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Fábio Márcio de Proença Doyle João Carlos Vitor Garcia BRASÍLIA-DF | 2019 GESTÃO COMPARTILHADA E GOVERNO RETO, EM VITÓRIA-ES 1ª Edição LUCIANO REZENDE - 2013-2020 Copyright © 2019 Fundação Astrojildo Pereira Todos os direitos reservados pela Fundação Astrojildo Pereira. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora. Apuração, redação e edição Fábio Márcio de Proença Doyle João Carlos Vitor Garcia Juliana Costa de Proença Doyle Cláudia Rezende Capa e projeto gráfico Jura Camargo Editoração eletrônica Gislei Lopes Bitencourt Revisão Rita Lopes / Dino Gomes Colaboração especial Jaldecy Pereira / Henrique Gonçalves Foto da capa Imagens meramente ilustrativas Fotografias do miolo Acervo Prefeitura Municipal de Vitória Acervo Banco Interamericano de Desenvolvimento André Sobral Carlos Antolini Diego Alves Elizabeth Nader Yuri Barichivich Adequação ao padrão editorial FAP Editorial Abaré Fundação Astrojildo Pereira (FAP) SEPN 509, Bloco D, Ed. Isis, lojas 27/28, Asa Norte Brasília/DF, CEP: 70.750-504 Fone: (61) 3011-9300 Fax: (61) 3226-9756 fundacaoastrojildo@gmail.com www.fundacaoastrojildo.com.br D754g G216g Doyle, Fábio Márcio de Proença; Garcia, João Carlos Vitor A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES / Fábio Márcio de Proença Doyle, João Carlos Vitor Garcia. Fundação Astrojildo Pereira (FAP); Brasília (DF), 2019. 172 p. ; 23cm.; 1ª Edição Ampliada. Inclui fotos ISBN: 978-85-89216-64-7 1. Administração pública – Vitória (ES) 2. Participação social – Vitória (ES). 3. Administração Participativa – Vitória (ES). 4. Governança democrática – Vitória (ES). 5. Gestão Compartilhada e Governo RETO – Vitória (ES). I. Autores. II. Título. CDU: 350 Catalogação na publicação: Maria Angélica Ferraz Messina-Ramos. CRB-6: 2002 SUMÁRIO Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 CAPÍTULO 1 Encontros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 CAPÍTULO 2 Disputa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 CAPÍTULO 3 Onde está o interesse público? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 CAPÍTULO 4 Primeiras medidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 CAPÍTULO 5 Instrumentos de governança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 CAPÍTULO 6 Governança na prática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 CAPÍTULO 7 Para o futuro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143 CAPÍTULO 8 Um pouco de história . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153 POSFÁCIO Governo tem que ser RETO! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169 5 APRESENTAÇÃO Uma cidade, todos prefeitos Se fosse uma disputa de títulos, não teria para ninguém: melhor sistema de Saúde municipal do Brasil, melhor Educação pública, a capital com gestão mais transparente e também a mais eficiente na aplicação dos recursos. E, segundo a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a capital brasileira com o maior índice de bem-estar urbano do país. São resultados evidentes, alcançados em apenas quatro anos de administração e preponderantes para a conquista do segundo man- dato para Luciano Rezende como prefeito de Vitória, capital do Espí- rito Santo. Para além da disputa eleitoral, no entanto, há uma grande história de inovação nos bastidores dessa trajetória. Ao eleger um prefeito, cidadãos entregam as chaves de sua cida- de nas mãos de um único homem. Acaba aí a participação popular. A partir da posse, o eleito fica autorizado a decidir por milhares de pessoas. Ainda que passem pela Câmara de Vereadores, são decisões monocráticas, personalistas e que nem sempre atendem às necessida- des da comunidade. Em Vitória se fez diferente. Desde os primeiros momentos na prefeitura, Luciano Rezende pôs em prática uma nova forma de gestão, muito mais aberta, comparti- lhada. Um convite para que toda a população participe da administra- ção, a partir de uma frase-síntese: “Somos todos prefeitos”. Diálogos e acordos deram origem a uma administração horizontal, com a divisão de responsabilidades e vitórias com o cidadão. 6 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES Luciano Rezende ousou ultrapassar a chamada “gestão profissional”, que propõe administrar uma cidade, com todas as suas especificidades, como uma empresa. São parâmetros insuficientes para os tempos atuais, impensáveis para o futuro, uma vez que não basta mais às prefeituras o papel de provedoras de serviço ao cidadão. Desta forma, ele propôs, e Vitória abraçou, que a cidade decidisse seu futuro. Tudo isso foi feito num dos momentos mais difíceis da história da cidade. Com uma drástica redução na arrecadação, o município teve que ser refundado para buscar alternativas e vencer as dificuldades. Um árduo trabalho de reorganização da estrutura foi iniciado, para que se chegasse ao novo modelo de gestão. O grande mérito do prefeito é justamente não buscar o crédito pe- los méritos e pelos títulos que a cidade vem conquistando. Da mesma forma que dividiu a responsabilidade na hora de decidir as políticas públicas, ele reparte o êxito. Se há conquista, ela é de todos. E a cada menção positiva para Vitória, ele vai a público agradecer à população pelo objetivo alcançado. Mas é preciso ressaltar que a política de governança participati- va só é possível – e bem-sucedida – por causa de virtudes pessoais de Luciano Rezende, que já havia exercido o cargo de vereador em três mandatos. Também havia ocupado o cargo de secretário municipal de Saúde e Educação, eleito deputado estadual e liderado a Secretaria Estadual de Esportes. A conduta reta e ilibada em toda a carreira política, ainda mais em época conturbada por acusações cada vez mais graves, serviu de fio condutor da administração. Com essa reputação, o prefeito con- 7Apresentação venceu a sociedade a se integrar no esforço de criar uma cidade mais solidária, mais humana e com oportunidade para todos. Esta publicação conta as dificuldades para a implantação de um modelo de gestão que ainda engatinha em todo o mundo, mas que parece irreversível em uma era de informação irrestrita e em tempo real. A governança compartilhada é uma nova etapa da democracia, que propõe que, além de escolher seus representantes, a sociedade es- teja efetivamente em todas as decisões administrativas. Os desafios que se impuseram desde a primeira hora estão sendo vencidos graças à determinação de Luciano Rezende, que fez do mode- lo de gestão sua principal obra, alicerce para tudo o que foi alcançado pela capital do Espírito Santo. A implantação de escolas em tempo integral – um modelo inédito no Estado –, a construção e a reforma de creches e postos de saúde, a instalação de academias ao ar livre, os postos de bicicletas compartilhadas, a criação de áreas de internet gratuita e muitas outras ações surgiram como consequência direta da participação popular nas decisões. Mesmo nos momentos mais conturbados – desde tempestades in- tensas, que deixaram centenas de desabrigados, até a paralisação das forças policiais do Estado –, a população pode contribuir ativamente e participar das soluções. É uma experiência cidadã sem comparação no território brasileiro. Tudo feito, no entanto, sem que o prefeito ab- dique de sua liderança e de suasresponsabilidades. A prefeitura ampliou seus canais de comunicação com a comu- nidade, abrindo espaço para que toda e qualquer reivindicação seja analisada e, assim que possível, posta em prática. Com a gestão com- 8 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES partilhada, a prefeitura vai além do modelo de representação popular a partir de lideranças comunitárias; antenada com a nova realidade mundial, cada cidadão é transformado em um líder. Trata-se de uma obra em construção – e deverá manter-se assim, pois este é o espírito da governança democrática – e que está se expan- dindo, ampliando parcerias, buscando inovações, com a intenção de colocar a prefeitura cada vez mais próxima do cidadão. O objetivo é a ampliação da acessibilidade aos níveis de decisão como forma de vencer os desafios que se apresentam, mais sofisticados e difíceis, a cada dia. E, novamente, Vitória dá exemplo ao Brasil. Paulo Pestana Jornalista 9 INTRODUÇÃO Governança democrática CONSTRUÇÃO COMPARTILHADA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO Governança democrática, ou nova governança pública, é uma prática de governo hoje em ascensão, particularmente em cidades espanholas, onde existem experiências bem-sucedidas. Também na Colômbia, as cidades de Bogotá e Medellín são outros casos de relati- vo êxito dessa prática. Além disso, o tema já recebeu um consistente tratamento teórico no campo das ciências políticas e sociais. Sua aplicação, entretanto, pode ser considerada incipiente: seja porque seus resultados são pouco conhecidos, seja por ser confundida com arranjos institucionais em que os agentes econômicos têm papel de destaque nas administrações públicas. Mas, principalmente, porque ainda deve superar o predomínio da cultura gerencial na área pública que, contrariamente à governança, como se verá adiante, tem na prestação e gestão de serviços seu principal foco de atuação – o que, sem dúvida, atrasa e dificulta a inovação pretendida. Ao propor a Gestão Compartilhada e o diálogo com a socieda- de de Vitória como forma de governo, e não como mero discurso, a primeira administração Luciano Rezende 2013-2016 dava partida à difícil superação de um modelo de gestão pública, já ultrapassa- do, centrado exclusivamente na oferta de serviços à cidadania e sem condições de oferecer respostas aos velhos e novos déficits sociais. Além de comportar deficiências óbvias em duas grandes dimensões da democracia: na qualidade da representação e na participação e colaboração cidadã na gestão da cidade. 