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INSTITUTO DE ESTUDOS EM DIREITO E SOCIEDADE – IEDS FACULDADE DE DIREITO – FADIR DISCENTE: REYNALDO LOBATO SOUSA Matrícula 202044627042 TEMA: SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS E OS CASOS ENVOLVENDO O ESTADO BRASILEIRO Trabalho apresentado Instituto de Estudos em Direito e Sociedade – IEDS- Faculdade de Direito – FADIR/ UNIFESSPA, para obtenção de nota à disciplina Direitos Humanos, orientado pela professora Maria José Andrade de Souza MOCAJUBA – PARÁ 2020 DOS FATOS O relatório de número 35/01 que trata do caso 11.634, intitulado “Jailton Neri da Fonseca", revela os traços da desigualdade social dentro do sistema de justiça e segurança pública como está configurado o Brasil, na qual costumeiramente as violações de direitos humanos são protagonizadas por aqueles que deveriam efetivar a sua consolidação. Dessa forma, a vítima desse episódio é uma criança. Mormente, Jailton Neri da Fonseca era uma criança de 13 anos de idade quando teve sua vida interrompida em 22 de dezembro de 1992, alvo de disparos intencionais contra seu corpo. O jovem de origem afrodescendente estava próximo à sua residência, na favela de Ramos, quando foi surpreendido por policiais militares que, sem ordem judicial, flagrante delito ou qualquer suspeita de desvio de comportamento, foi detido ilegalmente pelos agentes que o executaram e arrastaram seu corpo até a praia de Ramos, no Rio de Janeiro. Devido a isso, o peticionário do caso, o Centro de Defesa Dom Luciano Mendes, alegou em relatório encaminhado à Comissão Internacional de Direitos Humanos, que o infante já havia sido enquadrado por policiais militares poucos dias antes de seu assassinato e exigiram de sua genitora o valor de um milhão e meio de cruzados para a sua liberdade, comprovando, dessa forma, ação arbitrária dos militares diante da perseguição às crianças racialmente suspeitas. ● Assunto: Morte decorrente de intervenção policial ● Partes: Polo ativo: Centro de Defesa Dom Luciano Mendes Polo passivo: República Federativa do Brasil DA ADMISSIBILIDADE Analisando os aspectos políticos, jurídicos e diplomáticos quanto à conjuntura que torna favorável a admissão da petição enviada à Comissão Interamericana dos DH, destaca-se: I. Violação do Direto à Vida e integridade pessoal, uma vez que a autoridade policial arbitrariamente dispõe sobre a sobrevivência da criança, sem chances de defesa, se configurando homicídio qualificado. II. Violação do Direto à proteção judicial, posto que o acesso à justiça por parte da vítima foi negado, na medida em que apresentava evidente histórico de perseguição policial, sobretudo por conta de seu estereótipo socio-racial (negro, pobre e periférico). III. Violação do Direto a um Processo Judicial Justo ou Princípio da Legalidade. Embora assegurado pela Constituição Federal de 1988 o direito à legalidade e transparência no processo judicial, os mecanismos utilizados pelos policiais na condução e execução de medidas para a obtenção de "justiça", se dão por vias extrajudiciais, na qual a tradição inquisitorial pela qual conduz a postura do agente de segurança pública é marcada pela discricionariedade, arbitrariedade e corrupção na corporação policial. Nesse contexto, o garoto Neri foi mais uma vítima desse sistema perverso. IV. Violação do direito a um julgamento justo. Nesse viés, a parcialidade dos Tribunais Militares nas sentenças dos quatro policias acusados na morte da criança, refletiram nas suas absolvições, fundamentado o princípio dúbio in pro réu que na ausência de provas o réu é favorecido. Entretanto, o processo penal aponta contrariedade dos fatos narrados pelos policiais em seus depoimentos, bem como negação à extorsão da mãe da vítima. V. Violações do Direito à Criança e ao Adolescente, haja vista que as leis de proteção aos infantos são insuficiente diante da condição de vulnerabilidade, marcada pela violência nas periferias, a qual impossibilita que o jovem desfrute do seu direito de viver em um ambiente de Bem-estar social, pois o exercício de seus direitos básicos, enquanto adolescente, é sobreposto pela força do Estado que legitimamente invade, destrói e mata em nome do "combate às drogas". DOS REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE Os requisitos para a admissão da petição levam-se em consideração as circunstâncias dos fatos à luz dos critérios de subsunção legal, estabelecidos nos termos dos artigos 46 e 47 da Convenção Americana, a