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Profº Felipe Amaro Prática Simulada V PRÁTICA FORENSE CIVIL Profº Felipe Amaro HABEAS DATA 1. Fundamentação Jurídica CRFB Art. 5º LXXII - conceder-se-á "habeas-data": a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo; Lei 9507/97 Art. 7º Conceder-se-á habeas data: I - para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registro ou banco de dados de entidades governamentais ou de caráter público; II - para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo; III - para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou explicação sobre dado verdadeiro mas justificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável. 2. Histórico no Direito Comparado e Brasileiro A criação do habeas data pelo constituinte de 1988 tem estreita relação com os “anos de chumbo” vivenciados pelos brasileiros na época da ditadura militar. Como é fato notório, autoridades faziam uso da prática repugnável de colher informações sobre a vida das pessoas que se insurgiam contra o regime, numa completa violação ao direito fundamental à intimidade. A influência do direito comparado sobre a criação do instituto é normalmente associada ao Freedom of Information Act americano de 1974, ainda que a ação também tenha previsão na Constituição de Portugal de 1976 e na Constituição da Espanha de 1978. 3. Noções conceituais e natureza jurídica. É uma ação constitucional e também de natureza cível, de procedimento especial (art. 19, Lei 9507/97), dirigida ao conhecimento ou retificação, como também, anotação, contestação ou explicação de dados pessoais constantes de bancos de dados ou, assentamentos de entidades governamentais ou de caráter público. Profº Felipe Amaro Prática Simulada V É gratuita para todas as pessoas, na forma do art. 5º, LXXVII, da CRFB/88 e ainda recebe tratamento infraconstitucional pela Lei nº 9.507/97. O habeas data não tem por finalidade permitir acesso a informações públicas – papel do mandado de segurança – mas sim, a dados pessoais (nome, filiação, saúde, escolaridade, trabalho etc.), sobre a pessoa do Impetrante, desde que não estejam protegidas pelo sigilo, em respeito ao disposto na parte final do art. 5º, XXXIII, da CRFB/88. Segundo José Afonso da Silva, o habeas data: É um remédio constitucional que tem por objeto proteger a esfera íntima dos indivíduos contra: usos abusivos de registros de dados pessoais coletados por meios fraudulentos, desleais ou ilícitos; introdução nesses registros de dados sensíveis (assim chamados os de origem racial, opinião política, filosófica ou religiosa, filiação partidária e sindical, orientação sexual, etc.); conservação de dados falsos ou com fins diversos dos autorizados em lei. 4. Base Legal: art. 5º, LXXII e Lei 9507/97 5. Finalidade – Dados Pessoais? Conhecer ou Retificar ou Complementar Exemplos de dados pessoais: Nome; Características pessoais; Qualificação pessoal; Escolaridade; Trabalho; Saúde; Dados genéticos etc. 6. Legitimidade Ativa. Herdeiros. Remédio Personalíssimo 7. Polo Passivo. Autoridade Coatora. 8. Definição de “caráter público” Art. 1º: Parágrafo único. Considera-se de caráter público todo registro ou banco de dados contendo informações que sejam ou que possam ser transmitidas a terceiros ou que não sejam de uso privativo do órgão ou entidade produtora ou depositária das informações. (Lei 9507/97) 9. Requisito essencial Profº Felipe Amaro Prática Simulada V De acordo com a Súmula nº 2 do STJ: “Não cabe o habeas data se não houve recusa de informações por parte da autoridade administrativa.” Assim dispõe a Lei nº 9.507/97 no parágrafo único do art. 8º: A petição inicial deverá ser instruída com prova: I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem decisão; II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze dias, sem decisão; ou III - da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° ou do decurso de mais de quinze dias sem decisão”. “(...) O acesso ao habeas data pressupõe, dentre outras condições de admissibilidade, a existência do interesse de agir. Ausente o interesse legitimador da ação, torna-se inviável o exercício desse remédio constitucional. A prova do anterior indeferimento do pedido de informação de dados pessoais, ou da omissão em atendê-lo, constitui requisito indispensável para que se concretize o interesse de agir no habeas data. (...) (…) Sem que se configure situação prévia de pretensão resistida, há carência da ação constitucional do habeas data” (RHD 22, Rel. p/ o ac. Min. Celso de Mello, j. 19.9.91, DJ 1º.9.95). 