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42 Unidade II Unidade II 3 COLETA DE INFORMAÇÃO E ANÁLISE DO AMBIENTE DE MARKETING A coleta de informações e a análise do ambiente de marketing fazem parte de um processo de conhecimento do mercado de atuação ao qual chamaremos de pesquisa de marketing. Pesquisa de marketing é a função que liga o consumidor, o cliente e o público ao marketing através da informação – informação usada para identificar e definir as oportunidades e problemas de marketing, gerar, refinar e avaliar a ação de marketing; monitorar o desempenho de marketing e aperfeiçoar o entendimento de marketing como um processo. Pesquisa de marketing específica à informação necessária destinada a estes fins; projeta o método para coletar informações; gerencia e implementa o processo de coleta de dados; analisa os resultados e comunica os achados e suas implicações (MALHOTRA, 2010, p. 36). Essa pesquisa consiste na obtenção de dados através de diferentes instrumentos de coleta, análise e interpretação das informações e a seleção daquelas que podem embasar as decisões estratégicas das organizações, tais como decisão de preço, lançamentos, comunicação, promoção e distribuição. Essas pesquisas podem ser divididas em três grupos: exploratórias, descritivas e causais. As pesquisas exploratórias objetivam analisar uma oportunidade, conhecer o público‑alvo e entender a dinâmica do mercado de atuação. É um estudo inicial que permite às organizações terem uma visão ampla do mercado e que pode ser feito através de uma análise SWOT, benchmarking, entrevistas e levantamento de dados secundários. Já as pesquisas descritivas buscam descrever a organização, o canal de distribuição ou a estrutura de um mercado. Os dados das pesquisas descritivas são mais qualitativos e apresentam, ainda, o perfil e o comportamento de compra do consumidor. É uma pesquisa utilizada para descrever, com muitas informações, o mercado‑alvo da empresa. Os estudos causais, por sua vez, são mais complexos que os dois anteriores, pois o seu objetivo é estabelecer uma relação de causa/efeito na dinâmica mercadológica (KOTLER; KELLER, 2006). Nesses estudos, é possível verificar a existência, o sentido e a intensidade da motivação de compra, o que leva à escolha de uma ou outra marca e as causas de compra. Exploratório Descritivo Causal Recolhe informações preliminares para visão mais ampla do mercado Descreve potencial de mercado, perfil e comportamento dos consumidores Busca a relação causa e efeito entre motivação, interesse e situações de compra Figura 20 – Tipo de pesquisa em marketing 43 MARKETING, CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO Lembrete As ações de marketing só são bem‑sucedidas se as empresas tiverem um bom embasamento de informações sobre o seu público‑alvo, e essas informações só podem ser obtidas através de pesquisas. 3.1 Desenvolvendo um processo de coleta de informações em marketing Indiferente do tipo de pesquisa que se irá realizar – exploratória, descritiva ou causal –, o processo de pesquisa é basicamente o mesmo. Segundo Kotler e Keller (2006, p. 100), o processo de pesquisa de marketing é constituído por seis etapas, sendo elas: Definir problema Apresentar resultados Analisar informações Tratar dados Coletar dados Plano de pesquisa Tomar decisões Figura 21 – Etapas da pesquisa de marketing • Etapa 1 – definição do problema: o primeiro passo para uma pesquisa de marketing é transformar o objetivo da pesquisa em um problema a ser investigado. Esse problema deve ser focado e não deve ser muito amplo. A definição do problema de pesquisa é de extrema importância para que o pesquisador compreenda as reais necessidades que devem ser investigadas. Por exemplo: o público feminino frequentaria uma esmalteria‑bar? • Etapa 2 – plano de pesquisa: nessa etapa, deverão ser definidos os objetivos, as formas e instrumentos de coletas de dados, o período de coleta, os custos da pesquisa, as possíveis hipóteses e os recursos humanos necessários. Deve ficar bem clara a confiabilidade das fontes e se os dados utilizados serão os primários ou secundários. O plano de pesquisa deve ser detalhadamente redigido, para que todos os envolvidos possam ter amplo conhecimento do processo. • Etapa 3 – coleta de dados: essa etapa é a mais sujeita a erros, pois depende da colaboração dos entrevistados, que, além disso, podem dar respostas tendenciosas e não sinceras. Dessa forma, a aplicação do questionário deve ser feita da melhor forma possível, e o entrevistador deve agir de forma imparcial. A coleta de dados pode ser feita de maneira primária ou secundária. Os dados primários são aqueles que exigem uma pesquisa de campo e são voltadas, especificamente, para solucionar o problema da pesquisa que está sendo desenvolvida. Já os dados secundários são dados já obtidos por outras pesquisas ou entidades de pesquisa, como organizações não 44 Unidade II governamentais (ONGs), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o DataFolha e outros. Os dados secundários são mais econômicos, mais rápidos para obtenção e interpretação; por outro lado, os dados primários são mais atuais, mais focados na pesquisa, mais específicos. Questionários/entrevistas, análise SWOT, benchmarking, observação Primários Secundários Dados Informações do governo, internet, pesquisas acadêmicas Figura 22 – Obtenção de dados em pesquisa de marketing • Etapa 4 – tratar dados: o pesquisador tabula os dados nessa etapa, com o objetivo de interpretar os dados coletados e tirar conclusões. Tratar os dados significa transformá‑los em números ou informações precisas. O pesquisador agrupa todos os dados obtidos e os transforma em informação. Nota‑se: dados não embasam decisões, informações sim. Após a coleta, o pesquisador terá uma infinidade de dados em mãos, e será necessário que ele transforme esses dados em informações úteis para a pesquisa – resumindo, sintetizando e alinhando tudo que obteve ao problema da pesquisa (etapa 1). • Etapa 5 – analisar informações: tendo feito o tratamento dos dados, o pesquisador fornece informações para a organização. As informações obtidas nas pesquisas irão confirmar ou refutar as hipóteses levantadas na etapa 2. Nessa etapa, é necessário ter uma postura crítica em relação às informações fornecidas pela pesquisa, avaliar seu alinhamento às estratégias da organização e relacionar as informações com o problema da pesquisa, seu objetivo. • Etapa 6 – apresentar resultados: nenhuma pesquisa deve ficar restrita a um único setor da organização. As informações obtidas devem ser estrategicamente divulgadas a todos os públicos de interesse da empresa. A apresentação pode ser feita de forma gráfica, com palavras‑chaves, percentuais ou relatórios. Na fase de apresentação, vale ouvir a opinião e percepção de diferentes pessoas, para que as interpretações das informações possam ser discutidas e avaliadas a partir de diferentes pontos de vistas. Chegou a hora de tomar decisões: a avaliação da pesquisa de marketing é muito importante, e quem a faz deve saber quais informações procurar. Por meio das respostas obtidas, a organização deve tomar um posicionamento, se deve ou não continuar com o projeto que motivou a pesquisa. Decisões bem fundamentadas aumentam as chances de sucesso de um projeto da organização. Por isso, o conhecimento profundo do mercado é fundamental para que elas saibam o que, a quem e como ofertar, o quanto o público está disposto a pagar, qual a atuação da concorrência e quais são suas vantagens competitivas. 45 MARKETING, CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO 3.2 Instrumentos de coleta de dados: primários e secundários A coleta de dados em uma pesquisa de marketing pode ser feita de forma primária ou secundária. Os instrumentos primários têm custo mais alto, podem ser mais demorados e demandam mais dedicação dos pesquisadores, mas fornecem dados mais precisos, atuais e seguros. Entre os principais (porém, não únicos) instrumentos de pesquisa primária, destacam‑se:questionários/entrevistas, análise SWOT, benchmarking, observação. Os questionários permitem obter informações bem especificas e podem ser estruturados em profundidade. Um questionário estruturado apresenta uma série de perguntas em que o entrevistado pode marcar uma ou mais alternativas. Esse questionário é mais fácil de ser aplicado, pois pode ser feito via telefone, e‑mail, sites de pesquisa ou aplicação por entrevistadores (entrevista pessoal). Já o questionário em profundidade é um questionário com perguntas mais amplas, em que o entrevistado pode expressar mais abertamente a sua percepção/opinião. Nesse tipo de pesquisa, é importante a presença de um entrevistador para que ele possa conduzir a entrevista extraindo dos participantes o máximo de informações possíveis (MALHOTRA, 2010). Figura 23 – Modelo de questionário Outro instrumento de coleta primária é a análise SWOT, um instrumento de fácil aplicação, pois permite que a organização faça uma atividade de autoconhecimento perante o mercado em que atua. Na análise SWOT – strenghts (forças), weaknesses (fraquezas), opportunities (oportunidades), threats (ameaças) –, os pontos fortes e fracos se referem ao ambiente interno da organização, que são as variáveis controláveis. Já as ameaças e oportunidades vêm do ambiente externo e, nesse caso, alega‑se que é impossível ter controle sobre tais variáveis. São exemplos de forças e fraquezas: recursos humanos, disponibilidade de caixa, recursos tecnológicos, capacidade de inovação, atendimento. Já como ameaças e oportunidades, podem ser destacados: crise econômica, crescimento econômico, aumentos ou isenções tributárias, segurança pública, concorrência e nichos de mercado. 