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Elasticidade e complacência Complacência pulmonar É a capacidade de expansão dos pulmões para cada unidade de aumento da pressão transpulmonar Na faixa normal (pressão de expansão entre 5-10 cm/H20) o pulmão é notadamente distensível ou muito complacente A complacência pulmonar total de ambos os pulmões num indivíduo normal adulto é, em média 200ml/cm. Ou seja, cada vez que a pressão transpulmonar aumenta 1cm H20, o volume pulmonar, após 10 a 20 segundos, se expandirá 200ml Quando o pulmão trabalha em níveis de pressão de expansão elevadas (supra fisiológicas), torna-se mais rígido e sua complacência menor, fato evidenciado pela inclinação mais horizontal da curva É construída aferindo-se o volume pulmonar obtido após o aumento/ redução progressivo da pressão dentro dos pulmões As curvas que o pulmão determina durante a insuflação e desinsuflação são diferentes, a esse fenômeno chamamos histerese O volume pulmonar em qualquer pressão durante a desinsuflação é maior que durante a insuflação Variações iguais de pressão levam a variações de volume diferentes Soma das curvas de complacência inspiratória e expiratória As características do diagrama são determinadas pelas forças elásticas do pulmão: → Forças elásticas do tecido pulmonar → Forças elásticas causadas pela tensão superficial do fluido que recobre as paredes internas dos alvéolos O comportamento elástico do pulmão está mais relacionado a organização geométrica das fibras de elastina do que com o simples alongamento destas As forças elásticas do tecido pulmonar são determinadas pela trama de elastina e colágeno existente no parênquima pulmonar (meia de nylon) Em repouso estas fibras estão elasticamente contraídas e enroladas, quando o pulmão se expande ocorre a distensão delas aumentando a força de recolhimento Comparação entre os diagramas de complacência normal e de um modelo com o pulmão preenchido por solução salina A pressão necessária para expandir o pulmão é significativamente menor no modelo sem ar na via aérea Princípio da Tensão Superficial: quando a água forma uma superfície com o ar, suas moléculas apresentam uma força de atração especialmente forte, resultando numa tendência contínua a contração Nas superfícies internas das paredes alveolares, as moléculas de água tendem a se unir, forçando o colapso das estruturas e a saída do ar Essa força é denominada Força Elástica da Tensão Superficial Tensão superficial Constitui-se na força que atua numa linha imaginária de 1cm de comprimento na superfície de um líquido Ocorre porque as forças de atração que unem as moléculas adjacentes dentro de um líquido são muito mais fortes que as que ocorrem entre líquidos e gases, fazendo com que a área de superfície líquida se torne a menor possível Quanto menor o diâmetro, mais unidas as moléculas e maior a força de tensão superficial O comportamento da tensão superficial de uma lâmina de líquido numa conformação esférica (bolha de sabão) será o de contrair ao máximo sua superfície A pressão gerada pode ser prevista pela lei de Laplace: Pressão = 2 X tensão superficial raio Tensão superficial e surfactante Se ocorre o bloqueio da passagem de ar até os alvéolos, a tensão superficial tende a colapsá-los. Cria-se uma pressão positiva que desloca o ar para fora Essa força pode ser medida pela fórmula: Pressão = 2 X Superfície de Tensão/ Raio do alvéolo Para um alvéolo com cerca de 100micrômetros e recoberto com surfactante normal a pressão média calculada fica em torno de 4cm H2O (3mm Hg) Se o alvéolo estiver preenchido com água, sem surfactante a pressão calculada aumenta para 18cm H2O, ou seja 4,5 X maior Surfactante É um agente ativo que reduz a tensão superficial da água É secretado pelas células epiteliais alveolares tipo II, que representam 10% da superfície interna dos alvéolos São células granulares contendo inclusões lipídicas que secretam uma mistura complexa de fosfolipídios, proteínas e íons Essa mistura não se dissolve uniformemente na superfície líquida da membrana alveolar, parte das moléculas é dissolvida enquanto o restante de espalha sobre a superfície reduzindo pela metade a tensão superficial Normal x influenza Tomando novamente a fórmula de cálculo da tensão superficial alveolar: Pressão = 2 x Superfície de Tensão/Raio do Alvéolo Observa-se que a pressão gerada é inversamente proporcional ao raio do alvéolo, ou seja, quanto menor o alvéolo, maior será a pressão gerada pela tensão superficial Assim um alvéolo de 50 micrometros teria uma força de tensão alveolar 2 