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História do Brasil contemporâneo aula 4

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HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
IMPRENSA, DEMOCRACIA E CONFLITOS 
SOCIAIS
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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
1. Conhecer as principais características da imprensa no Período Democrático;
2. Refletir sobre o papel de jornais, revistas e redes de TV na construção da democracia;
3. Identificar os limites da atuação democrática dos meios de comunicação.
Nesta aula, vamos tratar do poder da imprensa no Período Democrático (1946-1964), época em que sua atuação
no cenário político brasileiro foi bastante acentuada. Também serão tema de nossa aula os limites da
democracia, percebidos, principalmente, quando estudamos os conflitos sociais ocorridos na época.
Bons estudos!
Hoje, com a forte presença das redes sociais em nossas vidas, conseguimos ter uma boa autonomia no momento
de ler e assistir a notícias, certo?
Conferimos posts diversos defendendo opiniões opostas sobre um tema e pesquisamos nos sites de busca para
saber mais. Por fim, também emitimos nossas opiniões e debatemos.
Antes disso, a diversificação das redes de TV a cabo já tinha possibilitado certa liberdade na hora de obter
informações. E antes da internet e da TV a cabo, com que as pessoas tinham que lidar na busca pela atualização?
Se você pensou em jornais, revistas e TV aberta, acertou! Permitindo uma interação bem menos intensa, esses
veículos dominaram a cena durante um bom tempo da História.
O período que vamos estudar hoje, entre 1945 e 1964, é particularmente intenso no que diz respeito a esse tema.
Como vimos na aula 3, é o momento em que a democracia voltou ao país, atingindo também os meios de
comunicação.
Jornais e revistas se modernizaram, enquanto a TV, recém-instalada no país, buscava o seu lugar.
Que tal embarcar no universo que se esconde por trás das notícias? Você conhecerá disputas, conspirações e
golpes que não costumam aparecer nas manchetes.
Vamos lá?
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1 Jornais e revistas
Na aula 3, tivemos a oportunidade de acompanhar o Período Democrático (1946-64), percebendo como o
retorno da democracia ao país, após o Estado Novo, apresentava limites estreitos.
Por trás da aparência de um jogo político isento de Censura, marcado pela liberdade de associação e direito ao
pluripartidarismo, estava a perseguição ao comunismo.
Em plena Guerra Fria, não era simples manter-se neutro diante da bipolaridade internacional.
Assim, como estava alinhado ao bloco capitalista, o Brasil cumpriu bem o seu papel na perseguição à “ideologia
inimiga”.
A imprensa é justamente uma das áreas que nos permitem entender bem esse processo histórico. Finalmente
livres da Censura, jornais e revistas ousaram mais na defesa de opiniões.
Por conta disso, o combate político se tratava intensa e explicitamente através desses veículos, que ajudavam a
identificar a posição social e o corte ideológico de quem os lia.
Saiba mais
Certamente, a História da imprensa no Brasil é bastante diversificada. Com os estudos na área
de Micro-história, mesmo diários de pouca tiragem, originários de cidades pequenas, têm sido
estudados ao longo do país.
Nesta aula, contudo, não poderemos nos ater a essa diversidade. Aqui, vamos nos ater nos
jornais de maior tiragem e influência política, localizados, sobretudo, no eixo Rio-São Paulo.
Se você mora em outro lugar do Brasil, que tal fazer uma pesquisa sobre a história dos
principais jornais locais? Na seção “Saiba mais” você encontra alguns instrumentos que podem
lhe ajudar nessa busca.
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2 Mudança na imprensa
Já na segunda metade da década, coincidindo com o governo JK, a imprensa passou por uma modernização
radical. A identidade visual dos veículos foi repensada, havendo maior investimento nas fotografias e na cor.
A revista O Cruzeiro foi um marco nessa área, sendo reconhecida pelo design sofisticado. Ele pertencia aos
Diários Associados, rede de comunicação de Assis Chateaubriand, um dos empresários da comunicação com
maior poder no período. Ele também era o dono da TV Tupi, primeira emissora da América Latina.
Fique ligado
Um momento de embates intensos é aquele que antecedeu o suicídio de Vargas. A campanha
contra o Presidente foi acirrada nos meios de comunicação, sobretudo em jornais, mas
também na recém-nascida TV.
Os ataques mais radicais vinham da Tribuna da Imprensa, jornal fundado por Carlos Lacerda,
que inspirava uma série de outros veículos. A defesa, contudo, ficou basicamente reduzida ao
jornal Última Hora.