10 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES A proposta soava bastante desafiante e inovadora. Significava colocar em prática um novo modo de governar Vitória, caracteriza- do pelo maior protagonismo para os diferentes setores da sociedade e pela ampliação das iniciativas de desenvolvimento de estratégias e políticas públicas compartilhadas entre o setor público, as orga- nizações sociais e o setor privado. Ou seja, tratava-se de uma aposta no aumento da capacidade de organização e ação coesa da cidade para enfrentar seus velhos e novos desafios e preparar o futuro. o0o Governança democrática é um modo de governar que se distin- gue por ter como principal prioridade e eixo estruturante da ação de governo a cooperação e a mobilização do máximo de recursos de uma cidade ou território, sejam públicos, privados ou comunitários, para alcançar o desenvolvimento, a sustentabilidade e o bem-es- tar social. Nesse sentido, esta governança é um novo paradigma de governo assentado, essencialmente, no diálogo e nos acordos que estabelece com a sociedade, na horizontalidade de suas ações e no gerenciamento das relações entre os atores para tomar decisões sobre a cidade e desenvolver projetos com a colaboração interins- titucional e público-privada e com o envolvimento da cidadania. A qualidade dessa interação e a boa gestão das relações entre os diferentes níveis da administração pública dão fundamento à sua eficácia e legitimidade. 11Introdução Desde a publicação pela Comissão Europeia do “Livro Branco”, sobre a governança no contexto dos países europeus, em 2001, o con- ceito não apenas se difundiu largamente, como assumiu conotações distintas – da sua equiparação com o termo inglês governance ou com o conceito de governabilidade –, até sua caracterização como uma nova arte de governar a sociedade. J. Prats1 argumenta que a go- vernança surge como uma exigência da governabilidade contemporânea, uma vez que a transição das sociedades industriais para as sociedades do conhecimento provoca reajustes das economias e das relações so- ciais, tornando insuficiente a forma tradicional de governar baseada unicamente na ação do governo. E acrescenta: [a governabilidade hoje se] projeta amplamente como uma capacidade social, como um atributo coletivo de toda a socie- dade para dotar-se de um sistema de governo que dê impul- so aos objetivos do desenvolvimento humano. Um sistema social é governável quando está estruturado social e politi- camente de forma que todos os atores estratégicos intera- jam para tomar decisões coletivas e resolver seus conflitos conforme um sistema de regras e procedimentos formais e informais (que podem se inscrever em diferentes níveis de institucionalização) dentro do qual formulam as suas expec- tativas e estratégias. Do ponto de vista das alterações que vêm ocorrendo na eco- nomia, diferentemente da sociedade industrial, a principal fonte de valor agregado e de produtividade na sociedade do conhecimento são as pessoas, as equipes profissionais e a organização em rede das 1 J. Prats i Català Gobernabilidad democrática para el desarrollo humano: Mar- co conceptual y analítico en Instituciones y Desarrollo (2001) n. 10 p. 103 a 148. 12 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES empresas. Isso não indica que as infraestruturas deixam de ser importantes, mas, sim, que são insuficientes diante da relevância atual do que chamamos capital cultural ou intelectual, gerado e fortalecido a partir da qualidade e intensidade das interações humanas e empresariais. Enxergar a amplitude dos fatores que geram o desenvolvimento na sociedade do conhecimento significa, em especial, compreender que ele depende da qualidade da organização das redes de pessoas e empresas ou que ele só é alcançado tendo por base o capital social, entendido como a capacidade de organização e ação de uma socie- dade. Em outras palavras, hoje é fundamental articular o potencial humano e o capital físico para promover o desenvolvimento que, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), deve ser visto como desenvolvimento humano, porque deve compreender não somente o desenvolvimento econômico, mas tam- bém a redução das desigualdades sociais, a sustentabilidade ambien- tal e o fortalecimento da democracia. Na área social, a transição atual não só trouxe a exigência de inovar permanentemente, como impôs novas formas de relaciona- mento. Se, por um lado, a autonomia dos indivíduos aumenta em relação à família e às instituições sociais e políticas, por outro, suas necessidades são cada vez mais crescentes e complexas e, para satis- fazê-las, precisam de grande amplitude de redes sociais. Das empresas são igualmente demandados reposicionamentos horizontais em re- lação aos seus clientes, fornecedores e empregados, estes com maior autonomia no processo produtivo e de formação. Sociedade e econo- mia se configuram, portanto, de modo acentuadamente progressivo, como uma construção coletiva assentada em redes. 13Introdução Do ponto de vista dos governos, como já mencionado, gerir na sociedade-rede é gerir as relações, é desenvolver a governança, não a que busca a colaboração esporádica de atores em um tema específico, mas a governança como modo de governar habitual. E dela se exige democracia, pois a livre circulação das ideias e interessese a existên- cia de organizações abertas e flexíveis são absolutamente necessárias para construir consensos legítimos e visões em torno da sociedade que se acredita possível e desejada. Na sociedade do conhecimento, portanto, a tarefa principal do governo é promover o desenvolvimento humano a partir da criação, fortalecimento e coordenação das redes econômicas, sociais e cultu- rais. Da capacidade de gestão das interdependências entre os atores sociais e institucionais depende o aproveitamento das potencialida- des e oportunidades de desenvolvimento da sociedade. É esta gestão das interdependências que precisamente caracteriza a nova arte de governar: a governança democrática ou governo-rede, que se confi- gura pelo envolvimento da cidadania na solução dos desafios sociais, pelo fortalecimento dos valores cívicos e públicos, pela revalorização da política democrática e do papel do governo representativo e, final- mente, pela construção compartilhada do fortalecimento do interes- se geral. O governo já não deve imitar as empresas para gerenciar e prestar serviços à comunidade, mas concentrar esforços em inovar na sua relação com a cidadania. Neste novo contexto, o papel da política passa a ser crucial e sua valorização fundamental para que o líder de governo eleito possa influir na coordenação e na mediação das relações entre os distintos atores e tenha legitimidade para promover a elabo- ração e a gestão das estratégias e políticas da cidade. A opção 14 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES ideológica dessa liderança eleita ganha igualmente relevância ao indicar a partir de que valores e prioridades sociais será or- ganizada a articulação do interesse geral. Uma das dimensões da qualidade democrática de sua atuação será o seu esforço para que as necessidades e os interesses dos setores socialmente ex- cluídos sejam levados em conta. A governança democrática, portanto, implica de forma concreta na reestruturação global do modo de governar. Continuam existin- do as demais dimensões: a função legal ou normativa para regular a atividade da sociedade civil, mas também política e a função pro- vedora e gestora de serviços à comunidade com algum recurso eco- nômico. Mas estas se reestruturam a partir da priorização da função relacional do governo, isto é, da participação cidadã, da cooperação com a sociedade civil e da colaboração intergovernamental. Por ter esta prioridade, que resulta numa nova forma de compreensão da política e do papel do político, a governança democrática é o modo de governar próprio da sociedade do conhecimento. o0o O presente trabalho apresenta os esforços realizados sob a lide- rança do prefeito Luciano Rezende para implantar a Gestão Com- partilhada na cidade de Vitória. No seu perfil político e nas ações e políticas setoriais concretas desenvolvidas nos primeiros quatro anos do seus dois mandatos (Luciano foi reeleito em 2016 para um segundo mandato 2017-2020), foram identificados os elementos que melhor descrevem o trabalho inédito e apaixonado que tem reali- 15Introdução zado para inovar na administração da capital e, por decorrência, na administração municipal brasileira. Os governos locais, os governos de proximidade, podem ser decisi- vos para a superação da crise atual e deles depende o futuro das cida- des. Para isso, é preciso, além de superar a perspectiva de administrar os recursos públicos imitando critérios e modos de gestão das empre- sas privadas, deixar de considerar a prefeitura como mera provedora de serviços aos cidadãos. Por sua vez, estes não devem ser tratados como clientes ou usuários desses serviços, evitando fomentar, assim, uma cidadania descomprometida com a cidade e o seu futuro e per- manentemente insatisfeita com a administração, já que apenas faz demandas e delega suas soluções à esfera pública. Simplesmente, os fundos públicos não são mais suficientes para, isoladamente, fazer frente às amplas e complexas necessidades. Por outro lado, o uso apenas de recursos públicos para a superação das novas desigualdades relativas ao capital cultural e social e à dTuali- zação digital será sempre insuficiente e ineficaz. Em outras palavras, estamos diante de novas formas de desigualdade e pobreza, distin- tas daquelas que eram resolvidas com acesso a recursos econômi- cos e à prestação de serviços e que justificaram o aparecimento do governo provedor. 