Buscar

História do Brasil contemporâneo - aula 1

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

- -1
HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
PERÍODO GETULISTA
- -2
Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
1 - Entender as transformações por que passou o Brasil a partir de 1930, quando Getúlio Vargas tomou o poder
através de um Golpe de Estado;
2 - Acompanhar o processo de industrialização e urbanização ocorrido no período;
3 - Identificar alguns movimentos políticos e sociais característicos da época.
Nesta nossa primeira aula, vamos estudar os dois primeiros períodos da Era Vargas, que deixaram muitas
marcas na face do país. Aqui, vamos saber, por exemplo, por que a data de 9 de julho, em São Paulo, teria
preferência frente a Getúlio.
Bons estudos!
Nesta aula, vamos estudar os dois primeiros períodos da Era Vargas, que deixaram muitas marcas na face do
país. Às vezes, nem percebemos, mas as marcas podem estar no nosso dia a dia.
Por exemplo: quase todas as capitais de estado têm ruas, avenidas ou praças em homenagem a Getúlio Vargas.
Elas foram criadas por ordem dele mesmo ou como uma forma de homenagem prestada por outros políticos ao
longo do país.
Por exemplo: no Rio de Janeiro existe a Avenida Presidente Vargas, inaugurada pelo próprio Getúlio em 1942,
quando a cidade ainda era a capital do Brasil.
Já São Paulo, a maior cidade da América Latina, é a grande exceção. Afinal, não apresenta nenhuma homenagem
ao estadista brasileiro.
Por outro lado, o centro da cidade é cortado pela Av. Nove de Julho, data em que se comemora a Revolução
Constitucionalista, sendo também um dos feriados estaduais paulistas.
Por que a data de 9 de julho teria preferência frente a Getúlio, na cidade e no estado de São Paulo? A resposta é
simples e pode ser encontrada ao longo desta aula. Vamos ver?
1 A chegada de Getúlio ao poder em 1930
Esta fotografia foi tirada no dia 3 de novembro de 1930, e retrata as tropas de gaúchos que apoiaram um Golpe
de Estado liderado por Getúlio Vargas, amarrando seus cavalos em um obelisco.
- -3
O monumento está localizado no fim da Av. Rio Branco, no Rio de Janeiro, que ainda era a capital da República.
Em uma época em que cavalos ainda eram utilizados para a locomoção, em meio a carros e bondes, essa poderia
ser uma cena comum do dia a dia, certo?
Errado!
Devido à importância que o lugar tinha, o gesto das tropas de Getúlio foi considerado um escândalo por uns e
uma demonstração de coragem por outros.
Ao chegar ali, muito mais do que “estacionarem” seus cavalos, os gaúchos estava exibindo o seu desprezo pelos
símbolos à sua volta.
Por outro lado, indicavam que, a partir daquele momento, o poder passava para suas mãos.
Para ter ideia do que o gesto significou, é preciso ter em mente que a Avenida Rio Branco era a mais importante
da capital da República. Não se tratava apenas de uma rua elegante, em que ficavam os melhores hotéis, lojas de
roupa, teatros e salas de cinema.
Era também o lugar em que símbolos nacionais estavam espalhados por todos os cantos: o prédio do Senado e da
Câmara, por exemplo, além do Teatro Municipal, da Biblioteca Nacional e do Museu Nacional de Belas Artes.
- -4
2 A preparação para o Golpe de 1930
Por certo, você já deve ter desconfiado de que tomar o poder não é tão simples quanto “amarrar” um cavalo em
um obelisco.
O gesto causou polêmica, mas para que o Golpe de Estado se concretizasse, seria necessário que Getúlio
conseguisse a deposição do presidente Washington Luís, para que ele finalmente assumisse como Chefe do
Governo Provisório, como de fato ocorreu.
Para entender como a História do Brasil chegou a esse ponto, é importante lembrar como estava organizada a
política federal desde que os cafeicultores passaram a controlar o poder, constituindo a “República Oligárquica
” (1894-1930).
Em um jogo eleitoral bastante hábil, os cafeicultores haviam conseguido estabelecer a alternância entre
presidentes de São Paulo e Minas Gerais, o que ficou conhecido como “ ”.Política do Café com Leite
Vale notar que São Paulo e Minas eram os maiores produtores de café do momento; daí a importância de
garantir que a Presidência fosse sempre ocupada por políticos desses estados.
