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SISTEMAS DE PRODUÇÃO Jesmael Grams Sistema Toyota de Produção (STP) Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Explanar a história e a origem do Sistema Toyota de Produção. � Apontar os princípios fundamentais do Sistema Toyota de Produção. � Analisar os pilares que regem o Sistema Toyota de Produção. Introdução Ao longo do tempo, a produção industrial passou por uma série de ino- vações em seus sistemas de produção, em busca de maior produtividade e qualidade no produto final. Esses sistemas partiram da necessidade de produzir mais, de forma mais barata e sem desperdício, tentando tornar a produção sistemática e mais eficaz. Com o fordismo em ascensão nos Estados Unidos e no mundo, admiradores do ramo automobilístico e da manufatura se concentraram em buscar novos desafios para aprimorar outros sistemas de produção. Nesse sentido, um dos mais bem-sucedidos foi o Sistema Toyota de Produção, que inovou nos campos da engenharia, da administração e das normas técnicas de qualidade. Ele combina conceitos técnicos e valores como disciplina, persistência e a melhoria contínua no estilo japonês, e nasceu dentro de uma organização que fez o mundo industrial mudar a forma de produzir em larga escala. Neste capítulo, você verá a origem do Sistema Toyota de Produção e de seus princípios fundamentais. Além disso, analisará os pilares que regem esse sistema tão importante para a indústria mundial. A origem do Sistema Toyota O Sistema Toyota de Produção foi elaborado pela Toyota Corporation, fabri- cante japonês de automóveis, entre os anos de 1948 e 1975. Os precursores da sua criação foram Taiichi Ohno, chefe de engenharia da empresa, e Eiji Toyoda, membro da família proprietária. Na época, o mundo passava por grandes transformações, resultantes de duas guerras mundiais. Segundo Souto (2000), em 1945 o Japão estava em situação econômica desfavorável devido a uma série de fatores, dentre eles: � Restrição de crédito imposta pelos bancos americanos. � Aumento do poder dos sindicatos pelas regras trabalhistas impostas pela ocupação americana. � Inexistência de imigrantes temporários como decorrência da guerra. Dessa forma, o objetivo maior era a redução de custos para sobreviver no mercado. A Toyota trabalhou firmemente para criar seu sistema de produção com base em eliminação de perdas e redução de custos. Outros fatores levaram a própria Toyota a pesquisar o assunto com mais profundidade. Figura 1. Planta fabril da Toyota em 1948. Fonte: Toyota Corporation Sistema Toyota de Produção (STP)2 Meta: alcançar os EUA Como a Toyota investigava os modelos de produção americanos e sua pro- dutividade, os precursores do Sistema Toyota buscaram dados estatísticos relacionados ao tema. Havia rumores na época que um trabalhador alemão produzia em média três vezes mais do que um trabalhador japonês. Conforme relato de Taiichi Ohno, um trabalhador americano era três vezes mais eficaz que um trabalhador alemão. Concluiu-se então que um trabalhador americano produzia nove vezes mais que um trabalhador japonês, dado que espantou a presidência da Toyota. Nesse momento, foram levantadas diversas questões: a produtividade japonesa aumentou ou diminuiu durante a guerra? Um operário americano exerce nove vezes mais esforço físico que um operário japonês? Essas questões precisavam ser esclarecidas, e foram esses questionamentos que marcaram o início do Sistema Toyota de Produção. Eiji Toyoda e Taiichi Ohno decidiram então que a meta da empresa seria alcançar os Estados Unidos em três anos, ou a indústria automobilística do Japão não sobreviveria (TOYODA, 1945 apud OHNO, 1997, p.25). Segundo Martins e Laugeni (2013), o ponto de partida de ambos foi o de- senvolvimento dos quatro norteadores do Sistema Toyota de Produção, que são: 1. Todo trabalho deve ser minuciosamente especificado em termos de sequência, conteúdo, tempo e resultado. 2. Todas as conexões entre clientes e fornecedores devem ser diretas, devendo assim existir um caminho evidente de sim ou não para ter uma comunicação direta entre ambos. 