16 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES [...] a liderança representativa necessária à governança é relacional; ela busca fortalecer as densidades de interação entre os distintos atores. Não procura substituir a sociedade com a sua liderança e torná-la dependente de suas propostas e planos de ação. O interesse do líder relacional será influir nas pessoas para que estas enfrentem seus problemas. Em lugar de oferecer soluções, levantam questões e, mais que solucionar conflitos, sua principal missão é propor desafios coletivos. [...] a liderança relacional constrói propostas compartilhadas a partir da identificação de interesses, e não aspira proporcionar programas eleitorais para agradar a um eleitorado passivo, que elege entre produtos em um mercado, no qual não intervém como produtor. J. M. Pascual Esteve. 17Introdução O papel das prefeituras consiste precisamente em ir além de suas competências, sejam elas quais forem, para assumir os desafios das suas cidades. Nada que aconteça, ou os seus cidadãos necessitem, é alheio a uma prefeitura que tenha adotado a governança como modo de governar. Sua tarefa não se resume em tentar achar solução para os recursos que não tem, nem qualquer administração terá, mas em desenvolver uma ampla ação multidimensional que implique recursos, geração de uma cultura de ação, organização comunitária, colaboração interinstitucional e público-privada para dar uma resposta coletiva (no sentido de que envolve toda a sociedade) aos seus desafios. J. M. Pascual Esteve. 18 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES 1 CAPÍTULO I Encontros 20 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES No final da tarde daquele 1º de janeiro de 2013, aos 51 anos de idade, Luciano Rezende chegou ao plenário da Câmara de Verea- dores de Vitória acompanhado de sua mulher, Marina, e dos filhos, Davi e Artur, como se estivesse acordando de um sonho. Terminava ali sua longa e nada fácil jornada para assumir a cadeira de prefeito da cidade. Atingia naquele instante uma grande conquista política ao ser recebido por quantos lotavam o plenário, para tomar posse como primeiro mandatário da capital do Espírito Santo. Nos minutos que antecederam sua chegada à tribuna para o dis- curso, relembrou, emocionado, sua trajetória de vida. O nascimento em Cachoeiro do Itapemirim, a infância em Colatina, a mudança para Vitória, a luta dos pais para educar cinco filhos, as escolas por onde passou, a paixão pelo esporte, as partidas de futebol de várzea, as primeiras remadas, a Faculdade de Medicina, o encontro com a política, os 12 anos como vereador, o mandato de deputado estadual, a atuação como secretário municipal de Educação, depois de Saúde e, em seguida, como secretário estadual de Esportes. Luciano Rezende discursa após a posse como prefeito de Vitória 21Capítulo I – Encontros Na cerimônia de posse, o prefeito eleito apresenta suas ideias de gestão compartilhada para administrar a cidade Não estava, entretanto, invadido por um sentimento triunfalis- ta, de uma carreira de sucesso. Se aquele instante representava o coroamento de uma longa caminhada, no seu íntimo ele trazia a sensação de que iniciava uma nova etapa com perspectivas de gran- des desafios. Vitória não era mais aquela cidade financeiramente saudável de anos atrás. A redução da receita municipal em decor- rência de fatores como o fim do Fundo para o Desenvolvimento das Atividades Portuárias (Fundap),o impacto da queda no pre- ço internacional do minério no Índice de Participação de Vitória (IPM) na parcela do ICMS e a conjuntura econômica desfavorável iriam tornar sua gestão como prefeito uma missão árdua. Todavia, sentia-se preparado e disposto a enfrentá-la, com o entusiasmo e a disciplina de um atleta experiente e de um político que aprendera na prática que sua prioridade seria liderar a reorganização integral da cidade, para que ela não perdesse a sintonia com a grande mu- dança de época representada pela atual crise. 22 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES o0o Iniciaria o mandato com a convicção de que era essencial desen- volver uma gestão compartilhada, um governo horizontal. Nos seus vários campos de atividades ao longo da vida, compreendera que o enfrentamento dos desafios presentes nas sociedades mais complexas e desiguais exige valores e atitudes compartilhadas, capazes de favo- recer a interação e a densidade de relações como fator-chave para o progresso humano. Nesse sentido, o esforço maior seria para que toda a sua com- petência e sua experiência de trajetória pública ultrapassassem as funções de gerente ou mero administrador. Ao contrário, sabia que, para transformar a cidade, a tarefa política também era crucial e que, como político democraticamente eleito para o cargo que assumia, sua função seria liderar a organização dos interesses legítimos dos distintos setores da cidadania de Vitória e ser o promotor de seus programas e projetos. A construção do interesse coletivo da cidade, por certo, deveria estar fundamentada na redução das desigualdades sociais, na soli- dariedade, no empenho para que as necessidades dos setores social- mente excluídos fossem levados em conta. Enfim, para que todo o seu esforço convergisse para a construção do desenvolvimento humano. Esta opção ideológica, estes valores e prioridades sociais deveriam ser o eixo da articulação do interesse geral e a dimensão da qualidade democrática do novo modelo que pretendia implantar em Vitória. Para realizar esta transformação e instalar uma nova governança, o papel da prefeitura deveria ser repensado. Sua principal tarefa, acredi- 23Capítulo I – Encontros tava, seria fortalecer a capacidade de organização e ação do conjunto da cidade, para que ela pudesse tanto responder ao incremento e à maior complexidade dos desafios sociais e econômicos, como conduzí -la, diante das mudanças estruturais que a crise representava, na dire- ção dos objetivos de progresso, coesão social e competitividade. Na sua concepção, como instituição pública e democrática, cabe- ria à prefeitura garantir os direitos da cidadania e, especificamente, conquistar o comprometimento da sociedade civil com a organização e o desenvolvimento da cidade, assegurando a acessibilidade univer- sal aos bens e aos serviços urbanos. Além disso, garantir a equidade, a transparência e a prestação de contas dos processos administrativos e o bom uso dos fundos públicos, assim como a eficácia e a qualidade de todos os serviços, mesmo daqueles que não são diretamente da ad- ministração municipal. Capacidade e competência não lhe faltariam para que isso acontecesse na sua gestão. o0o Neto por parte de pai de tropeiro do distrito de Limoeiro, no mu- nicípio de Bom Jesus do Norte, no sul do Espírito Santo, Luciano Rezende descende de uma família que, como tantas outras, chegou a Vitória devido ao êxodo rural em meados do século XX. A erra- dicação dos cafezais na década de 1960 fez com que o avô Anísio Chaves de Rezende, a avó Maria Madalena de Rezende e os cinco filhos do casal migrassem para Cachoeiro do Itapemirim, a maior e mais próspera cidade do sul do estado. 24 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES O pai de Luciano, Altayr Chaves de Rezende, cursou até o ensi- no fundamental e passou a exercer o ofício de sapateiro e marcenei- ro. Aos 27 anos, casou-se com Luzia dos Santos Rezende, professora da rede pública. Luciano nasceu em 22 de março de 1962, em casa, com parteira, no município de Cachoeiro de Itapemirim. Quando estava com um mês, o pai mudou-se para o norte do Espírito Santo para trabalhar na construção de estradas que, naquele tempo, paravam em Cola- tina – cidade referência daquela região. “Lembro de fotos do meu pai em cima de trator”. Primogênito dentre os cinco filhos do casal – quatro homens e uma mulher Fundap –, Luciano foi o único que nasceu em Cachoeiro. Os outros nasceram em Colatina, e o caçula, temporão, em Vitória. Vitória passou a fazer parte da vida de Luciano Rezende em 1973, quando a mãe, então professora da rede estadual, foi transferida para a capital do estado, no bairro Bento Ferreira. Contava ele, então, 11 anos de idade. “Meu pai atuou com pequenos negócios e depois em construção de estradas. Nós fomos criados com bastante dificuldade aqui em Vi- tória”, acrescenta. Em Colatina, estudou na Escola Estadual Carolina Pickler, e, em Vitória, passou por escolas públicas e privadas, dentre elas o Polivalente de Maruípe; o Maria Ortiz, no centro da cidade; o Fernando Duarte Rabelo, em Santa Helena; e o Colégio Salesiano Nossa Senhora da Vitória, no Forte São João. Para este, ele foi quan- do estava na sétima série, ficando lá até o segundo ano do ensino mé- dio. O último ano foi cursado nos Estados Unidos, em uma pequena cidade, Fayette, no estado de Missouri, por meio de uma bolsa ganha em concurso, concedida pelo American Field Service (AFS). 