- -5
O esquema apontado era baseado em fraudes, sustentadas pelo “voto de cabresto”, a que os coronéis
(latifundiários, donos de grandes fazendas) recorriam para obrigar seus empregados a votar nos candidatos que
eles escolhessem.
Para as eleições de 1930, Washington Luís, contrariando a expectativa, apoiou outro candidato de São Paulo,
Júlio Prestes, em vez de apoiar o candidato de Minas.
O governador de Minas, Antônio Carlos de Andrada, contrariado, juntou-se a outros políticos descontentes, como
João Pessoa (governador da Paraíba) e Getúlio Vargas (governador do Rio Grande do Sul). Juntos, formaram a
Aliança Liberal, que escolheu Vargas para concorrer às eleições.
3 Movimento revolucionário
Mesmo tendo perdido para Júlio Prestes, como era de se esperar, a Aliança Liberal não admitiu a derrota,
organizando um movimento revolucionário, cujo objetivo era seguir até a capital para tomar o poder. De fato, o
candidato eleito por meios fraudulentos, Júlio Prestes, sequer tomaria posse.
Desse modo, voltamos para o dia em que os gaúchos amarraram os cavalos no obelisco, culminância do
movimento revolucionário.
Todos os símbolos de poder que se encontravam à volta do obelisco, incluindo o próprio, tinham sido erguidos
pelo dinheiro dos cafeicultores, sobretudo durante a Reforma Passos (1902-1910), grande renovação
urbanística por que passara a capital do país.
- -6
Até agora, vimos explicações políticas para o Golpe. Contudo, somente elas não permitem compreender tudo.
Havia outras vertentes políticas que também desejavam mudanças e que, mesmo não sendo vencedoras,
preparam o terreno para que a Aliança Liberal saísse vitoriosa.
Além disso, a política não é a única responsável pelas mudanças ocorridas em 1930. Precisamos estar atentos
também para aspectos culturais e econômicos. Você deve levar em conta que a sociedade é formada por diversos
setores, todos interligados.
4 Coluna Prestes
Mais uma vez, é preciso voltar um pouco no tempo, até os anos 1920. Essa década foi bastante agitada, sobretudo
por conta dos brasileiros que se mostravam insatisfeitos com o país.
Entre eles, as alas mais jovens do Exército (os tenentes) se destacavam, procurando moralizar a política e mudar
os rumos do Brasil, em um movimento conhecido como Tenentismo.
No âmbito desse movimento, é notória a “Coluna Prestes”, movimento liderado por Luís Carlos Prestes, que em
1922 saiu do Rio Grande do Sul percorrendo o interior do país, apontando a miséria e acusando a exploração dos
mais pobres pelos governantes.
- -7
Observe o itinerário da Coluna, percebendo como ele se mostra afastado do litoral, associado com o poder
econômico e político (lembre-se de que a capital, o Rio de Janeiro, estava nessa região).
Outro fato que chama a atenção no mapa é a extensão do percurso. Em uma época que apresentava grandes
dificuldades ao deslocamento, o tamanho da marcha é uma mostra do entusiasmo dos participantes com a ideia
de renovação do país.
Outros insatisfeitos eram os socialistas e os comunistas, que, animados pela vitória da Revolução Russa (1917),
buscavam também tomar o poder no Brasil.
Entre os trabalhadores, a atuação de socialistas e comunistas foi destacada, marcando a década com greves,
manifestações públicas e conflitos com a polícia. Nesse campo, é preciso também lembrar a atuação dos
anarquistas, tanto ou mais comprometidos que os outros grupos.
- -8
5 Modernismo
No plano cultural, devemos dar atenção aos movimentos de renovação artística, que fizeram com que criadores
de diversas áreas (pintura, escultura, teatro, literatura e música) buscassem refletir sobre que “cara” deveria ter
a arte brasileira e o próprio Brasil.
Esses movimentos, conhecidos como “modernismos”, procuravam livrar a arte local da submissão aos
parâmetros acadêmicos, considerados ultrapassados.
A “Semana de Arte Moderna de SãoPaulo”, que ocorreu em 1922, foi um dos eventos mais conhecidos da época.