x maior e assim sucessivamente Essa situação é especialmente importante em crianças prematuras, que tem alvéolos menores que 25 micrômetros. A condição é ainda agravada pelo fato de a produção normal de surfactante pelos pulmões iniciar entre o sexto e sétimo mês de gestação (e em alguns casos, ainda mais tarde) Essa condição leva ao colapso do pulmão de recém-nascidos, causando insuficiência respiratória, chamada Síndrome da Angústia Respiratória do Recém-nascido (alvéolos muito pequenos) Complacência do sistema pulmonar Tórax + pulmões A caixa Torácica tem suas próprias características elásticas, mesmo se os pulmões não estiverem presentes na cavidade torácica, seria necessária força muscular para expandir a caixa torácica Complacência do Tórax + Pulmões juntos: a complacência do Sistema Pulmonar é medida quando se expande os pulmões de uma pessoa totalmente relaxada/paralisada Ar é insuflado para dentro dos pulmões em pequenas quantidades, sendo aferidos os volumes e pressões resultantes Para inflar o Sistema Pulmonar é necessário o dobro de pressão do que para inflar o pulmão isolado. Sendo assim a complacência do Pulmão + Parede Torácica combinadas equivale à metade do pulmão sozinho → Complacência do Sistema Pulmonar (pulmão + caixa) 110 ml/cm H2O) → Complacência do Pulmão isolado 200 ml/cm H2O Quando os pulmões são expandidos a volumes muito altos ou comprimidos a volumes muito baixos, as limitações da parede torácica se tornam extremas. Quando próximas aos limites superior e inferior de volume a complacência do sistema respiratório pode cair até menos de 20% da complacência isolada dos pulmões O pulmão tem muita água no interstício? Uma vez que o excesso de líquido nos pulmões dificulta a respiração e diminui a entrada de oxigênio no organismo Insuficiência cardíaca congestiva Acúmulo de sangue no pulmão → aumento da pressão hidrostática Água nos alvéolos → rompe barreira de proteção do surfactante O pulmão tem muito colágeno? Destruição progressiva e irreversível da arquitetura do pulmão, causada pela formação de cicatriz, o que leva à perda da função pulmonar (fibrose pulmonar) O tecido elástico do pulmão é parcialmente destruído? Obstrução da passagem de ar pelos pulmões DPOC Aumenta complacência O pulmão tem pouco surfactante? A complacência diminui Todo o ar é removido do lobo superior direito? Difícil extensão do pulmão (complacência reduzida) Alvéolos colapsados A redução da complacência é causada: → Pelo aumento de tecido fibroso no pulmão (Fibrose Pulmonar) → Por edema alveolar, que não permite a insuflação de alvéolos → Em situações em que o pulmão permanece não ventilado por algum tempo, em especial se o volume for baixo, ocasionando atelectasias (colapso de unidades alveolares e aumento da tensão superficial) → Se a pressão pulmonar venosa for alta e se o pulmão se tornar ingurgitado com sangue O aumento da complacência é causado: → No enfisema pulmonar e durante o envelhecimento normal do pulmão, em ambas as situações por perda detecido elástico do pulmão → Em crises de asma (causa desconhecida) Trabalho respiratório Durante a respiração normal, em condições de repouso, existe gasto energético durante a inspiração (primordialmente as custas da contração diafragmática), sendo a expiração um processo passivo, causado pelo recolhimento elástico do pulmão e da caixa torácica O trabalho respiratório pode ser dividido em: 1. O trabalho para vencer as forças de contração elástica do sistema pulmonar (Trabalho de Complacência ou Trabalho Elástico) 2. O trabalho para vencer a viscosidade do pulmão e das estruturas da parede torácica (Trabalho de Resistência Tecidual) 3. O trabalho para vencer a resistência das vias aéreas ao movimento do ar dentro dos pulmões (Trabalho da Resistência Aérea) O trabalho realizado durante a respiração é proporcional a mudança de pressão multiplicada pela mudança de volume → A mudança de volume é o volume que entra e sai dos pulmões → o volume corrente → A mudança de pressão é a variação na pressão transpulmonar necessária para superar o trabalho elástico do pulmão e o trabalho resistivo do pulmão (via aérea + tecido) Durante a inspiração a pressão intrapleural segue a curva ABC e o trabalho realizado no pulmão é expresso pela área ABCDA Da área total ABCDA: → A área da curva composta pelo triângulo AECDA (em rosa) representa o trabalho necessário para superar as forças elásticas do pulmão → A área da curva composta pelos pontos ABCEA (em azul) demonstra o trabalho que se sobrepõe a resistência viscosa (vias aéreas e tecido) Quanto maior a