25Capítulo I – Encontros o0o Quando a família Rezende chegou a Vitória, era o fim do “milagre econômico” dos governos militares. Até então, a economia do café tinha sido a principal fonte de renda do Espírito Santo e também a maior empregadora de mão de obra local. A alternativa que se apre- sentou naquele momento contemplava grandes projetos destinados à exportação, como os da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), Aracruz Celulose e Sa- marco Mineração. A perspectiva de emprego na capital tornou Vitória e sua região metropolitana destino natural para os trabalhadores expulsos do cam- po, na sua maioria com baixa qualificação, o que provocou grande concentração populacional, urbanização descontrolada, desigualdade social e espacial e bolsões de miséria. Grande parte dos migrantes aca- bou se instalando nas periferias da cidade, sem qualquer estrutura e saneamento básico, empregando-se em atividades informais. Um documentário daquela época para a televisão local ganhou grande repercussão. Tinha como foco o bairro São Pedro e procurou mostrar a realidade calamitosa em que se encontrava Vitória. “Lugar de toda pobreza – São Pedro”, do cineasta Amylton de Almeida, co- moveu e mobilizou ao expor centenas de adultos e crianças sobrevi- vendo dos detritos e restos alimentares catados em São Pedro. Bairro São Pedro, na baia noroeste, mereceu atenção especial na gestão 2013-2016 da prefeitura de Vitória 26 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES Os irmãos Luciano e Lúcio Rezende em campeonato de remo em Amsterdam no final do século passado, modalidade esportiva em que conquistaram vários prêmios 27Capítulo I – Encontros o0o Ao voltar dos Estados Unidos em 1980, Luciano passou no ves- tibular da Universidade Federal do Espírito Santo (UFes) como es- tudante de Medicina. Logo no início da faculdade, começou a dar aulas de inglês para custear os estudos. Paralelamente, desenvolveu carreira como atleta. “Sempre pratiquei muito esporte. Em Colatina, jogava futebol, pelada nas ruas e, quando cheguei a Vitória, fiz nata- ção e judô. Me encontrei no remo aos 17 anos de idade e nele fiz uma carreira de dez anos”. Remador de nível nacional e internacional: foi dez vezes campeão estadual, foi campeão brasileiro, sul-americano e finalista no mundial masculino, na Holanda, em 1986. “Isso me em- purrou para o meuCurso de Medicina Esportiva. Quando eu termi- nei a faculdade, passei pela Pediatria e fui fazer Medicina Esportiva, em Porto Alegre”. Trabalhou como médico antidoping nos Jogos Olímpicos de Bar- celona (Espanha), em 1992, em três pan-americanos: Winnipeg, no Canadá, em 1999; Santo Domingo, na República Dominicana, em 2003; e, no Rio de Janeiro, em 2007. Manteve também um consul- tório, trabalhou em clubes como o Rio Branco, o Álvares Cabral e o Praia Tênis Clube e deu aula de fisiologia do exercício em um curso de extensão na UFes, de 1989 a 2004. “No final da minha vida, como remador, eu remei, com o meu irmão Lúcio, um Double Skiff, e fomos ao mundial universitário em 86, em Amsterdã, com o patrocínio da Chocolates Garoto." o0o o0o o0o 28 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES o0o A opção pela Medicina Esportiva levou Luciano a se familiarizar com a Medicina Coletiva e com a temática das políticas públicas. Prestou concurso público e passou a trabalhar como médico da pre- feitura em 1989. Foi assim que iniciou sua militância política. “Na época, implantei o Serviço de Orientação ao Exercício Físico nas praças e praias de Vitória”, lembra o prefeito. Até junho de 1997, foi filiado ao Partido dos Trabalhadores. Lembra com exatidão do número de votos obtidos em cada eleição para vereador. Na primeira, em 1992, foram 912 votos, ficando como segundo suplente. Na segunda, em 1996, conquistou 2.345 e foi o candidato do PT mais votado no estado. Em 2000, já pelo PPS, seu atual partido foi o vereador mais votado no Espírito Santo: obteve 4.333 votos. Em 2004, na última eleição que disputou para vereador, alcançou 5.676 votos. Dr. Eduardo De Rose, da Comissão Médica do Comitê Olímpico Internacional (COI), entrega a Luciano Rezende o prêmio pelo Serviço de Orientação ao Exercício Físico (SOE), criado em 20 de janeiro de 1990 nos parques e praias de Vitória-ES Encontro com a política (Luciano Médico, 1991) 29Capítulo I – Encontros Foi como secretário municipal de Educação em 2001 e 2002, du- rante o mandato do prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas, que Luciano iniciou as atividades como executivo da área pública. “A experiência foi muito válida, porque a Secretaria de Educação é a maior de Vitória, e ali eu comecei a aprofundar minha visão a respeito da gestão da cida- de”, acrescenta. Em 2003 assumiu o comando da Secretaria de Saúde. Em 2006, disputou nova eleição, dessa vez para deputado federal, ficando na terceira suplência, com quase 30 mil votos. Em 2008, foi candidato a prefeito. Teve como adversário o petista João Carlos Co- ser. “Alcancei 62 mil votos, concorrendo com o prefeito Coser, do PT, que estava no melhor momento de seus oito anos de mandato”, lembra. “Quase fui para o segundo turno. Sofremos uma fraude elei- toral de pesquisa. Foi publicada uma pesquisa, em jornal de grande circulação, me dando 20% dos votos e no sábado, no dia das eleições, eu tive 32% dos votos”, acrescenta. Filiado ao PT entre 1989 e 1997, Luciano decidiu migrar para o PPS por motivos éticos, partido que passou a integrar em 21 de julho de 1997. “Em 96 eu percebi que não estava confortável no Par- tido dos Trabalhadores. A luta política interna era muito intensa e desvios de conduta de alguns de seus membros aqui no Espírito Santo me assustaram muito”, conta. Além disso, a saída de Aloí- sio Krohling e Hélio Gualberto do PT, dois políticos pelos quais ti- nha enorme respeito, pesou na decisão de mudança. Optou então pelo Partido Popular Socialista (PPS). “Luiz Carlos Azedo, quadro histórico do partido, trabalhava em Vitória na época. Começou a me apresentar a dinâmica da legenda e nos trouxe a Vitória o Ro- berto Freire, presidente nacional do PPS e senador na época, para nos conhecermos. O PPS era um partido em processo de reorga- 30 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES nização e tinha no Espírito Santo líderes históricos, como Antô- nio Ribeiro Granja (hoje com 104 anos) e Dino Oliveira Gomes”. Tendo sido parlamentar por quatro mandatos, Luciano vivenciou o mecanismo de audiências públicas. “Descobri nelas que, quando você abre um debate franco e media esse debate sem influenciar, os dois extremos se anulam e quem está mediando constrói o equilí- brio”, explica. Passou então a utilizar bastante as audiências públicas, que invariavelmente levavam a um projeto de lei, a uma ação, a um requerimento, a uma indicação. “Comecei ali a construir a noção de que você precisa governar com diálogo, ouvindo as pessoas”. Quando concorreu à prefeitura de Vitória, em 2012, lançou a ideia do “gabi- nete itinerante”, que se tornaria uma marca de sua administração na cidade. “O prefeito deveria ir às comunidades com os seus secretários para interagir com a população. Até agora, mais de 6 mil pessoas foram ouvidas diretamente. O mais interessante é que, quando vol- távamos àquela comunidade para uma segunda reunião com a popu- lação, as reivindicações mudavam, sinal de que as anteriores haviam sido superadas”, comemora. o0o Luciano Rezende explica seu encontro com a concepção da governança democrática, particularmente com as ideias ex- postas no livro Governança democrática: construção coletiva do desenvolvimento das cidades, editado pela Fundação As- trojildo Pereira (FAP), do PPS, de autoria do economista e sociólogo catalão Josep Maria Pascual Esteve, especialista em gestão estratégica de territórios e políticas públicas. “Quan- do fui vereador, por quatro mandatos, comecei legislando, 31Capítulo I – Encontros fazendo muitos projetos de lei. Depois de um tempo, percebi que eles eram feitos de uma forma melhor quando eu orga- nizava uma audiência pública antes. A partir daí, para cada nova sugestão de projeto, eu fazia uma audiência e, no final do debate e da troca de ideias com os cidadãos participan- tes, o projeto de lei era produzido. Foi como descobri que nas audiências públicas os extremos se anulavam. Foi assim, como legislador, que comecei a desenvolver o trabalho de go- vernança horizontal. Quando fui apresentado aos conceitos expostos pelo Pascual como modelo de gestão das cidades, descobri que o que ele apresenta é o mais próximo daquilo que eu procurava implementar”. “Quando disputei a campanha eleitoral, minha cam- panha bateu forte na tecla de sempre ouvir a po- pulação, de fazer gabinetes itinerantes. Ali surgiu a Gestão Participativa que, depois da eleição, o José Armando Figueiredo Campos, empresário e amigo que apoiava a nossa campanha, sugeriu chamar de Gestão Compartilhada”, con- ta o prefeito. 32 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES EXEMPLO DE CIDADANIA Quando o time japonês de futebol jogava na Copa do Mundo do Brasil, em 2014, as atenções não se voltavam apenas aos jogadores no gramado. Ao final do jogo, independentemente do resultado, o foco das câmeras e dos espectadores fixava-se na movimentação da torcida japonesa nas arquibancadas. Ela não saía imediatamente, come- morando vitória ou chorando derrota. Não importava o resultado: os torcedores não abandonavam seus lugares sem antes recolher latinhas, restos de comida e objetos jogados durante a partida. Para a admiração geral, antes de deixarem o estádio, eles literalmente limpavam o espaço que ocupavam. Por sua vez, não entendiam o porquê de causarem tanta surpresa. Aquela atitude, para eles, era natural, uma questão de comprometimento e civilidade, uma ques- tão de cidadania. Torcedores japoneses limpam a arquibancada após jogo na Copa do Mundo 33Capítulo I – Encontros Vis ta d e V itór ia c om a T erc eira Po nte 34 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES 2 CAPÍTULO II DISPUTA 36 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES Processo eleitoral Luciano Rezende tornou-se prefeito de Vitória em uma disputa apertada. Após pesquisas e boca de urna apontarem a eleição do opositor, doPSDB, o candidato do PPS venceu com quase 100 mil votos, conquistando perto de 53% dos votos, contra 47% do adversá- rio, que não chegou a 89 mil. Foram mais de 10 mil votos na frente. RESULTADO PREFEITO – VITÓRIA (ES) – 2º TURNO 2012 Candidato Votos % Candidato Votos % Diferença % Luciano Rezende 98.937 52,73 Luiz Paulo 88.687 47,27 10,36 Fonte: Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES). Luciano havia disputado o pleito anterior, de 2008, concorrendo com o então prefeito, João Coser, do PT, demonstrando coragem po- lítica e determinação, pois, naquele ano, o Partido dos Trabalhadores desfrutava de prestígio, o presidente Lula registrava alta popularida- de, a economia do país ia bem e a crise econômica que atingia o pla- neta era apresentada aos brasileiros como “marolinha”, termo usado por Lula na ocasião. Diante desse quadro, ninguém queria enfrentar, em Vitória, o candidato do PT, que tinha total e irrestrito apoio do governo federal. Coser era tido como imbatível. Foi nessa conjuntura política adversa que Luciano decidiu dar mais um passo e se posicionar pela implementação de um novo modo de governar a cidade. Sabia que entrava na disputa de maneira ousada, pois contava com poucos recursos, mas sabia também tratar-se de uma oportunidade que não podia ser desprezada, especialmente para deixar claros seus propósitos políticos e aumentar sua visibilidade na capital. 