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AULAS PENAL E PROCESSO PENAL Lei de Abuso de Autoridade Lei 4898/65 Quem é autoridade para efeitos da lei? Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei, quem exerce cargo, emprego ou função pública, de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem remuneração. Ação penal no crime de abuso de autoridade: Art. 1o O direito de representação e o processo de responsabilidade administrativa civil e penal, contra as autorida- des que, no exercício de suas funções, cometerem abusos, são regulados pela presente lei. Art. 2o O direito de representação será exercido por meio de petição: a) dirigida à autoridade superior que tiver competência legal para aplicar, à autoridade civil ou militar culpada, a respectiva sanção; b) dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver competência para iniciar processo-crime contra a autoridade culpada. Parágrafo único. A representação será feita em duas vias e conterá a exposição do fato constitutivo do abuso de autoridade, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado e o rol de testemunhas, no máximo de três, se as houver. Art. 12. A ação penal será iniciada, independentemente de inquérito policial ou justificação por denúncia do Minis- tério Público, instruída com a representação da vítima do abuso. A representação destes artigos não possui natureza jurídica de condição de procedibilidade. A ação penal é pública incondicionada! Lei 5249/67: Art. 1o A falta de representação do ofendido, nos casos de abusos previstos na Lei no 4.898, de 9 de dezembro de 1965, na obsta a iniciativa ou o curso de ação pública. Crimes de abuso de autoridade: - Crimes de atentado no artigo 3o. - Crimes que admitem tentativa no artigo 4o. Art. 3o. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: a) à liberdade de locomoção; b) à inviolabilidade do domicílio; c) ao sigilo da correspondência; d) à liberdade de consciência e de crença; e) ao livre exercício do culto religioso; f) à liberdade de associação; g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto; h) ao direito de reunião; i) à incolumidade física do indivíduo; j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional. Art. 4o Constitui também abuso de autoridade: 4 a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder; b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei; c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção de qualquer pessoa; d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja comunicada; e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida em lei; f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu valor; g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importância recebida a título de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa; h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal; i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade. Art. 6o O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção administrativa civil e penal. § 1o A sanção administrativa será aplicada de acordo com a gravidade do abuso cometido e consistirá em: a) advertência; b) repreensão; c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo de cinco a cento e oitenta dias, com perda de vencimentos e vantagens; d) destituição de função; e) demissão; f) demissão, a bem do serviço público. § 2o A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor do dano, consistirá no pagamento de uma indenização de quinhentos a dez mil cruzeiros. § 3o A sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos artigos 42 a 56 do Código Penal e consistirá em: a) multa de cem a cinco mil cruzeiros; b) detenção por dez dias a seis meses; c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública por prazo até três anos. § 4o As penas previstas no parágrafo anterior poderão ser aplicadas autônoma ou cumulativamente. § 5o Quando o abuso for cometido por agente de autoridade policial, civil ou militar, de qualquer categoria, poderá ser cominada a pena autônoma ou acessória, de não poder o acusado exercer funções de natureza policial ou militar no município da culpa, por prazo de um a cinco anos. Concurso material Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumu- lativa de penas de reclusão e de detenção, executa- se primeiro aquela. Concurso formal Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, apli- ca-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes re- sultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior. Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código. Crime continuado Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espé- cie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços. Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pes- soa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código. Multas no concurso de crimes Art. 72 - No concurso de crimes, as penas de multa são aplicadas distinta e integralmente. Na regra da exasperação, o critério de aumento deve ser baseado no número de infrações penais praticadas. Desta forma, não é razoável que frente a dois crimes em continuidade delitiva, o juiz aumente a pena de 2/3, pois deveria aumentar do mínima, já que foram apenas dois crimes. Súmula 243, STJ O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano. 4 Súmulas, STF Súmula 723 Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano. SÚMULA 711 A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à ces- sação da continuidade ou da permanência. SÚMULA 497 Quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta na sentença, não se computando o acréscimo decorrente da continuação. 2 CONCURSO DE PESSOAS Como diferenciar coautor de partícipe? Atualmente, nossos Tribunais adotam majoritariamente a teoria do domínio final do fato, segundo a qual coautor ou autor é aquele que tem o poder de consumação e de desistência. Ou seja, pode determinar ”se”e ”como”ocri- me vai ocorrer. REQUISITOS DO CONCURSO DE PESSOAS: - Pluralidade de agentes e de condutas - Relevância causal de cada conduta - Liame subjetivo/vínculo psicológico - Unidade de infração penal É por ausência de liame subjetivo que não há concurso de pessoas em caso de autoria colateral. Na autoria colateral cada agente direciona sua conduta para o resultado, sem concorrer com a outra pessoa, até por não ter conhecimento da conduta alheia. Com isso, cada qual responde pelo seu crime. Hipótese 1 – A e B atiram em direção a C, com dolo de matar. C morre. A perícia comprova que o tiro fatal saiu da arma de A. A responde por homicídio e B por tentativa. Hipótese 2 – A e B atiram em direção a C, com dolo de matar. C morre. A perícia comprova que o tiro fatal saiu da arma de A, só que quando o tiro de B atinge C, ele já estava morto. A responde por homicídio e B não poderá responder por tentativa, pois trata-se de crime impossível. 3 Hipótese 3 – A e B atiram em direção a C, com dolo de matar. C morre. A perícia não comprova de qual arma saiu o tiro fatal. A e B respondem apenas por tentativa. Neste última hipótese, tem-se a autoria colateral incerta. Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. TEORIA MONISTA – Regra pelo Código Penal § 1o - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA – Causa de diminuição que somente pode ser aplicada aos partíci- pes § 2o - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. DESVIO SUBJETIVO DE CONDUTA Circunstâncias incomunicáveis Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. Casos de impunibilidade Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puní- veis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. XI Exame (QUESTÃO 1) Raimundo, já de posse de veículo automotor furtado de concessionária, percebe que não tem onde guardá-lo antes de vendê-lo para a pessoa que o encomendara. Assim, resolve ligar para um grande amigo seu, Henrique, e após contar toda sua empreitada, pede- lhe que ceda a garagem de sua casa para que possa guardar o veículo, ao menos por aquela noite. Como Henrique aceita ajudá-lo, Raimundo estaciona o carro na casa do amigo. Ao raiar do dia, Raimundo parte com o veículo, que seria levado para o comprador.Considerando as infor- mações contidas no texto responda, justificadamente, aos itens a seguir. A) Raimundo e Henrique agiram em concurso de agentes? (Valor: 0,75) B) Qual o delito praticado por Henrique? (Valor: 0,50) Respostas A) – não se verifica no caso a figura do concurso de agentes, o que há de fato são dois crimes, cada um imputável ao seu autor, ou seja, um praticado pelo Raimundo que foi o furto artigo 155 do CPP, onde depois de já tê-lo con- sumado, recebeu ajuda do seu amigo Henrique, este que por sua vez praticou o crime favorecimento real do arti- go 349 do CP. B) justamente por não ter havido coparticipação nem crime de receptação, e por ter ficado claro que o dolo de Henrique, depois de conhecer a prática do crime de furto, era de ajudar seu amigo de forma a garantir a impuni- dade do crime. Nota-se na conduta do mesmo, enquadramento perfeito na conduta típica do artigo 349 do CP, que refere-se justamente ao crime de favorecimento real. O verbo ocultar pode trazer responsabilidade penal em três hipóteses distintas: 1) Se o agente combina ocultar antes que a coisa seja subtraída, ele responderá pelo furto em concurso de agen- tes 2) Caso o agente, após a coisa ter sido subtraída, combine ocultá-la, com o fim de ajudar o autor do crime antece- dente, haverá favorecimento real (artigo 349) 3 – caso o agente, após a coisa ter sido subtraída, combine ocultá-la em proveito próprio ou de terceira pessoa, haverá receptação. 4 LEI DE CONTRAVENÇÕES PENAIS DL 3688/41 O legislador brasileiro adotou o sistema dicotômico: crimes (ou delitos) e contravenções penais (e não o tricotômico: crimes, delitos e contravenções penais), não estabelecendo diferença na essência (ontológica) entre crimes e con- travenções penais. A distinção se faz somente nas sanções (de grau ou quantidade). Artigo 1o, da Lei de Introdução ao Código Penal: Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, que alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isolada- mente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. Artigo 1o. Aplicam-se às contravenções as regras gerais do Código Penal, sempre que a presente Lei não disponha de modo diverso. - Princípio da legalidade - Contagem do prazo Artigo 4o. Não é punível a tentativa de contravenção. Com relação à territorialidade, ao contrário do critério utilizado no Código Penal, a lei brasileira só é aplicável à contravenção praticada no território nacional (artigo 2o, LCP), uma vez que as contravenções só provocam reper- cussão local. Não é admissível, assim, a extraterritorialidade (artigo 7o). Artigo 5o. As penas principais são: I – prisão simples; II – multa. Artigo 7o. Verifica-se a reincidência quando o agente pratica uma contravenção depois de passar em julgado a sentença que o tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por qualquer crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção. 4 Conclui-se que: a) o agente condenado definitivamente por um crime pratica outro crime, é reincidente (artigo 63, CP); b) o agente condenado definitivamente por um crime pratica contravenção, é reincidente (artigo 7o, LCP); c) o agente condenado definitivamente por uma contravenção pratica outra contravenção, é reincidente (artigo 7o, LCP); d) o agente condenado definitivamente por uma contravenção pratica um crime, não é reincidente por falta de pre- visão legal. Artigo 8o. No caso de ignorância ou errada compreensão da lei, quando escusáveis, a pena pode deixar de ser aplicada Artigo 9o. A multa converte-se em prisão simples, de acordo com o que dispõe o Código Penal sobre a conversão de multa em detenção. O referido artigo de lei foi revogado pelo artigo 3o, da Lei no 9.268/96, que alterou o artigo 51, do Código Penal. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-lhe as nor- mas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição. Artigo 13. Aplicam-se, por motivo de contravenção, as medidas de segurança estabelecidas no Código Penal, à exceção do exílio local. Esta última – exílio local – foi excluída pela Lei no 7.209/84. Duas são as espécies de medidas de segurança, conforme disposto no artigo 96, do Código Penal: a) Detentiva, que é a internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico; b) Restritiva, que consiste na sujeição a tratamento ambulatorial. As medidas de segurança, após a entrada em vigor da Lei no 7.209/84, somente são aplicáveis aos inimputáveis ou semi-imputáveis, proibindo-se a aplicação aos imputáveis. Diante disso, revogados os artigos 14/16, da Lei das Contravenções Penais. Artigo 17. A ação penal é pública, devendo a autoridade proceder de ofício. As Contravenções Penais e a Lei 9099/95 A partir da entrada em vigor da Lei no 9099/95 (Juizados Especiais Criminais), as contravenções penais passaram a ser consideradas como infrações penais de menor potencial ofensivo, passíveis de transação penal (artigo 61). STJ – Sexta Turma – 2014 - RHC 47253 / MS 1. O artigo 88 da Lei n.o 9.099/95, que tornou condicionada à representaçãoa ação penal por lesões corporais leves e lesões culposas, não se estende à persecução das contravenções penais. A contravenção penal de vias de fato, insculpida no artigo 21 da Lei de Contravenções Penais (Decreto Lei n.o 3.688/41), ainda que de menor potencial ofensivo em relação ao crime de lesão corporal, não foi incluída nas hipóteses do artigo 88 da Lei n.o 9.099-95. 2. A Lei de Contravenções Penais (Decreto Lei n.o 3.688/41) continua em pleno vigor e nela há expressa previsão legal de que a ação penal é pública incondicionada, conforme disciplina o seu artigo 17. 3. Recurso ordinário desprovido. Informativo 539 – STJ A transação penal não é aplicável na hipótese de contravenção penal praticada com violência doméstica e familiar contra a mulher. De fato, a interpretação literal do art. 41 da Lei Maria da Penha ("Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei 9.099, de 5 26 de setembro de 1995.") viabilizaria, em apressado olhar, a conclusão de que os institutos despenalizadores da Lei 9.099/1995, entre eles a transação penal, seriam aplicáveis às contravenções penais praticadas com violência doméstica e familiar contra a mulher. Entretanto, o legislador, ao editar a Lei 11.340/2006, conferiu concretude ao texto constitucional (art. 226, § 8°, da CF) e aos tratados e as convenções internacionais de erradicação de todas as formas de violência contra a mulher, a fim de mitigar, tanto quanto possível, qualquer tipo de violência doméstica e familiar contra a mulher, abrangendo não só a violência física, mas, também, a psicológica, a sexual, a patrimonial, a social e a moral. Desse modo, à luz da finalidade última da norma (Lei 11.340/2006) e do enfoque da ordem jurídico- constitucional, considerando, ainda, os fins sociais a que a lei se destina, a aplicação da Lei 9.099/1995 é afastada pelo art. 41 da Lei 11.340/2006, tanto em relação aos crimes quanto às contravenções penais praticados contra mulheres no âmbito doméstico e familiar. Ademais, o STJ e o STF já se posicionaram no sentido de que os institutos despenalizadores da Lei 9.099/1995, entre eles a transação penal, não se aplicam a nenhuma prática delituosa contra a mulher no âmbito doméstico e familiar, ainda que configure contravenção penal. Precedente citado do STJ: HC 196.253-MS, Sexta Turma, DJe 31/5/2013. Precedente citado do STF: HC 106.212-MS, Tribunal Pleno, DJe 13/6/2011. HC 280.788-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 3/4/2014. Súmula 588 do STJ: A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição de pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Súmula 589 do STJ: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas. Competência: A competência para julgar uma contravenção é da Justiça Estadual Comum. Nunca será da Justiça Federal. Mesmo se afetar um