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Resenha - Folha de São Paulo. Série desigualdades globais

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
Moisés Bernardo da Conceição
RESENHA CRÍTICA: SÉRIE “DESIGUALDADES GLOBAIS” – FOLHA DE SÃO PAULO
NITERÓI-RJ
2021
Desigualdades globais
A série desigualdades globais da Folha de São Paulo tem cinco episódios que vão evidenciar as desigualdades sociais em diferentes países do mundo. O primeiro episódio da série vai abordar a situação de retrocessos socias que as classes médias europeias vêm enfrentando. O segundo episódio aborda a estagnação e decadência econômica de uma antiga região industrial dos Estados Unidos. O terceiro episódio evidencia as políticas exitosas da China no combate à pobreza extrema. O quarto episódio revela a profunda desigualdade social da África do Sul como consequência do regime Apartheid. O quinto e último episódio trás o Brasil com problemas socias graves e questiona setores privilegiados da sociedade brasileira.
No primeiro episódio, trabalhadores ingleses relatam que nos últimos anos tiveram significativas perdas sociais e veem no brexit uma forma de retornar à situação de plenos direitos que outrora vivenciaram. Um trabalhador inglês entrevistado disse que 90% dos idosos votaram pelo brexit pelo fato de que eles sabiam o que era ter dinheiro no passado e como a vida no Reino Unido era melhor. Esses trabalhadores culpam a União Europeia pela situação de retrocessos. Na França, o movimento dos “coletes amarelos” evidencia a luta das classes medias francesas contra as políticas neoliberais do presidente Macron, que segundo os coletes amarelos tem trazido perdas sociais pra classe trabalhadora. Para uma trabalhadora entrevistada a ideia de a França ser um país de direitos está pouco a pouco se desfazendo graças a essas políticas.
No segundo episódio, o documentário mostra a realidade da cidade de Braddock nos Estados Unidos. A região em que se situa a cidade era conhecida pela sua forte indústria do aço e por ser um lugar com muitos trabalhadores, mas atualmente é uma grande área em decadência com casas e estabelecimentos abandonados. O episódio mostra que a classe média americana tem tido aumentos salarias pouco significativos nos últimos anos e que o custo de vida tem aumentado muito mais, o que acaba por corroer os ganhos. A deputada democrata Summer Lee, entrevistada no episódio, chega a questionar se ainda existe uma classe média americana devido a essas grandes perdas de poder de compra de grande parte da população.
O terceiro episódio começa com relatos de trabalhadores rurais chineses que falam sobre como a vida era mais difícil no passado. Eles contam que mal sobrava dinheiro pra apoiar os filhos nos estudos. Os trabalhadores relatam que o governo chines fez reformas que mudaram a lógica de produção nas zonas rurais do país. Atualmente a produção agropecuária desses trabalhadores tem se realizado na lógica de cooperativas em que as famílias da vila se organizam para trabalhar nas terras. O governo desenvolveu um sistema de empréstimos para que as famílias pudessem adquirir gado para a atividade agropecuária. Com essas mudanças no campo, trabalhadores relataram no episódio estarem conseguindo ter um salário mensal de cerca de 1.150 dólares. O Banco Mundial aponta que cerca de 700 milhões de pessoas saíram da pobreza na China, parte desse número expressivo se deve a essas políticas voltadas para as áreas rurais. Homi Kharas, pesquisador da Brookings Institution entrevistado no episódio, diz que na Ásia embora a desigualdade social esteja aumentando as altas taxas de crescimento econômico tem se mostrado suficiente para que todos continuem tendo ganhos.
O quarto episódio inicia colocando que historicamente o sistema de apartheid foi pensado para gerar a segregação e a desigualdade na África do Sul e já questiona como promover o crescimento a partir desse histórico. Nonceba Ndeble é uma ativista e moradora de uma favela do país que relata as dificuldades enfrentadas no dia pela população que sofre na pele as consequências do apartheid. Ela conta que precisa caminhar por 20 minutos de sua casa até o banheiro comunitário mais próximo, mostrando a situação precária das moradias da favela que tem lama e esgoto a céu aberto. No episódio, os entrevistados vão narrar a brutalidade do sistema apartheid, em que a população negra não podia ter propriedades, herdar heranças e nem residir nos centros e áreas com infraestrutura. Essa política de segregação racial, social e espacial, criou diferentes espaços na África do Sul. Espaços com infraestrutura e espaços em que a população está abandonada e enfrentando inúmeras mazelas até os dias atuais.
