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1 INTRODUÇÃO: • Os linfonodos são aglomerados estruturados de linfócitos envolvidos por uma cápsula de tecido fibroso, que recebem os vasos linfáticos aferentes que drenam a linfa para o seio subcapsular; • Os gânglios possuem camadas; • A camada interna ou medular contém linfócitos e macrófagos mais esparsos e próximos de sinusoides vasculares e linfáticos; • Os linfáticos eferentes estão localizados no hilo dos linfonodos; • Cada gânglio linfático possui também um vaso sanguíneo aferente e outro eferente, que são os responsáveis pelo suprimento de sangue; • A distribuição dos linfócitos T e B não é homogênea. Assim, os linfócitos T localizam-se predominantemente na área parafolicular situada entre os folículos e no córtex profundo. Por outro lado, os folículos são ricos em linfócitos B; • O aumento do tamanho dos gânglios é uma manifestação clínica comum, que ocasiona grande preocupação aos pacientes. É frequente em doenças hematológicas, mas aparece também em doenças infecciosas, em doenças autoimunes, em reações ao uso de medicamentos, em metástases carcinomatosas e em outras doenças em que o mecanismo fisiopatológico não é bem conhecido; • A primeira pergunta a ser respondida em um caso com linfadenomegalia é o tamanho a partir do qual um linfonodo aumentado é considerado anormal. Esta resposta não é simples, pois não existem parâmetros exatos para essa definição; • O limite varia com a idade e a ocupação do paciente, a localização dos gânglios, a duração e a progressão da linfadenomegalia. Usualmente, crianças e adolescentes têm mais gânglios palpáveis do que os adultos; aumento de gânglios inguinais são frequentes, devido a ferimentos nos pés e a infecções por dermatófitos; aumento de gânglios epitrocleares e axilares são mais comuns em trabalhadores braçais, devido a ferimentos nas mãos; • Em condições de normalidade, os únicos gânglios palpáveis, em adultos, são os da região inguinal, onde linfonodos de 0,2 a 2,0 cm são encontrados abaixo do ligamento inguinal e no triângulo femoral; • Em crianças, gânglios pequenos, de 0,5 a 1,0 cm, são usualmente palpáveis na região cervical. A palpação deve ser realizada com o paciente em uma posição relaxada, usando a polpa digital dos dedos indicador e médio, movimentando a pele sobre os tecidos adjacentes e não os dedos sobre a pele, com aumento progressivo da pressão; 2 • O examinador deve definir a dimensão em dois eixos, de um lado ao outro e de cima até embaixo; • Linfonodos pequenos, móveis e indolores são usualmente encontrados em indivíduos normais; • Outro ponto a ser considerado é que nem sempre massas palpáveis são gânglios: abscessos (particularmente periodontais), cistos de tireoide, glândulas salivares, cistos do ducto tireoglosso podem estar presentes no pescoço; hérnias inguinais e aneurismas vasculares nas virilhas podem ser confundidos com gânglios; • Considera-se linfonodomegalia expressiva o aumento de um nódulo linfático maior que 10 mm, em mais de um local anatômico, dos linfonodos epitrocleares com mais de 5 mm e do linfonodo inguinal maior que 15 mm; • Nas crianças e adolescentes de até 12 anos de idade, os linfonodos axilares, cervicais e inguinais de até 1 cm de diâmetro podem ser considerados normais; já nos neonatos, qualquer linfonodo palpável é anormal. • Os linfonodos são estruturas que, após uma grande variedade de estímulos patológicos, podem responder com inflamação e hiperplasia. CARACTERÍSTICAS DOS GÂNGLIOS: • A avaliação inicial de um paciente com linfadenomegalia inclui um exame físico completo; • A localização, o tamanho do linfonodo em duas dimensões (geralmente quanto maior o tamanho maior é a probabilidade de ser neoplásico), a sua consistência, a adesão ou não a planos profundos, a sensibilidade (gânglios dolorosos têm menos probabilidade de serem cancerosos), a fistulização e a presença de sinais inflamatórios devem ser avaliados; • Deve ser cuidadosamente realizado o exame das áreas de drenagem dos gânglios afetados; • A localização dos gânglios fornece pistas importantes para a identificação da causa da linfadenomegalia; • Nas doenças infecciosas, o envolvimento costuma ser regional, comprometendo as áreas de drenagem dos locais envolvidos; • Nas metástases de carcinomas, a localização do gânglio comprometido