interesse, um bem ou qualquer ente federal – súmula 38: a competência será sempre da justiça Estadual (JECRIM’s). Embora, via de regra, as contravenções penais estejam no DL 3688/41, nada impede que haja tipificação fora dela. Ex.: L 5553/68 - Dispõe sobre a apresentação e uso de documentos de identificação pessoal. DL 6259/44 – Trata da Contravenção Penal de Jogo do Bicho Art. 1o A nenhuma pessoa física, bem como a nenhuma pessoa jurídica, de direito público ou de direito privado, é lícito reter qualquer documento de identificação pessoal, ainda que apresentado por fotocópia autenticada ou pú- blica-forma, inclusive comprovante de quitação com o serviço militar, título de eleitor, carteira profissional, certidão de registro de nascimento, certidão de casamento, comprovante de naturalização e carteira de identidade de es- trangeiro. Art. 2o Quando, para a realização de determinado ato, for exigida a apresentação de documento de identificação, a pessoa que fizer a exigência fará extrair, no prazo de até 5 (cinco) dias, os dados que interessarem devolvendo em seguida o documento ao seu exibidor. § 1o - Além do prazo previsto neste artigo, somente por ordem judicial poderá ser retirado qualquer documento de identificação pessoal. § 2o - Quando o documento de identidade for indispensável para a entrada de pessoa em órgãos públicos ou parti- culares, serão seus dados anotados no ato e devolvido o documento imediatamente ao interessado. Art. 3o Constitui contravenção penal, punível com pena de prisão simples de 1 (um) a 3 (três) meses ou multa de NCR$ 0,50 (cinqüenta centavos) a NCR$ 3,00 (três cruzeiros novos), a retenção de qualquer documento a que se refere esta Lei. Parágrafo único. Quando a infração for praticada por preposto ou agente de pessoa jurídica, considerar-se-á res- ponsável quem houver ordenado o ato que ensejou a retenção, a menos que haja , pelo executante, desobediência ou inobservância de ordens ou instruções expressas, quando, então, será este o infrator. 6 CONTRAVENÇÕES REFERENTES À PESSOA - busca proteger bens jurídicos como a vida, a integridade física. Arma : Os art. 18 e 19 Porte de arma e fabricação ilegal de arma - foram tacitamente revogados pelo Estatuto do Desarmamento, no que tange a arma de fogo. A lei fala genericamente, ou seja, qualquer arma. A Lei 10.826/03 derrogou o art. 19 e fulminou o art. 18 – passou a ter tratamento jurídico no estatuto. No ECA, art. 242 – diz respeito a armas brancas – toda a vez que se entrega arma a criança ou adolescente, continua sendo aplicado em relação a armas brancas. CONTRAVENÇÕES REFERENTES À INCOLUMIDADE PÚBLICA Por diversos anos foi o que mais ocupava o Judiciário antes do advento da lei 9.099/95 e do Estatuto do desarma- mento. Art. 31. Disparo de arma de fogo – hoje é crime previsto no art. 15 do estat. do desarmamento. DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES À PAZ PÚBLICA Associação Secreta – art. 39 – grupo composto por + de 5 pessoas que intencionalmente e regularmente se reúne e busca ocultar a sua existência e/ou finalidade. Inconstitucional frente à liberdade de associação. DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES À FÉ PÚBLICA Art. 45 – simulação da qualidade de funcionário público É uma conduta estritamente subsidiária. Falsa identidade Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave. Usurpação de função pública Art. 328 - Usurpar o exercício de função pública: Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. Se tiver como finalidade obter alguma vantagem ou causar algum prejuízo, induzindo alguém em erro, caracteriza o de falsa identidade. Se tiver a finalidade de obter alguma vantagem patrimonial caracteriza o crime de estelionato e não seria mais uma contravenção. Se efetivamente essa pessoa executa a função pública aí teremos o crime de usurpação da função pública. DAS CONTRAVENÇÕES RELATIVAS À ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO Art. 47 – exercício ilegal de profissão ou atividade Exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica 7 Art. 282 - Exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou farmacêutico, sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. Parágrafo único - Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se também multa. DAS CONTRAVENÇÕES RELATIVAS À POLÍCIA DE COSTUMES Art. 50 – Jogos de azar – ocorre quando o ganho ou aperda dependem exclusiva ou principalmente da sorte. Art. 58. Jogo do Bicho DL 6.259/44 – toda a matéria referente a jogos de azar foi tacitamente revogada, com exceção do art. 50. Súmula 51 do STJ – para puniçãodo intermediário não é necessário a identificação do banqueiro. Art. 61 – importunação ofensiva ao pudor. Importunar alguém, em lugar público ou acessível ao público. São as famosas apalpadelas. Não confundir: Crime de importunação ofensiva ao pudor – temos uma vítima certa, determinada; Ofensa ao pudor público – número indeterminado de pessoas . Exibir órgão genital em público. (ato obsceno, sinal obsceno) Art. 65 – perturbação da tranquilidade – local privado, pessoa certa – vizinho que perturba fazendo barulho. Molestar alguém por ato reprovável. Exemplo: trote pelo telefone. Art. 65. Molestar alguem ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo reprovavel: Não se confunde com: Art. 42. Perturbar alguém o trabalho ou o sossego alheios: 2 CRIMES COMPLEMENTARES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - Crimes praticados por funcionário público - Crimes praticados por particular CONCEITO DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remu- neração, exerce cargo, emprego ou função pública. § 1o - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. § 2o - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. Os crimes praticados por funcionário público estão tipificados a partir do artigo 312. Já os crimes praticados por particular estão previstos a partir do artigo 328 do Código Penal. Emprego irregular de verbas ou rendas públicas Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. A diferença entre o crime do artigo 315 e o peculato desvio é que no artigo 315, a verba ou renda continua dentro da Administração pública, embora empregada em finalidade diversa. Pratica artigo 315 aquele que, por exemplo, utiliza verba destinada para construção de escola na construção de uma praça. Já no artigo 312, o valor sai da administração pública. Concussão Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. Excesso de exação § 1o - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. § 2o - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. Atenção: Exação significa cobrança de tributo. Desta forma, excesso de exação significa excesso na cobrança de tributo. O excesso pode se dar, nos termos do parágrafo 1o do artigo 316, pelo fato de o funcionário cobrar tributo indevido ou por cobrar tributo devido, embora de forma indevida (o funcionário que utiliza meio vexatório ou gravoso na co- brança. 3 Não se pode confundir o artigo 316, parágrafo 1o com o crime contra a Ordem Tributária previsto no artigo 3o, II da Lei 8137/90. Nesta lei, o funcionário almeja vantagem para deixar de cobrar ou lançar tributo, enquanto no crime de excesso de exação, ao contrário, há cobrança indevida de tributo. Corrupção passiva Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. § 1o - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. § 2o - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Prevaricação Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. A distinção entre a corrupção passiva privilegiada prevista no artigo 317, parágrafo 2o e o crime de prevaricação do artigo 319 está na motivação do agente e não na conduta. Na prevaricação, o funcionário público está motivado por interesse ou sentimento pessoal, enquanto no artigo 317, parágrafo 2o, ele age para atender pedido ou influência de outrem. 