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a própria sobrevivência, por que ajudar os outros com os custos e riscos envolvidos? Para uma parcela significativa de teóricos em Psicologia social, o comportamento pró-social pode ser explicado, sobretudo, pela cultura na qual estamos inseridos. Isso fundamenta-se na constatação de que há diferenças significativas na tendência a manifestar comportamentos pró-sociais de uma cultura para outra. Segundo Rodrigues, Assmar e Jablonski (1999), o altruísmo é fortemente estimulado nas chamadas culturas coletivistas (culturas latino-americana e asiática). Em sentido contrário, nas culturas individualistas, como a norte-americana e a canadense, esse tipo de comportamento já é bem menos visível. Enquanto na primeira temos que o bem-estar do grupo prevalece sobre os desejos individuais, na segunda a busca dos objetivos pessoais se sobrepõe à responsabilidade individual pelo bem coletivo. A partir desta visão claramente antropológica, os padrões sociais predominantes em uma dada cultura acabam por interferir diretamente na tendência a nos comportarmos de forma mais ou menos altruísta. Desta forma, não há como negarmos que os indivíduos também ajudam os outros diante de certas normas que prescrevem o comportamento apropriado em determinadas situações. Nesses casos teríamos algo como: “algo me diz que devo ajudá-lo(s)”. De acordo com Rodrigues, Assmar e Jablonski (1999), estas normas criam uma base sólida para o comportamento pró-social. 122 UNIDADE 2 | DESENVOLVIMENTO HUMANO: UM ENFOQUE PSICOSSOCIAL Através do processo de socialização os indivíduos aprendem e incorporam normas que favorecem a se comportar pró-socialmente. Três normas sociais são consideradas por eles importantes na promoção do comportamento de ajuda: norma da reciprocidade, norma da justiça social e norma da responsabilidade social. A norma da reciprocidade prescreve sinteticamente que tendemos a retribuir os benefícios e favores que recebemos dos outros. Nesse sentido, geralmente ajudamos quem já nos ajudou ou quem esperamos que nos ajude no futuro. Já as normas de justiça social, principalmente a da equidade, nos pressionam a buscar promover relações justas entre as pessoas. Tendemos a promover a equidade nas relações que estabelecemos com os demais. Já a norma da responsabilidade social nos induz a ajudar as pessoas que dependem de nós ou que são incapazes de se autogerenciar. Em suma, as explicações normativas, aquelas as quais internalizamos padrões sociais de comportamento que nos motivam a agir segundo esses padrões, são úteis para o entendimento do comportamento de ajuda. Infelizmente, há uma grave constatação a ser feita. Atualmente, tomados pela cultura ocidental que valoriza muito mais o “ter” do que o “ser”, o comportamento pró-social perde espaço. Diante da lógica do “salve-se quem puder”, o individualismo exacerbado nos faz ter dificuldade em se preocupar e agir em prol dos demais. É importante destacar que, independente dos motivos que levam as pessoas a ajudarem os outros, não há como negar que existem outros tipos de fatores associados. Como explicar que, em determinadas situações, certas pessoas mostram-se mais altruístas e outras mais egoístas? Nestes casos é um tanto óbvio que apenas explicações culturais e societárias acabam sendo bastante restritivas. Estamos, nesse caso, falando de diferenças individuais que dizem respeito ao modo bastante particular de cada um ser e se comportar no mundo. Estamos falando de personalidade ou subjetividade, termo preferido neste material. Embora estejamos em um contexto “X”, isto não garante que seremos uma reprodução fiel do mesmo. Como afirma Sartre: somos livres porque fazemos escolhas. Temos capacidade de discernimento, não somos tão passivos quanto alguns imaginam, e nem tão autônomos como podemos julgar ser. A Psicologia social ressalta o papel