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AULÃO TURBO CEISC - DIREITO PENAL (PARTE ESPECIAL) - EXAME DA OAB - CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA SÚMULA 599 DO STJ: "O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a Adm. Pública." Exceção: relação ao crime de descaminho (Art. 334, CP), o STJ e STF reconhecem a insignificância para valores até 20 mil reais, em decorrência da Portaria 75/2012 do Ministério da Fazenda (não vale a pena cobrar, não vale a pena ingressar com a ação penal). 1. Crimes funcionais Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. São crimes próprios (qualidade do sujeito ativo), que, em regra, é um funcionário público. Art. 327, caput traz o conceito de funcionário público. Basta um vínculo formal com o Poder Público. Estagiário, servidor temporário, trabalhador volunário, comissionado podem cometer crime funcional. Funcionário público por equiparação também responde por crime funcional, ex: médico que presta serviço ao SUS por meio de convênio com hospital particular, funcionário de empresa privada contratada por município que presta serviço de limpeza. Jurisprudência considera o advogado dativo funcionário público para fins penais. O particular pode responder por crime funcional? Sim, nos termos do Art. 30 do CP (comunicabilidade das circunstâncias no concurso de agentes). A condição de funcionário público é uma elementar subjetiva (interfere diretamente na tipificação), então se comunica. O particular tem que estar em concurso com o funcionário público para isto e ter ciência dessa condição. Ex: esposa de defensor público que junto com ele furta impressora da DP, ela responde também por peculato-furto. Se fosse um estranho na rua convidado para praticar esse furto, sem saber da condição de defensor público, ele não responderia por peculato-furto. Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. Peculato (Art. 312, CP): se subdivide em várias espécies: 1) peculato próprio: o funcionário público tem a posse desse bem móvel público ou particular em razão do cargo. Se divide em mais duas espécies: 1.1) peculato-apropriação: FP que recebe computador para trabalho remoto e se apropria; e 1.2) peculato-desvio: altera a destinação do bem. Ex: gestor que empresta dinheiro público para perceber juros. § 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. 2) Peculato impróprio: 2.1) peculato-furto: não tem a posse em razão do cargo, mas tem acesso facilitado. § 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem; § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. 3) Peculato culposo: pode ser qualquer crime. Ex: policial de plantão dorme e outra pessoa invade para furtar as armas da delegacia. Se o funcionário público reparar o dano antes da sentença irrecorrível, há extinção da punibilidade. Se após o trânsito em julgado, é feita a reparação, a pena é reduzida pela metade. Aplica-se somente ao peculato culposo. Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Concussão (Art. 316, CP): pena aumentada em razão do pacote anti crime. Exigir é diferente de solicitar, se valendo da autoridade pública o funcionário pratica ato de imposição. Se o funcionário solicita, há crime de corrupção passiva. É um crime formal, é de consumação antecipada, basta a mera exigência para haver a consumação, não precisa haver o cumprimento da exigência. Se for empregada violência ou grave ameaça, não há concussão, mas sim extorsão (Art. 158, CP). Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Corrupção passiva (Art. 317, CP): há três condutas nucleares distintas: 1) solicitar: basta a mera solicitação, ainda que não haja o cumprimento. Iniciativa do funcionário público; 2) receber vantagem indevida: tem que haver o recebimento para se consumar, tem que estar na posse da vantagem. Há um particular que ofereceu a vantagem. Se é o funcionário público quem oferece vantagem, há corrupção ativa, assim como por ela responde o particular que oferece a vantagem (Art. 333, CP); 3) aceitar promessa: manifestar concordância com a promessa já consuma o crime. Quem promete é o particular, que responde pela corrupção ativa, mas o funcionário público que aceita responde pela corrupção passiva. § 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. Corrupção exaurida: causa de aumento de pena. O particular que oferece a vantagem indevida responde pelo Art. 333 e pelo seu parágrafo único. § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Corrupção passiva privilegiada: se a motivação for pedido ou influência de outrem, sem ser vantagem indevida ou vontade pessoal. Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Prevaricação (Art. 319, CP): não há vantagem indevida, o que move o agente é um interesse ou sentimento pessoal. É a divergência entre a vontade do FP e a vontade do Estado, segundo a doutrina. FP realiza a sua vontade pessoal. Ex: policial deixa de multar alguém por se tratar de um amigo pessoal. 2. Crimes por particular São crimes comuns, inclusive o funcionário público quando despido dessa condição. Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio: Pena - detenção, de dois meses a dois anos. Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público: Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa. Resistência (Art. 329, CP): oposição contra ato legal praticado por funcionário público mediante violência ou grave ameaça à pessoa do funcionário ou terceiro. Quando a resistência é passiva (não emprega violência ou grave ameaça), não há crime de resistência, mas sim de desobediência (Art. 330, CP). É um crime formal, basta empregar a violência ainda que o ato não seja frustrado. § 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa: Pena - reclusão, de um a três anos. Se o ato for frustrado, for evitado por meio da resistência, há a resistência qualificada. O pressuposto para os dois crimes é a prática de ato legal pelo funcionário público. Se o ato for ilegal, o cidadão não responde por resistência ou desobediência. Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Desacato (Art. 331, CP): ofensa ao funcionário público. Deve haver um vínculo funcional, o ato de xingamento se dá em razão da função do funcionário público e deve ser praticado na presençado ofendido. Se o ofendido pretendido não estiver presente, há crime contra honra com causa de aumento de pena por ser ofensa a funcionário público. A imunidade do advogado não dá direito a desacatar funcionário público. É um crime constitucional e convencional. 3. Crimes contra a administração da justiça. Art. 339. Dar causa à instauração de inquérito policial, de procedimento investigatório criminal, de processo judicial, de processo administrativo disciplinar, de inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime, infração ético-disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente: (Redação dada pela Lei nº 14.110, de 2020) Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. Denunciação caluniosa (Art. 339, CP): deve haver dolo direto, o sujeito mesmo sabendo da inocência com certeza, praticar os atos tipificados. Tem que ter ciência de estar acusando um inocente. Se não tiver certeza, não há crime. Pode ser imputada infração ético disciplinar, não apenas crime ou contravenção penal. Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Comunicação falsa de crime ou contravenção (Art. 340, CP): imputação de crime que não ocorreu, sem apontar o acusado. Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. § 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena. Favorecimento pessoal (Art. 348, CP): o sujeito auxilia alguém que cometeu um crime anterior a se subtrair da ação da autoridade (ex: ajuda alguém a não ser pego). Há uma escusa absolutória se quem presta o auxílio for ascendente, descendente, cônjuge (ou companheiro) ou irmão. Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime: Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. Favorecimento real (Art. 349, CP): o sujeito auxilia o autor do crime com relação ao proveito do crime (ex: guardar carro que foi roubado). Lembrar de coisa (direito real = direito das coisas). Não há concurso de agentes, pois neste o auxílio deve ser durante ou antes da execução do crime. No favorecimento, o auxílio é posterior (pode também incorrer em receptação, mas este é um crime patrimonial e há uma vantagem econômica, o que não ocorre no favorecimento). No favorecimento, quem auxilia não tem intenção de obter qualquer proveito. - CRIMES CONTRA A VIDA Art. 121. Matar alguem: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. Homicídio (Art. 121, CP): é um crime bicomum, é comum tanto quanto ao sujeito ativo como sujeito passivo (o infanticídio é um crime bipróprio, o sujeito ativo tem que ser a mãe e o passivo o filho neonato). É um crime de execução livre, não há meio específico, desde que seja eficaz para produzir o resultado morte. Pode ser cometido por ação mas também por omissão imprópria (pessoas que ostentam a posição de garantidor). Dependendo do meio, o homicídio pode ser qualificado. § 2° Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II - por motivo futil; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel a defesa do ofendido; V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) (não é todo homicídio praticado contra a mulher, mas quando há violência doméstica e familiar ou quando envolver menosprezo ou discriminação contra a mulher. Possui natureza objetiva, logo, pode ser cumulado com motivo fútil ou torpe sem que haja bis in idem). VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015) (o homicídio tem que ter vínculo funcional, a motivação deve estar relacionada com a prática da função. Não há homicídio funcional contra filho adotivo, pois o legislador restringiu o parentesco à consanguineidade e não pode haver analogia in malam partem). VIII - com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência) Pena - reclusão, de doze a trinta anos. - CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO Diferença entre furto e roubo está nos meios executórios, pois o roubo envolve violência, grave ameaça ou violência imprópria (não há violência física, mas eliminação da capacidade de resistência da vítima; ex: trancar a pessoa, aplicar sonífero). Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Apropriação indébita (Art. 168, CP): a conduta é apropriar-se e não subtrair, o sujeito já possui a posse anterior e lícita do bem. O dolo é posterior à posse, passa a querer se apoderar do bem. Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis. Estelionato (Art. 171, CP): é diferente do furto qualificado pela fraude, no qual a fraude é aplicada para diminuir a vigilância sobre o objeto para que consiga subtrair o objeto de forma facilitada. No estelionato, a fraude é utilizada para induzir ou manter a vítima em erro e a própria que entrega a vantagem. Qualificação por meio eletrônico: Art. 155, § 4º-B. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o furto mediante fraude é cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de computadores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. Art. 171 § 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude é cometida com a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por meio de redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. Extorsão (Art. 158, CP): no roubo, a colaboracão da vítima é dispensada, não é preciso que a vítima colabore. Na extorsão, a colaboração é indispensável (ex: o agente coloca uma arma na cabeça da vítima e obriga-a a fazer uma transferência bancária). Súmula 96 do STJ: é crime formal, não precisa obter vantagem econômica indevida para que seja consumado. Escusas absolutórias: Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo: I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural. Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido em prejuízo: I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado; II - de irmão, legítimo ou ilegítimo; III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita. Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores: I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa; II -ao estranho que participa do crime. III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
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