O quadro de Tarsila do Amaral, denominado Antropofagia, tinha como proposta a transformação das ideias e
estilos internacionais em expressões genuinamente brasileiras.
Da mesma forma que a “antropofagia” se dá quando um ser humano devora outro, a arte brasileira existiria
quando “devorasse” a arte internacional, digerida como um produto local.
- -9
Embora o quadro não explicite a ação antropofágica literalmente, ele mesmo é a realização da proposta. Afinal,
tendências internacionais de afastamento do figurativismo e realismo são incorporadas, embora ainda haja
figuras e uma paisagem compreensível.
Essas, por sua vez, remetem-nos ao ambiente sertanejo (simples, quase animalesco), associado, por certo
imaginário, à nacionalidade.
Esse Brasil, contudo, não é o mesmo que as oligarquias cafeicultoras gostariam de mostrar ao mundo: afinal,
todos os seus esforços foram feitos no sentido de aproximar o Brasil da tradição europeia (e não ao
Modernismo).
Porém, devemos nos lembrar de que as propostas modernistas foram várias e ocorreram em diversos lugares do
Brasil, como Rio de Janeiro, Minas, Pernambuco e Rio Grande do Sul, por exemplo.
Mesmo que, aparentemente, eles não tenham nada de políticos, você deve atentar para a força de movimentos
que ousam se questionar sobre a identidade nacional.
- -10
Afinal, seria possível mudar a face de um país, sem que todos os setores fossem atingidos?
Figura 1 - “Operários”– Tarsila do Amaral
6 A economia brasileira da época
Tão importante quanto a política e a cultura, a economia também deu sua contribuição ao Golpe de 1930.
Nessa época, a economia brasileira era baseada na exportação de produtos agrários, sendo o café o principal
deles.
Com a crise mundial deflagrada pela Quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, o principal produto de exportação
brasileiro sofreu bastante. Afinal, ele era consumido, sobretudo, por trabalhadores, que precisavam de energia
para manter o ritmo da produção, e por pessoas de posse que poderiam sentar-se a um café para uma pequena
refeição refinada.
Como a crise esteve ligada aos altos índices de desemprego e acarretou a perda de grandes fortunas, o consumo
de café caiu tanto entre os trabalhadores como entre as camadas médias e altas da sociedade.
- -11
7 Revolução x revolta
Você sabe a diferença entre Revolução e Revolta?
A autora Hannah Arendt indica que o termo “revolução” tem origem na Astronomia, representando uma volta
completa que um astro dá em torno de si.
Até o século XVIII, o uso da palavra ainda não era político. Somente a partir de então, por analogia, os eventos
capazes de mudar completamente uma sociedade “de ponta-cabeça” passaram a ser chamados de revolução.
Já a ideia de revolta, indicando alguma insatisfação popular, é mais antiga. Assim, uma revolta pode causar uma
revolução, se vier acompanhada de mudanças radicais, mas nem sempre será uma revolução.
Já a revolução pode ou não ser acompanhada de uma ou mais revoltas (Cf. ARENDT, 1990).
Saiba mais
As oligarquias locais, sustentadas pelo café, como vimos, entraram em crise. Havia duas saídas:
solucionar o problema ou abrir mão do poder. Você já deve desconfiar qual foi o desfecho
dessa história, não é?
Mais uma vez, voltamos ao dia 3 de novembro de 1930, ao obelisco, aos cavalos. Alguns
historiadores acreditam que o gesto foi revolucionário, por possibilitar a renovação das
configurações sociais e políticas que o Brasil vivia antes.
Outros, mais críticos em relação ao que viria em seguida (e que veremos logo, logo), entendem-
no apenas como uma revolta, o primeiro passo em direção a um governo ditatorial, o que
aconteceria em 1937.
Fique ligado
Afinal, Getúlio foi um “salvador” revolucionário ou “apenas” um revoltoso prestes a se tornar
ditador?
Ao acompanhar o restante da aula, você poderá tirar suas conclusões.
- -12
8 O Governo Provisório (1930-1934)
Os primeiros anos do “Governo Provisório” de Vargas foram marcados por intensas negociações com os grupos
que desejavam uma parte do poder.
Para garantir a manutenção de seu poder, Vargas destitui os governadores dos estados, designando
interventores de sua confiança.
