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AO JUÍZO DE DIREITO DA VARA DE FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE NITERÓI DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO FLÁVIO GAMA, brasileiro, casado, profissão…, portador da carteira de identidade nº …, expedida pelo …, inscrito no sob CPF sob o nº…, residente e domiciliado na Rua Santa Paula, nº 10, apto. 902, Icaraí-Niterói/RJ, com CEP.: …, endereço eletrônico …, por seu advogado infra-assinado, endereço profissional …, com CEP.: …, endereço eletrônico …, vem, mui respeitosamente , à presença de Vossa Excelência , com fundamento no artigo 5º, inciso LXXII, da Constituição Federal de 1988 e na Lei nº 9.507/97, impetrar o presente HABEAS DATA em face de ato do COMANDANTE GERAL DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, pelos fatos e fundamentos de direito a seguir expostos: I - DO CABIMENTO E COMPETÊNCIA O presente remédio constitucional possui base jurídica no art. 5º, inciso LXXII, da Constituição Federal de 1988 e na Lei nº 9.507/97, sendo cabível nos seguintes casos: “a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;” Ademais, conforme a Súmula 2 do STJ “não cabe o habeas data (cf, art. 5., LXXII, letra "a") se não houve recusa de informações por parte da autoridade administrativa”. Neste ponto, destaca-se a argumentação de recusa do conteúdo fático-probatório. No caso em tela, a competência para julgar esta ação constitucional impetrada em face de ato do Comandante Geral da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro é do Juízo Singular de uma das Varas da Fazenda pública, visto que se enquadra perfeitamente nos dispositivos legais a seguir: 1- Art. 52, § único, do CPC - Se Estado ou o Distrito Federal for o demandado, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou na capital do respectivo ente federado; 2- Art. 44, inciso III, da Lei nº 6.956/2015 (LODJ) – Compete aos juízes de direito em matéria de interesse da Fazenda Pública processar e julgar: habeas data, quando o órgão ou entidade depositária da informação estadual ou municipal, excetuadas as hipóteses de competência originária do Tribunal de Justiça; e 3- Por interpretação extensiva: Art. 2º, §1º, inciso I da Lei nº 12.153/2009 - Não se incluem na competência do Juizado Especial da Fazenda Pública: as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e demarcação, populares, por improbidade administrativa, execuções fiscais e as demandas sobre direitos ou interesses difusos e coletivos. Deste modo, faz-se importante colacionar a jurisprudência pacífica do e. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, conforme segue: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. HABEAS DATA. INCOMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS FAZENDÁRIOS PARA APRECIAR A MENCIONADA AÇÃO CONSTITUCIONAL. APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ARTIGO 2º, §1º, I, DA LEI Nº 12.153/09. PROCEDÊNCIA DO CONFLITO. Conflito Negativo de Competência suscitado em razão de controvérsia acerca da competência para apreciação de habeas data cujo interesse não supera o valor equivalente a 60 (sessenta) salários mínimos. Embora não haja previsão expressa em relação ao habeas data, deve-se entendê-lo abrangido pelo artigo 2º, §1º, I, da Lei nº 12.153/09, que exclui dos juizados especiais fazendários a competência para apreciar mandado de segurança, pois o habeas data, assim como o writ of mandamus, é procedimento constitucional regulado por legislação específica, que tem por finalidade a obtenção de um provimento final mandamental. Frise-se que o artigo 20, da Lei nº 9.507/1997, que regula o direito de acesso a informações e disciplina o rito processual do habeas data, igualmente, não prevê a competência ou julgamento pelo Juizado Especial Fazendário ou recurso para as turmas recursais. Interpretação analógica. Competência do Juízo suscitado. PROVIMENTO DO CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. (0057898-39.2018.8.19.0000 - CONFLITO DE COMPETÊNCIA. Des(a). ALCIDES DA FONSECA NETO - Julgamento: 28/11/2018 - VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL) II - DA LEGITIMIDADE A legitimidade ativa para impetração do Habeas Data está prevista no artigo 5º, inciso LXXII, alínea a, da Constituição Federal de 1988 e no artigo 7º, inciso I, da Lei nº 9.507/97. Uma vez que este remédio constitucional objetiva a proteção do direito fundamental do impetrante e não pode ser empregado para o conhecimento de dados de terceiros. A ocorrência da negativa de acesso a informações a seu respeito, constantes do banco de dados de caráter público, configura violação a direito fundamental do impetrante. Nota-se que o impetrante possui legitimidade ativa para promover o presente remédio constitucional, pois lhe foi negada informação de caráter personalíssimo, presente no banco de dados do Comando Geral da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Ademais, a legitimidade passiva caracteriza-se pela autoridade responsável por rejeitar a solicitação da qual trata este instrumento constitucional. Pelo exposto, o presente Habeas Data preenche os requisitos necessários para sua impetração. III - DOS FATOS No dia 19 de junho de 2021, o impetrante realizou pedido ao Comandante Geral da Polícia Militar do Rio de Janeiro objetivando acesso a documentos médicos referentes a si próprio com o objetivo de construir sua defesa técnica para ingressar na via judiciária contra ato ilegal, sem que tivesse sido dada resposta ao pleito. Sete dias após o pedido, o impetrante entrou em contato com a Secretaria do Comando Geral da PMERJ, sendo informado que a solicitação não havia sido despachada e tampouco havia previsão de resposta, situação que se manteve até o decurso do prazo de 10 dias sem decisão. IV - DOS FUNDAMENTOS Inicialmente, cumpre esclarecer o direito do impetrante de se utilizar deste remédio constitucional a fim de sanar o ato praticado pelo Ministro de