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O veículo ganharia mais expressividade ao longo da década de 1950, apresentando alguns momentos marcantes,
como veremos adiante.
Outro ponto de mutação do período foi a busca da objetividade, quando os jornais passaram a perseguir uma
apresentação “neutra” dos fatos, deixando as disputas políticas de lado.
Contudo, como você já deve imaginar, objetividade não é garantia de isenção ou neutralidade.
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Mesmo que os ataques e defesas de cunho político fossem evitados, os jornais não deixaram de ter preferências.
A diferença era que, agora, sob a desculpa da neutralidade, elas apareciam de forma velada.
Antes de continuarmos com nossa aula, que tal pensar em seus jornais, revistas e canais de TV favoritos? Você
tem consciência do motivo de suas preferências? Sabe que posicionamento político as suas leituras ajudam a
consolidar?
Pense nisso!
3 Última Hora X Tribuna da Imprensa
Não é difícil imaginar o posicionamento político de Samuel Wainer, o dono do Última Hora, concorda?
O apoio ao Presidente foi constante, mesmo nos momentos mais difíceis, que antecederam o suicídio de Vargas,
como vimos na aula 3.
Para conhecer melhor este jornal, resta você saber que ele investia em matérias leves e descontraídas, com
muitas colunas dedicadas a temas variados.
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Contudo, pouco depois de seu lançamento, um escândalo atrapalharia a vida do jornal. Samuel Wainer foi
acusado de receber favores do governo, sobretudo na compra de papel–jornal.
Além disso, uma CPI foi aberta para julgar a utilização de dinheiro público na fundação do Última Hora.
4 Última Hora: órgão oficial do governo?
Em resumo, o jornal era acusado de ser um órgão oficial do governo Vargas, disfarçado de empresa privada.
Logo, uma campanha difamatória foi lançada. Para além do escândalo político, a própria “personalidade” do
Última Hora seria atacada.
Entre os jornais que dela participaram com mais afinco, estava o Tribuna da Imprensa, acompanhado de O Globo,
de Roberto Marinho; dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand; e do Estado de S. Paulo, da família
Mesquita.
Saiba mais
Entre as colunas, destacam-se uma assinada por Vinícius de Moraes, sobre cinema, e A vida
como ela é, dedicada por Nelson Rodrigues à escrita de histórias levemente “imorais”.
Além disso, o jornal contava com maior número de fotografias, se comparado com os
concorrentes, e oferecia cupons de premiação aos leitores.
O resultado foi um sucesso estrondoso entre as pessoas das camadas mais baixas, que, não por
acaso, eram a base do governo de Getúlio.
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A ideia básica da campanha era explicitar a má qualidade do jornal. Afinal, ao se evidenciar que o apoiador de
Vargas era de baixo nível, o próprio Presidente seria indiretamente atacado.
Parece um raciocínio ingênuo, não? Contudo, dadas as características dos leitores da Tribuna, esse tipo de
matéria poderia surtir um grande efeito.
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5 Tribuna da Imprensa e o conservadorismo de Lacerda
Desde que lançara esse jornal, aproximadamente um ano antes do Última Hora, Lacerda reforçava, como
jornalista, o perfil conservador que tinha como político. E, claro, os leitores da Tribuna da Imprensa — de classe
média e alta - seguiam tal perfil.
Ou seja, o conservadorismo era de cunho moral (o que justificava a matéria), mas também ideológico. Como
exemplo desse posicionamento, vale dizer que a campanha "O petróleo é nosso", lançada por Vargas, sofreu
muitas críticas nas páginas desse jornal.
Nesse embate, Getúlio praticamente só teve o apoio do Última Hora. Afinal, quase todosos outros jornais
receberam incentivos em dinheiro de empresas norte-americanas para defender o liberalismo e a livre-
iniciativa.
Por certo, a maior batalha travada entre os dois jornais se deu por conta do atentado da Rua Tonelero, em que
Lacerda saiu ferido e o major Vaz, morto. Você se lembra desses acontecimentos?
Saiba mais
Para ter uma ideia da campanha, leia um trecho da matéria escrita por Lacerda comentando a
coluna de Nelson Rodrigues no jornal de Wainer. Trata-se de um levantamento dos temas
imorais de que o escritor tratava:
“[...] das 48 histórias, 35 se desenrolam nos seguintes ambientes: 12, em cemitérios; 12, em
rendez-vous; dois, em necrotérios; oito, em enterros; quatro, em mausoléus e dois em bordéis”
(Chagas, 1998, p. 575).