As oligarquias, apesar de afastadas do controle direto, ainda tinham algum poder de decisão. Basta lembrar que
o próprio Getúlio pertencia às oligarquias sulistas, que controlavam a pecuária no país.
Não se tratava do mesmo grupo que os cafeicultores, mas ainda assim eram assemelhados, no que diz respeito ao
poder econômico.
O Integralismo, liderado por Plínio Salgado, assemelhava-se, nas ideias e nos rituais, às ideologias italianas e
alemãs.
Por fim, os industriais, ainda pouco expressivos no Brasil, lutavam para que o setor tivesse mais investimentos
do que a agropecuária.
Enfim, não se deve entender o momento como “apenas” uma troca de poder entre as oligarquias cafeeiras e os
grupos que, até então, estavam de fora do poder. Seria necessário acompanhar com mais calma para entender a
que compromissos o novo governo apelava para tentar agradar a todos. Ou, pelo menos, à maior parte.
Outro grupo de pressão era a classe média, que vinha se manifestando ao longo da década de 1920, sobretudo
através do Tenentismo.
Os setores de esquerda, como socialistas e comunistas, além dos anarquistas (este, já com menos poder), ainda
disputavam o controle da organização dos trabalhadores.
A direita se organizava nos moldes nazifascistas (presentes na Europa desde a década de 1920).
9 Trabalhismo
Uma das características mais fortes da Era Vargas se forma já na fase inicial desse período: o trabalhismo.
Como vimos antes, a década de 1920 foi bastante agitada em diversos setores. Entre eles, estava o mundo do
trabalho, marcado pela atuação de socialista, comunistas e anarquistas.
Cada um desses grupos acreditava em uma forma de atuação diferenciada, lutando entre si para conquistar a
confiança dos trabalhadores na luta por melhores condições de trabalho e de vida.
Socialistas e comunistas conjugavam a atuação política institucional (partidos e eleições), por exemplo, ao
movimento de mobilização e organização sindical.
- -13
É curioso observar que o PCB (Partido Comunista Brasileiro) é hoje o partido mais antigo do Brasil, tendo sido
fundado justamente em 1922.
Já os anarquistas eram contra qualquer forma de organização política, associada, por eles, ao exercício (sempre
abusivo) do poder. Preferiam privilegiar a organização sindical e suas atividades, como greves, manifestações e,
se fosse necessário, ações violentas.
Também contrários à organização partidária, estavam os cooperativistas. Contudo, esses não conseguiriam
dialogar com os anarquistas, pois propunham uma união de forças entre trabalhadores, empregadores e Estado,
no sentido de criar maior autonomia dos primeiros na gerência de suas ações.
Uma mudança na organização dos cooperativistas, em meados da década de 1920, fez com que passassem a
aceitar a organização em partidos políticos, o que possibilitou uma parceria com os socialistas.
- -14
Os anarquistas, por sua vez, seguiam sendo rechaçados através da intensa perseguição policial e consequente
expatriação (muitos líderes anarquistas eram estrangeiros, sobretudo italianos).
Desse modo, no fim da década de 1920, a disputa pela preferência dos trabalhadores tendeu a oscilar: de um
lado, os cooperativistas e os socialistas; de outro, os comunistas.
Como a década foi marcada por greves mal sucedidas e intensa repressão, a tendência conciliatória dos
cooperativistas se mostrava mais atraente do que as ações enfáticas dos comunistas.
- -15
10 Prevalência dos cooperativistas
Com a chegada de Vargas ao poder, a prevalência dos cooperativistas abriu caminho ao diálogo.
A criação do Ministério do Trabalho foi fundamental, garantindo a criação de leis de proteção ao trabalhador, ao
mesmo tempo em que zelava pela fiscalização dos patrões.
Não se tratava de encampar o cooperativismo,mas de utilizar aspectos de sua ação que convinham ao governo.
Segundo Angela de Castro Gomes, a sindicalização não era obrigatória, mas compulsória. Afinal, somente os
trabalhadores sindicalizados teriam acesso aos direitos que o governo concedia ou consolidava. Por outro lado,
só os sindicatos legalizados davam acesso a tais direitos.