saber: ● Esgotamento dos recursos internos; ● Prazo para protocolar a petição; ● Duplicação de processos ou coisa julgada ● Caracterização dos fatos; DA CONCLUSÃO A Comissão Internacional de Direitos Humanos, em seu relatório final de março de 2004 faz as seguintes conclusões, mediante os requisitos avaliados no caso: ● Que; os agentes de segurança pública (policiais civis e militares) atuaram de forma negligente, falha e atrasada nas investigações efetuadas, resultando na absolvição dos acusados pelo Tribunal Militar no ano de 1996; ● Que; o Estado brasileiro é o responsável pelas violações dos direitos à vida, à liberdade pessoal, aos direitos de proteção infantil e judicial, bem como violador das garantias judiciais prevista na Convenção Interamericana; ● Que; o Brasil desrespeitou sua obrigação de adotar disposições de direito interno, conforme dispõe o artigo 2° da Comissão Interamericana dos DH, posto que os fatos foram denunciados em 22 de dezembro de 1992 e durante esse período o país já tinha vínculo formal com a Comissão, portanto comprometido em respeitar e cumprir as diretrizes estabelecidas; ● Que; no presente caso houve esgotamento de recursos no âmbito interno, em virtude da sentença do Tribunal Militar que torna definitiva a decisão. Desse modo, a Comissão considera que o julgamento das violações de Direitos Humanos pelos tribunais militares não constitui um recuso eficaz. ● Que; os fatos alegados no peticionamento constituem violações de direitos protegidos pela Convenção Americana; ● Que; a Comissão tem competência para examinar o caso e declarar a admissibilidade dos requisitos apresentados. DA DECISÃO Diante da comprovação dos requisitos supracitados, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos decide: ● A admissibilidade da petição; ● Recomendar ao Estado brasileiro que tome “medidas de educação dos funcionários da justiça e da Polícia, para evitar ações que implique parcialidade e discriminação racial nas investigações, no processo ou na condenação penal”; ● Notificar o Estado brasileiro e as partes envolvidas; ● Continuar com a análise de mérito da questão; ● Publicar a decisão no relatório da Comissão à Assembleia Geral da OEA. DA IMPLEMENTAÇÃO Antecedentes: Em 14 de junho de 1996, o Brasil foi intimado a prestar esclarecimentos acerca da petição movida pelo Centro de Defesa Dom Luciano Mendes sobre o ocorrido com o adolescente Jailton Neri Fonseca. A nação brasileira informou na época que o conflito na favela Ramos, no Rio de Janeiro, se tratava de uma operação policial e que a ação dos policiais se deu em defesa da ordem pública, assim como atesta a falta de provas que incriminavam os agentes envolvidos, visto que, por unanimidade, o tribunal Militar decretou a inocência dos acusados. Outrossim, ainda sobre os esclarecimentos à petição, o Estado alegou que em relação a indenização em favor da vítima ou de seus familiares, foi movida na Justiça Civil do Estado do Rio de Janeiro a ação para tal garantia, porém a disponibilidade dela dependia do desfecho do processo instaurado no sistema de justiça criminal do estado. Todavia, transcorridos 16 anos desde a recomendação simbólica feita ao Brasil pelo caso do menino Jailton Neri Fonseca e contados do momento do recebimento da petição em 11 de julho de 1998, já somam-se 22 anos em que a República Federativa do Brasil não realizou nenhuma recomendação a qual foi julgada (CIDH. Informe n° 33/04, par 157). Dessa maneira, é notória as tentativas de negação às violações de direitos fundamentais por partedo Brasil, a resistência em aceitar sua responsabilidade perante à Comissão foi, ao longo de todo o processo judicial, crucial para a manutenção de impunidades e empecilhos na elaboração de estratégias que visem a promoção de justiça à vítima e a sociedade brasileira. 