46 Unidade II Pontos fortes Atributos positivos internos Conhecimento do segmento que atua Vantagens (tecnológicas, RH, finanças) Precificação Oportunidades Nicho de mercado Incentivos de mercado e governamentais Crescimento do setor Crescimento da economia Pontos fracos Defasagens em RH, finanças e tecnologias Escassez de recursos Desconhecimento da marca Problemas de gestão Ameaças Concorrência Aumento de tributos Crise econômica Novos entrantes Produtos substitutos SWOT Internos Externos Figura 24 – Matriz SWOT As organizações estão sujeitas a várias oportunidades e ameaças e deverão saber usar seus pontos fortes ou aprimorar seus pontos fracos para lidar com as variáveis externas que a impactam. • Pontos fortes x oportunidades: se a organização dispõe de pontos fortes para aproveitar uma oportunidade, ela deve tirar o máximo de proveito possível. • Pontos fortes x ameaças: são necessários os pontos fortes para minimizar os efeitos das ameaças. • Pontos fracos x oportunidades: nessa situação, as organizações devem desenvolver estratégias que minimizem os efeitos dos prontos fracos, aprimorem esses pontos e possam aproveitar as oportunidades. • Pontos fracos x ameaças: é uma situação delicada, pois são dois aspectos negativos para a organização. Então o objetivo é minimizar ao máximo os impactos das ameaças, tentando aprimorar os pontos fracos. Exemplo de aplicação Vamos fazer uma autoanálise SWOT? Se você for disputar uma vaga de emprego com outros dois candidatos, consegue apontar quais são seus pontos fortes e fracos? Quais as oportunidades e as ameaças que os seus concorrentes representam? Reflita sobre como encarar a concorrência nesse processo seletivo: é assim que as empresas devem se portar ao fazer uma análise SWOT. Outro instrumento que as organizações utilizam para coleta de dados primários é o benchmarking. Assim como a análise SWOT, é um processo socrático de “conhecer‑te a ti mesmo”, isso porque um bom processo de benchmark requer autoconhecimento e análise crítica da real situação da empresa. 47 MARKETING, CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO É uma alusão à palavra referência, ou seja, esse instrumento é uma análise aprofundada das melhores práticas usadas por empresas do mesmo segmento da organização que está fazendo a pesquisa e que podem ser adaptadas pela sua marca. Por que adaptadas? Porque o benchmark não é copiar as práticas da concorrência, mas analisar as melhores práticas e ver o que pode ser aprendido e adaptado para a sua organização. E por fim, falamos da pesquisa por observação. Nela, o pesquisador deve observar sistematicamente o comportamento, as ações e as atitudes dos consumidores, a fim de obter subsídios sobre determinado fenômeno que está sendo estudado. Essa observação pode ser feita aleatoriamente em pontos de venda e grupos focais. Mas se ressalta que nessa técnica, o pesquisador não interfere em momento algum, tampouco interage com o objeto em observação. Suas observações devem ser fielmente registradas, e esses registros podem se tornar informações para futuras tomadas de decisões. Os dados secundários, por sua vez, são mais fáceis de serem obtidos, mais rápidos e mais baratos, mas é necessário que o pesquisador tenha certeza de sua confiabilidade, veracidade e consistência. Em uma pesquisa mais ampla, o pesquisador utiliza de dados secundários para iniciar uma pesquisa e, posteriormente, parte para a coleta de dados primários. Os dados secundários independem das organizações e são obtidos de fontes governamentais (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, ministérios, Fundo Monetário Internacional), institutos de pesquisa (DataFolha, Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), associações, conselhos e sindicatos, grupos econômicos e pesquisas acadêmicas (MALHOTRA, 2010). Sejam primários ou secundários, é importante que os dados não sejam manipulados a favor da organização. Deve‑se prezar pela fidelidade das informações obtidas, alinhando‑as às estratégias organizacionais para que possam contribuir para o sucesso das ações de marketing. 3.3 Sistema de informação marketing (SIM) e inteligência de marketing Todos os estudos, pesquisas, coletas e interpretações de informações obtidas vistas neste tópico embasam as decisões das organizações e, após serem utilizados, podem ser organizados e armazenados para utilização posterior, compondo um banco de dados com necessidades, preferências e comportamentos de compra, ao qual chamamos de sistema de informação de marketing (SIM) e inteligência de marketing. Para Kotler e Keller (2006, p. 114), o sistema de informações de marketing é uma: Estrutura contínua e interagente de pessoas, equipamentos e processos, que congregam, classificam, analisam, avaliam e distribuem as informações convenientes, oportunas e corretas para uso dos responsáveis pelas decisões de marketing, para incrementar o planejamento, a implementação e o controle de marketing. Todas as informações mercadológicas obtidas e armazenadas devem ser continuamente utilizadas nas decisões estratégicas das organizações. Um bom SIM é constituído por pessoas, equipamentos 48 Unidade II e procedimentos organizados que coletam, analisam e apresentam as informações de marketing aos públicos internos de interesse da empresa. Os dados devem ser armazenados de forma a serem facilmente encontrados, para que possam responder a novos problemas de pesquisa da organização e embasem as decisões estratégicas. As informações contidas no SIM podem ser sobre vendas, pagamentos, logística, comportamentos individuais e dados econômicos do segmento, e o gestor poderá filtrar as informações pertinentes as suas decisões e utilizá‑las de forma rápida e sem ter que realizar novas pesquisas. Figura 25 – Esquema de obtenção de dados para o SIM Por outro lado, Kotler e Keller (2006) mostram que o SIM fornece informações sobre os resultados de uma pesquisa, enquanto o sistema de inteligência de marketing são as formas, além das pesquisas, que as empresas podem obter informações e alimentar os seus SIMs. O sistema de inteligência de marketing pode ser feito através de: • Pessoal de vendas diretas: os vendedores são o maior contato da organização com os consumidores. Eles podem obterinúmeras informações sobre o comportamento e preferências de seus clientes. • Dados governamentais e econômicos: dados de poder de compra, economia familiar, inflação, tributos. • Sistema de ouvidoria para consumidores: ouvir os feedbacks dos clientes é uma forma louvável de reunir informações para o SIM. • Analisar a concorrência: acompanhar a concorrência, seus lançamentos e suas atuações pode deixar a organização antenada para o mercado e suas decisões. E em quais situações as informações contidas no SIM podem ser utilizadas pelas organizações? Em várias situações, os gestores podem lançar mão das informações armazenadas no banco de dados da instituição, das quais se pode destacar: 49 MARKETING, CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO • treinamento de equipe de vendas; • lançamento de novos produtos; • relançamento de produtos já em comercialização; • conhecer a concorrência e agir de maneira adequada perante ela; • otimizar tempo de decisões; • analisar as oportunidades e ameaças do mercado; • inovar e criar vantagens competitivas; • criar promoções; • otimizar a distribuição de produtos; • identificar segmentos; • otimizar a comunicação; • trabalhar a imagem da organização e fidelidade dos consumidores. É importante que as organizações tenham as suas informações organizadas em bancos de dados, para que possam estar sempre atualizadas em relação ao mercado em que atuam. As informações podem ser obtidas no dia a dia, nas negociações e em pesquisas estruturadas, que devem estar disponibilizadas aos gestores em um sistema integrado e de fácil consulta, para que se possa aproveitar as oportunidades, identificar tendências e acompanhar as mudanças mercadológicas e dos consumidores. Saiba mais Quer se aprofundar em como obter e gerenciar informações em marketing? Basta ler os capítulos 3 e 4 do livro: KOTLER, P.; KELLER, K. L. Administração de marketing. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2006. p. 69‑137. 