Você deve ter observado que uma rede foi se formando aos poucos. Os trabalhadores, que ao longo das duas
últimas décadas vinham lutando por seus direitos, finalmente tinham acesso a eles.
Por outro lado, precisavam abrir mão de sua liberdade de expressão política e de livre associação, aceitando o
sindicalismo nos termos impostos pelo governo.
- -16
O trabalhismo teria sido uma troca de interesses que convinha ao governo e patrões, mas também aos
empregados, pelo menos à maior parte deles. Afinal, estamos nos referindo a atores históricos com vontade
própria, capazes de tomar decisões, ou a marionetes?
Observe atentamente esta fotografia, que já pertence ao novo contexto descrito.
Você observou a postura passiva dos trabalhadores em um dia comumente associado a grandes movimentos de
reivindicação, como o Dia do Trabalho (1º de maio)?
E o texto escrito na grande faixa, “Trabalhador sindicalizado é trabalhador disciplinado”, não confirma essa
impressão de passividade?
Parece que os trabalhadores foram “enredados” pelo governo de Vargas, através de um sistema de
relacionamento habilmente construído – o trabalhismo.
- -17
11 A Revolução Constitucionalista de 1932
Como vimos, a relação com os trabalhadores foi sendo resolvida ao longo da década, com relativa facilidade.
Outros atores envolvidos na disputa pelo poder, contudo, não encontraram logo um canal de comunicação com o
governo: é o caso das oligarquias cafeeiras, que se manifestariam através da Revolução Constitucionalista. Ou
seja, um movimento exigindo uma nova Constituição para o país.
A proximidade entre os termos “revolta” e “revolução” nos deixa alertas. Para os atores sociais que participaram
do movimento, ele foi uma revolução, que trouxe mudanças radicais à situação do país, como veremos adiante.
Para o governo de Vargas, foi apenas uma revolta, que precisava ser – e foi – sufocada.
Logo após tomar o poder, Getúlio prometeu realizar a moralização da política nacional, “limpando o terreno”
para que a democracia pudesse, de fato, se instalar no país.
Para isso, anunciou a convocação de uma Assembleia Constituinte, que deveria criar uma nova Constituição.
Fique ligado
Em troca de alguns direitos, os trabalhadores tiveram sua capacidade de luta e contestação
enfraquecidas. Essa é uma maneira de ver a situação, e não está errada.
Por outro lado, alguns historiadores, como a própria Angela de Castro Gomes, a que nos
referimos antes, prefere não adotar a ideia de “passividade” ou “ingenuidade” por parte dos
trabalhadores.
Fique ligado
Fique atento a essa atitude: mudanças radicais de governo, em geral, são acompanhadas por
troca de Constituição ou alterações significativas em seu texto. Isso acontece porque, sendo a
Constituição o principal conjunto de leis de um país, o domínio sobre a sua redação garante o
controle sobre a nova sociedade que se deseja erigir.
- -18
12 A Revolução Constitucionalista
Em 1932, dois anos depois de ter tomado o poder, Getúlio ainda não havia cumprido o prometido, e permanecia
no poder sem uma nova Constituição.
Isso não agradava em nada aos setores que haviam sido afastados, sobretudo os cafeicultores.
Por um lado, impedia que eles pudessem tentar retomar o poder legalmente, pois a Constituição iria determinar
como e quando haveria novas eleições
Por outro, o fato de protelar a Constituição era uma forma de Getúlio continuar ocupando o poder central por
tempo indeterminado.
Saiba mais
Não à toa, foi de São Paulo, um dos maiores produtores de café da época, que surgiu uma
revolta contra tal situação: a Revolução Constitucionalista, iniciada em 9 de julho e se
estendendo até outubro daquele ano.
Além da Constituição, havia também os que defendiam a separação de São Paulo em uma
República independente e aqueles que desejavam organização do país em forma de
Confederação, com maior autonomia para os estados.
- -19
Como o cartaz deixa claro, não se tratou de uma revolta “espontânea”. Os ataques foram planejados, bem
organizados, contando, inclusive, com uma central de alistamento.
Você deve ter observado que, por trás da bandeira do Brasil, está a de São Paulo. As duas, sobrepostas, indicam a
vinculação entre a identidade nacional (brasileira) e a regional (paulista).
Assim, os combatentes lutavam, simultaneamente, pela autonomia de seu estado, mas também pela libertação de
seu país.