37Capítulo II – Disputa Em 2008, o PPS de Luciano Rezende fez aliança com o PSDB, que indicou Elizeu Moreira para compor a chapa como vice-prefeito. A campanha teve pouco apoio. Só com muita dificuldade e já no li- mite de tempo para entrar no ar é que a equipe de Luciano conseguiu viabilizar a gravação do programa eleitoral para a TV. O embate de 2008 terminou com a reeleição de Coser no primei- ro turno. Luciano terminou em segundo lugar, com 32% dos votos, e saiu da campanha com a consolidação da imagem de real alternativa para o governo de Vitória. Em 2009, assumiu a Secretaria de Estado de Esportes, no manda- to de Paulo Hartung, do PMDB e, em 2012, lançou sua candidatura para a prefeitura. o0o Na campanha de 2012, o quadro era outro. O PT estava desgasta- do, a popularidade do prefeito Coser era muito baixa. Luciano apre- sentou-se como a alternativa de mudança. Dessa vez, o enfrentamen- to foi com o ex-prefeito, Luiz Paulo Vellozo Lucas, do PSDB, de quem foi secretário municipal de Educação e de Saúde. Luiz Paulo chegou ao pleito como favorito e parecia invencível. Iniciava a campanha com pesquisas favoráveis, que o colocavam com cerca de 50% da preferência entre os eleitores. 38 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES Luiz Paulo trazia em torno de sua candidatura o apoio das princi- pais lideranças políticas do Espírito Santo: Paulo Hartung (PMDB), que já havia sido governador do estado (2007-2011), Ricardo Ferraço (PMDB), Gerson Camata (PMDB), Rita Camata (PMDB), César Col- nago (PSDB), que hoje é vice-governador, e Lelo Coimbra (PMDB). Luiz Paulo nunca acreditou que teria Luciano como concorrente. Apostava em Iriny Lopes, do PT, que tinha o apoio do governo fede- ral, do então governador Renato Casagrande (PSB) e do prefeito Co- ser. Iriny tinha sido secretária especial de Políticas para as Mulheres (2011-2012) do governo Dilma Rousseff. Com exceção do governador Casagrande, com quem Luciano mantinha relação de respeito e simpatia, os aliados do adversário tentaram descaracterizar a candidatura do PPS, como progressista e inovadora. Diziam que, por ter o apoio dos evangélicos – o candidato a vice na chapa, Waguinho Ito (PR), é evangélico –, se Luciano ga- nhasse, faria um governo conservador, “de direita”. o0o Foto: _DSC0086 O candidato Luciano vai às ruas em campanha com o gesto de Muda Vitória Luciano Rezende nas andanças da campanha eleitoral 40 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES Foi somente na véspera da votação do primeiro turno que a can- didatura de Luciano deslanchou. A campanha chegou às ruas, o discurso se consolidou, a marca virou um símbolo forte na cidade e o gesto de mudança, com as mãos, passou a ser feito e repetido pela população. Ele conta que, por onde andava naquela época, as pessoas faziam uma saudação com o gesto da mudança quando o viam, movimentando em círculo os indicadores das duas mãos, estendidos um próximo do outro, simbolizando a mudança que a campanha propunha e representava. Do lado de Luciano, a equipe havia conseguido acertar o eixo da campanha desde o começo. A estratégia foi consolidar progra- maticamente a candidatura, tendo como foco três prioridades: a ci- dade organizada, o combate à violência e a promoção da segurança pública e a humanização da relação da administração com a cidade. Vitória estava um caos, com volume crescente de moradores de rua, de viciados em crack. O plano apresentado previa a realização de uma gestão mais participativa, na qual os cidadãos se aproprias- sem dos espaços públicos e equipamentos urbanos, fator funda- mental para a redução da violência, verificada depois que Luciano assumiu a prefeitura. PILARES DO PROGRAMA DE GOVERNO DE LUCIANO REZENDE Cidade mais organizada Cidade mais segura Cidade mais humana 41Capítulo II – Disputa Ele reconhecia, dessa forma, que o direito à cidade é uma reivindi- cação também dos setores mais vulneráveis da população. Neste mesmo sentido, a ideia de participação cidadã vinha fun- damentada na proposta de superação do entendimento usual e ultra- passado de canalização de demandas. Como um estudioso dedicado, Luciano se preparou bem para chegar à prefeitura de Vitória. Estudou para conhecer a fundo a cidade e seus problemas, particularmente, a crise que se instalava nas finanças públicas. O bom desempenho do candidato do PPS deveu-se também ao fato de ele conhecer bem o que o oponente pensava sobre a cidade. Para Luciano era preciso promover uma mudança radical na ma- neira de governar as cidades. Isso significava uma gestão participativa. Na perspectiva meramente gerencial, ante a situação de in- capacidade de fazer frente às demandas sociais, a prefeitura acaba priorizando tão somente a gestão dos recursos pró- prios para diminuir os gastos e incrementar a arrecadação. O diálogo com os setores da cidadania e a participação cidadã são deixados para tempos melhores, quando se pode gastar. A prefeitura, desse modo, afasta-se ainda mais da cidadania, na esperança de que a situação melhore para que, no melhor dos casos, nos meses finais de mandato, possa voltar a ofere- cer serviços. Assim orientadas, as prefeituras procuram fazer somente o que consideram ser de suas próprias competências, de cumprimento obrigatório, e classificam como impróprias as atribuições tidas como voluntárias. O resultado é a con- tração do papel da prefeitura e um declínio da política local e da liderança municipal. 42 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES Outro fator positivo para Luciano, além das concepções que o faziam portador de um novo modelo de gestão, foi o confronto de imagem entre os dois candidatos. Luciano era e é visto como uma pessoa honesta, trabalhadora e competente, inteiramente dedicado e comprometido com a ideia de se tornar prefeito de uma cidade com a qual tinha profunda relação de amor. A isso somou-se o desempenho dele nos debates entre os candidatos, quando falava de seus planos e ideias sobre a gestão compartilhada. o0o A estratégia para o segundo turno era aproveitar a inércia da campanha adversária e a perplexidade de Luiz Paulo com o resultado da primeira votação. As pesquisas iniciais da segunda fase do pleito já apontavam Luciano na liderança, com o placar de 39% a 36%. Era preciso ampliar essa vantagem, não sair das ruas. E assim Luciano abriu 26 pontos de frente sobre o concorrente, entre o fim do primei- ro turno e o início do horário eleitoral naTV. Luciano Rezende, ao lado de Roberto Freire, presidente nacional do PPS, e rodeado por eleitores, em caminhada durante campanha eleitoral 44 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES A luta Para entender como foi o segundo turno daquela eleição mu- nicipal, há uma história interessante que o jornalista Luiz Carlos Azedo conta. Dois dias após o resultado do primeiro turno, ele desembarcou em Vitória, trazendo na mala o vídeo “A luta”, que mostra o enfrentamento de Muhammad Ali e George Foreman, em 1974, no Zaire. Para ele, esse embate foi um caso clássico de gerenciamento de crise. Ali entrou no ringue preparado para apanhar. E é o que acontece. Ele apanhou de Foreman até que este se cansou de bater. No oitavo assalto surge, então, uma chance, e Ali dá um direto em Foreman, que cai nocauteado. O vídeo foi assistido por M uh am m ad -A li Apanhar até vencer 45Capítulo II – Disputa toda a equipe da campanha de Luciano Rezende. Ao final da sessão, Azedo defendeu a ideia de que o segundo turno seria exatamente aquilo: “precisávamos estar preparados para apanhar muito”. o0o Na primeira reunião com a equipe pós-primeiro turno, foi anun- ciado que os recursos continuariam escassos. Só se podia contar com o PPS para mobilizar apoio financeiro na reta final da campanha. A reação entre os presentes foi de muita preocupação, já que a expec- tativa de vitória eleitoral era grande e não poderia ser frustrada pela falta de recursos. Nem bem havia acabado aquela reunião, chegou à equipe a notícia de que uma primeira doação para a campanha acabara de acontecer. Líderes políticos sabem que os recursos concretos (carro, papel, gente na rua etc.) são movidos pelos recursos abstratos (carisma, expectativa de poder, projetos, ideias, ideologia). Nada mais verda- deiro. Quando acabou a eleição em segundo turno, vitorioso, Lu- ciano foi muito procurado por pessoas que queriam contribuir para o pagamento das dívidas de campanha. Logo ficavam desaponta- das, ao ouvirem dele que não havia o que pagar: o segundo turno fora encerrado sem dívida. Na primeira entrevista concedida após eleito prefeito de Vitória, o candidato do PPS agradeceu os votos conquistados e disse que pre- tendia unir a cidade em seu mandato. Acompanhado do vice, Wa- guinho Ito, e de lideranças partidárias, o novo prefeito também fez questão de agradecer ao governador Renato Casagrande. 