50 Unidade II 4 SEGMENTAÇÃO DE MERCADO: UM CONHECIMENTO NECESSÁRIO Os mercados não são homogêneos, e uma organização não pode achar que todos os seus clientes têm necessidades, gostos, preferências e desejos iguais. Uma célebre frase do ex‑presidente americano John F. Kennedy pode, muito claramente, descrever o que acontece quando uma empresa não sabe as diferenças entre os seus públicos: “não conheço nenhuma fórmula infalível para obter o sucesso, mas conheço uma forma infalível de fracassar: tentar agradar a todos”. É nessa condução de ideias que, para competirem mais eficiência no mercado, as ações de marketing passaram a investir na segmentação de mercado, ou seja, conhecendo melhor cada um dos seus públicos e praticando o marketing de mercado‑alvo. Isso quer dizer que, ao invés de praticarem marketing pulverizado (sem um segmento claramente definido), as organizações passaram a dar mais atenção ao marketing direcionado. E, assim, começamos a estudar a segmentação de mercado (TOMANARI, 2003). Segmentação de mercado nada mais é que dividir, separar e repartir para estudar o público‑alvo. Esse termo foi desenvolvido por Wendell R. Smith, no ano de 1956. No contexto atual, toda empresa deveria definir não apenas quais necessidades do mercado consumidor ela pretende satisfazer, como também quais consumidores atenderá. De um lado, estão clientes que são muito parecidos em seus comportamentos (exigências, desejos, entre outros). Vender determinado produto ou serviço nesse mercado envolve investimentos baixos. Mas de outro lado estariam os clientes que procuram por atributos diferenciados. Esse mercado é heterogêneo e esses grupos são conhecidos na área de marketing como “segmentos de mercado”. Para esse grupo heterogêneo, o profissional de marketing irá investir em segmentação (KOTLER; KELLER, 2006). Mercado em massa Mercado segmentado Figura 26 – Ilustração da segmentação de mercado Como afirma Kotler (2000, p. 178): A determinação dos segmentos de mercado e a determinação dos objetivos de mercado são questões separadas. É preciso esclarecer que segmentação de mercado é o processo no qual o profissional de marketing identifica grupos de consumidores que têm como característica diferentes necessidades/desejos de consumo (público‑alvo). Já objetivo de mercado é a decisão que a empresa fará sobre a que segmentos de mercado atender (mercado‑alvo). E, dessa forma, pode‑se concluir que a segmentação de mercado é agrupar os consumidores que possuem as mesmas preferências e necessidades. Por exemplo: a Fiat vai trabalhar um modelo de 51 MARKETING, CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO marketing diferente para os consumidores que usam o carro por lazer daqueles consumidores que compram um carro para fins profissionais, ou uma academia pode trabalhar de maneira distinta os alunos que a utilizam para o bem daqueles que frequentam o espaço para se tornarem atletas profissionais. Nos primórdios do marketing o que se praticava era o marketing em massa, em que o vendedor estava focado em produzir, promover e distribuir em massa a sua produção. O consumidor não tinha muita voz. Certa vez, Henry Ford (o percursor da produção em massa) disse que todos poderiam ter o carro que desejar, desde que ele fosse preto. Tudo que é produzido, promovido e entregue em massa tem seus custos diminuídos, mas por outro lado, deixa a desejar na relação com os consumidores. Ao se estabelecer um processo de segmentação de mercado, as organizações, que buscam, também, inovar, acabam por descobrir nichos de segmento, nos quais podem atuar com maiores margens de sucesso. Nichos de mercado não são sinônimos de segmento. O segmento é muito maior e lucrativo que um nicho. O nicho de mercado é uma parcela de consumidores que demandam por um produto/serviço pouco ou nada atendido. É um público que tem grande potencial de consumo e lucratividade, mas com gostos bem particulares, que ainda não foram descobertos pelas empresas atuantes em segmentos já consolidados. Por exemplo, nos últimos anos, vemos a crescente demanda por produtos vegetarianos e veganos no Brasil (em 2018, foram registrados cerca de 29 milhões de vegetarianos e veganos no país). Mesmo com esta demanda crescente, as pessoas que adotam esse estilo de vida percebem uma ausência de estabelecimentos voltados a esse público. E quando o praticamente do veganismo é, também, fã de comida japonesa? Você já viu um restaurante japonês vegano? Aí, temos um nicho de mercado: um público com demanda (demanda latente) por sushis veganos. É nesse ponto que as organizações podem descobrir um mercado muito lucrativo. Vendo essa oportunidade de atuação é que Maria Cermelli, sócia do grupo Sushimar, inaugurou, em 2015, na cidade de São Paulo, o SushimarVegano, primeiro restaurante japonês vegano do Brasil. Observação Segmentar não é juntar pessoas em um grupo por conveniência da empresa. Segmentar é agrupar pessoas com gostos e hábitos semelhantes em um mesmo grupo que possa ter seus desejos atendidos pela empresa. É por isso, então, que nos dias de hoje, com um mercado cada vez mais concorrido, conhecer a fundo seu público‑alvo, entender suas necessidades e desejos é uma forma de reduzir o risco de ações de marketing malsucedidas ou ineficazes, o que significa perder dinheiro. Quando a organização divide um mercado com base em características‑chaves e personaliza suas estratégias apoiando‑se nessas informações, aumenta muito a probabilidade de fazer maior sucesso com suas mensagens, interações e comercializações. Atualmente, a empresa que mais vende e que tem maior lucratividade e rentabilidade é aquela que conhece melhor o cliente, o mercado‑alvo e os concorrentes, que segmenta corretamente o mercado e que trabalha sistematicamente para alcançar um bom posicionamento de seu produto ou serviço na mente do consumidor. 52 Unidade II Lembrete A segmentação de mercado não é certeza de sucesso para a empresa, mas contribui para que a empresa estabeleça processos de comunicação e comercialização mais personalizadoscom cada perfil de consumidor. Mas você deve estar se perguntando: agora que já sei o que é segmentação de mercado e qual sua importância, quais são as características principais que posso utilizar para segmentar o meu mercado? Existem cinco subgrupos que são os mais utilizados pelos profissionais de marketing para segmentarem seus mercados, mas que não são os únicos. A segmentação pode ser feita, principalmente, por características demográficas, características geográficas, características psicográficas, características comportamentais e características por multiatributos (KOTLER, 2000). 4.1 Tipos de segmentação 4.1.1 Segmentação geográfica O que agrupa os membros em um segmento geográfica são as unidades geográficas, como países, estados, bairros, blocos de países, clima regional, densidade populacional, porte da cidade etc. De acordo com Kotler (2000, p. 183) “a empresa reconhece que os potenciais de mercado e os custos variam com as localizações dos mercados”. Dessa forma, a empresa avalia quais mercados geográficos trarão melhores resultados. A segmentação geográfica permite um conhecimento da região em que se atua ou se atuará. Dependendo da sua localização, certos produtos podem ser mais úteis, mais acessíveis e necessários. Quem mora na região Nordeste do Brasil dificilmente irá comprar um aquecedor de ambientes, enquanto os moradores do Alasca provavelmente não comprarão um ar condicionado. A segmentação geográfica pauta‑se na segmentação por localidade. Figura 27 – Base da segmentação geográfica 53 MARKETING, CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO 4.1.2 Segmentação demográfica Reparte o mercado em diferentes aspectos, tais como idade, gênero, renda salarial, grau de instrução, cor, raça, religião, estado civil, quantidade de filhos, entre outros. Segundo Kotler (2000, p. 183) as variáveis demográficas, há muito tempo, são: As bases mais populares para se distinguir os agrupamentos mais significativos de mercado. […] as necessidades dos consumidores ou as taxas de uso são geralmente muito associadas com as variáveis demográficas; […] são mais fáceis de se medir do que os outros tipos de variáveis. Quando a empresa opta pela segmentação demográfica, é porque quer agrupar o público‑alvo por semelhanças do grupo – e não do indivíduo. Por exemplo, o público‑alvo da empresa são jovens de 18 a 21 anos de idade. Nesse modelo de segmentação é que nasceram os cosméticos masculinos e femininos (gênero), produtos de higiene infantil (faixa etária), modelos de carros para família, solteiros e casais sem filhos (estado civil e composição familiar). Essa é uma das práticas de segmentação mais utilizada, pois o mercado parte do princípio que o comportamento de compra dos consumidores é altamente influenciado pela sua demografia. A composição familiar é uma das bases para a segmentação demográfica. Figura 28 – Composição familiar como base de segmentação demográfica 4.1.3 Segmentação psicográfica Nesse segmento, faz‑se uso de conhecimentos da área da psicologia e da demografia para entender melhor os consumidores. Os consumidores serão divididos de acordo com seu estilo de vida (cuidado com a saúde, cuidado com o corpo, com a alimentação, o gosto por esportes, por caminhadas), sua personalidade (compulsiva, autoritária, ambiciosa, entre outros) e atitudes (propósito, intenção). Personalidade e estilo de vida influenciam bastante a decisão de compra e os hábitos de uma pessoa. Ou seja, dentro de um mesmo grupo demográfico, poderemos ter perfis psicográficos diferentes. 54 Unidade II Sendo assim, ao contrário da segmentação demográfica, a psicográfica está preocupada em conhecer/estudar o indivíduo. Um dos modelos mais utilizados em mapeamento psicográfico é o VALSTM, que mostra que o estilo de vida pode estar dividido em inovador, consciente, empreendedor e experimentador (para classes mais abastadas) e crédulos, lutadores, batalhadores e sobreviventes (para classes com recursos mais escassos). Quadro 4 – Segmentos de consumidores por disposição de recursos Maior disposição de recursos Menor disposição de recursos Inovadores: bem sucedidos, grande autoestima, gostam de luxo Crédulos: público mais conservador, tendem a consumir marcas mais consolidadas Conscientes: maduros e reflexivos, buscam pela durabilidade e funcionalidade Lutadores: temem a aprovação do outro e têm tendência ao mercado de falsificados, por buscarem o estilo dos inovadores Empreendedores: foco na carreira profissional, buscam a estabilidade. Buscam produtos de prestigio dentro do seu círculo social Batalhadores: buscam funcionalidade, praticidade e produtos mais econômicos (porém funcionais) Experimentadores: mais jovens, gostam da variedade e das novidades Sobreviventes: mais velhos e resignados, não abrem mão das suas marcas favoritas Figura 29 – Prática de esporte é base para a segmentação psicográfica 4.1.4 Segmentação comportamental Segundo Kotler e Keller (2006, p. 245), nessa divisão de mercado, os consumidores são separados em grupos de acordo com seus conhecimentos, atitudes, uso e resposta de um produto. Avalia‑se: • Papel de decisão no processo de compra: nesse momento, o consumidor pode assumir cinco papeis, que são o iniciador (o que tem ideia da compra), o influenciador (que influencia o processo de compra), o decisor (o que decide o que será comprado), o comprador (o que realiza o ato da compra) e o usuário (o que irá usar o produto/serviço). • Ocasião de compra/datas festivas: esporádica, especial, frequente, Natal, Dia das Mães, Dia dos namorados. 