Estado. Conforme orienta o artigo 5º, inciso LXXII da CF/88 c/c artigo 7º , inciso I da Lei nº 9.507/97: “conceder-se-á habeas data para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes do registro ou banco de dados de entidades governamentais ou de caráter público.” De acordo com os fatos narrados, o impetrante não obteve o direito a informação à registros governamentais referente a si próprio, no prazo legal do artigo 8º, §único, inciso I da Lei nº 9.507/97: “Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova: I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem decisão”. É indubitável que o ato do Comandante Geral da PMERJ que rejeita, após o decurso do prazo legal, fornecer informações pertinentes ao impetrante, até mesmo com o esgotamento da via administrativa, revela-se contrário ao texto constitucional e ilegal, tendo em vista que o ordenamento jurídico pátrio garante o direito à informação, nos termos do artigo 5º, inciso XXXIII, da CF/88: XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado; Ademais, resta comprovado o interesse de agir, cumprindo o impetrante com o requisito do artigo 8º, da Lei nº 9.507/97, conforme documentos em anexo, que demonstra de forma expressa o indeferimento temporal, por parte do impetrado, atendendo a legislação e a jurisprudência dos Tribunais Superiores, ante a existência de documentação comprobatória da recusa da autoridade impetrada em fornecer as informações, ora requeridas.Em outro ponto, cumpre destacar o entendimento do e. Superior Tribunal de Justiça, onde disciplina que muito embora os consórcios não sejam dotados de personalidade jurídica (art.278, §1º da Lei Federal n.º 6.404/1976), gozam, todavia, de personalidade judiciária. Personalidade judiciária confere ao órgão a capacidade de estar em juízo apenas para defender seus interesses institucionais, e não de litigar. Ora, vejamos: Desta forma, cumpre destacar os entendimentos do e. Superior Tribunal de Justiça a respeito do tema, descrevendo que o impetrante deverá apresentar documentos suficientes a demonstrar a recusa da autoridade coatora em fornecer as informações pleiteadas ou sua inércia em fazê-lo. Ora, vejamos: AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM HABEAS DATA. PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE DOCUMENTOS SUFICIENTES A DEMONSTRAR A RECUSA DA AUTORIDADE COATORA EM FORNECER AS INFORMAÇÕES PLEITEADAS. RECURSO DO PARTICULAR IMPROVIDO. 1. O habeas data é um remédio constitucional que visa a assegurar ao impetrante o direito de conhecer, de complementar e de exigir a retificação de informações que lhe digam respeito constantes de registros ou de bancos de dados mantidos por entidades governamentais ou por instituições de caráter público, nos termos do que dispõe o art. 5o., inciso LXXII da Constituição Federal, e o art. 7o., incisos I, II e III da Lei 9.507/1997. 2. Na hipótese, a inicial não foi acompanhada de documentos suficientes a demonstrar a recusa da autoridade coatora em fornecer as informações pleiteadas ou sua inércia em fazê-lo, não estando preenchidos os requisitos necessários ao recebimento da peça inicial. 3. Agravo Interno do Particular a que se nega provimento. (AgInt nos EDcl no HD 414/DF, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 15/12/2020, DJe 18/12/2020) * * * Habeas data (cabimento). Direito da impetrante à obtenção de todas as informações relativas à sua pessoa (garantia ampla). Prestação de informações incompletas ou insuficientes (caso). Negativa de acesso (recusa configurada). Impetração (justo motivo). 1. O fornecimento pela administração de informações incompletas ou insuficientes como no caso equivale à recusa e justifica a impetração do habeas data. 2. Habeas data concedido. (HD 149/DF, Rel. Ministro NILSON NAVES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 10/06/2009, DJe 26/08/2009) Nesse sentido, o e. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro proferiu a seguinte decisão: Habeas data. Pleito de informações acerca de dados médicos do próprio impetrante. Sentença de concessão da ordem pretendida. Apelação. O Habeas Data é remédio constitucional posto à disposição de pessoa física ou jurídica para assegurar o conhecimento de informações a si relativas, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público, e, mesmo, para eventual retificação (art. 5º, inciso LXXII da Constituição Federal). A r. sentença apelada, lavrada segundo o disposto nos artigos 7º, inciso I e 8.º, parágrafo único, inciso I, da Lei n.º 9.507/99, desmerece reparos, por isso que a pretensão deduzida é a de conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante - à míngua de resposta ao requerimento administrativo protocolado aos 19/06/2018 -- , em ordem a respaldar a via eleita. Precedentes do E. STJ. Recurso não provido. (0160399-68.2018.8.19.0001 - APELAÇÃO. Des(a). MAURÍCIO CALDAS LOPES - Julgamento: 24/02/2021 - DÉCIMA OITAVA CÂMARA CÍVEL) Portanto, verifica-se o direito do impetrante na obtenção das informações almejadas, diante a invalidade do ato administrativo que não forneceu o acesso às informações referentes ao impetrante, violando direitos constitucionais e legais. V - DOS PEDIDOS Diante o exposto, requer: a) A notificação da autoridade coatora sobre os fatos e fundamentos narrados a fim de prestar as informações que entender necessárias, nos termos do artigo 9º, da Lei nº 9.507/97; b) Seja determinada a intimação do representante do Ministério Público , na forma do artigo 12, da Lei nº 9.507/97; c) A procedência do pedido de acesso à ficha de documentos médicos referentes ao impetrante, determinando ao impetrado o fornecimento das informações ora pleiteadas. VI - DAS PROVAS Requer a análise das provas anexadas à presente ação. VII - DO VALOR DA CAUSA Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais). Nestes termos, Pede deferimento. Local e Data Nome do Advogado OAB/UF nº …
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