46 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES Na análise do próprio Luciano, a eleição de 2012 foi consequência do bom desempenho obtido nas eleições de 2008 e do sentimento já forte em todo o país e que, na época, ele acreditava ser apenas local: o desejo de mudança. Essa vontade do novo em Vitória foi identifica- da por meio de uma grande pesquisa encomendada pelo candidato. “O povo já estava cansado do discurso petista e das promessas não cumpridas do prefeito Coser, que fechava o segundo mandato com baixíssima popularidade”, relembra o prefeito. Na verdade, Vitória estava sem liderança política. Por trás da demanda pelo novo, estava o desejo de ter como representante uma figura identificada com proteção, com cuidado, assemelhada à ideia de um “pai”. Foi quando a equipe, ainda durante a campa- nha, começou a trabalhar a proposta de oferecer à população a alternativa real de eleger um novo líder. Firmou-se o conceito da mudança e surgiu “Muda Vitória”: o gesto com as mãos, inspira- do no futebol, quando é pedida a substituição de um jogador em campo. “Foi a sensação da campanha”, lembra o prefeito. “Virou uma febre. Eu nem conversava mais. Quando passava de carro, todo mundo ia à janela fazendo o gesto. Junto da música da cam- panha, inspirada na marcha ‘Mudança’, de Gilberto Gil, o entu- siasmo emocionava”, recorda. Vistos com a distância do tempo, os acontecimentos da disputa eleitoral de 2012 deixam bastante claro que a qualificação e o poten- cial do candidato vitorioso haviam sido subestimados pelos adversá- rios. Por ele ter ocupado postos de secretário, os correligionários do ex-prefeito Luiz Paulo chamavam Luciano de “o estagiário”, expressão tão maliciosa e mentirosa quanto politicamente incorreta. “Eu achei ótimo. Sabia que eles estavam atirando no próprio pé. No esporte, 47Capítulo II – Disputa eu aprendi que a soberba é a antessala da derrota”, revela Luciano. E conclui: “no primeiro turno da eleição, eu disputei contra a soberba e, no segundo turno, eu disputei contra a catimba, a apelação, o jogo pesado, para não dizer sujo, da política”. Luciano conta que, na pré-campanha, estudou com profundidade a cidade e, especialmente, a questão dos problemas financeiros da prefeitura. “Foi o pulo do gato”, diz. Tal conhecimento fez com que se saísse bem em todos os debates. Ao lado de Alberto Jorge Mendes Borges, mais tarde seu primeiro secretário de Fazenda – atualmen- te, editor da revista Finanças dos Municípios Brasileiros –, Luciano dedicou-se a analisar quais seriam as repercussões da eliminação do Fundo de Desenvolvimento das Atividades Portuárias (Fundap) para a economia e as finanças de Vitória. O Fundo foi extinto no Espírito Santo, em 2012, o que levou à queda na arrecadação estadual. Relativamente recente nos quadros do PPS, Luciano Rezende foge das tradicionais características dos antigos militantes da si- gla. Especialmente, tem uma visão da disputa eleitoral muito pró- pria, formada com o auxílio de quadros do partido que estão com ele há algum tempo. Fabrício Gandini, eleito vereador com 9 mil votos; Lenise Loureiro, secretária municipal de Desenvolvimento; e Elisabeth Ângela Endlich, com vasta experiência administra- tiva e política são alguns deles, conforme enumera o dirigente nacional do PPS, Luiz Carlos Azedo. “Luciano tem um talento que os quadros formados no aparelho do partido não têm. É a convicção de que a disputa política eleitoral é fundamental e que a pessoa tem que dela participar. E ele faz isso como ninguém. Ele não tem vergonha de chegar junto ao eleitor e dizer o seguinte: a melhor coisa que você pode fazer por você é votar em mim. Ele é 48 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES convicto disso. Ele tem certeza que ele é o melhor e não se acanha ao demonstrar isso”, conclui Azedo. o0o Em seus agradecimentos no discurso de posse, Luciano externou a emoção daquele momento “que habitou os meus sonhos e acalen- tou a minha alma durante 20 anos”. Referiu-se também ao clima de confronto que marcou a campanha, principalmente no segun- do turno: “foi duríssimo... Momentos terríveis... Horas de solidão, de incertezas e de ataques absolutos, que extrapolaram e muito a discussão política”. E, já ao final da fala, enfatizou: “aprendi desde cedo que o sucesso vem de um trabalho duro, árduo. Já na adoles- cência, através do remo, madrugando na baía de Vitória, aprendi que não há resultado sem muito sacrifício. Essa campanha demons- trou isso. Pessoas que nos elogiaram a vida inteira, no momento em que tínhamos a possibilidade de vencer as eleições, passaram a nos atacar muito além do debate político. Resistimos, mantivemos o ní- vel da campanha.... Foi muito difícil, mas mantivemos a qualidade da nossa campanha e o discurso humano. Humano, de um médico de formação, de uma pessoa que se dedica à política por paixão e que acredita na política”. Não sendo de família tradicional ou rica, Luciano declara que “não fosse pela força da democracia”, não estaria ali, naquela noite, falando para a cidade. “A democracia respira pela renovação, pela mudança. Ela, por intermédio da renovação, modifica o processo de acomodação, permanência e cristalização de grupos que se revezam 49Capítulo II – Disputa no poder, como a cidade de Vitória experimentou nos últimos anos, um grande revezamento de dois grupos.” O sentimento de que a capital queria mudança aparecera de vá- rias formas desde as pesquisasrealizadas na pré-campanha. Até que o responsável pelo marketing, o jornalista Jorge Oliveira, um dia, disse para o candidato do PPS: “Luciano, eu tenho o posicionamen- to da campanha, é uma frase muito pequenininha e que condensa tudo isso. 'Muda Vitória'”. E esse lema refletia o sentimento que se percebia nas caminhadas da campanha. “O voto mostrou isso, de- sejo de mudança. Mudança das práticas e dos costumes políticos”, observa Luciano. Para ele, superado o período eleitoral, caberia representar to- dos os moradores de Vitória e liderar a cidade: “com melhor ges- tão, nós vamos chegar à cidade mais organizada, de que tanto falamos na campanha. Vamos chegar à cidade mais segura, o que também dizíamos na campanha. E, por meio disso, faremos uma cidade melhor, uma cidade mais humana, que também era com- promisso de campanha. Uma cidade mais organizada, mais segura e mais humana”, lembra. Uma cidade mais organizada, mais segura, mais humana Quando assumiu a prefeitura, Luciano estava plenamente cons- ciente de que Vitória não era mais aquela cidade rica. A capital do Espírito Santo chegou a ter, até 2014, o maior PIB per capita entre as capitais brasileiras, mas não era mais assim. Diante dessa realidade, ficou claro que o plano de governo do novo prefeito não poderia conter a previsão de investimentos gran- diosos. O que ele fez foi ler e analisar as pesquisas sobre o que era 50 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES vital para o munícipio e, assim, planejar ações de baixo custo e alto impacto, focadas nas demandas que poderiam ser atendidas. Sua gestão teria de aprender a viver com austeridade, criatividade e foco nas prioridades. Seu plano de governo teve como eixo central o mote “governar com diálogo”, ouvindo sempre o maior número de pessoas. A pri- meira atitude dele foi operacionalizar a ideia do Gabinete Itinerante, com visitas periódicas, em companhia do secretariado, às comunida- des, para ouvir o que a população tinha a dizer. A cidade mais organizada, mais segura e mais humana: esses são os principais eixos do mandato 2013-2016 de Luciano Rezende como prefeito de Vitória. 51Capítulo II – Disputa Com esse foco, a nova gestão da prefeitura elaborou o planeja- mento estratégico e, para vencer o desafio da distância entre propos- ta e realização, Luciano implantou o Escritório de Projetos, uma es- trutura de gestão que atua como elo entre o planeamento estratégico e a implementação dos programas e projetos. Neste contexto, foram criados programas para as áreas de seguran- ça pública, saúde, educação e mobilidade, considerados prioritários. B aí a de V itó ri a co m T er ce ir a P on te – F ot o: A nd ré S ob ra l 52 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES 3 CAPÍTULO III ONDE ESTÁ O INTERESSE PÚBLICO? 