55 MARKETING, CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO • Benefícios: qualidade, garantia, economia, rapidez. • Índice de utilização: são denominados light user, médium user ou heavy user. • Status de fidelidade à marca: nenhuma, média, forte, absoluta. • Estágio de prontidão: disposto a comprar, desconhece o produto, interessado, desejoso. Observação O papel de decisão de compras está dividido em indicador, influenciador, decisor, comprador e usuário. Estes papéis podem, ou não, ser acumulativos durante o processo de compra. Saiba mais Para saber mais sobre índice de utilização dos produtos, leia sobre segmentação no livro: FERREIRA, M. P.; REIS, N.; SERRA, F. R. Marketing para empreendedores e pequenas empresas. São Paulo: Atlas, 2010. p. 128‑129. Quando a empresa utiliza esse tipo de estratégia é porque, por exemplo, quer entender o comportamento de compra do consumidor – quando compra, porque compra, quantas vezes compra por semana, quanto gasta, quais produtos leva, horários em que compra, entre outros. 4.1.5 Segmentação por multiatributos É quando se faz um cruzamento de distintas variáveis para se chegar a um melhor conhecimento e maior alcance do público‑alvo, devido a questões pertinentes que fazem da segmentação por multiatributos a ideal em determinada situação (LAS CASAS, 2006). Essa segmentação permite uma análise mais detalhada e pormenorizada do público‑alvo. Exemplo de aplicação Vamos pensar em um lançamento de produto que utilizará a segmentação multiatributos. Se esse produto for uma maquiagem à prova de agua, pense em quais variáveis vistas neste tópico você utilizaria para compor o seu segmento de mercado. 56 Unidade II 4.2 Segmentação do mercado organizacional Na segmentação dos mercados organizacionais, pode‑se utilizar algumas variáveis adotadas na segmentação dos mercados consumidores. Nesse caso, as características pessoais do comprador são as variáveis às quais se dá menor importância, porque o interesse maior está em identificar as necessidades da empresa. O contato com o comprador é analisado no estudo de comportamento do consumidor organizacional. As principais variáveis de segmentação do mercado organizacional, de acordo com Kotler e Keller (2006, p. 255), são: • Demográficas: setores, porte da empresa. • Geográficas: localização da empresa. • Operacionais: tecnologia, status de usuário ou não usuário, recursos dos clientes. • Abordagensde compra: organização, estrutura de poder, natureza dos relacionamentos, políticas gerais de compras e critérios de compras. • Fatores situacionais: urgência, aplicação específica, tamanho de pedido. • Características pessoais: similaridade comprador/vendedor, atitudes em relação ao risco, fidelidade. O mercado organizacional também precisa ser segmentado para que o retorno da comunicação e propaganda seja eficaz e eficiente. A empresa que trabalha com mercados organizacionais precisa conhecê‑lo em profundidade, caso contrário terá dificuldades para fidelizar esse cliente. Há também o caso de empresas que trabalham com ambas as segmentações: a do mercado consumidor e do mercado organizacional. Nesse caso, todo o cuidado é pouco. Em algumas empresas, há departamentos exclusivos para atender e conhecer o cliente consumidor e outros departamentos voltados ao estudo e conhecimento dos mercados organizacionais. Imagine que determinada empresa é uma indústria que fabrica móveis: há uma loja da fábrica, na qual se atende ao consumidor final, e há também os canais de marketing, que trabalham com intermediários (tanto do atacado quanto do varejo). Nesse caso, a empresa deve se preocupar tanto com o mercado consumidor quanto com o consumidor organizacional. Observação Uma empresa que opte por estabelecer relações comerciais com o consumidor final e com organizações deve criar estruturas e processos distintos para atender aos diferentes públicos. Veja essa metáfora: você reside em um sítio e a cisterna antiga secou. Você precisa encontrar mais água para abastecer a sua casa. Dessa forma, você tem duas opções: cavar 20 poços de 1 metro cada 57 MARKETING, CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO um ou cavar um único poço de 20 metros? O que você acha melhor, considerando as informações vistas sobre segmentação de mercado? Figura 30 – Um poço fundo tem mais água limpa que vinte rasos Considerando a importância de se conhecer a fundo o mercado em que pretende atuar, é possível inferir que é mais provável encontrar água quando se cava um único poço de 20 metros. De forma semelhante é encontrar e atrair clientes. Não adianta tentar atender, superficialmente, todos os mercados. Ficar vagando de cliente em cliente é perder tempo e dinheiro e estar sujeito a concretizar a venda, visto que você não entende com profundidade os gostos daquele consumidor. Isso é como cavar 20 poços de 1 metro cada um. É necessário que você cave fundo para encontrar água, assim como se faz necessário investigar a fundo um segmento em que se pretende atuar. Só assim a sua empresa conseguirá construir uma relação forte com seu público‑alvo e suas ações de marketing serão bem‑sucedidas. Vai segmentar o seu público? Defina quais os produtos você quer oferecer e qual a base de segmentação você vai utilizar. Busque o máximo possível de informações e conhecimento sobre esse público. Customize seus produtos e serviços ao que esse público busca. Estabeleça uma comunicação direta com o seu segmento e boa sorte! 4.3 Agregando valor para o cliente em segmentos específicos Os consumidores, ao buscarem por um serviço ou produto, vão muito além de preço e benefícios. É necessário que os produtos apresentem valor agregado (e que este valor seja percebido pelos consumidores). Agregar valor ao que será ofertado é gerar uma série de benefícios (além do benefício central), o que permite que a empresa se diferencie da concorrência, eleve a percepção do seu público‑alvo e atraia mais pessoas interessadas (LEMON; RUST, 2001). A percepção do cliente em relação ao valor agregado do produto está ligada à forma como o produto é apresentado e entregue aos consumidores. Por isso é necessário que se entenda a expectativa deles em relação ao que será ofertado, analisar o que a concorrência já oferece e como você pode se diferenciar no mercado. Essa apresentação do produto está muito relacionada ao fato de a comunicação de marketing apresentar os benefícios do produto e como ele pode solucionar os problemas de quem o compra. Atente‑se que benefícios é diferente de características (LEMON; RUST, 2001). As características são visíveis pelos clientes, os benefícios devem ser apresentados e explicados. 58 Unidade II Toda vez que alguém compra um produto ou solicita um serviço, imediatamente surge uma expectativa. Expectativa de como aquele bem irá apresentar solução, quais os benefícios que ele trará, se o seu uso irá atender ao que se espera. Mas como se pode definir o conceito de expectativa? A palavra tem origem no latim exspectare, que remete à ideia de esperança que algo baseado em promessas e apresentações se torne realidade. O cliente cria uma expectativa de que a promessa apresentada pela organização acerca do produto se torne realidade durante o seu uso. Mas nem sempre isso acontece, e as expectativas dos consumidores não são atendidas. Quanto maior o desejo ou o valor pago ao produto, as chances de as expectativas serem maiores também aumentam. Por exemplo, é compreensível que as expectativas sejam maiores quando o consumidor compra um carro, ou quando compra aquele celular que há muito tempo desejava, do que quando ele compra um produto de limpeza de uso rotineiro (LEMON; RUST, 2001). Existe uma relação entre expectativa e valor percebido. Observação Expectativa = valor percebido = cliente satisfeito. Expectativa > valor percebido = cliente insatisfeito. Expectativa < valor percebido = cliente surpreendido. Quando a expectativa é maior que o valor percebido, ao final do processo de compra e uso, teremos clientes insatisfeitos, pois o produto não tornou real a promessa apresentada pela comunicação de marketing. Nesse caso, o consumidor poderá se afastar do produto e da marca, fazer reclamações que atinjam a imagem organizacional e não voltará a negociar com aquela empresa que vendeu um produto que não gerou satisfação. Quando a expectativa é igual ao valor percebido, dizemos que a empresa cumpriu a sua obrigação e entregou ao cliente exatamente aquilo que prometera, por isso o cliente está satisfeito e, assim, poderá voltar a negociar com a empresa. A atenção que a organização deve ter é porque satisfação não é sinônimo de fidelização. O cliente pode até estar satisfeito, mas caso a concorrência oferte algo melhor, é bem provável que ele migre para lá. Já quando a expectativa é menor que o valor percebido, temos clientes surpreendidos, porque o produto foi além daquilo que o consumidor esperava. Nesse caso, os clientes surpreendidos tendem a se fidelizar às organizações, voltando a negociar com elas e tendo mais dificuldade em migrar para a concorrência (LEMON; RUST, 2001). Vamos entender, então, como se forma essa cadeia de agregação de valor para o cliente. 