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A adolescência como construção social

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. A D O L E S C Ê N C I A . 
CONSTRUÇÃO . 
SOCIAL '̂ 
A adolescência é um conceito ambíguo, que varia consoante a cultura. O que 
parecem ter em comum todas as definições è a sua caracterização como um 
período de transição da infância para a vida adulta 
28 
E m 1533, Catarina de Medíeis é levada de Florença, sua terra natal, para casar com Henrique de Or-leões , segundo filho de Francisco I de França. Sem 
qualquer p r e p a r a ç ã o , ela é conduzida para o leito do seu 
jovem marido, para uma corte e país estranhos. Aos seus 
olhos, a infância terminara bruscamente. Zana Muhsen, 
autora do livro Vend/c/as- documento excepcional sobre 
uma prática corrente em muitas sociedades - retrata o 
mundo de duas meninas de 14 e 15 anos, vendidas pelo pai, 
casadas numa aldeia do lémen, retidas como reféns por 
um marido de nacionalidade diferente da delas e arran-
cadas à m ã e . Este livro mostra-nos o terminar precoce de 
uma infância. "Estendo-me na cama. Os olhos fechados. 
Não pensar em nada, solidificar-me, tornar-me pedra. Ele 
é um garoto, que, desajeitadamente, tenta fazer de ho-
mem. Não sinto nada. A imobilidade protege-me. Não é a 
mim que aquela coisa imunda está a acontecer. Não sou eu 
que sufoco. Eu não estou ali. A Zana (...) está morta. Mor-
ta. (...) Acabo de ser violada por uma criança. Durante 
toda a noite os meus olhos de pedra contemplam as lagar-
tixas do tecto, únicas testemunhas daquele acto imundo. 
(...) Os lobos e as hienas produzem um concerto lúgubre na 
noite das montanhas. São eles que gritam em meu lugar." 
(Muhsen 2002: 65). 
29 
Sociedade - A adolescência como construção social 
O fim da infância pode ser encarado como 
o pôr do sol. Enquanto o sol se põe em qualquer, 
parte, nasce algures, e sobretudo nunca se põe 
sem se levantar de novo. Assim surge a adoles-
cência (Braconnier, 2000). "A infância reduzia-
se, outrora, ao curto espaço de tempo que me-
diava entre o nascimento e os sete anos (...). As 
mudanças de sensibilidade que se começam a 
verificar a partir do Renascimento tendem a 
diferir a integração no mundo do adulto, cada 
vez mais tarde, e a marcar, com fronteiras bem 
definidas, o tempo da infância, progressivamen-
te ligado ao conceito de aprendizagem e escola-
rização. Importa sublinhar que se tratou de um 
movimento extremamente lento, inicialmente 
bastante circunscrito ãs classes mais abasta-
das." (Pinto, 1997: 44). 
A adolescência é frequentemente associada à 
irreverência, à transgressão e aos riscos. Chegar 
a adolescente não é tarefa fácil. Crescer implica 
perder a tranquilidade, a segurança, as certezas, 
os sonhos, a alegria de ser criança, para se passar 
a viver na incerteza e na procura de si mesmo. 
A palavra adolescência vem do latim 
adolescere, que significa fazerse homem/ 
mulher ou crescer na maturidade. De acordo 
com a Organização Mundial de Saúde, a adoles 
cência compreende o período entre os 10 e 19 anos 
de idade, desencadeado por mudanças corporais 
e fisiológicas advindas da maturação biológica. É 
uma idade carregada de contradições. Assemelha-
se a algo de muito importante que acabamos de 
perder e a algo de essencial que ainda não encon-
trámos. É um período de grandes incertezas. Cos-
ta (1998:8), referindo-se a estas incertezas afirma 
que "crescer implica perder a tranquilidade, as 
certezas, a segurança, o sonho e a alegria de ser 
criança, para passar a viver na incerteza, na 
procura de si próprio, sonhando com um mundo 
adulto, que cada vez, parece mais distante e me-
nos aliciante. A estes sentimentos o adolescente 
responde muitas vezes com falta de optimismo, 
de curiosidade, de energia." 