4 A concussão e a corrupção passiva são crimes praticados pelo funcionário público. Já a corrupção ativa, prevista no artigo 333, é crime praticado por particular. A diferença entre os crimes de concussão e de corrupção passiva está no verbo núcleo do tipo. Na concussão, o verbo é “exigir”, enquanto na corrupção passiva, o verbo é “solicita”, “receber” ou “aceitar promessa” de vantagem indevida. Não há bilateralidade necessária entre os crimes de corrupção passiva e ativa. Para que haja corrupção ativa (artigo 333), o particular precisa oferecer ou prometer a vantagem. Ou seja, a conduta precisa partir do particular. Caso o particular concorde com a solicitação feita pelo funcionário e apenas dê a vantagem que lhe foi solicitada, não haverá crime. Atenção com os crimes contra a Ordem Tributária, previstos na Lei 8137/90: Art. 3° Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstos no Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal (Título XI, Capítulo I): I - extraviar livro oficial, processo fiscal ou qualquer documento, de que tenha a guarda em razão da função; sonegá- lo, ou inutilizá-lo, total ou parcialmente, acarretando pagamento indevido ou inexato de tributo ou contribuição social; II - exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de iniciar seu exercício, mas em razão dela, vantagem indevida; ou aceitar promessa de tal vantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição social, ou cobrá-los parcialmente. Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. III - patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração fazendária, valendo-se da quali- dade de funcionário público. Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Crimes praticados por particular contra a Administração Pública Usurpação de função pública Art. 328 - Usurpar o exercício de função pública: Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. No crime do artigo 328, usurpar significa ”tomar o lugar de”. Desta forma, o crime estará consumado quando o sujeito ativo pratica pelo menos um ato de ofício de funcionário público. Não basta fingir ser funcionário público. 5 Aquele que apenas finge ser funcionário público, sem pretensão de obter vantagem, poderá praticar apenas mera contravenção penal. Caso o funcionário público pratique vários atos de ofício, dentro de um mesmo contexto, haverá crime único do artigo 328. Não haverá, neste caso, concurso de crimes. LCP – DL 3688/41 Art. 45. Fingir-se funcionário público: Pena – prisão simples, de um a três meses, ou multa, de quinhentos mil réis a três contos de réis. Resistência Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá- lo ou a quem lheesteja prestando auxílio: Pena - detenção, de dois meses a dois anos. § 1o - Se o ato, em razão da resistência, não se executa: Pena - reclusão, de um a três anos. § 2o - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência. Desobediência Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público: Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa. A diferença essencial entre os crimes de desobediência e resistência está no fato de que a resistência exige a utilização de violência ou de ameaça. Não há crime de resistência de forma passiva. Caso o agente se oponha passivamente à prática do ato, apenas negando-se a pratica- lo ou agindo sem violência ou ameaça, o crime será apenas de desobediência (artigo 330). Desacato Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. O desacato somente pode ser praticado na presença do funcionário público. Não se exige que a ofensa seja no exercício da função, desde que se dê em razão dela. Logo, pratica desacato aquele que encontra um funcionário público no fim de semana, em uma praça e o chama de funcionário corrupto. No entanto, se a ofensa se der sem a presença do funcionário, seja por carta, recado ou redes sociais, o crime não será de desacato, já que este somente pode ser praticado na presença dele. Com isso, caracterizado estará mero crime contra a honra, como por exemplo a injúria, que poderá ter a pena aumentada de acordo com o artigo 141, II se a ofensa se der em razão da função. O crime contra a honra de funcionário público em razão de sua função é objeto de legitimidade concorrente no que tange à ação penal. Vejamos o disposto no enunciado 714 da súmula do STF: É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do ministério público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções. Crimes de destaque contra a Administração da Justiça: Denunciação caluniosa 6 Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação admi- nistrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. § 1o - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto. § 2o - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção. Comunicação falsa de crime ou de contravenção Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. A distinção essencial entre o artigo 339 e o artigo 340 é que no primeiro, o agente imputa o crime ou contravenção a alguém, colocando em risco a liberdade desta pessoa, o que justifica que o artigo 339 seja muito mais grave que o artigo 340. Na denunciação caluniosa, o crime ou contravenção que é imputado a alguém pode não ter ocorrido ou até pode ter ocorrido e ter sido praticado por outra pessoa. O importante é que o agente o impute a quem ele sabe que é inocente. Logo, se o agente imputa acreditando que a pessoa de fato cometeu o crime, não haverá denunciação caluniosa. Favorecimento pessoal Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. § 1o - Se ao crime não é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa. § 2o - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena. O crime de favorecimento pessoal não se confunde com o favorecimento real. No favorecimento pessoal, o agente esconde o criminoso, enquanto no favorecimento real, ele esconde a coisa, torna seguro o proveito do crime. Apenas no artigo 348 será possível a incidência de escusa absolutória. O artigo 348 prevê a escusa absolutória no parágrafo 2o, prevendo a isenção de pena. Cabe destacar que o crime fica preservado. Se a mãe esconde o filho criminoso, ela comete crime de favorecimento pessoal. Desta forma, o fato é típico, ilícito e culpável, mas não será punível. Por tratar-se de escusa absolutória, a punibilidade sequer chega a nascer. A escusa absolutória caracteriza-se pelo fato de que a punibilidade não chega a nascer. Não se trata de excluir o crime, mas sim a normal consequência dele. Neste caso, não surgirá para o Estado o direito de punir, Favorecimento real Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime: Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. ATENÇÃO Ocultar coisa que saber ser produto de crime pode resultar em diferentes tipificações. 7 Vejamos: 1) Caso a ocultação se dê em virtude de combinação prévia, que se deu antes do crime ser praticado, haverá concurso de pessoas. Imagine que Caio e Tício combinaram e dividira, tarefas. Caio ficaria responsável pela sub- tração e Tício ocultaria a coisa. Neste caso, ambos responderão pelo furto. A ocultação foi combinada antes da subtração se efetivar. 2) Caso a ocultação seja combinada apenas após a prática do crime antecedente e caso vise apenas favorecer o autor do primeiro crime, haverá favorecimento real (artigo 349). Exemplo: Caio telefona para Tício, informa que subtraiu um veículo e que não tem onde ocultar. Tício concorda em ocultar o veículo para Caio por uma semana. Neste caso, Tício pratica artigo 349. 3) Caso a ocultação seja combinada apenas após a prática do crime antecedente e caso vise proveito de quem está ocultando ou de terceira pessoa (que não é o autor do crime anterior), haverá receptação (artigo 180). Exemplo: Caio telefona para Tício, informa que subtraiu um veículo e que não tem onde ocultar. Tício concorda em ocultar o veículo para Caio por uma semana para que seu irmão possa comprá-lo. Neste caso, Tício pratica artigo 180. 