59 MARKETING, CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO 4.4 Cadeia do valor para o cliente e fidelização Quais são os atributos que você valoriza quando vai comprar alguma coisa? Sim, alguns são óbvios, como design, qualidade, durabilidade, preço. E o que está por trás de tudo isso desde o desenvolvimento do produto até o pós‑venda? São várias essas etapas, que não são tão visíveis ao consumidor. E do que adianta investir em um bom produto e comunicação se a sua equipe não se interessa pelo seu cliente ou se a logística da sua empresa é falha? A cadeia de valor para o cliente foi um assunto estudado por Porter (1989) e é composta por uma integração de atividades agregadoras de valor, desde as fontes de matérias‑primas básicas, passando por fornecedores de componentes e indo até o produto final entregue nas mãos do consumidor. Porter (1989) diz que um produto tem valor agregado quando a empresa se preocupa além da entrega do que o consumidor comprou, e ele divide esses fatores em atividades primárias e atividades de apoio. Em atividades de apoio, Porter (1989) elenca a infraestrutura da empresa, a gestão dos recursos humanos, o desenvolvimento de tecnologias e a aquisição ética e responsável de matérias‑primas. Já nas atividadesprimárias, para o estudioso, estão a logística interna e externa, a redução de emissão de poluentes (operações), o marketing e vendas e os serviços agregados (devoluções, pós‑venda). Ele afirma, ainda, que estas atividades não são independentes, mas, sim, interdependentes. At iv id ad es d e ap oi o Infraestrutura da empresa Contabilidade ambiental. Base de dados ambientais (por exemplo: análise de ciclo de vida e requisitos legais). Margem Gerência de recursos humamos Treinamento ambiental. Desenvolvimento de cultura e consciência ambiental. Desenvolvimento de tecnologia Desenvolvimento de processos limpos. Projeto voltado ao meio ambiente natural. Aquisição Menos uso de matérias‑primas prejudiciais. Especificações voltadas ao meio ambiente natural. Escolha de fornecedores com operação nemos poluidoras. At iv id ad es pr im ár ia s Lógistica interna Armazenamento. Transporte. Operações Redução de descarga de poluentes. Minimização de resíduos. Redução da quantidade de energia exigida. Lógistica externa Procedimentos de transporte. Armazenamento. Embalagem. Marketing & vendas Promoção dos aspectos ambientais do produto. Imagem corporativa. Serviço Taxa de retorno de produtos. Reciclagem. Figura 31 – Cadeia de valor do produto A gestão adequada da cadeia de valor acaba se tornando um diferencial competitivo das organizações, ao passo que colabora para a melhoria da eficiência e eficácia, por meio da identificação e eliminação de atividades que não adicionam valor ao produto e analisando caminhos em que o cliente possa perceber essa agregação de valor, porque é percebendo isso que o seu público‑alvo tende a se fidelizar ao seu negócio. 60 Unidade II Valor entregue ao cliente é a diferença entre o valor total para o cliente e o custo total para o cliente. O valor total para o cliente é o conjunto de benefícios que os clientes esperam de um determinado produto ou serviço. O custo total para o cliente é o conjunto de custos em que os clientes consumidores esperam incorrer para avaliar, obter, utilizar e descartar um produto ou serviço (PORTER, 1989 apud FERREIRA; REIS; SERRA, 2010, p. 31). Não basta um cliente fidelizado ser aquele que só compra na sua empresa. Um cliente fidelizado é aquele que acredita no que você está ofertando, que se torna mais resistente às investidas da concorrência, e isso só será possível se você tornar seu produto muito especial para quem o estiver comprando. Isso é importante, também, para a gestão financeira da empresa. Fica cinco vezes mais barato manter os clientes que já conquistamos do que sair à procura de novos. Com uma boa carta de clientes fidelizados, torna‑se mais fácil negociar com fornecedores, pois eles indicam novos consumidores, enquanto você reduz o investimento em promoção e propaganda e aumenta a frequência de compras. Uma estratégia recorrente para fidelização são os programas que as empresas oferecem, tais como o Smile da Gol e o Multiplus da Latam. Mas não adianta ter um programa de acúmulo de pontos e trocas de prêmios apenas: é necessário que o seu consumidor sinta que ele não é apenas mais um para a sua empresa. Kotler e Keller (2006, p. 108) dizem que “os consumidores têm graus de fidelidade variados em relação a marcas específicas, lojas e outras organizações. Os compradores podem ser divididos em quatro grupos, de acordo com o status de fidelidade à marca”. • Clientes fiéis convictos: são aqueles consumidores que têm o hábito de comprar sempre da mesma marca. • Clientes fiéis divididos: um tipo de consumidor que é fiel a mais de uma marca, podendo ser duas ou três. • Clientes fiéis inconstantes: clientes que estão mudando de marca sempre. • Clientes infiéis: não têm preferência ou fidelidade por marca alguma. No que tange à fidelidade do cliente, o importante é ficar atento e fazer o possível para entregar o maior valor, e, para isso, toda a organização deve estar envolvida em um processo conhecido como marketing holístico (D’ANDREA; CONSOLI; GUISSONI, 2011). De acordo com Kotler e Keller (2006), marketing holístico é uma prática que integra as ações de marketing integrado, o marketing interno, o marketing de relacionamento e o marketing socialmente responsável. Isso quer dizer que os departamentos de pesquisa e desenvolvimento, compras, produção, vendas, logística e finanças devem estar alinhados em uma mesma estratégia mercadológica, focada na satisfação do consumidor. 61 MARKETING, CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO Finanças Comercial Logística Pesquisa e desenvolvimento Marketing holístico Figura 32 – Bases para o marketing holístico O marketing holístico, então, objetiva que todos os departamentos atuem juntos, buscando criar e entregar ao consumidor uma ideia positiva, unificada e organizada sobre as práticas da organização. Para os estudiosos da área, entender e atuar no todo gera mais resultados que gerenciar e integrar as partes. O marketing holístico atua nessa premissa: não adianta cada departamento fazer a sua parte e depois se unirem. O caminho correto é que todas as práticas organizacionais sejam globais e unificadas desde o início. E atuar de forma holística só é possível com claro planejamento estratégico e análise realista dos ambientes organizacionais. 4.5 Planejamento estratégico e análise dos cenários de marketing O planejamento estratégico consiste em entender o que deve ser feito, por que deve ser feito e como deve ser feito, para que os objetivos organizacionais sejam alcançados. Planejar estrategicamente uma ação é alinhar recursos humanos e financeiros, capacidade organizacional e interesses mercadológicos à realidade da organização, mostrando a direção que ela deve seguir para que atingir suas metas (PORTER, 1989). Para isso, a empresa deverá ter claramente definida sua missão (para que a empresa existe), sua visão (aonde ela quer chegar) e seus valores (quais preceitos éticos guiam as atividades da empresa). Para elaborar o planejamento estratégico, é importante que a organização conheça a sua realidade, o mercado em que está inserida e os ambientes de influência (interno e externo). É necessário, também, que o planejamento estratégico seja um processo que envolva todas as equipes e níveis da empresa. 62 Unidade II A realização do planejamento estratégico permitirá à organização conhecer a fundo seu público‑alvo, facilitando, assim, o relacionamento e a agregação de valor ao produto final. Por quê? Porque com o planejamento estratégico, a empresa saberá quanto pode investir em diferenciação e inovação, saberá o que seus consumidores buscam e como poderá oferecer isso a eles, pois com as informações em mãos, ficará muito mais fácil tomar decisões mercadológicas. Em um primeiro momento, para desenvolver o planejamento estratégico, as empresas desenvolvem um diagnóstico, elencando suas forças e fraquezas, detectando oportunidades e ameaças. Esse diagnóstico permitirá à empresa se autoconhecer, e esse processo de autoconhecimento pode ser chamado, também, de análise SWOT. Lembrete Análise SWOT: strenghts (forças), weaknesses (fraquezas), opportunities (oportunidades) e threats (ameaças). Os pontos fortes e fracos referem‑se ao ambiente interno da organização, que são as variáveis controláveis. Já as ameaças e oportunidades vêm do ambiente externo, e neste caso alega‑se que é impossível ter controle sobre tais variáveis (KOTLER; KELLER, 2006). Para desenvolver a análise SWOT, a empresa deverá ter pleno conhecimento dos ambientes em que atua e que podem influenciar os negócios, como, por exemplo, os ambientes internos (funcionários, produção, forças e fraquezas) e externos (econômico, sociocultural, tecnológico e político legal). Nos ambientes internos, a empresa deve analisar as competências de sua equipe e engajamento do colaborar com as atividades da organização, deverá, ainda, analisar a sua capacidade produtiva e de negociação com fornecedores e sua infraestrutura, ou seja, tudo aquiloque diz respeito às decisões que partem de dentro da organização para o mercado. Já no ambiente externo, as influências não dependem muito da organização, visto que as variações de cenários acontecem em uma esfera mais ampla, muitas vezes partindo do mercado para dentro da organização. O ambiente econômico envolve toda atividade que gera renda e receita em um país. Por isso as variações no poder de compra, distribuição de renda, disponibilidade de credito, empregabilidade são pontos que podem intervir no planejamento da empresa. Como por exemplo, em épocas de crises econômicas, talvez, não seja o melhor momento para a organização aumentar sua capacidade produtiva. No ambiente social, as empresas devem estar atentas se seus mercados são mais conservadores ou mais abertos à inovação, devem alinhar suas ofertas à cultura da sociedade em que estão inseridas e estar cientes de que essa sociedade molda crenças, valores, hábitos das pessoas, e que essas crenças e hábitos irão interferir nos gostos e preferências de cada público (KOTLER, 2000). Já no ambiente tecnológico, o planejamento estratégico deve sempre levar em conta a velocidade com que a tecnologia se altera e impacta no negócio de uma organização, considerando que a tecnologia é uma aliada da produção, mas pode afetar a venda de produtos da empresa. Por fim, há o ambiente político‑legal, que vai considerar no planejamento os sindicatos, a estabilidade política do país, as leis que regulamentam o setor de atuação da empresa. 