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Unidade III HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO Prof. Dr. Vladimir Fernandes Unidade III: filosofia moderna e contemporânea. A filosofia na história: principais períodos. Da filosofia moderna à contemporânea: racionalismo, empirismo, criticismo, idealismo, materialismo histórico e positivismo. A filosofia contemporânea: Nietzsche, Freud, Sartre e Foucault. Questões atuais em filosofia. Conteúdo da terceira aula Principais períodos da história da filosofia: Filosofia antiga (séc. VI a.C. a VI d.C.). Filosofia patrística (séc. I a VII). Filosofia medieval (séc. VIII a XIV). Filosofia da Renascença (séc. XIV a XVI). Filosofia moderna (séc. XVII e XVIII). Filosofia iluminista (séc. XVIII e XIX). Filosofia contemporânea (meados do séc. XIX em diante). A filosofia na história Filosofia da Renascença Renascença: marcada por grande efervescência cultural, por críticas à Igreja e pelo ideal de homem como artífice (inclusive político) do seu próprio destino. Características: antropocentrismo; heliocentrismo; racionalismo; laicização. A filosofia na história: enfoques Filosofia do Iluminismo Iluminismo (Aufklärung): marcado pela crença na razão como capaz de conduzir à felicidade social e política, libertando-se dos preconceitos religiosos e morais, da superstição e do medo. Características: valorização da razão, da ciência e da transformação social. Lemas do Iluminismo (segundo Kant): Sapere aude! (ouse saber!). “Tem a coragem de fazer uso de teu próprio entendimento.” A filosofia na história: enfoques Filosofia moderna (o marco): Racionalismo clássico ou cartesiano: momento de volta do pensamento sobre si mesmo para conhecer sua capacidade de conhecer e de ampla confiança nos poderes da razão. A razão investiga a própria razão – qual é sua capacidade de conhecer? Crença de que todas as coisas exteriores podem ser conhecidas e explicadas desde que transformadas em conceitos, em ideias. A filosofia na história: enfoques De acordo com Hilton Japiassu: “Doutrina que privilegia a razão dentre todas as faculdades humanas, considerando-a como fundamento de todo conhecimento possível.” “Considera que o real é racional e que a razão é, portanto, capaz de conhecer o real e de chegar à verdade sobre a natureza das coisas.” O racionalismo moderno: definição É possível o conhecimento? Como se processa o conhecimento? racionalismo (Descartes); empirismo (Locke e Hume); criticismo (Kant). René Descartes (1596-1650); coloca em dúvida a capacidade humana de conhecer; busca da verdade indubitável; estabelece a dúvida como método. As principais correntes da filosofia moderna (séculos XVII e XVIII) René Descartes (1596-1650) Fonte: http://www.citizenphilosophy .net/ReneDescartes “Visto que os sentidos nos enganam algumas vezes, decidi supor que nada fosse como eles nos fazem imaginar.” (DESCARTES, “Discurso do método”, 1637) “Tudo o que, até o presente, aceitei como mais verdadeiro e certo, fiquei sabendo pelos sentidos ou através deles. Mas posso provar que algumas vezes os sentidos me enganam, e que é sábio não confiar inteiramente em algo que já alguma vez nos enganou.” (DESCARTES, “Meditações”, 1641) “Discurso do Método” e “Meditações” Coloca em dúvida a capacidade humana de conhecer. Busca uma verdade indubitável. Estabelece a dúvida como método. Os sentidos nos enganam. Tese do gênio maligno. Se duvido, penso; se penso, existo. Penso, logo, existo. O racionalismo cartesiano A ideia de Deus – perfeito e bom, mas não me engana. Concebe a existência de ideias inatas e verdadeiras no espírito. Ideias que já nascem com a pessoa e das quais fomos dotados por Deus. Prioridade da razão no processo de conhecimento. Sujeito -> objeto. Analogia com a aranha. O racionalismo cartesiano http://www.aprendizdecabeleireira.co m/2014/01/a-teia-de-aranha.html Segundo Descartes, o conhecimento deve ser fundamentado principalmente: a) Nos sentidos. b) Nas crenças. c) Na imaginação. d) Na razão. e) Na emoção. Interatividade Segundo Descartes, o conhecimento deve ser fundamentado principalmente: a) Nos sentidos. b) Nas crenças. c) Na imaginação. d) Na razão. e) Na emoção. Resposta A alma é concebida como uma tábula rasa. “Suponhamos que a mente é, como dissemos, um papel em branco, desprovida de todos os caracteres, sem quaisquer ideias; como será suprida? [...] De