8 9 I – com gritaria ou algazarra; II – exercendo profissão incômoda ou ruidosa, em desacordo com as prescrições legais; III – abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos; IV – provocando ou não procurando impedir barulho produzido por animal de que tem a guarda: 8 CRIMES COMPLEMENTARES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - Crimes praticados por funcionário público - Crimes praticados por particular CONCEITO DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remu- neração, exerce cargo, emprego ou função pública. § 1o - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. § 2o - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. Os crimes praticados por funcionário público estão tipificados a partir do artigo 312. Já os crimes praticados por particular estão previstos a partir do artigo 328 do Código Penal. Emprego irregular de verbas ou rendas públicas Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. A diferença entre o crime do artigo 315 e o peculato desvio é que no artigo 315, a verba ou renda continua dentro da Administração pública, embora empregada em finalidade diversa. Pratica artigo 315 aquele que, por exemplo, utiliza verba destinada para construçãode escola na construção de uma praça. Já no artigo 312, o valor sai da administração pública. Concussão Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. Excesso de exação § 1o - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. § 2o - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. Atenção: Exação significa cobrança de tributo. Desta forma, excesso de exação significa excesso na cobrança de tributo. O excesso pode se dar, nos termos do parágrafo 1o do artigo 316, pelo fato de o funcionário cobrar tributo indevido ou por cobrar tributo devido, embora de forma indevida (o funcionário que utiliza meio vexatório ou gravoso na co- brança. 3 Não se pode confundir o artigo 316, parágrafo 1o com o crime contra a Ordem Tributária previsto no artigo 3o, II da Lei 8137/90. Nesta lei, o funcionário almeja vantagem para deixar de cobrar ou lançar tributo, enquanto no crime de excesso de exação, ao contrário, há cobrança indevida de tributo. Corrupção passiva Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. § 1o - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. § 2o - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Prevaricação Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. A distinção entre a corrupção passiva privilegiada prevista no artigo 317, parágrafo 2o e o crime de prevaricação do artigo 319 está na motivação do agente e não na conduta. Na prevaricação, o funcionário público está motivado por interesse ou sentimento pessoal, enquanto no artigo 317, parágrafo 2o, ele age para atender pedido ou influência de outrem. 4 A concussão e a corrupção passiva são crimes praticados pelo funcionário público. Já a corrupção ativa, prevista no artigo 333, é crime praticado por particular. A diferença entre os crimes de concussão e de corrupção passiva está no verbo núcleo do tipo. Na concussão, o verbo é “exigir”, enquanto na corrupção passiva, o verbo é “solicita”, “receber” ou “aceitar promessa” de vantagem indevida. Não há bilateralidade necessária entre os crimes de corrupção passiva e ativa. Para que haja corrupção ativa (artigo 333), o particular precisa oferecer ou prometer a vantagem. Ou seja, a conduta precisa partir do particular. Caso o particular concorde com a solicitação feita pelo funcionário e apenas dê a vantagem que lhe foi solicitada, não haverá crime. Atenção com os crimes contra a Ordem Tributária, previstos na Lei 8137/90: Art. 3° Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstos no Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal (Título XI, Capítulo I): I - extraviar livro oficial, processo fiscal ou qualquer documento, de que tenha a guarda em razão da função; sonegá- lo, ou inutilizá-lo, total ou parcialmente, acarretando pagamento indevido ou inexato de tributo ou contribuição social; II - exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de iniciar seu exercício, mas em razão dela, vantagem indevida; ou aceitar promessa de tal vantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição social, ou cobrá-los parcialmente. Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. III - patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração fazendária, valendo-se da quali- dade de funcionário público. Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Crimes praticados por particular contra a Administração Pública Usurpação de função pública Art. 328 - Usurpar o exercício de função pública: Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. No crime do artigo 328, usurpar significa ”tomar o lugar de”. Desta forma, o crime estará consumado quando o sujeito ativo pratica pelo menos um ato de ofício de funcionário público. Não basta fingir ser funcionário público. 5 Aquele que apenas finge ser funcionário público, sem pretensão de obter vantagem, poderá praticar apenas mera contravenção penal. Caso o funcionário público pratique vários atos de ofício, dentro de um mesmo contexto, haverá crime único do artigo 328. Não haverá, neste caso, concurso de crimes. LCP – DL 3688/41 Art. 45. Fingir-se funcionário público: Pena – prisão simples, de um a três meses, ou multa, de quinhentos mil réis a três contos de réis. Resistência Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá- lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio: Pena - detenção, de dois meses a dois anos. § 1o - Se o ato, em razão da resistência, não se executa: Pena - reclusão, de um a três anos. § 2o - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência. Desobediência Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público: Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa. A diferença essencial entre os crimes de desobediência e resistência está no fato de que a resistência exige a utilização de violência ou de ameaça. Não há crime de resistência de forma passiva. Caso o agente se oponha passivamente à prática do ato, apenas negando-se a pratica- lo ou agindo sem violência ou ameaça, o crime será apenas de desobediência (artigo 330). Desacato Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. O desacato somente pode ser praticado na presença do funcionário público. Não se exige que a ofensa seja no exercício da função, desde que se dê em razão dela. Logo, pratica desacato aquele que encontra um funcionário público no fim de semana, em uma praça e o chama de funcionário corrupto. No entanto, se a ofensa se der sem a presença do funcionário, seja por carta, recado ou redes sociais, o crime não será de desacato, já que este somente pode ser praticado na presença dele. Com isso, caracterizado estará mero crime contra a honra, como por exemplo a injúria, que poderá ter a pena aumentada de acordo com o artigo 141, II se a ofensa se der em razão da função. O crime contra a honra de funcionário público em razão de sua função é objeto de legitimidade concorrente no que tange à ação penal. Vejamos o disposto no enunciado 714 da súmula do STF: É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do ministério público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções. Crimes de destaque contra a Administração da Justiça: Denunciação caluniosa 6 Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação admi- nistrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente:Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. § 1o - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto. § 2o - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção. Comunicação falsa de crime ou de contravenção Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. A distinção essencial entre o artigo 339 e o artigo 340 é que no primeiro, o agente imputa o crime ou contravenção a alguém, colocando em risco a liberdade desta pessoa, o que justifica que o artigo 339 seja muito mais grave que o artigo 340. Na denunciação caluniosa, o crime ou contravenção que é imputado a alguém pode não ter ocorrido ou até pode ter ocorrido e ter sido praticado por outra pessoa. O importante