Como você pode observar, a ênfase recaía na ambientação bizarra das narrativas. Entre elas, as
que poderiam causar mais espanto, por certo, eram as que se passavam em rendez-vous
(encontros às escondidas com amantes ou prostitutas) e em bordéis.
Fique ligado
Seus leitores tendiam a ser contra o socialismo e tudo que se aproximasse dele, como acontecia
com o nacionalismo defendido pelo governo Vargas.
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Foi através da Tribuna que Lacerda acusou o Presidente pelo evento, exigindo sua renúncia. Leia o seguinte
trecho:
"Quantas vezes dissemos, denunciamos, sustentamos isso? Aí tem a prova. O governo de Getúlio é,
pois, além de imoral, ilegal. É um governo de banditismo e de loucura" (Chagas, 1998, p. 610-611).
Em breve, diversos outros periódicos o seguiriam. Novamente, Vargas só contaria com o apoio do Última Hora.
Na véspera de seu suicídio, esse jornal publicou a seguinte manchete, reproduzindo uma fala do Presidente: "Só
morto sairei do Catete". Irônico, não? Claro, ninguém pensou em suicídio, mas sim em resistência armada.
Somente no dia 24 a declaração ganharia o seu sentido definitivo.
6 O Cruzeiro
Dentre os detentores de grandes redes de comunicação, Assis Chateaubriand era, sem dúvida, o mais poderoso
do Período Democrático.
Conhecido como Chatô, começou a trajetória como empresário das comunicações na década de 1920, crescendo
bastante ao longo da Era Vargas – desenvolvendo, inclusive, uma ligação de amizade com o Presidente.
Contudo, somente nos anos 1950 os Diários Associados alcançariam maior sucesso, com dezenas de jornais,
revistas, emissoras de rádio e TV em todo o Brasil.
Saiba mais
Como comentamos em nossa última aula, enquanto acontecia o cortejo do corpo de Vargas, a
Tribuna foi atacada por nacionalistas, que chegaram a invadir e depredar sua sede, na Rua do
Lavradio, centro do Rio de Janeiro. Mais uma vez, o envolvimento dos leitores com os jornais se
dava de forma visceral.
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Mais tarde, sobretudo após a morte de Chatô, em 1968, o “império” começaria a desmoronar. Por exemplo:
foram extintas as duas “joias” do conglomerado: a TV Tupi, sobre a qual falaremos mais adiante, e a revista O
Cruzeiro, considerada o que havia de mais avançado no mercado editorial da época.
Vale informar que, logo depois dela, vinha a Manchete, do Grupo Bloch, outro grande “império” da comunicação.
Não temos espaço para tratar das duas revistas aqui, mas vale a pena procurar conhecer essa ilustre
concorrente. Fica a dica!
Recuperado da crise, existe ainda hoje, mas não com as mesmas características.
7 Marco do jornalismo brasileiro
A modernidade de O Cruzeiro, sobre a qual você teve oportunidade de refletir agora, foi um marco do Jornalismo
brasileiro.
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Apesar de a revista existir desde o final dos anos 1920 – já sendo considerada avançada para a época – foi nos
anos 1950 que se deu o auge de sua modernização.
Embora a ênfase nas imagens já viesse desde o início, tendo consagrado a atuação de duplas de repórteres e
fotógrafos, como David Nasser e Jean Manzon, foi a partir de meados de 1950 que a fama aumentou.
Nessa altura, uma reforma criou a nova diagramação, mais simétrica e geometrizada.
Já no fim da década, a revista adotou o termo “Bossa Nova”, aplicando-o a diversos produtos, chegando mesmo a
associá-lo com sua própria imagem.
8 A TV Tupi
Nesse momento, a TV ainda era muito recente no Brasil. A TV Tupi, a primeira da América Latina, havia sido
inaugurada em 1950 e, ao longo da década, ainda buscaria seu espaço entre os brasileiros.
Saiba mais
Você se recorda de que na aula 3 conversamos sobre o fenômeno da universalização da Bossa
Nova, usada para se referir às ideias de modernidade e sofisticação? Com O Cruzeiro não foi
diferente.
Antes de continuarmos, vale indicar que, apensar da atuação política da revista ser indireta,
como vimos, havia também espaço para notas de teor mais explícito. Por conta disto, O
Cruzeiro participou da companha antigetulista, o que levou Chatô a dar declarações de pesar
quando do suicídio de seu amigo Vargas.
Aliás, Chatô é uma figura muito controversa da História da imprensa brasileira, sobre quem
vale a pena ler um pouco mais.