pode ajudar na elucidação do diagnóstico do tumor primário; • A consistência dos gânglios pode ajudar no estabelecimento da etiologia. Assim, gânglios duros, indolores, aderentes a planos profundos ou formando um plastrão são encontrados em carcinomas metastáticos; os gânglios nas leucemias e linfomas têm consistência firme e são indolores; gânglios firmes e dolorosos são encontrados em áreas de drenagem de infecções bacterianas; na paracoccidioidomicose os gânglios costumam ceder à pressão dos dedos, indicando um conteúdo líquido no seu interior; • Entretanto, nenhuma dessas características é diagnóstica, e a biópsia e outros exames complementares são fundamentais para o estabelecimento do diagnóstico; • A biópsia por aspiração com agulha fina nunca deve ser a primeira opção. Ela pode ser útil quando o diagnóstico de neoplasia já foi anteriormente estabelecido e agora existe a suspeita de recaída ou de metástase; • O diagnóstico preciso da causa da linfadenomegalia tem início com escolha do gânglio a ser biopsiado; • Os gânglios maiores são usualmente os mais desejáveis. Se presentes, gânglios cervicais baixos e supraclaviculares são particularmente recomendados. Sempre que possível, os gânglios inguinais devem ser evitados; • Outra prática recomendável é encaminhar a um cirurgião experiente, para que extraia um gânglio representativo e por inteiro; • Outra decisão difícil é o momento oportuno para a realização da biópsia. Assim, linfadenomegalias com duração prolongada (três a quatro semanas), de curso progressivo ou muito volumosas, ou de consistência muito endurecida, ou localizadas em cadeias supraclaviculares devem ser biopsiadas se os exames para as causas infecciosas, inflamatórias e hematológicas forem negativos ou 3 inconclusivos. Estes incluem exames radiológicos, reações sorológicas, exames microbiológicos, o exame hematológico e, eventualmente, o aspirado de medula óssea; • A biópsia de medula óssea deve ser realizada somente após a realização desses exames. DIAGNÓSTICO: • Os dados iniciais para o diagnóstico são fornecidos por meio de anamnese cuidadosa e de exame físico completo, os quais facilitarão o diagnóstico correto na maioria dos pacientes. DIAGNÓSTICO CLÍNICO • A história clínica detalhada, analisando antecedente de infecção de vias aéreas superiores, picada de animal, problema dentário ou cutâneo, arranhadura de gato, uso de drogas e um estudo epidemiológico dos contatos, auxiliará a investigação diagnóstica; • Na avaliação de uma criança com linfonodomegalia, deve-se também considerar a idade, o estado vacinal, as condições de moradia, bem como o tempo de evolução da linfonodomegalia; • No exame físico, é necessário avaliar o comprometimento de todas as cadeias (occipitais, auriculares posteriores , pré-auriculares, tonsilares, submandibulares, submentonianos, cervicais anteriores altos e baixos, supraclaviculares, infraclaviculares, epitrocleares, axilares , ulnares, poplíteos e inguinais) e identificar a presença de hepatoesplenomegalia ou outros sinais e sintomas que possam estar associados; • O local de comprometimento deve ser avaliado no exame físico; • A região cervical é, frequentemente, a mais acometida, por ser área de drenagem de vias aéreas superiores e devido ao fato de a criança estar propícia, principalmente no primeiro ano de vida, a infecções virais de repetição; • A palpação da região cervical é de grande importância, pois o diagnóstico precoce possibilitará a cura de doençasmalignas, e, especialmente nessa localização, o linfoma de Hodgkin; • Na cavidade oral, deve ser realizada uma inspeção cuidadosa, tendo-se consciência que esta não é apenas uma via para inspecionar as amígdalas; • Na região inguinal, por ser local de drenagem dos membros inferiores e área mais sujeita aos traumas, principalmente nos meninos, os linfonodos podem estar aumentados e não possuírem repercussão clínica significativa. Os linfonodos de outros locais, como o mediastino e o abdome, também devem ser avaliados; • Em relação ao processo de avaliação do gânglio, deve-se observar na inspeção: ➢ Simetria: o aumento simétrico dos linfonodos é indicativo de processo inflamatório; ➢ Assimetria: em caso de linfonodomegalia relativamente volumosa, sem qualquer processo infeccioso que a justifique, deve-se suspeitar de linfoma de Hodgkin ou