- -20
Esta imagem, exibindo as ruas lotadas por pessoas que, aparentemente, apoiam a passagem das caminhonetes
com os combatentes, indica a adesão de boa parte da população da capital.
Além dos que se se alistaram, devem ser levados em conta também os que se uniram para alimentar, vestir e
medicar os combatentes. São notórias, nesse campo, as doações de ouro (inclusive de alianças de casamento),
feitas para sustentar a revolta.
13 Ponto marcante da identidade paulista
É importante entender, portanto, que a Revolução foi mais do que um movimento orquestrado pelas oligarquias
cafeeiras interessadas em retomar o poder.
A população da cidade e do estado de São Paulo, além de parte do atual Mato Grosso do Sul e do Rio Grande do
Sul aderiu às ideias com afinco, doando-se material e emocionalmente.
- -21
Tais eventos se constituem, na memória paulista, como um ponto marcante de sua identidade. A data de 9 de
julho, início da Revolução, é considerada feriado estadual, além de batizar uma das maiores e mais importantes
avenidas da capital paulista.
Fora isso, os nomes dos mortos (em torno de mil) são reverenciados, em especial os cinco jovens que inspiraram
o início da revolta, reconhecidos pela sigla MMDCA: Martins, Miragaia, Dráusio, Camargo e Alvarenga .
Enfim, para os que participaram dos eventos - tanto diretamente, nas batalhas, como de forma indireta, através
de auxílio financeiro e/ou estratégico - a Revolução representou uma defesa corajosa da democracia contra o
abuso de poder de Getúlio Vargas.
Não é à toa que São Paulo se configura a única capital brasileira a não cultuar a memória de Vargas.
14 Assembleia Nacional Constituinte – finalmente!
Quanto aos efeitos da Revolução, podemos dizer que houve perdas e ganhos.
Por certo ela falhou em tirar Getúlio do poder ou em conseguir maior autonomia para os estados.
Porém, mesmo sufocada, ela atingiu o seu objetivo último: exigir a Constituição prometida por Vargas, já que em
maio de 1933 foi convocada a Assembleia Nacional Constituinte.
15 A Constituição de 1934
A Constituição prometida por Vargas em 1930 só seria promulgada, por conta das pressões da Revolução
Constitucionalista, em 15 de julho de 1934.
Ela é considerada uma conquista em direção à democracia, pois garantiu muitos direitos que a de 1891
(primeira Constituição da República brasileira) ignorava.
Avanços
Fique ligado
Como Alvarenga teve reconhecimento tardio, é comum, nos cartazes da época, ver apenas
MMDC.
- -22
Houve avanços na área do trabalho e da igualdade de gêneros, por exemplo. Também consolidou a participação
de setores mais diversos na composição do poder, como as classes médias, os industriais e os militares, sem
deixar de dar espaço às oligarquias.
Curiosamente, esses pressupostos não foram aplicados durante muito tempo. Como veremos mais adiante, a
Constituição de 1934 só foi colocada em prática por aproximadamente um ano.
Assembleia
Na composição da Assembleia, estavam parlamentares e representantes de sindicatos, indicados pela
Presidência (com vimos, somente os sindicatos apoiados pelo governo tinham validade).
Inspiração
Serviram de inspiração a Constituição da República de Weimar (Alemanha), de 1920, e a da Espanha, de 1931.
Em ambas, reforça-se o federalismo, comautonomia para os estados, mas acompanhadas de um governo central
forte.
Esse sistema é diferente de uma confederação, em que os estados são não apenas autônomos, mas também
soberanos em relação ao poder central.
Nesse quesito, é curioso notar que a Constituição garantiu a permanência de Getúlio no poder, como Presidente,
até que novas eleições fossem convocadas, quatro anos depois.
16 Conquistas democráticas
Em termos de conquistas democráticas, a Carta de 1934 garantiu o voto secreto, estendeu o direito de votos às
mulheres e criou a Justiça do Trabalho.
Conquistas
A primeira conquista era a garantia de que o “voto de cabresto” não poderia continuar vigorando, pois sem os
coronéis ao lado, os trabalhadores poderiam votar em quem a sua consciência mandasse.