É um corpo que muda, são os desejos que 
nem sempre se realizam, é o constatar da sua 
própria impotência para realizar o que julga fá-
cil, é o sentir-se subitamente invadida/o por uma 
intensa necessidade de amar e ser amada/o. Ela/ 
ele vai sentir necessidade de vohar-se para o ex-
terior, numa busca incessante de quem lhe cor-
responda. Paira em torno dela/dele possibilidade 
e a vontade de viver as relações amorosas bem 
características desta fase. 
A adolescência poderá ser comparada ao 
drama da lagosta: "As LAGOSTAS, quando mu-
dam a carapaça, começam por perder a anti-
ga e ficam sem defesas, questão de tempo de 
fabricarem uma nova. Entretanto, estão em 
A ADOLESCÊNCIA SITUA-SE 
ENTRE DOIS PÓLOS ESSENCIAIS: 
A DEPENDÊNCIA LIGADA À 
NECESSIDADE DE PROTEÇÃO 
- A INDEPENDÊNCIA LIGADA À 
NECESSIDADE DE AUTONOMIA; 
perigo iminente. Para os adolescentes é um pou-
co a mesma coisa. E fabricar uma nova carapaça 
custa tantas lágrimas que é um pouco como se a 
'ressumíssemos'. Nas imediações de uma lagosta 
sem protecção há quase sempre um CONGRO a 
espreita pronto a devorá-la. A adolescência é o 
drama da lagosta!" (Pereira, 2002:17) 
A adolescência pode ser vista como uma 
etapa da vida na qual a personalidade está na 
fase final da sua construção e a sexualidade i n -
serese nesse processo como um elemento estru-
turante da identidade da/o adolescente. Sabemos 
que a adolescência é uma fase caracterizada por 
confusões, contradições e ambivalências ligadas e 
geridas num processo que conduz à formação de 
identidade. A adolescência situa-se entre dois po-
ios essenciais: a dependência ligada à necessidade 
de proteção e a independência ligada à necessida-
de de autonomia; mas, simultaneamente há uma 
grande insegurança; sendo indispensável nesta 
fase a correta e adequada assimilação daquilo que 
é a sua liberdade singular 
O início da adolescência não é de fácil iden-
tificação, uma vez que corresponde a um período 
da maturação física envolvendo um crescimen-
to que leva à alteração no tamanho, composição 
e, similarmente, forma do corpo. A adolescência 
30 
é um período da vida marcado pelo conceito de 
desenvolvimento, nos termos da transformação 
que se impõem constantemente quando se trata 
de descrever os distintos aspetos do crescimento. 
Assim, podemos caracterizar a adolescência por 
um processo de desenvolvimento físico, psíquico, 
afetivo e social. 
Observase nesta fase, uma extraordinária 
curiosidade e euforia perante determinados as-
suntos, particularmente a sexualidade. O medo e 
a incerteza desenvolvidos à volta desta temática 
podem conduzir as adolescentes mais incrédulas 
e com menos experiência a confrontaremse com 
vivências sexuais prematuras mal conduzidas, 
acabando, por vezes, em gravidezes indesejadas. 
A adolescência é uma segunda idade de todos os 
porquês, e a palavra sexo faz parte de todos eles. 
É o momento da decisão de dar ou não aquele 
passo, visto como a entrada para o mundo dos 
adultos, mas também um passaporte para muitos 
riscos. As dúvidas são mais do que muitas: será 
este o momento certo? Será esta a pessoa certa? 
E depois? 
A adolescência é um conceito ambíguo, que 
varia consoante a cultura. O que parecem ter em 
comum todas as definições é a sua caracterização 
como um período de transição da infância para a 
vida adulta. Considerar uma gravidez na adoles-
cência é considerar um duplo alento de adapta-
ção e uma dupla movimentação de realidades que 
convergem para a entrada na fase adulta. 
No plano temporal, podemos caracterizar a 
adolescência como um processo em três momentos: 
Precoce (10-14 anos) - O maior interesse, vai 
para os parceiros do mesmo sexo, mas aparece o 
interesse pelo outro sexo. Começa o conflito com 
os pais; a/o adolescente comportase como uma 
criança num minuto e como adulta/o no minuto 
a seguir 
Intermédio (1516 anos) - A aceitação pelo 
grupo é uma das maiores preocupações e fre-
quentemente determina a autoestima da/o ado-
lescente. A/o adolescente envolvese em sonhos, 
fantasias e pensamentos mágicos. Ela/ele luta pela 
sua independência em relação aos pais, demons-
tra instabilidade emocional, apresenta comporta-
mentos de fúria e mudanças de humor São impor-
tantes as relações heterossexuais. 