de metástase. • Apesar de ser difícil definir a causa etiológica pela característica do gânglio, os dados sobre consistência, mobilidade, ausculta, presença de dor e de outros sinais inflamatórios são importantes de serem avaliados. ➢ Consistência: se semelhante à de uma borracha, sugere inflamação; se houver flutuação com supuração, sugere tuberculose; se estiver firme, sugere processo crônico; e em forma pétrea, está relacionado a metástases de tumores sólidos. ➢ Mobilidade: linfonodos livres e não-aderentes são próprios dos processos agudos. ➢ Dor: fenômeno importante, principalmente naqueles linfonodos de crescimento rápido. ➢ Calor e rubor: estão associados às adenites agudas bacterianas, muitas vezes com formação de abscesso e supuração. • Na avaliação de uma linfonodomegalia, também devem ser considerados outros sinais/sintomas, como febre, palidez, icterícia, púrpura, exantema ou enantema, esplenomegalia e hepatomegalia, entre outros; • Após essas avaliações, a causa etiológica pode ser melhor definida, como descrita a seguir: ➢ Linfonodomegalia bem delimitada, com característica inflamatória aguda, coexistência de processo agudo oral dentário ou amigdaliano de origem bacteriana. 4 ➢ Linfonodomegalia difusa bilateral, com hiperemia de orofaringe, febre e consistência elástica, por vezes com presença de linfonodomegalias em outros locais; baço e fígado palpáveis. Ocasionalmente há amigdalite difteróide, e raramente exantema (este último é sugestivo de mononucleose infecciosa). ➢ Linfonodomegalia confluente, assimétrica e de instalação lenta, caracterizando a cronicidade do processo; a etiologia tuberculosa ou por micobactéria torna-se muito provável. ➢ Linfonodomegalia de instalação insidiosa e indolor, de dimensões variáveis, mas sempre expressiva; às vezes, há febrícula, sudorese noturna, prurido e evolução por meses, o que sugere o diagnóstico de linfomas, especialmente o de Hodgkin. ➢ Linfonodomegalia, palidez, febre, hepatoesplenomegalia, dor óssea e manifestações hemorrágicas sugerem o diagnóstico de leucemia. ➢ Linfonodomegalias acompanhadas de nodulações sub-cutâneas, geralmente encontradas nos neuroblastomas de recém-nascidos, nos quais observa-se metástases frequentes para os gânglios linfáticos. ➢ Linfonodomegalias generalizadas acompanhadas de quadros infecciosos graves e de repetição podem ser causadas por imunodeficiências. ➢ No caso de linfonodomegalia acompanhada de assimetria facial, há possibilidade diagnóstica de linfoma de Burkitt. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL: • Na investigação laboratorial, deve-se enfocar os exames adequados para cada caso, com base na hipótese diagnóstica; • O hemograma completo com velocidade de hemossedimentação (VHS) é um exame inicial importante para o auxílio diagnóstico. Posteriormente, deve ser analisada a necessidade de outros exames, como teste de derivado protéico purificado (PPD), raio-X de tórax e/ou tomografia computadorizada (TC) de tórax (investigação de adenopatia mediastinal), ultrassonografia de abdome, pesquisa laboratorial de doenças venéreas (VDRL) , desidrogenase lática (LDH), sorologia para mononucleose, toxoplasmose, citomegalovírus, vírus da imunodeficiência humana, vírus Epstein-Barr , dosagem de antiestreptolisina O e pesquisa de estreptococos de orofaringe; • A punção aspirativa com agulha fina pode ser importante, porém é pouco utilizada em crianças; • A toxoplasmose e a sífilis são frequentemente acompanhadas de outras manifestações clínicas e as provas sorológicas ajudam no diagnóstico; • O hemograma completo com VHS permite analisar as variações celulares qualitativas e quantitativas; • O achado de monotonia celular, anemia e/ou plaquetopenia, orienta para a realização de mielograma para uma elucidação diagnóstica; • Fatores que podem indicar a realização de biópsia ganglionar: ➢ Crianças com mais de 10 anos de idade; ➢ Presença persistente e inexplicável de febre e/ou perda de peso, sudorese noturna, linfonodomegalia generalizada e hepatoesplenomegalia; ➢ Fixação de gânglio à pele ou a planos profundos, de crescimento rápido e endurecido; ➢ Localização supraclavicular ou de mediastino; ➢ Aumento progressivo do gânglio, ou não-regressão do mesmo em 4 semanas ou mais; ➢ Gânglios de tamanho maior que o inicial após 2 semanas de uso de antibióticos; ➢ Gânglios que não diminuem de tamanho após 4 a 6 semanas ou que não retornam ao tamanho normal em 8 a 12 semanas, principalmente se associados a novos sinais e/ou sintomas. • Na maioria das linfonodomegalias, o diagnóstico histológico encontrado é de linfadenite reacional; • A biópsia está indicada em pacientes cuja investigação laboratorial não tiver sido conclusiva. Caso a linfonodomegalia seja persistente e de localização não- habitual, como axilar, epitroclear ou pré- auricular, deve-se realizar a biópsia imediatamente; 5 • A escolha do gânglio a ser biopsiado deve ser feita pelo cirurgião em conjunto com o oncologista, e obedecer a certos critérios, como: não deve ser apenas o maior gânglio ou o de melhor acesso, e sim o mais representativo; alguns locais devem ser evitados, como o submentoniano, o cervical alto e os inguinais, pois possuem elevado percentual de falsos resultados; o gânglio deve ser retirado preferencialmente por inteiro, com cápsula íntegra e colocado em recipiente adequado, para que o patologista tenha um material de boa qualidade para análise histopatológica e imuno-histoquímica; CAUSAS DE LINFONODOMEGALIA: REACIONAIS: INFECÇÕES: • Infecções causadas por diferentes micro-organismos podem causar linfadenomegalia, geralmente acompanhada de febre; • O aumento ganglionar pode ser localizado ou generalizado, e a sua duração pode ser prolongada, como acontece na tuberculose e na paracoccidioidomicose, ou curta, como observado na maioria das viroses; • O micro-organismo pode estar presente no gânglio, como na tuberculose e na paracoccidioidomicose, ou o aumento pode ser consequência da resposta imune, sem a presença do agente causal, como ocorre na Aids, na sífilis secundária, e na mononucleose infecciosa; • Os exames clínico e hematológico conduzem, na maioria dos casos, à hipótese diagnóstica, que deve ser confirmada por exames de imagem e de reações sorológicas específicas. Raramente a biópsia do gânglio é necessária e, quando efetuada, mostra a preservação da estrutura do órgão. NÃO INFECCIOSAS OU INFLAMATÓRIAS: • Os gânglios podem aumentar em doenças autoimunes, em reações de hipersensibilidade a drogas, em que o exemplo mais comum é o hidantoinato (mas também agentes antitireoidianos e isoniazida), e em doenças inflamatórias, como a sarcoidose; DOENÇAS NEOPLÁSICAS-METÁSTASES: • O envolvimento de linfonodos regionais por células tumorais é bastante frequente em alguns carcinomas e em outros tumores; • A extensão desse comprometimento constitui um dos elementos do estadiamento, e tem importância prognóstica. A retirada cirúrgica dos gânglios comprometidos tem pouco impacto na sobrevida,embora tenha importância no controle local da doença. Os gânglios têm consistência endurecida, não são dolorosos, e são aderentes a planos profundos e a outros gânglios; DOENÇAS HEMATOLÓGICAS: • A linfadenomegalia é um dos achados clínicos mais comum em pacientes com doenças hematológicas, e a sua associação ou não com a esplenomegalia constitui um elemento clínico importante para o diagnóstico; • Nos linfomas de baixo grau proliferativo, a linfadenopatia pode ser localizada ou generalizada e as cadeias retroperitoneais, mesentéricas e pélvicas podem estar comprometidas. Nos linfomas de grau intermediário ou de alto grau proliferativo, a linfadenopatia pode ocorrer de forma isolada ou associada a comprometimento extranodal (pele e gastrointestinal); • Nas leucemias agudas ocorre infiltração dos gânglios com o consequente aumento dos mesmos; • Na leucemia linfoide crônica o aumento de gânglios, geralmente generalizado; • A maioria dos pacientes é assintomática e o diagnóstico ocorre em um exame de rotina. Os gânglios são geralmente pequenos, mas podem ser muito volumosos. DOENÇAS INFILTRATIVAS NÃO NEOPLÁSICAS: 6 • Esse grupo é constituído por doenças em que o aumento dos gânglios é determinado pelo acúmulo de substâncias nos macrófagos; • Muitas vezes a adenomegalia, que não é dolorosa, podendo ser difusa ou localizada, é a manifestação inicial da doença; • O diagnóstico é feito em material de biópsia, que revela a deposição de material fibrilar. 7 REFERÊNCIAS HOFFBRAND, A. V.; MOSS, P. A. H. Fundamentos em Hematologia de Hoffbrand. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2018. p. 1-370.
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