onde apreende todos os materiais da razão e do conhecimento? A isso respondo, numa palavra, da experiência. Todo o nosso conhecimento está nela fundado, e dela deriva fundamentalmente o próprio conhecimento.” (LOCKE, “Os pensadores”, 1973) Empirismo: John Locke (1632-1704) O conhecimento começa após a experiência sensível. A razão, a verdade são adquiridas pela experiência. O sujeito é passivo na produção do conhecimento. Sujeito <- objeto. Analogia com a formiga. Empirismo Fonte: Clip-Art Immanuel Kant (1724-1804). Busca superar a dicotomia entre racionalismo e empirismo. Realiza uma análise crítica da razão. Criticismo kantiano Immanuel Kant (1724-1804) Fonte: https://storify.com/mdraga/22-2 Para superar a contradição entre racionalistas e empiristas, Kant explica que: Por um lado, o conhecimento é constituído de algo que recebemos de fora, da experiência (a posteriori). Por outro, é constituído também por algo que já existe em nós mesmos (a priori), anterior a qualquer experiência. O que vem de fora é a matéria (a coisa em si) e o que vem de nós é a forma (a estrutura). Apriorismo em Kant A razão é uma estrutura vazia. Essa estrutura é universal (igual para todos), porém seus conteúdos vêm de fora. Ex.: O sol aquece a pedra. O que vem da experiência? O que vem da razão? Qual o engano dos inatistas? Supor que os conteúdos são inatos. Qual o engano dos empiristas? Supor que todo conhecimento vem dos sentidos. Criticismo kantiano A matéria para o conhecimento é dada pelos objetos. Mas essa matéria se adapta à forma da nossa razão. Sujeito <-> objeto. Analogia com a abelha. Criticismo kantiano Fonte: Clip-Art Fenômeno – como as coisas aparecem para nós. Noumêno – é a coisa em si, que não sabemos como é. Sabemos como o mundo se mostra para nós, mas não conhecemos a coisa em si. Conhecer é conhecer os fenômenos. Fenômeno e noumêno Diferença entre pensar e conhecer. Questões metafísicas: podem ser pensadas, mas não conhecidas. Para que exista conhecimento é necessário unir os conceitos da razão à experiência sensível. Posição agnóstica: a razão não é capaz de afirmar ou negar o conhecimento sobre essas questões. Questões metafísicas Idealismo dialético (Hegel). “A coruja de Minerva levanta voo ao anoitecer.” Críticas a Kant: A razão não é abstrata, é histórica. O ser não é estático, é dialético. Não há a coisa em si (noumêno). O noumêno se revela no próprio movimento da história. Georg Friedrich Hegel (1770-1831) Georg F. Hegel (1770-1831) Fonte: http://cienciaeteologia.blogspot.com.br/2010/10 Filosofia do devir (inspiração heraclitiana). O ser como processo, como um vir a ser. Lógica da contradição: dialética. Dialética: do grego dialektiké = dia, “por meio de” e logos = “razão”, “palavra”. Arte da discussão. Em Hegel, é a mudança pela contradição. O real é entendido como um processo histórico dinâmico e contraditório. A dialética hegeliana Simplificação didática: três etapas Tese (afirmação). Ex.: o ovo. Antítese (negação). Ex.: a larva. Síntese (superação). Ex.: a borboleta. A história segue uma direção (não é aleatória). Analogia com um papel dobrado. Há um aumento gradual da consciência e da liberdade. Dialética idealista: a realidade é constituída pela marcha do pensamento. O mundomaterial é a encarnação do mundo espiritual (consciência). A dialética hegeliana O filósofo alemão Immanuel Kant acaba por conciliar as correntes: a) Do comunismo e do socialismo. b) Do empirismo e da complexidade. c) Do catolicismo e do protestantismo. d) Do positivismo e do liberalismo. e) Do racionalismo e do empirismo. Interatividade O filósofo alemão Immanuel Kant acaba por conciliar as correntes: a) Do comunismo e do socialismo. b) Do empirismo e da complexidade. c) Do catolicismo e do protestantismo. d) Do positivismo e do liberalismo. e) Do racionalismo e do empirismo. Resposta Defensores: Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895). Observaram que o avanço técnico aumentou o poder humano sobre a natureza e trouxe riqueza e progresso, mas trouxe a exploração crescente da classe operária. Inspiraram-se na dialética hegeliana, porém inverteram-na, chegando ao materialismo dialético. O materialismo histórico Marx e Engels: rompimento com o idealismo Fonte: http://inversocontraditorio.blogspot.com.br/2013/05/karl-marx Para Marx e Engels, o pensamento e a história se movem dialeticamente, mas