Tardio (17-21 anos) - A/o adolescente inten-
sifica o interesse pelo sexo oposto, desenvolve o 
pensamento abstrato,inicia a realização de planos 
para o futuro, procura independência emocional e 
financeira em relação aos pais. O amor faz par-
te das relações (heterossexuais ou homossexuais) 
íntimas, sendo assumida a capacidade de tomar 
decisões. 
Em paralelo com as muitas transformações 
físicas que acontecem no rapaz e na rapariga, por 
"A adolescência é uma segunda idade de todos os 
porquês, e a palavra sexo faz parte de todos eles." 
Sociedade - A adolescência como construção social 
"A adolescência é um processo dinâmico, uma cascata 
de acontecimentos que culminam com a maturidade 
biológica, psicológica e social dos indivíduos." 
1 
ação das hormonas sexuais, e quando novos sen-
timentos e emoções são experimentados, também 
surgem sensações em relação ao próprio corpo, 
mais ou menos agradáveis e excitantes. O desper-
tar da sexualidade faz parte do desenvolvimento 
do ser humano. 
Marcada pela evolução e mudanças impe-
tuosas, a adolescência manifestase em todos os 
campos da vida da/o jovem: nas relações consigo 
própria/o (com o seu corpo, emoções, mentalida-
des, sexualidade...), nas suas atitudes e valores 
perante a vida, no seu desenvolvimento intelec-
tual, na sua família. Sendo a adolescência uma 
fase da vida essencial, ela é atravessada por múl-
tiplas tensões. O período da adolescência é difícil 
tanto para a/o jovem como para os seus pais. Se, 
por um lado, a/o filha/o está num processo de 
crescimento, não é menos verdade que identica-
mente os pais estão a desenvolver-se como pais, 
e nem sempre é confortável perder o estatuto 
de pais de crianças, sempre presentes e fáceis 
de controlar, para passar a ser pais de futuros 
adultos, independentes, que já ameaçam com o 
abandono, invocando a sua solidão. 
No mundo dos estudiosos do comportamento 
humano, a adolescência é vista como um período 
emocionalmente crítico. É um período de grandes 
transformações físicas e psicológicas que condu-
zem com frequência a alguma inquietação e tris-
teza. Caracterizase como uma fase de procura e 
construção da identidade. O adolescente contem-
porâneo é um ser de paradoxos, ele pode enun-
ciar verdades absolutas, intangíveis, e ao mesmo 
tempo dúvida intimamente de si próprio, do seu 
corpo e dos outros. É muitas vezes ahruísta e, si-
muhaneamente, pode revelar-se egoísta. Ele sen-
te estas contradições e poder-se-ia dizer que a 
adolescência é exatamente este período em que o 
indivíduo faz a experiência dos contraditórios e 
do sofrimento que eles concebem. 
A adolescência é um processo dinâmico, uma 
cascata de acontecimentos que culminam com a 
maturidade biológica, psicológica e social dos i n -
divíduos. Esta evolução envolve uma procura de 
identidade, num corpo diferente a cada dia que 
passa. Sampaio (2001 a) refere que a procura da 
identidade, assim como da autonomia, são as ques-
tões essenciais da adolescência. Pode dizer se que 
é a passagem da infância, período caracterizado 
pela dependência de várias figuras de autoridade, 
através do crescer psicológico, para a aquisição 
de autonomia e independência. Ser adolescente é 
viver um conflito entre a inerência da infância 
e o desenvolvimento da autonomia que levará ao 
início da idade adulta. Relembramos que o con 
ceito de adolescente nem sempre existiu. Antes 
do surgimento do conceito de adolescência, que 
se expandiu e consolidou na segunda metade do 
"Esta evolução envolve uma procura de identidade, 
num corpo diferente a cada dia que passa." 
século XX, passava-se da infância à idade adulta 
através de ritos de passagem religiosos, sociais ou 
militares. A partir de meados do século XX, i n i -
cia-se uma continuada reflexão científica e siste-
mática sobre a adolescência e os/as adolescentes. 