resistência das vias aéreas ou a taxa de fluxo inspiratório mais negativa (para a direita) maior será a excursão da pressão intrapleural (entre A e C) e maior será a área Durante a expiração, a área AECFA compreende o trabalho necessário para superar a resistência das vias aéreas (+ tecido) Normalmente essa área encontra-se dentro do triângulo AECDA e dessa forma o trabalho pode ser realizado pela energia armazenada nas estruturas elásticas expandidas que ocorrem durante a expiração passiva A diferença entre as áreas AECFA e AECDA representa o trabalho dissipado em forma de calor Trabalho respiratório total De difícil mensuração direta, costuma ser calculado a partir da eficiência através do gasto total de O2 segundo a fórmula Eficiência = Trabalho Útil X 100/ Energia Total Gasta (ou gasto de O2) → Gasto energético durante a respiração: em condições de repouso, somente 3 a 5% do gasto energético total do organismo é consumido pela ventilação pulmonar → Durante o exercício vigoroso essa quantidade de energia dispendida aumenta até 50 vezes, especialmente se há algum aumento associado da resistência ou redução associada da complacência pulmonar Sendo assim, uma das maiores limitações à intensidade do exercício é a capacidade de promover energia muscular suficiente para manter o próprio processo respiratório Geralmente a produção de oxigênio é superior a produção de CO2, depois a relação inverte Diferenças regionais na ventilação Até agora assumimos que todas as regiões pulmonares têm a mesma ventilação Contudo experimentos tem demonstrado que as regiões pulmonares inferiores ventilam melhor que as superiores A pressão intrapleural não é homogênea em todo espaço pleural, sendo menos negativa na base que no ápice do pulmão Isso se deve ao peso do próprio órgão, pois tudo que é sustentado requer pressão maior na base a fim de equilibrar as forças do peso, que atuam para baixo Ventilação melhor na base → pulmão tem menos ar Com a pressão de -10cmH2O os alvéolos do ápice ficarão mais distendidos, dificultando a expansão O pulmão é mais facilmente insuflado a baixos volumes do que a grandes volumes, onde se torna mais rígido A pressão de expansão na base do pulmão é pequena, com os alvéolos apresentando um volume de repouso menor que no ápice → apesar de apresentar pressões menores as bases pulmonares ficam situadas numa região da curva Pressão X Volume mais favorável à expansão No sentido oposto, os ápices pulmonares apresentam grande pressão de expansão, um volume de repouso maior e pequena variação de volume durante a inspiração Em condições de repouso as bases pulmonares, embora relativamente pouco expandidas, são mais bem ventiladas em comparação as porções superiores do pulmão O mesmo raciocínio se aplica para a melhor ventilação do pulmão dependente nos decúbitos laterais e na posição supina A situação se modifica drasticamente quando analisamos a mesma curva a baixos volumes pulmonares (o gráfico agora parte do Volume Residual e não de repouso fisiológico) As pressões intrapleurais tornam-se todas menos negativas pela menor expansão do pulmão e redução das forças de retração elástica, mantendo-se a diferença entre ao ápice e a base pulmonar decorrente do peso do pulmão Nessa situação as pressões dos segmentos basais acabam sendo superiores a pressão atmosférica, comprimindo e não distendendo os alvéolos Fica impossível que haja ventilação até que o gradiente de pressão se torne novamente negativo Em contraste, o ápice pulmonar se encontra numa região favorável na curva pressão volume, sendo o segmento que ventila melhor Fechamentos das vias aéreas As regiões mais comprimidas nas bases pulmonares não têm todo o seu gás expirado Na prática, as vias aéreas de pequeno calibre (bronquíolos respiratórios) fecham-se primeiro, aprisionando ar dentro dos alvéolos Esse fenômeno é observado em indivíduos jovens quando ventilando a baixos volumes pulmonares e em indivíduos com doença pulmonar e idosos, mesmo em situação fisiológica (Capacidade Residual Funcional) por apresentarem perda da retração elástica do pulmão Propriedades elásticas parede torácica Assim como o pulmão, a parede torácica também tem propriedades elásticas Isso pode ser bem ilustrado introduzindo-se ar na cavidade pleural, quando se coloca em equilíbrio as pressões pleurais e atmosféricas o pulmão se contrai e a caixa torácica se expande As interações entre as propriedades elásticas do pulmão e da caixa torácica são melhor analisadas separadamente na curva Pressão x Volume
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