63 MARKETING, CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO Tecnologia Governo Economia local Legislação Sustentabilidade Consumidores Concorrência Acionistas Fornecedores Empregados Infraestrutura Equipamentos Recursos Ambiente organizacional interno Microambiente interno Macroambiente externo Figura 33 – Definições de ambiente de marketing Percebem como agregar valor ao produto que será ofertado ao consumidor é resultado de uma série de pesquisas, informações e conhecimento que a empresa deve ter? Outro ponto, além do planejamento estratégico, da cadeia de valor e da análise ambiental, que permite que a empresa conheça a fundo o seu consumidor e entregue um produto de alto valor agregado é o estudo do comportamento do consumidor. 4.6 Comportamento do consumidor Blackwell, Miniard e Engel (2008, p. 6) definem o comportamento do consumidor como “as atividades com que as pessoas se ocupam quando obtêm, consomem e dispõem de produtos e serviços” e defendem que seu estudo é vantajoso por permitir que as organizações entendam as tendências de consumo. Durante o século XIX, até meados do século XX, a decisão do que deveria ser produzido – as cores, embalagens, onde seria vendido – partia dos próprios produtores. Indiferentemente de qual seria a oferta, todas as decisões partiam de dentro das fábricas. No final do século XX, por sua vez, o ponto principal de estudo sobre consumo passou a ser o consumidor, justamente em uma época em que a concorrência aumentava e as empresas tinham que buscar novos consumidores no mercado (BLACWELL; MINIARD; ENGEL, 2008). 64 Unidade II Empresas de todos os portes e negócios estão procurando conhecer quem são seus clientes e o que pensam quando estão consumindo. Esse interesse tem se dado devido à mudança que ocorreu nos modos de consumo, desde os anos 20, quando a filosofia de mercado mudou da fabricação de mercadorias para como comercializá‑las. A análise do comportamento do consumidor começa quando manifestações do inconsciente se transformam em ações de consumo (FRAGA; SERRALVO, 2006), com a primeira fase conhecida como reconhecimento da necessidade. Blackwell, Miniard e Engel (2008) afirmam existir sete estágios que envolvem o consumidor antes, durante e depois da compra. Segundo esses autores, o processo de consumo se inicia no momento em que o consumidor reconhece uma necessidade, ou seja, o indivíduo percebe a diferença entre aquilo que julga ser ideal para viver e sua real situação. Nessa fase de reconhecimento do problema, há a incidência de estímulos internos e externos que motivam o consumidor a abandonar o status quo e partir em busca de algo que o faça retornar à sua posição de conforto. Após ter o problema reconhecido, o consumidor busca informação para resolvê‑lo (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2008). Os compradores buscarão informações sobre as marcas que já conhecem ou de marcas lembradas ou não, no momento da decisão. A busca por informações pode ser interna ou externa, de acordo com Carvalho (2013). As internas são as experiências já vividas e a memória de cada um. As externas são as publicidades, os mercados e os grupos sociais. Quando já estão munidos de informações suficientes para embasar sua decisão de compra, os consumidores passam para a fase de avaliação das alternativas. Nas fases anteriores, os consumidores perceberam a necessidade de consumo, buscaram informações e avaliaram as alternativas disponíveis, escolhendo a opção que melhor atenda seu desejo e, na fase de decisão de compra, irá, segundo Blackwell, Miniard e Engel (2008), escolher um ponto de venda, um vendedor, a quantidade, a forma de pagamento e a entrega do produto. Compra feita, é hora de consumir o produto ou serviço adquirido. Somente após o consumo é que o indivíduo irá avaliar a qualidade do que foi consumido e se suas expectativas foram ou não atendidas. A informação sobre produtos, obtida na segunda fase do processo, irá interferir em todo o comportamento de compra de um cliente. Para Blackwell, Miniard e Engel (2008), entre a fase de compra e pós‑compra, existe um estágio de consumo que consiste na utilização do produto adquirido. Esse consumo pode ser feito de forma imediata ou posterior, mas, nesse momento, o produto deverá surpreender o cliente para que ele seja um consumidor satisfeito. Esses mesmos autores afirmam que, depois da fase de pós‑consumo, existe o estágio de descarte, que, como o próprio nome diz, é a eliminação de partes do produto que não foram utilizadas. Reconhecimento da necessidade1 Busca por informações2 Análise das alternativas3 Decisão de compra4 Consumo5 Avaliação pós‑consumo6 Descarte7 Figura 34 – Etapas do comportamento do consumidor 65 MARKETING, CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO Durante todo o processo de compra, o consumidor está sujeito a diferentes influências, como família, amigos, condição social, grupo social, experiências já vividas e hábitos culturais. 4.6.1 Influências no processo de compra Solomon (2002) compreende que o indivíduo, como consumidor, sofre influências psicológicas, pessoais, sociais e culturais durante todas as fases do processo de decisão de compra (pré, durante e pós‑compra). Kotler (2000), corroborando com essas definições, reestruturou os conceitos definidos por esses autores ao inserir como influências no processo de compra os fatores internos e externos, que geram impactos sobre as decisões de compra. A perspectiva psicológica, o meio em que se vive (pessoal e profissional), a situação financeira, aspectos neurológicos, aspectos históricos/experiências, as influências do marketing e informações da empresa, aspectos econômicos, influências comunicacionais e postura da empresa perante o mercado são algumas das influências às quais o consumidor está sujeito durante o processo de compra (CARVALHO, 2013). Toda decisão de consumo conta com a influência de fatores sociais que, segundo Kotler e Keller (2006), representam grupos de referência como família, status, reputação, papel, posição e grupos sociais em que o consumidor está inserido. Os grupos aos quais o comprador pertence são responsáveis por definir um estilo de vida, por gerarem aceitação ou repúdio aos hábitos de consumo de uma pessoa. Com base em Blackwell, Miniard e Engel (2008), as influências sociais se dão pela cultura em que vive o cliente, pela classe social e pela situação social e econômica em que se encontra o consumidor. Para esses autores, tais fatores contribuem para que a pessoa obtenhae utilize produtos e serviços visando, além dos benefícios reais do produto, uma integração social, ou seja, são fatores que estabelecem os padrões de consumo de determinados grupos sociais. Fatos culturais Fatos sociais Fatos pessoais Fatores psicológicos Cultura Subcultura Classes sociais Grupos de referência Família Posição social Idade Ocupação Condições econônicas Estilo de vida/ personalidade Motivação Percepção Experiências Consumidor Figura 35 – Influências no comportamento do consumidor Compras também são influenciadas por características pessoais que, de acordo com Kotler e Keller (2006), podem ser a idade, a condição financeira, o estilo de vida, a personalidade, os valores de criação, a maturidade, as experiências de vida e os consumos anteriores. Blackwell, Miniard e Engel (2008) complementam essa definição com a motivação para compra, o conhecimento do produto e as atitudes sobre uma determinada marca ou produto. Esses autores definem tais pontos como influências pessoais, por considerarem que são variáveis diretamente ligadas ao consumidor e que só podem ser alteradas conforme interesse e empenho da pessoa, indiferentemente da relação que esta estabelece em seus 66 Unidade II grupos de relacionamento. As influências pessoais, segundo Solomon (2002), processam‑se de forma integrada, ou seja, a associação de informações do produto às experiências já vividas. Essas variáveis pessoais incidem diretamente sobre o processo de motivação do consumidor, e é essa motivação que irá gerar as compras baseadas nas necessidades reais, no impulso e no desejo (quanto mais motivado, menor é a análise de riscos por parte do consumidor). Crenças próprias de um consumidor definem um comportamento padrão e aceitável para a pessoa (individualmente), enquanto crenças e normas partilhadas por grupos de referência dos quais o indivíduo faz parte definem uma forma de comportamento aceitável para um grupo, o que resulta em interferência social na decisão de compra. Cultura, subcultura e classe social são fatores particularmente importantes no comportamento de compra. Segundo Kotler e Keller (2006), essa cultura vem com a pessoa desde o seu nascimento e, à medida que os anos vão passando, novos valores, percepções e preferências vão sendo agregados a sua personalidade. A influência externa é adquirida na família, na escola, com os amigos. Alguns fatores que também influem nesse comportamento estão ligados à cidade natal, aos pais e ao estilo de vida que pretendem seguir. Além desses, religião, raça, orientação sexual e visão de futuro incidem sobre os hábitos de compra. Ao entender essas influencias, o profissional de marketing conseguirá gerenciar melhor sua marca, voltando suas ações para a prática do branding, ou gestão estratégica de marcas. 