3. Todos os fluxos dos produtos/serviços devem ser simples e diretos. 4. Toda melhoria precisa ser feita de acordo com o método científico, sob a orientação de um professor e no nível hierárquico mais baixo possível da organização. Essas quatro regras demonstram que o segmento de produção deve se adequar de forma rápida a fluxos novos, sem perder a qualidade e eficácia do trabalho realizado. Vale ressaltar que os valores culturais japoneses tiveram inclusão na essência dessas regras, mostrando que a disciplina, a simplicidade e a persistência são muito importantes para o povo japonês. 3Sistema Toyota de Produção (STP) Figura 2. Planta fabril da Toyota nos dias atuais. Fonte: Toyota (2016). O Sistema Toyota nasceu no Japão. Muitas palavras no idioma japonês são usadas para descrever processos e atitudes, e algumas delas são mencionadas neste capítulo. Princípios fundamentais do Sistema Toyota Após várias visitas à fábrica da Ford, Toyoda e Ohno perceberam que a mon- tadora americana produzia peças intermediárias em larga escala, podendo demorar até semanas para as mesmas serem utilizadas na linha de montagem. Também viram que essa matéria prima estocada poderia perder qualidade, com o decorrer do tempo, ou ter defeitos de fabricação, pela produção em grandes lotes. De acordo com Justa e Barreiros (2009), a Toyota aproveitou a metodologia de linha de montagem da Ford, adicionando a ela a redução de desperdício e a “produção puxada”, que seguia a necessidade do cliente. Esse foi o primeiro passo da Toyota para alinhar seus processos, otimizando o sistema interno e fazendo as adaptações necessárias de acordo com a sua realidade. Sistema Toyota de Produção (STP)4 Conforme a metodologia de trabalho foi sendo aprimorada, a Toyota de- senvolveu 14 princípios, descritos na obra de Liker (2005). Segue abaixo uma breve explicação: � Basear as decisões administrativas em uma filosofia de longo prazo, mesmo que em detrimento de metas financeiras de curto prazo. Traba- lhar, crescer e alinhar toda a organização rumo a um objetivo comum é mais importante que ganhar dinheiro. � Criar um fluxo de processo contínuo para trazer os problemas à tona. a o estoque zero. � Criar um fluxo para mover rapidamente o material e as informações, bem como para encadear processos e pessoas de modo que os problemas se tornem imediatamente visíveis. � Usar sistemas “puxados” para evitar a superprodução. � Oferecer aos clientes o que eles desejam, quando desejam e na quanti- dade que necessitam. O reabastecimento do material adicionado pelo consumo é o princípio básico do just-in-time. � Nivelar a carga de trabalho. � Trabalhar como a tartaruga, não como a lebre. Nivelar os processos como alternativa à abordagem para/arranca do trabalho em lotes, típico na maioria das empresas. � Construir uma cultura de parar e resolver problemas, para obter a qua- lidade desejada logo na primeira tentativa. � Autonomação, ou máquinas com inteligência humana, é a base da construção da qualidade. � Tarefas padronizadas são a base da melhoria contínua e da capacitação dos funcionários. � Tarefas padronizadas, segundo o Sistema Toyota, auxiliam na redução de falhas e no aumento da produtividade entre os trabalhadores. � Usar o controle visual para que nenhum problema fique oculto. � Manter o ambiente sempre organizado, prevenindo perdas, acidentes, e possíveis erros. A Toyota utiliza o Sistema 5S como molde para o princípio. � Usar somente tecnologia confiável e plenamente testada que atenda aos processos. � A Toyota utiliza tecnologia confiável, podendo até não ser a mais avan- çada do mercado. O mais importante é que a tecnologia seja aprovada em todos os testes da montadora. 