o mundo material é que determina o das ideias, e não o contrário. Para sobreviver, os homens se relacionam uns com os outros e com a natureza. As ideias têm fundamento na realidade concreta. O mundo material é anterior à consciência. Mas, muitas vezes, predomina uma “falsa consciência”. O materialismo histórico “A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de classes.” (MARX; ENGELS. “Manifesto do Partido Comunista”) “Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem como querem, não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado.” (MARX, “Dezoito Brumário de Louis Bonaparte”) O materialismo histórico A lei dos três estados: Teológico – explicação sobrenatural. Metafísico – explicações abstratas e noções absolutas. Positivo – explicação científica. A ontogênese se repete na filogênese. A história do indivíduo se repete no gênero humano. Infância – religioso. Juventude – metafísico. Maturidade – científico. Augusto Comte (1798-1857) Augusto Comte (1798-1857) Fonte: http://www.portalescolar.net/201 1/07/filosofia-contemporanea- augusto-comte Considerado fundador da sociologia. Cria o positivismo = teoria para estudar o social. Significa: positivo, certo, verdadeiro, real. A sociedade pode ser estudada pelo mesmo método das ciências naturais. Pressupostos: A sociedade é regida por leis naturais. A sociedade é concebida como um organismo. As partes integradas e coesas garantem a harmonia do conjunto. O positivismo Identifica dois movimentos. Estático: preservação dos elementos permanentes (Estado, propriedade, religião) – produz a ordem. Dinâmico: passagem para formas mais complexas (artesanato, comércio, indústria etc.) – produz progresso. Causas das mudanças: aumento da população, novas necessidades, ideias inovadoras. Harmonia entre a ordem e o progresso. O positivismo A segunda metade do século XIX é o seu ponto de referência. Marx e Comte, embora continuadores de uma discussão iniciada pela filosofia moderna, têm suas ideias ligadas à filosofia contemporânea. A característica externa mais notável da filosofia contemporânea consiste na diversidade dos enfoques. A filosofia contemporânea Dilema: qual é o papel da filosofia no mundo atual? Diante da revolução tecnológico-digital, ainda há espaço para a filosofia? “A Filosofia não deve imaginar como o mundo deveria ser, mas explicá-lo. A tarefa da Filosofia é interpretativa.” (HEGEL) Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras; o que importa é transformá-lo. (MARX, “Teses sobre Feuerbach”) A filosofia contemporânea Perguntar, compreender ou explicar? “Assim, em grande medida, a incerteza da filosofia é mais aparente que real: as questões que são capazes de ter respostas definitivas são abrigadas nas ciências, enquanto aquelas para as quais, até o presente, não podem ser dadas respostas definitivas, continuam a formar o resíduo que é chamado de filosofia.” (RUSSEL, 2008) A filosofia contemporânea Segundo as ideias de Marx e Engels: a) A sociedade é regida por leis naturais. b) A sociedade é concebida como um organismo vivo. c) O mundo material é a encarnação do mundo espiritual (consciência). d) A história de todas as sociedades é a história das lutas de classes. e) Os homens não são capazes de transformar a sociedade. Interatividade Segundo as ideias de Marx e Engels: a) A sociedade é regida por leis naturais. b) A sociedade é concebida como um organismo vivo. c) O mundo material é a encarnação do mundo espiritual (consciência). d) A história de todas as sociedades é a história das lutas de classes. e) Os homens não são capazes de transformar a sociedade. Resposta Iniciou sua obra por meio de uma reflexão sobre a cultura grega. Identificou dois elementos principais: espírito apolíneo: ordem, harmonia e razão; espírito dionisíaco: sentimento, ação e emoção. No Ocidente, o espírito apolíneo teria triunfado, sufocando tudo o que é afirmativo da vida. Friedrich Nietzsche (1844-1900) Apolo Estátua de Apolo. Academia de Atenas. Foto de Vladimir Fernandes (2012). Dionísio (Baco) Estátua de Dionísio. Museu do Vaticano. Foto de Vladimir Fernandes (2012). Nietzsche (1844-1900), o “filósofo do martelo” Fonte: http://rockprogart.wordpres s.com/2012/06/06/nietzche/ Faz fortes críticas: aos valores tradicionais da cultura ocidental que, para ele, são decadentes e contrários à criatividade e à espontaneidade da natureza