10. JURISPRUDÊNCIA STJ Para obtenção de cópia de processo administrativo não é cabível o habeas data, pois no caso de a busca não ser por informações pessoais ou esclarecimentos sobre bancos de dados ou arquivos governamentais, será adequado impetrar mandado de segurança e não o habeas ata. O habeas data não alcança a pretensão de obter informações que estejam sob sigilo. Portanto, se a lei trata de um dado como sendo sigiloso, ou de uso exclusivo de determinada entidade que o detêm, tal dado não pode ser transferido a terceiros. O acesso a informações contidas em prontuário médico, como o exame psiquiátrico realizado por servidor nessa qualidade, pode ser assegurado via habeas data, não havendo que se falar em informações de uso interno e exclusivo do órgão que realizou o mesmo. No caso do acesso aos extratos de depósitos de FGTS é cabível o habeas data, pois a caixa econômica federal assume função estatal de gestora do mesmo, exercendo atividade do poder público, o que justifica o cabimento daquele remédio. STF Profº Felipe Amaro Prática Simulada V O “habeas data” é a garantia constitucional adequada para a obtenção, pelo próprio contribuinte, dos dados concernentes ao pagamento de tributos constantes de sistemas informatizados de apoio à arrecadação dos órgãos da administração fazendária dos entes estatais. Essa a conclusão do Plenário, que proveu recurso extraordinário em que discutida a possibilidade de o contribuinte, por meio do aludido remédio constitucional, acessar todas as anotações incluídas nos arquivos da Receita Federal, com relação a todos os tributos de qualquer natureza por ele declarados e controlados pelo Sistema Integrado de Cobrança - Sincor, ou qualquer outro, além da relação de pagamentos efetuados para a liquidação desses débitos, mediante vinculação automática ou manual, bem como a relação dos pagamentos sem liame com débitos existentes. No caso, o recorrente, ao intentar obter informações relativas às anotações constantes dos arquivos da Receita Federal, tivera o pedido negado, tendo em vista esses dados não se enquadrarem, supostamente, na hipótese de cadastro público. O Colegiado afirmou que o “habeas data” seria ação constitucional voltada a garantir o acesso de uma pessoa a informações sobre ela, constantes de arquivos ou bancos de dados de entidades governamentais ou públicas (CF, art. 5º, LXXII, a). Estaria à disposição dos cidadãos para que pudessem implementar direitos subjetivos obstaculizados, alcançáveis por meio do acesso à informação e à transmissão de dados. A sua regulamentação legal (Lei 9.507/1997) demonstraria ser de caráter público todo registro ou banco de dados contendo informações que fossem ou que pudessem ser transmitidas a terceiros, ou que não fossem de uso privativo do órgão ou entidade produtora ou depositária dessas informações. (STF, HD 673.707) 11. Hipóteses de não cabimento: - Acesso a dadospúblicos; - Acesso a dados sobre terceiros; - Acesso à certidão denegada; - Acesso a informações sobre os critérios utilizados na correção de provas de concurso/ acesso à prova/ revisão de prova; - Acesso à autoria do denunciante; 12. Tutela de Urgência? Se estiver claro no caso narrado, Art. 300, CPC. Estrutura: Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. 13. Gratuidade. Art. 5º, LXXVII. LXXVII - são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data, e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania. 14. Competência Profº Felipe Amaro Prática Simulada V Fixada de acordo com a autoridade coatora (com poder de decisão dentro da esfera administrativa): CRFB Art. 102, I, d Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: d) o habeas corpus , sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o habeas data contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal; Art. 105, I, b Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal; Art. 108, I, c Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: I - processar e julgar, originariamente: c) os mandados de segurança e os habeas data contra ato do próprio Tribunal ou de juiz federal; Art. 109, VIII Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais; Art. 125, §1°: G – P – S + Mesa de Assembleia Legislativa – TJ Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição. § 1º A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça. Em resumo: Art. 20. O julgamento do habeas data compete: I - originariamente: a) ao Supremo Tribunal Federal, contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal; b) ao Superior Tribunal de Justiça, contra atos de Ministro de Estado ou do próprio Tribunal; c) aos Tribunais Regionais Federais contra atos do próprio Tribunal ou de juiz federal; d) a juiz federal, contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais; Profº Felipe Amaro Prática Simulada V e) a tribunais estaduais, segundo o disposto na Constituição do Estado; f) a juiz estadual, nos demais casos; 15. Pedidos e demais remissões/iluminações 16. Caso Concreto (OAB 2010.3) Tício, brasileiro, casado, engenheiro, na década de setenta, participou de movimentos políticos que faziam oposição ao Governo então instituído. Por força de tais atividades, foi vigiado pelos agentes estatais e, em diversas ocasiões, preso para averiguações. Seus movimentos foram monitorados pelos órgãos de inteligência vinculados aos órgãos de Segurança do Estado, organizados por agentes federais. (...) Após longos anos, no ano de 2010, Tício requereu acesso à sua ficha de informações pessoais, tendo o seu pedido indeferido, em todas as instâncias administrativas. Esse foi o último ato praticado pelo Ministro de Estado da Defesa, que lastreou seu ato decisório, na necessidade de preservação do sigilo das atividades do Estado, uma vez que os arquivos públicos do período desejado estão indisponíveis para todos os cidadãos. Tício, inconformado, procura aconselhamentos com seu sobrinho Caio, advogado, que propõe apresentar ação judicial para acessar os dados do seu tio. Na qualidade de advogado contratado por Tício, redija a peça cabível ao tema, observando: a) competência do Juízo; b) legitimidade ativa e passiva; c) fundamentos de mérito constitucionais e legais vinculados; d) os requisitos formais da peça inaugural. 