4.7 Branding Quando um consumidor tem a intenção de consumir um produto ou serviço, além dos atributos atrelados ao item que pretende comprar, existe outro fator simbólico que agrega valor e pode ser o motivo decisor da compra: a sua marca. As marcas identificam a origem do produto, a referência no mercado, nível de qualidade, percepção de valor junto ao consumidor. As marcas se tornam referência ao cliente, pois através da experiência que já viveram com elas, os consumidores podem fazer avaliações de produtos idênticos de forma diferente, considerando a força da marca de um ou outro item. Marcas fortes, que satisfaçam a necessidade do consumidor, tendem a fidelizá‑los. E não podemos esquecer que clientes fidelizados se tornam mais resistentes às investidas da concorrência (AAKER; JOACHIMSTHALER, 2000). Mas quais são os elementos que compõem uma marca? A marca é o resultado de um trabalho integrado de missão, visão, valores, práticas de mercado, comunicação e também nome, desenho, slogan. Muito mais que ter esses elementos, é importante que o cliente os perceba em sua marca e passe a associar os atributos do produto à marca que você pretende construir (AAKER; JOACHIMSTHALER, 2000). No Brasil, existe uma pesquisa conhecida como Top of Mind, que investiga quais são as marcas mais lembradas pelos consumidores e aquelas que assumiram o nome de um segmento. Por exemplo, desde 1991 o sabão para lavar roupas OMO é a marca mais lembrada pelos brasileiros, e seu índice de aprovação e recompra vai acima dos 90%. Outro exemplo ocorre quando uma marca assume o segmento em que está, como, por exemplo, a Maizena, que é a nomenclatura popular do segmento de amido de milho. Muitas pessoas com certeza ficarão em dúvidas se forem questionados sobre a compra de bastonetes de algodão, mas saberão sobre esse segmento quando falarmos Cotonete. Veja o Top of Mind de 2018, realizado pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abrep): 67 MARKETING, CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO Quadro 5 – Top of Mind de marcas 2018 Marca que representa o Brasil Petrobras Top do top Omo, Coca‑Cola, Nike e Samsung Top feminino Risqué Top inovação Samsung Top masculino Pirelli Top meio ambiente Ypê e Natura Top performance Mercado Livre Creme dental Colgate Hidratante Monange Antisséptico bucal Colgate Antigripal Benegripe Esmalte de unha Risque Remédio para dor de cabeça Dorflex Camisinha Jontex Medicamento genérico Medley Absorvente feminino Sempre Livre Fio dental Colgate Iogurte grego Vigor e Danone Leite Ninho Margarina Qualy Aveia Quaker Requeijão Nestlé e Vigor Molho de tomate Elefante Pratos congelados Sadia Cereal matinal Kellogg’s, Nescau, Sucrilhos e Nestlé Adoçante Zero Cal Energético Red Bull Poupança Caixa Banco Banco do Brasil Aplicativo de banco Itaú e Bradesco Site de compras Mercado Livre Cartão de crédito Visa Seguro Bradesco e Porto Seguro Plano de saúde Unimed Supermercado Carrefour e Extra Geladeira Consul Aparelho de TV Samsung Ferro de passar Black + Decker Chuveiro Lorenzetti 68 Unidade II Máquina de lavar Brastemp Tinta de parede Suvinil Limpador multiuso Veja Detergente Ypê Louça sanitária Deca TV por assinatura Sky Agência de viagem CVC Aplicativo de transporte Uber Companhia aérea Gol Carro Fiat e Volkswagen Pneu Pirelli Moto Honda Óleo lubrificante Lubrax Caminhão Mercedes‑Benz Combustível Petrobras Operadora de celular Vivo Operadora de banda larga Vivo Serviço de entrega Correios Smartphones e tablets Samsung Fonte: Abrep (2018). E criar uma marca forte não é uma tarefa simples e imediata. A construção de uma marca referência requer um planejamento estratégico bem detalhado, com análise do segmento, dos ambientes de marketing e do público‑alvo, e autoconhecimento da empresa. Para a construção da marca, Kotler e Keller (2006, p. 268) dizem que existe “um excelente produto, sustentado pelo marketing e pela criatividade, que trará resultados de médio a longo prazo”. Para a construção e gerenciamento de marcas é que existe o brand, um modelo de gestão de marcas nas organizações. Branding é associar produtos e serviços a uma marca e transmitir esta credibilidade ao consumidor. Para isso, será necessário que o consumidor aprenda quem é o produto, memorizando seus pontos positivos e internalizando qual é a marca fornecedora. Para que a marca seja memorizada, a empresa pode trabalhar diferentes estratégias, tais como: focar na experiência e maximização dos resultados ao consumidor, inovar e acompanhar tendências, otimizar relação custo benefício e aproximar‑se do seu público‑alvo em eventos e através de diálogo e interação (TAVARES, 2008). Para se tornar uma marca Top of Mind, é necessário compreender as motivações e os desejos do consumidor, e criar imagens cognitivas que chamem atenção para seu produto. A força de uma marca pode ser mensurada em quatro categorias: diferenciação, relevância, estima e conhecimento. • Diferenciação: como a marca é percebida em relação à concorrência. • Relevância: o apelo da marca junto ao público‑alvo. 69 MARKETING, CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO • Estima: o quanto a marca é conceituada, referenciadae respeitada pelos consumidores. • Conhecimento: mensura a integração, familiaridade e relacionamento dos consumidores com a marca. Reputação da marca Estima Conhecimento Força da marca Diferenciação Relevância Figura 36 – Diferença entre força e reputação da marca A correta estratégia de construção da marca envolve três etapas: a escolha inicial dos elementos (nome, logo, símbolos, slogan), o produto ou serviço que será associado à marca e, por fim, a associação indireta de outros fatores, tais como famosos garotos propaganda, patrocínio a eventos e participação em atividades culturais (OLIARI; ZAMBOM, 2014). Os elementos que compõem a marca devem ser facilmente identificados pelo consumidor, memoráveis e associados ao segmento de atuação da empresa. O nome da marca nem sempre é o fator de maior lembrança, por isso, um bom trabalho de branding deve ser integrado, unindo nome, slogan e símbolo. Dessa forma, a marca acaba ficando conhecida por sua identidade. Veja no exemplo a seguir, em que vemos uma garrafa de refrigerante de cola. Basta o layout para associarmos à marca Coca‑Cola. Nome: Coca‑Cola Slogan: Abra a felicidade Identidade: Figura 37 – Garrafa Coca‑Cola 70 Unidade II Explicação: a marca sempre significou um simples prazer. A grandeza da Coca‑Cola reside em sua humildade, em sua simplicidade: A Coca‑Cola, desde os anos 60 nos diz que ela traz felicidade. De papais‑noéis sorridentes a músicas alegres. De famílias de ursos se ajudando a adolescentes se divertindo juntos. De ações virais mostrando pessoas felizes a máquinas de abraços. E claro, o reforço do slogan “abra a felicidade”. Fomos condicionados por anos de publicidade e exposição à marca Coca‑Cola que ela traz felicidade ao ser consumida. O resultado disso? Um condicionamento que, em pequena medida, nos faz mais felizes quando somos expostos à marca Coca‑Cola em comparação a outros refrigerantes. Não significa que ela consiga nos tirar de uma situação de tristeza, mas ela, em pequena escala, assim como a foto de um bebê, pode levar as pessoas a se sentirem levemente mais felizes do que antes da exposição ou do consumo do refrigerante (AAKER; JOACHIMSTHALER, 2000, p. 56). Após o fortalecimento de uma marca, podemos classificá‑la em imagótipo e isólogo. Imagótipo é quando o símbolo e logotipo – nome – podem ser usados separados, que não comprometem o entendimento do público‑alvo. Já o isólogo mostra que símbolo e logotipo devem ser usados sempre juntos, para que possam gerar entendimento no consumidor. Figura 38 – Imagótipo Figura 39 – Isólogo Veja este case de branding elaborado pela Luna Pontes em 2018, que fala sobre a marca Red Bull: 71 MARKETING, CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO 3 casos de sucesso de marcas que foram muito além do produto Criada há 26 anos, é a marca de energéticos mais amada do mundo. Por que? Porque seu produto é muito mais gostoso e eficaz do que a concorrência? Certamente não. O energético da Red Bull é parecido com todos os outros. A Red Bull se aliou a sensações pulsantes e apaixonadas de aventura. Sua relação de longo prazo com os esportes radicais já está muito consolidada e se faz presente em toda a comunicação da marca na TV, redes sociais e também como patrocinadora de eventos esportivos. Essa relação com os esportes fortalece e ilustra o conceito central da marca (“Red Bull te dá asas”), vendendo um estilo de vida enérgico e ativo em que tudo é possível. Palavras como aventura, altura, velocidade e esporte nos fazem lembrar da Red Bull. São anos e anos com o mesmo discurso, e isso já está bem claro na mente do consumidor. Para se ter ideia desse sucesso, a página da empresa no Facebook já conta com mais de 46 milhões de fãs e quase não há foto ou menção do produto. Hoje a Red Bull é produtora de conteúdo. Seja produzindo discos de novas bandas, promovendo eventos ou documentários, a marca está sempre presente de forma muito pertinente e atraente. As vendas do produto são apenas uma consequência de toda essa presença (PONTES, 2016). Fonte: Pontes (2016). Figura 40 – Patrocínio esportivo Red Bull Percebe como o branding é apenas a criação de uma logomarca? Ele vai muito além, envolvendo os símbolos, as frases, o posicionamento e, principalmente, a atitude das empresas. As marcas são ativos intangíveis de alto valor para os clientes e para as organizações e, por isso, devem ser planejadas e cuidadosamente acompanhadas. É necessário que a empresa alinhe suas práticas a sua marca, inove, chame a atenção, gerencie os aspectos negativos junto aos seus clientes, porque somente dessa forma é que o brand conseguirá entregar uma marca fortalecida no mercado, que aproxime os consumidores, construindo o que chamamos de brand equity, ou seja, refere‑se ao valor agregado a algum produto ou serviço devido à força de uma marca, ou brand (TAVARES, 2008). 