2) Pesquisem sobre a participação do estado brasileiro no Sistema Interamericano de Direitos Humanos (histórico, convenções assinadas). Mormente, em virtude da Segunda Guerra Mundial, na qual atrocidades e barbáries foram ocasionadas pelas nações de regimes totalitários, o sentimento de humanidade havia sido posto em cheque, sobretudo a dignidade humana dos povos menos representativos. Nesse contexto, as organizações internacionais se mobilizaram no sentido de resgatar os princípios e valores que dão sentindo à vida humana. Com isso, foi aprovada em 1948, em Bogotá, a Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem na IX Conferência Internacional Americana, dando origem, assim, ao Sistema Internacional de Direitos Humanos e a Carta da OEA, constituindo os Sistemas Regionais de Direitos Humanos. Nesse sentido, considerando o contexto do século XX, via-se necessário a consolidação de órgãos em escalas internacionais que assegurassem a efetividade de direitos universais. Dessa forma, o Sistema Interamericano de Direitos Humanos possuía papel fundamental na concretude dos Direitos Humanos na América, visando estabelecer a democracia na promoção dos Direitos Humanos aos países americanos que estão sobre sua jurisdição. Tendo isso em vista, durante uns anos, a Declaração do Homem regia as diretrizes do Sistema Interamericano, o qual apresentava algumas insuficiências. Contudo, no ano de 1969 foi adotado o Pacto San José da Costa Rica, importante documento de ordem internacional que passou a moldar os parâmetros de regulamento do Sistema Interamericano e vigora até os dias atuais. Além desses dois documentos, os outros registros que constituem o Sistema Interamericano de proteção aos DH, são: Protocolo Adicional a Convenção Americana Sobre Direitos Humanos em Matéria de Direitos Econômicos, sociais e culturais (Protocolo de San Salvador), Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, Convenção Americana para Punir Prevenir e Erradicar a Violência contra Mulher (Convenção de Belém do Pará), Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Pessoas portadoras de Deficiência. Até 2018, 24 países assinaram o Pacto San José da Costa Rica, se comprometendo em combater as violações de direitos humanos dentro de seus territórios. Outrossim, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos é sedeada na cidade de Washington DC, nos EUA, e conta com sete membros eleitos entre listas de candidatos que podem ser encaminhadas por todos os membros da OEA. Dentre as funções executadas pela Comissão estão a de realizar visitas in locus nos territórios dos países membros, função esta que garante melhor efetividade dos direitos diante do contato com a realidade dos problemas; publicar informes sobre a atuação dos Estados; em relação à observação dos Direitos Humanos, recomendar medidas aos Estados, receber analisar e investigar petições, bem como provocar a função jurisdicional da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Já a Corte Interamericana de Direitos Humanos – órgão mais importante do Sistema Interamericano de Direitos Humanos, criado pelo Pacto San José da Costa Rica –só iniciou suas atividades em 1979 quando o número mínimo de ratificações do Pacto foi alcançado. A Corte, localizada na Capital da Costa Rica, composta por sete juízes eleitos pela Assembleia Geral da OEA, entre os candidatos apresentados pelos países membros, possui competência consultiva e contenciosa, ou seja, a capacidade para interpretar as normas que serão aplicadas os casos e julgar os Estados que descumprirem com os documentos que compõe os Direitos Humanos respectivamente, desde que o país reconheça a competência da Corte, conforme disposição do artigo 62 do Pacto. Sob outra perspectiva, quanto à atuação brasileira em relação aos Direitos Humanos pode-se dizer que esta apresenta um histórico de assimilaridade com tratados e princípios, como na primeira Constituição brasileira outorgada em 1824 no tempo do Império, que já previa os princípios e garantias dos direitos políticos e civis, como o direito à liberdade, à segurança individual e a propriedade. Todavia, o regime escravocrata ainda persistia, como uma afronta aos direitos constituídos. Na Constituição de 1891, no período Republicano, outros direitos importantes estavam inclusos, como o sufrágio direito para eleições de presidente, vice, senadores e deputados; entretanto esse sufrágio não era universal, haja vista que mulheres, analfabetos e mendigos não podiam exercer a cidadania, bem como a criação do Habeas Corpus, que se tornou um marco para a proteção de ilegalidades, violências, e violações à liberdade, proporcionando, portanto, um instrumento de defesa dos direitos humanos. A Constituição que a sucede é a de 1934, que aprimorou ainda mais as garantias em caráter de segurança individual, garantias trabalhistas e diversos ganhos em direitos sociais. Em contrapartida, a Constituição de 1937 trouxe empecilhos no que diz respeito aos direitos humanos, como o fim da liberdade política, o controle da sociedade e a massiva censura à imprensa e a liberdade de expressão, imposto pelo Governo monocrático de Getúlio