembram o epitélio do trato urinário,com glândulas mucinosas no centro. ● Geralmente são tumores benignos, mas também podem ser do tipo borderline ou malignos. Victoria K. L. Cardoso ○ Os tumores malignos geralmente estão no estádio I (baixo grau). Tumores de células germinativas Teratomas: ● Maduros (benignos): costumam ser císticos, revestidos por estruturas parecidas com a pele e encontrados em mulheres jovens em idade reprodutiva. ○ Podem ser associados a síndromes paraneoplásicas, como a encefalite límbica inflamatória. ○ São cistos uniloculares, com pelos, material sebáceo e no interior pode haver estruturas dentárias e de calcificação. ■ Pode haver estruturas de outras camadas germinativas, como cartilagem, ossos, tecido tireoidiano e tecidos neurais. ● Imaturos (malignos): ● Monodérmicos (altamente especializados): Tumores do estroma e dos cordões sexuais Conceito: são derivados do estroma do ovário, que derivam dos cordões sexuais da gônada embrionária. ● Mesênquima gonadal sem diferenciação → produz células nas gônadas dos homens (Sertoli e Leydig) e nas mulheres (granulosa e teca). ○ Ambos esses tumores celulares podem ser identificados no ovário. ○ As células da granulosa e da teca secretam estrogênio, enquanto as células de leydig secretam andrógenos, assim os tumores podem ser feminilizantes ou masculinizantes. Victoria K. L. Cardoso Tumores de células da granulosa: ● Compostos por células que lembram as células da granulosa de um folículo ovariano em desenvolvimento. ● Divisão: tipo adulto e tipo juvenil, com base na idade do paciente e em achados morfológicos. ● Podem ser descobertos em qualquer idade, mas a maioria é descoberto em mulheres na pós menopausa. ● Morfologia: costumam ser unilaterais, podem ser microscópicos ou macroscópicos encapsulados, sólidos e císticos. ○ Quando hormonalmente ativos são amarelos nas superfícies de corte, por conta dos lipídeos intracelulares. ● São capazes de sintetizar grande quantidade de estrogênio e se comportam como malignidades de baixo grau → TODOS esses tumores são potencialmente malignos. ● O aumento do nível sérico de inibina está associado a esse tipo de tumor. ● Mutações comuns: FOXL2 - codifica um fator de transcrição importante no desenvolvimento de células da granulosa, no tipo adulto. ● Tumores funcionalmente ativos pré-púberes: podem causar desenvolvimento sexual precoce em meninas. ● Em mulheres adultas: também estão associadas à doença proliferativa das mamas, hiperplasia endometrial e carcinoma endometrial. ● Ocasionalmente produzem andrógenos, masculinizando a paciente. ● Quando malignos: tem curso indolente, com recorrência local passível de terapia cirúrgica. ○ Comum a recorrência na pelve e no abdome. Tumores de células de Sertoli-Leydig: ● Geralmente são funcionais e produzem masculinização ou defeminilização, mas alguns têm efeitos estrogênicos. ● Ocorrem em mulheres de todas as idades, com incidência máxima na segunda e na terceira década de vida. ● Mutações: em DICER1, que codifica uma endonuclease, importante para o processamento correto de micro RNA’s. ○ Essa mutação sugere que a gênese das células estromais que tendem a ser masculinas envolvem anormalidades da expressão genética relacionadas à desregulação de micro-RNA’s. ● A síndrome de desfeminização pode progredir para virilização (hirsutismo), associada à distribuição masculina de pelos, hipertrofia do clitóris e alteração da voz. Victoria K. L. Cardoso Tumores metastáticos Mais comuns: derivados de tumores de origem mulleriana → útero, tuba uterina, ovário colateral ou peritônio pélvico. ● Quando extra mulleriano metastáticos para o ovário: carcinoma da mama e do trato gastrointestinal, incluindo cólon, estômago, trato biliar e pâncreas. ○ Ex clássico de carcinoma gastrointestinal envolvendo ovários: tumor de Krukenberg, caracterizado por metástases bilaterais compostas por células em anel de sinete produtoras de mucina, de origem gástrica.
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