No quinto episódio, alguns moradores de periferias do Brasil relatam que a vida era melhor há poucos anos atrás. Wallace Guimarães é morador da comunidade do Vidigal no Rio de Janeiro e ao ser entrevistado ele diz que nos governos do presidente Lula ele trabalhava em um cinema e com isso conseguiu comprar uma casa em sua comunidade. No episódio, especialistas apontam a questão do desemprego como um problema muito grave no Brasil. É desenvolvida uma narrativa de que os servidores públicos recebem salários muito acima da média da população brasileira. A historiadora Lilia Schwartz diz no episódio que o Brasil desenvolveu uma linguagem que naturaliza a desigualdade social pelo fato de ter sido uma colônia de exploração e de economia escravista. Enquanto Wallace dava entrevista para a gravação do documentário na comunidade do Vidigal, aconteceu um tiroteio bem perto. Ele diz que essa situação é rotineira na comunidade e evidência a violência que a população mais pobre está vulnerável a sofrer. 
O documentário mostra que a população dos países ocidentais, centrais ou periféricos, tem tido muitas perdas nos últimos anos. As classes trabalhadoras europeias e estadunidenses que dentro da divisão internacional do trabalho sempre tiveram acesso aos melhores salários e uma relativa seguridade social, sobretudo na Europa Ocidental, passaram a perder o poder de compra e percebem que seu padrão de vida tem declinado. No caso do Brasil, os trabalhadores entrevistados relatam o mesmo sentimento de perda de poder de compra e piora nas condições de vida. Mesmo que o Brasil nunca tenha chegado a consolidar um estado de bem estar social nos moldes europeus, a população mais pobre teve conquistas significativas. Muitos trabalhadores conseguiram formar seus filhos em universidades, compraram a casa própria, passaram a poder viajar e der repente o cenário do país muda e todas essas conquistam foram colocadas em xeque. Dentre todos os casos, a África do Sul tem o pior dos cenários. A população negra e pobre do país sequer teve um momento de ganhos sociais significativos como foi o caso da população brasileira. As narrativas da população que vive em favelas da Cidade do Cabo para o documentário nos passam muita desesperança em relação ao presente e ao futuro do país. 
Na contra mão das classes trabalhadoras dos países ocidentais, os trabalhadores chineses tem tido melhorias significativas no padrão de vida. A China já esteve muito associada a trabalho escravo e mão-de-obra barata, mas nos dias atuais essa realidade tem mudado. No documentário os trabalhadores relatam estarem recebendo salários cada vez melhores e aparentam estar muito otimistas em relação ao futuro do país. Isso demostra que as políticas que vem sido adotadas pelo governo da China tem tido grande êxito
O documentário “Desigualdades globais” produzido pela Folha de São Paulo é muito interessante pelo fato de que se propôs a ouvir as narrativas e vivências das classes trabalhadoras de países diferentes com realidades muito distintas. A combinação das narrativas dos trabalhadores com a de diversos especialistas nos temas de economia e política culminaram em um documentário didático e essencial para entender as desigualdades e o contexto social de nossa década. 
Referências: 
Folha de São Paulo. Desigualdade Global - Capítulo 1: Europa. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=NyuxGvSyJvQ>
Folha de São Paulo. DesigualdadeGlobal - Capítulo 2: Estados Unidos. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=1WbqCfG3GVw&t=242s> 
Folha de São Paulo. Desigualdade Global - Capítulo 3: China. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=nCyRvStXeYQ> 
Folha de São Paulo. Desigualdade Global - Capítulo 4: África do Sul. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=My0HlKZqyXc> 
Folha de São Paulo. Desigualdade Global - Capítulo 5: Brasil. Disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=PGgVZAZJKwY&t=173s>

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