das relações sociais que estabelecemos não por julgar que aí está a explicação do porquê somos o que somos, mas por perceber que a Psicologia em vários momentos de sua história negou este viés. ESTUDOS FU TUROS Conceito relacionado ao que estamos falando é o conceito de subjetividade, que será apresentado na última unidade. TÓPICO 5 | COMPORTAMENTO ANTISSOCIAL E PRÓ-SOCIAL 123 Para encerrar este tópico, segue um breve texto que nos faz refletir sobre as diversas possibilidades de nos apresentarmos no mundo a partir de uma perspectiva otimista que nos leva à ação. Todos nós temos o potencial para nos tornarmos pessoas altruístas ou agressivas. Mas ninguém será altruísta se suas experiências lhe ensinarem a se preocupar apenas consigo mesmo. O relacionamento humano é intrinsecamente satisfatório e prestativo. Basta deixarmos que isso aconteça. 124 RESUMO DO TÓPICO 5 Deste tópico é importante que você tenha claro que: • Em se tratando de desenvolvimento humano, uma possibilidade de análise é o estudo dos comportamentos pró ou contra os outros seres humanos. • A agressão, um tipo de comportamento antissocial, pode ser compreendido como qualquer comportamento que tem a intenção de causar danos, físicos ou psicológicos, em outro organismo ou objeto. • Oposto à agressão temos os comportamentos pró-sociais. Um deles é o chamado altruísmo, normalmente entendido como o ato que beneficia alguém sem trazer qualquer benefício para quem o faz. • Tanto a agressão como o altruísmo, para a Psicologia Social, têm base fundamentalmente social, embora não sejam descartados os componentes biológicos. 125 1 Questão única: Defina agressão e altruísmo expondo a visão da psicologia social a respeito de como esses comportamentos fazem parte do repertório comportamental do homem contemporâneo. AUTOATIVIDADE 126 127 UNIDADE 3 CATEGORIAS FUNDAMENTAIS EM PSICOLOGIA SOCIAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade você será capaz de: • apresentar alguns conceitos básicos em Psicologia Social; • propor uma leitura da realidade a partir de algumas categorias da Psicologia Social. A Unidade 3 está dividida em cinco tópicos. Ao final de cada um deles, você terá a oportunidade de fixar seus conhecimentos realizando as atividades propostas. TÓPICO 1 – SUBJETIVIDADE E IDENTIDADE TÓPICO 2 – ATIVIDADE E CONSCIÊNCIA TÓPICO 3 – REPRESENTAÇÕES SOCIAIS TÓPICO 4 – IDEOLOGIA E ALIENAÇÃO TÓPICO 5 – COMUNIDADE E SOCIEDADE 128 129 TÓPICO 1 SUBJETIVIDADE E IDENTIDADE UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Ao buscarmos nos aproximar dos estudos em Psicologia Social, não há como negarmos algumas categorias fundamentais, conceitos de extrema relevância e que servem como base aos estudos na área. Entre esses conceitos importantes, destacam-se “subjetividade” e “identidade”. Se tivermos a subjetividade como o “ser” e a identidade como o “pensar ser”, não há como negarmos a relação desses dois conceitos e o fato de que os mesmos acabam servindo para a análise e compreensão do homem, sobretudo, do homem moderno, um dos grandes objetivos da Psicologia Social contemporânea. Neste tópico, entraremos em contato com esses conceitos a partir das suas definições, dos elementos que constituem a subjetividade e a identidade, assim como analisaremos essas categorias no contexto histórico-social atual. 2 SUBJETIVIDADE: UM DOS OBJETOS DA PSICOLOGIA Como já discutimos anteriormente, temos vários objetos de estudo na Psicologia, ou melhor, cada abordagem encarrega-se de defender o estudo de algum componente em específico. Não há como negar que a Psicologia, considerada como um todo, colabora com o estudo da subjetividade e, exatamente, por isso esse termo é encontrado frequentemente nos materiais da área e tem uma importância indiscutível. Você deve estar se perguntando: “certo, mas afinal, o que é subjetividade?” Bock, Furtado e Teixeira (2002) exploram