é que o agente o impute a quem ele sabe que é inocente. Logo, se o agente imputa acreditando que a pessoa de fato cometeu o crime, não haverá denunciação caluniosa. Favorecimento pessoal Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. § 1o - Se ao crime não é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa. § 2o - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena. O crime de favorecimento pessoal não se confunde com o favorecimento real. No favorecimento pessoal, o agente esconde o criminoso, enquanto no favorecimento real, ele esconde a coisa, torna seguro o proveito do crime. Apenas no artigo 348 será possível a incidência de escusa absolutória. O artigo 348 prevê a escusa absolutória no parágrafo 2o, prevendo a isenção de pena. Cabe destacar que o crime fica preservado. Se a mãe esconde o filho criminoso, ela comete crime de favorecimento pessoal. Desta forma, o fato é típico, ilícito e culpável, mas não será punível. Por tratar-se de escusa absolutória, a punibilidade sequer chega a nascer. A escusa absolutória caracteriza-se pelo fato de que a punibilidade não chega a nascer. Não se trata de excluir o crime, mas sim a normal consequência dele. Neste caso, não surgirá para o Estado o direito de punir, Favorecimento real Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime: Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. ATENÇÃO Ocultar coisa que saber ser produto de crime pode resultar em diferentes tipificações. 7 Vejamos: 1) Caso a ocultação se dê em virtude de combinação prévia, que se deu antes do crime ser praticado, haverá concurso de pessoas. Imagine que Caio e Tício combinaram e dividira, tarefas. Caio ficaria responsável pela sub- tração e Tício ocultaria a coisa. Neste caso, ambos responderão pelo furto. A ocultação foi combinada antes da subtração se efetivar. 2) Caso a ocultação seja combinada apenas após a prática do crime antecedente e caso vise apenas favorecer o autor do primeiro crime, haverá favorecimento real (artigo 349). Exemplo: Caio telefona para Tício, informa que subtraiu um veículo e que não tem onde ocultar. Tício concorda em ocultar o veículo para Caio por uma semana. Neste caso, Tício pratica artigo 349. 3) Caso a ocultação seja combinada apenas após a prática do crime antecedente e caso vise proveito de quem está ocultando ou de terceira pessoa (que não é o autor do crime anterior), haverá receptação (artigo 180). Exemplo: Caio telefona para Tício, informa que subtraiu um veículo e que não tem onde ocultar. Tício concorda em ocultar o veículo para Caio por uma semana para que seu irmão possa comprá-lo. Neste caso, Tício pratica artigo 180. 8 9 1 2 CRIMES COMPLEMENTARES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - Crimes praticados por funcionário público - Crimes praticados por particular CONCEITO DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remu- neração, exerce cargo, emprego ou função pública. § 1o - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. § 2o - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. Os crimes praticados por funcionário público estão tipificados a partir do artigo 312. Já os crimes praticados por particular estão previstos a partir do artigo 328 do Código Penal. Emprego irregular de verbas ou rendas públicas Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. A diferença entre o crime do artigo 315 e o peculato desvio é que no artigo 315, a verba ou renda continua dentro da Administração pública, embora empregada em finalidade diversa. Pratica artigo 315 aquele que, por exemplo, utiliza verba destinada para construção de escola na construção de uma praça. Já no artigo 312, o valor sai da administração pública. Concussão Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. Excesso de exação § 1o - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. § 2o - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. Atenção: Exação significa cobrança de tributo. Desta forma, excesso de exação significa excesso na cobrança de tributo. O excesso pode se dar, nos termos do parágrafo 1o do artigo 316, pelo fato de o funcionário cobrar tributo indevido ou por cobrar tributo devido, embora de forma indevida (o funcionário que utiliza meio vexatório ou gravoso na co- brança. 3 Não se pode confundir o artigo 316, parágrafo 1o com o crime contra a Ordem Tributária previsto no artigo 3o, II da Lei 8137/90. Nesta lei, o funcionário almeja vantagem para deixar de cobrar ou lançar tributo, enquanto no crime de excesso de exação, ao contrário, há cobrança indevida de tributo. Corrupção passiva Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. § 1o - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. § 2o - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Prevaricação Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. A distinção entre a corrupção passiva privilegiada prevista no artigo 317, parágrafo 2o e o crime de prevaricação do artigo 319 está na motivação do agente e não na conduta. Na prevaricação, o funcionário público está motivado por interesse ou sentimento pessoal, enquantono artigo 317, parágrafo 2o, ele age para atender pedido ou influência de outrem. 4 A concussão e a corrupção passiva são crimes praticados pelo funcionário público. Já a corrupção ativa, prevista no artigo 333, é crime praticado por particular. A diferença entre os crimes de concussão e de corrupção passiva está no verbo núcleo do tipo. Na concussão, o verbo é “exigir”, enquanto na corrupção passiva, o verbo é “solicita”, “receber” ou “aceitar promessa” de vantagem indevida. Não há bilateralidade necessária entre os crimes de corrupção passiva e ativa. Para que haja corrupção ativa (artigo 333), o particular precisa oferecer ou prometer a vantagem. Ou seja, a conduta precisa partir do particular. Caso o particular concorde com a solicitação feita pelo funcionário e apenas dê a vantagem que lhe foi solicitada, não haverá crime. Atenção com os crimes contra a Ordem Tributária, previstos na Lei 8137/90: Art. 3° Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstos no Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal (Título XI, Capítulo I): I - extraviar livro oficial, processo fiscal ou qualquer documento, de que tenha a guarda em razão da função; sonegá- lo, ou inutilizá-lo, total ou parcialmente, acarretando pagamento indevido ou inexato de tributo ou contribuição social; II - exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de iniciar seu exercício, mas em razão dela, vantagem indevida; ou aceitar promessa de tal vantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição social, ou cobrá-los parcialmente. Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. III - patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração fazendária, valendo-se da quali- dade de funcionário público. Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Crimes praticados por particular contra a Administração Pública Usurpação de função pública Art. 328 - Usurpar o exercício de função pública: Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. No crime do artigo 328, usurpar significa ”tomar o lugar de”. Desta forma, o crime estará consumado quando o sujeito ativo pratica pelo menos um ato de ofício de funcionário público. Não basta fingir ser funcionário público. 