54 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES Montagem do governo LEAD / Foto: 18 – JP – POSSE LUCIANO (37 de 38) Fim de campanha, liderança confirmada, oficializada e comemo- rada, chegava a hora de o prefeito eleito se preparar para assumir a cadeira de chefe do Executivo municipal e governar a capital do Espírito Santo. A posse estava marcada para 1º de janeiro de 2013. Luciano tinha dois meses para montar a equipe, detalhar o plano de governo e definir a linha de ação. Já no dia seguinte ao anúncio do resultado, em declaração à im- prensa ele disse o seguinte: “vamos trabalhar evitando qualquer in- terferência político-partidária na montagem da equipe. Acabou esse negócio de carteirinha partidária determinar o que uma pessoa vai fazer na administração. Vamos, inclusive, ter ajuda dos cargos efetivos e concursados da prefeitura. Tem muita gente na prefeitura que amar- ga a vida inteira sem oportunidade, com grande capacidade técnica e política nos seus cargos, que nunca é utilizada porque não tem pre- ferência partidária. Vamos buscar os melhores quadros estejam onde estiverem, quer seja no partido A ou partido B. Vamos trabalhar com Prefeito eleito, Luciano Rezende, dá sua primeira entrevista à imprensa após a posse 55Capítulo III – Onde está o interesse público? pessoas qualificadas”. Claro, compor equipe de trabalho, com secre- tários, assessores, demanda flexibilidade e consistência de propósitos. É preciso perspicácia para buscar, nos variados quadros partidários, gente competente também nos aspectos técnicos. “Liderar não é forçar, é não usar nenhum outro tipo de ar- gumentação que não seja motivação, é tocar o coração das pessoas. Nós vamos agora nos juntar, juntar todas as forças para estabelecer o detalhamento do plano de governo, neste momento de transição que começa nos próximos dias”. Foi essa a primeira declaração de Luciano Rezende à impren- sa, ainda na noite de 28 de outubro de 2012, logo após co- nhecer o resultado oficial das urnas e tomar conhecimento de que havia conquistado a vitória. o0o No discurso de posse, Luciano voltaria a esse tema, afirmando que a mudança desejada pelas urnas apontava para uma gestão moderna, eficiente e inovadora. “E nós começamos mostrando a mudança na montagem de nossa equipe. Quem observou a formação do nosso secretariado percebeu que a quase totalidade tem especialização nas suas áreas, curso superior, pós-graduação. É um secretariado extremamente técnico, com capacidade política”. E completou a fala realçando a participação feminina no novo governo, com a no- meação de oito mulheres para compor o secretariado. Insistiu, no pronunciamento inaugural, que prefeito e secretariado reagiriam de forma rápida e exemplar contra desvios e corrupções que pudessem acontecer durante a gestão que estava por iniciar, e repi- 56 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES sou os princípios e valores éticos que serviriam de guia à sua própria atuação e à do secretariado: imparcialidade, gestão compartilhada, transparência, espírito de equipe, compromisso com a cidade e com a inovação e sustentabilidade. Perguntar sempre onde está o interesse público e, principalmente, quando surgirem dúvidas sobre que decisão tomar no exercício do poder. Era, portanto, tarefa da equipe de gover- no trabalhar para garantir objetividade, equidade e transparência aos processos administrativos, o bom uso dos fundos públicos, assim como a eficácia de todas as prestações de serviços, mesmo daquelas que não são realizadas pelos órgãos municipais. E assegurar serviços de qualida- de para a população, especialmente para as camadas mais vulneráveis, que só têm o poder público ao qual recorrer. Zona de conforto Uma das ações visionárias de Luciano foi a instalação do Comitê de Gestão e Inovação. A ideia era que esse colegiado funcionasse em ligação com o gabinete da prefeitura, para tirar a administração da “zona de conforto”. Esse foi o primeiro projeto enviado para a Câmara de Vitória pelo prefeito após tomar posse do cargo, ainda nos dias iniciais do manda- to. O Comitê, de caráter consultivo, foi instituído pela Lei Municipal no 8.417/2013, sendo composto por dez representantes da sociedade civil com liderança reconhecida. Com mandato de dois anos, sem remuneração e com a finalidade de impulsionar o governo, o grupo se reúne periodicamente para propor recomendações, intervenções e soluções para o prefeito colocar em prática. “A função do Comitê é nos pressionar para que a gente possa avançar, inovar e buscar mecanismos em que a gente não esteja pen- 57Capítulo III – Onde está o interesse público? sando. Na verdade, o Comitê tem a função de nos incomodar, nos tirar da zona de conforto. Essa é a função dele. Ele é composto por pessoas ilustres, reconhecidas no mundo inteiro, como José Arman- do de Figueiredo Campos, engenheiro e gestor (ES); Jorge Oliveira, jornalista (DF); José Antônio Pignaton, professor (ES); Jorge Wer- thein, diretor e consultor da Unesco no Brasil; Ligia Bahia, médica e professora(UFRJ); Bruno Fernandes, arquiteto urbanista (RJ); Luiz Fernando Schettino, engenheiro florestal, professor e gestor (ES); Robson Leite, secretário de Estado de Planejamento (ES); José Ro- berto Santoro, advogado (DF); Fábio Coelho, presidente do Google do Brasil (SP). Alguns desses já saíram e deram lugar a outros, tam- bém ilustres. E o José Armando Figueiredo Campos preside o Comitê desde sua criação”, disse Luciano Rezende. Passados três anos, a inauguração das três Escolas de Tempo Integral de Vitória é um dos resultados práticos do Comitê de Ges- tão e Inovação, no qual surgiu a ideia e nasceu o projeto, informou o prefeito. Quando assumiu a prefeitura, Luciano já tinha plena consciência de que Vitória não era mais aquela cidade rica, com sobra de recursos públicos. Ele sabia que teria a dificuldade dessas limitações e que, por isso, seria necessário aprender a “viver” com austeridade e criativida- Reunião do Comitê de Gestão e Inovação criado pela prefeitura de Vitória 58 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES de. Para fazer uma boa gestão, o “foco nas prioridades” deveria ser seu lema. “Nós vamos enfrentar o desafio de perda de receita, perdemos receita com o Fundap, continuamos perdendo indiretamente, com os royalties de petróleo. ” Cortar e reduzir despesas eram desde o começo, e continuaram sen- do nos anos seguintes, as palavras de ordem. Dentre as várias medidas que anunciou no primeiro momento do governo, Luciano diminuiu o número de secretarias de 23 para 21. E 20% dos cargos de confiança. Além dos cortes, outro e talvez mais complexo desafio foi escolher o time do primeiro escalão e adequá-lo ao projeto de governo hori- zontal e gestão compartilhada implantado por Luciano. “A gestão compartilhada já começou. Cada um de vocês será cogestor do prefeito e da prefeitura de Vitória. Nós va- mos governar juntos. O gabinete itinerante, que começou na transição, vai permanecer durante quatro anos. Nós, a equipe da prefeitura, os secretários, nós vamos andar por esta cidade junto da população. Vamos acertar e corrigir os rumos juntos, fazendo isso de forma generosa, solidária, porque é a única forma de garantir que a mudança irá ocorrer. Desde o momento em que vencemos as eleições, eu me preocupo em poder fazer as mudanças que todos esperam. Não tenham dúvida, nós vamos fazê-las, mas vamos fazê-las numa gestão compartilhada, junto a cada um de vocês, fa- zendo a cogestão da prefeitura de Vitória.” Trecho do discurso de posse de Luciano Rezende como pre- feito de Vitória, em 1º de janeiro de 2013. Luciano propunha dar início a um novo modo de governar Vitória, tendo por base as principais características da governan- ça democrática. 59Capítulo III – Onde está o interesse público? Como já mencionado, Luciano tinha claro, desde então, que o papel do prefeito não era o de um gerente: “entendo que o papel de um prefeito é muito mais que administrar uma cidade. O prefeito pode algumas coisas. Mas tem uma coisa que o prefeito pode ime- diatamente após aquele carimbinho verde aparecer no site do TRE, dizendo “eleito”, que é liderar a cidade. Liderar não é mandar, liderar não é obrigar, liderar não é forçar ninguém; liderar é tocar o coração e a mente dos moradores da cidade, todos os 327 mil moradores”. Nos moldes tradicionais e ultrapassados da gestão pública das ci- dades, o planejamento é feito de cima para baixo. O grupo de gestores mais envolvidos na área de um projeto específico se reúne, desenha e desenvolve a ideia, tendo em mente os principais propósitos do go- verno, as prioridades, os compromissos assumidos, os pactos. A ges- tão de Luciano faz diferente, observa Bianca Assis Ribeiro de Sousa Loureiro, secretária municipal de Gestão Estratégica. “Nós descons- truímos o modelo de uma prefeitura de secretarias e trabalhamos na lógica de uma prefeitura de programas de governo, com a participação ativa de todos e sem um responsável imediato, um “dono” do pro- jeto”, conta. Segundo ela, o processo ocorre da seguinte forma: as ações são definidas, cada um faz a sua parte e o controle do anda- mento, do acompanhamento do cronograma de ações, é feito pelo Escritório de Projetos, também criado pela atual gestão, para este fim específico. “Esta forma horizontal de gerir criou um grande desafio, o da mudança cultural. Acostumadas ao modelo vertical tradicional (de cima para baixo), as pessoas sempre reagem e têm dificuldades em aceitar essas mudanças, em que uma área acaba interferindo na ou- tra, e que representam, inclusive, mudança de rotina, sempre difícil de ser aceita. A grande riqueza deste trabalho, desta forma de fazer as coisas, resume-se em uma palavra: integração”, conclui Bianca. 60 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES 4 CAPÍTULO IV PRIMEIRAS MEDIDAS 62 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES Ao assumir a prefeitura, em janeiro de 2013, Luciano Rezende foi enfático: queria que a prefeitura prestasse serviço à população com excelência e vencesse a lentidão da burocracia. Transformar Vitória em uma cidade cada vez melhor era um objetivo que desejava con- cretizar juntamente com a população, por meio da gestão comparti- lhada. Estava convicto desde o começo de que, para muitas famílias, a prefeitura é a única esperança de obter a prestação de serviços e, para isso, a máquina pública teria que ser mais eficiente, com menor custo para o cidadão. Mais desafiadora, contudo, era a proposta que apresentava de im- plantar em Vitória uma administração inovadora, de estimular deci- sões coletivas e de instituir a lógica do governo horizontal. “'Todos nós somos prefeitos e prefeitas da cidade' é uma frase que ele coloca com muita propriedade para resumir e explicar a gestão comparti- lhada”, ressalta Bianca Assis Ribeiro de Sousa Loureiro, secretária municipal de Gestão Estratégica de Vitória. De fato, a proposta representava naquele instante uma ousadia, uma iniciativa inédita no país, no sentido de desenvolver um novo modelo de administrar, uma governança, que busca melhorar a ca- pacidade de organização e ação da cidade, e não aquela que procura a colaboração esporádica de atores urbanos em um ou outro tema concreto. Dela, exigem-se a livre circulação das ideias e interesses e a existência de organizações abertas, condições necessárias para construir consensos sobre objetivos legítimos e visões em torno da cidade que se acredita possível e desejada. 