Já em relação ao voto feminino, tratava-se da consolidação de uma luta que vinha desde o século XIX, pela
autonomia intelectual da mulher. Ou seja, as mulheres deveriam ser consideradas capazes de pensar e tomar
decisões (inclusive políticas) sem a tutela de parentes (sobretudo, pais e maridos).
Emancipação feminina
Sobre a emancipação feminina, você precisa ter em mente que a Constituição mais consolidou direitos do que
criou. Afinal, em 1927 o estado do Rio Grande do Norte já havia mudado a lei eleitoral, permitindo que mulheres
votassem e fossem votadas.
- -23
Tal conquista se deve aos esforços de Celina Guimarães Viana, considerada a primeira eleitora do Brasil; além de
outra personagem importante: a bióloga Bertha Lutz.
Ela foi a fundadora, entre outras, da Liga pela Emancipação Intelectual da Mulher, em 1919, e da Federação
Brasileira pelo Progresso Feminino, em 1922.
Direito de voto para as mulheres
Como consequência da atuação dessas instituições, no estabelecimento do Código eleitoral de 1932, o direito de
voto foi estendido à mulher.
Bertha também participou das discussões para a redação do Anteprojeto de Constituição, junto com outra
mulher, Nataercia da Silveira, também em 1932. Porém, nenhuma das duas foi convidada a participar da redação
final do projeto.
Bertha se candidatou à Assembleia Constituinte de 1934, mas não conseguiu ser eleita. Contudo, tendo
conquistado a suplência na Câmara Federal, conseguiu ser a primeira mulher a ocupar o cargo de deputada, em
1936.
Quanto às eleitoras, somente poderiam votar aquelas que possuíssem emprego público, mas ainda assim a
conquista foi válida.
Outras conquistas
Ainda em termos de conquistas democráticas, devemos destacar a Justiça do Trabalho, que previa assistência ao
trabalhador nas contendas com os patrões.
Esquerda e direita: combates
Nos extremos dessa disputa, havia forças de esquerda e de direita. De um lado, socialistas e comunistas,
articulados sobretudo aos trabalhadores, mas não só.
Em torno de Luís Carlos Prestes, o antigo líder tenentista da Coluna Prestes que havia se convertido ao
comunista, também se organizava a Aliança Nacional Libertadora.
Do outro lado, os setores mais conservadores, aglutinados em torno de Plínio Salgado, fundador da Ação
Integralista Brasileira, que, como vimos, havia se constituído nos moldes dos partidos nazifascistas europeus.
- -24
Alguns elementos dessa imagem nos chamam a atenção. Primeiro, as cores: há um grande destaque para o
conjunto de verde e amarelo que, como você sabe, está associado à ideia de nacionalidade.
Depois, a expressão “Anauê!”, similar à utilizada pelos nazistas para saudar Hitler, o líder do partido: “Heil!”.
Sobre o mapa do Brasil, o Sigma, que fazia as vezes da Suástica. Por fim, o uniforme da figura que prega o Sigma
sobre o Brasil, constitui-se em uma camisa verde, com o Sigma pregado na manga, assim como a Suástica estava
nas camisas nazistas.
Sobre esse assunto, é interessante lembrar que os integralistas eram conhecidos como “camisas verdes”.
Integralistas x aliancistas
As ações da ANL levaram o governo a exigir a criação da Lei de Segurança Nacional, que permitisse reprimir
possíveis “ameaças” como essas.
Aprovada, a lei levou ao fechamento da Aliança e a um clima de suposta insegurança, responsável, inclusive, pelo
retardamento da aplicação na Constituição de 1934.
Em reação, os comunistas que participavam da ANL organizaram um levante, com focos em alguns lugares do
Brasil, como Natal, Recife e Rio de Janeiro. O levante ficou conhecido como , por seuIntentona Comunista
caráter improvisado (uma tentativa mal articulada).
O Plano Cohen e o Estado Novo
Aproximadamente um ano e meio depois, em 1937, os Integralistas criaram um falso plano comunista, que teria
como objetivo tomar o poder: o Plano Cohen. Apesar de falso, foi ele que justificou que Getúlio desse um novo
Golpe, instituindo o Estado Novo.
A Constituição de 1934 e as eleições para 1938 foram suspensas, o Congresso foi fechado e Vargas assumiu o
caráter ditatorial de seu governo.