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Como você já leu, ela também fazia parte dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand.
Os poucos aparelhos existentes no país pertenciam às pessoas de posses, já que eram muito caros. Isso
dificultava a popularização dos programas, acessíveis a poucos espectadores. Ao longo dos anos essa situação foi
mudando.
Talvez por já começar a atingir uma camada mais ampla da população, a TV também passou a ser usada para
veicular ideias políticas.
Observe como Lacerda parece estar à vontade em frente às câmeras, o que era uma situação nova e inexplorada,
em que muitas pessoas tendiam a ficar tímidas.
Infelizmente, não há registros audiovisuais de seus discursos. Como ainda não existia videoteipe, a TV era
realizada ao vivo. Há, contudo, fotografias da performance quase teatral do político.
9 A modernização dos jornais
Na segunda metade da década, os jornais brasileiros passaram por um intenso processo de modernização,
encabeçado pelo Diário Carioca, logo seguido pelo Jornal do Brasil. Até o fim da década, todos os jornais de
grande circulação no país os haviam acompanhado.
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Uma parte das mudanças foi da ordem de apresentação das matérias e disposição das fotografias, como vimos
que acontecia, na mesma época, com a revista O Cruzeiro.
Os conteúdos também sofreram transformações, sendo incentivada a objetividade, no lugar do combate político.
Por isso, os jornalistas eram encorajados a separar a informação da opinião pessoal.
A redação das notícias também foi renovada, com a introdução do lead: no primeiro parágrafo, o leitor já deveria
saber todo o teor da matéria.
Você já reparou que esta prática é usada ainda hoje?
10 Fim dos grandes embates
Enfim, a era dos grandes embates entre jornais, como o que ocupou a Tribuna da Imprensa e o Última Hora,
havia ficado para trás.
Contudo, a defesa de ideias e de posicionamentos políticos nunca deixaria de compor as páginas dos periódicos
nacionais.
Poderemos verificar tal fato em nossa próxima aula, quando você irá conhecer um pouco mais sobre a ditadura
instaurada em nosso país no dia 1ª de abril de 1964.
Saiba mais
Visite a Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional e pesquise diversos periódicos. Disponível
aqui. Acesso em 22 jan. 2014. http://bndigital.bn.gov.br
Visite o projeto Memória Viva, e desfrute de algumas edições digitalizadas de O Cruzeiro.
Disponível aqui. Acesso em 22 jan. 2014. http://www.memoriaviva.com.br/ocruzeiro/
Viste a página do Facebook dedicada à memória da TV Tupi e conheça melhor a história da
primeira emissora de TV da América Latina. Disponível aqui. Acesso em 22 jan. 2014.
https://www.facebook.com/MemoriaTvTupi
Leia os livros:
Chatô, o rei do Brasil, de Fernando Morais (São Paulo: Cia das Letras, 1994) e conheça um
pouco melhor este magnata da imprensa.
Momento Bossa Nova, de José Estevam Gava (São Paulo: Annablume/FAPESP, 2006), para
saber mais sobre a renovação da revista O Cruzeiro.
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O que vem na próxima aula
Na próxima aula, você vai estudar:
• O Golpe Civil-militar de 1964;
• A organização política e socialdo Brasil durante a ditadura civil-militar;
• A cultura brasileira entre os anos 1960 e 1980.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Conheceu alguns jornais, revistas e emissoras de TV atuantes no Período Democrático (1946-64);
• Acompanhou algumas inovações no âmbito da imprensa escrita;
• Entendeu os limites do exercício democrático nas atividades jornalísticas.
Referências
ABREU, Alzira Alves. O Brasil de JK: imprensa. CPDOC FGV. Centro de Pesquisa e Documentação de História
Contemporânea do Brasil. Disponível . Acesso em 22 jan. 2014.aqui
CHAGAS, Carlos. O Brasil sem retoques 1808-1964: a História contada por jornais e jornalistas. São Paulo: Cia.
das Letras, 1998.
LIMA, Daslan Melo. Sessão nostalgia: Miriam Stevenson, miss universo 1954, um doce de criatura. Disponível aqui
. Acesso em 23 jan. 2014.
MARTINS, Ana Luiza; et. al (org.). A História da imprensa no Brasil. São Paulo: Contexto, 2008.
SOARES, Lucila. O homem da Guanabara: pesquisa sobre o Lacerda administrador completa uma das mais ricas
biografias da História do Brasil. Revista Veja. São Paulo: Abril, mai. 2007. Disponível . Acesso em 23 jan.aqui
2014.
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