5 Aquele que apenas finge ser funcionário público, sem pretensão de obter vantagem, poderá praticar apenas mera contravenção penal. Caso o funcionário público pratique vários atos de ofício, dentro de um mesmo contexto, haverá crime único do artigo 328. Não haverá, neste caso, concurso de crimes. LCP – DL 3688/41 Art. 45. Fingir-se funcionário público: Pena – prisão simples, de um a três meses, ou multa, de quinhentos mil réis a três contos de réis. Resistência Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá- lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio: Pena - detenção, de dois meses a dois anos. § 1o - Se o ato, em razão da resistência, não se executa: Pena - reclusão, de um a três anos. § 2o - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência. Desobediência Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público: Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa. A diferença essencial entre os crimes de desobediência e resistência está no fato de que a resistência exige a utilização de violência ou de ameaça. Não há crime de resistência de forma passiva. Caso o agente se oponha passivamente à prática do ato, apenas negando-se a pratica- lo ou agindo sem violência ou ameaça, o crime será apenas de desobediência (artigo 330). Desacato Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. O desacato somente pode ser praticado na presença do funcionário público. Não se exige que a ofensa seja no exercício da função, desde que se dê em razão dela. Logo, pratica desacato aquele que encontra um funcionário público no fim de semana, em uma praça e o chama de funcionário corrupto. No entanto, se a ofensa se der sem a presença do funcionário, seja por carta, recado ou redes sociais, o crime não será de desacato, já que este somente pode ser praticado na presença dele. Com isso, caracterizado estará mero crime contra a honra, como por exemplo a injúria, que poderá ter a pena aumentada de acordo com o artigo 141, II se a ofensa se der em razão da função. O crime contra a honra de funcionário público em razão de sua função é objeto de legitimidade concorrente no que tange à ação penal. Vejamos o disposto no enunciado 714 da súmula do STF: É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do ministério público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções. Crimes de destaque contra a Administração da Justiça: Denunciação caluniosa 6 Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação admi- nistrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. § 1o - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto. § 2o - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção. Comunicação falsa de crime ou de contravenção Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. A distinção essencial entre o artigo 339 e o artigo 340 é que no primeiro, o agente imputa o crime ou contravenção a alguém, colocando em risco a liberdade desta pessoa, o que justifica que o artigo 339 seja muito mais grave que o artigo 340. Na denunciação caluniosa, o crime ou contravenção que é imputado a alguém pode não ter ocorrido ou até pode ter ocorrido e ter sido praticado por outra pessoa. O importante é que o agente o impute a quem ele sabe que é inocente. Logo, se o agente imputa acreditando que a pessoa de fato cometeu o crime, não haverá denunciação caluniosa. Favorecimento pessoal Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. § 1o - Se ao crime não é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa. § 2o - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena. O crime de favorecimento pessoal não se confunde com o favorecimento real. No favorecimento pessoal, o agente esconde o criminoso, enquanto no favorecimento real, ele esconde a coisa, torna seguro o proveito do crime. Apenas no artigo 348 será possível a incidência de escusa absolutória. O artigo 348 prevê a escusa absolutória no parágrafo 2o, prevendo a isenção de pena. Cabe destacar que o crime fica preservado. Se a mãe esconde o filho criminoso, ela comete crime de favorecimento pessoal. Desta forma, o fato é típico, ilícito e culpável, mas não será punível. Por tratar-se de escusa absolutória, a punibilidade sequer chega a nascer. A escusa absolutória caracteriza-se pelo fato de que a punibilidade não chega a nascer. Não se trata de excluir o crime, mas sim a normal consequência dele. Neste caso, não surgirá para o Estado o direito de punir, Favorecimento real Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime: Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. ATENÇÃO Ocultar coisa que saber ser produto de crime pode resultar em diferentes tipificações. 7Vejamos: 1) Caso a ocultação se dê em virtude de combinação prévia, que se deu antes do crime ser praticado, haverá concurso de pessoas. Imagine que Caio e Tício combinaram e dividira, tarefas. Caio ficaria responsável pela sub- tração e Tício ocultaria a coisa. Neste caso, ambos responderão pelo furto. A ocultação foi combinada antes da subtração se efetivar. 2) Caso a ocultação seja combinada apenas após a prática do crime antecedente e caso vise apenas favorecer o autor do primeiro crime, haverá favorecimento real (artigo 349). Exemplo: Caio telefona para Tício, informa que subtraiu um veículo e que não tem onde ocultar. Tício concorda em ocultar o veículo para Caio por uma semana. Neste caso, Tício pratica artigo 349. 3) Caso a ocultação seja combinada apenas após a prática do crime antecedente e caso vise proveito de quem está ocultando ou de terceira pessoa (que não é o autor do crime anterior), haverá receptação (artigo 180). Exemplo: Caio telefona para Tício, informa que subtraiu um veículo e que não tem onde ocultar. Tício concorda em ocultar o veículo para Caio por uma semana para que seu irmão possa comprá-lo. Neste caso, Tício pratica artigo 180. 8 CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL COMPLEMENTARES Abrange: - Crimes contra a liberdade sexual - Crimes sexuais contra vulnerável - Disposições gerais - Lenocínio - Ultraje público ao pudor - Disposições gerais PONTOS DE IMPORTÂNCIA PARA A PROVA: - Modalidades de estupro - Distinção entre estupro e violação sexual mediante fraude - Estupro de vulnerável e experiência sexual anterior da vítima - Tráfico de pessoas - Ação penal Modalidades de estupro: Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou per- mitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. § 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. § 2o Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos O crime de estupro, em qualquer de suas modalidades, é dotado de substancial gravidade. Sendo assim, é preci- so atentar para outras infrações menos gravosas, como a contravenção penal de importunação ofensiva ao pudor. Lei de Contravenções Penais Art. 61. Importunar alguém, em lugar público ou acessível ao público, de modo ofensivo ao pudor: Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis. E qual será o crime daquele que pratica algum ato obsceno em local público? Ato obsceno Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Estupro de vulnerável Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. § 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. O que diferencia o estupro (artigo 213) do estupro de vulnerável (artigo 217 A)? A condição de vulnerabilidade da vítima. Se a vítima é vulnerável o agente tem ciência disso, não importa como o ato libidinoso foi praticado (com consentimento, violência, grave ameaça ou fraude), o crime será sempre de estu- pro de vulnerável. Consoante nossos Tribunais, a experiência sexual anterior da vítima não afasta a vulnerabilidade. Haverá o crime. 3 Violação sexual mediante fraude Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. Qual é o critério que diferencia a violação sexual mediante fraude do crime de estupro (artigo 213)? O meio empregado para a prática do ato libidinoso. Caso o agente empregue a fraude, o crime será do artigo 215. Caso o agente empregue violência ou grave ameaça, o crime será do artigo 213. Cabe destacar que se a vítima for vulnerável e o agente tiver conhecimento disso, não importa o meio empregado, pois o crime será sempre o do artigo 217 A (estupro de vulnerável). ATENÇÃO: Já no crime de assédio sexual, não há emprego de violência ou de grave ameaça. No máximo, em havendo ame- aça, ela não será grave. Exemplo: Ameaçar de não dar a promoção que é devida. Assédio sexual Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou fun- ção. Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos. Parágrafo único. § 2o A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos. A prática de ato libidinoso com menor de 18 anos e maior de 14 anos configura crime? Somente se o menor de 18 anos e maior de 14 estiver em situação de prostituição ou exploração sexual. Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerá- vel. Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. § 1o Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. § 2o Incorre nas mesmas penas: I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (cator- ze) anos na situação descrita no caput deste artigo; II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo. § 3o Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de locali- zação e de funcionamento do estabelecimento. O artigo 218 B passou a integrar o rol de crimes hediondos a partir da vigência da Lei 12978/14, o que se deu no dia 22 de maio de 2014. Cabe destacar que o artigo 218B caracteriza-se como crime sexual contra vulnerável. Caso a vítima não seja pes- soa vulnerável, o favorecimento da prostituição será tipificado no artigo 228 do CP. Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá- la, impedir ou dificul- tar que alguém a abandone: 4 Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. § 1o Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos. § 2o - Se o crime, é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, além da pena correspondente à violência. § 3o - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa. Atenção: A prostituição, em si, não é crime. O Código Penal não prevê como crime a conduta da prostituta que se prostitui, mas sim daquele que explora a prostituição alheia, seja favorecendo-a (art. 228), mantendo o local em que a prostituição ou exploração sexual ocorre (art. 229) ou ainda tirando proveito da prostituição alheia (art. 230) O tráfico de pessoas para fins sexuais é crime contra a dignidade sexual? A lei 13.344/16 revogou os artigos 231 e 231 A do Código Penal. O crime passou a estar previsto no artigo 149 A, incluindo também outras motivações para o tráfico. Passou a se caracterizar como crime contraa liberdade pes- soal. Tráfico de Pessoas Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de: I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo; II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo; III - submetê-la a qualquer tipo de servidão; IV - adoção ilegal; ou V - exploração sexual. Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. § 1o A pena é aumentada de um terço até a metade se: I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las; II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência; III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de depen- dência econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou função; ou IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional. § 2o A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e não integrar organização criminosa. A Lei 13.344 entrou em vigor no dia 21 de novembro de 2016. Ação penal Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública condicio- nada à representação. Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável. Conclusão da leitura do artigo 225: A maioria dos crimes contra a dignidade sexual é de ação penal pública incondicionada. A exceção (ação penal pública condicionada à representação) aplica-se apenas aos crimes previstos no Capítulo I (arts. 213, 215 e 216A). Os crimes contra vulnerável são de ação penal pública incondicionada. Após a vigência da Lei 12015/09, o título dos crimes contra a dignidade sexual passou a contar com duas previ- sões de causas de aumento de pena. 5 Vejamos: Art. 226. A pena é aumentada: I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas; II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela; Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada: III - de metade, se do crime resultar gravidez; e IV - de um sexto até a metade, se o agente transmite à vitima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador. CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA Falsificação de documento público Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. § 1o - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte. § 2o - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento parti- cular. § 3o Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir: I – na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório; II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita; III – em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado. § 4o Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3o, nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviços. Falsificação de documento particular Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento particular verdadeiro: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. Falsificação de cartão Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a documento particular o cartão de crédito ou débito. Falsidade ideológica Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante: 3 Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular. Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsifica- ção ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte. A melhor forma de diferenciar a falsidade material da falsidade ideológica é analisar o sujeito ativo da conduta. Na falsidade ideológica (artigo 299), quem presta as informações falsas é quem deveria prestar, mas as omite ou as presta de maneira falsa. Já nos crimes dos artigos 297 e 298 (modalidades de falsidade material), ainda que haja inserção de conteúdo falso em documento verdadeiro, a conduta não é praticada por aquele que é o responsável pelas informações. Desta forma, aquele que pega um espelho de identificação oficial e nele preenche dados falsos, responderá pelo crime do artigo 297 caso não seja o responsável por prestar informações. No entanto, caso seja o responsável por prestá-las, seu crime será o do artigo 289. No entanto, os parágrafos 3o e 4o do artigo 297, que foram incluídos no ano de 2000, se diferenciam da característica essencial do crime de falsidade material. Justamente por isso, alguns criticam a inclusão da conduta dentro do artigo 297, sustentando que as condutas deveriam ter sido incluídas no crime de falsidade ideológica. O crime de falsidade ideológica, tipificado no artigo 299 é bastante genérico. Há modalidades de falsidade ideológica mais específicas tipificadas ao longo do Código Penal, como é o caso do crime de falsidade de atestado médico, que prepondera sobre o artigo 299, frente ao princípio da especialidade. Falsidade de atestado médico Art. 302 - Dar o médico, no exercício da sua profissão, atestado falso: Pena - detenção, de um mês a um ano. Parágrafo único - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa. Trecho de Cleber Masson: “O crime é próprio ou especial, pois somente pode ser cometido pelo médico. Sua área de especialização é irrele- vante. Admite-se o concurso de pessoas (coautoria e participação). Excluem-se os dentistas, psicólogos e fisiotera- peutas, entre outros. E, nesse ponto, o legislador criou uma situação contraditória, pois o fornecimento de atestados falsos por tais profissionais configura o delito de falsidade ideológica (art. 299 do CP), cuja pena é sensivelmente mais grave. E, além de ser profissional da medicina, o agente deve dar o falso atestado “no exercício da sua profis- são”, isto é, a afirmação há de relacionar-se com o estado de saúde do solicitante. O beneficiário do atestado médico falso que o utiliza, ciente da sua origem, comete o crime de uso de documento falso (art. 304 do CP).” Uso de documento falso Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302: Pena - a cominada à falsificação ou à alteração. Para praticar o crime de uso de documento falso, não basta que o agente porte ou traga consigo o documento. É necessário o efetivo uso. Não se pode confundir o crime do artigo 304 com o crime de falsa identidade. Vejamos: Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade
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