63Capítulo IV – Primeiras medidas Gabinete Itinerante Com a liderança legitimada pelo voto, o prefeito Luciano Rezende sentia-se politicamente fortalecido e capaz de desenvolver ações para aglutinar e representar a maioria dos interesses, pactuar e respeitar as decisões que seriam tomadas pela administração, enfim, envolver a maioria da sociedade na construção de um projeto de futuro com- partilhado para Vitória. Para tornar realidade essa proposta, passou a utilizar todos os canais possíveis: desde as redes sociais (o telefone celular e o aplicativo WhatsApp pessoal do prefeito é disponibilizado nas redes sociais para toda a população de Vitória) até os gabinetes itinerantes, que são fóruns feitos em todas as regiões da cidade, e o próprio processo de planejamento. Buscou a concentração de esforços da prefeitura para garantir o bom desempenho das atividades essenciais, valorizando a coopera- ção e a responsabilidade individual dos integrantes dos quadros ad- ministrativos, agrupando recursos humanos e financeiros em torno População participa de reunião do Gabinete Itinerante 64 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES de programas e projetos e estabelecendo métodos de avaliação de desempenho das equipes e dos seus membros. Iniciou-se, assim, o empenho para romper os arranjos estruturais e organizacionais do passado, objetivando a gestão integrada dos pro- cessos essenciais e de colher osresultados dessa integração. Tratou-se, na verdade, de uma mudança cultural, pois na forma apresentada por Luciano, as diferentes áreas da administração são forçadas a interagir fortemente, superando as estruturas em geral fragmentadas e verticalizadas, O primeiro passo foi identificar sobreposição de ações. A equi- pe responsável elaborou uma matriz, um inventário, com tudo o que estava em andamento, o que havia sido iniciado e o que esta- va parado. Procurou-se conhecer o que a prefeitura produzia com o seu quadro técnico. Foi feito um mapa estratégico pela primeira vez na prefeitura. Mudar um modelo de gestão por outro, seja na esfera privada, seja na pública, traz sempre dificuldades e resistências. A alteração pode gerar a sensação de perda de domínio, forte pressão interna contra a integração dos processos por parte dos centros de poder da buro- cracia, resistência da alta direção em dar autonomia ao corpo técni- co, por receio de ter menos controle da situação e, mesmo, impasses inerentes à forma de gerenciar mais flexível, muitas vezes tida como risco para a administração. Lideranças centralizadoras representam igualmente outro obstáculo. “Para o gerenciamento e o acompanhamento dos programas e projetos, a prefeitura de Vitória implantou o Escritório de Projetos, uma ferramenta de gestão moderna, eficiente e internacionalmente reconhecida”, ressalta Bianca. 65Capítulo IV – Primeiras medidas Isso significou abrir espaço para gerentes de projetos com forma- ção específica e especialização. Representou também investir na ca- pacitação da força de trabalho já existente na equipe da prefeitura. Para cada projeto, foi escolhido um gerente e foram editados decre- tos, inclusive instituindo procedimentos operacionais, com reuniões sistemáticas e acompanhamento integrado. Os debates, as reuniões e a criação de pautas pelos gerentes, se- cretários e prefeito criaram a dinâmica do processo, que permite a participação e o rápido conhecimento dos fatos por parte de todos os envolvidos, em todos os níveis, do gerente ao prefeito. Reuniões gerais do secretariado ampliadas (1 x por semana). Planejamento Estratégico O processo de elaboração do planejamento estratégico para a ges- tão de Luciano Rezende, cobrindo os anos de 2013 a 2016, não ape- nas estabeleceu as metas da sua administração na prefeitura de Vi- tória – 33 programas e 220 projetos e mais de 500 horas de trabalho contínuo –, mas implantou a gestão compartilhada como a marca do governo que se iniciava. O diálogo com a população, destacando-se o Gabinete Itinerante em todas as regionais da cidade, o Gabine- te Online e a adoção de metodologia avançada para a montagem e o gerenciamento de programas tornaram possível a elaboração do Mapa Estratégico de Vitória. Resultado de oficinas de trabalho e amplas discussões com a sociedade, o corpo técnico da prefeitura e as lideranças políticas, o processo alinhou os rumos que a cidade deveria trilhar para alcançar o desenvolvimento sustentável e reafirmou a orientação de que a gestão pública em Vitória deveria ser desenvolvida de 66 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES maneira transparente e com participação democrática. Textual- mente, o plano definia a missão do governo como a de administrar Vitória de forma compartilhada, liderando a busca de soluções para os desafios locais e a melhoria da qualidade de vida, em que cada munícipe participe da gestão da cidade. Essa posição de privilegiar o diálogo, longe de representar mero discurso, era o embrião de um novo modo de governo, na visão de Luciano. As bases de atuação do governo foram organizadas em quatro diretrizes estratégicas: Gestão Compartilhada, Transparente e Efi- ciente; Desenvolvimento com Sustentabilidade; Equidade e Justi- ça Social; e Ambiente Social de Paz. E, nas palavras de Lenise Loureiro, secretária de Gestão Estratégica no início do governo, os programas definidos como estruturantes e estratégicos “convi- dam permanentemente os moradores para a cogestão responsável e solidária da cidade”. “Para tanto, ampliamos a participação da população nas decisões de governo, com transparência, baseada em diversos canais de consulta, garantindo o aperfeiçoamento cons- tante da democracia”, completa. 67Capítulo IV – Primeiras medidas DIRECIONAMENTO ESTRATÉGICO O direcionamento estratégico da prefeitura foi construído a par- tir da definição de quatro diretrizes que organizam as estratégias de forma articulada e dinâmica, oferecendo, ao mesmo tempo, a cons- tância de propósitos – estabilidade de rumo durante períodos de in- certeza – e a flexibilidade para se antecipar e responder às mudanças e aos diferentes cenários. Ambiente Social de Paz Promover a cultura de paz ancorada em um “conjunto de valores, atitudes, comportamentos e modos de vida que rejeitam a violência e previnem os conflitos, atacando suas causas para resolver os pro- blemas através do diálogo e negociação entre indivíduos, grupos e nações”. (ONU, 2000). Desenvolvimento com Sustentabilidade Promover o desenvolvimento sob os pontos de vista ambiental, cultural, social e econômico, voltado ao bem-estar coletivo, à gera- ção de oportunidades, ao dinamismo e à sustentabilidade da cidade, compromissado com o equilíbrio planetário e com a qualidade de vida das futuras gerações. Equidade e Justiça Social Priorizar a redução das desigualdades, com garantia de direitos e ampliação do acesso aos bens e serviços, oferecendo apoio e oportu- nidade às pessoas e aos grupos em situação de vulnerabilidade. Gestão Compartilhada, Transparente e Eficiente Garantir uma gestão baseada em valores éticos, com planeja- mento e políticas integradas e articuladas, métodos e instrumentos eficazes e foco em resultados, assegurando uma efetiva participação da sociedade na construção, na execução, no monitoramento e na avaliação das ações e dos projetos de governo. Fonte: Plano Estratégico 68 A Gestão Compartilhada e Governo RETO, em Vitória-ES GESTÃO COMPARTILHADA E INTEGRADA Fortalece o diálogo e a participação da sociedade no debate sobre a gestão da cidade e desenvolve políticas públicas integradas e articuladas. Gabinete Online Ampliar os instrumentos da Gestão Compartilhada. Gabinete Itinerante Criar um ambiente de proximidade com a população, fazendo dela uma cogestora da cidade. Portal da Transparência Desenvolver mudanças no leiaute do Portal da Transparência do município. Vitória em Dados Modernizar o sistema e atualizar as informações do Vitória em Dados. Orçamento Participativo Democratizar e controlar socialmente a gestão e o orçamento público. Fala Vitória 156 Reestruturar o Fala Vitória 156. Portal Vitória Online Reestruturar o Portal Vitória Online. Transparência e prevenção à corrupção Aperfeiçoar métodos e sistemas de controle e transparência na gestão e estratégias de prevenção à fraude e à corrupção. Vitória nas redes sociais Ampliar e integrar os canais de comunicação da prefeitura com os munícipes. Fonte: Plano Estratégico 69Capítulo IV – Primeiras medidas Ajuste nas finanças Quando assumiu a prefeitura de Vitória, Luciano Rezende encon- trou um cenário de receita em declínio e despesa crescente, princi- palmente dos gastos com aluguel de imóveis, veículos, ligações tele- fônicas, diárias de viagens e pagamento de pessoal. Uma das primeiras medidas que adotou foi anunciar o corte de 20% dos cargos comissionados. Outra medida foi desocupar os imó- veis alugados e ocupar os da própria administração. Vários progra- mas foram criados, visando diminuir o impacto da perda de receita, como, por exemplo, o Refis e o Nota Vitória. Em 13 de março de 2013, ou seja, com apenas dois meses e meio de trabalho na prefeitura, Luciano estabeleceu as diretrizes para o corte de despesas por meio do Decreto nº 15.640. Várias medidas foram adotadas, visando à contenção de gastos com custeio. O resultado da
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