5Sistema Toyota de Produção (STP) � Desenvolver líderes que compreendam completamente o trabalho,vivam a filosofia e ensinem aos outros. � A Toyota acredita que é mais importante desenvolver líderes interna- mente do que buscar capital humano fora da empresa. Para a Toyota, é muito importante o funcionário viver a sua filosofia. � Desenvolver pessoas e equipes excepcionais que sigam a filosofia da empresa. � Ter conhecimento sobre os valores culturais da Toyota e tudo sobre esse sistema é essencial. � Respeitar sua rede de parceiros e de fornecedores, desafiando-os e ajudando-os a melhorar. � A Toyota trabalha comprometida com seus parceiros e fornecedores. Se a colaboração está de acordo com a empresa, a Toyota os auxilia nas melhorias internas de seus parceiros. � Ver por si mesmo para compreender completamente a situação. � Deve-se sempre analisar profundamente a situação para encontrar a melhor solução. � Tomar decisões lentamente, por consenso, considerando completamente todas as opções. � Avaliar todas as possibilidades, planejar de forma lenta e gradual para assim implementar ações sem erros e problemas futuros. � Tornar-se uma organização de aprendizagem pela reflexão incansável (hansei) e pela melhoria contínua (kaizen). � A filosofia Toyota acredita que nada é imutável e tudo pode ser me- lhorado, passando isso a seus funcionários. Dessa forma, a empresa evolui constantemente, não tem perdas expressivas em seus processos e os funcionários adquirem experiência de forma contínua. Para saber mais sobre a origem do Sistema Toyota e seus princípios, leia: OHNO, T. O Sistema Toyota de Produção: além da produção em larga escala. Porto Alegre: Bookman, 1997. Sistema Toyota de Produção (STP)6 Pilares do Sistema Toyota O Sistema Toyota de Produção é representado pela imagem de uma casa (Figura 3). A sua base representa a estabilidade, resultado dos princípios e valores, dois pilares sustentando o teto e o objetivo final: a melhor qualidade, o menor custo e o lead time (ciclo) mais curto possível. Abordaremos em seguida sobre os dois pilares do Sistema Toyota e seu significado. Figura 3. Casa Toyota: base e pilares. Fonte: Liker (2005; p.51). Melhor qualidade – Menor custo – Menor lead time – Mais segurança – Moral alto Pessoas e equipe de trabalho Melhoria contínua Automação Redução das perdas Just-in-time Por meio da redução do �uxo de produção pela eliminação das perdas Peça certa, quantidade certa, tempo certo • Planejamento takt time • Fluxo contínuo • Sistema puxado • Troca rápida • Logística integrada • Seleção • Metas comuns • Genchi genbutsu • 5 porquês Produção nivelada (heijunka) Processos estáveis e padronizados Gerenciamento visual Filosofia do Modelo Toyota • Ringi de decisão • Treinamento (Qualidade no setor) Tornar os problemas visíveis • Visão de perdas • Solução de problema • Paradas automáticas • Andon • Separação pessoa-máquina • Ver�cação do erro • Controle de qualidade no setor • Solução na origem dos problemas (5 porquês) 7Sistema Toyota de Produção (STP) Quer visualizar vídeos e textos a respeito do Sistema Toyota de Produção? Acesse (TOYOTA, 2017): https://goo.gl/SyEct9 Just-in-time O primeiro pilar do Sistema Toyota de Produção é o just-in-time. De acordo com Ohno (1997), just-in-time (JIT) significa que as peças alcançam a linha de fabricação no momento em que serão necessárias e na quantidade necessária, visando a eliminação de desperdício com o objetivo de chegar ao estoque zero. O JIT é um desafio árduo em muitas áreas, em especial no segmento automotivo, pela quantidade de componentes e complexidade do processo. Ohno explica que, na lógica do JIT, é necessário olhar o fluxo do processo do fim para o início, fazendo com que a demanda inicial produza somente o que a demanda final deverá utilizar. Olhando do fim ao início, a sintonia entre os extremos (início e fim) é mais compreensível, e o desperdício acumulado é muito menor. Para que a comunicação entre os dois extremos da linha seja eficaz, a linguagem implementada foi o kanban (cartão). O kanban é uma metodologia de organização que reúne todas as informa- ções em um cartão de identificação, possuindo as seguintes funções: � Fornecer informações com relação ao componente. � Impedir quantidade acumulada e transporte desnecessário. � Rastrear defeitos em