5 PASSOS: PASSO 1 – RESUMO DO CASO PASSO 2 – LEGITIMIDADE ATIVA PASSO 3 – LEGITIMIDADE PASSIVA PASSO 4 – ESCOLHA DA AÇÃO PASSO 5 – ÓRGÃO COMPETENTE Orientações gerais: - Trechos em letra de forma; - Tópicos em algarismos romanos; - Pedidos - DOS FATOS, OS FATOS, SÍNTESE DOS FATOS... - DOS FUNDAMENTOS, DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA, DO DIREITO... - Fundamentação jurídica completa. (Constituição, Lei, Jurisprudência, Súmulas) - Remissões (no CPC e na Lei) Profº Felipe Amaro Prática Simulada V EXMº. SR. MINISTRO PRESIDENTE DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (5 linhas) Tício, brasileiro, casado, engenheiro, portador do RG n°... e do CPF n°..., endereço eletrônico ..., residente e domiciliado..., nesta cidade, por seu advogado infra-assinado, conforme procuração anexa, com escritório ..., endereço que indica para os fins do art. 77, V, do CPC, com fundamento nos termos do art. 5º, LXXII da CRFB/88 e da Lei 9507/97 vem impetrar o presente HABEAS DATA em face do Ministro de Estado da Defesa, com sede funcional ..., aduzindo para tanto o que abaixo se segue. I - SÍNTESE DOS FATOS Na década de setenta o impetrante participou de movimentos políticos que faziam oposição ao Governo então instituído. Por força de tais atividades, foi vigiado pelos agentes estatais e, em diversas ocasiões, preso para averiguações. Além disso, seus movimentos foram monitorados pelos órgãos de inteligência vinculados aos órgãos de Segurança do Estado, organizados por agentes federais. Em 2010, Tício requereu acesso à sua ficha de informações pessoais, tendo o seu pedido indeferido em todas as instâncias administrativas. Esse foi o último ato praticado pelo Ministro de Estado da Defesa, que lastreou seu ato decisório na necessidade de preservação do sigilo das atividades do Estado, o que claramente viola a intimidade e vida privada do impetrante e fundamenta a propositura do presente Habeas Data. II - DA RECUSA ADMINISTRATIVA Conforme já narrado, o impetrante teve o seu pedido indeferido em todas as instâncias administrativas, conforme documentação anexa, comprovando o requisito essencial para a impetração da presente ação, de acordo com o art. 8º, parágrafo único, I, da Lei 9507/97 e da Súmula nº 2 do STJ. III - DOS FUNDAMENTOS O art. 5º, LXXII, da CRFB/88, dispõe que o Habeas Data é o remédio constitucional responsável pela defesa em juízo dos dados pessoais que se pretende conhecer ou retificar. A referida ação também encontra fundamento na Lei 9507/97, que ampliou as hipóteses de cabimento da ação, permitindo que o remédio também seja utilizado para a complementação de dados pessoais, de acordo com o art. 7º, III. Profº Felipe Amaro Prática Simulada V O direito à informação sobre dados pessoais é consagrado pelo texto constitucional no art. 5º, XXXIII como um direito fundamental. Além disso, conforme previsão no art. 5º, X, da CRFB/88, são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado, inclusive, o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. A competência para julgamento do Habeas Data é fixada de acordo com a autoridade coatora. Sendo assim, por força do art. 105, I, b, da CRFB/88 e do art. 20, I, b, da Lei 9507/97, tendo em vista que, no caso, a autoridade coatora é o Ministro de Estado da Defesa, o foro competente para julgamento da ação é o STJ. Também é importante ressaltar que o impetrante é o titular dodado pessoal que se pretende conhecer por meio desta, o que está em harmonia com a natureza personalíssima da ação. Ademais, insta ressaltar que os processos de habeas data terão prioridade sobre todos os atos judiciais, exceto habeas corpus e mandado de segurança, haja vista o procedimento especial que rege o instituto, previsto no art. 19, da Lei 9507/97. Por fim, destaca-se a gratuidade genuína da ação constitucional, na forma do art. 5°, LXXVII, da CRFB/88. IV - DOS PEDIDOS Diante de todo o exposto, requer a V. Exa: a) que seja notificada a autoridade coatora, o Ministro de Estado da Defesa, dos termos da presente a fim de que preste demais informações que julgar necessárias, segundo prevê o art.9º, da Lei 9507/97; b) a procedência do pedido de habeas data, para que seja assegurado ao Impetrante o acesso às informações de seu interesse; c) a intimação do Representante do Ministério Público, na forma do art. 12, da Lei 9507/97; d) a juntada dos documentos, de acordo com o art.8º, da Lei 9507/97. Valor da causa de acordo com o art. 291 do CPC/15. Ou: Valor da causa de acordo com o art. 319 do CPC/15. Termos em que, pede deferimento Local... e data... Advogado... OAB n.º ... - Dever de casa.
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