Vargas. Com o fim do cenário autoritário, a Constituição de 1946 resgata os direitos e garantias que foram descartados, bem como os amplia. Contudo, a repressão volta a tomar protagonismo em 15 de maio de 1964 com o golpe constitucionalista, que trazia consigo lastros de autoritarismo e centralidade do poder nas mãos dos militares. Durante o período que vigorou apresentou forte ameaças aos Direitos Humanos, com foco especialmente aos direitos políticos, marcado, sobretudo pelas torturas, sequestros, assassinatos e desaparecimento de opositores. Hodiernamente, a Constituição Federal de 1988 é, sem dúvidas, a mais completa em relação aos Direitos Humanos, por apresentar em seu ordenamento jurídico ferramentas que possibilitam a garantia dos direitos humanos à todos, sem quaisquer distinção. Nesse prisma, as prerrogativas dessa constituição favorecem à adesão do país em acordos e tratados que versam sobre essa matéria, haja vista que, a Carta Cidadã dispõe em seu artigo 5°, inciso LXXVIII, § 3°, que os tratos e acordos sobre matéria de Direitos Humanos passam a integrar o ordenamento jurídico brasileiro, especialmente a partir de 2004 quando ganham status de emenda à constituição. Devido a isso, no ano de 1992 o Brasil assina o Pacto de San José da Costa da Costa Rica, aceitando a jurisdição da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e posteriormente em 1998, por pressões internas, reconheceu formalmente a jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Como já mencionado, o Sistema Interamericano de proteção de Direitos Humanos garantiria aos Estados membros, no plano internacional, a imagem do país respeitador e garantidor dos Direitos Humanos, bem como maiores chances de efetiva proteção desses direitos internamente. Nesse viés, o Brasil ao longo dos anos ratificou vários tratados no âmbito da Comissão Interamericana, como: Convenção Americana sobre Direitos Humanos (1969), Convenção Interamericana para Prevenir e Punir Tortura (1985), este em especial foi um marco para efetivação dos direitos humanos no Brasil, pois a partir dele novos tratados foram ratificados, Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (1994), Convenção Interamericana sobre Tráfico Internacional de Menores (1994), Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Pessoas Portadoras de Deficiência (1999). Destarte, faz-se clara a relação entre o desenvolvimento da democratização no Brasil e o processo de incorporação de relevantesinstrumentos internacionais de proteção dos direitos humanos, tendo em vista que, se a democratização permitiu a ratificação de relevantes tratados de direitos humanos, por sua vez, esta ratificação favoreceu o fortalecimento do processo democrático, através da ampliação e do reforço do universo de direitos fundamentais por ele assegurado. Referências 01: Relatório n° 35/01 da OEA http://cidh.org/annualrep/2000eng/ChapterIII/Admissible/Brazil11.634.htm Convenção Americana Sobre Direitos Humanos (Lei) https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm#:~:text=Nin gu%C3%A9m%20deve%20ser%20submetido%20a,passar%20da%20pessoa%20do%20 delinq%C3%BCente. XXV CONGRESSO DO CONPEDI – CURITIBA EDUARDO BIACCHI GOMES FABRICIO BERTINI PASQUOT POLIDO Referências 02: http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotec avirtual/direitos/tratado7.htm http://cidh.org/annualrep/2000eng/ChapterIII/Admissible/Brazil11.634.htm https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm#:~:text=Ningu%C3%A9m%20deve%20ser%20submetido%20a,passar%20da%20pessoa%20do%20delinq%C3%BCente https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm#:~:text=Ningu%C3%A9m%20deve%20ser%20submetido%20a,passar%20da%20pessoa%20do%20delinq%C3%BCente https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm#:~:text=Ningu%C3%A9m%20deve%20ser%20submetido%20a,passar%20da%20pessoa%20do%20delinq%C3%BCente http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotec%20avirtual/direitos/tratado7.htm https://direitodiario.com.br/tratados-internacionais-direitos-humanos-recepcao-hierarquia/ https://www.politize.com.br/direitos-humanos-no-brasil/ https://www.politize.com.br/sistema-interamericano-de-protecao-dos-direitos-humanos/ https://direitodiario.com.br/tratados-internacionais-direitos-humanos-recepcao-hierarquia/ https://www.politize.com.br/direitos-humanos-no-brasil/ https://www.politize.com.br/sistema-interamericano-de-protecao-dos-direitos-humanos/
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