Nas sociedades designadas de primitivas, passa-
vase diretamente da infância para a idade adulta, 
através de certos fatos e ritos que marcavam essa 
passagem. A primeira menstruação e a capacida-
de de procriar eram o marco da transição para 
as raparigas. Aos rapazes era exigida uma prova 
de virilidade e de força. Para tal, a sociedade so-
lícita ao jovem que comprove a sua força e a sua 
capacidade de sacrifício em diferentes cerimónias, 
muitas das quais, ainda hoje se praticam entre 
alguns povos. 
Esperava-se que os rapazes fossem capazes 
de resistir às intempéries e ao medo, demonstran-
do desembaraço e segurança, alcançando assim o 
mundo e o estatuto de adulto. Os antropólogos têm 
desenvolvido inúmeros estudos em diferentes so-
ciedades, nas quais o início e o fim da adolescên-
cia são marcados por ritos e claramente definidos: 
entra-se na idade aduha num momento preciso, 
sem ambivalência em relação aos direitos e obri-
gações dos indivíduos. Os conhecidos estudos de 
Malinowski (1983) e Mead (1979) indicam que as 
questões ligadas à adolescência não são univer-
sais, mas sim contextualizadas numa cultura e 
num momento histórico. 
Os ritos australianos de puberdade, por 
exemplo, representam uma das muitas formas 
possíveis de iniciação para a passagem à idade 
adulta. É a esta sociedade que pediremos os nossos 
primeiros exemplos. Um número bastante grande 
de tribos participa na cerimónia e é essa a razão 
pela qual a preparação de uma festa de iniciação 
exige muito tempo. Passamse vários meses entre 
o momento em que se decide reunir as tribos e o 
princípio da cerimónia: "O chefe da tribo envia 
mensageiros, portadores de bullroarers, aos ou-
tros chefes para anunciarem a decisão de iniciar 
os rapazes. (...) Etudo feito com o maior cuidado 
para que as mulheres não se apercebam. Grosso 
modo, a cerimónia da iniciação comporta os se-
guintes momentos: l) a preparação de um terre-
no sagrado (...); 2) a separação dos noviços das 
mães (...); 3) a sua segregação no mato ou num 
campo especial, isolado, para aí serem instruídos 
nas tradições religiosas da tribo; 4) certas ope-
rações a que se submetem, sendo as mais fre-
quentes a circuncisão, a extracção de um dente, 
a subincisão, mas também a escarificação ou o 
arrancar dos cabelos." (Eliade, 2004: 24). 
Durante toda a iniciação, os rapazes devem 
seguir um comportamento consensualmente tido 
como o mais correto, para este ritual durante o 
qual enfrentam numerosas provas e são subme-
tidos a várias interdições alimentares. Cada ele-
mento desse cenário iniciático e complexo tem a 
sua interpretação religiosa. 
As iniciações das raparigas foram menos 
estudadas do que as dos rapazes. Dispomos de 
escassos elementos relativos à instrução religiosa 
das jovens raparigas durante a iniciação e, parti-
cularmente aos ritos secretos aos quais eram sub-
metidas. Apesar destas lacunas, podemos referir 
que a iniciação feminina começa com a primeira 
menstruação. "Este sintoma fisiológico, sinal de 
maturidade sexual, anuncia uma ruptura: o ar-
rancar da rapariga do seu mundo familiar. Ela 
fica imediatamente isolada, separada da comu-
nidade - o que nos lembra a separação do rapaz 
da mãe e a sua segregação. Tanto num sexo como 
no outro, a iniciação é marcada por uma ruptu-
ra. Existe apenas a diferença que, em relação as 
raparigas, a segregação se segue imediatamente 
d primeira menstruação, sendo portanto indivi-
dual enquanto em relação aos rapazes a inicia-
ção é colectiva. (...) Os ritos iniciáticos femininos 
(...) são menos dramáticos do que nos rapazes. 
O elemento importante ê constitudo pela segre-
gação. (...) Decorre na floresta (...) ou numa ca-
bana especial (...) são igualmente isoladas num 
canto obscuro da habitação e, em muitos povos. 