- -25
O que vem na próxima aula
Na próxima aula, você estudará sobre os assuntos seguintes:
• A estruturação do Estado Novo;
• A construção de uma nova face para o país através da educação e das artes;
• A inserção do Brasil na II Guerra Mundial e as consequências internas do jogo político internacional.
Também na Constituição de 1934, ficaram garantidos: a proibição do trabalho infantil, a
jornada de oito horas de trabalho, repouso semanal obrigatório, férias remuneradas,
indenização de trabalhadores despedidos sem justa causa, assistência médica a todos e
assistência remunerada às trabalhadoras grávidas.
Apesar de todos esses avanços, é preciso ter em conta, como já dissemos inicialmente, que a
Constituição de 1934 vigorou durante pouquíssimo tempo. Ela é considerada, na verdade, a
Constituição com a vida efetiva mais curta do Brasil.
Afinal, no ano seguinte à sua promulgação, um movimento político comunista – que veremos
em seguida – levou o governo a decretar a Lei de Segurança Nacional. Em 1936, a Constituição
finalmente começou a vigorar, para ser definitivamente suspensa no ano seguinte. Logo, ela
durou apenas um ano.
Saiba mais
Saiba mais
Visite o site do CPDOC/Fundação Getúlio Vargas, disponível aqui. Acesso em 10 jan. 2014.
http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/apresentacao
Visite a página do Museu Bertha Lutz e conheça uma pouco da história do feminismo no Brasil.
Disponível aqui. Acesso em 10 jan. 2014.
http://lhs.unb.br/bertha/?tag=feminismo
Leia o Manifesto da Aliança Nacional Libertadora, por Luís Carlos Prestes (1935). Disponível
na íntegra aqui. Acesso em 10 jan. 2014.
https://historiamutante.wordpress.com/page/5/
•
•
•
- -26
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Entendeu como e por que Getúlio Vargas deu um Golpe de Estado em 1930;
• Identificou os motivos da Revolução Constitucionalista de 1932;
• Aprendeu a diferenciar uma "revolta" de uma "revolução";
• Analisou as principais inovações trazidas pela Constituição de 1934;
• Entendeu a dinâmica política envolvendo a esquerda e a direita durante o Governo Constitucional, o que 
levou à criação do Estado Novo.
Referências
ARENDT, Hannah. . São Paulo; Brasília: Ática UNB, 1990.Da revolução
BÚSSOLA ESCOLAR. . Disponível . Acesso em 10 jan. 2014.Coluna Prestes aqui
CANAL DO EDUCADOR. . Disponível aqui. Acesso em 10 jan. 2014.O trabalhismo na Era Vargas
CHAGAS, Carlos. O Brasil sem retoques 1808-1964. A História contada por jornais e jornalistas,
. São Paulo: Cia. das Letras, 1998.contemporânea
DECCA, Edgar de. 1930: o silêncio dos vencidos. São Paulo: Brasiliense, 2004.
GOMES, Angela de Castro. . Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994. HISTÓRIAA invenção do trabalhismo
MUTANTE. Integralistas x aliancistas. Disponível . Acesso em 10 jan. 2014.aqui
INFOESCOLA. Integralismo. Disponível . Acesso em 10 jan. 2014.aqui
MESTRES DA HISTÓRIA. Atividades de fixação sobre o capítulo Era Vargas: a construção de um Brasil novo.
Disponível . Acesso em 10 jan. 2014.aqui
MUNDO EDUCAÇÃO. . Disponível . Acesso em 10 jan. 2014.Plano Cohen aqui
MUSEU BERTHA LUTZ. .Discurso de Bertha Lutz na Comissão de Redação do Anteprojetode Constituição
Disponível . Acesso em 10 jan. 2014.aqui
PROJETO GETÚLIO VARGAS. . Disponível . Acesso em 10 jan. 2014.Governo Constitucional aqui
SÃO PAULO. . Disponível . Acesso em 10 jan. 2014.Assembleia Legislativa do estado de São Paulo aqui
SIDNÉA MARINHO. . Disponível . Acesso em 10 jan. 2014.Semana de Arte Moderna de 1922 aqui
SKIDMORE, Thomas. . Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.Brasil: de Getúlio a Castelo
•
•
•
•
•

Continue navegando