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Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 8: DIAEBTES GESTACIONAL 1 1. Introdução Em primeiro de agosto de 2016, considerando-se a relevância do Diabetes Mellitus Gestacional (DMG), tanto por sua prevalência como pelas consequências para o binômio materno-fetal em curto e em longo prazo, foi realizado, em São Paulo, fórum de discussão sobre o tema, com o objetivo de se definir uma proposta para um diagnóstico de DMG para o Brasil. Participaram da reunião médicos especializados na assistência a mulheres com DMG: obstetras da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), endocrinologistas da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), consultores da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS no Brasil) e assessores técnicos do Ministério da Saúde. 2. Diabetes Mellitus gestacional Hiperglicemia durante o ciclo gravídico-puerperal constitui um relevante problema da atualidade, não só pelo risco de piores desfechos perinatais e de desenvolvimento de doenças futuras, como também pelo aumento de sua prevalência, em decorrência da epidemia de obesidade que tem sido observada em vários países. A prevalência da DMG varia de 1-37% com uma média mundial de 16,2% A hiperglicemia durante a gestação também afeta os filhos destas mulheres, aumentando os riscos dessas crianças desenvolverem obesidade, síndrome metabólica e diabetes na vida futura Conceito → Distúrbio do metabolismo dos carboidratos caracterizado por hiperglicemia decorrentes de defeitos na produção e/ou ação da insulina *Diabetes Mellitus (DM) representa um conjunto de distúrbios metabólicos caracterizados por hiperglicemia consequente à deficiência insulínica. Essa deficiência pode ser decorrente da produção pancreática reduzida, de inadequada liberação e/ou da resistência periférica ao hormônio. A caracterização etiopatogênica da disglicemia permite o entendimento da fisiopatologia e proporciona o embasamento para adequado manejo de cada caso nas diversas fases da vida do indivíduo. O diabetes é a complicação médica mais comum da gravidez Tipos ❖ Pré-gestacional ou clínica ❖ Gestacional → Funcionamento errático do lactatogênio placentário Classificação Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 8: DIAEBTES GESTACIONAL 2 Considerando o período gravídico-puerperal, é possível a ocorrência de hiperglicemia tanto em mulheres já sabidamente diagnosticadas como portadoras de DM previamente à gestação quanto em gestantes sem esse diagnóstico prévio. As recentes diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e dos principais protocolos de manejo de DM recomendam que a hiperglicemia inicialmente detectada em qualquer momento da gravidez deve ser categorizada e diferenciada em DM diagnosticado na gestação (do inglês Overt Diabetes) ou em DMG. 3. Complicações Abortamento Pré-eclâmpsia Trabalho de parto pré-termo Distocias Macrossomia Polidrâmnio Restrição de crescimento fetal Complicações neonatais Malformações Mortes perinatais Natimorto 4. Fatores de risco Idade → Aumento progressivo do risco com o aumentar da idade Sobrepeso/obesidade → IMC maior ou igual 25g/m2 Antecedentes familiares de DM → Parentes de primeiro grau (especialmente) Antecedentes pessoais de alterações metabólicas ❖ HbA1c maior ou igual a 5,7% → Método HPLC ❖ Síndrome dos ovários policísticos ❖ Hipertrigliceridemia ❖ Hipertensão arterial sistêmica ❖ Acantose nigricans ❖ Doenças cardiovasculares ateroscleróticas ❖ Uso de medicamentos hiperglicemiantes Antecedentes obstétricos ❖ Duas ou mais perdas gestacionais prévias ❖ Diabetes Mellitus gestacional ❖ Polidrâmnio ❖ Macrossomia → Recém-nascido anterior com peso maior ou igual a 4000g ❖ Óbito fetal/neonatal sem causa determinada ❖ Malformação fetal 5. Marcadores Clínicos ❖ Passado de macrossomia ❖ Idade acima de 35 anos ❖ História familiar ❖ História de diabetes na gestação Bioquímicos ❖ Glicemia de jejum Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 8: DIAEBTES GESTACIONAL 3 