J 
NESTE PARADOXO ENCONTRAM-
SE, POR UM LADO, OS PAIS, 
DOS QUAIS A/O ADOLESCENTE 
PROCURA AUTONOMIZAR-SE, 
ENCONTRANDO-SE AO MESMO 
TEMPO DEPENDENTE DELES; 
ê/y 
nào podem ver o sol (...). Noutros sítios, é inter-
dito deixaremse tocar por qualquer pessoa ou 
de se mexerem. Uma interdição especifica das 
sociedades da América do Sul proíbe-as de en-
trarem em contacto com o solo (...) existe (...) um 
certo número de interdições alimentares." (Elia-
de, 2004: 73-75). 
Levine e Levine (1966) descreveramuma t r i -
bo do Quénia, na qual a transição da infância para 
a vida adulta ocorre de maneira rápida. Nesta t r i -
bo, as funções e responsabilidades das crianças 
e dos adultos são plenamente distintas. A passa-
gem é estritamente marcada por uma cerimónia 
ritual que consiste na circuncisão dos homens e 
na ablação do clitóris das mulheres. 
No povo Navajo, ao entrar na puberdade e 
após os rituais relacionados com a menstruação, 
as meninas recebem uma mensagem ritual, em 
todo o corpo, feita pelas mulheres e pelos homens 
da comunidade, exceto o pai (Maduefio, 2004). 
Cumpridos estes rituais, a moça ou o rapaz adqui-
rem uma nova identidade reconhecida por toda 
a comunidade. Saliente-se que a mudança não é 
tão rápida em todas as cuhuras. Nas sociedades 
europeias modernas, o processo de entrada na 
puberdade é bem mais lento. 
Segundo alguns antropólogos, o objetivo 
destes rituais é o de fazer passar a/o jovem de 
uma condição social para outra, pelo que são i n -
titulados rituais de passagem. Considera-se que 
compreendem três etapas: de separação (a/o jo-
vem sai do seu estado anterior), de latência (a/o 
jovem está entre os dois estados) e de agregação 
(a/o jovem adquire um novo estado). Cada estado 
simboliza as distintas etapas mentais pelas quais 
a criança tem de passar para chegar a adulta/o 
(Madueíio, 2004). 
Uma das principais dificuldades encontradas 
pelos estudiosos da adolescência é a de delimi-
tar a idade que corresponde a essa fase do de-
senvolvimento humano. Existem desiguais ritmos 
individuais de maturação, diferenças entre con-
textos cuhurais e geográficos e, para além disso, 
diferenças de trajetória e de experiência entre 
adolescentes. Todavia, todos os autores consuha-
dos concordam em que a adolescência se inicia 
com as transformações pubertárias e termina 
com o alcançar de autonomia e a aquisição de 
uma identidade estável. Adquirindo a capacidade 
de suportar tensões e contrariedades, de elaborar 
projectos de vida e de inserção social. Se, por um 
lado, é normal ocorrerem estas transformações, 
por outro é vulgar definir esta fase pela nega-
tiva através de expressões comuns como: idade 
34 
do armário, idade da parvoíce, idade da caixa, 
estar na fase... Para Claes (1990), as frases feitas 
do senso comum, baseadas em estereótipos, são 
obstáculos à compreensão dos/das adolescentes 
e das suas experiências. Segundo Braconnier e 
Marcelli (2000: 53); "a principal característica do 
processo de desenvolvimento da adolescência 
reside na relação que o sujeito estabelece com 
o seu corpo." Essa relação exprime~se alternada-
mente pelo amor, pelo ódio, pela alegria, pela ver-
gonha... em relação ao próprio corpo sexuado ou 
ao de outrem. 
Para Sprinthall e Sprinthall (1993: 152) o de-
senvolvimento pessoal durante a adolescência re-
presenta "um grande salto em frente, pois a/o 
adolescente consegue, agora, ser mais comple-
xa/o, compreensiva/o, empática/o e abstracta/o 
através de uma perspectiva mais abrangente de 
si própria/o e dos outros." Ser adolescente é lutar 
contra os seus impulsos e aceitá-los; amar os pais 
e odiálos; ter vergonha de os assumir perante os 
outros e querer conversar com eles; identificarse 
com e imitar os outros enquanto se procura uma 
identidade própria. Podemos ver a/o adolescente 
como idealista, artística/o, generosa/o e altruísta, 
como jamais o será novamente, mas também como 
o seu oposto: egoísta, calculista e egocêntrica/o. 