lotes, não permitindo que o processo prossiga. O JIT tem a sua ótica focada em alcançar o objetivo final do Sistema Toyota, com o aumento do lucro pela eliminação das perdas (GHINATO, 1996, p.177). Sistema Toyota de Produção (STP)8 Figura 4. Modelo de kanban. Fonte: Ohno (1997, p. 24). Autonomação (jidoka) O segundo pilar da casa Toyota é denominado de jidoka ou autonomação, que significa “a máquina dotada de inteligência humana”. Outra definição para definir autonomação é “automação com um toque humano”, mostrando a rela- ção direta entre a máquina e o trabalhador que a opera. Mas, qual é a relação entre a máquina e o ser humano definida pelo jidoka? Máquinas são feitas justamente para produzir em larga escala, de forma contínua e mais autônoma possível. No Sistema Toyota, o mais importante é o cuidado do trabalhador com a verificação de possíveis falhas durante o fluxo de produção. Evitar a ocorrência de falhas e de perdas no processo produtivo é o mais importante para o STP “autonomamente”. De acordo com Shingo (1996, p.291), os trabalhadores da Toyota são vincu- lados a mais de uma máquina em andamento. Enquanto ocorre a alimentação de uma máquina, as outras trabalham de forma automática, e a verificação sobre o funcionamento da máquina é feita de forma constante. A máquina detecta o erro, e a correção da anomalia fica por conta do trabalhador. A máquina pode avisar o trabalhador sobre a ocorrência de uma anomalia por meio de sons ou de forma visual, como alarmes e parada da linha de produção, com o intuito básico e fundamental de evitar perdas futuras. 9Sistema Toyota de Produção (STP) GHINATO, P. Sistema Toyota de Produção: mais do que simplesmente just-in-time – au- tonomação e zero defeitos. Caxias do Sul: EDUCS, 1996. JUSTA, M.A.O.; BARREIROS, N.R. Técnicas de gestão do sistema Toyota de produção. Revista Gestão Industrial, Ponta Grossa, v. 5, n. 1, 2009. Disponível em: <https://periodicos.utfpr. edu.br/revistagi/article/view/207/324>. Acesso em: 13 nov. 2017. KONDRASOVAS, D. A “casa” do STP – Sistema Toyota de Produção. Blog do David, 2010. Disponível em: <https://davidkond.wordpress.com/2010/06/28/casastp/>. Acesso em: 13 dez. 2017. LIKER, J.K. O modelo Toyota: 14 princípios de gestão do maior fabricante do mundo. Porto Alegre: Bookman, 2005. MARTINS, P.G.; LAUGENI, F. P. Administração da produção. São Paulo: Saraiva, 2013. (Série Fácil). OHNO, T. O sistema Toyota de Produção: além da produção em Larga Escala. Porto Alegre: Bookman, 1997. SHINGO, S. O Sistema Toyota de Produção :do ponto de vista da engenharia de produção. Porto Alegre: Bookman, 1996. TOYOTA. A restored machine shop. Toyota, 1948. Disponível em: <http://www.toyota- -global.com/company/history_of_toyota/75years/text/taking_on_the_automo- tive_business/chapter2/section6/item2_a.html>. Acesso em: 13 dez. 2017. TOYOTA. Sistema de Produção Toyota. Vila Nova de Gaia, 2017. Disponível em: <https:// toyota-forklifts.com.pt/porque-a-toyota/sobre-nos/sistema-de-producao-toyota/>. Acesso em: 13 dez. 2017. TOYOTA. Toyota Kaikan: World’s coolest factory tour? CNN travel, Atlanta, 2016. Disponível em: <http://edition.cnn.com/travel/article/toyota-kaikan-tour/index. html?gallery=0>. Acesso em: 13 dez. 2017. Leitura recomendada FELTRIN, J. A.; HORITA, R.Y. O Sistema Toyota de Produção e o balanced scorecard. In: ENCONTRO CIENTÍFICO E SIMPÓSIO DE EDUCAÇÃO UNISALESIANO. 5., Lins, 2015. Artigos. Lins: UNISALESIANO, 2015. Disponível em: <http://www.unisalesiano.edu.br/ simposio2015/publicado/artigo0185.pdf>. Acesso em: 14 nov. 2017. SOUTO, R. S. Aplicação de princípios e conceitos do Sistema Toyota de Produção em uma etapa construtivade uma empresa de construção civil. 221f., 2000. Dissertação (Mestrado em Engenharia da Produção) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2000. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/han- dle/10183/9008/000271458.pdf?sequence=1>. Acesso em: 16 nov. 2017. Sistema Toyota de Produção (STP)10 Conteúdo:
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