72 Unidade II Resumo Todas as decisões de marketing devem ser muito bem embasadas em informações a respeito do segmento de atuação, do cenário econômico e do comportamento de consumo dos consumidores. Qualquer decisão tomada sem o auxílio de um banco de dados sobre o mercado pode significar uma opção errônea, com desperdício de recursos e poucos resultados. Para segmentar mercado, lançar produtos, entender o comportamento de consumo e criar ações de comunicação é necessário que a empresa entenda o que o seu público‑alvo busca. Para conseguir gerir toda a informação disponível para a organização, existe o sistema de informação em marketing, SIM, que é alimentado de dados através de diferentes técnicas de coletas, como benchmark, análise SWOT, questionários e outros. Todas essas coletas devem estar alinhadas aos objetivos da organização. Com informações da pesquisa de marketing em mãos, uma das ações mais fundamentais para as organizações é a segmentação de mercado, em que a organização agrupa os seus consumidores em grupos distintos, nos quais seus membros apresentem gostos, hábitos e costumes de consumo, bem como preferências de mercado, de forma semelhante. Segmentar não é juntar pessoas em um grupo por conveniência. Segmentar é agrupar pessoas com gostos e hábitos semelhantes em um mesmo grupo que possa ter seus desejos atendidos pela empresa. Para que os resultados da segmentação sejam mais efetivos, é possível separar seus consumidores de forma geográfica, demográfica, psicográfica, comportamental ou se utilizar de múltiplas técnicas. É necessário entender não apenas em qual segmento o público‑alvo se encaixa mas também como ele se comporta durante o processo de consumo. O comportamento do consumidor é um estudo que mostra como as pessoas se portam diante dos sete estágios de consumo, que vão desde a percepção da necessidade até o descarte das sobras do que foi consumido. Só entendendo esse comportamento é que as organizações conseguem gerar valor agregado aos seus produtos e serviços, de acordo com o que valorizam os seus clientes. A atual geração só pode acontecer se os ambientes de marketing forem bem geridos e administrados de forma a não impactarem negativamente as atividades desenvolvidas pelas empresas em cada um desses espaços. Com o valor agregado e reconhecimento dos segmentos‑alvo, a empresa terá 73 MARKETING, CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO mais facilidade para gerenciar sua marca, criando um conceito forte junto ao seu público. Perceba que as ações de marketing devem estar sempre alinhadas ao seu mercado consumidor, entendendo os seus gostos e preferências e se esforçando para atender esses desejos da melhor forma possível, gerando percepção de valor e satisfação. Não existe fórmula mágica para o sucesso das ações de marketing. Mas informações e decisões estratégicas podem ser aliadas para minimizar impactos, otimizar resultados e aproximar as organizações de seus mercados consumidores. Exercícios Questão 1. “A análise SWOT, cuja sigla significa strengths (forças), weaknesses (fraquezas), opportunities (oportunidades)e threats (ameaças), é uma ferramenta muito utilizada por empresas na busca por orientações estratégicas. Seus pontos fortes e fracos são determinados por elementos internos, enquanto as oportunidades e riscos são ditados por forças externas, o que permite sistematizar todas as informações possíveis e, após uma análise cuidadosa, tomar uma decisão balanceada. No meio científico, essa ferramenta pode ser uma alternativa eficaz para analisar se um método de medida adotado é adequado para a aplicação em questão.” Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ce/v56n340/v56n340a02.pdf. Acesso em: 17 out. 2019 Em um país com atividade econômica insuficiente, como é o caso do Brasil após a crise 2015‑2016, há um problema em potencial em relação à venda de bens e serviços. Uma das possibilidades de crescimento econômico mais robusto vem da atuação do Estado como agente indutor do investimento, como motor de arranque para que o motor principal da economia, a iniciativa privada, volte a funcionar normalmente. Analisando o caso brasileiro e a análise SWOT, avalie onde estariam encaixadas a crise econômica e a ação do Estado na tentativa de fazer a economia voltar a “funcionar”. I – Em pontos fracos e oportunidades, respectivamente. Uma empresa que sente os efeitos da crise de forma muito relevante não estava preparada para um evento dessa magnitude, enquanto a ação do Estado pode representar uma oportunidade de voltar a crescer. II – Em pontos fortes e ameaças, respectivamente. A sobrevivência à crise mostra que a empresa, a despeito do choque que possa ter recebido, suportou a crise, e a ameaça vem da ação do Estado na economia, uma vez que ele pode praticar ingerência no setor. 74 Unidade II III – Em pontos fortes e pontos fracos, respectivamente. A sobrevivência da empresa diante da crise representa a força e resiliência que ela teve diante da adversidade do macroambiente, e ponto fraco por evidenciar que a empresa precisa da ação do Estado para voltar a crescer. IV – Em ameaças e oportunidades, respectivamente. A existência de uma crise econômica tem o potencial de diminuir as receitas da empresa, ao passo que uma ação do Estado no intento de promover um novo ciclo de crescimento pode representar uma oportunidade para que a empresa volte a crescer. Está(ão) correta(s) apenas: A) A afirmativa I. B) A afirmativa II. C) A afirmativa III. D) A afirmativa IV. E) As afirmativas I e IV. Resposta correta: afirmativa D. Análise das afirmativas I – Afirmativa incorreta. Justificativa: os pontos fracos estão ligados a situações internas das empresas, não sendo correto atribuir um evento macroeconômico a eles. II – Afirmativa incorreta. Justificativa: os pontos fortes dizem respeito a eventos que estão ligados ao processo interno da empresa. É incorreto atribuí‑los a movimentos macroeconômicos. III – Afirmativa incorreta. Justificativa: o enunciado fala de elementos externos, portanto, não está correto atribuí‑los na análise SWOT como processos do ambiento interno. IV – Afirmativa correta. Justificativa: os elementos externos de impacto na análise SWOT devem ser colocados em oportunidades e ameaças, tal como são as crises econômicas e a ação do Estado para tentar criar um círculo virtuoso na economia. 75 MARKETING, CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO Questão 2. As estratégias de preços e segmentação do mercado consistem em práticas que permitam a captação do excedente do consumidor. Ainda que a empresa seja altamente lucrativa, seus administradores sempre se perguntarão se é possível torná‑la ainda mais lucrativa. Portanto, a segmentação de mercado é muito importante, entre tantas outras razões, para a prática de preços diferenciados para cada perfil de consumidor, a chamada discriminação de preços. A prática, que consiste em captar, com o mesmo produto, segmentos diferentes de consumidores, versa sobre a precificação diversificada para cada nicho de mercado que se deseja atingir. Uma das formas de realizar tal prática consiste em separar os consumidores em dois ou mais grupos a fim de estabelecer curvas de demanda com inclinações diferentes, ou seja, cada grupo estaria disposto a pagar mais ou menos pelo produto, e consumiria menor ou maior quantidade dele. Dentro do grupo de possibilidades da discriminação de preço, a descrita anteriormente trata‑se da: A) Discriminação de preço de primeiro grau. B) Discriminação de preço de segundo grau. C) Discriminação de preço de terceiro grau. D) Discriminação de preço combinada de primeiro e terceiro grau. E) Discriminação de preço combinada de segundo e terceiro grau. Resposta correta: alternativa C. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: a discriminação de preço de primeiro grau consiste na avaliação de cada consumidor em particular e, a partir disso, a cobrança de preços diferentes para cada um deles. B) Alternativa incorreta. Justificativa: a discriminação de preço de segundo grau consiste na cobrança de preços diferentes para quantidades diferentes adquiridas pelo consumidor como, por exemplo, embalagens econômicas e packs virtuais como pague 2 leve 3. C) Alternativa correta. Justificativa: a discriminação de preço de terceiro grau consiste na cobrança de preços exclusivos de cada consumidor, baseada no quanto ele estaria disposto a pagar pelo produto ou serviço. 76 Unidade II D) Alternativa incorreta. Justificativa: não existem combinações da prática de discriminação de preços de primeiro, segundo e terceiro graus. E) Alternativa incorreta. Justificativa: não existem combinações da prática de discriminação de preços de primeiro, segundo e terceiro graus.
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