Esta ambivalência de sentimentos funciona 
para a/o adolescente como um misto de necessi-
dade de autonomia e de refúgio e de dependências 
perante aqueles que a/o podem proteger. Neste 
paradoxo encontram-se, por um lado, os pais, dos 
quais a/o adolescente procura autonomizarse, 
encontrandose ao mesmo tempo dependente de-
les; por outro, está o grupo de amigos, que tanto 
funciona como suporte de ideais, reivindicações 
ou ambições, como é a base de exploração e de 
descobertas sexuais. 
A adolescência é a passagem da infância ao 
mundo dos adultos e de todos os problemas asso-
ciados a essa passagem - a separação da família, 
dos seus valores e das suas crenças. É um período 
de vida caracterizado por contínuos renascimen-
tos, por uma predisposição de abertura ao outro, 
no que ele encerra em si de novo, de transposi-
ção de fronteiras, num suceder de descobertas e 
de desilusões. Estão ligadas a esta etapa de vida 
crises místicas, tempos de desilusões, desespero e 
um imenso sofrimento. Têm assim início as suces-
sivas mortes e renascimentos, que quase sempre 
ocorrem com- imensa dor e sofrimento. Simone 
de Beauvoir referia que a adolescência aconte-
cia quando as raparigas tomavam consciência de 
que os homens tinham o poder e que o seu único 
35 
poder era tornarem-se objetos submissos e ado-
rados. As raparigas adolescentes experimentam 
assim um conflito entre o desejo de autonomia e 
a necessidade de serem femininas e admiradas 
pelo sexo oposto. As raparigas deixariam de ser 
para parecer. 
A adolescência é o tempo das conquistas, das 
renúncias, das escolhas... O tempo das ameaças. 
Sampaio propõe uma nova maneira de olhar-
mos para a adolescência: "Em primeiro lugar, 
questionar por completo o tradicional conceito 
de adolescência. Perceber que muitas das ideias 
sobre este período são baseadas em observações 
de técnicos nos seus gabinetes, em presença de 
jovens que os procuram, porque estão perturba-
dos (ou porque os pais assim o entendem). (...) 
A preocupação em tratar os adolescentes pertur-
bados teve ainda como consequência o abandono 
de uma abordagem global da questão: na ânsia 
de compreendermos uma minoria, abandonámos 
a tentativa de compreensão de todos. Depois, de-
vemos também contestar a ideia de que a adoles-
cência é uma etapa de transição entre a infância 
e a idade adulta. Sei que é mais difícil apagar este 
ponto de vista, mas é fundamental. Quando defi-
nimos como uma transição o período que se inicia 
na puberdade e termina com a formação da per-
sonalidade, estamos desde logo a desresponsabili-
zar os adolescentes. Quem quer assumir compro-
missos se for classificado a todo o momento como 
irreverente, irresponsável, na idade da mudan-
ça, ou sem capacidade para tomar decisões, pelo 
facto de ainda não ser adulto? (...) Contestemos, 
pois, esta ideia de adolescência como um autocar-
ro que transporta os jovens desde crianças até 
serem adultos, um transporte onde poderão fazer 
todos os disparates só porque estão na 'idade di-
fícil' (...)." (2006: 217-218). Sampaio sugere, assim, 
um novo conceito de adolescência que encare os 
adolescentes como capazes de tomar decisões e 
de assumir as consequências dos seus atos. Essa 
mudança implicaria que a família e a escola atri-
buíssem responsabilidades crescentes aos jovens a 
partir dos 14 anos, em vez de se conceberem estra-
tégias para adolescentes em crise. Haveria, nesta 
perspectiva, um longo caminho a percorrer muitos 
tabus e mitos a derrubar (Sampaio, 2006). 
* Dina de Carvalho é doutora em Sociologia do Conhecimento, 
da Cultura e da Comunicação pela Universidade de Coimbra, com 
uma tese sobre a experiência da gravidez na adolescência. Tem 
desenvolvido trabalhos de docência e produção científica nas áreas 
da sociologia e psicologia da saúde. É investigadora no Centro de 
Investigação de Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - FCSH/ 
NOVA, Lisboa e CIGS.NOVA Uminho. Universidade do Minho. É mestre 
em Sociologia da Saúde e em Neuropsicologia Pediátrica. Atualmente, 
desenvolve um projeto em Angola, nas províncias de Cuanza Sul, 
Cuando Cubango e Luanda Sul. E-mail: dina.peixoto@gmail.com 
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