6. Como prevenir? Dieta Atividade física Programar gestações Controle de glicemias Rastreamento *Valor acima do jejum de 92 é diabetes Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 8: DIAEBTES GESTACIONAL 4 Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) → Mulher com hiperglicemia detectada pela primeira vez durante a gravidez, com níveis glicêmicos sanguíneos que não atingem os critérios diagnósticos para DM. Diabetes Mellitus diagnosticado na gestação (Overt Diabetes) → Mulher sem diagnóstico prévio de DM, com hiperglicemia detectada na gravidez e com níveis glicêmicos sanguíneos que atingem os critérios da OMS para a DM na ausência de gestação. 7. Fisiopatologia da DMG Placenta vai produzir o lactogênio, cortisol e prolactina que irá reduzir a atuação da insulina, ou seja, induzindo a resistência à insulina materna A gestação se caracteriza um estado resistência à insulina. Essa condição, aliada à intensa mudança nos mecanismos de controle da glicemia, em função do consumo de glicose pelo embrião e feto, pode contribuir para ocorrência de alterações glicêmicas favorecendo o desenvolvimento de DMG. Alguns hormônios produzidos pela placenta e outros aumentados pela gestação, tais como lactogênio placentário, cortisol e prolactina, podem promover redução da atuação da insulina em seus receptores e, consequentemente, um aumento da produção de insulina nas gestantes saudáveis. Esse mecanismo, entretanto, pode não ser observado em gestantes que já estejam com sua capacidade de produção de insulina no limite. Essas mulheres têm insuficiente aumento de produção de insulina e, assim, podem desenvolver diabetes durante a gestação. 8. Classificação de White (desatualizado) Classificação que abordava as complicações 9. Diagnóstico Estudo HAPO Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 8: DIAEBTES GESTACIONAL 5 Em 1979, os critérios de O’Sullivan e Mahan foram aprovados pelo National Diabetes Data Group (NDDG). DMG seriam necessários dois valores iguais ou superiores a 105mg/dL no jejum; 190 mg/dL na 1a hora; 165mg/dL na 2a hora e 145mg/dL na 3a hora. Em 1982, Carpenter e Coustan observaram que devido a mudanças nos métodos laboratoriais usados para avaliar a glicemia, seria necessário fazer uma segunda correção em relação aos valores propostos em 1979 (20). Assim, passam a ser utilizados para diagnóstico dois valores iguais ou superiores a 95mg/dL no jejum; 180 mg/dL na 1a hora; 155mg/dL na 2a hora e 140 mg/dL na 3a hora. International Association of Diabetes in Pregnancy Study Group (IADPSG) realizou um encontro de especialistas, com participação de várias sociedades médicas mundiais *Basta um valor alterado é considerado diabetes Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 8: DIAEBTES GESTACIONAL 6 10. Manejo do diabetes na gravidez Cuidados pré-concepcionais ❖ ADA definiu o controle de glicose ➢ Pré-prandial de 70-100mg/dL ➢ Pós-prandial de 100-129mg/dL ➢ Concentrações médias de glicose inferior a 110mg/dL ➢ Hemoglobina glicada menor que 7%; 6,5% ADA 201; 6% Zugaib Primeiro trimestre ❖ Avaliação de complicações vasculares ❖ Otimizar dose de insulina ❖ Manter folato ❖ Estabelecer com precisão da idade gestacional → De preferência até 12 semanas ❖ Uso de ASS (Nice, 2015) e cálcio ❖ Pesquisar disfunção de órgãos-alvo ❖ Restrição calórica para pacientes com sobrepeso e obesidade → 1800-2200 calorias (30- 35Kcal/Kg) ❖ Composição dietética ideal → 55% de carboidrato, 20% de proteína e 25% de gordura com menos de 10% de saturada. Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 8: DIAEBTES GESTACIONAL 7 Segundo trimestre❖ Avaliação com USG de morfologia fetal. ❖ Avaliação de ecocardiograma fetal em DM pré-existente ❖ Avaliação com USG de crescimento fetal e líquido amniótico ❖ Avaliação de retina em DM pré-existente ❖ Informações sobre o parto e puerpério ❖ Parto em DM1 e DM2 → 37-38 semanas ❖ Parto sem complicações do DMG → 40 semanas Cardápio 11. Rota da gestante 12. Insulina – sempre será a primeira escolha, pois é a que causa menos dano Primeiro trimestre → 0,6 unidades/Kg/dia Segundo trimestre → 0,8 unidades/Kg/dia Terceiro trimestre → 1,0 unidades/Kg/dia Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 8: DIAEBTES GESTACIONAL 8 13. Hipoglicemiantes orais Metformina ❖ Não são recomendados como primeira linha ❖ Cruza a barreira placentária ❖ Menor ganho de peso ❖ Associação com CIUR e obesidade Glibenclamida ❖ Não são recomendados como primeira linha ❖ Cruza a barreira placentária 14. Monitorização glicêmica – controle Glicemia capilar 07 vezes ao dia Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 8: DIAEBTES GESTACIONAL 9 15. Indicação de avaliação fetal de acordo com a gravidade da DMG 16. Cetoacidose diabética A Cetoacidose diabética (CAD) é uma complicação aguda da Diabetes caracterizada por hiperglicemia, acidose metabólica e cetose. Acomete maioritariamente pacientes com Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1) sendo geralmente precipitada por condições infecciosas, uso inadequado de insulina, má adesão terapêutica ou desconhecimento do diagnóstico de diabetes. Apesar de ser uma condição rara na gravidez, a CAD constitui uma emergência médica com impacto significativo na morbimortalidade materno-fetal. Embora classicamente associada à DM1, vários têm sido os relatos de casos ocorrido na Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) e Diabetes gestacional (DG). As alterações fisiológicas da gravidez que condicionam resistência periférica à ação de insulina associada à deficiente produção de insulina característica da DM tipo 1 pode precipitar um estado hiperglicêmico com prejuízo da saúde fetal. Um ambiente metabólico anormal pode assim, associar-se a abortos espontâneos, malformações fetais, hidrâmnios, parto pré-termo, macrossomia ou mesmo a morte fetal A cetoacidose diabética é uma entidade clínica descrita como uma complicação aguda da diabetes tipo 1, uma emergência médica, que pode levar à morte se não for tratada precocemente. Também há casos documentados de cetoacidose diabética em doentes com diabetes tipo 2, particularmente em diabéticos obesos de raça negra. É consequência Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 8: DIAEBTES GESTACIONAL 10 de um défice ou mesmo ausência total de insulina, associado a um aumento relativo das hormonas contra-reguladoras, nomeadamente glucagon, catecolaminas, cortisol e hormona do crescimento, o que leva a um quadro de hiperglicemia, desidratação, cetose e acidose metabólica. Muitas vezes, tem um início insidioso, sendo precedida durante um ou vários dias por sintomas de descompensação diabética, como poliúria, polidipsia, náuseas e astenia, e pode ser a primeira manifestação de diabetes mellitus *Feito em UTI ou regime de semi UTI 17. Momento do parto 18. Pós-parto Ainda que a tolerância à glicose se normalize rapidamente após o parto na maioria das mulheres que desenvolveram DMG, o risco de desenvolvimento de DM do tipo 2 ou de intolerância à glicose é significativo. A incidência de diabetes entre mulheres com história prévia de DMG varia de 3 a 65% (27). A grande variação ocorre devido às diferenças étnicas, à falta de uniformidade dos critérios diagnósticos, ao uso de métodos distintos para diagnosticar diabetes após a gravidez, à adoção de diversos protocolos de acompanhamento, aos diferentes manejos estatísticos dos dados, e ao tempo de acompanhamento desigual. Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 8: DIAEBTES GESTACIONAL 11 Referências bibliográficas Aula de Dra. Licemary Lessa (13/10/2021) Organização Pan-Americana da Saúde. Ministério da Saúde. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Sociedade Brasileira de Diabetes Rastreamento e diagnóstico de diabetes mellitus gestacional no Brasil. Brasília, DF: OPAS, 2016. 32p.: il. ISBN: 978-85-7967-118-0 Abreu, B., Amaral, N., Pereira, N., Dias, E., Pratas, S., & Veríssimo, C. (2016). Cetoacidose Diabética na Gravidez. Revista Portuguesa de Diabetes, 11(1), 42-45.
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