humana; ao racionalismo: o mundo não tem ordem, estrutura, forma; nele tudo “dança aos pés do acaso”. a verdades absolutas: inclusive provenientes de divindades. “Deus morreu e quem o matou fomos nós” (Nietzsche). Nietzsche (1844-1900) Defesas: Niilismo (nada): doutrina que nega a existência do absoluto. Usado pelo autor para designar a ruína dos valores tradicionais. A tarefa da filosofia deveria ser a de transmutar os valores decadentes e libertar os homens, criar um novo tipo de homem. Resgate dos elementos dionisíacos (alegria, inspiração, exaltação à vida). Nietzsche e o caos Com a descoberta do inconsciente, Freud destrói a confiança no poder da razão, característica marcante da ciência moderna. Sigmund Freud (1856-1939) e os enigmas do inconsciente Fonte: http://webspace.ship. edu/cgboer/freud.html Se tudo é possível ao homem por meio da razão, o que dizer das ações impulsionadas pelo inconsciente? E dos mecanismos de censura? A vida civilizada implica a repressão dos instintos e dos desejos. O controle dos instintos e dos desejos se faz necessário para a harmonia social. Os instintos reprimidos podem ser sublimados ou gerar frustrações. Freud e o golpe na identidade racional cartesiana As feridas narcísicas: 1. Copérnico retirou a Terra do centro do universo. 2. Darwin tirou o ser humano do centro do reino animal. 3. O inconsciente tirou o homem do centro de si mesmo. 4. A ideologia tirou o indivíduo do centro da história (Marx). Freud e o golpe na identidade racional cartesiana “A existência humana precede a essência, pois o homem primeiro existe, depois se define, enquanto todas as outras coisas são o que são, sem se definir e por isso sem ter uma essência posterior à existência.” (SARTRE) Jean-Paul Sartre (1905-1980), o existencialista Fonte: http://louislavache.blogspot.co m.br/2006/06/crivain-jean A essência humana é a liberdade, por isso, é uma filosofia humanista. O homem é lançado e abandonado no mundo, devendo criar os próprios valores por meio da liberdade. “Ohomem está condenado a ser livre.” (SARTRE) “Não importa o que fizeram de nós, mas sim o que fazemos com o que fizeram de nós.” (SARTRE) Sartre, o existencialista Investigando como as ideias de loucura, disciplina e sexualidade foram sendo construídas ao longo do século XVI, busca estabelecer um nexo entre saber e poder. Saber e poder se implicam mutuamente. À medida que a burguesia se tornou classe dominante, precisou de uma disciplina que transformasse o corpo em força de trabalho. Michel Foucault (1926-1984) e a sociedade disciplinar Sociedade disciplinar: criação e extensão progressiva de dispositivos de disciplina em instituições fechadas, voltadas para o controle social, tais como prisões, orfanatos, reformatórios, asilos de miseráveis e “vagabundos”, hospícios, quartéis e escolas. Modelos disciplinares: religioso (silêncio) e militar (hierarquia, fileiras). O controle submetido ao olhar vigilante introjetou-se no próprio indivíduo. Michel Foucault (1926-1984) e a sociedade disciplinar Para Foucault, a verdade está relacionada a práticas de poder. As obras “Vigiar e punir” e “Microfísica do poder” possuem títulos altamente ilustrativos de seu pensamento. Michel Foucault (1926-1984) e a sociedade disciplinar Fonte: http://www.las tfm.com.br/m usic/Michel+F oucault Como a filosofia está engajada em questionar e compreender, diversos aspectos da atualidade lhe são pertinentes. Destacam-se alguns: filosofia e ciência; pós-modernidade e identidade; globalização e tecnologia; meios de comunicação em massa; ética e bioética; política, poder e cidadania. Temas atuais em filosofia Quando Freud mencionou as “feridas narcísicas”, Nietzsche disse que “Deus estava morto” e Sartre afirmou que “estamos condenados à liberdade”, eles quiseram dizer que: a) A razão e a fé não existem mais. b) A razão acabou. c) Provou-se a inexistência de Deus. d) Tudo que existe é a matéria. e) Vivemos sob um profundo desconforto. Interatividade Quando Freud mencionou as “feridas narcísicas”, Nietzsche disse que “Deus estava morto” e Sartre afirmou que “estamos condenados à liberdade”, eles quiseram dizer que: a) A razão e a fé não existem mais. b) A razão acabou. c) Provou-se a inexistência de Deus. d) Tudo que existe é a matéria. e) Vivemos sob um profundo desconforto. Resposta ATÉ A PRÓXIMA!
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